quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O Jornalismo do Capital na TV Irrealidade

A Lava Jato, o erro de O Globo e o jornalismo 'roleta russa'

A Lei do Direito de Resposta, que aguarda sanção da presidenta Dilma, pode ajudar a reparar os malefícios dessa nova forma de se fazer jornalismo


Najla Passos  
montagem















A Operação Lava Jato inaugurou no Brasil não apenas uma nova forma de se conduzir investigações criminais, com prejuízos para o amplo direito de defesa e o devido processo legal, como denunciam os juristas. Cunhou também uma nova forma de se fazer jornalismo, no qual o compromisso ético com a veracidade das informações prestadas fica condicionado ao acaso das probabilidades matemáticas.

Trata-se de um ‘fazer jornalístico’ que funciona como uma espécie de ‘roleta russa’, aquele jogo de vida ou morte em que se coloca apenas uma bala no revólver, gira o tambor e dispara contra a têmpora, com resultados imprevisíveis.

Na prática, o jornalista descola uma fonte qualquer na Polícia Federal, Ministério Público ou Judiciário, que o abastece com ‘vazamentos seletivos’ sistemáticos sobre a dita maior operação contra a corrupção do país. Como as investigações são sigilosas e os processos correm sob segredo de justiça, ele fica limitado para checar procedência, cruzar dados, ver o ‘preto no branco’. E como o tempo não dá trégua e a concorrência é real, simplesmente publica a informação tal como lhe foi repassada.

Na maioria das vezes, ninguém sai ‘ferido’. Mas, tal como na roleta russa, há aquele momento em que a arma dispara e faz alguma vítima.

O 'erro' de O Globo

Parece ter sido o que aconteceu com a manchete de capa publicada pelo jornal O Globo em 11/10 que, quase um mês depois, obrigou a publicação a surpreender seus leitores com uma “errata” na capa do jornal, na edição do último domingo (8).

Note-se que o jornal O Globo é aquele com tanta dificuldade de reconhecer um “erro que levou quase 50 anos para admitir o óbvio: não deveria ter apoiado à ditadura que cassou a democracia, calou parlamento e imprensa crítica, torturou e matou milhares de brasileiros.

“Baiano diz que pagou contas do filho de Lula”, era a manchete em questão, estampada em cinco das seis colunas do jornal. Logo abaixo, uma foto posada exibia o autor da façanha, o jornalista Lauro Jardim, que deixara a coluna Radar da revista Veja e estreava na publicação da família Marinho naquele mesmo dia, com toda pompa e circunstância.

No texto, Jardim narrava que Fernando Baiano, um dos principais operadores do esquema de propinas da Petrobrás, afirmara, em delação premiada, que pagara uma dívida de R$ 2 milhões de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha. Para bom entendedor, envolvia o filho do ex-presidente mais popular do país com a prática de crime de corrupção passiva.

A notícia se alastrou como pólvora pelo conjunto da imprensa. Sustentou manchetes não só nos veículos das Organizações Globo, mas também nos dos seus comparsas de redação virtual, digamos, concorrentes. Lulinha negou. Baiano, também. A própria Justiça acabou desmentindo que tal acusação constasse na delação premiada do operador. Mas o estrago já estava feito.

Em 23/10, o filho de Lula entrou com ações judiciais, penal e cívil, contra o jornal e o jornalista. Pouco dias depois, em 5/11, o Congresso aprovou o projeto do senador Roberto Requião (PMDB-PR) que disciplina o direito de resposta, revogado em 2009 pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que não acolheu a Lei de Imprensa que vigia no país desde 1967 como constitucional.

O jornal, então, publicou aquilo que chamou de errata também na primeira página, mas em espaço reduzido, de apenas uma coluna, sem o mesmo destaque da manchete anterior. O texto foi curto e seco. “Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do ex-presidente Lula, não foi citado pelo lobista Fernando Baiano na delação que fez na Operação Lava-Jato. O GLOBO, na coluna de Lauro Jardim do dia 11 de outubro, 'errou' ao dizer que Baiano afirmara ter dado R$ 2 milhões para pagar contas de Lulinha. Na verdade, Baiano não citou o nome e disse que o também lobista e pecuarista José Carlos Bumlai é que pediu o dinheiro alegando que seria para uma nora de Lula”.

‘Errata é um avanço, mas não resolve’

Professor aposentado da Faculdade de Jornalismo da UnB, Venício Lima acredita que a publicação da errata é um avanço, porque significa o reconhecimento do erro. “Certamente, é o resultado antecipado da aprovação pelo Congresso da lei que regulamenta o direito de resposta e que, agora, aguarda sanção presidencial”, avalia. O professor, no entanto, não acredita que ela resolva o problema.

De acordo com ele, todos os manuais de jornalismo - incluindo o do próprio O Globo - apresentam instruções de como proceder em caso de erros, porque a profissão, como qualquer outra, está sujeita a eles. Venício ressalta, porém, que essas instruções não contemplam episódios como este. Isso porque não foi uma notícia rotineira, mas a manchete de capa de uma edição de domingo, proveniente da coluna de estreia de um jornalista renomado. E o que é pior: não configura ato isolado.

“Qualquer pessoa que esteja acompanhando o noticiário político da grande mídia no Brasil nesses últimos meses, verá que o tema desse ‘Erramos’ é reiterado, diário, cotidiano. Todo dia tem alguma coisa que vem de um vazamento de uma investigação da Polícia Federal, ou de um vazamento de um procedimento judicial em segredo de justiça, que é passado sistematicamente para alguns veículos e para alguns jornalistas. Não se trata de um equívoco como aqueles que são contemplados nos manuais de jornalismo. Fica difícil de acreditar até mesmo que seja só um equívoco. É uma conduta sistemática”, denuncia.

Para o professor, a dificuldade de reparação do dano está relacionada também ao fato de que a notícia, embora publicada primeiro em  O Globo, foi replicada por centenas de outros jornais, inclusive os dois principais jornais brasileiros, a Folha de São Paulo e o Estadão. “A correção não é suficiente, porque o tamanho do dano causado não pode ser reparado por um erramos de um mês depois que não é reproduzido nos inúmeros outros canais de informação que reproduziram a informação incorreta”, afirma.

‘Errata não impede condenações’

Ex-presidente da OAB-RJ, o deputado Wadih Damous (PT-RJ) concorda que a errata não é suficiente para evitar que o jornal seja condenado penal e civilmente pela manchete anterior. “A nota não teve o mesmo destaque da matéria, não resultou de acordo entre as partes e o principal: não explicou as razões que induziram o jornalista ao erro, já que não há mais controvérsias de que a matéria relatada é inexistente e, portanto, uma notícia falsa”, esclarece.

Segundo ele, a errata não atende nem mesmo às exigências previstas pela futura lei do direito de resposta, como a questão da proporcionalidade e, por isso, não deve inviabilizar um resultado favorável à vítima nas decisões judiciais. “A matéria que incriminou o filho do ex-presidente Lula foi a manchete do jornal. A errata, não”, compara.

Para o deputado, a admissão do erro é prática incomum no histórico do veículo e, por isso, demonstra grande preocupação do seu departamento jurídico com o episódio “É possível que seja uma tentativa de se precaver da ação judicial já impetrada pelo Lulinha contra o jornal e contra o jornalista que assina a matéria. Mas não é suficiente para evitar a condenação de ambos”, reitera.

De volta à roleta russa

O professor Venício Lima alerta que a conduta que resultou na manchete falsa contra o filho do Lula não é prática só de O Globo, mas tem caracterizado o jornalismo político no Brasil nos últimos meses, especialmente após as eleições de 2014. Por isso, é uma questão grave que ameaça o direito à informação, principalmente no país que abriga um dos maiores oligopólios de mídia do mundo.

“A pauta da grande mídia brasileira tem priorizado esse ‘vazamento seletivo’. E um vazamento seletivo que tem origem. Porque o problema não é só da imprensa também. É do conluio entre imprensa e setores da Policia e do Judiciário que alimentam permanentemente esse tipo de notícia. Algumas até se provam verdadeiras depois de divulgada. Outras não. Isso é uma questão muito séria”, denuncia.

Para ele, o problema é agravado pela incapacidade histórica dos setores populares brasileiros de construir um esquema alternativo de informação, que pudesse fazer face a esse oligopólio consolidado. “A melhor solução seria criar um sistema que servisse de alternativa de informação para a população e contrabalançasse o viés que tem caracterizado a cobertura jornalística do sistema dominante. Essa é a questão de fundo”, avalia.

Para o professor, é imperativo que todos os setores que defendem a pluralidade da mídia apoiem o sistema público de imprensa, que ainda é embrionário no Brasil, mas pode vir a se constituir na imprensa alternativa que o país tanto necessita. A curto prazo, porém, a única solução que o especialista vê para o problema é fazer valer a lei recém aprovada pelo Congresso.

“O direito de resposta é um princípio universal, regulado no mundo todo. Mas aqui sofreu uma oposição sistemática das entidades que representam os oligopólios, sobretudo da Abert, que atende os interesses das organizações Globo”, esclarece ele, que torce pela sanção imediata da matéria pela presidenta Dilma Rousseff.
Fonte: CARTA MAIOR
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Opinião: 

Rede Globo, a "TV Irrealidade" que


ilude o Brasil


   
Vanessa Barbara*
Em São Paulo
    
  • Personagem Romero Rômulo, da novela "A Regra do Jogo", irritou Anistia Internacional
    Personagem Romero Rômulo, da novela "A Regra do Jogo", irritou Anistia Internacional
Gigante da mídia cativa os telespectadores com novelas vazias e comentários ineptos no noticiário

No ano passado, a revista "The Economist" publicou um artigo sobre a Rede Globo, a maior emissora do Brasil. Ela relatou que "91 milhões de pessoas, pouco menos da metade da população, a assistem todo dia: o tipo de audiência que, nos Estados Unidos, só se tem uma vez por ano, e apenas para a emissora detentora dos direitos naquele ano de transmitir a partida do Super Bowl, a final do futebol americano".
Esse número pode parecer exagerado, mas basta andar por uma quadra para que pareça conservador. Em todo lugar aonde vou há um televisor ligado, geralmente na Globo, e todo mundo a está assistindo hipnoticamente.
Sem causar surpresa, um estudo de 2011 apoiado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontou que o percentual de lares com um aparelho de televisão em 2011 (96,9) era maior do que o percentual de lares com um refrigerador (95,8) e que 64% tinham mais de um televisor. Outros pesquisadores relataram que os brasileiros assistem em média quatro horas e 31 minutos de TV por dia útil, e quatro horas e 14 minutos nos fins de semana; 73% assistem TV todo dia e apenas 4% nunca assistem televisão regularmente (eu sou uma destes últimos).
Entre eles, a Globo é ubíqua. Apesar de sua audiência estar em declínio há décadas, sua fatia ainda é de cerca de 34%. Sua concorrente mais próxima, a Record, tem 15%.
Assim, o que essa presença onipenetrante significa? Em um país onde a educação deixa a desejar (a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico classificou o Brasil recentemente em 60º lugar entre 76 países em desempenho médio nos testes internacionais de avaliação de estudantes), implica que um conjunto de valores e pontos de vista sociais é amplamente compartilhado. Além disso, por ser a maior empresa de mídia da América Latina, a Globo pode exercer influência considerável sobre nossa política.
Um exemplo: há dois anos, em um leve pedido de desculpas, o grupo Globo confessou ter apoiado a ditadura militar do Brasil entre 1964 e 1985. "À luz da História, contudo", o grupo disse, "não há por que não reconhecer, hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões editoriais do período que decorreram desse desacerto original".
Com esses riscos em mente, e em nome do bom jornalismo, eu assisti a um dia inteiro de programação da Globo em uma terça-feira recente, para ver o que podia aprender sobre os valores e ideias que ela promove.
A primeira coisa que a maioria das pessoas assiste toda manhã é o noticiário local, depois o noticiário nacional. A partir desses, é possível inferir que não há nada mais importante na vida do que o clima e o trânsito. O fato de nossa presidente, Dilma Rousseff, enfrentar um sério risco de impeachment e que seu principal oponente político, Eduardo Cunha, o presidente da Câmara, está sendo investigado por receber propina, recebe menos tempo no ar do que os detalhes dos congestionamentos. Esses boletins são atualizados pelo menos seis vezes por dia, com os âncoras conversando amigavelmente, como tias velhas na hora do chá, sobre o calor ou a chuva.
A partir dos talk shows matinais e outros programas, eu aprendi que o segredo da vida é ser famoso, rico, vagamente religioso e "do bem". Todo mundo no ar ama todo mundo e sorri o tempo todo. Histórias maravilhosas foram contadas de pessoas com deficiência que tiveram a força de vontade para serem bem-sucedidas em seus empregos. Especialistas e celebridades discutiam isso e outros assuntos com notável superficialidade.

Fonte: UOL
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Merval: PSDB errou ao colocar suas fichas no impeachment. E as suas, Merval?


merpichment
No seu comentário, hoje, na rádio CBN, ainda comemorando a miniaturização de Lauro Jardim depois do “quebrei a cara na estreia” de “O Globo errou” sobre Lulinha, Merval Pereira voltou a assumir, com toda a autoridade, o ar de grande estrátego da oposição brasileira.
“O PSDB errou muito ao jogar todas as suas fichas no impeachment, não apenas no impeachment, mas em encontrar um caminho para o impeachment passando por cima de várias etapas…Pressionado pelos movimentos de rua, os jovens deputados do PSDB foram muito afoitos, achando que podiam apressar, não entendendo que com isso estavam dando condições ao governo de denunciar um golpe…”
Apressar, “seo” Merval? Mas quem mais apressadinho que o senhor, que  na véspera da eleição, embalado pela criminosa capa da revista Veja, escrevia que se as delações mostrassem beneficiamento de Dilma e de Lula – algo em que duzentas vezes ele disse ter havido, de lá para cá –  “o impeachment da presidente será inevitável, caso ela seja reeleita no domingo“.
Se alguém jogou todas as fichas no impeachment na mídia, tirando os siderados da Veja – aquela turma que acha comunismo até em videogame – foi o senhor Merval Pereira, que agora joga a toalha, apesar de, olimpicamente, fazer a ressalva de que, na condição de membro honorário do STF, do Senado e da Santíssima Trindade, está “convencido de que há razões para o impeachment”.
Ah, a propósito, Merval desanca Eduardo Cunha, dizendo que ele era um político suspeito desde antes de aparecerem as contas na Suíça. O estimado leitor e a cara leitora devem se lembrar de como o colunista de O Globo combateu Eduardo Cunha, como o denunciou, como protestou contra sua eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, não é?
Não lembram, não? Como vocês são desmemoriados…
O fato objetivo é que Merval fala como porta-voz da “velha guarda” tucana, que está furiosa com o que Merval chama de “cabeças-pretas” do partido, aecistas todos, que transformaram o partido numa sucursal parlamentar do “Revoltados Online” e acena para que usem o documento do PMDB como eixo de articulação da oposição.
O problema, Merval, continua. Com quem negociar com o PMDB sem que se desenhe o golpismo? Com o próprio Cunha? Com Michel Temer que, se assumir uma posição “impixista”  vai se expor à condição de traidor que quer abocanhar o poder presidencial?
O projeto golpista – parte I – ruiu. E está difícil assumir que a fase dois é bloquear a candidatura Lula em 2018. E não é no voto, é na mídia e na manipulação de delações, ações e investigações policiais e judiciais.
Porque as fichas da UDN, a velha e a esta versão 2.0 que temos por aí, não foram nunca os votos, e sua mesa não eram as urnas, onde só teve um rápido e frustrante sucesso, com Jânio Quadros, assim mesmo “de carona”
Fonte: TIJOLAÇO
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"Sociedade está enfeitiçada pela mídia"

Por Eduardo Maretti, na Rede Brasil Atual:
Em debate realizado pelo Fórum 21 na manhã de hoje (12), na série “Seminários para o Avanço Social”, o sociólogo Laymert Garcia dos Santos, da Unicamp, e doutor em Ciências da Informação pela Universidade de Paris VII, afirmou que a realidade atual, com o monopólio da informação pela mídia tradicional, é “desesperadora”. Para ele, a sociedade está “enfeitiçada” pela manipulação. “Só as versões se tornam realidade, ao ponto de as pessoas não saberem mais o que é real e o que não é.”

Segundo Laymert, exemplo esclarecedor a respeito é a operação midiática de transformar a presidenta Dilma Rousseff no objeto de ataques sistemáticos e culpada de tudo o que de ruim acontece ou pode acontecer no país. A operação, lembra, começou na Copa do Mundo de 2014. “Trinta ou quarenta mil pessoas na Avenida Paulista (manifestação da esquerda em 13 de março de 2015) debaixo de chuva não é notícia. Porque para os meios de comunicação é preciso manter no ar a ideia do golpe. É preciso manter no ar permanentemente alguma coisa.”

O sociólogo lembra que o início da deslegitimação de Dilma, na Copa, partiu do camarote do Banco Itaú no estádio, onde estava a colunista Sonia Racy. “Não foi à toa que foi escolhido esse local.” Na ocasião da abertura da Copa, no Itaquerão, em São Paulo, o blogueiro Luiz Carlos Azenha registrou em seu blog: "Uma importante colunista social do Estadão, sentada no camarote do Banco Itaú, gritou a plenos pulmões – aparentemente entusiasmada – 'Ei, Dilma, VTNC'”.

Diante da sistemática ofensiva do oligopólio de comunicação, “não existe mais” cobertura (jornalística), no sentido de processar informações reais. “A mídia é parte ativa na criação de versões e ficções sobre o que acontece. O que é de fato real soçobra.”

Entre os veículos de comunicação que fazem parte da campanha contra o governo petista de Dilma Rousseff, Laymert considera a Folha de S. Paulo o mais sofisticado e eficiente na construção do discurso da negatividade. “A Folha é a mais elaborada, porque eles estão há mais de 30 anos elaborando o discurso do ressentimento. Sempre, em qualquer momento em que há uma positividade, o discurso é negativo. Se a notícia é boa, existe o recurso: ‘mas...’”

A operação que se desenvolveu nos últimos meses para proteger o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que poderia ser o condutor do impeachment desejado pela direita do país, para o sociólogo, é absurda. “Ele (Cunha) está apodrecendo todos os dias e não cai. Como é possível construir essas redes de proteção? Os ladrões estão gritando ‘pega ladrão’ para quem não é ladrão.”

O grande problema, para Laymert, é que “o outro lado não consiga responder”. Segundo a análise, “estamos vivendo um fenômeno complicado para o qual a esquerda não tem respostas”. Ele diz que desde os anos 1980 observa a dificuldade da esquerda em compreender a questão midiática. Um dos principais erros de líderes petistas foi acreditar que, quando o PT chegasse ao poder, haveria uma “troca de sinal” e os meios de comunicação passariam a ser mais benevolentes com os esquerdistas. Mas o que se viu foi o contrário. “Uma vez no poder, a esquerda tem uma atitude ao mesmo tempo de submissão e fascínio pelos meios de comunicação.”
Snowden e Assange

Laymert acredita que nem mesmo setores da mídia de esquerda, como os chamados “blogueiros sujos”, entendem o processo midiático atual. “Os ‘blogueiros sujos’ não entendem, embora estejam mais perto de entender, que a política hoje não é mais a política, mas a tecnopolítica. Quem entendeu isso foram homens como Julian Assange (do Wikileaks) e Edward Snowden”, disse o professor da Unicamp. Ex-funcionário da agência de inteligência americana, a NSA, Snowden tornou público que o governo dos Estados Unidos opera um sistema de vigilância que abrange cidadãos e governos em todos os lugares do mundo que lhe interessem.

“Há uma dimensão totalitária quanto à linguagem e a instrumentalização da linguagem política. Não vejo como a esquerda possa reagir diante dessa ofensiva totalitária da mídia”, diz Laymert. “Snowden e Assange entenderam que o poder está na informação. Mais do que isso, entenderam que, ao contrário do Facebook, que fornece mais do mesmo e satisfaz o narcisismo das pessoas, o que importa é a informação que não se vê, que está oculta. No mundo atual, a informação real é a que não é exposta.”

O último debate da série promovida pelo Fórum 21 será realizado nesta sexta-feira (13), às 9h, na Assembleia Legislativa, com o tema "Impeachment e golpe", com a participação do ex-candidato ao governo de São Paulo pelo Psol, em 2014, Gilberto Maringoni.
Fonte: Blog do Miro
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Além de sofrer duras e consistentes
críticas, Globo vira piada

Reprodução/Twitter

A internet foi à loucura com cena épica de "Os Dez Mandamentos". Nem William Bonner e Renata Vasconcellos foram perdoados

Fonte: IG
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Uma Pérola Idiota Produzida por um
Porta Voz Imbecil da TV da Irrealidade




Para Bial, ex-BBBs vão ao reality por reconhecimento Apresentador diz que programa é escapismo das dores da vida

Fonte: UOL

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A Globo e o PSDB vão ao TSE contra o mar vermelho - é propaganda eleitoral








 11/11/2015 Totonho

Fonte: CONVERSA AFIADA
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COP - 21. Energias Limpas. Um Outro Mundo É possível

Aumento do nível do mar coloca meio bilhão de pessoas em risco
O Rio de Janeiro tem 2,4 milhões em áreas de risco (0,24 por cento da população da grande área urbana) em um cenário de aquecimento global de 4 ° C, número que cai para 1,3 milhão no caso de 2 ° C de aquecimento. Foto: Shutterstock
O Rio de Janeiro tem 2,4 milhões em áreas de risco (0,24 por cento da população da grande área urbana) em um cenário de aquecimento global de 4 ° C, número que cai para 1,3 milhão no caso de 2 ° C de aquecimento. Foto: Shutterstock
O Brasil tem 16 milhões de habitantes em áreas ameaçadas pela elevação do nível do mar causada pelo aquecimento global de 4 ° C. Se conseguirmos reduzir essa média para 2 ° C, o número de pessoas ameaçadas cai para 9 milhões.

Se prosseguirmos com os atuais níveis de emissão de carbono na atmosfera, teremos um aquecimento médio global de 4 ° C que tem potencial para elevar o nível do mar o suficiente para submergir terras que atualmente são o lar de 470 a 760 milhões de pessoas. Essas são as conclusões de um relatório e mapas interativos publicados nesta segunda-feira (9) pela Climate Central, o qual também aponta que a tendência de ascensão não poderá ser interrompida e se desdobrará ao longo dos séculos. O relatório mostra ainda que cortes agressivos nas emissões de carbono, resultando em 2 ° C de aquecimento, poderiam reduzir o número de pessoas atingidas para 130 milhões. A divulgação desse estudo coincide com o encontro de ministros de mais de 80 países em Paris para encontrar mais pontos em comum antes das negociações climáticas globais que ocorrerão em dezembro.

O relatório da Climate Central tem por base um documento focado nos EUA que foi publicado no mês passado Proceedings of the National Academy of Sciences of the U.S.A, de autoria dos cientistas da Climate Central Benjamin Strauss e Scott Kulp, e Anders Levermann do Potsdam Institute for Climate Impact Research. Para avaliar as implicações para todas as nações e cidades costeiras, a nova pesquisa utiliza relações entre o aquecimento causado pelas emissões de carbono, o nível de elevação no mar que essas emissões causam no longo prazo, e dados globais da população.

O relatório aponta que a China é a nação em maior risco, com 145 milhões de pessoas vivendo em áreas ameaçadas pela elevação dos mares se os níveis de emissões não forem reduzidos. Esse é também o país que tem mais a ganhar com a limitação do aquecimento global a 2° C, o que limitaria o número de pessoas afetadas a 64 milhões. Há outras 12 outras nações que têm, cada uma, mais de 10 milhões de pessoas vivendo em áreas de risco. Esse ranking é liderado por Índia, Bangladesh, Vietnã e Indonésia. Alcançar a meta de 2 ° C reduziria a exposição de mais de 10 milhões em cada um destes países, além de beneficiar a maioria dos outros países desse grupo de alto risco, o qual inclui Japão, EUA, Filipinas, Egito e Brasil.

O Brasil tem 16 milhões de habitantes em áreas ameaçadas pela elevação do nível do mar causada pelo aquecimento global de 4 ° C. Se conseguirmos reduzir essa média para 2 ° C, o número de pessoas ameaçadas cai para 9 milhões. O aumento do nível do mar que causará tais ameaças irá provavelmente e desdobrar ao longo de centenas de anos, mas as emissões de carbono responsáveis por isso são as que acontecerem neste século – e que podem levar a um caminho ou outro.

“Os riscos globais das mudanças climáticas são claros quando falamos do aumento do nível do mar”, disse Strauss, PhD, vice-presidente de Impactos Climáticos no Climate Central e principal autor do relatório. “O resultado das negociações climáticas em Paris pode nos levar à perda de inúmeras grandes cidades e monumentos costeiros em todo o mundo, à migração sem fim e à desestabilização, ou pode nos direcionar para uma maior preservação de nossa herança global e para um futuro mais estável “.

Levermann, co-presidente de Research Domain Sustainable Solutions do Instituto Potsdam Institute for Climate Impact Research da Alemanha, acrescentou, “Não há porque temer a elevação do nível dos oceanos porque ela é lenta, mas é algo com o qual temos que nos preocupar porque ela leva à ocupação da terra pelo mar, incluindo as cidades nas quais estamos construindo nossa futura herança.”

Megacidades globais com as 10 maiores populações em risco incluem Xangai, Hong Kong, Calcutá, Mumbai, Daca, Jacarta e Hanoi. O Rio de Janeiro tem 2,4 milhões em áreas de risco (0,24 por cento da população da grande área urbana) em um cenário de aquecimento global de 4 ° C, número que cai para 1,3 milhão no caso de 2 ° C de aquecimento. Projeções medianas da elevação do nível do mar desencadeadas pelo aquecimento global são 9,3 metros para 4 ° C e 4,9 metros para 2 ° C.

Em conjunto com o relatório, a Climate Central criou um mapa global interativo e incorporável chamado Escolhas Climáticas, ou Climate Choices.

Os usuários podem digitar o nome de qualquer cidade costeira ou código postal em todo o mundo e comparar as potenciais consequências de diferentes cenários de aquecimento ou de emissões em uma base local.

Fonte: ENVOLVERDE
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Réchauffement climatique.

Les villes côtières finiront-elles sous l'eau ?

Jeudi, 12 Novembre, 2015
Humanite.fr

 changhai.jpg
La ville de Shanghai pourrait être particulièrement impactée par un
réchauffement planétaire de +4°C.
Photo : AFP

Quelles conséquences dans les prochaines décennies pour les populations qui habitent des villes côtières comme Londres, Melbourne, Washington... si la température du globe augmentait de 2 ou 4 degrés ? Des scientifiques américains de l'institut de recherche Climate Central ont simulé en vidéos l'impact du réchauffement climatique sur le niveau de la mer pour les centaines de millions d'habitants de ces villes.

Shanghai, Bombay, ou Hong Kong: sous l'effet du dérèglement climatique, de grandes villes sont vouées, à long terme, à partiellement disparaître sous les eaux, même si le monde parvient à limiter le réchauffement planétaire à 2°C, soulignent des chercheurs américains de l'institut de recherche Climate dans un rapport publié dimanche 8 novembre.

A + 2°C, le niveau des mers continuera à s'élever, pour couvrir des territoires aujourd'hui peuplés de 280 millions de personnes, pointe l'étude, publiée à trois semaines de la conférence sur le climat de Paris. Mais à +4°C, le phénomène concernerait plus de 600 millions d'habitants. "Un réchauffement de +2°C représente une menace pour l'existence à long terme de nombreuses grandes villes et régions côtières", souligne Ben Strauss, un des auteurs. Mais les mesures prises pour réduire rapidement et drastiquement les émissions de gaz à effet de serre, qui dérèglent le climat et persistent dans l'atmosphère, feront malgré tout une différence: "nous avons encore devant nous un vaste éventail de choix", ajoute le chercheur.

Deux cents ans (ce qui est peu probable) ou 2000, il est difficile d'estimer la vitesse à laquelle la mer va monter, souligne l'étude. En tout cas, si les émissions continuent sur leur lancée, entraînant un réchauffement de +4°C, le niveau des océans gagnera 8,9 m (chiffre médian), avance le rapport. Avec un réchauffement à +3°C, qui est la trajectoire tracée par les promesses actuelles des Etats pour freiner les émissions, les mers monteraient de 6,4 m, couvrant des zones de plus de 400 millions d'habitants aujourd'hui. A +2°C, la mer gagne 4,7 m (3 à 6,3 m), et on passe à environ deux fois moins de personnes affectées. A +1,5°C maximum, objectif réclamé par les pays les plus vulnérables comme les petits Etats insulaires, l'élévation reste à 2,9 m et encore moitié moins de population concernée (137 millions).

L'Asie en première ligne

En terme de population, la Chine serait en première ligne: à +4°C, la montée des eaux concernerait un territoire aujourd'hui peuplé de 145 millions de personnes, un chiffre divisé par deux à +2°C, selon cette étude, qui ne tient compte ni de l'évolution démographique ni de la construction d'infrastructures comme des digues.

Parmi les autres pays particulièrement affectés: Inde, Bangladesh, Vietnam, Indonésie, Japon, Etats-Unis, Philippines, Egypte, Brésil, Thaïlande, Birmanie, Pays-Bas... Parmi les villes principales, Hong Kong, Calcutta, Dacca, Jakarta, Shanghai, Bombay, Hanoi, Rio, Buenos Aires, New York ou Tokyo.

Un premier diagnostic sur les Etats-Unis, paru en octobre dans les Comptes-rendus de la revue Académie américaine des sciences, promettait l'engloutissement de Miami et la Nouvelle-Orléans. Les projections prennent en compte la dilatation de l'océan quand il se réchauffe, la fonte des glaciers mais aussi la dégradation des calottes du Groenland et de l'Antarctique, irréversible au-delà d'un certain seuil. D'une région à l'autre, cette élévation ne sera pas égale : «Dans la plupart des cas, elle peut se traduire en centimètres par siècle, mais les deltas et les zones urbaines» sont plus vulnérables, notamment parce qu'ils sont moins protégés par les sédiments. L'étude se base notamment sur des données satellitaires sur les niveaux océaniques.

Fonte: L'HUMANITÉ
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COP-21. Uma Nova Economia. Um Outro Mundo É Possível

A conferência do clima em Paris

Por Frei Betto, no site da Adital:

Representantes de 95 países estarão reunidos em Paris, do próximo 30 de novembro a 11 de dezembro, na COP-21 (21ª Conferência do Clima). O objetivo é chegar a um acordo para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e o aquecimento global, e limitar o aumento da temperatura da Terra em 2ºC até 2100.

Caso não se estabeleçam regras rigorosas para o controle climático do nosso planeta, aumentarão ainda mais as secas, as inundações e o nível de água nos mares. Devido ao aquecimento global, as calotas polares derretem a um ritmo alarmante.

Nossos povos originários, os indígenas, há milênios desenvolveram a cultura do Bem Viver, de sintonia entre a natureza e o ser humano. Na Terra Mãe reside a nossa origem e evolução, e dela provêm todos os recursos indispensáveis à vida. No entanto, nossa cultura utilitarista, centrada no lucro, comete o grave erro de ignorar a sabedoria indígena quanto ao equilíbrio e à harmonia ambientais.

As bases reais para um efetivo acordo climático em Paris estão contidas na primeira encíclica do papa Francisco, Louvado Sejas – sobre o cuidado da casa comum. Até hoje não se produziu nenhum documento tão contundente sobre a questão socioambiental. Não é um texto somente para católicos, é um alerta à humanidade.

Paris será um engodo, como tantas conferências anteriores, se não apontar, como faz Francisco, as causas estruturais do desequilíbrio ambiental, seus responsáveis e as soluções adequadas. Não haverá avanço se os países desenvolvidos insistirem em utópicas medidas tecnológicas e persistirem na visão, que deriva de uma interpretação equivocada da Bíblia, de que o ser humano é chamado a dominar a natureza, quando, de fato, é parte integrante dela.

O desafio é desenvolver uma cultura universal de preservação da vida, denunciando as empresas transnacionais que, em busca de lucros, põem em risco a saúde das florestas, das águas e dos alimentos, proliferando enfermidades e a morte dos seres vivos.

Na 2ª Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática e a Defesa da Vida, realizada na Bolívia em outubro deste ano, e que reuniu representantes de 54 países, propôs-se ao secretário-geral da ONU, ali presente, criar um Tribunal Internacional de Justiça Climática e da Vida e formular uma Declaração Universal dos Direitos da Terra, assim como em 1949 se aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Uma das causas de guerras e genocídios é a ambiciosa apropriação de recursos naturais de uma região por outra, como ocorreu na exploração da América Latina por Portugal e Espanha; no colonialismo implantado pelos europeus na África e na Ásia; e, agora, no belicismo ianque pelo controle das fontes de energia, em especial petróleo e água.

Os países ricos têm proposto soluções enganosas para o equilíbrio climático, que mais favorecem as multinacionais que os direitos da Terra. A mercantilização da vida, que leva à perda de valor ancestral de sua ontológica sacralidade, faz com que os interesses do mercado se sobreponham aos direitos dos seres vivos.

Isso hoje acontece no Brasil ao se pretender retirar do Executivo a responsabilidade de demarcação das terras indígenas para passar às mãos do Congresso Nacional, onde se multiplicam representantes do latifúndio, de madeireiras e mineradoras, que promovem devastação ambiental e mantêm o trabalho escravo.

Foram esses responsáveis pelo ecocídio que obtiveram do STF a vergonhosa decisão de não se denunciar a público os nomes das empresas flagradas no crime de exploração de mão de obra escrava. Como nossa mais alta corte pode acobertar tão hediondo crime?
Fonte: Blog do Miro
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Uma economia de baixo carbono pode promover a justiça social

economia de baixo carbono
Por Sharan Burrow, secretária-Geral da Confederação Sindical Internacional – CSI  (International Trade Union Confederation – ITUC)

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Seis meses antes da reunião de cúpula sobre mudanças climáticas que a ONU organiza para Paris, deve estar claro para os chefes de estado que a transição para uma economia de baixo carbono pode criar um modelo melhor, mais sustentável e que pode reavivar o crescimento global e desenvolver um futuro mais justo e mais limpo. Esta transição pode, também, evitar os custos associados ao atual modelo baseado em combustíveis fósseis como os da poluição do ar, dos congestionamentos, da degradação de terras agrícolas produtivas e da deterioração da infraestrutura, custos que, no mais das vezes, afetam principalmente os mais pobres.
O movimento sindical pode contribuir muito com essa transição.
Os nossos membros vão ajudar a construir um futuro de baixo carbono e têm o direito de serem ouvidos. Seus empregos dependerão de uma mudança ordenada para as tecnologias mais verdes, seus fundos de pensão fornecerão a maior parte do financiamento necessário e suas comunidades e meios de subsistência dependerão de que desastres climáticos sejam evitados.
Uma transição para o baixo carbono pode criar um melhor modelo econômico de três maneiras.
Em primeiro lugar, ela pode ajudar o mundo a sair totalmente da crise financeira global pelo aumento da produtividade, do crescimento econômico e, também, pela criação de empregos mais gratificantes.
O relatório Nova Economia Climática, publicado no ano passado, estima que o mundo vai investir US$ 90 trilhões em infraestrutura até 2030. Construir esta infraestrutura em um modelo de baixo carbono implicaria tão somente um gasto adicional de 5%, o que seria amplamente compensado pela economia de despesas operacionais resultantes da menor queima de combustíveis fósseis.
O investimento em infraestrutura de baixo carbono e em inovação tecnológica colherá avanços na produtividade e impulsionará o crescimento econômico. Concentrando-se em melhorias na eficiência e em redução de emissões de carbono, por meios tais como a ampliação do transporte de massa e a construção de cidades mais compactas, este investimento também alcançará outros benefícios como reduções no custo do transporte e um ar mais limpo para os todos os cidadãos, principalmente para os mais pobres.
Em segundo lugar, a transição para o baixo carbono reduzirá as emissões de gases de efeito estufa e, assim, minimizará as mudanças climáticas e a ameaça que estas representam para as gerações atuais e futuras, incluindo eventos extremos como inundações, tempestades e secas, como a que atingiu os 20 milhões de habitantes de São Paulo nestes últimos anos. Ela também reduzirá a poluição do ar produzida pela queima dos combustíveis fósseis que já provoca quase 4 milhões de mortes prematuras em todo o mundo a cada ano.
Os impactos das mudanças climáticas já estão prejudicando os trabalhadores e as consequências só crescerão com o tempo. Os governos devem trabalhar para atingir economias de emissão líquida nula de carbono na segunda metade deste século.
E em terceiro lugar, uma economia de baixo carbono pode promover a justiça social.
Para que tenhamos uma transição justa, será necessário apoiar os trabalhadores de setores complexos já estabelecidos, como os das indústrias de combustíveis fósseis, de serviços de transporte e outros, e as pessoas mais pobres e vulneráveis ​​que, talvez, venham a enfrentar contas de energia mais elevadas no curto prazo. Os governos precisam trabalhar em estreita consulta com trabalhadores e empregadores para gerir esta transição de forma eficiente e humanizada, em vez de ignorar ou resistir até que seja tarde demais para que uma crise potencial seja gerenciada.
E, como mencionado acima, tal transição tem potencial para aumentar o nível de emprego, incluindo os mais pobres. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) constatou que a maioria dos estudos mostra que as políticas públicas climáticas têm efeitos líquidos positivos sobre o emprego.
A transição para o baixo carbono também deve ser um modelo para a justiça entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, reconhecendo que os países desenvolvidos têm uma responsabilidade especial e, muitas vezes, maior capacidade de lidar com as mudanças climáticas do que os países em desenvolvimento. Mas todos devem desempenhar o seu papel.
Tanto a crise financeira quanto as mudanças climáticas têm uma raiz semelhante: a caça a lucros mais elevados e mais rápidos, independentemente das consequências sociais.
As respostas a estas crises gêmeas têm também muito em comum.
A resposta coordenada para evitar uma crise financeira global em 2008 ilustrou como a cooperação internacional é mais importante do que nunca em um mundo cada vez mais complexo. Da mesma forma, os países podem responder à mudança climática através da cooperação, tanto na cúpula do clima global que se realizará em Paris no final deste ano, quanto além. Uma melhor cooperação internacional multi-stakeholder pode entregar um melhor crescimento e um clima melhor, como será explicado no próximo grande relatório sobre a Nova Economia do Clima a ser lançado em julho.
O processo de Paris exige a todos os países que apresentem as suas promessas para a ação climática bem antes da Cúpula de Paris. Alguns já o fizeram, entre eles a União Europeia, os EUA e o México. Estamos ainda à espera de que os outros, como o Brasil por exemplo, façam sua parte. Estas promessas precisam ser tão ambiciosas quanto possível. Mas elas ainda devem ser consideradas um piso, não um teto, para a futura ação nacional.
Os governos não podem mais usar seus eleitores como uma razão para a inação. Uma pesquisa global da ITUC descobriu qud 93% por cento dos eleitores brasileiros querem que o governo faça mais para limitar a poluição que causa a mudança climática. Um acordo climático forte enviará um sinal claro a investidores e inovadores sobre a direção futura da economia. O acordo vai preparar o caminho para novos futuros empregos, aumentar o investimento, e evitar catástrofes climáticas em nossas comunidades. Ele deve comprometer os países a ciclos de ação climática cada vez mais ambiciosa, dentro do objetivo de longo prazo de eliminação progressiva, mas completa, das emissões de gases de efeito de estufa.
A reunião de cúpula desta semana entre os líderes da União Europeia, da América Latina e do Caribe (ALC) será um teste precoce da vontade dos governos de forjar um caminho novo de baixo carbono. Na última Cúpula do Chile, em 2013, estes países prometeram promover o investimento de baixo carbono e o crescimento econômico, incluindo o apoio à energia renovável, à eficiência energética e a transportes sustentáveis. Manter este ritmo é crítico.
A mudança climática é a maior ameaça de longo prazo que enfrentamos, que impactará direitos humanos básicos como o do acesso a alimentos, água, saneamento e abrigo.
A transição para uma economia de baixo carbono pode conduzir o mundo em direção a um futuro mais justo, mais seguro, próspero e sustentável. 2015 é o ano para que os governos escolham um caminho para um futuro sem carbono. Esta é uma questão pela qual vale a pena lutar. Não há empregos em um planeta morto.

Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
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Clima enviaria cem milhões à pobreza


Em 2030 poderá haver cem milhões de pessoas a mais vivendo na pobreza, se não forem tomadas medidas para enfrentar os impactos da mudança climática, alerta o Banco Mundial. Foto: Neeta Lal/IPS

Por Thalif Deen, da IPS –

Nações Unidas, 11/11/2015 – Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), aprovados por mais de 160 governantes de todo o mundo em setembro, são uma parte integral da Agenda de Desenvolvimento Pós-2015 da Organização das Nações Unidas (ONU), e incluem a erradicação da fome e da pobreza até 2030.

Entretanto, as consequências devastadoras da mudança climática nas pessoas mais pobres do mundo poderiam frustrar esses ambiciosos projetos, alerta o Banco Mundial em um novo estudo apresentado no dia 9.

“E, sem um rápido desenvolvimento, inclusivo e inteligente em relação ao clima, junto com medidas de redução das emissões de gases-estufa que protejam os pobres, poderá haver mais de cem milhões de pessoas adicionais vivendo na pobreza até 2030”, alerta o documento Grandes Cataclismos: Como Abordar os Efeitos da Mudança Climática na Pobreza.

Divulgado antes da 21ª Conferência das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (CMNUCC), que acontecerá em Paris entre 30 deste mês e 11 de dezembro, o informe conclui que a população pobre já corre um alto risco de sofrer impactos relacionados com o clima. Entre eles, a perda de colheitas pela diminuição das chuvas, aumento repentino no preço dos alimentos após eventos climáticos extremos, maior incidência de doenças depois de ondas de calor e inundações.

O Banco Mundial alerta que essas consequências poderiam acabar com avanços obtidos com grande esforço, dando lugar a perdas irreversíveis e levando novamente pessoas à pobreza, especialmente na África e Ásia meridional. Segundo o estudo, as pessoas mais pobres estão mais expostas do que a média da população aos eventos climáticos extremos, com inundações, secas e ondas de calor, e perdem muito mais de seu patrimônio quando esses eventos acontecem.

Nos 52 países sobre os quais há dados, 85% da população vive em lugares onde os habitantes pobres estão mais expostos à seca do que a média da sociedade. Também estão mais expostos a temperaturas mais altas e vivem em países onde se prevê que a produção de alimentos vai diminuir devido à mudança climática, afirma o Banco Mundial.

“Este informe expressa claramente que será impossível acabar com a pobreza se não adotarmos medidas firmes para reduzir a ameaça da mudança climática e diminuirmos radicalmente as emissões nocivas”, afirmou o presidente do Grupo do Banco Mundial, Jim Yong Kim. “Os pobres são os mais afetados pela mudança climática, e nosso desafio neste momento é proteger dezenas de milhões de pessoas para evitar que caiam na pobreza extrema em razão da mudança climática”, acrescentou.

Harjeet Singh, gerente de política climática da organização ActionAid, disse à IPS que a análise realizada pelo Banco Mundial sobre a vulnerabilidade dos pobres diante dos impactos climáticos não é nova, mas destaca com razão que a pobreza não pode ser abordada sem que se enfrente a mudança climática. Recordou que as pessoas e os países pobres são os mais vulneráveis à mudança climática, já que têm recursos e conhecimentos limitados para superar suas consequências.

Mas, segundo o ativista, “o Banco Mundial chega tarde ao jogo com seu discurso de melhorar a proteção social para combater os efeitos da mudança climática”. Na realidade, a instituição tem um longo e duvidoso histórico de obrigar os países em desenvolvimento a reduzirem o gasto público destinado a oferecer serviços básicos e dar proteção social às populações economicamente mais débeis, destacou Singh, afirmando que o Banco Mundial “terá que abordar isso antes de poder praticar de forma confiável o que diz o informe”.

Louise Whiting, analista da organização britânica WaterAid, disse à IPS que os mais pobres correm maior perigo diante da mudança climática e recebem menor quantidade de fundos destinados a ajudá-los a se adaptarem aos eventos climáticos extremos. “Nossa investigação indica que, somente em Bangladesh, cerca de 38 milhões de vidas estão em risco até 2050 devido aos desastres derivados da mudança climática. O caminho climático em que nos encontramos significa acabar com o desenvolvimento e o fim de todo avanço em relação à pobreza extrema”, acrescentou.

Segundo Whiting, para as famílias que vivem na pobreza extrema e têm um acesso frágil à água potável, ao bom saneamento e à higiene, essas temporadas áridas cada vez mais longas e monções cada vez mais intensas acabarão com anos de trabalho e firmarão ainda mais o ciclo da pobreza. “Assegurar os serviços básicos, incluída a água potável, o saneamento e a higiene, ajuda as comunidades a se recuperarem mais rapidamente e se tornarem mais resistentes aos extremos climáticos”.

Para o analista da WaterAid, os governos nacionais dos países em desenvolvimento precisam de mais apoio no desenho e na execução de projetos para ajudar a erradicar a pobreza e, ao mesmo tempo, gerar a resiliência das comunidades à mudança climática. Os governantes que participarão da COP 21 em Paris no final deste mês não devem esquecer a população mais pobre do mundo, ressaltou Whiting. Envolverde/IPS

Fonte: ENVOLVERDE
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segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Povo Sem Medo. Velha Mídia Com Medo

Frente Povo sem Medo reúne 60 mil em protesto na Avenida Paulista contra Cunha e ajuste fiscal. Jornais dão 600!

publicado em 08 de novembro de 2015 às 20:57
Cunha - protesto 1Cunha protesto - Jornalistas Livres  Cunha protesto 3 Jornalistas Livres Cunha protesto 5 - Roberto Parizott 5
Antes do início de caminhada, as duas faixas da Avenida Paulista, diante do Masp, foram tomadas por manifestantes que, depois, seguiram até o Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Fotos: Jornalistas Livres. Organizadores estimaram em 60 mil os presentes ao ato que terminou no Monumento às Bandeiras; jornais falam em 600. Foto: Roberto Parizotti/CUT

SEM RETROCESSO
Frente Povo sem Medo faz manifestações contra Cunha e o ajuste
Alvo dos protesto é o presidente da Câmara. “Ele sozinho não teria força, mas ele representa o ataque a toda perspectiva civilizatória, aos direitos das mulheres e dos trabalhadores”, diz sindicalista
por Redação RBA publicado 08/11/2015 17:25, última modificação 08/11/2015 19:16

São Paulo – Diversas manifestações organizadas pela Frente Povo Sem Medo ocorreram neste domingo (8) em várias cidades do país. A frente reúne cerca de 30 organizações sociais e populares. Os manifestantes criticam o ajuste fiscal, falam em “fora Levy” e prometem reação caso programas sociais como o Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida sofram ameaças de cortes durante a definição do orçamento para 2016.
As entidades argumentam que as conquistas sociais e os direitos alcançados nos últimos não podem retroceder e que o caminho para que o país enfrente a crise econômica é o estímulo ao crescimento. Os movimentos críticos à política econômica, rechaçam, porém as tentativas de golpe para interromper o mandato da presidenta Dilma Rousseff. “Contra a direita e por mais direitos” é um dos motes da frente.
O presidente da CUT, Vagner Freitas, valorizou a criação da frente: “A Frente Povo Sem Medo é da CUT também. Estamos juntos do povo sem medo de lutar. Somos contra essa política econômica e queremos que Dilma governe para quem votou nela. Fora, Levy. Queremos uma política econômica desenvolvimentista”, discursou.
Cunha protesto 2  Roberto Parizotti - CUT
Vagner Freitas, da CUT: queremos que Dilma governe para quem votou nela. Foto: Roberto Parizotti/CUT

O principal alvo dos protestos, entretanto, é o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com fortes evidências de ter praticado sonegação fiscal e evasão de divisas para contas na Suíça. Um dos “campeões” de votos no Rio de Janeiro, Cunha é tido com grande arrecadador de recursos empresariais para campanhas eleitorais – prática tida pela entidades como origem da corrupção política brasileira. Faixas e cartazes associando o deputado a corrupção e a projetos que representam retrocessos para direitos individuais e sociais – como o mais recente, que dificulta a assistência a mulheres vítimas de estupro – dominam os atos que pipocam pelo país afora.
Pela manhã, o protesto ocorreu em Brasília, com caminhada pela Esplanada dos Ministérios. Em Uberlândia e Belo Horizonte, manifestantes lembraram, além de Cunha, da tragédia de Mariana. Alguns criticavam o governo de Fernando Pimentel (PT) por omissão. No Rio de Janeiro, dezenas de pessoas marcaram presença diante do condomínio onde mora Eduardo Cunha. Em São Paulo, o público se concentrou em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista, e caminhou em direção ao Parque do Ibirapuera.
“Eduardo Cunha é um bandido engravatado. Nossos companheiros vão ficar acampados em Brasília até que ele caia. É uma vergonha o Cunha ainda não estar preso”, disse o líder do MTST Guilherme Boulos.
Eduardo Cunha é a principal motivação dos protestos, segundo a professora e secretária de Mobilização e Relação com Movimentos Sociais da CUT, Janeslei Aparecida Albuquerque, pelo que a liderança do parlamentar representa de negativo para a política nacional. “O mote central é o ‘fora Cunha’ pelo que ele representa de escárnio à sociedade brasileira. O ataque a toda perspectiva civilizatória, ao direito das mulheres e ao direito do trabalhador”, diz.
Janeslei ressalta que o poder que Cunha representa hoje é maior do que o próprio parlamentar. “Ele sozinho não teria força, mas ele representa um grupo de deputados e grupos econômicos que têm propostas como redução da maioridade penal, revisão do Estatuto do Desarmamento. Estão propondo que a prática da violência seja legitimada e que as pessoas que são vítimas de violência, como as mulheres que são estupradas, sejam tratadas com suspeição, e que as crianças têm que ir para a cadeia, que políticas para a infância se resumem à prisão.”
Entre as entidades representadas na manifestação estão Juventude, Socialismo e Liberdade (Jsol), Rede Emancipa, Esquerda Marxista, MTST, UNE, UBES, CTB, União Brasileira de Mulheres, Unegro, Fora do Eixo, Movimento de Vilas, Bairros e Favelas (MLB), Intersindical, CUT, Juntos!, Círculo Palmarino, Brigadas Populares, Bloco de Resistência Socialista.

Fonte: VIOMUNDO
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De 600 para 60 000 a diferença é muito grande.

Uma diferença que revela a distância da velha mídia em relação a realidade dos fatos.

Talvez, e é bem provável, o número de manifestantes tenha sido inferior a 60 mil , mas daí dividir por 100 o número apresentado pelos manifestantes parece um pouco, ou muito, exagero.

Como a manifestação não tem a simpatia da velha mídia , logo não tem cobertura em tempo real e também o ato é minimizado.

De fato, apesar de uma imprensa que afunda cada dia mais na irrelevância de suas notícias, a relevância fica por conta do manifestação da Frente Povo Sem Medo, não apenas em São Paulo, como em todo o Brasil.

Significa que cada vez mais o povo, de fato e diverso, vem virando a chave das iniciativas golpistas que reuniram milhares de pessoas  nas ruas de São Paulo. 

Pessoas , em sua maioria , de uma classe média e rica, alienada e  fascista, que atendeu o chamado da velha mídia em protestos contra a corrupção, mas que  não se mostra indignada com os crimes de corrupção cometidos pelo presidente do Congresso Nacional, o anacrônico Eduardo Cunha.

Não estranha que a parcela da polução elitista que atendeu o chamado da velha mídia seja seletiva no tratamento de delitos, uma vez que afloram, em grande número, casos  de corrupção e malfeitos com o dinheiro público praticados pelos políticos oposicionistas que sempre estiveram apoiando protestos contra o governo.

O último caso, ou melhor, o caso mais recente já que certamente outros virão, é o caso do candidato derrotado  Aécio Neves e sua farra de caronas em aeronaves do governo das Minas Gerais para funcionários da Rede Globo. 

A mesma Rede Globo que se mostra tão indignada com a corrupção.

sábado, 7 de novembro de 2015

Terroristas e desacreditados

Mídia: conflito sírio destrói reputação dos EUA

Presidente dos EUA, Barack Obama

© AP Photo/ Susan Walsh

Os Estados Unidos devem deixar de lado as tentativas de intervir no Oriente Médio enquanto ainda não ficaram completamente desacreditados. É o que diz a publicação de revista britânica ‘The Week’.

Segundo a edição, ao enviar Forças Especiais para a Síria para treinar insurgentes, Obama cada vez mais envolve seu país em um conflito no qual os aliados dos EUA, os combatentes da assim chamada "oposição moderada", não têm nenhuma chance. Todas as tentativas anteriores de treinar militares estrangeiros não tiveram sucesso porque as tropas regulares foram derrotadas e desertadas.
O presidente norte-americano, no entanto, afirma a revista ainda acredita que na situação do Oriente Médio a última palavra deve permanecer sendo do governo dos EUA. Na tentativa de defender esse erro, Obama está disposto a discutir com Moscou, apesar do fato de que o aliado russo, o presidente Bashar Assad, poderia sair vitorioso da guerra civil.
A publicação da ‘The Week’ ressalta também que essa operação, de acordo com todas as evidências, não possui nenhum alvo específico – os americanos são enviados não para dar fim à guerra, mas para “reforçar os esforços diplomáticos”. No entanto, de acordo com o artigo, isso não se relaciona com o risco que o governo assume, colocando no mapa a vidas de pessoas, a honra e a dignidade do país.
“Washington não conseguirá resolver a crise síria com o seu desejo de atrapalhar as operações russas, mas irá agravar e estender o conflito”, conclui a revista. 
Desde 30 de setembro, a pedido do presidente sírio, Bashar Assad, a Rússia realiza ataques aéreos contra posições do "Estado islâmico" na Síria. Durante este período, as forças aeroespaciais lançaram quase 690 ataques, matando centenas de militantes, destruindo dezenas de centros de controle, armazéns e outras instalações terroristas. Além disso, 26 mísseis de cruzeiro foram disparados de navios da Frota do Mar Cáspio.
A coalizão internacional liderada pelos EUA realiza ataques contra o Estado Islâmico desde setembro de 2014.

Fonte: DIÁRIO DA RÚSSIA
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Democratizar o dinheiro

Uma alternativa radical contra a crise
 
151104-Che2
Novos estudos sugerem: ao invés de convocar as populações a sacrifícios, Estados deveriam imprimir e distribuir dinheiro – recuperando um papel usurpado pelos bancos

O que começou, em 2009, como uma extravagância europeia espalhou-se nos últimos anos pelo mundo. Em resposta à crise financeira, um número crescente de governos passou a adotar políticas de “austeridade”, ou “ajuste fiscal”. No Velho Continente, a pretexto de “reduzir o déficit público”, desmantela-se o Estado de bem-estar social. No Brasil, a presidente Dilma Roussef realiza, dias depois de eleita, o que o economista Paul Singer classificou como “um giro de 180 graus, sem explicar nada”, “uma política que só os banqueiros apoiam”. Sintomaticamente, o tema nunca vai a debate: a quase totalidade dos políticos, mídia e “especialistas” asseguram que “não há alternativas”. Será verdade?
Em contraponto a esta nova manifestação do “pensamento único” tem crescido, nas últimas semanas, uma crítica radical. Ela parte de uma constatação facilmente demonstrável. Em todos os casos, as políticas de “austeridade” ampliam abruptamente as desigualdades. Ou seja, não são neutras: impõem sacrifícios à maioria, mas ampliam os privilégios e o poder de uma reduzida aristocracia financeira.
Ao buscar os mecanismos que produzem tal efeito, a crítica encontra algo inusitado. As políticas econômicas adotadas nas últimas quatro décadas permitiram que os bancos capturassem, dos Estados, uma condição essencial: a de principais emissores de moeda. É este setor, portanto (em especial 28 mega-instituições globais, chamadas pelo G-20 de “sistêmicas”), que impõe o ambiente “sem saídas” em que mergulhamos. No entanto – e talvez aqui esteja o aspecto mais brilhante e libertador da nova crítica – o beco sem saída é apenas aparente. As sociedades e os Estados não perderam as condições e os instrumentos necessários para recuperar o poder usurpado pelos bancos. Basta ter vontade política e sabedoria para agir.
Por que e como a emissão de dinheiro foi privatizada? François Morin, professor emérito da Universidade de Toulouse, ex-membro do conselho do banco central francês e um dos expoentes da nova crítica explica, numa entrevista recente ao jornal francês Libération. A longa onda de liberalização financeira que varreu o mundo a partir dos anos 1970 criou instituições financeiras com poder de atuação global, e capacidade de concentrar dinheiro muito superior à dos Estados. O balanço dos 28 bancos “sistêmicos” soma 50,34 trilhões de dólares – algo como três vezes o PIB dos Estados Unidos. Para efeito de comparação, considere: são doze vezes o volume total de dólares em circulação no mundo…
Mas o poder do oligopólio bancário, prossegue Morin, não para aí. São os bancos (e não os Estados) que controlam os mercados financeiros – câmbio, bônus de dívidas, derivativos por onde circulam papéis e obrigações que podem ser facilmente convertidos em moeda. Estes mercados movimentam 710 trilhões de dólares por ano, um pouco mais de dez vezes o PIB mundial. É com números assim que devem ser comparadas cifras como o chamado “déficit primário” que o Brasil registrará, calcula-se, em 2015. São 51,8 bilhões de reais (US$ 21,6 bi). Foram chamados de “rombo” pela velha mídia. Porém, equivalem a míseros 0,003% do que movimenta a ciranda global de produtos financeiros. Esta desproporção abissal dá uma ideia sobre o poder que a oligarquia financeira tem, diante dos Estados…

Mefistófeles: na visão ortodoxa,
Na visão do mercado financeiro, imprimir dinheiro para o povo é obra de Mefistófoles.
 
O raciocínio de François Morin é complementado por outro economista veterano — Adair Turner, ex-presidente da Autoridade de Serviços Financeiros da Grã-Bretanha, hoje à frente do Instituto para um Novo Pensamento Econômico, um thinktank com base em Nova York. Em entrevista à jornalista Lynn Parramore, editora contribuinte da revista digital norte-americana Alternet, Turner lembra que o imenso volume de dinheiro nas mãos de um punhado de bancos é responsável, por exemplo, pela especulação imobiliária que atinge grandes cidades em todo o mundo. Faltam aplicações para tanto capital, argumenta ele: apenas uma parte pode ser empregada na expansão da atividade produtiva. Uma fração maior, gigantesca, acaba financiando operações com imóveis. Como o poder de compra da oligarquia é descomunal, ela tem condições de inflacionar os preços e expulsar rapidamente, das áreas que cobiça, a população comum.
Mas a contribuição mais original de Turner é sua visão sobre como enfrentar o agigantamento da esfera financeira – causa da crise que serve de pretexto para “austeridade” e “ajustes ficais”. Os Estados precisam agir de duas maneiras, diz ele. Primeiro, reintroduzindo os controles sobre os mercados financeiros. Entre eles estão os depósitos compulsórios que drenavam, entre o pós-guerra e o início do período neoliberal, o dinheiro disponível e o poder dos bancos.
Segundo, e mais inspirador, imprimindo e distribuindo dinheiro ao público! Turner frisa que se trata de um antigo tabu a ser rompido. Já no Fausto, de Goethe, este tipo de ação do Estado era o que Mefistófeles recomendava ao Imperador, em tentação. Em tempos mais recentes, imprimir dinheiro é visto, pela pensamento econômico ortodoxo, como caminho certo para provocar hiperinflação.
Por meio de uma série erudita de exemplos históricos, Turner desconstroi este preconceito. Ele demonstra que, assim como há episódios em que os Estados criaram moeda ativamente, e provocaram hiperinflação (na Alemanha da República de Weiner, ou no Zimbabwe do final da década de 2010), há inúmeros outros em que este efeito não se produziu.
O caso de sucesso mais eloquente – porque mais conhecido – é o do pós-II Guerra Mundial, nos EUA, Europa e Japão. O esforço bélico havia feito disparar a dívida de todos estes países (veja gráfico abaixo), em alguns casos para até 250% do PIB. Mas as políticas econômicas adotadas após o conflito priorizaram, invariavelmente, o aumento do gasto estatal – inclusive para financiar o Estado de Bem-estar Social. Em nenhum caso houve hiperinflação. Pelo contrário: os índices de inflação moderados com os quais as sociedades conviveram ajudaram a desvalorizar a dívida contraída durante a guerra.
A prova dos nove. EUA, Europa e Japão ampliaram firmemente gasto público no pós-guerra -- e achataram a dívida do Estado
A prova dos nove. EUA, Europa e Japão ampliaram firmemente gasto público no pós-guerra — e achataram a dívida do Estado
 
Num terceiro texto, surpreendente e mordaz, a advogada, escritora e ativista norte-americana Ellen Brown aplica outra pancada na ideia segundo a qual os Estados produzem hiperinflação, quando criam moeda. Ellen, criadora do Public Banking Institute, recorre à história do pensamento econômico. Como se sabe, Keynes notabilizou-se por propor, nos anos 1930, que os governos movimentassem suas economias ampliando o suprimento de moeda. Numa imagem sugestiva e irônica, ele argumentou que seria útil imprimir dinheiro e enterrá-lo em minas de carvão, autorizando os desempregados a resgatá-lo. Ao seguirem sua receita (ainda que sem os exageros retóricos…), os países ocidentais foram capazes de se livrar da depressão pós-1929 e, mais tarde, de viver as três décadas de prosperidade que se seguiram à II Guerra.
Mas a refinada Ellen não se limita a este exemplo. Ela recorre também a Milton Friedman, arqui-inimigo teórico de Keynes e um dos inspiradores do neoliberalismo. Ele defendeu, em 1969, que, em alguns casos, a redução da oferta de dinheiro era a causa de crises. E defendeu, nestes casos, uma saída curiosa: “despejar dinheiro de helicópteros”…1
Paradoxo final: de certa forma, a ideia de imprimir dinheiro passou a ser empregada, desde 2009, pelo banco central dos EUA (Federal Reserve, ou FED); e, alguns anos mais tarde, também pelo Banco Central Europeu (BCE). Porém, com sentido e resultados invertidos… Não se tratou de criar moeda e distribuí-la socialmente, visando contrabalançar o poder da oligarquia financeira; mas, ao contrário, de imprimir dinheiro para os mais super-ricos.
151104-Helicóptero
Keynes defendia imprimir moeda e oferecê-la aos desempregados. Apesar de ultra-liberal, Milton Friedman sugeriu, em certos casos, “despejar dinheiro de helicóptero”
 
Por meio de iniciativas conhecidas pelo nome hermético de quantitative easing [“flexibilização quantitativa”], FED e BCE emitiram, nos últimos cinco anos, respectivamente US$ 4,5 trilhões e € 1,1 trilhão. O dinheiro não foi nem oferecido aos desempregados, nem despejado de helicópteros, mas usado para recomprar títulos públicos – ou seja, dirigido exatamente à elite global que cada vez se diferencia mais do restante da sociedade. Na Europa, chega-se a praticar simultaneamente o quantitative easing e a “austeridade”. Ou seja, suga-se dinheiro dos programas sociais para distribuir ao 1% mais rico…
Foi diante desta distorção surreal que o atual líder do Partido Trabalhista britânico, Jeremy Corbin, passou a defender, em julho último, a reversão completa da iniciativa, de modo a convertê-la num quantitative easing for the people. “Defendo um reequilíbrio, que implica tirar recursos das finanças para os setores sustentáveis da economia do futuro”, disse ele. E acrescentou: “Uma das opções seria dar ao Banco da Inglaterra um novo mandato – o de renovar nossa economia para investir em habitação de larga escala, energia, transporte e projetos digitais. Em suma, quantative easing para as pessoas, ao invés de para os bancos.
A proposta tornou-se um dos pontos centrais de campanha de Corbin à liderança trabalhista. Ao final, ele obteve vitória inesperada e arrasadora, mesmo enfrentando uma máquina partidária poderosa e hostil. O desfecho revela: em nossa época contraditória, defender que os Estados imprimam dinheiro e distribuam entre as sociedades pode ser mais que uma forma de enfrentar os “ajustes fiscais” e desfazer mitos econômicos. É um caminho para enfrentar os ventos conservadores e restaurar a política como meio de inventar o futuro coletivo.
1Milton Friedman, Optimum Quantity of Money. Aldine Publishing Company. 1969. p. 4.

Fonte: OUTRAS PALAVRAS

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