A imprensa bate panelas
Por Luciano Martins Costa em 09/03/2015 na edição 840
Os jornais de segunda-feira (9/3) fornecem um material precioso para a análise do processo que vimos observando, cuja principal característica é uma ruptura entre o chamado ecossistema midiático e o mundo real. O noticiário e os penduricalhos de opiniões que tentam lhe dar sustentação têm como fato gerador o pronunciamento da presidente da República em rede nacional da TV, mas o que sai nos jornais com maior destaque é a reação de protesto que partiu das janelas de apartamentos nos bairros onde se encastelam as classes de renda média e alta das grandes cidades.Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 9/3/2015
A presidente tenta seguir o protocolo que recomenda informar a população sobre as medidas econômicas que o governo está adotando – boa parte das quais foi insistentemente defendida pela imprensa antes de se tornar decisão de governo. No entanto, não há uma conexão entre o conteúdo do ato oficial e as manifestações de ódio e intolerância que se ouviram na noite de domingo (8). Mesmo que a presidente estivesse anunciando, por exemplo, que o custo das mensalidades nas escolas privadas poderia ser debitado integralmente do imposto de renda, ela seria vaiada e xingada com a mesma intensidade.
Há uma forte simbologia na imagem do cidadão que dá as costas para a tela da televisão, no momento em que a mensagem é endereçada, e põe a cabeça para fora da janela ou sai à sacada do apartamento para dizer que é contra. Contra o que? Contra as medidas anunciadas? Não se pode responder que sim, porque quem estava protestando não podia ouvir o que anunciava a presidente.
Essa simbologia mostra que nesses apartamentos, curiosamente, a realidade estava falando sozinha na tela da TV, enquanto a perturbação emocional, diligentemente cultivada pela mídia nos últimos meses, produzia um novo fato político. O fato é a radicalização das camadas da sociedade mais expostas ao discurso da mídia, com base num conteúdo jornalístico construído para produzir exatamente esse estado de espírito.
Não há como contar o número de pessoas que bateram panelas e gritaram palavrões, e os jornais são obrigados a admitir que não houve protestos nos bairros onde moram os menos afortunados.
A língua culta dos midiotas
Esse é um aspecto que não será lido na imprensa: o jornalismo brasileiro é feito para aqueles que nunca se conformaram com as políticas de redução das desigualdades sociais. Ainda que tais políticas tenham beneficiado também as classes de renda mais alta, não apenas pela oportunidade de multiplicação das fortunas criada pela nova escala de negócios, aquela fração da sociedade brasileira mimada pelas políticas segregacionistas resiste a admitir a companhia dos emergentes na fila do aeroporto, no navio de cruzeiro ou nos empórios dos melhores bairros.
O jornalismo brasileiro é uma máquina de fabricar midiotas. O Globo, por exemplo, afirma na primeira página que “enquanto a presidente pede paciência em pronunciamento, população reage”. Para o jornal carioca, a população brasileira se resume aos moradores de bairros como o Leblon e a Barra da Tijuca.
A Folha de S.Paulo compara a circunstância ao clima que antecedeu o impeachment de Fernando Collor de Mello, e um de seus diretores afirma que o Brasil vive uma “debacle econômica”.
O leitor que não reflete sobre aquilo que lê, compra pelo que lhe é oferecido tanto a ideia de que a “população brasileira” está contida nas regiões onde se concentra o bem-estar, quanto a tese de que a economia nacional foi para o abismo.
O ruído das panelas e os palavrões na boca dos privilegiados são a língua culta da ignorância, mas não se pode condenar liminarmente quem não teve a oportunidade de se educar para a cidadania. A midiotice é moléstia que afeta principalmente a consciência social do paciente. Mas a circunstância não facilita apreciações sobre essa questão, mesmo porque nossa produção intelectual em torno de política e sociologia empobreceu drasticamente desde que a universidade resolveu higienizar o marxismo dos fundamentos do conflito de classes.
Aqui tratamos das responsabilidades da imprensa, e o episódio serve bem para ilustrar o que tem sido objeto de nossas observações: a mídia tradicional tange seu gado – o rebanho dos midiotas – na direção da irracionalidade.
O ato de bater panelas vazias sempre foi uma expressão daqueles a quem faltava alimento. Os abastados abestados se apropriam desse símbolo sem mesmo saber o que significa. Em torno dos edifícios onde os direitos são medidos pelo valor do metro quadrado, a maioria silenciosa não bate panelas.
Fonte: OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA
_____________________________________________________
Ensaio de panelaço durante o pronunciamento de Dilma neste domingo mostra que existe organização por trás do jogral golpista, que assimilou o know how da elite venezuelana e argentina.
Com a palavra a frente progressista brasileira que não tem mais o direito de perguntar que horas são
Lista descadeirou o conservadorismo: mídia perdeu o rumo, todos os seus heróis decaíram; Eduardo Cunha virou um pato manco; Renan terá que cuidar do próprio pescoço e Aécio foi algemado por uma interrogação: por que seu braço direito no governo, na campanha e nas finanças, Antonio Anastasia, recebeu R$1 milhão de Yousseff?
Fonte: CARTA MAIOR
___________________________________________________
A velha mídia está envenenando uma parcela da sociedade contra o governo.
São os ricos e médios ricos, além dos midiotizados, aqueles que se informam ( ?) pelos jornais impressos e telejornais da mídia privada.
O jornal Folha de SP, também conhecido como Folha da Granja, apresenta hoje, em uma matéria, a informação de que o barulho de ontem se assemelha ao que ocorreu dias antes do impeachment de Fernando Collor, em uma tentativa de mostrar semelhança com o cenário atual.
Isso não é verdade, já que durante a crise que acabou por derrubar Collor, os panelaços ou barulhos, muitas vezes surgiam espontaneamente, o que não aconteceu ontem.
O discurso de Dilma na TV - com dia e horário - já era de conhecimento prévio da população, dias antes e o barulho de ontem foi organizado através das redes sociais.
Algo pensado e planejado para criar um fato, ou factóide, já que a velha mídia e os midiotizados ficaram descadeirados com a lista do Procurador Janot.
_____________________________________________
Paulo Wendel · Quem mais comentou
Brito, existe uma lógica no panelaço da classe média. Não estão batendo nas panelas por receio de que elas fiquem vazias. O receio da classe média é que as panelas fiquem sem a empregada para cozinhar e lavá-las
___________________________________________________
O Conversa Afiada reproduz artigo de Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo do Campo:
Por Luiz Marinho
Peço licença para parodiar o poeta maluco beleza, pois essa pergunta martela na minha cabeça desde a noite do último domingo, 8 de março. Li, naquela mesma noite, em sites de noticias, que haviam acontecido manifestações em prédios de bairros nobres de algumas capitais brasileiras no momento em que a presidenta Dilma fazia se pronunciava pela passagem do Dia Internacional da Mulher e sobre os ajustes que estão sendo feitos para combater a crise econômica que atinge nossa economia e de vários países. Manifestações essas mobilizadas pelas redes sociais no domingo.
Pois bem. Será que essas panelas batem por que não há carros de luxo para pronta entrega nas concessionárias, já que a oferta está muito menor do que a demanda? Será que batem por que as filas de espera em restaurantes de luxo continuam grandes? Ou será que batem por que as viagens a Miami e os gastos de brasileiros no exterior continuam crescendo? Talvez seja.
Só tenho certeza que elas não batem pelos milhões de brasileiros que nos últimos anos, durante os governos Lula e Dilma, deixaram a linha da pobreza. Ou pelos outros milhões que chegaram à classe média. Assim como não batem pelos milhões de brasileiros que, desde a chegada de Lula à presidência, conseguiram ingressar em um curso superior, seja pela criação de milhares de vagas em universidades públicas ou beneficiados pelo PROUNI ou FIES.
Sei que elas não batem por aquelas milhões de famílias que hoje têm um teto para morar graças ao programa Minha Casa, Minha Vida. Nem pelos milhões que conseguiram comprar o seu carrinho ou andar de avião pela primeira vez nos últimos anos. Sim, paradoxalmente as panelas não batem por aqueles que mais precisam do Estado em nosso País.
Leonardo Boff, em recente artigo intitulado “O que se esconde atrás do ódio ao PT?”, explica bem esse fenômeno.
Entendo como democráticas manifestações de opiniões contrárias. Pois é com o contraditório que construímos os melhores caminhos. É pelo confronto de ideias que elaboramos os consensos necessários à democracia. Contudo, quando manifestações são instrumentalizadas para a defesa de interesses mesquinhos e externos ao nosso País, não posso calar-me. Sim, o momento é difícil. Demandará ajustes duros em alguns casos. Mas nada, absolutamente nada parecido com que os representantes que articulam hoje essas manifestações fizeram quando estavam no governo.
Os interesses da imensa maioria dos brasileiros foram e sempre serão defendidos pelos governos do PT. A nossa opção pelos mais pobres, pelos trabalhadores e trabalhadoras, pelos pequenos e microempresários, pelo pequeno agricultor é clara e manifesta. E desta linha não nos afastaremos.
Aqueles que têm tido seus interesses contrariados – em especial o grande capital especulativo internacional e os seus representantes aqui no Brasil, que manifestadamente instrumentalizam uma falsa crise para mobilizar a classe média alta brasileira, apostando no ódio contra o PT e a presidenta -, tenham a certeza de que mais uma vez perderão. Pois a esperança vencerá. E a esperança estará nas ruas sempre que a construção deste País mais justo, igualitário e forte for colocada em risco por oportunistas ingênuos ou mal intencionados.
Luiz Marinho (PT) é prefeito de São Bernardo do Campo
___________________________________________________
Marinho no fígado do paneleiro:
não tem BMW para pronta entrega?
É por que os voos para Miami só fazem aumentar ?
O Conversa Afiada reproduz artigo de Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo do Campo:
LUIZ MARINHO: POR QUEM AS PANELAS BATEM?
Por Luiz Marinho
Peço licença para parodiar o poeta maluco beleza, pois essa pergunta martela na minha cabeça desde a noite do último domingo, 8 de março. Li, naquela mesma noite, em sites de noticias, que haviam acontecido manifestações em prédios de bairros nobres de algumas capitais brasileiras no momento em que a presidenta Dilma fazia se pronunciava pela passagem do Dia Internacional da Mulher e sobre os ajustes que estão sendo feitos para combater a crise econômica que atinge nossa economia e de vários países. Manifestações essas mobilizadas pelas redes sociais no domingo.
Pois bem. Será que essas panelas batem por que não há carros de luxo para pronta entrega nas concessionárias, já que a oferta está muito menor do que a demanda? Será que batem por que as filas de espera em restaurantes de luxo continuam grandes? Ou será que batem por que as viagens a Miami e os gastos de brasileiros no exterior continuam crescendo? Talvez seja.
Só tenho certeza que elas não batem pelos milhões de brasileiros que nos últimos anos, durante os governos Lula e Dilma, deixaram a linha da pobreza. Ou pelos outros milhões que chegaram à classe média. Assim como não batem pelos milhões de brasileiros que, desde a chegada de Lula à presidência, conseguiram ingressar em um curso superior, seja pela criação de milhares de vagas em universidades públicas ou beneficiados pelo PROUNI ou FIES.
Sei que elas não batem por aquelas milhões de famílias que hoje têm um teto para morar graças ao programa Minha Casa, Minha Vida. Nem pelos milhões que conseguiram comprar o seu carrinho ou andar de avião pela primeira vez nos últimos anos. Sim, paradoxalmente as panelas não batem por aqueles que mais precisam do Estado em nosso País.
Leonardo Boff, em recente artigo intitulado “O que se esconde atrás do ódio ao PT?”, explica bem esse fenômeno.
Entendo como democráticas manifestações de opiniões contrárias. Pois é com o contraditório que construímos os melhores caminhos. É pelo confronto de ideias que elaboramos os consensos necessários à democracia. Contudo, quando manifestações são instrumentalizadas para a defesa de interesses mesquinhos e externos ao nosso País, não posso calar-me. Sim, o momento é difícil. Demandará ajustes duros em alguns casos. Mas nada, absolutamente nada parecido com que os representantes que articulam hoje essas manifestações fizeram quando estavam no governo.
Os interesses da imensa maioria dos brasileiros foram e sempre serão defendidos pelos governos do PT. A nossa opção pelos mais pobres, pelos trabalhadores e trabalhadoras, pelos pequenos e microempresários, pelo pequeno agricultor é clara e manifesta. E desta linha não nos afastaremos.
Aqueles que têm tido seus interesses contrariados – em especial o grande capital especulativo internacional e os seus representantes aqui no Brasil, que manifestadamente instrumentalizam uma falsa crise para mobilizar a classe média alta brasileira, apostando no ódio contra o PT e a presidenta -, tenham a certeza de que mais uma vez perderão. Pois a esperança vencerá. E a esperança estará nas ruas sempre que a construção deste País mais justo, igualitário e forte for colocada em risco por oportunistas ingênuos ou mal intencionados.
Luiz Marinho (PT) é prefeito de São Bernardo do Campo
Fonte: CONVERSA AFIADA
Nenhum comentário:
Postar um comentário