quarta-feira, 11 de novembro de 2015

COP-21. Uma Nova Economia. Um Outro Mundo É Possível

A conferência do clima em Paris

Por Frei Betto, no site da Adital:

Representantes de 95 países estarão reunidos em Paris, do próximo 30 de novembro a 11 de dezembro, na COP-21 (21ª Conferência do Clima). O objetivo é chegar a um acordo para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e o aquecimento global, e limitar o aumento da temperatura da Terra em 2ºC até 2100.

Caso não se estabeleçam regras rigorosas para o controle climático do nosso planeta, aumentarão ainda mais as secas, as inundações e o nível de água nos mares. Devido ao aquecimento global, as calotas polares derretem a um ritmo alarmante.

Nossos povos originários, os indígenas, há milênios desenvolveram a cultura do Bem Viver, de sintonia entre a natureza e o ser humano. Na Terra Mãe reside a nossa origem e evolução, e dela provêm todos os recursos indispensáveis à vida. No entanto, nossa cultura utilitarista, centrada no lucro, comete o grave erro de ignorar a sabedoria indígena quanto ao equilíbrio e à harmonia ambientais.

As bases reais para um efetivo acordo climático em Paris estão contidas na primeira encíclica do papa Francisco, Louvado Sejas – sobre o cuidado da casa comum. Até hoje não se produziu nenhum documento tão contundente sobre a questão socioambiental. Não é um texto somente para católicos, é um alerta à humanidade.

Paris será um engodo, como tantas conferências anteriores, se não apontar, como faz Francisco, as causas estruturais do desequilíbrio ambiental, seus responsáveis e as soluções adequadas. Não haverá avanço se os países desenvolvidos insistirem em utópicas medidas tecnológicas e persistirem na visão, que deriva de uma interpretação equivocada da Bíblia, de que o ser humano é chamado a dominar a natureza, quando, de fato, é parte integrante dela.

O desafio é desenvolver uma cultura universal de preservação da vida, denunciando as empresas transnacionais que, em busca de lucros, põem em risco a saúde das florestas, das águas e dos alimentos, proliferando enfermidades e a morte dos seres vivos.

Na 2ª Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática e a Defesa da Vida, realizada na Bolívia em outubro deste ano, e que reuniu representantes de 54 países, propôs-se ao secretário-geral da ONU, ali presente, criar um Tribunal Internacional de Justiça Climática e da Vida e formular uma Declaração Universal dos Direitos da Terra, assim como em 1949 se aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Uma das causas de guerras e genocídios é a ambiciosa apropriação de recursos naturais de uma região por outra, como ocorreu na exploração da América Latina por Portugal e Espanha; no colonialismo implantado pelos europeus na África e na Ásia; e, agora, no belicismo ianque pelo controle das fontes de energia, em especial petróleo e água.

Os países ricos têm proposto soluções enganosas para o equilíbrio climático, que mais favorecem as multinacionais que os direitos da Terra. A mercantilização da vida, que leva à perda de valor ancestral de sua ontológica sacralidade, faz com que os interesses do mercado se sobreponham aos direitos dos seres vivos.

Isso hoje acontece no Brasil ao se pretender retirar do Executivo a responsabilidade de demarcação das terras indígenas para passar às mãos do Congresso Nacional, onde se multiplicam representantes do latifúndio, de madeireiras e mineradoras, que promovem devastação ambiental e mantêm o trabalho escravo.

Foram esses responsáveis pelo ecocídio que obtiveram do STF a vergonhosa decisão de não se denunciar a público os nomes das empresas flagradas no crime de exploração de mão de obra escrava. Como nossa mais alta corte pode acobertar tão hediondo crime?
Fonte: Blog do Miro
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Uma economia de baixo carbono pode promover a justiça social

economia de baixo carbono
Por Sharan Burrow, secretária-Geral da Confederação Sindical Internacional – CSI  (International Trade Union Confederation – ITUC)

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Seis meses antes da reunião de cúpula sobre mudanças climáticas que a ONU organiza para Paris, deve estar claro para os chefes de estado que a transição para uma economia de baixo carbono pode criar um modelo melhor, mais sustentável e que pode reavivar o crescimento global e desenvolver um futuro mais justo e mais limpo. Esta transição pode, também, evitar os custos associados ao atual modelo baseado em combustíveis fósseis como os da poluição do ar, dos congestionamentos, da degradação de terras agrícolas produtivas e da deterioração da infraestrutura, custos que, no mais das vezes, afetam principalmente os mais pobres.
O movimento sindical pode contribuir muito com essa transição.
Os nossos membros vão ajudar a construir um futuro de baixo carbono e têm o direito de serem ouvidos. Seus empregos dependerão de uma mudança ordenada para as tecnologias mais verdes, seus fundos de pensão fornecerão a maior parte do financiamento necessário e suas comunidades e meios de subsistência dependerão de que desastres climáticos sejam evitados.
Uma transição para o baixo carbono pode criar um melhor modelo econômico de três maneiras.
Em primeiro lugar, ela pode ajudar o mundo a sair totalmente da crise financeira global pelo aumento da produtividade, do crescimento econômico e, também, pela criação de empregos mais gratificantes.
O relatório Nova Economia Climática, publicado no ano passado, estima que o mundo vai investir US$ 90 trilhões em infraestrutura até 2030. Construir esta infraestrutura em um modelo de baixo carbono implicaria tão somente um gasto adicional de 5%, o que seria amplamente compensado pela economia de despesas operacionais resultantes da menor queima de combustíveis fósseis.
O investimento em infraestrutura de baixo carbono e em inovação tecnológica colherá avanços na produtividade e impulsionará o crescimento econômico. Concentrando-se em melhorias na eficiência e em redução de emissões de carbono, por meios tais como a ampliação do transporte de massa e a construção de cidades mais compactas, este investimento também alcançará outros benefícios como reduções no custo do transporte e um ar mais limpo para os todos os cidadãos, principalmente para os mais pobres.
Em segundo lugar, a transição para o baixo carbono reduzirá as emissões de gases de efeito estufa e, assim, minimizará as mudanças climáticas e a ameaça que estas representam para as gerações atuais e futuras, incluindo eventos extremos como inundações, tempestades e secas, como a que atingiu os 20 milhões de habitantes de São Paulo nestes últimos anos. Ela também reduzirá a poluição do ar produzida pela queima dos combustíveis fósseis que já provoca quase 4 milhões de mortes prematuras em todo o mundo a cada ano.
Os impactos das mudanças climáticas já estão prejudicando os trabalhadores e as consequências só crescerão com o tempo. Os governos devem trabalhar para atingir economias de emissão líquida nula de carbono na segunda metade deste século.
E em terceiro lugar, uma economia de baixo carbono pode promover a justiça social.
Para que tenhamos uma transição justa, será necessário apoiar os trabalhadores de setores complexos já estabelecidos, como os das indústrias de combustíveis fósseis, de serviços de transporte e outros, e as pessoas mais pobres e vulneráveis ​​que, talvez, venham a enfrentar contas de energia mais elevadas no curto prazo. Os governos precisam trabalhar em estreita consulta com trabalhadores e empregadores para gerir esta transição de forma eficiente e humanizada, em vez de ignorar ou resistir até que seja tarde demais para que uma crise potencial seja gerenciada.
E, como mencionado acima, tal transição tem potencial para aumentar o nível de emprego, incluindo os mais pobres. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) constatou que a maioria dos estudos mostra que as políticas públicas climáticas têm efeitos líquidos positivos sobre o emprego.
A transição para o baixo carbono também deve ser um modelo para a justiça entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, reconhecendo que os países desenvolvidos têm uma responsabilidade especial e, muitas vezes, maior capacidade de lidar com as mudanças climáticas do que os países em desenvolvimento. Mas todos devem desempenhar o seu papel.
Tanto a crise financeira quanto as mudanças climáticas têm uma raiz semelhante: a caça a lucros mais elevados e mais rápidos, independentemente das consequências sociais.
As respostas a estas crises gêmeas têm também muito em comum.
A resposta coordenada para evitar uma crise financeira global em 2008 ilustrou como a cooperação internacional é mais importante do que nunca em um mundo cada vez mais complexo. Da mesma forma, os países podem responder à mudança climática através da cooperação, tanto na cúpula do clima global que se realizará em Paris no final deste ano, quanto além. Uma melhor cooperação internacional multi-stakeholder pode entregar um melhor crescimento e um clima melhor, como será explicado no próximo grande relatório sobre a Nova Economia do Clima a ser lançado em julho.
O processo de Paris exige a todos os países que apresentem as suas promessas para a ação climática bem antes da Cúpula de Paris. Alguns já o fizeram, entre eles a União Europeia, os EUA e o México. Estamos ainda à espera de que os outros, como o Brasil por exemplo, façam sua parte. Estas promessas precisam ser tão ambiciosas quanto possível. Mas elas ainda devem ser consideradas um piso, não um teto, para a futura ação nacional.
Os governos não podem mais usar seus eleitores como uma razão para a inação. Uma pesquisa global da ITUC descobriu qud 93% por cento dos eleitores brasileiros querem que o governo faça mais para limitar a poluição que causa a mudança climática. Um acordo climático forte enviará um sinal claro a investidores e inovadores sobre a direção futura da economia. O acordo vai preparar o caminho para novos futuros empregos, aumentar o investimento, e evitar catástrofes climáticas em nossas comunidades. Ele deve comprometer os países a ciclos de ação climática cada vez mais ambiciosa, dentro do objetivo de longo prazo de eliminação progressiva, mas completa, das emissões de gases de efeito de estufa.
A reunião de cúpula desta semana entre os líderes da União Europeia, da América Latina e do Caribe (ALC) será um teste precoce da vontade dos governos de forjar um caminho novo de baixo carbono. Na última Cúpula do Chile, em 2013, estes países prometeram promover o investimento de baixo carbono e o crescimento econômico, incluindo o apoio à energia renovável, à eficiência energética e a transportes sustentáveis. Manter este ritmo é crítico.
A mudança climática é a maior ameaça de longo prazo que enfrentamos, que impactará direitos humanos básicos como o do acesso a alimentos, água, saneamento e abrigo.
A transição para uma economia de baixo carbono pode conduzir o mundo em direção a um futuro mais justo, mais seguro, próspero e sustentável. 2015 é o ano para que os governos escolham um caminho para um futuro sem carbono. Esta é uma questão pela qual vale a pena lutar. Não há empregos em um planeta morto.

Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
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Clima enviaria cem milhões à pobreza


Em 2030 poderá haver cem milhões de pessoas a mais vivendo na pobreza, se não forem tomadas medidas para enfrentar os impactos da mudança climática, alerta o Banco Mundial. Foto: Neeta Lal/IPS

Por Thalif Deen, da IPS –

Nações Unidas, 11/11/2015 – Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), aprovados por mais de 160 governantes de todo o mundo em setembro, são uma parte integral da Agenda de Desenvolvimento Pós-2015 da Organização das Nações Unidas (ONU), e incluem a erradicação da fome e da pobreza até 2030.

Entretanto, as consequências devastadoras da mudança climática nas pessoas mais pobres do mundo poderiam frustrar esses ambiciosos projetos, alerta o Banco Mundial em um novo estudo apresentado no dia 9.

“E, sem um rápido desenvolvimento, inclusivo e inteligente em relação ao clima, junto com medidas de redução das emissões de gases-estufa que protejam os pobres, poderá haver mais de cem milhões de pessoas adicionais vivendo na pobreza até 2030”, alerta o documento Grandes Cataclismos: Como Abordar os Efeitos da Mudança Climática na Pobreza.

Divulgado antes da 21ª Conferência das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (CMNUCC), que acontecerá em Paris entre 30 deste mês e 11 de dezembro, o informe conclui que a população pobre já corre um alto risco de sofrer impactos relacionados com o clima. Entre eles, a perda de colheitas pela diminuição das chuvas, aumento repentino no preço dos alimentos após eventos climáticos extremos, maior incidência de doenças depois de ondas de calor e inundações.

O Banco Mundial alerta que essas consequências poderiam acabar com avanços obtidos com grande esforço, dando lugar a perdas irreversíveis e levando novamente pessoas à pobreza, especialmente na África e Ásia meridional. Segundo o estudo, as pessoas mais pobres estão mais expostas do que a média da população aos eventos climáticos extremos, com inundações, secas e ondas de calor, e perdem muito mais de seu patrimônio quando esses eventos acontecem.

Nos 52 países sobre os quais há dados, 85% da população vive em lugares onde os habitantes pobres estão mais expostos à seca do que a média da sociedade. Também estão mais expostos a temperaturas mais altas e vivem em países onde se prevê que a produção de alimentos vai diminuir devido à mudança climática, afirma o Banco Mundial.

“Este informe expressa claramente que será impossível acabar com a pobreza se não adotarmos medidas firmes para reduzir a ameaça da mudança climática e diminuirmos radicalmente as emissões nocivas”, afirmou o presidente do Grupo do Banco Mundial, Jim Yong Kim. “Os pobres são os mais afetados pela mudança climática, e nosso desafio neste momento é proteger dezenas de milhões de pessoas para evitar que caiam na pobreza extrema em razão da mudança climática”, acrescentou.

Harjeet Singh, gerente de política climática da organização ActionAid, disse à IPS que a análise realizada pelo Banco Mundial sobre a vulnerabilidade dos pobres diante dos impactos climáticos não é nova, mas destaca com razão que a pobreza não pode ser abordada sem que se enfrente a mudança climática. Recordou que as pessoas e os países pobres são os mais vulneráveis à mudança climática, já que têm recursos e conhecimentos limitados para superar suas consequências.

Mas, segundo o ativista, “o Banco Mundial chega tarde ao jogo com seu discurso de melhorar a proteção social para combater os efeitos da mudança climática”. Na realidade, a instituição tem um longo e duvidoso histórico de obrigar os países em desenvolvimento a reduzirem o gasto público destinado a oferecer serviços básicos e dar proteção social às populações economicamente mais débeis, destacou Singh, afirmando que o Banco Mundial “terá que abordar isso antes de poder praticar de forma confiável o que diz o informe”.

Louise Whiting, analista da organização britânica WaterAid, disse à IPS que os mais pobres correm maior perigo diante da mudança climática e recebem menor quantidade de fundos destinados a ajudá-los a se adaptarem aos eventos climáticos extremos. “Nossa investigação indica que, somente em Bangladesh, cerca de 38 milhões de vidas estão em risco até 2050 devido aos desastres derivados da mudança climática. O caminho climático em que nos encontramos significa acabar com o desenvolvimento e o fim de todo avanço em relação à pobreza extrema”, acrescentou.

Segundo Whiting, para as famílias que vivem na pobreza extrema e têm um acesso frágil à água potável, ao bom saneamento e à higiene, essas temporadas áridas cada vez mais longas e monções cada vez mais intensas acabarão com anos de trabalho e firmarão ainda mais o ciclo da pobreza. “Assegurar os serviços básicos, incluída a água potável, o saneamento e a higiene, ajuda as comunidades a se recuperarem mais rapidamente e se tornarem mais resistentes aos extremos climáticos”.

Para o analista da WaterAid, os governos nacionais dos países em desenvolvimento precisam de mais apoio no desenho e na execução de projetos para ajudar a erradicar a pobreza e, ao mesmo tempo, gerar a resiliência das comunidades à mudança climática. Os governantes que participarão da COP 21 em Paris no final deste mês não devem esquecer a população mais pobre do mundo, ressaltou Whiting. Envolverde/IPS

Fonte: ENVOLVERDE
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