sábado, 31 de outubro de 2015

Crise e Retrocesso

O sonho europeu de voltar ao passado

Vale a pena recordar que, até a crise financeira de 2008, a xenofobia e os partidos de direita radical eram entidades marginais em quase toda a Europa.


Roberto Savio*  
Imigrantes europeus nos Estados Unidos
As recentes eleições na Suíça e na Polônia são bons indicadores do que vai ocorrer em outros países da Europa devido à crescente e imparável onda de refugiados. Vamos situar os acontecimentos num contexto mais vasto, mas primeiro é necessário fazer algumas considerações cruciais, sobre as quais existe um consenso cada vez maior.

A primeira é que o sistema atual de relações internacionais e governança nacional deixou de funcionar. Estamos vivendo um período de transição, mas ninguém sabe aonde ele vai dar. A esquerda não tem um manifesto e a direita apenas cavalga no status quo. Não há um pensamento político a longo prazo.

A segunda é que se vive numa época de “nova economia”, baseada na supremacia das finanças sobre a produção. Funcionários não eleitos governando os bancos centrais e os banqueiros, que com isso têm muito mais poder que antes.

Essa “nova economia” considera os empregos precários uma realidade legítima, a desigualdade social natural, o mercado como a base exclusiva para o desenvolvimento da sociedade, e estima que o Estado é ineficiente e um freio permanente para o setor privado.

A terceira é que as instituições políticas vêm sendo ofuscadas. Nenhum partido conta mais com um movimento juvenil. São vistos cada vez mais como parte do sistema de poder, forças fisiológicas que consideram os cidadãos como mero eleitorado, e não mais porta-vozes da cidadania.

As cifras da política (e da corrupção) estão crescendo ano após ano. As próximas eleições norte-americanas custarão mais de 4 bilhões de dólares e até agora apenas 145 doadores já pagaram mais de 50% da campanha eleitoral.

Segundo a Escola de Economia de Londres, o custo de uma campanha eleitoral na Europa aumentou 47% na última década. Em outras palavras, muitos consideram que vivemos agora numa democracia que está se tornando uma plutocracia. A Hungria está defendendo abertamente uma democracia autocrática, ao estilo de Cingapura e da China, e está tendo sucesso com essa proposta.

A quarta consideração é que o multilateralismo está em crise. Os Estados Unidos deixaram de ratificar todos os tratados internacionais, começando pela Convenção Internacional sobre os Direitos das Crianças e pelo Direito Marítimo. As Nações Unidas foram marginalizadas. As organizações regionais, como a União Africana, ou a Organização dos Estados Americanos, se tornaram notoriamente ineficazes.

A União Europeia está saindo de uma crise existencial do euro (a questão da Grécia) para entrar em uma ainda mais grave, a dos refugiados. O Reino Unido está liderando uma ofensiva contra Bruxelas para a restituição de poderes, o que criará um precedente que outros invocarão, começando por Hungria e Polônia.

Se essas considerações, entre muitas outras, forem consideradas válidas, então não é difícil entender porque os eleitores europeus estão votando com base na nostalgia política e na falta de segurança. Devido a um futuro incerto, o sonho de voltar a um melhor passado se fortalece.

As eleições suíças e polonesas premiaram os partidos que anunciaram que defenderão a identidade nacional contra os estrangeiros, especialmente os muçulmanos. As tradições religiosas nacionais contra os valores europeus de liberdade sexual, o casamento homossexual, o aborto livre e os estilos de vida decadentes.

O caso da Polônia é emblemático. O país tem sido um dos maiores beneficiados pela ajuda da União Europeia – o leste europeu quis ingressar ao bloco para conseguir fundos e apoio, mas sem nenhuma intenção de dar algo em troca, como vemos na negativa de aceitar os imigrantes agora.

Vale a pena recordar que, até a crise financeira de 2008, a xenofobia e os partidos de direita radical eram entidades marginais em quase toda a Europa.

Em pouco tempo, os outrora marginais ganharam espaço, inclusive em países conhecidos por seu sentido cívico e tolerância, como a Holanda e os países nórdicos.

É desconcertante ver trabalhadores e pessoas de baixa renda votarem pela Frente Nacional na França, pelo Cinquestelle na Itália, pelo UKIP no Reino Unido, e agora pelo Paz e Justiça na Polônia.

O sonho de voltar a um passado seguro e ordenado é o que os leva a votar num partido xenófobo, de direita radical e antieuropeu.

Não que queiram votar por um futuro incerto: para eles é mais tranquilizador votar por uma época durante a qual a política era nacional, não havia uma burocracia sem rosto em Bruxelas indicando como empacotar tomates, não havia o euro – uma moeda supranacional, manobrada em Frankfurt por banqueiros poderosos do BCE –, não havia uma Alemanha hegemônica ditando instruções aos outros países.

Também vale a pena recordar que grande parte dos cidadãos europeus ainda não recuperaram a qualidade de vida que tinham antes de 2007. Os jovens pagam um custo desproporcional por uma crise provocada pelo setor financeiro, que foi resgatado com uma quantidade de recursos muito maior que a destinada para as políticas de emprego ou para a recuperação social.

O sonho de voltar ao passado também foi o motivo da criação do Tea Party nos Estados Unidos – criado pela ala radical do Partido Republicano – e da vitória de Justin Trudeau no Canadá. As diferenças entre Estados Unidos e Canadá foram claramente reduzidas pelo primeiro-ministro Stephen Harper, que acaba de deixar o cargo. Os canadenses quiseram voltar aos bons tempos de Pierre Trudeau, elegendo o seu filho Justin nas eleições federais de 19 de outubro.

Enquanto o Ocidente pode sonhar com uma idade de ouro recente, no Sul do mundo, o nacionalismo, irmão gêmeo da nostalgia política, está aumentando – especialmente no caso dos países com um passado glorioso, e me refiro não só ao Japão de Shinz%u04D Abe e à China de Xi Jinping, mas também à Índia, à Tailândia e ao Sri Lanka.

Se apresenta, assim, um problema para o Ocidente. Atualmente, existem 60 milhões de refugiados, sem considerar neste número os que enfrentam perseguições sexuais, como os gays na África, ou as mulheres que enfrentam o Boko Haram na Nigéria. Tampouco estão contabilizados os que estão obrigados a escapar das mudanças climáticas – que, segundo a ONU, serão outros 15 milhões até o ano de 2025 –, que devem ser somados aos que lutam contra a fome e contra as ditaduras.

O termo “migrantes” é muito mais representativo da realidade que a palavra “refugiados”, que são, para a Europa, somente os que fogem de conflitos claramente reconhecidos. E o Ocidente está por trás de muitos desses conflitos. Se calcula que desde que a Rússia começou a intervir na Síria, deve haver uns 150 mil sírios refugiados da guerra, aumentando o êxodo que já existia.

A expansão demográfica é clara. A África terá um bilhão de habitantes em 2030, enquanto a Europa vai perder ao menos 15 milhões este ano. A Europa que conhecemos, homogênea, branca, cristã e tolerante vai desaparecer. Isso, inevitavelmente, vai requerer uma boa dose de sofrimento.

Os Estados Unidos vai se transformar num país multicultural e multiétnico em pouco mais de cem anos. De acordo com os registros da ilha de Ellis, o ponto de entrada de imigrantes mais importante do país, nove milhões de irlandeses, alemães, austríacos e escandinavos entraram no país nos tempos do barco a vapor, além de outros oito milhões de poloneses, búlgaros, romenos, húngaros, russos e bálticos, e mais uns cinco milhões de italianos e gregos.

Em poucas décadas, um total de 22,5 milhões de europeus se tornaram norte-americanos. A Europa não está preparada para abrigar nem mesmo um décimo disso.

* Jornalista ítalo-argentino, cofundador e ex-diretor-geral da Inter Press Service (IPS). Nos últimos anos, também fundou Other News, um serviço que difunde “informação que os mercados eliminam”.

Tradução: Victor Farinelli
 
Fonte: CARTA MAIOR
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A Dolorosa Queda de um Império - Malandragem Verborrágica

The Voice é um show de calouros que tem a ver com tudo, menos com vozes.
Por Kiko Nogueira
Postado em
31 out 2015

O calouro
Às vezes, fazer algo muito romântico não tem a pegada do que as pessoas querem em um programa de calouro”, falou o candidato Matteus Brunetti no The Voice

O The Voice não apenas é uma versão mais rica do que os concursos do Raul Gil ou do Chacrinha, como não tem nada a ver com voz. É um reality show ordinário em que todos soam exatamente iguais, seja interpretando samba, pagode, rock ou baião.
Em nome de um suposto favorecimento dos atributos vocais sobre os físicos, o juri fica de costas para o cidadão — como se já não tivesse havido uma triagem anterior.
Gente que alimenta o desejo de ficar famosa ou algo que o valha se submete aos argumentos dos quatro “especialistas”, que prometem fazer da pessoa uma estrela. Ninguém parece notar: “Opa, aquele ali é o Michel Teló, que fez um hit na vida, uma besteira cujo nome já foi esquecido. Vou nessa. Ele vai me transformar no novo Michel Teló”.
Nos bastidores, o pegajoso Tiago Leifert promove uma apelação aos instintos mais baixos com pais, mães, namorados e amantes chorando e contando como o cara cantava em Cachaceiro do Itacurumi, a galera aplaudia e alguém falou que ele era tão bom quanto Alcione e que precisava tentar uma chance e lágrimas, eu sempre acreditei nele etc etc.
A música brasileira não merecia esse espancamento. Qualquer sinal de originalidade é sufocado no berço. O primeiro colocado ganha 500 mil reais, um carro zero, contrato de gravação e “gerenciamento de carreira” com a Universal. As carreiras foram tão bem gerenciadas que os ganhadores das três edições anteriores continuam desconhecidos.
Os únicos que se saem bem são os técnicos. Lulu Santos voltou a ter agenda de shows, Cláudia Leitte virou nome de perfume, Carlinhos Brown saiu do limbo e Michel Teló ganhou uma sobrevida.
Não é só no Brasil. Nas versões do The Voice em todo o mundo, os técnicos levam a melhor sem que consigam lançar um único nome novo no cenário, o que é, em tese, a razão de ser do programa. O The Voice depende da inocência dos calouros que precisam fingir não ser calouros para que todo o mundo fature, menos os calouros.

Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
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Após estreia na Globo do "É de Casa", ibope do SBT cresce 34%


Colunas - Ricardo Feltrin
A aposta da Globo em acabar com a programação infantil aos sábados e substitui-la por um programa verborrágico e de amenidades é provavelmente um dos grandes erros da emissora em 2015.
Desde que o "É de Casa" estreou, em agosto, a Globo só fez ficar em segundo lugar no horário, dando ao SBT a liderança isolada.
Foram 12 confrontos e 12 derrotas consecutivas da Globo para o "Sábado Animado", que inclui a faixa da Disney --contrato assinado pela TV de Silvio Santos com o estúdio norte-americano.
Nos meses anteriores à estreia do "É de Casa", a Globo liderava o ibope das manhãs de sábado com média de 6,5 pontos. O SBT vinha em segundo com 4,9 pontos e a Record, em terceiro, com 4,6.
Após a estreia, porém, o ibope da Globo caiu para 5,9 pontos, o SBT subiu para 6,6 pontos --um crescimento de  34% e a captura do primeiro lugar isolado.
Aliás, mesmo com arrendondamento de casas decimais fica 6,6 (ou melhor, 7) para o SBT e 5,9 (6) para a Globo.
Cada ponto de ibope em SP vale por 67 mil domicílios

Fonte: BOL
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Muita malandragem e  muita esperteza para pouco conteúdo.

O resultado é um sonoro tombo.

Tudo bem que a internete está secando a audiência das emissoras de TV, no entanto, tem emissora, como a globo, que a incompetência de seus diretores acelera o tombo.

Em breve a globo lança o Bozo, tendo um de seus diretores como personagem do palhaço.

Tudo a ver.

E logo a globo que em seus anos de hegemonia chamava o SBT, de Sistema Bozo de TV.

Que o Bozo pode ser uma boa metáfora da tv aberta , isso é fato.

 

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Assim na Bolívia e Venzuela como no Brasil


Os arquivos wikileaks da América Latina

Os EUA levaram muito a sério a possibilidade de um golpe de estado ou assassinato de Evo Morales e treinaram manifestantes anti-chavistas na Venezuela.


Alexander Main & Dan Beeton - Jacobin - Tradução de Alejandro Garcia para o Diario Liberdade
wikimedia commons
No início deste Verão, o mundo viu a Grécia a tentar resistir a um desastroso “diktat” neoliberal e a receber uma sova dolorosa no processo. Quando o governo de esquerda grego decidiu fazer um referendo nacional sobre o programa de austeridade imposto pela “troika”, o Banco Central Europeu retaliou restringindo a liquidez dos bancos gregos. Com isso acarretou um fechamento prolongado dos bancos e submergiu a Grécia ainda mais na recessão.

Apesar dos eleitores gregos terem rejeitado em massa a austeridade, a Alemanha e o cartel de credores europeu foi capaz de subverter a democracia e obter exatamente o que queria: submissão total à sua agenda neoliberal. Na última década e meia, uma luta similar contra o neoliberalismo vem sendo travada em toda a extensão de um continente e maioritariamente fora do olhar do público. Ainda que Washington inicialmente tenha procurado anular toda a dissidência e frequentemente utilizando táticas mais violentas que as utilizadas contra a Grécia, a resistência da América Latina à agenda neoliberal tem sido parcialmente bem sucedida. É um conto épico que gradualmente vem vindo a ser conhecido graças à contínua exploração do massivo tesouro de telegramas diplomáticos dos Estados Unidos e difundidos pela WikiLeaks.

O neoliberalismo foi firmemente implantado na América Latina bem antes da Alemanha e as autoridades da zona euro terem imposto ajustes estruturais à Grécia e a outros países periféricos endividados. Através da coerção (e.g., condições anexadas a empréstimos do FMI) e endoutrinação (e.g., treinamento de “chicago boys” regionais apoiados pelos Estados Unidos), os Estados Unidos tiveram êxito, em meados dos anos 80, em difundir o evangelho da austeridade fiscal, desregulação, “mercados livres”, privatização e cortes draconianos no setor público por toda a América Latina.

O resultado foi incrivelmente parecido ao que vimos na Grécia: crescimento estagnado (quase nenhum crescimento per capita durante vinte anos de 1980-2000), aumento da pobreza, declínio do nível de vida para milhões e muitas novas oportunidades para os investidores internacionais e empresas fazendo dinheiro em pouco tempo. Começando nos finais dos anos 80, a região começou a ter convulsões e a levantar-se contra as políticas neoliberais. No início a rebelião era maioritariamente espontânea e desorganizada — como foi no caso venezuelano das revoltas do “Caracazo” no início de 1989.

Mas depois, candidatos anti-neoliberais começaram a ganhar eleições e, para choque do establishment da política externa dos EUA, um número crescente destes manteve as suas promessas de campanha e começou a implementar medidas anti-pobreza e políticas heterodoxas que reafirmavam o papel do estado na economia. De 1999 a 2008, candidatos com inclinação de esquerda ganharam eleições presidenciais em Venezuelana, Brasil, Argentina, Uruguai, Bolívia, Honduras, Equador, Nicarágua e Paraguai. Muita da história das tentativas dos governos dos EUA para conter e reverter a onda anti-neoliberal pode ser encontrada nas dezenas de milhares de telegramas diplomáticos dos EUA na região, difundidos pela WikiLeaks e datados desde os primeiros anos de George W. Bush até aos primeiros anos da administração do Presidente Obama.

Os telegramas — que analisamos no novo livro, The WikiLeaks Files: The World According to US Empire — revelam os mecanismos do dia-a-dia da política de intervenção de Washington na América Latina (e fazem do mantra do Departamento de Estado de que “os EUA não interfere na política interna de outros países” uma farsa). Apoio material e estratégico é providenciado aos grupos de oposição de direita, alguns dos quais são violentos e anti-democráticos. Os telegramas também pintam uma imagem vívida da mentalidade ideológica de Guerra Fria dos emissários mais velhos e os expõem a tentar usar medidas coercivas que fazem lembrar o recente estrangulamento aplicado à democracia grega.

De forma nada surpreendente, os principais meios de comunicação ignoraram ou falharam em grande medida em expor estas perturbadoras crônicas de agressão imperial, preferindo focalizar os relatos potencialmente embaraçosos dos diplomatas ou as ações ilegais de oficiais estrangeiros. Os poucos especialistas que deram uma análise de fundo aos telegramas afirmaram que não havia uma disparidade significativa entre a retórica oficial dos EUA e a realidade descrita nos telegramas. Nas palavras de um analista de relações internacionais dos Estados Unidos, “não obtemos uma imagem dos Estados Unidos como sendo esse todo poderoso mestre das marionetas a tentar puxar as cordas dos vários governos à volta do mundo para servir os seus interesses corporativos.” No entanto, uma leitura atenta dos telegramas desmente claramente esta afirmação.

“Isto Não é Chantagem”

No final de 2005, na Bolívia, Evo Morales teve uma vitória esmagadora nas eleições presidenciais com base em uma reforma constitucional, direitos indígenas e a promessa de lutar contra a pobreza e o neoliberalismo. No dia 3 de Janeiro, apenas dois dias após a sua tomada de posse, Morales recebeu uma visita do embaixador David L. Greenlee. O embaixador foi direto ao assunto: O visto dos EUA sobre a ajuda multilateral à Bolívia dependeria do bom comportamento do governo de Morales. Podia ser uma cena do Poderoso Chefão.

[O embaixador] mostrou a importância crucial das [instituições] financeiras internacionais, das quais a Bolívia dependia para assistência, tais como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. “Quando pensar no BID, deve pensar nos EUA,” disse o embaixador, “isto não é chantagem, é a simples realidade.”

No entanto, Morales aferrou-se à sua agenda. Durante os dias seguintes forjou planos para regular novamente o mercado de trabalho, renacionalizar a indústria dos hidrocarbonetos e estreitar a cooperação com o arqui-inimigo de Washington, Hugo Chavez. Em resposta, Greenlee sugeriu um menu de opções para forçar Morales a curvar-se perante a vontade do seu governo. Estas incluíam; vetar empréstimos multilaterais de vários milhões de dólares, adiar os já agendados alívios multilaterais da dívida, desencorajar os fundos da Millennium Challenge Corporation (que a Bolívia nunca recebeu até hoje, apesar de ser um dos países mais pobres do hemisfério) e cortar o “apoio material” às forças de segurança bolivianas.

Infelizmente para o Departamento de Estado, em pouco tempo, ficou claro que este tipo de ameaças seriam devidamente ignoradas. Morales já tinha decidido reduzir drasticamente a dependência da Bolívia nas linhas de crédito multilaterais que requisitassem uma habilitação do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos. Poucas semanas depois de tomar posse, Morales anunciou que a Bolívia já não estaria dependente do FMI, e deixaria o acordo de empréstimos com o Fundo expirar. Anos mais tarde, Morales, aconselharia a Grécia e outros países endividados da Europa a seguir o exemplo de Bolívia e a “libertarem-se da ordem do Fundo Monetário Internacional.”

Não conseguindo forçar Morales às suas jogadas, o Departamento de Estado começou, então, a centrar-se no fortalecimento da oposição boliviana. A região controlada pela oposição, Media Luna, começou a receber cada vez mais assistência dos Estados Unidos. Um telegrama de Abril de 2007, discute “um maior esforço da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) para fortalecer os governos regionais como contrapeso ao governo central.”

Um relatório da USAID de 2007 mencionava que o seu Office of Transition Initiatives (OTI) tinha aprovado 101 bolsas por US$4.066.131 para ajudar os governos departamentais a operar mais estrategicamente.” Também se fez chegar fundos aos grupos indígenas que se opunham à visão de Morales para as comunidades indígenas.”

Um ano mais tarde os departamentos de Media Luna, iriam empenhar-se na rebelião contra o governo de Morales, primeiramente com um referendo sobre a autonomia, apesar destes terem sido considerados ilegais pelas autoridades judiciais; e posteriormente apoiando os protestos violentos pró-autonomia que tiveram como consequência pelo menos 20 simpatizantes do governo mortos.

Muitos acreditavam que se estava a desenvolver uma tentativa de golpe de estado. A situação apenas se acalmou com a pressão de todos os outros presidentes da América do Sul, que emitiram uma declaração conjunta de apoio ao governo constitucional do país. Mas enquanto que a América do Sul se unia em apoio a Evo, os Estados Unidos seguiam em comunicação regular com os líderes da oposição do movimento separatista, mesmo quando estes falavam em “rebentar com as condutas de gás” e usar a “violência como uma probabilidade de forçar o governo a levar a sério qualquer diálogo.”

Contrariamente à posição oficial durante os eventos de Agosto e Setembro de 2008, o Departamento de Estado, levou muito a sério a possibilidade de um golpe de estado ou assassinato do presidente boliviano, Evo Morales. Um telegrama revela planos da Embaixada dos EUA em La Paz para tal caso: “[o Emergency Action Committee] irá desenvolver, com [o US Southern Command Situational Assessment Team], um plano de resposta no caso de uma urgência repentina, i.e. um golpe de estado ou a morte do Presidente Morales,” lê-se no telegrama.

Os acontecimentos de 2008 foram o maior desafio até agora da presidência de Morales e a situação em que ele esteve mais perto de ser derrubado. As preparações para uma possível saída da presidência de Morales revelam que os Estados Unidos, pelo menos, acreditaram que a ameaça a Morales era bastante real. O fato de não ter dito nada publicamente apenas sublinha de que lado Washington se posicionava durante o conflito e qual desfecho provavelmente preferiria.

Como Funciona

Alguns dos métodos de intervenção usados na Bolívia foram emulados de outros países com governos de esquerda ou com movimentos fortes de esquerda. Por exemplo, após o regresso dos Sandinistas ao poder, em Nicarágua, no ano 2007, a embaixada dos EUA em Manágua trabalhou “a toda a velocidade” para reforçar o apoio ao partido de oposição de direita, o Alianza Liberal Nicaraguense (ALN). Em Fevereiro de 2007, a embaixada reuniu com o coordenador estratégico do ALN e explicou-lhe que os EUA “não providenciavam assistência direta a partidos políticos,” mas — de maneira a ultrapassar esta restrição — sugeriu que o ALN estivesse mais estreitamente coordenado com ONGs amigas que pudessem receber fundos dos EUA.

A líder do ALN disse que “avançaria com uma lista extensiva da lista ONGs que, de fato, apoiam os esforços do ALN” e a embaixada proporcionou-lhe “encontros com os diretores para o país do IRI [Instituto Republicano Internacional] e NDI [Instituto Internacional Democrata para os Assuntos Internacionais].” O telegrama também faz notar que a embaixada iria “dar seguimento ao incremento de angariação de fundos” para o ALN.

Telegramas como este deveriam ser de leitura obrigatória para estudantes da diplomacia dos EUA e aqueles que querem perceber como o sistema de “promoção de democracia” realmente funciona. Através do USAID, Fundação Nacional para a Democracia (NED), NDI, IRI e outras entidades para-governamentais, o governo dos EUA fornece uma ampla assistência aos movimentos políticos que apoiem os objetivos econômicos e políticos dos EUA.

Em Março de 2007, o embaixador dos EUA na Nicarágua pediu ao Departamento de Estado que providenciasse aproximadamente 65 milhões de dólares acima dos níveis de base recentes nos próximos quatro anos — ao longo das próximas eleições presidenciais de maneira a financiar o “fortalecimento dos partidos políticos, ONGs “democráticas” e “pequenas e flexíveis subvenções de decisão rápida a grupos comprometidos em desenvolver esforços críticos que defendam a democracia em Nicarágua, que façam avançar os nossos interesses e se contraponham a aqueles que se mobilizam contra nós.”

No Equador, a embaixada dos EUA opôs-se ao economista de esquerda, Rafael Correa, vencedor destacado nas eleições de 2006 e o levaram ao cargo presidencial. Dois meses antes dessas eleições, o conselheiro político da embaixada alertou Washington que “se podia esperar que Correa se juntasse ao grupo Chavez-Morales-Kirchner de líderes sul americanos nacionalistas-populistas,” e fazia notar que a embaixada tinha “avisado os nossos contatos políticos, econômicos e midiáticos da ameaça que Correa representa para o futuro de Equador e desencorajou as alianças políticas que podiam equilibrar a percepção de Correa com o radicalismo.” Imediatamente após a eleição de Correa, a embaixada enviou um telegrama ao Departamento de Estado com o seu plano de jogo:

Não mantemos ilusões de que as tentativas do Governo dos Estados Unidos possam influenciar a direção do novo governo ou do Congresso, mas esperamos maximizar a nossa influência junto com outros equatorianos e grupos que partilham os nossos pontos de vista. As propostas de reformas de Correa e atitude perante o Congresso e partidos políticos tradicionais, se não for controlada, pode prolongar o período atual de conflitos e instabilidade.

Os maiores medos da embaixada foram confirmados. Correa anunciou que fecharia a base aérea dos EUA em Manta, aumentaria os gastos sociais, e avançaria uma assembleia constituinte. Em Abril de 2007, 80 porcento de eleitores equatorianos validaram a proposta de uma assembleia constituinte e em 2008, 62 porcento aprovaram a nova constituição que consagrava uma série de princípios progressistas, incluindo a soberania alimentar, direito à habitação, saúde e emprego e controle governamental sobre o banco central (um enorme não-não à cartilha neoliberal).

No início de 2009, Correa anunciou que o Equador cumpriria parcialmente com a sua dívida externa. A embaixada estava furiosa com esta decisão e outras ações recentes, como a decisão de Correa de alinhar Equador mais estreitamente com a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA) de esquerda (que tinha sido iniciada pela Venezuela e Cuba em 2004 como contrapeso à Área de Comércio Livre das Américas (ALCA), naquela altura promovida pela administração Bush. Mas o embaixador estava também consciente de que tinha pouca influência sobre ele:

Estamos a transmitir a mensagem em privado de que as ações de Correa irão ter consequências na sua relação com a nova administração de Obama, enquanto evitamos comentários públicos que seriam contraproducentes. Não recomendamos que se termine qualquer programa do Governo dos Estados Unidos que sirvam os nossos interesses uma vez que essa opção apenas enfraqueceria os incentivos de Correa de retroceder para uma posição mais pragmática.

O incumprimento parcial teve sucesso e aforrou ao governo equatoriano aproximadamente 2 bilhões de dólares. Em 2011, Correa recomendou o mesmo tratamento para os países europeus endividados, particularmente Grécia, aconselhando-os a não cumprir os pagamentos da dívida e 'ignorar o conselho do FMI.'

As Ruas Estão Quentes

Durante a Guerra Fria, a suposta ameaça do avanço soviético e cubano serviu para justificar um sem número de intervenções para remover governos de inclinação de esquerda e apoiar regimes militares de direita. De maneira similar, os telegramas do WikiLeaks mostraram como, nos anos 2000, o espectro do “Bolivarianismo” foi usado para validar intervenções contra novos governos de esquerda anti-liberais, como o da Bolívia, representado como tendo “caído sem reservas no abraço venezuelano;” ou do Equador, visto como um “testa-de-ferro” para Chávez”

As relações com o governo de esquerda de Hugo Chávez amargaram desde o início. Chávez eleito presidente pela primeira vez em 1998, rejeitando amplamente as políticas econômicas neoliberais, desenvolveu uma relação estreita com Cuba de Fidel Castro e criticou, bem alto, o assalto da administração Bush ao Afeganistão após os ataques de 9/11 (os EUA retiraram o seu embaixador de Caracas após Chavéz ter proclamado: “Não podes lutar contra o terrorismo com terrorismo”).

Mais tarde fortaleceu o controle governamental do setor petrolífero, aumentando os valores de royalties pagos pelas empresas estrangeiras e usou as receitas do petróleo para financiar o sistema público de saúde, educação e programas alimentares para os pobres.

Em Abril de 2002, a administração Bush validou publicamente um golpe de estado, de pequena duração, que removeu Chávez do poder por quarenta e oito horas. Os documentos da Fundação Nacional para a Democracia, obtidos através da Freedom of Information Act [Lei pela Liberdade de Informação], mostraram que os EUA forneceram fundos para a “promoção da democracia” e treinamento a grupos que apoiassem o golpe de estado e que mais tarde viriam a estar envolvidos em esforços para remover Chávez através de “greves” administrativas que paralisaram a indústria petrolífera, nos finais de 2002 e mergulharam o país em recessão. Os telegramas da WikiLeaks mostram que após essas tentativas falhadas de derrubar o governo eleito venezuelano, os EUA continuaram a apoiar a oposição venezuelana através da NED e USAID.

Em um telegrama de Novembro de 2006, William Brownfield, embaixador naquela altura, explicava a estratégia de USAID/OTI para debilitar a administração de Chávez:

Em Agosto de 2004, o embaixador delineava os 5 pontos estratégicos da sua equipe para o país neste período [2004-2006] que serviriam de guia para a embaixada... o foco da estratégia é: 1) Fortalecimento das Instituições Democráticas, 2) Penetrar na Base Política de Chávez, 3) Dividir o Chavismo, 4) Proteger os negócios vitais dos EUA, e 5) Isolar Chávez internacionalmente.

Os laços apertados que existem entre a embaixada dos EUA e os vários grupos de oposição são evidentes em numerosos telegramas. Um telegrama de Brownfield relaciona a Súmate — uma ONG que teve um papel central nas campanhas de oposição — aos “nossos interesses na Venezuela.” Outros telegramas revelam que o Departamento de Estado fez pressão internacional para que se demonstrasse apoio à Súmate e encorajou apoio financeiro, político e legal dos EUA a esta organização, muito dele canalizado através da NED.

Em Agosto de 2009, a Venezuela foi atingida por protestos violentos de oposição (como tinha ocorrido um variado número de vezes sob Chávez e depois com o seu sucessor Nicolas Maduro). Um telegrama secreto de 27 de Agosto cita o contratante Development Alternatives Incorporated (DAI) referindo-se a “todas” as pessoas protestando naquele momento como “nossos beneficiários”:

[O empregado da DAI] Eduardo Fernandez disse que “as ruas estão quentes” referindo-se aos cada vez maiores protestos contra as tentativas de Chávez de consolidar o poder e que “todas estas pessoas (organizando os protestos) são nossos beneficiários.”

Os telegramas também revelam que o Departamento de Estado providenciou treinamento e apoio a um líder estudante que reconhecidamente tinha liderado multidões com a intenção de “linchar” um governador Chavista: “Durante o golpe de estado de Abril de 2002, [Nixon] Moreno participou nas manifestações no estado de Merida, liderando multidões que marcharam na capital do estado para linchar o governador Florencio Porras do MVR.”

No entanto, uns anos depois disto, outro telegrama mostra: “Moreno participou no International Visitor Program [do Departamento de Estado] em 2004.” Moreno viria mais tarde a ser procurado por tentativa de homicídio e ameaças a uma polícia, além de outras acusações. Também na linha da estratégia dos cinco pontos, como delineava Brownfield, o Departamento de Estado priorizava os seus esforços no isolamento internacional do governo venezuelano e em contrabalançar a sua influência em toda a região. Os telegramas mostram como os chefes das missões diplomáticas na região desenvolveram estratégias coordenadas para contrabalançar a “ameaça” regional.

Assim como a WikiLeaks inicialmente revelou em Dezembro de 2010, os chefes de missão para 5 países sul americanos encontraram-se no Brasil em Maio de 2007 para desenvolver uma resposta conjunta aos alegados “planos agressivos” do Presidente Chávez… de criar um movimento unificado Bolivariano por toda a América Latina.” Entre as áreas de ação que os chefes de missão havia um plano de “continuar a fortalecer laços com aqueles líderes militares na região que partilham a nossa preocupação com Chávez.” Um encontro similar dos chefes de missão dos EUA da América Central — focada na “ameaça” de “atividades políticas populistas na região” — realizou-se na embaixada dos EUA em El Salvador em Março de 2006.

Os diplomatas dos EUA fizeram grandes esforços para tentar prevenir que os governos das Caraíbas e América Central se juntassem à Petrocaribe, um acordo regional de energia de Venezuela que providencia petróleo aos seus membros em termos extremamente preferenciais. Telegramas vindos a público mostram que os oficiais norte-americanos reconheciam, de forma privada, os benefícios econômicos do acordo para os países membros, assim como mostravam preocupação que a Petrocaribe fosse aumentar a influência daVenezuela na região.

No Haiti, a embaixada trabalhou de forma estreita com grandes empresas de petróleo para tentar prevenir que o governo de René Préval se juntasse à Petrocaribe, apesar de reconhecerem que “liberaria 100 milhões de dólares por ano,” como foi reportado por Dan Coughlin e Kim Ives na Nation. Em Abril de 2006 a embaixada “telegrafou” de Porto Príncipe: “Continuaremos a pressionar [o presidente René do Haiti] Preval contra a sua adesão à PetroCaribe. O embaixador verá hoje o conselheiro chefe de Preval, Bob Manuel. Em reuniões anteriores este compreendeu as nossas preocupações e está consciente que um acordo com Chávez iria provocar problemas conosco.”

O Histórico da Esquerda

Devemos ter em conta que os telegramas do WikiLeaks não mostram vislumbres das atividades mais secretas das agências de informação dos EUA e são provavelmente apenas a ponta do icebergue no que toca às interferências políticas de Washington na região. No entanto os telegramas fornecem evidências alargadas da persistência e dos esforços determinados dos diplomatas dos EUA em intervir contra os governos de esquerda na América Latina, usando a alavancagem financeira e os múltiplos instrumentos disponíveis na caixa de ferramentas para a “promoção da democracia” — e às vezes até através de meios violentos e ilegais.

Apesar do restabelecimento das relações diplomáticas com Cuba por parte da administração Obama, não há indicações de que as políticas em relação à Venezuela e outros governos de esquerda da América Latina tenham mudado significativamente. Não há dúvida que a hostilidade da administração em relação ao governo eleito da Venezuela é inexorável. Em Junho de 2014, o Vice Presidente Joe Biden deu início à Caribbean Energy Security Initiative, visto como um “antídoto” à Petrocaribe. Em Março de 2015, Obama declarou Venezuela como “ameaça extraordinária à segurança nacional” anunciado sanções contra oficiais venezuelanos, uma atitude criticada de forma unânime por outros países na região.

Mas, apesar das agressões incessantes dos EUA, a Esquerda, em grande medida, tem prevalecido na América Latina. Com a excepção de Honduras e Paraguai, onde golpes de estado de direita derrubaram líderes eleitos, quase todos os movimentos de esquerda que chegaram ao poder nos últimos quinze anos mantêm-se ainda hoje no poder.

Principalmente como resultado destes governos, de 2002 a 2013 a taxa de pobreza da região baixou de 44% para 28% após ter, de fato, piorado nas duas décadas anteriores. Estes sucessos e vontades dos líderes de esquerda de correr riscos de maneira a se libertarem do diktat neoliberal, deve hoje ser uma fonte de inspiração para a esquerda anti-austeridade da Europa. É certo que alguns dos governos estão hoje a passar por dificuldades significativas, em parte devido à recessão econômica regional que afetou os governos de direita e de esquerda de igual maneira. Mas visto através das lentes dos telegramas, há boas razões para questionar se todas estas dificuldades são fomentadas internamente.

Por exemplo, em Equador — onde o presidente Correa está sob ataque da Direita e de alguns setores da Esquerda — os protestos contra as novas propostas de impostos progressivos envolve os mesmos homens de negócios, alinhados com a oposição, com quem os diplomatas dos EUA são vistos a definir estratégias nos telegramas.

Em Venezuela, onde um sistema de controlo monetário disfuncional gerou uma enorme inflação, protestos violentos de estudantes de direita desestabilizaram seriamente o país. As probabilidades são extremamente altas de que alguns destas pessoas que protestam tenham recebido financiamentos e/ou treinamento da USAID ou NED, que viram o seu orçamento para Venezuela aumentar 80 porcento de 2012 para 2014.

Ainda há muito mais a aprender dos telegramas da WikiLeaks. Para os capítulos América Latina e as Caraíbas” do “The WikiLeaks Files”, examinamos atentamente centenas de telegramas e fomos capazes de identificar distintos padrões de intervenção dos EUA que descrevemos em maior profundidade no livro (alguns destes já previamente reportados por outros). Outros autores do livro fizeram o mesmo para outras regiões do mundo. Mas há mais de 250,000 telegramas (quase 35,000 só da América Latina) e há sem dúvida muitos outros aspectos referenciáveis da diplomacia dos EUA na atualidade que estão à espera de ser desmascarados.

Tristemente, após a excitação inicial, na altura que os telegramas foram inicialmente divulgados, poucos jornalistas e acadêmicos têm mostrado grande interesse no assunto. Até que isto mude, não teremos uma discrição completa de como os EUA se vêem a si mesmos no mundo e como o seu braço diplomático responde aos desafios à sua hegemonia. 
 
Fonte: CARTA MAIOR
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Lula e caçada da mídia

Lula, na calada da noite

redacao
Por redacao outubro 30, 2015 13:09
  
Lula, na calada da noite        
Não é coincidência que um dos filhos do ex-presidente Lula tenha sido intimado às 23h do dia do aniversário de 70 anos do pai.
Lula tem razão ao dizer isso.
Ele sabe há muito tempo como se joga o jogo dos que operam na calada da noite.
Lula foi enterrar sua mãe Lindu de algemas, acompanhado por policiais.
Tratado como um criminoso porque defendia o direito legítimo de greve num momento em que a lei e ordem eram o arbítrio.
O que está acontecendo com Lula e sua família, por mais incrível que possa parecer, se assemelha em muito à perseguição que ele viveu na ditadura militar.
O Estado de Direito e o respeito aos direitos cidadãos e humanos básicos estão sendo deixados de lado para subjugá-lo e intimidá-lo.
Um dos filhos de Lula, o de nome Luis Cláudio, que não é aquele Lulinha que durante anos e anos foi dito como um dos donos da Friboi, foi intimado e teve todos os documentos e computadores de sua empresa apreendidos por conta de um contrato de R$ 1,8 milhão com uma empresa do ramo automobilístico que, como dezenas de outras empresas, foi favorecida por uma MP justa de redução de impostos.
Luis Cláudio não era investigado no relatório elaborado pela Polícia Federal e nem pelo Ministério Público, mas um procurador externo à investigação acrescentou seu nome motivado por reportagens de veículos da imprensa.
A juíza que recebeu o pedido acatou. Sem também ter sequer um elemento concreto de qualquer ilegalidade no contrato. Pelo simples fato de o procurador externo ao processo ter dito que achava o contrato suspeito.
Isso não é pouca coisa.
Esse tipo de ousadia jurídica estabelece um novo padrão de autoridade no Brasil.
Juízes, procuradores, delegados e promotores têm se pronunciado fora dos processos e cada vez mais têm manifestado opinião a respeito de questões eleitorais e políticas em redes sociais e/ou eventos públicos.
E têm feito justiça sem levar em consideração os ritos processuais. E sem que haja nenhum controle social.
Lula, sua família e também o ex-ministro Gilberto Carvalho são as vítimas mais recentes e talvez mais importantes dos últimos tempos, mas o risco de isso vir a atingir qualquer um é imenso.
A democracia brasileira e suas instituições nunca correram tanto risco como no momento atual. O que estão fazendo com Lula é o teste para um xeque mate final.
Se a sociedade civil não reagir. Se os homens e mulheres públicos decentes não reagirem. Se os movimentos sociais não reagirem. O Brasil da calada da noite vai se ver livre para operar supostamente com base na lei e na ordem.
Na lei e na ordem que já nos levaram a ser um dos piores países em desigualdade do mundo e uma terra sem qualquer liberdade.
Por isso que a defesa de que Lula seja tratado com base no Estado de Direito passa a ser uma luta de todos que defendem a democracia.
Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Fonte: Blog do Rovai
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Lula: até feto na barriga da minha nora é suspeito     

publicado 29/10/2015
        
"Eu sobreviverei. E eles?"
lula no diretorio nacional
"É importante manter as conquistas que tivemos", disse Lula (foto: Dida Sampaio / Estadão Conteúdo)
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da reunião do Diretório Nacional do PT, nesta quinta-feira (29). No discurso de abertura, Lula criticou a perseguição que sofre por parte do PiG, em relação a ele e até aos seus familiares.

"Eu ainda tenho mais três filhos que não foram denunciados e tenho sete netos. Isso não vai terminar nunca. Ainda tenho uma nora grávida, não sei qual é o processo que virá contra o meu neto que vai nascer", ironizou o ex-presidente, após as recentes denúncias contra seu filho, Luis Cláudio Lula da Silva.

Lula garantiu que a campanha difamatória da mídia não irá afetá-lo. “Serão três anos de pancadaria, mas eu vou sobreviver. Tem uma coisa que aprendi: enfrentar a diversidade. Podem ficar certos: eu vou sobreviver. E eles, terão a credibilidade que imaginam?”, indagou.

No encontro, Lula defendeu que a prioridade do PT no Congresso deve ser a aprovação das medidas de ajuste fiscal enviadas pelo governo. "Não podemos ficar mais seis meses discutindo o ajuste e a CPMF. Ou a gente vota, ou não governa e não passa dessa fase", disse. Para o Nunca Dantes, a ação é necessária para a economia voltar a crescer. "Sem a conclusão desse ajuste, ficamos numa confusão política muito grande", ponderou.

O ex-presidente criticou a onda de manobras que a oposição tenta emplacar para derrubar a presidenta Dilma. "Primeiro pediram recontagem de votos. Depois foram 19 pedidos de impeachment e quatro ações no TSE", enumerou o Nunca Dantes, que concluiu: "Se a moda pega, qualquer um que perca a eleição entra com pedido de impeachment".

Lula ressaltou que a crise econômica é mundial. "A economia internacional só vai se recuperar se o mundo voltar a consumir. É o único jeito. Apenas o Brasil no G-20 estimulou isso", disse.

Para o mercado interno, o ex-presidente vê duas soluções: aprovação de impostos ou políticas de crédito. "Por que a gente não faz um crédito consignado para o setor privado? A melhor forma de recuperar receita é voltar a crescer", sugeriu Lula. "O fortalecimento das políticas de crédito já acontece. O Banco do Brasil financia as cadeias produtivas", concluiu.

Apesar do pessimismo com o cenário atual, Lula declarou que é importante comparar os dados de hoje com os de 1999, no governo FHC. "O Brasil quebrou três vezes, teve que pedir socorro ao FMI e aceitou todas as políticas que o FMI mandou cumprir. Temos que mostrar o que foi o governo FHC e dizer a eles: parem de ser bestas", disse o ex-presidente, aplaudido pela plateia.

Além de Lula, participam do encontro o presidente do partido, Rui Falcão, os governadores Wellington Dias (PI) e Tião Viana (AC), o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), o líder do PT no Senado, Humberto Costa (CE) e o líder do PT na Câmara, Sibá Machado.

Fonte: CONVERSA AFIADA
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Instituto Lula desmonta o “outro lado” de Época: Manipula dados, não respeita contraditório e engana os leitores; vende como “exclusivo” tema já tratado por sua concorrente mais famosa e ainda mais mentirosa

publicado em 31 de outubro de 2015 às 13:40
época
O lado escuro do ”outro lado” no jornalismo sensacionalista de Época
31/10/2015 08:53
da Assessoria de Imprensa do Instituto Lula 
A revista Época especializou-se em distorcer e manipular documentos, muitos deles vazados de forma ilegal, para difamar e caluniar o ex-presidente Lula. Esta semana, a revista, e o autor da matéria, Thiago Bronzatto, fazem isso novamente.
A revista não tem interesse em entender ou reportar os fatos de forma fiel, quer apenas construir ilações. Não tem o que se chama de jornalistas investigativos: são apenas redatores sensacionalistas, operando documentos vazados ilegalmente. Não apresenta fatos, quer apenas especular e fazer barulho em cima de tais documentos, tentando criar factoides políticos, vender mais revista e fazer audiência em redes sociais.
Não respeita o contraditório e engana os leitores, vendendo como “novidade” matérias requentadas. Por exemplo, colocando a tarja “Exclusivo” na capa desta semana, para um tema tratado em agosto por sua concorrente mais famosa e ainda mais mentirosa.
Para simular que ouve o “outro lado”, quase toda sexta-feira envia à assessoria do Instituto Lula burocráticos e-mails com perguntas cifradas, que escondem tema principal da matéria e o teor das ilações. A essa altura da produção da revista, as teses e especulações já estão prontas e, muitas vezes, até divulgadas no twitter do editor-chefe.
Nestes e-mails, seus jornalistas disfarçam ou sonegam informações necessárias para as respostas adequadas, como aconteceu mais uma vez nesta sexta-feira. Procurada pelo repórter Thiago Bronzatto, com perguntas que remetiam a um relatório do Coaf vazado de forma ilegal para a revista Veja, em agosto, a assessoria de imprensa do Instituto Lula perguntou diretamente: “É sobre o relatório do Coaf que a Veja já deu em agosto?”. O repórter de Época se recusou a esclarecer essa questão simples. Pior: ele mentiu, associando as perguntas a diferentes operações da Polícia Federal e Ministério Público, quando na matéria ele diz, e não dá para saber se é verdade também, que obteve o documento através da CPI do BNDES.
A questão não é menor: existe hoje uma investigação sobre o vazamento das informações desse relatório do COAF. O ex-presidente Lula e a empresa LILS solicitaram ao Ministério da Justiça, ao Ministério da Fazenda e à Procuradoria-Geral da República que apurem, na competência de cada instituição, as responsabilidades pela violação criminosa do sigilo bancário da empresa de palestras criada por Lula após deixar a presidência da República, a LILS.
No e-mail, o repórter já criminaliza os fatos, ao dizer que Lula teria feito “operações atípicas” no “mercado segurador”. Na realidade Lula apenas adquiriu um plano de previdência privada com o dinheiro ganho em palestras. É isso que informa o relatório do COAF, vazado criminosamente para Veja e requentado pela Época.
Numa apuração honesta, não era necessário perguntar nada ao Instituto Lula; bastaria conferir a nota que emitimos em 18 de agosto.
Não há nada de ilegal na movimentação financeira do ex-presidente. Os recursos são oriundos de atividades profissionais, legais e legítimas de quem não ocupa nenhum cargo público: os valores mencionados no vazamento ilegal se referem a 70 palestras contratadas por 41 empresas diferentes, listadas no link acima. Todas palestras realizadas, contabilizadas e com os devidos impostos pagos. Tem palestra até para a Infoglobo, do mesmo grupo de comunicação que edita a revista Época.
Se Época acha que o valor pago é alto, poderia perguntar à direção do Infoglobo, que pagou o valor da palestra e que explicou, no jornal O Globo, que o fez por “participar de iniciativas que contribuem para o desenvolvimento e a promoção do Rio de Janeiro. Em 2013, com esse objetivo, a empresa apoiou a Fecomércio-RJ na realização de um seminário sobre o mapa do comércio no Estado do Rio. Além de divulgar o evento em seus jornais, a Infoglobo arcou com os custos dos palestrantes, inclusive do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.”
Fazer palestras para uma empresa não implica em nenhuma outra relação e é uma prestação de serviço pontual que mantém a total independência do ex-presidente em relação ao contratante. Tanto que o ex-presidente ter feito uma palestra para a Infoglobo não o impede, ou sua família ,de mover processos contra o jornal, por exemplo, pela mentira contra o filho do ex-presidente publicada por Lauro Jardim em sua estreia em O Globo, na capa dominical do diário.  Mentira pela qual até hoje, nem o colunista nem o jornal se retrataram publicamente.
Jornalistas de Época caluniam, mais uma vez, ao chamar Lula de lobista e já estão sendo processados por isso na justiça, junto com o editor-chefe Diego Escosteguy.
Sobre a patética campanha de parte da imprensa tradicional e familiar brasileira contra Lula e sua família, que só esse mês rendeu 5 capas ofensivas de revistas semanais contra ele, o ex-presidente, com tranquilidade, declarou na última quinta-feira em Brasília:
“Eu só queria que vocês não ficassem preocupados com esses problemas porque digo sempre: ninguém, podem ter certeza, ninguém precisa ficar com pena. Se tem uma coisa que aprendi na vida é enfrentar adversidades. Podem ter certeza. Se o objetivo é truncar qualquer perspectiva de futuro, então vão ser três anos de muita pancadaria. Três anos. E podem ficar certos: eu vou sobreviver. Não sei se eles sobreviverão com a mesma credibilidade que eles acham que tem. Mas eu vou sobreviver.”

ÍNTEGRA DA TROCA DE E-MAIL COM THIAGO BRONZATTO, FUNCIONÁRIO DA REVISTA ÉPOCA
Thiago Bronzatto – Redação Época Brasília – Editora Globo tbronzatto@edglobo.com.br
30 de outubro de 2015, 11:25

Caros,
Tudo bem?
Estamos fazendo uma matéria para a próxima edição da revista ÉPOCA na qual mencionaremos o ex-presidente Lula. Vocês poderiam, por favor, me ajudar a esclarecer as dúvidas abaixo?
1-) No âmbito da operação Zelotes, foram identificados repasses de recursos da empresa L.I.L.S. para os filhos do ex-presidente e as suas respectivas empresas. Qual a razão dessas transferências?
2-) Qual a posição do ex-presidente Lula em relação à intimação da PF para ouvir o seu filho Luis Cláudio?
3-) No âmbito das investigações da Lava Jato e do MPF, há informações de que Lula tenha realizado movimentações financeiras no mercado segurador consideradas atípicas. O ex-presidente tem conhecimento disso? Qual a sua posição?
Estamos fechando hoje às 16h. Qualquer dúvida, estou nos contatos abaixo.
Aproveito este e-mail para reiterar o pedido de entrevista presencial com o ex-presidente Lula, enviado no dia 29 de junho deste ano, conforme sugerido pelo próprio Instituto Lula em nota publicada em seu site. Até agora, não tive nenhuma resposta sobre a minha demanda.
Abraço e obrigado,

Resposta da Ass. De Imprensa do Instituto Lula imprensa@institutolula.org
30 de outubro de 2015, 13:25

Caro Thiago,
É sobre o relatório do Coaf que a Veja já deu em agosto?
Att,

Thiago Bronzatto às 13:29
Caro,
Trata-se de matéria diferente, como você deve ter percebido em nossas perguntas.
Abraço,
Thiago
Ass. De Imprensa Instituto Lula às 13:54
Caro,
Que é outra matéria é óbvio. O tempo espaço impede que uma matéria da Época em outubro seja a mesma da Veja em agosto. Seria até plágio.
O documento base, o qual você não identifica, nem explica, como é habitual nos seus “outros lados”, parece o mesmo, pelas perguntas 1 e 3. Como não tenho certeza ser o mesmo, perguntei. E você não respondeu.
Sobre esse documento, há uma investigação em curso sobre o vazamento das informações nele, que estavam sob sigilo de justiça.
A Veja fez até um infográfico com ele na época, com perdão do trocadilho.
Tiago, a gente já respondeu ao seu pedido de entrevista faz tempo, você apenas falha em compreender isso e faz esse copiar-colar toda a sexta-feira. Não haverá entrevista para a Época, porque a revista é considerada um lixo, como foi publicamente dito. E pela existência de ações judiciais e a necessidade de correções factuais em matérias anteriores que a revista Época, e você especificamente, jamais fizeram.
Atenciosamente,
Thiago Bronzatto, às 14:02
Caro, eu gostaria apenas que você respondesse objetivamente as minhas questões. Posso considerar o seu e-mail como resposta oficial da assessoria de imprensa do Lula?
Abraço,
Thiago
Assessoria de Imprensa do Instituto Lula, às 14:19
Caro Thiago,
E eu gostaria apenas que você fizesse matérias de forma objetiva, imparcial, sem sensacionalismo e com correção factual. E também com  a devida checagem de informações, sem pegadinhas e realmente interessado em ouvir o outro lado. Mas como dizem os Rolling Stones, você não pode ter sempre o que você quer.
Todos os meus e-mails para você, assim como todas as suas mensagens para mim, podem se tornar públicos a qualquer momento que você quiser ou que nós quisermos, como já fizemos em outras ocasiões.
Atenciosamente

Fonte: VIOMUNDO
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Instituto Lula: “revista Época é um lixo”


5491-medium
Esta semana foi interessante.
Desesperados e derrotados, golpistas se acorrentaram numa pilastra da Câmara. Ficaram apenas pouco tempo, naturalmente, porque eram meia dúzia de engomadinhos covardes e oportunistas, provavelmente pagos por políticos corruptos da oposição.
Agora as revistas semanais emulam a ação patética e, igualmente desesperadas com o fracasso do golpe contra o voto, acorrentaram-se a sua nova tara: prender o ex-presidente Lula.
Os golpistas só querem saber de prisão, prisão, prisão. São tão tarados por isso que estão se acorrentando eles mesmos.

O novo que chega e o velho que não quer sair

Luis Felipe Miguel: A criminalização do pensamento crítico


Por Conceição Oliveira outubro 30, 2015 09:45
Luis Felipe Miguel: A criminalização do pensamento crítico
Há um vídeo circulando nas redes que faz as piores acusações ao ENEM, a Simone de Beauvoir chamada por esses aloprados de ‘nazista, pedófila’ e outras sandices. Ele é tão, mas tão absurdo, que queremos crer que se trata de uma produção realizada no hospício. Mas não nos enganemos, ele é profissional, gestado na mesma forma do fundamentalismo organizado nacionalmente que aprovou em todos os planos de educação municipais e estaduais a saída do debate da questão de gênero nas escolas. Ancorados no argumento falacioso da famigerada ‘ideologia de gênero’ – categoria inexistente em qualquer área do pensamento científico-, os fundamentalistas vem banindo das escolas (ao menos nos documentos legais) temas cruciais para a formação cidadã, como: violência contra a mulher, questão indígena, combate ao racismo entre outros.
Essas ações são apoiadas por vereadores que chamam professoras de ‘vagabundas’, ‘idiotas’ e ‘débeis mentais, por deputados que agridem e ameaçam outros em pleno plenário, por corruptos cujo crimes de corrupção foram denunciados pelo Ministério Público da Suíça e cujo montante de dinheiro evadido do país são apontados pela Procuradoria Geral da República como produtos de crime.
Como comenta o leitor Rodrigo Sanches a respeito do texto de Luis Felipe, há uma “histeria em torno das questões humanistas discutidas pelo ENEM e o avanço de um pensamento autoritário, travestido de “neutro”, mas que na verdade deseja barrar qualquer forma de pensamento crítico, autônomo e libertário. Vide a guerra que esses grupos estão travando na construção dos Planos Municipais de Educação e no Congresso, por meio da apresentação de Projetos de Leis absurdos e retrógrados, baseados numa visão de mundo onde se condena a pluralidade de pensamento, a diversidade (cultural, sexual, social) e ataca os Direitos Humanos, sob a ridícula e obtusa ideia de “doutrinação”, como se a ideologia dominante não fosse igualmente doutrinária. Não vivemos hoje no Brasil somente uma crise politica e econômica, mas uma crise psiquiátrica, não é possível!!”
A luta dos ativistas pelos direitos humanos é hercúlea, acadêmicos, verdadeiros intelectuais precisam se unir a ela para que possamos fazer frente à produção da barbárie. Nenhum intelectual verdadeiramente sério deste país pode se dar ao luxo de não produzir narrativas para se contrapor à maioria dos desqualificados perigosos que ocupam hoje o legislativo desde o âmbito municipal até o federal. Está se tornando crime pensar criticamente e este baixo clero que ocupa as câmaras legislativas retrocedem direitos elementares do povo brasileiro conquistados desde 1940, como o das vítimas de estupro poderem interromper a gravidez fruto de estupro. Não há escolhas, é lutar ou lutar.

A criminalização do pensamento crítico
Por Luis Felipe Miguel, Boitempo
29/10/2015

Luis Felipe Miguel escola sem partido
Entre as múltiplas ameaças de retrocesso que surgem do Congresso Nacional hoje, uma das mais graves é a voltada à educação. O espantalho da “doutrinação” dos alunos por professores esquerdistas é um pretexto para a criminalização do pensamento crítico em sala de aula, frustrando o objetivo pedagógico de produzir cidadãos e cidadãs capazes de reflexão autônoma, respeitosos das diferenças, acostumados ao debate e à dissensão, conscientes de seu papel, individual e coletivo, na reprodução e na transformação do mundo social. Em seu lugar, voltamos à ultrapassada compreensão de uma educação limitada à transmissão de “conteúdos” factuais, dos quais o professor é um mero repetidor e o aluno, receptáculo passivo. O slogan vazio da “escola sem partido” busca passar a ideia de que o ensino acrítico é “neutro”, quando, na verdade, ao naturalizar o mundo existente e inibir a discussão sobre suas contradições internas, é um mecanismo poderoso de reprodução do status quo.

São diversos projetos em tramitação no Congresso, que partem do veredito comum de que haveria um esforço de doutrinamento em curso, seja pelo PT, seja pela esquerda de modo geral, que faria com que as escolas tivessem se tornado centros de difusão do socialismo e/ou do feminismo. É uma reação ao arejamento – na verdade, ainda muito insuficiente – das práticas pedagógicas; uma reação que não vem de hoje, mas que se intensificou com a ofensiva diretista dos últimos anos. Alguns talvez se lembrem que, nos anos finais da ditadura militar, pré-escolas alternativas eram acusadas de adotar cartilhas marxistas. É o mesmo tipo de paranoia, mas agora vendo o pretenso doutrinamento como política de Estado, que está por trás das fantasias do movimento Escola Sem Partido, do repúdio a Paulo Freire nas manifestações públicas da direita ou da reação histérica à recente prova do ENEM.

Cada vez que a escola se desloca, por pouco que seja, de seu papel tradicional de aparelho ideológico reprodutor da ordem social, erguem-se as bandeiras de “doutrinamento”. A manobra argumentativa é evidente. A reprodução transita como “não ideológica” porque a ordem social vigente é naturalizada. É como se ela não fosse o fruto de processos históricos, de conflitos sociais com ganhadores e perdedores, mas um dado da realidade que existe por si só. A “neutralidade” do discurso que não questiona o porquê do mundo social ser como é, nem indica que essa ordenação não é uma necessidade, é falsa: ele é um elemento ativo de perpetuação, uma maneira de bloquear as potencialidades de mudança presentes do mundo em que vivemos.

Na atual ofensiva da direita brasileira, há dois alvos simultâneos. Permanece o ódio ao marxismo e, de modo mais geral, a qualquer forma de questionamento à desigualdade de classe. É sustentado por uma leitura delirante da teoria de Gramsci, difundida pelo astrólogo Olavo de Carvalho, em que a ideia de uma luta pela produção de sentido no mundo social é transformada num plano diabólico de lavagem cerebral em massa.

Mas há uma grande ênfase também na denúncia contra qualquer tentativa de desnaturalizar os papéis estereotipados atribuídos a mulheres e homens. É a “ideologia de gênero”, termo que foi cunhado pelos setores conservadores da Igreja Católica, mas adotado também por denominações protestantes, e colocada em curso em vários países do mundo, entre eles o Brasil, como forma de organizar a oposição aos avanços – mais lentos do que gostaríamos, mas inquestionáveis – na direção de maior igualdade entre os sexos e maior respeito a gays e lésbicas. Ao afirmar que “ideológica” é a luta contra a discriminação de gênero, fica implícito que a desigualdade e a intolerância seriam naturais.

O rótulo “ideologia de gênero” foi rapidamente incorporado à linguagem destes grupos. Sintético, ele permite que se descarte, sem discussão, tudo aquilo que já se sabe sobre a produção social do feminino e do masculino. Quando militantes conservadores reagem à frase de Simone de Beauvoir incluída na prova do ENEM escrevendo coisas como “eu nasci mulher sim, nasci com vagina”, como se viu nas redes sociais, revelam, mais do que apenas uma ignorância brutal e constrangedora, uma impermeabilidade deliberada a qualquer discussão sobre o tema.

Ao lado da ameaça que a emancipação feminina e a conquista dos direitos degays e lésbicas de fato representa aos privilégios de homens e de heterossexuais, e ao lado também do fundamentalismo religioso de alguns, há no destaque dado à “ideologia de gênero” uma demonstração de oportunismo político. Como afirmei em outro lugar, hoje a homofobia é o ópio do povo. Deslocando o eixo do conflito para as questões “morais” (que, na verdade, são questões de direitos individuais), a direita se põe em sintonia com uma parcela do eleitorado que, sobretudo a partir das políticas compensatórias do governo Lula, se movimentava na direção de seus adversários. Também por isso, para as forças da esquerda a luta pela igualdade de gênero e contra a homofobia não pode ser considerada uma pauta secundária.

Entre os projetos em tramitação no Congresso, vários têm o fantasma da “ideologia de gênero” como alvo. O PL 7180/2014 e o PL 7181/2014, ambos de autoria de Erivelton Santana (PSC/BA), determinam a mesma coisa: que “os valores de ordem familiar [têm] precedência sobre a educação escolar nos aspectos relacionados à educação moral, sexual e religiosa, vedada a transversalidade ou técnicas subliminares no ensino desses temas”. O primeiro projeto visa instituir esta regra na Lei de Diretrizes e Bases da Educação e o outro, redundantemente, quer torná-la obrigatória nos parâmetros curriculares (que já devem obedecer à LDBE).

A intocabilidade da família, como sujeito coletivo com direitos próprios, irredutíveis aos de seus integrantes, é o que fundamenta tal proposta. Muitas vezes, mesmo os grupos mais progressistas têm receio de discutir o statusatribuído à unidade familiar, preferindo deslocar a luta para a necessidade de pluralizar o entendimento do que é família. Claro que que é importante dar a todos que o queiram a possibilidade de buscar formar famílias, no formato que desejem, mas ainda precisamos dessacralizar a “família”. A família é também um lugar de opressão e de violência. A defesa de uma concepção plural de família não pode colocar em segundo plano a ideia de que, em primeiro lugar, estão os direitos individuais dos seus integrantes. E entre estes direitos está o de ter acesso a uma pluralidade de visões de mundo, a fim de ampliar a possibilidade de produção autônoma de suas próprias ideias.

As propostas do deputado baiano impedem a educação sexual e o combate ao preconceito e à intolerância nas escolas, sob o argumento de preservar a soberania da família na formação “moral” dos mais novos. Com isso, retiram da escola a possibilidade de contribuir para disseminar os valores de igualdade e de respeito à diferença, que são cruciais para uma sociedade democrática. E retiram dos jovens o direito de ter acesso a informações que são necessárias para que eles possam refletir sobre sua própria posição nesse mundo e avançar de maneira segura para a vida adulta.

Ainda mais bisonho, o PL 1859/2015, de autoria de Izalci Lucas (PSDB/DF), Givaldo Carimbão (PROS/AL) e outros, propõe que a LDBE inclua dispositivo que proíba as escolas de apresentar conteúdo “que tendam a aplicar a ideologia de gênero, o termo ‘gênero’ ou ‘orientação sexual’”. A política linguística destes deputados incorpora ao vocabulário legislativo o termo “ideologia de gênero”, inventado recentemente pela direita fundamentalista, e veta do vocabulário escolar os termos “gênero” e “orientação sexual”, impedindo assim que vastos setores do conhecimento produzido na sociologia e na psicologia cheguem ao ensino. O objetivo é evitar qualquer questionamento da percepção naturalizada dos papéis sexuais. É por isso que, quase 70 anos depois, Simone de Beauvoir ainda causa arrepios.

Na mesma linha, o PL 2731/2015, de Eros Biondini (PTB/MG), quer incluir, no Plano Nacional de Educação, uma proibição à “utilização de qualquer tipo de ideologia na educação nacional, em especial o uso da ideologia de gênero, orientação sexual, identidade de gênero e seus derivados, sob qualquer pretexto”. Para além do absurdo do texto (uma “ideologia” é “utilizada” na “educação nacional”?), o PL é significativo pelas punições previstas. O profissional de educação que descumprir a norma, isto é, que tematizar a desigualdade de gênero ou a homofobia, ou mesmo que apresente qualquer raciocínio crítico que seja rotulado como “ideológico”, perderá o cargo e estará sujeito às punições previstas, no Estatuto da Criança e do Adolescente, àqueles que submetem “criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou constrangimento ilegal”: seis meses a dois anos de prisão.

O projeto mais ambicioso, porém, é o PL 867/2015, novamente de Izalci Lucas, que é representante da ala do PSDB mais despreparada intelectualmente e retrógrada politicamente. Seu objetivo é incluir, nas diretrizes e bases da educação nacional, um programa intitulado “Escola sem Partido”. De fato, o deputado simplesmente apõe seu nome à iniciativa do “movimento” de mesmo nome. Assim, a educação deve ser baseada na “neutralidade política” e a escola não pode desenvolver nenhuma atividade que possa “estar em conflito com as convicções religiosas ou morais dos pais ou responsáveis pelos estudantes”. Embora escolas confessionais privadas possam exercer seu proselitismo, desde que contem com a anuência dos pais. O artigo 5º prevê que serão afixados cartazes nas escolas para que os estudantes saibam que podem denunciar seus professores. O programa se aplica ao material didático e a todos os níveis de ensino, incluindo o superior.

Os dois pilares são, portanto, a soberania da família, que se sobrepõe ao direito do estudante de obter elementos para produzir de forma autônoma sua visão de mundo, e uma ideia de “neutralidade” que se baseia na ficção de um conhecimento que não é situado socialmente. Um relato da história do Brasil ou do mundo que se limite a nomes ou datas, como no ensino do regime militar, pode parecer “neutro”, por não assumir expressamente juízos de valor. Mas, ao negar ao aluno as condições de situar os processos históricos e de compreender os interesses em conflito, cumpre um inegável papel conservador.

Se a “neutralidade” não existe, uma vez que toda produção de conhecimento parte de um lugar social específico, qual é o contrário da doutrinação? É o pensamento crítico, aquele que permite que os estudantes sejam não objetos, mas sujeitos da aprendizagem, refletindo sobre os conteúdos e construindo suas próprias percepções, no diálogo com professores e colegas. É esse pensamento crítico que assusta os promotores da “Escola sem Partido”. Seu discurso ensaiado não disfarça o fato de que são eles que desejam uma escola doutrinária, que imponha aos estudantes um pensamento fechado – o conformismo – e os impeça de pensar com as próprias cabeças e, pensando, quem sabe inventar um mundo novo.

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Luis Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, onde edita a Revista Brasileira de Ciência Política e coordena o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades – Demodê, que mantém o Blog do Demodê, onde escreve regularmente. Autor, entre outros, de Democracia e representação: territórias em disputa (Editora Unesp, 2014), e, junto com Flávia Biroli, de Feminismo e política: uma introdução (Boitempo, 2014). Ambos colaboram com o Blog da Boitempo mensalmente às sextas.
Fonte: MARIA FRÔ
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Álvaro dos Santos: Civilizatoriamente, o mundo andou para trás. Dá medo!

publicado em 29 de outubro de 2015 às 17:11
O Grito
O Grito, de Edvard Munch

CIVILIZATORIAMENTE FALANDO O MUNDO ANDOU PARA TRÁS. 
ISSO AMEDRONTA

 por  Álvaro Rodrigues dos Santos  
Tudo faz crer que estamos enfrentando algo muito mais grave que uma circunstancial crise econômica, política ou ética.
Não se faz necessário desfiar e historiar exemplos, que estão aí de roldão, seja nas decorrências políticas e sociais da crise econômica global, seja nos horrores das guerras locais e suas associadas ondas de vítimas e refugiados, seja na radicalização ideológica das disputas políticas internas, seja, incrível, no próprio retorno do risco de uma guerra global…
Fato real é que em termos de valores civilizatórios o mundo vem temerariamente retrocedendo à época em que a violência, sob todos seus matizes, se oferecia como o instrumento natural para a solução de conflitos de qualquer ordem.
A sociedade brasileira é hoje um exemplo claro dessa tragédia civilizatória.
Os valores humanistas e iluministas que marcaram a recuperação da democracia ao final do século XX, representando um alentado avanço cultural civilizatório na história brasileira, perderam grande parte de seu sentido, sendo hoje até motivos de chacotas.
A maquiavélica indústria do consumismo produziu uma massa que busca compulsivamente a demonstração dos valores materiais/sociais de sucesso que lhe enfiaram mente a dentro, o egoísmo e o sentido de tirar-se vantagem de qualquer circunstância prevalecem nas relações humanas, a gentileza entre cidadãos tornou-se um acontecimento raro e estranho, crescem em poder e selvageria o banditismo marginal e sua contrapartida nos sistemas públicos de segurança, dezenas de milhões entregam-se bovinamente às pregações obtusas e intolerantes da malandragem neopentecostal, os impulsos de intolerância, ódio e exclusão dão a nota no trato das diferenças, legitimam-se os posicionamentos fascistoides, encontrando ampla guarida e repercussão em vários segmentos da sociedade, as lutas políticas e ideológicas transformaram-se em guerras de extermínio e exclusão de adversários…
Os fatores causais desse terrível fenômeno são vários e complexos. Mas não se pode, no caso brasileiro, apequenar a responsabilidade do PSDB e do PT por estarmos, após 30 anos de reconquista da democracia, em um estágio civilizatório nitidamente mais atrasado.
Se tivéssemos à mão um indicador numérico de civilidade humana, sem dúvida o brasileiro médio hoje estaria muitos pontos abaixo do brasileiro médio de 1985. Indesculpável o total descaso dos governos democráticos que se sucederam após 85 com a formação do caráter cívico do povo brasileiro, tanto por falta de ações diretas de uma educação emuladora dos valores humanistas e de ações conscientizadoras de uma verdadeira cidadania, como pelos maus exemplos éticos oferecidos pelos administradores públicos que, ao contrário, teriam como obrigação proporcionarem-se como referências sociais de abnegação e conduta, especialmente para nossa juventude.
É difícil prever-se o que, a curto e médio prazos, poderá acontecer na sociedade brasileira. Uma coisa é certa, não será boa coisa.
A recuperação, o cultivo e o fortalecimento de valores humanistas de cidadania talvez constituam a transformação de qualidade de mais dificultosa realização dentro de uma sociedade. Ainda assim, talvez se apresente como a tarefa cotidiana de maior importância para aqueles que “sobreviveram” e tem consciência de sua essencialidade.
Geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos. Outubro 2015

Fonte: VIOMUNDO
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Marcia Lia: A Construção da Intolerância

Conceição Oliveira
Por Conceição Oliveira outubro 30, 2015 12:20

Marcia Lia: A Construção da Intolerância

        A construção da intolerância

Marcia Lia*
Pouco a pouco estamos assistindo, no Brasil, a desconstrução de um elenco de direitos conquistados no período pós-democratização, especialmente nos últimos 13 anos, desde que Lula chegou à Presidência da República. E não tenham dúvidas: a desconstrução da imagem pessoal e institucional da presidenta Dilma serve também a esse propósito, com o agravante de servir a um projeto pessoal de poder e de sobrevida nele, no pós-operação-faxina bancada pelo governo Dilma.
Correlato a isso, avalio que está em curso um processo de ‘construção da intolerância’, onde a ira e a intransigência substituem qualquer possibilidade de diálogo como caminho para a solução de conflitos. É sintomático e preocupante, porque poderemos voltar rapidamente, enquanto Nação, a um desequilíbrio de forças sociais que marcou a própria colonização do país, por centenas de anos, com a já conhecida pilhagem dos nossos recursos naturais e com o boicote à luz que o verdadeiro ensino traz às pessoas permitindo transformar opressão em liberdade; carência em fartura; desrespeito em respeito; e país em Nação.
Está claro, a meu ver, que essa construção passa pela cessação de direitos legais, pela divisão objetiva ou subliminar da sociedade entre os que ‘merecem’ e os que ‘não merecem’, amplamente noticiados pela mídia comercial, e quase sempre sem questionamento. Prestem atenção: muitos dos comentários que lemos e ouvimos são uma homenagem à intolerância. E o pior é que as pessoas começam mesmo a se sentir superiores ou inferiores, onde quer que estejam: no cotidiano, nas instituições, na vida pública ou na vida privada. É como se acostumar com a dor mesmo sabendo que há remédio, mas este ‘não lhe pertence’. É como beber e matar no trânsito e saber que sua condição financeira ou seu sobrenome garantirá que a ‘pena lhe seja leve’.
Portanto, o muro da desigualdade de direitos está sendo erguido travestido de moralidade e de amor à Pátria, afetando diretamente as chamadas minorias: mulheres, crianças e adolescentes, negros, indígenas, população LGBT e quilombolas.
A revisão do Estatuto do Desarmamento atende muito mais aos interesses da indústria bélica do que aos interesses da sociedade em coibir a violência; na mesma toada, há o projeto da redução de maioridade penal, que na prática desobriga os governos a disputarem os jovens com o crime por meio de educação e políticas públicas inclusivas: ‘cadeia neles, ora bolas’. Ou, ressuscitar o projeto 4330/2004 que amplia a possibilidade terceirização da mão de obra. Interesse de quem?
Na pauta recente, a transferência da responsabilidade pela demarcação de terras indígenas do Governo Central para o Congresso e o projeto que regulariza ativos no exterior, não declarados, são sinais escandalosos dos interesses que pautam as discussões. São sintomas de uma doença que afetará a todos, porque não se iludam: O mal que atinge nosso vizinho nos atinge também, independente se concordamos ou não com ele, ou se gostamos ou não das mesmas coisas que ele.
Por trás da responsabilização e da criminalização de um único partido (que cometeu erros, sim), a impunidade e os interesses nada moralistas campeiam à nossa frente.
*Marcia Lia é Deputada estadual pelo PT em são Paulo
Fonte: MARIA FRÔ
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Tudo isso pode ser considerado como um dos resultados, talvez o principal, da "vitória " do capitalismo sobre o comunismo, no início da década de 1990.

Durante o período da guerra fria, um dos principais argumentos do capitalismo  era que o comunismo não permitia  a liberdade de expressão das pessoas e ainda rejeitava a democracia.

O capitalismo sempre se apresentava como um mundo livre, libertário e de valorização dos direitos humanos.

Com a ´"vitória" do capitalismo e os anos que se seguiram até os dias atuais, o véu civilizatório caiu e a verdadeira face do capitalismo se fez.

Aliás, os radicalismos , tanto comunista quanto capitalista, são bem semelhantes.

Por outro lado, a regressão civilizatória que vivenciamos no presente é fruto de uma reação desesperada de se impedir uma tomada de consciência global sobre o fracasso do sistema capitalista e,  consequentemente, um medo irracional de um suposto retorno dos regimes comunistas do passado.

As estratégias de interdição do diálogo, dos debates e da formação de pensamento crítico, em nada diferem dos regimes comunistas mais ortodoxos do século XX.

O mesmo se pode dizer com relação aceitação de um único pensamento.

A história não é linear e avanços  e retrocessos sempre estiveram presentes no caminho evolutivo e civilizatório.

Quero crer, e acredito que assim seja, que o momento atual de retrocesso - que pode durar muitos anos - não tem futuro e sua expressão atual se caracteriza  em impedir a saída daquilo que não mais serve, é obsoleto, ultrapassado.

Como estratégia de preservação, radicaliza-se no conteúdo ideológico, de forma a torná-lo ainda mais conservador e retrógrado, acreditando que assim lastros de segurança sejam construídos e mantidos para preservar o status quo.

Para isso se utilizam das mesmas técnicas que acusam  existir , em prática, nos governos do PT, ou seja, a doutrinação massiva de pessoas , seja pelos meios de comunicação , seja por meio de correntes religiosas alinhadas e talhadas para os fins desejados.

Como resultado, a violência explode na sociedade, em todas as relações e em todas as camadas sociais, fazendo do mundo atual a imagem que emerge do fundo do espelho de um passado sombrio, ultrapassado e que acreditava-se não mais existir.