segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Mesmo assim Ela gira

CARLOS ALEXANDRE AZEVEDO (1972-2013)

Morrer aos poucos

Por Luciano Martins Costa em 18/02/2013 na edição 733
Comentário para o programa radiofônico do OI, 18/2/2013
O técnico de computadores Carlos Alexandre Azevedo morreu no sábado (16/2), após ingerir uma quantidade excessiva de medicamentos. Ele sofria de depressão e apresentava quadro crônico de fobia social. Era filho do jornalista e doutor em Ciências Políticas Dermi Azevedo, que foi, entre outras atividades, repórter da Folha de S. Paulo.
Ao 40 anos, Carlos Azevedo pôs fim a uma vida atormentada, dois meses após seu pai ter publicado um livro de memórias no qual relata sua participação na resistência contra a ditadura militar. Travessias torturadas é o título do livro, e bem poderia ser também o título de um desses obituários em estilo literário que a Folha de S.Paulo costuma publicar.
Carlos Alexandre Azevedo foi provavelmente a vítima mais jovem a ser submetida a violência por parte dos agentes da ditadura. Ele tinha apenas um ano e oito meses quando foi arrancado de sua casa e torturado na sede do Dops paulista. Foi submetido a choques elétricos e outros sofrimentos. Seus pais, Dermi e a pedagoga Darcy Andozia Azevedo, eram acusados de dar guarida a militantes de esquerda, principalmente aos integrantes da ala progressista da igreja católica.
Dermi já estava preso na madrugada do dia 14 de janeiro de 1974, quando a equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury chegou à casa onde Darcy estava abrigada, em São Bernardo do Campo, levando o bebê, que havia sido retirado da residência da família. Ela havia saído em busca de ajuda para libertar o marido. Os policiais derrubaram a porta e um deles, irritado com o choro do menino, que ainda não havia sido alimentado, atirou-o ao chão, provocando ferimentos em sua cabeça.
Com a prisão de Darcy, também o bebê foi levado ao Dops, onde chegou a ser torturado com pancadas e choques elétricos.
Depois de ganhar a liberdade, a família mudou várias vezes de cidade, em busca de um recomeço. Dermi e Darcy conseguiram retomar a vida e tiveram outros três filhos, mas Carlos Alexandre nunca se recuperou. Aos 37 anos, teve reconhecida sua condição de vítima da ditadura e recebeu uma indenização, mas nunca pôde trabalhar regularmente.
Aprendeu a lidar com computadores, mas vivia atormentado pelo trauma. Ainda menino, segundo relato da família, sofria alucinações nas quais ouvia o som dos trens que trafegavam na linha ferroviária atrás da sede do Dops.
Para não esquecer
O jornalista Dermi Azevedo poderia ser lembrado pelas redações dos jornais no meio das especulações sobre a renúncia do papa Bento 16. Ele é especialista em Relações Internacionais, autor de um estudo sobre a política externa do Vaticano, e doutor em Ciência Política com uma tese sobre igreja e democracia.
Poderia também ser uma fonte para a imprensa sobre a questão dos direitos humanos, à qual se dedicou durante quase toda sua vida, tendo atuado em entidades civis e organismos oficiais. Mas seu testemunho como vítima da violência do Estado autoritário é a história que precisa ser contada, principalmente quando a falta de memória da sociedade brasileira estimula um grupo de jovens a recriar a Arena, o arremedo de partido político com o qual a ditadura tentou se legitimar.
A morte de Carlos Alexandre é a coroa de espinhos numa vida de dores insuperáveis, e talvez a imposição de tortura a um bebê tenha sido o ponto mais degradante no histórico de crimes dos agentes do Dops.
A imprensa não costuma dar divulgação a casos de suicídio, por uma série controversa de motivos. No entanto, a morte de Carlos Alexandre Azevedo suplanta todos esses argumentos. Os amigos, conhecidos e ex-colegas de Dermi Azevedo foram informados da morte de seu filho pelas redes sociais, por meio de uma nota na qual o jornalista expressa como pode sua dor.
A imprensa poderia lhe fazer alguma justiça. Por exemplo, identificando os integrantes da equipe que na noite de 13 de janeiro de 1974 saiu à caça da família Azevedo. Contar que Dermi, Darcy e seu filho foram presos porque os agentes encontraram em sua casa um livro intitulado Educação moral e cívica e escalada fascista no Brasil, coordenado pela educadora Maria Nilde Mascellani. Era um estudo encomendado pelo Conselho Mundial de Igrejas.
Contando histórias como essa, a imprensa poderia oferecer um pouco de luz para os alienados que ainda usam as redes sociais para pedir a volta da ditadura.



Habemuns Martinhuns


" sambar na avenida de azul e branco é o nosso papel, mostrando pro mundo que o breço do samba é em Vila Isabel"
São trechos de um samba de Martinho da Vila.
A Vila Isabel é conhecida em todo o mundo.
O carnaval acabou e os desfiles das escolas de samba também. 
Neste ano em que todo o mundo conhece a Vila Isabel, não teve transmissão dos desfiles das campeãs em tv aberta. 
Lamentável. 
Fico a me perguntar se a escola vencedora tivesse um enredo sobre Boni, será que mesmo assim não teria a transmissão para a tv aberta ?
A resposta é sua, caro leitor, claro sempre em tese.
Minha intenção aqui não é escrever sobre o carnaval, mas sim sobre a Quaresma.
E a Quaresmo já começou. 
Um período de reflexão e jejum, entretanto a fome voraz da imprensa assusta neste início de semana onde, supostamente, tudo volta a realidade.
É comum se ouvir que o ano só começa por aqui ao término do carnaval.
Assim sendo, neste "início" de ano um tsunami retrógrado invadiu, ou assim tenta, os corações e mentes.
É hora de "voltar a realidade" e aqueles que pensam que podem sequestrar as almas humanos , despejam suas pautas.
Neste "retorno a vida normal" os seguintes temas estão na ordem do dia:
- não existe  o aquecimento global em que a atividade humana seja a responsável pelo fenômeno;
- não existiu tortura durante o período da ditadura militar no Brasil;
- a volta da ditadura militar seria algo ineressante e desejável;
- o papa renuciou apenas por estar com problemas de saúde;
- a vitória de Correa, no Equador, se deu, "apenas" por que a economia vai bem naquele país;
- a barca não vai afundar, declarou um cardeal brasilerio sobre a renúncia do papa ( problemas de saúde ? )
O caro leitor deve estar se sentindo impressionado com a investida ultra conservadora, reacionária e retrógrada da grande imprensa brasileira e de seu aparato midiático. Tudo isso me traz lembranças sobre a campanha nos EUA contra o presidente Obama. 
Até bem pouco tempo, antes das eleições para o seu segundo mandato, uma grande parcela da mídia norteamericana insistia em dizer que Obama não tinha nascido nos EUA e devido a isso, não poderia se candidatar a presidência daquele país. 
Mesmo com provas concretas de sua nacionalidade, esses setores retrógrados ignoravam a verdade e continuavam falando e noticiando aquilo que eles gostariam que fosse a realidade. 
É o tea party american.
Qualquer semelhança com a imprensa brasileira e seu aparato midiático, nestes anos, não é coincidência.
É uma estratégia global dos setores reacionários e retrógrados, incluindo as alas conservadoras que dominam atualmente a Igreja Católica.
Em toda a História, não é a primeira vez que quando as verdades científicas e a força da realidade falam mais alto, esses mesmos setores, quando esgotados os argumentos racionais, partem para o confronto direto e para a negação da realidade, mesmo contrários a vontade da maioria do povo expressa pelo voto.
É o DNA da Santa Inquisição.
É o DNA da Casa Grande,
É o DNA do autoritarismo e da negação da democracia.
Os amantes da democracia e os Galileus da atualidade são as princiapis vítimas das perseguições.
Em um mundo caótico que vive uma de suas mais graves crises civilizatória, em que a maioria dos países ditos civilizados e desenvolvidos agoniza em crises financeiras com desemprego com índices alarmantes, seja a ser ridículo  ler no jornal o globo, que a vitória de Correa no Equador aconteceu apenas porque a economia do país vai bem.
Apenas ?  Acha pouco na conjuntura atual um país que esteja bem em sua economia ?
Esse é um recorte, que muito bem ilustra o discurso da grande imprensa e do aparato midiático nesta semana de "retorno a realidade"  
Obama não nasceu nos EUA, insistem as vozes da imprensa americana.
No jornal nacional da tv globo, a reporter correspondente do jornal na Itália, sempre com seus ares e aparências depressivas, insistia em dizer que a renúncia do papa se deu apenas por motivos de saúde quando o discurso do Papa, pós renúncia, deixava claro para todos a grave crise de identidade por que passa a Igreja Católica.
Ao mesmo tempo em a maioria da comunidade científica afirma categoricamente que a atividade humana é a principal responsável pela aquecimento global e os graves problemas ambientais que o mundo enfrenta, a grande imprensa ignora o conhecimento e o avanço da ciência, e veicula o oposto do conhecimento científico. 
A Igreja se cala, agarrada ao mastro da barca em um mar cada dia  mais sem peixe, a ponto de o pescador abandonar o barco.
É o millagre da multiplicação das mentiras, dos crimes.
index libroriun prohibitum, talvez seja a classificação de muitos livros e artigos atualmente publicados na internete. 
Para a Igreja Católica, o espírito não pode soprar em qualquer lugar.
Para a imprensa e seu aparato midiático, a verdade é aquilo que esses setores definem, independentemente da realidade.
Apesar de tudo e de toda essa onda retrógrada, Ela gira.
Se não bastassem essas aberrações tivemos ainda a semana dos astros sem destino.
Um grande asteróide  foi , durante dias, anunciado como o grande astro que passaria tirando tinta em nosso planeta, como de fato aconteceu. 
Tudo informado, pela grande imprensa, com ares de credibilidade e evitando qualquer tipo de pânico, chegando-se , inclusive, a afirmar que não seria o fim do mundo e que o astro não causaria nenhum dano ao planeta que gira.  
Fim do mundo ?????
No mesmpo dia em que o asteróide celebridade passava tirando um fino da terra, um meteorito enlouquecido, desconhecido, sem nenhum tipo de monitoramento anterior, entrou na atmosfera terrestre e chocou-se com o solo do planeta, causando estragos da ordem de 40 milhões de reais e deixando  mil e duzentas pessoas feridas.
Algumas pessoas do local onde o meteorito irado caiu achavam que era o fim do mundo.
Tudo isso me fez lembrar o sucesso do Kohutec e o fracasso do Halley, dois cometas que passaram perto do planeta, que apesar dos pesares, insiste em girar.
O halley era tido como o cometa celebridadee o Kohutec um desconhecido.
Ninguém viu o Halley na última passagem e o Kohutec foi um sucesso de público.
Mesmo para monitorar astros, asteróides e outros vagabundos do espaço, nossa ciência ainda deixa muito a desejar.
O meteorito irado mostra que a vida não é apenas perecível ao tempo, mas que tudo pode estar apenas por um segundo, conforme letras de dois compositores baianos.
Conhecer a realidade faz da vida algo melhor e mais agradável.
Não é que desejam os meios de comunicação de massa e as organizações que pensam serem os detentores do monopólio da fé.
Habemuns veritas, é o que o povo deseja..
Mesmo assim Ela gira. 


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