quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Sábado na Biblioteca





Encontros Cariocas - 7          Sábado na Biblioteca


Um ninho de feras ansiosas, histéricas, obsessivas, psicopatas, esquizofrêncas continuava em sua ensandecida perseguição.

Não admitiam a derrota e de tudo faziam para tentar atingir aquele homem.

O homem no seu tempo seguia firme, apesar dos violentos ataques que recebia diariamente, muitos, inclusive, com a clara intenção de debilitar sua saúde.

Tímido e espalhafatoso, o homem seguia seu caminho, com um olhar na razão, outro olhar na emoção, e um olhar único, integrado e equilibrado na vida.

Sabia que estava sendo seguido, diariamente, durante as 24 horas do dia, nos seus passos, palavras, pensamentos, expressões e comportamentos.

Talvez, em determinados dias, pessoas do ninho estivessem seguindo, de fato, seus passos, de perto, por perto, de certo com o objetivo esperto de tentar alcançá-lo. No entanto, o ninho não sabia, ou se recusava a admitir, que aquele homem também sabia tudo que o ninho fazia, falava, escrevia, pensava, produzia, editava, programava. Aquele era um homem em seu tempo e o ninho estava fora do tempo, uma gigantesca vantagem para o homem, já que enquanto o ninho fazia alarde sobre o dia-a dia do homem, o homem divulgava apenas parte sobre o que sabia do ninho, guardando o restante para momentos apropriados.

Se fazia necessário que algo acontecesse, algo novo fora da rotina, para que o ninho criasse as condições para atingir aquele homem. E assim aconteceu, não da maneira como o ninho esperava e muito menos ainda como o ninho desejava, porém, já era alguma coisa, e independente da interferência direta do ninho, os acontecimentos futuros, reais em que aquele homem estivesse envolvido já seriam úteis, uma vez que se sabia seus passos, locais onde frequentava e até mesmo um provável e mesmo certo dia de um encontro em que o ninho pudesse agir.

E assim o ninho programou sua ação, já que monitorando as partes envolvidas, sabia o dia em que poderia agir. Os dias anteriores ao dia fatal foram de grande expectativa no ninho, de grande ansiedade, obsessão, histerismo, plumas, desvarios, pois o homem não teria como escapar. Foram programadas histórias, filminhos, séries, textos, todos extremamente violentos e mentirosos sobre a vida do homem, de maneira que tais conteúdos estivessem presentes , vivos, em todas as pessoas no dia esperado pelo ninho, de maneira que a vida do homem e as histórias criadas fossem uma única coisa, uma mentirosa colagem.

No entanto, o homem, ou melhor, o par do qual o homem é parte, sabe que obsessões e ansiedades não devem ser incentivadas em se tratando de expectativas que tenham uma finalidade  pré-estabelecida, no caso as expectativas e ansiedades criadas pelo ninho para o dia em que o homem diria se aceita ou não.

E, em assim sendo, como amantes da psicologia e da psicanálise, resolveram dar um chá de cadeira no ninho, quebrar suas expectativas, colocá-los diante da verdeira realidade em que estão inseridos, ou seja, uma quadrilha de criminosos que deseja se apropriar de um momento da realidade para ocultar seus crimes, gerar factoides, auferir vantagens e ainda minimizar sua derrota escondendo-se na vitória alheia.

Com o ninho frustrado, derrotado, desmoralizado, humilhado, pelo encontro que não vivenciou, o par comemora o acordo, à distância, que se viabilizou.  Porque hoje já é sábado na biblioteca.

Nenhum comentário:

Postar um comentário