sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

A era da barbárie

Os antecedentes da tormenta no 'Charlie Hebdo': 
Europa tem hoje 8 milhões de imigrantes sem papeis; 120 milhões de pobres e 27 milhões de desempregados. 
Após seis anos de arrocho neoliberal, a rejeição ao outro criou o medo da 'islamização', alimentou a extrema direta e liberou a demência terrorista.

Fonte: CARTA MAIOR
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A saúde, a saúva e a virtude

Por Saul Leblon, no site Carta Maior:

Nenhuma outra corporação profissional se destacou tanto na guerra aberta à reeleição da Presidente Dilma quando a do jaleco branco.

O pleito foi o ápice de uma espiral de colisões iniciada em 2013, quando as entidades médicas alinharam-se ao conservadorismo mais feroz na oposição ao programa ‘Mais Médicos’.

Classificada como uma fraude, a iniciativa federal de levar cerca de 5,5 mil profissionais cubanos a rincões não cogitados por médicos brasileiros mereceu do Cremesp, o Conselho Regional de Medicina de São Paulo, a seguinte nota, em maio de 2014: ‘Tomaremos iniciativas políticas e eventuais medidas judiciais para impedir essa afronta à saúde da população e à dignidade da medicina brasileira’.

Em outubro, dez dias antes do pleito, a Associação Médica Brasileira (ABM) lançaria um manifesto conclamando os associados a eleger Aécio.

‘Urge mudarmos estas mazelas e descasos, frutos de um ideário político-partidário que nunca teve, na sua essência, a legítima e real preocupação com a saúde no Brasil (...) precisamos retirar do poder aqueles que não se preocuparam com os anseios e necessidades da população, em prol da saúde brasileira. Conclamamos todos a votar em Aécio Neves’, finalizava a nota.

Passados pouco mais de dois meses, uma reportagem do Fantástico, veiculada pela Globo, no último domingo, mostrou bastidores de um, aí sim, gigantesco esquema de mazelas; um assalto aos cofres do SUS, o Sistema Único de Saúde, que carrega no nome a promessa de uma equidade ainda distante.

Os protagonistas dessa sucção ‘não se preocuparam’ - para emprestar os termos da Associação Médica Brasileira - ‘com os anseios e necessidades da população, em prol da saúde brasileira’.

Não há leviandade em cogitar - aliás existem evidências - de que muitos deles atenderam ao apelo cívico-eleitoral lançado pela associação de classe, em outubro passado.

A expressão ‘máfia da prótese’ chega à suave no caso.

Ela condensa a ação de uma quadrilha integrada por profissionais da medicina, advogados e fornecedores de próteses.

A mecânica do golpe, que pode envolver dezenas de milhões de reais, apoia-se em uma triangulação.

O paciente que espera pelo implante na fila do SUS - de cuja receita foram decepados R$ 40 bilhões por ano com a extinção da CPMF, em 2006, sem protesto da AMB -, é orientado por médicos que fazem a ponte com advogados e escritórios encarregados de processar o governo.

A engrenagem se move para exigir o pagamento da prótese e da cirurgia feita em regime privado.

Invariavelmente, a conta apresentada ao SUS é dezenas, às vezes milhares de vezes, superfaturada.

Tornar o assalto excepcionalmente lucrativo é um requisito de sobrevivência da cadeia alimentar.

Pra isso, médicos, advogados e indústria fazem gato e sapato no percurso entre o diagnóstico verdadeiro, a versão cobrada do SUS e aquilo que, de fato, é executado na sala de cirurgia.

Ainda não há números redondos do cambalacho.

Mas há evidências.

Um levantamento do governo constatou que em apenas seis anos, entre 2005 a 2011, os gastos do SUS com o cumprimento de sentenças judiciais cresceram 100 vezes no Brasil.

Passaram de R$ 2,5 milhões para R$ 266 milhões em 2011.

Só em 2013, mais de R$ 1,2 bilhão foram pagos em despesas com próteses em geral.

O valor é o dobro do gasto com o execrado ‘Mais Médicos’ no mesmo período.

E não fica tão abaixo do auge atingido pelo orçamento do programa, que no ano passado atingiu R$ 1,9 bilhão.

As diferenças de custo/benefício é que são expressivas.

O recurso investido predominantemente na contratação de médicos cubanos viabiliza hoje o atendimento de 50 milhões de brasileiros antes desassistidos.

Em contrapartida, mais de 80% dos gastos com implantes de próteses feitos em 2013, nos 60 maiores hospitais privados do país, destinaram-se ao circuito da fraude que vai da prescrição à venda, muitas vezes desnecessária, desses produtos.

Outra diferença não menos notável: a indignação ‘ética’ das entidades de classe contra a parceria com ‘cubanos’ não se repetiu no presente escândalo.

A negligencia, infelizmente, talvez encerre algo mais que o mero descuido.

E esse é o ponto a reter.

A recorrência dos escândalos médicos e o seu baixo impacto corporativo, comparado à animosidade engajada contra o ‘Mais Médicos’, evidencia a existência de profundas distorções no ambiente médico do país.

Desde a formação do estudante, passando pela cultura da profissão e a ênfase das representações de classe, o profissional brasileiro enxerga-se cada vez mais como um apêndice do mercado e dos interesses da indústria, e cada vez menos como um sujeito comprometido com a dignidade da saúde pública.

Decorre daí uma certa elasticidade ética.

Ela torna o juramento de Hipócrates por estas plagas cada vez mais complacente com o intercurso entre o consultório, a indústria da saúde, o receituário e o lucro a qualquer preço.

Em contrapartida, mostra-se cada vez menos permeável à natureza social de programas e agendas como o ‘Mais Médicos’.

E de seu corolário: a luta pelo financiamento de um sistema único de saúde digno e eficiente em todo o país (leia análise do ex-ministro Alexandre Padilha sobre as opções ao sub-financiamento do sistema público de saúde brasileiro).

A reportagem do Fantástico mostrou que o intercurso entre um médico e o esquema da máfia das próteses poderia render até R$ 100 mil ao profissional.

Não é um ponto fora da curva.

Cruzeiros, resorts e passeios ao exterior com os quais os médicos campeões em receitar determinados medicamentos são brindados pelos fabricantes não ficam muito atrás nessa gincana de cifrões que intoxica toda a área da saúde.

Nos EUA, as gigantes do setor farmacêutico gastam cerca de US$ 58 bilhões em marketing (o dado, subestimado, é de 2004).

Quase 90% desse total ruma diretamente para o bolso de quem tem o poder de prescrever medicamentos.

É uma espécie de captura da prerrogativa médica pelo mercado.

Mas esse sequestro ético parece mais palatável às entidades de classe brasileira, que o desembarque solidário de doutores cubanos no país.

A interatividade entre o jaleco e o lucro corporativo chegou a tal ponto que uma legislação mitigatória entrou em vigor nos EUA, no ano passado.

Ela obriga empresas farmacêuticas a relacionar em um site oficial os médicos que aceitaram pagamentos ou presentes de valor superior a US$ 10, bem como as quantidades exatas pagas a cada um e a sua alegada finalidade.

Eis uma boa ferramenta ética que a operosa Associação Médica Brasileira poderia abraçar.

Na verdade, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), já fizeram uma tentativa nesse sentido.

Brindes e presentes, por exemplo, deveriam estar relacionados à prática médica efetiva; seu valor não poderia exceder a um terço do salário mínimo em vigor no país.

Como explicar, então, a persistente e generosa lubrificação de dermatologistas, por exemplo, com cataratas de viagens, cruzeiros e outros mimos de custo dezenas de vezes mais elevado?

Existem outras normas supostamente em vigor, com efeitos prático idênticos.

Um artigo no novo Código de Ética Médica, uma resolução da Anvisa e um "código de condutas" da associação das indústrias buscam coibir a simbiose entre a saúde e a saúva.

Por que, então, a correição persiste?

Sem a transparência pública e a penalização determinada pelo Estado, a conveniência entre o lucro e o bolso parece dar força ao sauveiro.

Recentemente, a indústria farmacêutica norte-americana foi proibida de promover palestras em um dos maiores congressos médicos do mundo, o da American Heart Association.

A decisão partiu de um órgão do sistema nacional de saúde dos EUA (INH), que credencia cursos de educação continuada.

No Brasil, calcula-se que mais de 60% dos cursos livres e congressos médicos são bancados pela indústria farmacêutica e de equipamentos.

Sem isso, alegam entidades médicas, o evento seria inviável.

Uma pergunta: qual é, afinal, a grande diferença entre médicos e/ou entidades bancados por uma grande farmacêutica, e políticos e/ou partidos sustentados por uma empreiteira?

Há aí uma cultura precisa ser quebrada.

E ela está arraigada no ambiente médico.

Pesquisa feita pelo Datafolha em 2010, em parceria com o Cremesp, ouviu 600 médicos em um universo de mais de 100 mil profissionais em atividade então no Estado de São Paulo.

Não há razões para supor que o quadro evoluiu para melhor.

Desse total, 80% admitiram receber, em média, oito visitas de propagandistas de medicamentos por mês.

Pior: 93% afirmaram ter recebido, nos últimos 12 meses, produtos, benefícios ou pequenos pagamentos da indústria.

Quase 40% admitiram ter recebido presentes de maior valor, desde cursos a viagens para ‘congressos internacionais’.

Quase metade, 48%, afirmou receitar o que o fabricante indica.

E o escárnio supremo: há indícios de que a fidelidade desse matrimônio é vigiada pelo dono do dinheiro.

Em 2005, uma reportagem da ‘Folha de São Paulo’ revelou que, em troca de brindes ou dinheiro, farmácias e drogarias brasileiras auxiliavam a indústria de remédios a vigiar as receitas prescritas por médicos.

Com acesso ao receituário, representantes dos laboratórios pressionavam os profissionais a indicar seus produtos e os recompensavam por isso.

A marcação corpo a corpo se inspira em valores elevados.

O Brasil é um dos maiores mercados farmacêuticos do mundo, crescendo a taxas chinesas de 10%, em média, nos últimos anos.

Com a elevação da renda e do salário mínimo, 54% da população consome medicamentos regularmente.

O faturamento do setor em 2013 foi de R$ 55 bilhões.

É muito dinheiro em uma área vital para que seja manejado sem a salvaguarda do interesse coletivo.

Não se trata de duvidar do caráter do médico brasileiro.

Entre a saúde e a saúva, a chance da virtude está nas instituições, não nas metas de lucro corporativo ou na fraqueza humana diante de cruzeiros gratuitos pela Europa e o Caribe.

Há que ser duro, sem perder a ternura, disse um precursor dos cubanos do Mais Médicos.

A verdade é que a medicina praticada hoje no Brasil repousa, predominantemente, nas mãos de uma classe média desprovida de discernimento sobre o país, sobre o mundo que a cerca e as urgências da sociedade que lhe custeou o estudo.

Daí a naturalidade com que se endossa – com dignas exceções - a sabotagem à assistência emergencial do Mais Médicos; e a cara de paisagem exibida diante de um escândalo como o da máfia da prótese.

Pior que isso.

Entre indignado e estupefato, o conservadorismo de jaleco branco recusa a possibilidade da existência de outra referência de exercício da medicina que não a dos valores argentários.

Solidariedade, internacionalismo e fraternidade formam uma constelação incompreensível a quem divide o mundo entre consumidores e escravos.

Felizmente, nem os médicos do Caribe nascem bonzinhos, nem a mentalidade da máfia da prótese se reproduz por geração espontânea.

Ambos são fruto de instituições. A ponto de um não achar estranho sair de seu país para ajudar uma outra nação.

E o outro não hesitar em sangrar recursos públicos escassos de sua própria nação, que podem fazer a diferença entre a vida e a morte na fila da saúde pública.

Esse talvez seja o aspecto mais chocante do escândalo médico da vez.

E, sobretudo, o mais instrutivo, para quem quiser enxergar a real abrangência dos desafios financeiros e educacionais que ele propõe.

A ver.


Fonte: Blog do Miro
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Certamente o céu não estava todo azul quando o raio caiu.

A medida que o impacto inicial  do atentado em Paris vai dando lugar a reflexão, pode-se entender que nada acontece por acaso e, que os fanatismos e fundamentalismos, independentes do lado em que existam , dominam a cena mundial.

Que a globalização neoliberal  com sua sanha destruidora, seu consumismo irracional, e sua lógica de que tudo é mercadoria, está levando o mundo à idade das trevas é uma realidade.

O atentado de Paris deveria servir de reflexão para compreender-se que o neoliberalismo e sua globalização suicida fracassaram.

No entanto o que se vê  como resposta no mundo ocidental, é uma radicalização ainda maior no campo da direita, com a ascensão principalmente na Europa de partidos fascistas.

Grita-se em nome da liberdade,  porém se adere ao fascismo.

Focar apenas a discussão sobre o atentado como uma violência a liberdade imprensa, serve de estratagema para alguns veículos de imprensa continuarem alinhados com o fascismo crescente que apóiam , não apenas  no Brasil, como em todo o mundo.
 Snowden e Assange continuam "presos", perseguidos, por terem levado a sério a liberdade de expressão.

Não seguiram o roteiro do teatro mundial.

Enquanto isso, aqui no Brasil como provavelmente no mundo neoliberal, uma máfia vende próteses de pernas, braços e sabe lá o que mais, para aumentar seus lucros, fazer grandes cruzeiros, adquirir o carro do ano, ou seja, surfar  a qualquer custo nos valores do neoliberalismo.

Da série de contos do PAPIRO intitulada Diários de Botequim, vale a leitura abaixo do conto publicado neste blogue em 14.08.2013 com o título Dr. Célio e a Primavera Talibã.

O assunto é bem atual.




Dr. Célio e Primavera Talibã


No final daquele mês de setembro o assunto não poderia ser outro.

Em todos os cantos e centros da cidade uma nova palavra era incorporada no vocabulário do carioca.

De sanduíches a calcinhas, tudo era talibã.

Teses e mais teses proliferavam pela cidade na tentativa de compreender o atentado contra as torres gêmeas nos EUA.

- acabou de sair uma calabresa acebolada que está talibã, vai ? peguntou Olsen para um freguês do bar.

No bar, a realidade não era diferente.

Em todas as mesas, em que se podia ouvir , o assunto era o atentado e, principalmente, a ousadia desses novos personagens, os talibãs.

- não tira onda comigo não que eu sou talibã, disse um vendedor de rua para um guarda municipal que o perseguia nas imediações do boteco.

Na mesa estavam Miltão, Jadir ,Nelsinho e uma figura estranha, apresentada aos demais por Nelsinho como um tal de Dr. Célio.

O tal Doutor era de fato muito estranho.

De estatura mediana, e com uma aparência de meia idade consolidada, tinha uma face clara, com uma cor pálida e cadavérica, um bigode grisalho com marcas acentuadas de nicotina que também eram bem fortes nos dedos de suas mãos .

Durante o período que ali esteve, e que não foi de muito tempo, fumava um cigarro quase que atrás do outro, além de demonstrar muita intimidade com o copo, já que consumiu algumas caipirinhas.

Suas mãos eram trêmulas, porém quando se expressava era raro movimentar algum músculo da face.

Por vezes lembrava um robô ou um andróide falando.

Certamente não teve a empatia de Miltão e Jadir, que tão logo após a saída do Doutor do bar, interpelaram Nelsinho.

- porra, Nelsinho. Que cara esquisito esse conhecido seu, comentou Miltão.

- esquisito é pouco, disse jadir.

- como é que você conheceu esse cara, perguntou Miltão.

- ihhh rapaz, esse cara é pra lá de estranho e ainda dou o azar de encontrar com ele por aí.

- como assim, perguntou Jadir e continuou. Conta esse negócio direito, ô anta
.
- vou contar, disse Nelsinho.

- pera aí, gritou Miltão e ao mesmo tempo segurou o braço de Olsen que passava ao lado, ordenando-lhe que limpasse a mesa no lugar onde o doutor estava sentado, já que além de estranho o doutor deixou uma sujeira considerável no local.

- limpa aquela porra ali, disse Miltão para Olsen que de imediato deixou o lugar habitável.

- vai ô anta, conta aí, disse miltão para Nelsinho.

- lembra do acidente de carro em que me envolvi há mais ou menos três meses , peguntou Nelsinho

- aquele em que você fez uma merda danada e ainda bateu em dois carros ?

- não fiz merda nenhuma, a culpa não foi minha, disse Nelsinho demonstrando irritação.

- Porra Jadir, pára de perturbar o cara e deixa ele contar, entrou de sola Miltão.

- então, depois do acidente eu fui parar na delegacia com os demais envolvidos.

Quando cheguei na delegacia , aquilo estava a maior zona, tinha gente pra caralho lá dentro e demorei um tempo para que o meu caso fosse atendido.

Um policial pediu para que nós esperássemos , pois o dia estava movimentado.

Fiquei sentado, num banco, aguardando o momento de ser chamado e, ao meu lado estava o tal Doutor também esperando para ser atendido.

Ele começou a puxar conversa comigo querendo saber o motivo de eu estar ali.

Notei que ele estava bastante deprimido naquele momento e também perguntei o quê fazia ali. 

Tão logo eu perguntei, o  cara ficou ainda mais deprimido, abaixou a cabeça, os lábios ficaram trêmulos e falou que tinha enfiado a porrada na mulher dele, a ponto da mulher ir parar no hospital.

Notei que o cara tinha ficado pior e fiquei com pena dizendo pra ele que casos de traição acontecem, imaginando que ele tivesse sido traído pela mulher.

Foi aí que ele, já quase que chorando disse que não tinha sido traição.

Logo em seguida ele colocou a mão no meu ombro, começou a chorar e disse que bateu na mulher porque ela o chamou de feio.

- ihhhhhhhhhhh, interrompeu Jadir. Seu feioso, ai, ai. Isso parece coisa de viado.

- colocou a mão no teu ombro ou fez carinho na nuca, perguntou Jadir

Nelsinho riu e continuou.

Então! O cara desabou e começou a chorar.

Achei aquilo estranho mas depois disso ele ficou quieto e eu não dei mais conversa, até que fui chamado pelo delegado , resolvi o caso, e não vi mais o cara.

Aí, uma semana depois disso, eu fui ao Fórum para audiência do meu divórcio.

Aquele foi um dia terrível pra mim, porque pela manhã, antes de ir ao Fórum, passei  numa loja pra fazer um crediário e comprar uns eletrodomésticos lá pra casa e , pra minha surpresa , não pude abrir o crediário porque meu nome estava na lista do SPC e do SERASA.
  
Depois da pesquisa , fui informado que devia-se ao fato de não ter efetuado o pagamento de um cartão de crédito.

De fato, como tenho muitos cartões, acabei me enrolando na papelada lá em casa e esqueci de efetuar o pagamento de um deles.

Aquilo me deixou chateado naquele dia.

- isso é uma anta, disse Jadir. Esquece de pagar as contas.

- então! Quando cheguei lá no Fórum, fiquei esperando pra ser chamado  quando pra minha surpresa, aparece na minha frente esse doutor, todo de branco, perguntando se tinha resolvido tudo lá na delegacia.

Olhei pro cara e reconheci a figura, que naquele momento aparentava estar bem e seguro.

Ele notou que eu estava chateado e perguntou o que fazia ali.

Falei da audiência mas disse que o motivo de minha chateação era outro.

Foi quando ele me pegou pelo braço, me levou para um lugar onde ninguém ouvia a nossa conversa e falou que caso eu desejasse ele poderia retirar meu nome do SPC e do SERASA naquele momento, por apenas 25 reais.

Achei aquilo estranho e perguntei como ele fazia isso. 
Ele explicou que lá no Fórum tem um esquema de um pessoal que entra nos sites do SPC e SERASA, retira o nome da pessoa da lista suja para que ela possa fazer o crediário, mas que depois de uma semana o nome volta pra lista, quando a pessoa já efetuou o crediário e já recebeu os produtos em casa.

- ihhhh rapaz, além de estranho o cara é trambiqueiro, disse Jadir.

Você ainda não ouviu nada , disse Nelsinho e continuou.

Falei com ele que não era necessário, pois o meu caso foi de esquecimento e que iria efetuar o pagamento naquele dia, logo apos a audiência.

Depois disso fiquei sabendo que ele era médico, pois ele explicou que estava ali cuidando de um caso onde ele atuou como perito médico em um caso de assassinato.

Ele contou que o juiz do caso estava ganhando propina para aliviar o assassino , mas que não estava distribuindo a propina para mais ninguém e, que por isso, ele elaborou um laudo só com termos médicos  que até médicos tem dificuldade de entender.

Contou isso rindo.

Disse ainda que o juiz quando recebeu o laudo saiu correndo atrás dele pra ele escrever um laudo sem aqueles termos e, foi aí que ele negociou com o Juiz a propina que ele iria receber.

Depois disso me desliguei do cara e fui para audiência.

Pro meu azar, quando saía do Fórum, encontro novamente com o cara na saía.

Ele estava com um bafo de cana terrível, me segurou pelo braço e perguntou para onde eu estava indo.

Pro meu azar ele ia pro mesmo lugar e ainda me ofereceu carona no carro dele.

Quando chegamos no estacionamento, levei um susto com o carro do cara.

Uma BMW, último tipo do ano, isso para um médico funcionário público.

- o cara deve ser cheio de esquemas, disse Miltão já com o nariz vermelho.

Entrei no carro  e confesso que fiquei preocupado , pois o cara já estava bêbado.

Quando colocamos os cintos de segurança , o cara puxou uma bolsa e disse que ia mostrar um negócio pra mim.

Vocês nem podem imaginar o que aconteceu.

O cara abriu a bolsa e puxou  pelos cabelos uma cabeça de homem, branco, de mais ou menos quarenta anos.

Levei um susto filho da puta e cheguei mesmo a gritar ao ver uma cabeça, com os olhos arregalados e a boca aberta.

Me deu vontade de vomitar até sair do carro , enquanto o cara ria. 

Peguntei o que ele ia fazer com aquilo e se ele não tinha medo de ser abordado pela polícia com uma cabeça numa bolsa.

Ele disse que como médico sempre tem uma boa desculpa , caso os policias o abordem na rua. 

Se a desculpa médica não colar, ele disse que a propina rola.

Explicou que estava levando   a cabeça para enviar pelo correio para a casa de um sujeito que estava perseguindo um amigo dele no trabalho , e que aquilo era tipo uma ameacinha para o cara que estava perseguindo o amigo dele.

- porra, Nelsinho. Esse cara é barra pesada, disse Miltão.

-E tem muito mais, disse Nelsinho e continuou.

Pedi pra guardar a cabeça enquanto ele explicava os motivos .

Saímos dali e fomos pra Copacabana, onde ambos tinham seus destinos.

No percurso, o cara ainda me perguntou se eu tinha resolvido tudo certo no acidente em que me envolvi, pois caso meu carro tivesse sido muio avariado , e se eu tivesse seguro, ele tinha um esquema de desmanche pra carro.

Disse que  como eu tinha dado entrada na delegacia o esquema não valia pra mim.

Falou que em caso de acidente de carro, com perda quase que total do carro, o melhor é não registrar na delegacia, desmanchar o carro todo, e entrar no seguro como se o carro tivesse sido roubado, de preferência em um dia de jogo no Maracanã, onde estaria estacionado.

- porra ô anta, esse cara é bandido.

- bandido é pouco, o pior você vai ouvir agora, disse Nelsinho e continuou
.
 Quando chegamos em Copacabana, o cara me agarrou e levou para uma bar.

Como tinha tempo acabei aceitando.

Começou a encher a cara pesado e me contou que na profissão dele, na justiça, ou mesmo no hospital público ou privado, ele faz o que bem entende.

Ele disse que faz o diagnóstico que bem entender, caso esteja em jogo uma propina.

Falou que as melhores propinas são de retiradas de rins, de pessoas saudáveis, ingênuas, de pouca instrução que usam o SUS. 

Se as pessoas não questionam, e a maioria é ingênua não questiona, ele dá o diagnóstico de um rim comprometido, diz que tem que operar e retira o rim para o negócio, enquanto a pessoa vai viver com apenas um rim, sem saber que foi parte de um esquema

Disse também que para aliviar o hospital, eles praticam eutanásia, por conta própria em muitos pacientes em estado terminal, isso para desocupar leitos , até mesmo em clínicas e hospitais particulares, dependendo do interesse envolvido.

Contou, também, que estava fazendo hora ali, pois iria visitar uma paciente dele, de trinta anos, diagnosticada com um câncer e que tinha dado a ela  mais três meses de vida.

Disse que como a mulher é bonita e gostosa, iria aproveitar a fragilidade dela pra tentar dar uma trepada com ela naquele dia.

E também falou que tem com hobby colecionar carrinhos de brinquedo.

- porra! Isso não é só bandido , é um filho da puta, psicopata, uma cara perigoso.

Com é que você põe uma porra dessa aqui na mesa, Nelsinho, perguntou Miltão .

- isso é uma anta, disse Jadir.

- eu não coloquei ninguém aqui.

Vocês viram que ele estava no bar e me reconheceu e foi sentando na mesa, disse Nelsinho.

- um bandidaço, que ainda por cima tem um mau hálito filho da puta.

Olha que eu estava até um pouco distante dele aqui na mesa e mesmo assim senti um fedor do cacete quando ele falava, disse Jadir e continuou.

Imagine a medicina.

Isso é um perigo a gente sair por aí entregando a nossa saúde para que esses caras digam o que fazer.

- pera ai, disse Miltão já não apenas com o nariz vermelho mas com todo o rosto vermelho. 

Esse cara não é a regra.

Ele não representa a  maioria dos médicos, que são corretos e dedicados com os pacientes.

Ele é bandido.
E bandido tem em tudo que é lugar, até mesmo no Vaticano, onde Deus é citado todos os dias.

Entretanto, com o crescimento dessa lógica de que tudo no mundo é mercadoria, concordo com o Jadir que a tendência é que figuras  e práticas como essa cresçam cada vez mais.

Nessa lógica, seja na medicina, nas relações interpessoais, na segurança pública, ou seja, em todas as esferas da vida, o que vem ganhando espaço é a tirania e a barbárie.

Isso é perigoso.

Presta atenção sua anta, disse Miltão apontando o dedo para Nelsinho. 

Se essa porra sentar de novo aqui  na mesa eu vou expulsar esse cara daqui.

Depois das palavras de Miltão fez-se um silêncio na mesa.

Todos demonstravam, ou tentavam demonstrar que estavam ocupados com alguma coisa, ora bebendo um gole da bebida da mesa, ora, verificando alguma coisa nos bolsos, ou mesmo olhando para os lados.

O silêncio persistia, e junto com ele uma sensação de repulsa, até mesmo de nojo, por ter convivido , mesmo que por alguns instantes, com uma pessoa tão asquerosa.

O hospital que existe em frente ao bar contribuía para um clima nada agradável, sempre que os olhos para ele se moviam.

Olsen se aproximou  e informou sugerindo  que acabara de sair, fresquinha e quentinha, uma isca de fígado acebolada que estava talibã.

Os olhos de todos na mesa se cruzaram, certamente lembrando de rins e  cabeças

Miltão agradeceu e rejeitou a sugestão.
  
Para piorar o silêncio, uma ambulância, em frente ao bar, pedia passagem com a sirene ligada. 

Já era demais.

Foi o estopim para que me despedisse de todos , na primavera talibã.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Por uma frente de esquerda

Após seis anos de 'ajuste', Europa enfrenta deflação recessiva; Itália tem desemprego recorde; Alemanha e França assistem a uma espiral de extremismo xenófobo; Grécia inclina-se para a esquerda; Portugal tem 500 mil desempregados e Espanha devastou sua rede de proteção social.

Fonte: CARTA MAIOR
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CUT: Trabalhadores não podem pagar por ajustes de Dilma

publicado em 7 de janeiro de 2015 às 12:56
Levy
Para a CUT, trabalhadores não podem pagar por ajustes na economia
do site da CUT
Tendo em vista as medidas anunciadas pelo governo no dia 29 de dezembro de 2014, com o objetivo de ajustar as despesas do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e da Previdência Social, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) manifesta a posição contrária ao método utilizado para a tomada de decisão por parte do governo.
Contrariamente aos compromissos assumidos de que as decisões que envolvessem os trabalhadores deveriam passar por um processo de negociação que permitisse às Centrais Sindicais opinar e oferecer propostas alternativas a quaisquer iniciativas, fomos surpreendidos por um anúncio unilateral das medidas sem que pudéssemos contribuir e de alguma forma assegurar os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras.
A CUT não concorda com as medidas adotadas no âmbito do Seguro Desemprego, tendo em vista que elas penalizam os trabalhadores e trabalhadoras jovens que estão ingressando no mercado de trabalho e também aqueles empregados nos setores com menor especialização, onde a rotatividade de mão de obra é uma prática recorrente do setor patronal.
A CUT considera que as medidas tomadas penalizam exclusivamente os trabalhadores e não impõem nenhuma regra ou sanção para inibir a rotatividade de mão de obra praticada pelas empresas com o único e exclusivo objetivo de reduzir os salários.
A CUT não concorda com o argumento de que os trabalhadores são responsáveis pela rotatividade de mão de obra existente hoje no país. Os exemplos utilizados não se constituem regra e não é a causa do aumento de gastos com o seguro desemprego.
Os trabalhadores e trabalhadoras quem manter o seus empregos, terem seus salários valorizados e não fraudar um dispositivo que minimiza os prejuízos causados pela ganância empresarial. Essa medida representa um sério retrocesso aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras.
Em relação ao seguro defeso, a CUT sempre se posicionou pela mais ampla transparência e controle social na concessão de benefícios. Por isso defendemos a manutenção da política de concessão exclusivamente para os trabalhadores e trabalhadoras da pesca e que o cadastro de beneficiários tenha o mesmo controle dos benefícios concedidos por outras políticas sociais, como o Bolsa Família, o Prouni etc.
A Central Única dos Trabalhadores também manifesta a sua preocupação com as medidas tomadas no âmbito da Previdência Social de forma pontual. Somos os maiores interessados na manutenção do equilíbrio das contas da Previdência, no entanto, esse equilíbrio não pode ser feito a custa dos direitos. Por isso queremos que a discussão seja mais abrangente, que possa inclusive criar uma solução para o Fator Previdenciário que tanto penaliza os trabalhadores, para que esses direitos não sejam comprometidos.
De acordo com a presidenta em exercício da CUT, Carmen Helena Foro, “é importante deixar claro que tudo o que se refere à transparência, aperfeiçoamento e maior controle social não trazem problemas para nós, desde que não retirem direitos dos trabalhadores”.
Também segundo ela, “é preciso reafirmar o compromisso de que toda a pauta dos trabalhadores e trabalhadoras seja previamente discutida e acordada com a CUT e as Centrais Sindicais”, como foi o compromisso assumido com a presidenta Dilma.

Fonte: VIOMUNDO
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O que se vê na Europa, já por seis anos, é o resultado da aplicação das políticas neoliberais de arrocho e ajuste.

Políticas essas que a oposição e a alucinada velha mídia desejam empurrar pela goela do governo Dilma.

Sofrimento e caos, pode ser a síntese de uma Europa que seguiu o "ajuste".

Se isso não bastasse, o ataque  de hoje a uma revista em Paris, revela o estágio de xenofobia, racismo, intolerância religiosa em que está mergulhada a Europa.

É inaceitável que jornais sejam atacados e pessoas mortas.

Também é inaceitável que a xenofobia se propague nos países europeus, que até vestimentas sejam proibidas e que símbolos religiosos sejam atacados com frequência.

Conflitos  violentos não são fruto do acaso.

Enquanto isso aqui no Brasil, torna-se cada vez mais urgente que as forças de esquerda , os movimentos sociais, os sindicatos  e todos os os setores da sociedade que  apoiaram os governos do PT, formem uma grande frente para exigir do governo federal que retome o caminho descolado do neoliberalismo, tão bem sucedido na América do Sul nos últimos anos.

Que figuras do governo, contrárias aos interesses  do povo, como a ministra Katia Abreu,  o ministro Gilberto Kassab e outros que jamais poderiam compor a equipe de ministros, sejam afastados  em nome de um projeto soberano de desenvolvimento e crescimento, onde as necessidades da população, políticas sociais e o Homem, sejam as prioridades.

Seguir  com tais ministros e com a equipe econômica escolhida , é trilhar o caminho da barbárie, explicitado , escancarado, na vida das pessoas da União Europeia.

A agenda em prática na Europa, nos EUA e desejada com toda força pela oposição e pela velha mídia aqui no Brasil, prioriza apenas  1/3 da população desses países.

Um mundo para apenas 2 bilhões de pessoas.

Essa é a maneira que o países  ricos encontraram para resolver as alterações climáticas e a escassez crescente de recursos naturais, apesar das aparências .



O Cogumelo, a Pirâmide e Ele

10 versões “hereges” para Jesus: liberdade de pensamento e a neo-inquisição virtual

inquisição
(Enquanto isso, no twitter…)
Pouco antes do Natal, divulguei no twitter um texto escrito pela psicóloga norte-americana Valerie Tarico abordando o fato de as relações sexuais não consentidas estarem na origem da maioria das religiões, inclusive na concepção de Jesus Cristo (leia aqui o original e aqui, uma tradução). E perguntei: “Então, na verdade, Deus estuprou Maria?” Alguns dias depois, durante minhas férias, o post foi descoberto por algumas personalidades tuíticas (sei que parece ridículo, mas elas existem), que atiçaram a turba furiosa contra mim. Conservadores disfarçados de moderninhos, em fúria, defendendo a santa madre igreja da bruxa infiel.
Qual uma herege medieval, fui xingada, agredida, ameaçada de processo e até de excomunhão (?!). Teve um cara que me lembrou que eu havia pecado “contra o espírito santo”, como se eu, agnóstica, acreditasse em pecados. Muitos devem ter achado uma pena que a época em que se queimavam pessoas na fogueira por discordar dos textos “sagrados” tenha ficado no passado, e eu me salvei de virar churrasquinho nas mãos de reaças imbuídos do espírito natalino (sic). Não foi só aqui: nos EUA, Valerie também foi atacada como uma feminista que “odeia Cristo, odeia os homens e odeia as mulheres que os amam”. Incrível como os “jovens de direita” (ugh) são iguais em toda parte.
O que essas pessoas não sabem porque a falta de leitura também é uma característica comum aos jovens reaças– é que esta versão do Evangelho que eles reputam como a única em realidade é apenas a versão vencedora: a versão dos que mandam na Igreja, dos que fizeram a “santa” inquisição e ganharam a parada à custa de muitas vidas ceifadas e “conversões” ao cristianismo obtidas sob tortura. Mas, queira a direita ou não, houve diversas outras versões “hereges” para a vida de Jesus Cristo, exterminadas junto com seus defensores exatamente da forma que os neo-inquisidores adorariam para mim: na fogueira.
(Curioso é que, apesar de se arvorarem em defensores da religião, os jovens conservadores tampouco leram a Bíblia, ou não se escandalizariam assim, já que o que não falta no Velho Testamento são estupros, incestos, assassinatos e todo tipo de barbaridade cometida em nome do Senhor.)
Como nasceu Cristo? Depois de queimar muita gente que contava os fatos de maneira diferente, a igreja católica conseguiu, enfim, o seu “consenso” sobre a história de Jesus, aceita pela maioria dos cristãos sobre a Terra. Acredita nela, porém, quem quiser, ninguém é forçado. Felizmente, hoje em dia é possível mostrar, sem medo de morrer ou ir preso, que existiram divergências desde o princípio dos tempos, todas elas também cristãs. Eis algumas das versões antigas e novas para a história de Jesus:
inri
 Jesus Cristo é filho adotivo de Deus  O bispo de Antioquia, Paulo de Samósata, defendia que Jesus Cristo não era filho de Deus de fato, mas sim, filho adotivo. Ou seja, era apenas um ser humano iluminado que chegou à divindade, tornando-se filho de Deus a partir do batismo, e não desde o nascedouro. Essa crença, chamada Adocionismo, e seus seguidores, foram perseguidos pela igreja católica no século 3. Paulo de Samósata foi obrigado a abandonar seus postos eclesiásticos.
jesus
 Jesus não é uma divindade  Ário, presbítero de Alexandria por volta do ano de 319, sustentava que só existia um Deus. Jesus era seu filho, mas era um semideus, não uma divindade e por isso não conseguiu salvar a si mesmo ao ser pregado na cruz. Condenado por heresia pelo concílio de Nicéia no ano de 325, Ário e seus seguidores foram excomungados pela igreja.
cataros
 Jesus era só um profeta  Os cátaros, divergência importante do cristianismo nos séculos 12 e 13, não acreditavam que Jesus era filho de Deus, embora se dissessem cristãos. Diz-se que a caça aos “hereges” seguidores do catarismo, que pregava a igualdade entre homens e mulheres, foi uma das principais razões para o surgimento da Inquisição. Centenas de milhares de cátaros foram chacinados e sua doutrina, sistematicamente destruída.
FOR USE WITH STORY VEGETARIANS
 Jesus era vegetariano  Em 1881, o reverendo inglês Gideon Ouseley teria achado um manuscrito no Tibete que seria um “evangelho perdido”. O Evangelho dos Doze, em referência aos apóstolos, foi publicado pela primeira vez em 1901, e trazia versões vegetarianas para as lições de Cristo. “Não comereis a carne nem bebereis o sangue de nenhuma criatura abatida”, dizia o texto, nunca reconhecido, para alegria dos carnívoros pecadores. Alguns dizem que o próprio Ouseley inventou o evangelho para defender o vegetarianismo.
jevous
(imagem do filme Je Vous Salue Marie, de Godard)
 Maria foi estuprada por Deus  Esta versão não foi inventada pela psicóloga que citei, ela existe. Especula-se que Maria tivesse entre 12 e 13 anos na época da concepção de Cristo. 14, no máximo. Fica difícil, assim, aceitar a versão vigente de que a menina deu o consentimento ao anjo Gabriel para que fosse “impregnada” pelo Espírito Santo. Os cristãos consideram suficiente o fato de ela supostamente ter respondido: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a sua palavra”. Outros podem achar que não.
verhoeven
 Maria foi estuprada por um soldado romano  Estudioso da Bíblia, o cineasta holandês Paul Verhoeven (sim, aquele de Robocop) publicou em 2007 um livro chamado Jesus de Nazaré onde sustenta que Maria foi estuprada por um soldado romano chamado Pantera, e assim concebeu Jesus Cristo. Estupros por soldados, diz Verhoeven, eram comuns naquela época. Jesus, portanto, seria um homem, não o filho de Deus. Um profeta radical que não operou nenhum milagre, ao contrário do que dizem os Evangelhos. O cineasta tenta filmar o livro desde então, mas até agora, nada.
judas
 O filho de Deus é Judas  No conto Três Versões de Judas do seu livroFicções (1941), o escritor Jorge Luis Borges cria um teólogo chamado Niels Runeberg, um especialista em refutar a biografia do “traidor” de Cristo. Numa delas, o segredo bem guardado por séculos: Jesus não pode ter sido o filho de Deus, porque era infalível. Judas, sim, era humano, capaz de erros. “Deus se fez total­mente homem até a infâmia, homem até a repro­va­ção e o abismo. Para salvar-nos, poderia ter eleito qualquer dos destinos que tramam a perplexa rede da história; poderia ter sido Alexandre ou Pitágoras ou Rurik ou Jesus; escolheu um ínfimo destino: foi Judas”.
 Judas é um herói  No filme A Última Tentação de Cristo (1988), Martin Scorsese apresenta Judas como o herói responsável por tornar Jesus Cristo o “Messias” adorado por milhões em todo o mundo. Em uma versão paralela da história, o filme mostra o que teria acontecido se Judas não tivesse traído Jesus: teria se casado com Maria Madalena, teria tido muitos filhos, teria morrido velhinho, feliz e sem glória.
cogumelo
– Jesus é um cogumelo alucinógeno  Talvez a mais maluca (e a minha favorita) das versões sobre Cristo, o livro The Sacred Mushroom and the Cross causou barulho em 1970 ao sustentar que Jesus era, na verdade, uma ficção criada a partir do Mestre da Justiça dos essênios. Seu autor, o arqueólogo John Allegro, membro da equipe que traduziu os Manuscritos do Mar Morto, afirmava que nunca houve um Jesus Cristo e que esta era uma forma de referir-se em código ao cogumelo Amanita Muscaria, utilizado de forma mística pelos primeiros cristãos. Obviamente o livro lhe desgraçou a carreira, mas seus estudos estão sendo reconsiderados. Pessoalmente, acho que faz todo sentido.
deus
10  Jesus é vítima de Deus, não dos homens  Em O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991), de José Saramago, Jesus é a vítima de um Deus tirano e egocêntrico que lhe dá a missão não desejada de representá-lo na Terra. Assombrado, o Cristo se sente mortificado pelas crueldades que serão feitas em seu nome: seres humanos degolados, mortos a tamancadas, flechados, empalados, queimados na fogueira. No fundo, o comunista Saramago pintou um Jesus muito mais humano do que o megalomaníaco que aparece nos Evangelhos, mas foi execrado pela igreja católica. Fosse em outra época, o que teria sido dele?
Fonte: SOCIALISTA MORENA
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Esse é um tema pra lá de escorregadio.

De início é bom separar o homem Jesus do mito Jesus.

Quanto ao homem, o que foi abordado no artigo acima, me parece que a tese do cogumelo alucinógeno é bem provável.

Hoje, com o avanço da ciência, foi possível provar que as bruxas da idade média eram. em sua maioria, pessoas normais  que foram queimadas vivas em fogueiras pela Santa Inquisição.

As bruxas faziam uso de plantas e ervas alucinógenos que sempre existiram na natureza.

Os efeitos da ingestão de tais plantas  e ervas, produziam sensações de voos, flutuações e mesmo o caminhar sobre águas, efeitos esses que são relatados por pacientes, em experiências médicas controladas, quando submetidos a essas substâncias.

Quase todos os pacientes relataram as mesmas sensações.

Voos em  vassouras e caminhar sobre águas, por exemplo, eram fruto dos efeitos dos alcalóides contidos nessas plantas.

Na época em que Jesus viveu, tais plantas e ervas também existiam e não é nenhum absurdo a tese de que Jesus, um homem  comum, tenha sido chegado a um barato.

Por outro lado, a mesma ciência concluiu que a administração controlada por procedimentos médicos de tais substâncias , pode produzir nas pessoas uma expansão da consciência, um estado de consciência modificado, onde feitos tidos como paranormais acontecem com frequência . 

Seria algo desejado  pelos orientais ao alcançar o pleno equilíbrio entre os opostos, Yin e Yang, com a diferença que na cultura oriental o processo para se alcançar tal equilíbrio não implica a ingestão de substâncias alucinógenos , sendo o tempo o revelador do sucesso na aplicação de métodos e práticas para alcançar esse fim.

Tanto é assim, que com a difusão das práticas orientais do Yoga e outras na década de 1960, o ocidente  produziu equipamentos individuais, como óculos estimuladores da atividade cerebral, por exemplo, para alcançar em um tempo mínimo os efeitos obtidos pelas disciplinas  orientais, que somente eram alcançados pelos mestres e monges  com décadas de práticas e disciplina . 

A cultura ocidental tem horror ao tempo.

Importante separar as  alucinações por conta de ingestão descontrolada de plantas e ervas alucinógenos, a expansão da consciência com a ingestão de tais plantas com acompanhamento médico e   os efeitos da expansão e modificação da consciência produzidos pelas disciplinas orientais.

Jesus, o homem, pode ter feito uso de tais plantas, quem sabe de uma forma eficaz que proporcionasse uma expansão da consciência, possibilitando a realização dos chamados milagres.

Já algumas bruxas da idade média  exageraram nas doses e viajaram na maionese, por exemplo.

São especulações  que o caro leitor percebeu até aqui, baseadas no conhecimento científico, sem nenhuma conotação religiosa ou metafísica.

Milagres atribuídos a Jesus e demonizados  nas bruxas da idade média tem origem em milênios antes mesmo do cristianismo.

Cientistas alemães realizaram um estudo  na pirâmide de Saqqara no Egito, uma das pirâmides mais antigas.

Com  os inúmeros recursos da tecnologia atual, reproduziram , virtualmente, a pirâmide original  e chegaram a conclusão que todo o complexo de Saqqara - a pirâmide e seus arredores - seria uma grande pilha quântica que ao captar o magnetismo terrestre , combinado com outros efeitos gerados por objetos da pirâmide, produzia nas pessoas efeitos chamados de paranormais. 
Conceitos sobre levitação magnética, hoje empregados na construção de caminhos para trens, teriam sido utilizados até mesmo para deslocar os grandes blocos de pedra para construção de pirâmide. 
Até mesmo o efeito piezoelétrico, hoje amplamente conhecido, era utilizado na tecnologia de Saqqara. ( o leitor pode assistir ao vídeo de  uma hora e dezesseis minutos, intitulado Saqqara, A Máquina Quântica , disponível no You Tube ).

Relatos de fenômenos paranormais, milagres e similares existem em grande quantidade ao longo de milênios e é importante separar o que são fantasias e alucinações daquilo que é ciência.

O que levou Jesus, o homem a produzir os chamado milagres deve ser motivo de investigações científicas.

Por outro lado, se Jesus de fato era Deus ou algo parecido e ,como dizem os pregadores pelas ruas de que Ele está voltando, se de fato tudo se confirmar estaremos vivenciando uma das maiores revoluções na ciência e no conhecimento com desdobramentos  inclusive nas religiões que certamente podem desaparecer ou  adquirir outras formas.

Isto dito, pode-se especular que  tem muita religião cristã  que não deseja a  tal volta de Jesus e, pessoalmente, não acredito que alguém que pregava os valores mais elevados do ser humano e que  devido a isso foi perseguido, massacrado, colocado em uma cruz para morrer, queira voltar para essa insanidade.

Jesus  faz parte do grupo de grandes iluminados que sempre existiram na história, em todas as áreas do conhecimento, e que em função das necessidades e de possíveis incômodos ou facilidades  que possam causar ao  Poder, podem ser rotulados como gênio, louco, deus, extraterrestre, marqueteiro, brilhante, avatar, bruxa, bicha, ladrão, revolucionário, anarquista, libertário e outros mais. 

Caso não incomode o Poder , pode ser um Einstein, ou mesmo Jesus. 

Caso o Poder  se sinta incomodado,  pode ter o fim de Giordano Bruno e das bruxas. 

Caso o Poder   se sinta incomodado e não tenha o fim de Giordano Bruno e das bruxas , vai ser taxado como bicha , louco ,por exemplo, como foram Da Vinci e Salvador Dali. 

Caso ainda não tenha um veredicto, um rótulo,  viverá escondido ou na proteção de outros, como Snowden e Assange.

É tudo uma questão de conveniência, onde o que determina o destino são os valores e as expressões  mais medíocres das classes dominantes.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Está chegando a hora

Por que a Globo vai acabar

“De receptores passivos, os cidadãos estão passando a ser, mediante o uso massivo das redes sociais, “produtores-difusores”, ou produtores-consumidores (prosumers)” 



Conversa Afiada reproduz artigo de Ignácio Ramonet(*), extraído da Carta Maior:



O FIM DA TELEVISÃO COMO A CONHECEMOS


A TV virará apenas uma tela de conforto, simples extensão das grandes empresas americanas da web, que detêm cada vez mais informações sobre seus usuários.


A televisão continua mudando rapidamente. Essencialmente, pelas novas práticas de acesso aos conteúdos audiovisuais que observamos sobretudo entre as gerações jovens. Todos os estudos realizados sobre as novas práticas de uso da televisão nos EUA e na Europa indicam uma mudança acelerada. Os jovens telespectadores passam do consumo “linear” da TV para um consumo de programas gravados e “à la carte” em uma “segunda tela” (computador, tablet, smartphone). De receptores passivos, os cidadãos estão passando a ser, mediante o uso massivo das redes sociais, “produtores-difusores”, ou produtores-consumidores (prosumers).

Nos primeiros anos da televisão, o comportamento tradicional do telespectador era olhar os programas diretamente na tela de seu televisor da sala, mantendo-se frequentemente fiel a um mesmo (e quase único) canal. Com o tempo, tudo isso mudou. E chegou a era digital. Na televisão analógica, já não cabiam mais canais e não existia a possibilidade física para acrescentar novos, pois um bloco de frequência de seis mega-hertz equivale a um só sinal, um só canal. Mas, com a digitalização, o espectro radioelétrico se fraciona e se otimiza. A cada frequência de 6 MHz, em vez de um só canal, podem-se transmitir até seis ou oito canais, e dessa forma se multiplica a quantidade de canais. Onde antes havia sete, oito ou dez canais agora existem cinquenta, sessenta, setenta ou centenas de canais digitais…

Essa explosão do número de canais disponíveis, particularmente por cabo e satélite, tornou obsoleta a fidelidade do telespectador a um canal de preferência e suprimiu a linearidade. Como consequência, abandonou-se a fórmula do menu único para consumir pratos à la carte, simplesmente zapeando com o controle remoto entre a multiplicidade de canais.

A invenção da web – há 25 anos – favoreceu o desenvolvimento da internet e o surgimento do que chamamos de “sociedade conectada” mediante todo tipo de links, desde o correio eletrônico até as diferentes redes sociais (Facebook, Twitter, etc.) e mensagens de texto e imagem (WhatsApp, Instagram etc.). A multiplicação das novas telas, agora nômades (computadores portáteis, tablets, smartphones) mudou totalmente as regras do jogo.

A televisão está deixando de ser progressivamente uma ferramenta de massas para se transformar em um meio de comunicação consumido individualmente através de diversas plataformas, de forma posterior e personalizada.

Essa forma de ver programas gravados se alimenta em particular dos sites de replay dos próprios canais de televisão, que permitem, via internet, um acesso não linear aos programas. Estamos presenciando o surgimento de um público que conhece os programas e as emissões, mas não conhece obrigatoriamente a grade de programação e nem sequer o canal de difusão ao qual esses programas originalmente pertencem.

A essa oferta, já muito abundante, se somam agora os canais online da Galáxia da Internet. Por exemplo, as dezenas de canais difundidos pelo YouTube, ou os sites de vídeos alugados sob demanda. Até o ponto de já não sabermos sequer  o que significa a palavra “televisão”. Reed Hastings, diretor da Netflix, o gigante norte-americano de vídeos online (com mais de 50 milhões de assinantes), declarou recentemente que “a televisão linear terá desaparecido em vinte anos porque todos os programas estarão disponíveis na internet”. É possível, mas não é certo.

Os próprios televisores também estão desaparecendo. Nos aviões da companhia aérea American Airlines, por exemplo, os passageiros da classe executiva já não dispõem de telas de televisão, nem individuais nem coletivas. Agora, cada passageiro recebe um tablet para que ele mesmo faça seu próprio programa e se instale com o dispositivo da forma como achar melhor (encostado, por exemplo). Na Norvegian Air Shuttle, se vai ainda mais longe. Não existem telas de televisão no avião, nem tampouco entregam tablets, mas o avião tem internet wifi e a empresa parte do princípio que cada passageiro leva uma tela (um computador portátil, ou tablet, ou smartphone) e que basta com que se conecte ao site da Norvegian para ver filmes, séries, programas de TV ou ler jornais (que já não são mais partilhados…).

Jeffrey Cole, professor norte-americano da UCLA, especialista em internet e redes sociais, confirma que a televisão será vista cada vez mais pela Rede. “Na sociedade conectada, a televisão sobreviverá, mas diminuirá seu protagonismo social, ao passo que as indústrias cinematográfica e musical poderiam se desvanecer”, diz.

No entanto, Jeffrey Cole é muito mais otimista do que o diretor da Netflix pois afirma que, nos próximos anos, a média de tempo dedicada à televisão passará de entre 16 a 18 horas semanais atualmente para até 60 horas, dado que a televisão, segundo Cole, “vai saindo das casas” e poderá ser vista “a todo momento” graças a qualquer dispositivo com tela, apenas se conectando à internet ou mediante a nova telefonia 5G.

Também é preciso contar com a competência das redes sociais. Segundo o último relatório do Facebook, quase 30% dos adultos norte-americanos se informam por meio do Facebook e 20% do tráfego das notícias provêm dessa rede social. Mark Zuckerberg afirmou há alguns dias que o futuro do Facebook será em vídeo: “Há cinco anos, a maior parte do conteúdo do Facebook era texto. Agora, evolui para o vídeo porque é cada vez mais fácil gravar e compartilhar”.

Por sua vez, o Twitter também está mudando de estratégia: está passando do texto ao vídeo. Em um recente encontro com os analistas de Wall Street, Dick Costolo, conselheiro do Twitter, revelou os planos do futuro próximo dessa rede social: “2015 será o ano do vídeo no Twitter”. Para os usuários mais antigos, isso tem o sabor de traição. Mas, segundo Costolo, o texto, sua essência, os célebres 140 caracteres iniciais, está perdendo importância. E o Twitter quer ser o ganhador na guerra do vídeo dos telefones portáteis.

Segundo os planos da direção do Twitter, podem-se subir vídeos do smartphone para a rede social a partir de agora, início de 2015. Passará dos escassos seis segundos atuais (possibilitados pelo aplicativo Vine) até acrescentar um vídeo tão logo quanto possível diretamente na mensagem.

O Google também quer agora difundir conteúdos visuais destinados a sua gigantesca clientela de mais de 1,3 bilhões de usuários que consomem cerca de seis bilhões de horas de vídeo por mês… Por isso, comprou o YouTube. Com mais de 130 milhões de visitantes únicos por mês nos Estados Unidos, o YouTube tem uma audiência superior à do Yahoo!. Nos EUA, os 25 principais canais online do YouTube têm mais de um milhão de visitantes únicos por semana. O YouTube capta mais jovens entre 18 e 34 anos do que qualquer outro canal norte-americano de televisão a cabo.

A aposta do Google é que o vídeo na internet vai pouco a pouco acabar com a televisão. John Farrell, diretor do YouTube na América do Sul, prevê que 75% dos conteúdos audiovisuais serão consumidos via internet em 2020.

No Canadá, por exemplo, o vídeo na internet já está a ponto de substituir a televisão como meio de consumo massivo. Segundo um estudo do instituto de pesquisa Ipsos Reid and M Consulting, “80% dos canadenses reconhecem que, cada vez mais, veem mais vídeos online na rede”, o que significa que, com tal massa crítica (80%!), aproxima-se o momento em que os canadenses verão mais vídeos e programas online do que na televisão.

Todas essas mudanças são percebidas claramente não apenas nos países ricos e desenvolvidos. Também são vistas na América Latina. Por exemplo, os resultados de um estudo realizado pela pesquisadora mexicana Ana Cristina Covarrubias (diretora da empresa Pulso Mercadológico) confirmam que a rede e o ciberespaço estão mudando aceleradamente os modelos de uso dos meios de comunicação no México – em particular, da televisão. A pesquisa trata exclusivamente dos habitantes do Distrito Federal do México e abrange grupos precisos da população: 1) jovens de 15 a 19 anos; 2) a geração anterior, pais de família entre 35 e 55 anos de idade com filhos de 15 a 19 anos. Os resultados revelam as seguintes tendências: 1) tanto no grupo dos jovens como na geração anterior, as novas tecnologias penetraram em grandes proporções: 77% possuem telefone móvel, 74% possuem computador e 21%, tablet, e 80% têm acesso à internet. 2) O uso da televisão aberta e gratuita está caindo e se situa apenas em 69%, ao passo que o da televisão paga está subindo e já alcança os 50%. 3) Por outro lado, aproximadamente a metade dos jovens que assistem televisão (29%) usam o televisor como tela para ver filmes que não estão na programação de TV: assistem DVD/Blu-ray ou Internet/Netflix. 4) O tempo de uso diário do telefone móvel é o mais alto de todos os aparelhos digitais de comunicação. O celular registra 3 horas e 45 minutos. O computador tem um tempo de uso diário de 2 horas e 16 minutos, e o tablet de 1 hora e 25 minutos; e a televisão de apenas 2 horas e 17 minutos. 5) O tempo de visita a redes sociais é de 138 minutos diários para Facebook e 137 para WhatsApp; para a televisão, é de apenas 133 minutos. Se somarmos todos os tempos de visitas a redes sociais, o tempo de exposição diária à internet é de 480 minutos, o equivalente a 8 horas diárias, ao passo que o da televisão é de apenas 133 minutos, equivalentes a 2 horas e 13 minutos. A tendência indica claramente que o tempo dedicado à televisão foi rebaixado amplamente pelo tempo dedicado às redes sociais.

A era digital e a sociedade conectada já são, portanto, realidades para vários grupos sociais na Cidade do México. E uma de suas principais consequências é o declínio da atração pela televisão, especialmente a de sinal aberto, como resultados do acesso aos novos formatos de comunicação e aos conteúdos oferecidos pelos meios digitais. O grande monopólio do entretenimento que era a televisão aberta está deixando de sê-lo para ceder espaço aos meios digitais. Quando antes um cantor popular poderia ser visto por vários milhões de telespectadores (cerca de 20 milhões na Espanha) em um programa de sábado à noite, por exemplo, agora esse mesmo cantor precisa passar por 20 canais diferentes para ser visto por cerca de 1 milhão de telespectadores.

De agora em diante, o televisor estará cada vez mais conectado à internet (é o caso da França, para 47% dos jovens entre 15 e 24 anos). O televisor se reduz a uma mera tela grande de conforto, simples extensão da web que procura os programas no ciberespaço e na Cloud (“Nuvem”). Os únicos momentos massivos de audiência ao vivo, de “sincronização social” que continuam reunindo milhões de telespectadores, serão então os noticiários em caso de atualidade nacional ou internacional de caráter espetacular (eleições, catástrofes, atentados etc.), os grandes eventos esportivos ou as finais de jogos do tipo reality show.

Tudo isso não é apenas uma mudança tecnológica. Não é só uma técnica, a digital, que substitui a outra, a analógica, ou a internet que substitui a televisão. Isso tem implicações de muitas ordens. Algumas positivas: as redes sociais, por exemplo, favorecem o intercâmbio rápido de informação, ajudam a organização dos movimentos sociais, permitem a verificação da informação, como é o caso do WikiLeaks… não restam dúvidas de que os aspectos positivos são numerosos e importantes.

Mas também é preciso considerar que o fato de a internet estar tomando o poder nas comunicações de massas significa que as grandes empresas da Galáxia da Internet – ou seja, Google, Facebook, Facebook, YouTube, Twitter, Yahoo!, Apple, Amazon etc.–, todas elas norte-americanas (o que já constitui um problema em si mesmo…), estão dominando a informação planetária. Marshall McLuhan dizia que “o meio é a mensagem”, e a questão que se coloca agora é: qual é o meio? Quando vejo um programa de TV na web, qual é o meio? A televisão ou a internet? E, em função disso, qual é a mensagem?

Sobretudo, conforme revelou Edward Snowden e como afirma Julian Assange em seu novo livro “Quando Google encontrou o WikiLeaks”, todas essas megaempresas acumulam informações sobre cada um de nós a cada vez que utilizamos a rede. Informações que são comercializadas, vendidas a outras empresas. Ou também cedidas às agências de inteligência dos EUA, em particular a Agência Nacional de Segurança, a temida NSA. Não nos esqueçamos de que uma sociedade conectada é uma sociedade vigiada, e uma sociedade vigiada é uma sociedade controlada.



*jornalista espanhol. Presidente do Conselho de Administração e diretor de redação do “Le Monde Diplomatique” em espanhol. Editorial Nº: 231. Janeiro de 2015.

Fonte: CONVERSA AFIADA
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A imprensa, a televisão, a mídia de uma maneira geral vivenciam um momento de profundas transformações.
Os grandes jornais impressos , generalistas, encolhem a cada dia e a tendência aponta que em duas décadas não mais existam.
A realidade digital, informativa ou opinativa, retrata o aqui, o agora, enquanto os jornalões impressos  se apresentam , nas bancas, com o passado, a batalha do dia anterior.
Em tempos midiáticos, até mesmo um ataque terrorista é transmitido ao vivo, para todo o mundo, como foi o  segundo ataque às torres gêmeas.
Os impressos, revistas e jornais, em um futuro próximo sobreviverão apenas em nichos específicos. 
Jornais impressos  como globo, folha e estado estão com os dias contados e a sobrevivência da marca não significa a inclusão no meio digital. 
O percentual de rejeição de um simples transplante é alto.
Um novo modelo deve surgir naturalmente, uma vez que através das novas tecnologias de informação e comunicação o consumidor de informação não mais tem o contato físico com o conteúdo, o toque no papel, o intervalo para reflexão com o jornal sobre o corpo.
Para os mais antigos isso pode representar um baque terrível, uma perda de indentidade, uma fluidez, uma ausência de realidade em função da inexistência de algo físico. 
De início tem-se a sensação de que a informação não tem conteúdo, é virtual, flutua ou outra sensação parecida. 
Consome-se informação durante atividades físicas, no trabalho , caminhado  e sabe-se lá onde mais.
A nova informação, que se impõe, deve ser objetiva, profunda e de rápida assimilação. 
Uma tarefa dificílima para os  jornalistas atuais, quase todos enquadrados pelos patrões.
O consumidor passivo é uma espécie em extinção, apenas os jurássicos, saudosistas e nostálgicos ainda resistem.
De fato, é uma mudança de grandes proporções, e como mudanças sempre são complexas, mais difícil ainda vivenciá-las e entendê-las  durante o processo em que ocorrem.
Isto dito, não deve-se estranhar que um copo vazio pode para alguns estar cheio de ar e  para outros simplesmente vazio.
Minha iniciação no jornalismo digital  foi uma tentativa de ler meu jornal preferido na época, o Jornal do Brasil, na internet. Isso aconteceu na metade da década de 1990. 
Em lugar de ler o jornal na tela do computador, resolvi imprimir todo o jornal para em seguida ler os conteúdos.
Foi horrível. 

Não me identifiquei com o papel, com o tamanho e a textura  das folhas, com o simples virar de página. 

Tive a sensação de estar lendo algo diferente daquilo que lia todos os dias. 

Naquele momento descobri que uma profunda mudança estaria em curso e o velho JB, que senti em minhas mãos diariamente por décadas, a partir daquele dia deixou de existir.
Depois da experiência horrível, passei a ler o JB diretamente na tela do computador e logo percebi que meu paradigma de consumidor de informação tinha mudado.
Mudaram a maneira de consumir a informação, a sequência na busca dos assuntos , e principalmente,  a possibilidade de criar o meu "Jornal do Brasil", lendo textos e artigos de outras fontes, de outros sites, ou simplesmente opiniões interessantes produzidas por pessoas interessantes. 
Com o convívio na rede, também passei a produzir conteúdos, que são lidos por outras pessoas, fazem parte de seus jornais.
Naqueles anos a internete engatinhava no Brasil. 

Hoje, passados em torno de vinte anos, uma nova legião de pessoas busca informação e produz informação através da web, sendo que muitos nasceram e cresceram já no ambiente digital. 
Impossível imaginá-los a frente de um aparelho de TV ou lendo o globo, por exemplo.
Os impressos do passado são peças de ficção, românticos. 

No entanto ,os jornalistas, ainda comportam-se como abutres, como no filme The Front Page, A Primeira Página, em português.
A internet colocou a imprensa nua. 

As mentiras e manipulações do editor do filme acima citado, tão comuns ainda nos dias atuais, não resistem por mais de algumas horas, talvez minutos. 
O tempo dos impressos generalistas passou.
No entanto os jornalistas continuam, vivos, não muito diferentes dos abutres da Primeira Página, e com rigorosos limites ideológicos impostos pelos seus patrões.
Dos impressos , passamos para a televisão.
Outra mídia que debate-se contra a realidade é a televisão, principalmente a TV aberta.
Já se foi o tempo de fidelidade a uma emissora de TV, uma grade específica. 
Como bem citado no artigo de Ramonet, a mudança começou com a invenção do controle remoto, algo em torno de 30 anos aqui no Brasil. 

Imagine , caro e jovem leitor, a televisão sem o controle remoto. 

As famílias confortavelmente largadas no sofá, distantes relativamente do aparelho de TV, assistindo de tudo , por horas , em uma mesma emissora . 
De jornalismo, passando por dramalhões de novelas, seguindo pelo humor  e terminando com mortes e coisas explodindo. 
Como não se trocava de emissora, por comodidade e passividade extrema, as famílias vivenciavam o ursinho que nasceu no zoológico - jornalismo - as lágrimas forçadas dos artistas de TV -  dramalhões de novelas - os mesmo personagens dos humoristas - programas de humor - e mortes, muitas mortes com filmes de muita ação onde cidades inteiras voam pelos ares.
A partir da década de 1990, com a chegada da internete,  a televisão foi perdendo força, espaço e principalmente audiência, o que significa menos dinheiro.
O poder da televisão em formatar consciências é imenso, no entanto não tem sido mais capaz de conduzir a opinião pública, uma vez que os conteúdos de TV são assuntos discutidos  diariamente nos sites e redes sociais. 
A alucinada e obsessiva campanha conduzida pelas emissoras de TV privadas , aqui no Brasil, para impedir mais uma vitória  do PT nas eleições passadas , não foi suficiente para  alterar a opinião do eleitor, assim como as denúncias atacando o governo Dilma via Petrobras, não foram suficientes para diminuir a aprovação do governo Dilma, ao contrário, a popularidade da presidenta subiu.
Estaria a TV aberta, principalmente, perdendo sua capacidade de influenciar diretamente a população de acordo com  seus interesses econômicos e políticos, como fazia com facilidade no passado ?
Certamente que sim, e isso se deve as novas tecnologias de informação e comunicação, uma vez que os consumidores de informação atualmente também são produtores de conteúdos, e as trocas são infinitas nas redes sociais. 

Cabe lembar, ainda, que os usuários das redes sociais , em sua maioria, não tem nenhuma afinidade com os conteúdos das grades das emissoras de TV abertas, ao contrário, são críticos de tais conteúdos e as informações e opiniões circulam entre todos , de forma rápida e objetiva , nas prórpias redes.
Da mudança do paradigma dos jornais impressos, a TV aberta também vivencia uma mudança de paradigma, e os números produzidos pelos institutos de pesquisa de opinião atestam que a queda de audiência da TV vem por mais de uma década.
O papel de mediador de informação, exercido pela imprensa  e TV, vem se diluindo com o surgimento das redes sociais , sites e portais de informação.
O poder de produzir informações e opiniões estaria ganhado outras e outras tantas mãos ?
Certamente que sim e esse tem sido o grande pesadelo para os detentores da informação.
E nesse ambiente de transformações, se inicia , ou se pretende iniciar, discussões e debates sobre o novo marco regulatório para os meios de comunicação, de maneira  a democratizar a informação e concessão de emissoras de rádio e de TV .
Lendo artigo do OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA, de hoje, de autoria do jornalista Alberto Dines, é colocada a questão de como promover um debate sobre a regulamentação dos meios de comunicação, se os próprios meios não permitem que o debate se desenvolva.
A colocação do jornalista procede, porém percebe-se que o nobre decano ainda lê jornalão  impresso, uma vez que debates , discussões acontecem a revelia da velha mídia, caso contrário a presidenta Dilma não teria vencido as eleições.
Na mesma edição do OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA, outro artigo , de autoria de Luciano Martins, coloca que se toda a velha mídia não deseja o debate sobre a regulamentação isso já é um sinal importante para que a regulamentação aconteça, pois a regulamentação visa ampliar a diversidade, que como o caro leitor percebe, não existe na velha mídia.
No mesmo site, observando a imprensa, um vê o copo vazio e outro vê o copo cheio de ar.
Isso é diversidade, é o que se deseja no espectro midiático brasileiro.

Ignorar a realidade das tecnologias de informação e comunicação é coisa de gente ultrapassada, velha de idéias.