sábado, 6 de agosto de 2016

Alguém precisa apertar o botão



Não dá para ficar indiferente diante do belíssimo espetáculo que foi a cerimônia de abertura dos jogos no bom e velho Maraca.

Maraca que em seus 66 anos já presenciou duas copas do mundo de futebol, copa América, copa das Confederações, mundial de clubes de futebol, milésimo gol de Pelé, jogos pan americanos e shows, como Frank Sinatra, Rolling Stones, Paul McCartney e outros não menos importantes.

Também teve o maior público de uma partida de voleibol, entre Brasil e URSS.

E ontem lá estava o Maraca na cerimônia de abertura dos jogos olímpicos da cidade do Rio de Janeiro.

Os dias que antecederam o show de abertura foram marcados por preocupações. críticas e até mesmo declarações sobre a incapacidade e impossibilidade do Rio de Janeiro em organizar um evento de tamanha envergadura.

Tudo por causa de atrasos no cronograma, problemas com as instalações, trânsito caótico na cidade, etc...

As críticas procedem e o carioca conhece muito bem os problemas da cidade maravilha olímpica.

No entanto, para as pessoas não iniciadas na cultura carioca, os problemas pré-início dos jogos certamente iriam aparecer logo na cerimônia de abertura, uma dedução aparentemente natural e lógica. No entanto, o Rio de Janeiro tem uma lógica específica, que foge aos padrões ditos normais, mas que funciona.

E quem melhor definiu, em parte, a lógica carioca para grandes eventos foi o jornal britânico The Telegraph:

"a energia do público foi o que chamou mais a atenção. “É como se alguém tivesse apertado o botão e ligado as pessoas. De repente, tudo é esplêndido”.

E de fato, sem gambiarras e sem improvisações, mas com muito talento e muita criatividade, o show de abertura revelou , em grande parte, a capacidade de um povo.

Entender os processos de planejamento, organização e criatividade do carioca, não é para neófitos. Muitos tentam defini-los como gambiarra, jeitinho, improvisação, no entanto, na realidade e na prática, são processos altamente sofisticados, não lineares, tal qual uma teia, que por muito tempo parece estagnada , inacabada e que "de repente" surge pronta, bela, esplendorosa. Talvez essa característica seja fruto de mistura de raças, povos e culturas em que o brasileiro foi forjado.

Para o carioca, a olimpíada será, apenas, mais uma festa com a presença marcante de um símbolo da cidade, um templo, o bom e velho Maraca.

Assim como acontece em festas e grandes eventos, na política não é muito diferente.

Até os dias atuais, passados três anos, estudiosos e pesquisadores ainda não entenderam corretamente o que teria motivado as manifestações políticas de 2013, onde 1 milhão de pessoas, sem qualquer convocação por parte de partidos políticos , movimentos sociais, sindicatos ou emissoras de TV, caminharam em protesto pelas ruas da cidade maravilha.

"De repente" tudo muda, tudo é esplêndido, tudo se move.

Durante meses toda a mídia alternativa - local onde este blog se inclui - , com seus blogs, sites, jornais e revistas, tem alertado a população brasileira sobre o golpe de estado que acontece no Brasil e que levará o país à um retrocesso, talvez, sem precedentes na história.

Com a grande mídia apoiando abertamente o golpe, grande parcela da população brasileira desconhece a realidade do golpe em curso, no entanto, a maioria rejeita o presidente golpista, como se constatou ontem com a vaia olímpica que o usurpador recebeu da plateia no Maraca.

Para impedir um golpe onde Congresso, Judiciário e grandes meios de comunicação dominam ações e narrativas pró-golpe, somente o povo nas ruas, em grandes manifestações como em 2013, poderá reverter o violento processo anti-democracia em curso no país.

Pensando assim, a mídia alternativa trabalha diariamente com o objetivo de alertar a população, e, assim sendo, conseguir que o povo se conscientize e, em grandes manifestações consiga barrar o golpe, o estupro da democracia.

No entanto, mais uma vez, " o incompreensível" se manifesta, pois mesmo rejeitando o presidente golpista em exercício, o povo, ainda, prefiro assim acreditar, não resolveu expulsá-lo do Poder.

Talvez, conforme The Telegraph, alguém ainda não ligou o botão, ou, a teia ainda esteja em construção.

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