terça-feira, 17 de março de 2015

Uma questão de ordem

Maioria foi às ruas protestar contra a corrupção

  • 15.mar.2015 - Grupos contrários à presidente Dilma Rousseff fazem ato na avenida Paulista
    15.mar.2015 - Grupos contrários à presidente Dilma Rousseff fazem ato na avenida Paulista

  • Segundo informações do Datafolha, a maioria dos manifestantes que participaram dos atos contra o governo no último domingo (15) em São Paulo, foram às ruas para protestar contra a corrupção. Cerca de 47% dos participantes citaram este motivo ao serem consultados pelo instituto.
O segundo motivo mais citado foi o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, mencionado por 27%. Os outros motivos foram protestar contra o PT (20%) e contra os políticos (14%).
No universo dos 210 mil manifestantes que lotaram a avenida Paulista no domingo na contagem do Datafolha, 82% declararam ter votado no tucano Aécio Neves no segundo turno da eleição presidencial de 2014, 37% manifestaram simpatia pelo PSDB e 74% participavam de protesto na rua pela primeira vez na vida.
Como o Datafolha havia feito uma pesquisa semelhante na sexta (13) junto aos manifestantes do ato liderado pela CUT, UNE e MST, entre outras entidades, é possível comparar os perfis dos dois públicos.
No ato da sexta, formado majoritariamente por eleitores de Dilma, 71% votaram nela no segundo turno, as principais motivações foram protestar contra perdas de direitos trabalhistas (25%), por aumento salarial para professores (22%), por reforma política (20%) e em defesa da Petrobras (18%). A defesa de Dilma foi citada por apenas 4%.
Fonte: BOL
__________________________________________________________











Essa é boa.

A velha mídia somente foi descobrir ontem, um dia após os protestos de domingo, o que as pessoas estavam fazendo nas ruas.
E olha que foi uma manifestação marcada com meses de antecedência, com uma agenda supostamente definida, bem diferente das manifestações espontâneas de junho de 2013, quando até hoje analistas discutem  aquele movimento.

Como bom observador do cenário político e midiático do país, o caro e atento leitor deve estar se perguntando se a pesquisa do Data folha foi para identificar as motivações dos manifestantes, ou se foi para definir tais motivações, já que a sensação de circo e de insanidade que marcou o domingo deve ter gerado um desconforto nos setores conservadores e reacionários da direita brasileira. 

Segundo o Data folha, praticamente a metade dos manifestantes estavam ali se manifestando contrários a corrupção no país.

Só agora descobriram que a corrupção existe ?

Essa é uma boa pergunta, e é bem provável que a maioria somente nesses governos do PT esteja tomando conhecimento de como a corrupção existe e como está entranhada em todos os poderes da república.  
Atente ao fato, segundo o Data folha, que 74% dos manifestantes estavam participando de um protesto pela primeira vez.

No entanto, esse conhecimento sobre como a corrupção opera, só é possível quando um governo resolve enfrentá-la e a mídia resolve divulgar as investigações sobre os órgãos e empresas governamentais.

O fato de casos de corrupção estarem pipocando aos montes durante os governos do PT, pode e deve ser entendido de duas maneiras, pelo menos:

 - primeiro como algo extremamente negativo, já que toda sociedade espera que a corrupção exista em níveis civilizados, já que somente os ingênuos acreditam que se pode eliminar totalmente a ação de corruptos. Um esquema de corrupção bem elaborado entre as partes envolvidas , nem Deus descobre. Logo a corrupção, assim como a violência urbana, a burrice e a insanidade , sempre irão existir no seio da sociedade , no entanto espera-se que em níveis aceitáveis. É chato, reconheço, e gera um desconforto,ver tantos caso de corrupção,

 - segundo como algo extremamente positivo, já que os governos do PT estão empenhados em investigar, punir os corruptos  e ainda recuperar os valores desviados ilegalmente. 

Como os governos do PT estão investigando, a corrupção aparece, e claro, durante o período desses governos. 
No entanto, o fato de um governo não investigar casos de corrupção , e com  isso a mídia não fazer barulho, não significa que a corrupção não existiu naqueles governos, ao contrário, deve ter existido até mesmo com mais facilidade já que não foi investigada.

Voltando a pesquisa do Data folha, a outra metade foi protestar contra os políticos em geral, pelo impitima da presidenta e até mesmo pela volta da ditadura militar.

Perceba, caro leitor, que 50% dos manifestantes descobriram só agora  que a corrupção existe e outros 50 % deliravam de peito aberto, alguns, como a socialite da foto abaixo, na esperança de se tornar celebridade e, quem sabe, ser convidada para participar do quadro de debatedores do programa do Raul Gil, do SBT, ao lado de Val Marchiori e Tammy.

A socialite Juliana Isen no protesto, em São Paulo

Talvez não seja  essa a intenção da manifestante, e seu desempenho de peito aberto tenha sido apenas uma questão de ordem.

Seja lá o que que for, outras razões , sensíveis, vem a tona por conta do perfil dos manifestantes.

Em sua esmagadora maioria , os manifestantes eram brancos e de classe média, incitados por setores do empresariado midiático - principalmente mas não o único - e político da sociedade.
Não se viu, preto, operário, trabalhador rural e funcionários públicos , em meio a festa voluptuosa de domingo, principalmente nas ruas da Cidade São Paulo, em que o governador do estado é Geraldo Alckmin, que deixou toda a população  da região metropolitana de São Paulo na maior seca, e sequer foi citado nos protestos. Coisas de paulista, deixa pra lá.

Veja o que diz CONVERSA AFIADA:

82% dos manifestantes em SP votaram em Aécio

Bessinha cobriu os protestos dos coxinhas

Tinha três pardos



Abrindo um parênteses, lembro da famosa passeata dos 100 mil, no movimento estudantil, no ano de 1968 na cidade maravilha. Na ocasião, Nelson Rodrigues, sempre ele, conhecidíssimo como sendo simpático a direita, escreveu uma crônica criticando a passeata, já que na visão de Nelson não existiam pretos e trabalhadores no movimento, apesar da defesa dos interesses dos trabalhadores estar presente naquela manifestação. Ainda segundo Nelson, foi uma passeata da classe média e quando  o líder estudantil Vladimir Palmeira pediu para que todos se sentassem para os discursos, somente uma manifestante ficou de pé, o que Nelson atribuiu ao fato de que a moça teria lido somente a orelha do livro de Marcuse.

Essa passagem da passeata dos 100 mil, me remete aos atos de domingo , principalmente em São Paulo.

O caro leitor sabe, que todos perdem com a corrupção, pobres ou ricos. 
Sabe também que ainda no Brasil, os trabalhadores assalariados são os que mais pagam impostos, sejam impostos diretos  ou indiretos. 
Também sabe, que os ricos , por serem ricos, sempre encontram as melhores maneiras e formas de engenharias financeiras para não pagarem  impostos .
Uma evidência inquestionável, é o caso do banco HSBC, onde uma fortuna na faixa dos sete bilhões de reais encontra-se em contas de brasileiros no banco suíço, quantia essa supostamente desviada de forma ilegal do país.
E de uma coisa eu e você, caro leitor, temos certeza; não foram  os trabalhadores assalariados ,  os pretos, os  trabalhadores rurais que desviaram essa dinheirama de forma ilegal .
Foram os ricos, os endinheirados, que talvez assustados com as iniciativas do governo do PT em abrir e expor todos os esquemas de corrupção, resolveram , de peito aberto e com a cara dura, sair ás ruas em nome de uma moralidade e de uma ética em que jamais foram os principais protagonistas.

Essa moralidade  e essa ética, tão pedida com cores da camisa da seleção de futebol brasileira nas ruas das principais cidades brasileiras no domingo último, não pertencem a maioria desses manifestantes, isso, caro leitor, por uma razão muito simples.
As pessoas cumpridores de seus deveres como cidadãos, conhecidas como honestas, sentem-se envergonhadas e mesmo  acanhadas em se declararem como tais e , sabem perfeitamente, que a raiz dos problemas de corrupção e sonegação de impostos não se resolve com proselitismos protagonizados por uma maioria de fariseus ,que incitam uma multidão acéfala às ruas para preservar seus  seculares interesses criminosos.

Assim como a moça dos 100 mil apenas leu a orela do livro de Marcuse, a socialite do protesto apenas assiste aos telejornais da mídia privada e lê os jornalões impressos.

A questão da corrupção e seu combate sistemático não se esgota, ao contrário, o assunto deve amplamente debatido pela sociedade e o governo Dilma deve continuar investigando e punindo os corruptores, corruptos e sonegadores.

No entanto, sabemos todos, assim espero, que apenas investigar  e punir os corruptos não é suficiente para atacar de forma firme a corrupção e a sonegação e, para que a corrupção se mantenha em níveis aceitáveis na sociedade, outras medidas devem debatidas e posteriormente implementadas pelo governo federal.

Entendo, ainda, que tais medidas para minimizar a corrupção não podem ser discutidas pelo atual congresso nacional, uma vez que o número de parlamentares envolvidos em esquemas ilícitos é farto e volumoso. 

 Pelo mesmo motivo, qualquer proposta de criação de um novo marco regulatório para as comunicações no país,  também não pode ser avaliada por este congresso, já que o número de parlamentares proprietários de emissoras de rádio, de emissoras TV e de  jornais é indecente.

Assim a realidade vai se desenhando:

 - milhares foram às ruas protestar contra a corrupção , incitados por setores do empresariado e político que  vêem seus interesse  serem ameaçados com  as investigações em curso do governo federal e também com as denúncias de remessa ilegal de divisas para o exterior;

 - se o foco dos manifestantes foi o combate a corrupção - algo que não se sabia antes da manifestação , mesmo sendo marcada com antecedência - sabe-se que a corrupção não pode ser eliminada com um decreto presidencial, mas sim com medidas eficazes  que contemplem uma ampla e profunda reforma na política , juntamente com um modelo de governança, seja nos órgãos do governo e nas empresas estatais, que proporcione total transparência e participação ativa da sociedade nas decisões de aplicação dos recursos e também na fiscalização dos projetos e obras em andamento;

- curiosamente, em uma manifestação contra a corrupção, como afirma o Data folha,  de  esmagadora maioria branca de classe média e rica, nenhum  parlamentar e nem mesmo o congresso nacional mergulhado em evidências de corrupção e sonegação de impostos ,foi alvo dos manifestantes;

- é sabido que os esquemas de corrupção na Petrobras tiveram início , ou em uma visão realista teriam  se intensificado , no ano de 1996. Cabe ainda lembrar que o  jornalista Paulo Francis,do grupo Globo, á época denunciou o esquema na estatal e, devido a isso foi processado por dirigentes da empresa, o que teria contribuído para a seu falecimento, já que não dispunha de recursos para pagar uma indenização milionária;

- ainda, se de fato o foco da manifestação  foi o combate a corrupção, estranha-se a inexistência  nos protestos ,ou mesmo algum tipo de menção pelos manifestantes, dos esquemas milionários de desvios de recursos nos governos do PSDB no estado de São Paulo, além das estripulias e travessuras aéreas do candidato derrotado Aécio Neves, quando governador de Minas Gerias,

O que o povo brasileiro honesto e  trabalhador  deseja , é que as apurações continuem, com rigor e isenção, e que todos os culpados sejam punidos.
Além disso, o país, alavancado pelos investimentos e obras da Petrobras não pode  sofrer nenhum tipo de paralisação enquanto perdurarem as investigações.

O carnaval já passou e  o verão está chegando ao fim.
Já está na hora de voltar ao trabalho.



Nenhum comentário:

Postar um comentário