terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O Baile dos Mortos Vivos

ANTEÃO DOS JORNALISTAS

Os caídos lutaram por liberdades que jamais desfrutaram

Por Alberto Dines em 09/12/2014 na edição 828
Não agravar tensões, desativar impasses, proteger a República, consolidar o Estado de Direito – estas devem ter sido as razões que levaram a imprensa a se comportar de forma tão comedida nas vésperas do Dia Internacional dos Direitos Humanos, quando a Comissão Nacional da Verdade (CNV) entregar o relatório sobre as violências cometidas pela ditadura militar contra aqueles que a ela resistiram.
Sabiamente, o coordenador da CNV, Pedro Dallari, foi liberando informações de forma gradual de modo a evitar grandes comoções no dia da entrega do relatório à presidente Dilma Rousseff. A mídia não aproveitou – ou aproveitou pouco – o acervo de revelações e a mina de brutalidades. O sinal verde só foi aceso no fim de semana anterior. E como sempre acontece pode ser logo apagado. Para economizar energia e aliviar culpas.
O zelo da mídia em não provocar o ressentimento castrense tem algo de hipócrita: para preservar a governabilidade e evitar sacolejos institucionais, mais prudente seria encerrar definitivamente a disputa eleitoral e tirar de circulação as provocações sobre impeachments.
Para proteger a República nada mais eficaz do que manter os seus ritos, e para evitar a repetição das barbaridades nada melhor do que conhecê-las integralmente. A Anistia não foi pactuada como uma Lei do Silêncio; a busca da verdade – mesmo sem a complementação processual – foi a alternativa encontrada nos anos 1970 para apressar a redemocratização e evitar o revanchismo.
Histórias e memórias
Torturadores, estupradores, assassinos e seus mandantes certamente escaparão de castigos e penas por força do pacto que os perdoou antes mesmo de conhecida plenamente a extensão de seus crimes. Em compensação, deveriam carregar para sempre o relato dos horrores que praticaram. Esta parte do pacto é de responsabilidade da sociedade e daqueles que falam em seu nome. A imprensa calou durante 17 dos 21 anos de ditadura, agora precisa soltar a voz para nunca mais perdê-la.
Porém, se o for relato for brando, resignado, cerimonioso, e se a busca da verdade não encontrar uma reverberação equivalente às monstruosidades perpetradas, estaremos sendo duplamente furtados – perdemos o direito de julgar carrascos e de honrar suas vítimas.
A imprensa brasileira não aparece muito bem no filme sobre o golpe e a ditadura. Mas tem condições de reabilitar-se de alguma forma se a busca for perseverada e as verdades perenizadas com devoção.
Os 25 jornalistas caídos na luta contra a ditadura militar merecem a solidariedade dos companheiros. Merecem também a gratidão das entidades, empresas e corporações pelo supremo sacrifício de trocar suas vidas por liberdades que nunca haviam desfrutado.
O panteão aos jornalistas caídos não carece de bronze nem de mármores. Basta recuperar suas palavras, histórias e lembrar suas dignidades.
Fonte: OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA
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A entrega do Relatório Final da Comissão da Verdade sobre as barbaridades cometidas durante o período da ditadura militar - principalmente - vai acontecer nesta semana.
Certamente não é um evento de agrado da velha mídia brasileira , assim como o conteúdo do relatório é algo que a velha mídia não gostaria de apresentar, menos ainda comentar e discutir.
O presidente da Comissão, ao longo do longo período de apuração das barbaridades, disponibilizou de forma homeopática, algumas informações que estarão no relatório final. 
A velha mídia pouco se interessou pelas informações conta gotas e deu destaque discreto, já o juiz Moro envolvido na operação lava-jato, também disponibiliza informações  aqui e ali sobre as investigações em curso que são amplamente divulgadas e repercutidas pela velha mídia. É uma questão de pauta, de relevância, dirão os jornalistas  em meio a mediocridade midiática caída que reina no país.
É bem provável  que a maioria da população brasileira não tenha o conhecimento adequado sobre os trabalhos da Comissão da Verdade, e uma outra parte talvez nem saiba que tal Comissão existe. O jornalismo brasileiro tem suas prioridades e também tem lado.
O momento  atual, este final de ano seco e escaldante, pode ser considerado péssimo para a velha mídia ,  isso em todos os aspectos. Os negócios das empresas de jornalismo vão de mal a pior, com demissões em jornais,  em emissoras de rádio e de TV, queda na venda de exemplares impressos,  queda acentuada nos índices de audiência das emissoras de TV , fuga da publicidade da TV para a internete, além de emissoras falidas. 
Se tudo isso não bastasse como definição de inferno, neste calor escaldante  e seco nas porta do verão, a velha mídia apostou todas as suas fichas nas eleições passadas acreditando que poderia retomar o poder, através de seu candidato, o cambaleante aviador Aécio Neves. Perdeu, e caiu ainda mais em seu longo e doloroso processo de queda e irrelevância.
Com mais uma vitória nas eleições do projeto social democrata liderado pelo PT, a velha mídia passou a viver longos pesadelos e , o resultado dessa terrível  agonia desembocou no que o país assiste neste período pós-eleição, ou seja, uma gritaria alucinada com todo tipo de notícias sem fundamentos, um flerte indecente pela volta de regimes autoritários, e delírios oníricos de pedidos de impeachment da presidente legalmente eleita pela maioria de votos. 
Justo após a eleição que deu mais quatro anos para o projeto social democrata liderado pelo PT e  a proximidade  da  entrega do Relatório da Comissão da Verdade sobre os crimes praticados durante o período da ditadura militar, aliados a possibilidade real e concreta que no próximo governo Dilma aconteça uma reformulação nas regras que regem os meios de comunicação, o que se vê na velha mídia nestes dias são ações em prol de tudo que se oponha a democracia e  a liberdade de expressão, até mesmo com apoio a protestos que pedem a volta da ditadura militar. Nada disso é por acaso.
Curiosamente, figuras da política nacional conhecidamente como exceções em função de suas posições, como o militar Bolsonaro, ganham grande destaque nestes dias nos meios de comunicação, sendo inclusive apresentado como candidato a presidência da república em 2018.
Que a velha mídia e militares estejam preocupados com o conteúdo do Relatório da Comissão  da Verdade, isso não é novidade, já que  grandes grupos de mídia apoiaram explicitamente todo tipo de barbárie cometida durante a ditadura militar. Por outro lado o conteúdo que se aproxima certamente já está causando apreensão e desconforto nos selvagens ainda vivos, sejam das tintas ou das armas.
Que a velha mídia esteja preocupada com um novo marco para as comunicações - democratização dos meios de comunicação - que deve ser debatido e aprovado no próximo governo Dilma, isso também é visível. Cabe ressaltar que tal processo de democratização não pode mais sofrer atrasos ou retrocessos.
Que a velha mídia e as oposições políticas entraram em surto por não  aceitarem a quarta derrota seguida para o projeto social democrata liderado pelo PT, isso é escancarado para todos, tendo em vista o apoio explícito que velha mídia e oposições disponibilizam à grupos de alucinados  em protestos , principalmente no reduto brasileiro  da seca, ou seja a cidade de São Paulo.
Que a a velha mídia , oposições, militares assustados, alucinados de São Paulo, magistrados desequilibrados e outros afins, unidos ou não, alinhados ou não, estejam , por diferentes motivos porém unidos em um objetivo interessados em desestabilizar o país e até mesmo promover um golpe de estado , isso é fato neste dezembro seco e escaldante - o inferno dos derrotados - onde os caídos e mortos vivos organizam a grande festa da não democracia, o grande baile dos derrotados, onde o sangue da democracia deverá ser sugado até a última gota.
Assim como no filme A Dança dos Vampiros, de Roman Polanski, os mortos - velha mídia , oposições, alucinados de SP, militares  de pijama, magistrados desequilibrados - todos se levantam, com grande esforço porém com disposição para a grande festa. 

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