quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Essa guerra ainda vai durar por muito tempo

'Se a polícia não faz, vou continuar fazendo', diz morador de Copacabana

Já morador do Jacaré de 18 anos e frequentador das praias rebate. 'Se ficar tirando onda de Iphone, de cordão, vai perder'

Caio Barbosa e Tássia di Carvalho
Rio - Um defende a agressão a ladrões. O outro a baderna e os roubos, mas também o direito de quem só vai "curtir a praia". A reportagem do DIA falou com os dois lados e constatou: o terror vivido por cariocas que frequentam a orla da Zona Sul está longe de terminar.
"Tenho 50 anos, sou nascido e criado em Copacabana e dou aula de jiu-jitsu aqui e nos Estados Unidos. Sou contra esse negócio de juntar gente, formar milícia armada para pegar vagabundo, mas se tiver que pegar, eu pego mesmo. Não tem parada", disse Y., de 50 anos.
Arrastão nas praias parece estar longe do fim
Foto: Alexandre Brum / Arquivo / Agência O Dia 

Segundo ele, a prática de agressão a ladrões é antiga e, apesar de se dizer contra grupos que agem para 'justiçar' vítimas, Y. diz agir com amigos para encarar criminosos. "Se a polícia não faz, eu vou continuar fazendo. Outro dia vi um deles roubando um pedestre e quebrei. Sempre quebrei. Desde moleque. Sou da turma da Constante Ramos e cresci assim. Se vejo pivete, bandido, alguém roubando, vou lá e encaro", revelou.
O lutador disse que recentemente, ao lado de um amigo, agrediu um bando que praticava roubos. "Esses dias mesmo encarei uns dez. Eu e mais um. Ainda levei uma porrada com um pedaço de pau na cabeça, mas eu tenho corpo para isso e nem fez cócegas. Meu amigo perdeu os óculos, mas quebramos os dez. Mas não tem jeito. A gente pode continuar pegando, eles não param. A solução é uma só: polícia."
Já X., de 18 anos, morador do Jacaré e frequentador das praias da Zona Sul, defende a baderna dentro dos ônibus, uso de drogas e até os roubos. "A gente vai à praia zoar da mesma maneira que o playboy vai para o show de rock, para a boate. Cada um com seus problemas. A gente vai fumando maconha no ônibus, com o corpo para fora da janela. Eles vão fumando, cheirando, tomando droga de playboy no carro do pai", comparou.
Entretanto, ele se disse revoltado quando menores que não estão praticando crimes acabam pagando pelos que cometem os atos infracionais. "Tem gente que vai no bonde e não faz nada. Até porque quem faz sabe que está no erro. E se a polícia pegar, pegou. A revolta rola quando (a PM) pega moleque que não tem nada a ver. Uns vão para barbarizar, outros vão curtir a praia. E se pegar esses moleques, nego bola mesmo", falou.
Anulando o direito de quem quer usar um celular ou qualquer pertence na praia, ele debocha das vítimas. "E na praia, se ficar tirando onda de Iphone, de cordão, vai perder. E a gente pega para zoar, para tirar onda. Se a diversão deles é ir para a Disneylândia, a nossa é fazer deles a nossa Disneylândia", avisa.

Fonte: O DIA
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Essa guerra ainda vai durar por muito tempo.

Nos fins de semana nas praias ou em um dia qualquer pelas ruas da cidade.

Sempre existirá algum jovem pobre mergulhado em uma profunda frustração, e tomado de inveja, por não poder consumir e usufruir dos símbolos de status e de sucesso alardeados diariamente  pelos meios de comunicação e pela indústria do entretenimento.

Tenho e ostento, e assim sou um vencedor, tornou-se a lógica, quase um valor, do capitalismo dos tempos atuais.

Aos que não tem, a frustração e o rótulo direto de perdedor e incapaz e até mesmo inútil.

Quase uma sentença de morte.

O capitalismo na sua expressão atual é uma máquina de produção de frustrados e invejosos.

Ao mesmo tempo, para os supostamente bem sucedidos, já que podem usufruir de todos os símbolos de status e  de sucesso, solidifica-se uma aura de poder, acima da lei, já que o dinheiro e o status alcançado resolvem todos e quaisquer problemas que possam advir em meio a civilidade decadente dos grandes centros urbanos.

Curiosamente, é a velha guerra de classes.

As instituições, cada vez mais, tem sido contaminadas pelos valores do capitalismo atual, e, em se tratando das forças de segurança pública, o pobre é sempre suspeito e sempre criminalizado.

Os jovens da zona norte da cidade do Rio de Janeiro sempre frequentaram as praias  do zona sul, deslocando-se em ônibus, trens e metrô.

É um momento de diversão, gratuita, onde a festa e alegria ditam o programa.

Em ônibus, sempre lotados , nos fins de semana esses jovens, em grupo, embarcam felizes, cantando para um dia de diversão gratuita,  em algo milagrosamente ainda não transformado em mercadoria.

É uma das maneiras como expressam sua alegria, as vezes exagerada, mas apenas  a vontade de se divertir.

Com sandálias, calção e até mesmo sem camisas, pois é mais fácil  para ficar a maior parte do dia , despreocupados, no mar, seja em piruetas com os amigos  ou banhando-se em águas nem sempre limpas, porém  democráticas, como deveriam ser as praias do Rio de Janeiro.

Esse é um aspecto da cultura da zona norte da cidade que muitos cariocas desconhecem, ou se conhecem, rejeitam de forma preconceituosa.

Por outro lado, jovens , também da zona norte, uma minoria, embarcam em transportes coletivos para um domingo na praia, no entanto, vão dispostos a cometer delitos já que não podem ter os mesmos bens que simbolizam status e sucesso.

As pessoas atingidas, que tem seus pertences roubados por arrastões nas praias, tem todo o direito de externar sua indignação e exigir do estado um policiamento que garanta a segurança de todos .

É direito do cidadão poder usar seu Iphone, um cordão de ouro na praia, ou em ruas próximas, sem que seja abordado por criminosos.

Assim como é um direito do jovem da zona norte, de sandálias, calção e mesmo sem camisa e com pouco dinheiro se divertir nas praias da cidade, sem ser abordado como suspeito pela forças de segurança.

A condição social das pessoas  não é motivo para  que a polícia do Rio de Janeiro determine que todos são suspeitos., como ao que parece, defendem alguns integrantes do Estado.

Por outro lado, o capitalismo atual criou esse monstro da desigualdade, logo, se você, foi roubado na praia e não sofreu nenhum  tipo de lesão, você saiu no lucro e o ladrão também, já que o jovem que cometeu o furto está apenas passeando na Disneylândia possível para ele.

Você vivo e ele se divertindo, todos no lucro.

A lógica é perversa e injusta, ou como se diz no jargão policial e das comunidades, " o bagulho é muito doido" 

No entanto, essa lógica, ou bagulho,  reflete em todos os níveis da pirâmide social  a essência do capitalismo atual, onde o Estado é cada vez mais fraco e as instituições reféns do dinheiro.

Você fica revoltado, e com razão , por não poder usar os bens que conseguiu adquirir com  seu trabalho, no entanto, suas ideias e valores aprofundam  cada vez mais a desigualdade.

Essa guerra ainda vai durar por  muito tempo.
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Exemplo mundial, Bolsa Família aumenta permanência na escola

Dados da PNAD e do IBGE apontam que o tempo de permanência na escola entre os mais pobres com até 21 anos aumentou em 36% entre 2003 e 2013.

Os justiceiros do Brasil pariram uma versão da Ku Klux Klan

Para combater os arrastões, alguns cariocas resolveram arregaçar as mangas e fazer o que Sheherazade chamou de 'compreensível': estão caçando 'marginais'.

 
Fonte: CARTA MAIOR
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O esforço universal por uma humanidade (?) estúpida

estupidez

Chega-me a matéria publicada hoje pelo site Starse, especializado em “startups” (novas empresas com projetos que representem inovações) que narra a decisão do governo australiano de fazer com que as “escolas substituam as disciplinas de História e Geografia por Programação de Softwares”.

Não é preciso dizer, claro, que a Austrália, depois de muitos governos trabalhistas, tem hoje um governo neoliberal.

O Ministro da Educação justifica a mudança como forma de atender a necessidade de “reforçar as competências digitais necessárias para ter sucesso no ambiente de tecnologia altamente competitivo do século 21″.

Perfeitamente, é indispensável.

Mas quem pode ser competitivo se não sabe de onde veio e em que mundo vive? Que mundo pode ser aquele dos camelôs de gadgets, de modernidades de camelô, da filosofia medida em dólares?

O que aguarda uma geração que não sabe o que centenas de outras acumularam em conhecimento e descobertas – inclusive da Austrália?

O conhecimento de tecnologia jamais prescinde do conhecimento da ciência, como a percepção de “marketing” jamais pode deixar de lado as raízes culturais, históricas, sociais.

O Papa Francisco disse, há pouco tempo, que “o dinheiro é o esterco do Diabo”.

Parece que se tornou mesmo, porque está fazendo escolas se tornarem “startups” de uma humanidade estúpida – se é que se pode chamar de humanidade a uma fauna imbecilizada – incapaz de reconhecer qualquer coisa que são seja dinheiro, tanto que este se torna dono dela, em lugar de ser o contrário.

PS. A foto acima é do livro “Como me torney um estúpido”, nada estúpida e divertida obra de Martin Page, onde o protagonista, Antoine, se convence que o conhecimento é estúpido e a estupidez a grande sabedoria.

Fonte: TIJOLAÇO
 

 

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