sábado, 5 de novembro de 2016


Armas e luta

Há um cheiro de 1964 no ar

Hildegard Angel: “É meu dever dizer aos jovens o que é um golpe de estado

Postado em 05 Nov 2016
por : Kiko Nogueira


De Hildegard Angel, em seu blog.

Há cheiro de 1964 no ar. Não apenas no Brasil, mas também nas vizinhanças. Acho então que é chegada a hora de dar o meu depoimento.

Dizer a vocês, jovens de 20, 30, 40 anos de meu Brasil, o que é de fato uma ditadura.

Se a Ditadura Militar tivesse sido contada na escola, como são a Inconfidência Mineira e outros episódios pontuais de usurpação da liberdade em nosso país, eu não estaria me vendo hoje obrigada a passar sal em minhas tão raladas feridas, que jamais pararam de sangrar.

Fazer as feridas sangrarem é obrigação de cada um dos que sofreram naquele período e ainda têm voz para falar.

Alguns já se calaram para sempre. Outros, agora se calam por vontade própria. Terceiros, por cansaço. Muitos, por desânimo. O coração tem razões…

Eu falo e eu choro e eu me sinto um bagaço. Talvez porque a minha consciência do sofrimento tenha pegado meio no tranco, como se eu vivesse durante um certo tempo assim catatônica, sem prestar atenção, caminhando como cabra cega num cenário de terror e desolação, apalpando o ar, me guiando pela brisa. E quando, finalmente, caiu-me a venda, só vi o vazio de minha própria cegueira.

Meu irmão, meu irmão, onde estás? Sequer o corpo jamais tivemos.

Outro dia, jantei com um casal de leais companheiros dele. Bronzeados, risonhos, felizes. Quando falei do sofrimento que passávamos em casa, na expectativa de saber se Tuti estaria morto ou vivo, se havia corpo ou não, ouvi: “Ah, mas se soubessem como éramos felizes… Dormíamos de mãos dadas e com o revólver ao lado, e éramos completamente felizes”. E se olharam, um ao outro, completamente felizes.

Ah, meu deus, e como nós, as famílias dos que morreram, éramos e somos completamente infelizes!

A ditadura militar aboletou-se no Brasil, assentada sobre um colchão de mentiras ardilosamente costuradas para iludir a boa fé de uma classe média desinformada, aterrorizada por perversa lavagem cerebral da mídia, que antevia uma “invasão vermelha”, quando o que, de fato, hoje se sabe, navegava célere em nossa direção, era uma frota americana.

Deu-se o golpe! Os jovens universitários liberais e de esquerda não precisavam de motivação mais convincente para reagir. Como armas, tinham sua ideologia, os argumentos, os livros. Foram afugentados do mundo acadêmico, proibidos de estudar, de frequentar as escolas, o saber entrou para o índex nacional engendrado pela prepotência.

As pessoas tinham as casas invadidas, gavetas reviradas, papéis e livros confiscados. Pessoas eram levadas na calada da noite ou sob o sol brilhante, aos olhos da vizinhança, sem explicações nem motivo, bastava uma denúncia, sabe-se lá por que razão ou partindo de quem, muitas para nunca mais serem vistas ou sabidas. Ou mesmo eram mortas à luz do dia. Ra-ta-ta-ta-tá e pronto.

E todos se calavam. A grande escuridão do Brasil. Assim são as ditaduras. Hoje ouvimos falar dos horrores praticados na Coreia do Norte. Aqui não foi muito diferente. O medo era igual. O obscurantismo igual. As torturas iguais. A hipocrisia idêntica. A aceitação da sobrevivência. Ame-me ou deixe-me. O dedurismo. Tudo igual. Em número menor de indivíduos massacrados, mas a mesma consistência de terror, a mesma impotência.

Falam na corrupção dos dias de hoje. Esquecem-se de falar nas de ontem. Quando cochichavam sobre “as malas do Golbery” ou “as comissões das turbinas”, “as compras de armamento”. Falavam, falavam, mas nada se apurava, nada se publicava, nada se confirmava, pois não havia CPI, não havia um Congresso de verdade, uma imprensa de verdade, uma Justiça de verdade, um país de verdade.

E qualquer empresa, grande, média ou mínima, para conseguir se manter, precisava obrigatoriamente ter na diretoria um militar. De qualquer patente. Para impor respeito, abrir portas, estar imune a perseguições. Se isso não é um tipo de aparelhamento, o que é, então? Um Brasil de mentirinha, ao som da trilha sonora ufanista de Miguel Gustavo.

Minha família se dilacerou. Meu irmão torturado, morto, corpo não sabido. Minha mãe assassinada, numa pantomima de acidente, só desmascarada 22 anos depois, pelo empenho do ministro José Gregori, com a instalação da Comissão dos Mortos e Desaparecidos Políticos no governo Fernando Henrique Cardoso.

Meu pai, quatro infartos e a decepção de saber que ele, estrangeiro, que dedicou vida, esforço e economias a manter um orfanato em Minas, criando 50 meninos brasileiros e lhes dando ofício, via o Brasil roubar-lhe o primogênito, Stuart Edgar, somando no nome homenagens aos seus pai e irmão, ambos pastores protestantes americanos – o irmão, assassinado por membro louco da Ku Klux Klan. Tragédia que se repetia.

Minha irmã, enviada repentinamente para estudar nos Estados Unidos, quando minha mãe teve a informação de que sua sala de aula, no curso de Ciências Sociais, na PUC, seria invadida pelos militares, e foi, e os alunos seriam presos, e foram. Até hoje, ela vive no exterior.

Barata tonta, fiquei por aí, vagando feito mariposa, em volta da fosforescência da luz magnífica de minha profissão de colunista social, que só me somou aplausos e muitos queridos amigos, mas também uma insolente incompreensão de quem se arbitrou o insano direito de me julgar por ter sobrevivido.

Outra morte dolorida foi a da atriz, minha verdadeira e apaixonada vocação, que, logo após o assassinato de minha mãe, precisei abdicar de ser, apesar de me ter preparado desde a infância para tal e já ter então alcançado o espaço próprio. Intuitivamente, sabia que prosseguir significaria uma contagem regressiva para meu próprio fim.

Hoje, vivo catando os retalhos daquele passado, como acumuladora, sem espaço para tantos papéis, vestidos, rabiscos, memórias, tentando me entender, encontrar, reencontrar e viver apesar de tudo, e promover nessa plantação tosca de sofrimentos uma bela colheita: lembrar os meus mártires e tudo de bom e de belo que fizeram pelo meu país, quer na moda, na arte, na política, nos exemplos deixados, na História, através do maior número de ações produtivas, efetivas e criativas que eu consiga multiplicar.

E ainda há quem me pergunte em quê a Ditadura Militar modificou minha vida!

Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
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Há um forte cheiro de 1964 no ar. E mais, um odor insuportável de dezembro de 1968.

Um golpe derruba um governo legítimo e lideranças populares são perseguidas ferozmente, criminalizadas e presas.

Polícia invade escola do MST, atirando em pessoas indefesas e desarmadas. Amanhã farão o mesmo em sindicatos, contra movimentos sociais, estudantes e qualquer pessoa que se manifeste contrária ao regime que avança.

Esse passado, que não foi devidamente passado a limpo, ameaça voltar; agora com capas pretas no lugar de tanques, travestido de legalidade por um processo moralizante e civilizatório, ancorado por uma ditadura da narrativa.


Site do Globo ,00:18/05/11/2016 :'de acordo com a direção dos sem-terra, operação teria invadido a ENFF'. 
Teria?  Há filmes, relatos, fotos, feridos... (nota do PAPIRO:  para outras coisas, mesmo sem nenhuma prova, globo tem convicção )
Fonte: CARTA MAIOR

Sobre esse passado o PAPIRO produziu e publicou em abril de 2012 o texto abaixo:

Rio Zona Norte - 2
O Aparelho do Lins de Vasconcelos

20.04.2012

A hora para passar a limpo o passado é agora, no governo Dilma, com a Comissão da Verdade.

Nas sangrentas batalhas travadas pela oposição conservadora e os movimentos sociais, o conhecimento sobre a verdadeira história do período da ditadura militar no Brasil parece que não mais aceita adiamentos. Em diferentes países a verdade foi passada a limpo, com punições ou não, a história seguiu.

Na África do Sul, que viveu, talvez, o mais brutal e bestial regime de segregação racial, com milhares de mortos, a transição para a democracia não permitiu dissimulações ou falsas anistias. A Comissão da verdade, brilhantemente dirigida pelo nobelista pela paz Desmond Tutu, colocou frente a frente os dois lados da disputa. O processo foi doloroso, fazendo com que Tutu fosse às lágrimas por diversas vezes, diante das declarações. Assassinos e familiares dos mortos, independente das cores e do lado, falavam de suas angústias, tristezas e sofrimentos, por conta dos anos de luta. O processo foi fundamental para que o país conhecesse sua história, valorizasse seu passado, e pudesse olhar com firmeza para o futuro. A África do Sul, independente dos sérios problemas ainda a resolver, ficou conhecida como o país de todas as cores, lugar onde a ignorância e a estupidez, tiveram como resposta a civilidade e o diálogo.

Na América do Sul, que sofreu com a barbárie de ditaduras, diversos países trouxeram a tona a verdade sobre os anos em que o sol não brilhou, exatamente na região do Império do Sol.
Em alguns países, os ditadores foram julgados, condenados e cumprem penas por seus crimes. Em outros, a verdade pode ser conhecida, com anistia para todos os lados. O importante, em todos os casos, foi a restauração da ordem democrática, a remoção do entulho autoritário dos poderes e, principalmente, a verdade, condições essenciais para evolução de uma nação.

Nesse contexto, me veem lembranças do ano de 1973.
Naqueles já distantes anos, onde corujas e pirilampos bailavam entre sacis e fadas com os Secos&Molhados, Raul Seixas não sentava no trono de seu apartamento com a boca cheia de dentes esperando a morte chegar e os Novos Baianos enlouqueciam a ditadura e sua patética censura, conheci Lucas.
De um dia para o outro, Lucas, que fora amigo na faculdade, sumiu.

Décadas depois nos reencontramos e pude conhecer um pouco de sua história.

Lucas militava em uma organização contra o regime militar.
Na faculdade era de poucas palavras, mesmo porque qualquer conversa com mais de três pessoas podia ser vista como conspiração comunista.
Seu grupo de ação alugou uma casa que servia de encontro , no pacato bairro do Lins de Vasconcelos, zona norte da cidade do Rio de Janeiro.

O Lins era um bairro estratégico para o funcionamento de aparelhos. Sem ser um bairro de passagem, com pouco movimento, residencial  e com casas com cadeiras na calçada e na fachada escrito que é uma lar, tinha saídas para o subúrbio pelo alto Méier, para o centro pelo Engenho Novo e para a zona oeste, pela estrada Grajaú - Jacarepaguá.

O aparelho que Lucas frequentava ficava numa dessas ruas tranquilas, entretanto eles jamais poderiam imaginar, que na casa em frente morava um jornalista, que trabalhava para a ditadura como torturador. A rua, como em todo bairro da zona norte , tinha seus personagens.

Seu Pinto era um deles. Aposentado, vivia com sua mulher, Dona Walquíria em uma casa próxima. Sujeito de pouca instrução, mas de grande astúcia e ótimo observador. Passava a maior parte dos dias sentado em uma cadeira na porta de sua casa, ora lendo jornais, ora bebendo cachaça.

Na casa em frente a de Lucas, vivia Silvério, o jornalista torturador, casado com Juliana. Tinham um filho, Pedro. Silvério não despertava suspeitas -  menos para Seu Pinto, claro - por ser um sujeito família que frequentava as missas aos domingos na igreja do bairro. Tinha uma rotina, que para Seu Pinto era estranha. Saía de casa as 5 horas da manhã, todos os dias, voltava por volta das 10 horas, saía novamente por volta das 17 horas e voltava às 21 horas. As vezes ficava o dia todo fora de casa. Era um sujeito alto, de olhos claros, com uma aparência saturniana.

No aparelho viviam diariamente Paulo e Vera.
Simulavam um casal recém casado, tinham em torno de 25 anos e para evitar fofocas , também frequentavam a missa aos domingos, mesmo sendo marxistas de carteirinha. Tinham uma caminhonete DKW, um pouco surrada, carro típico de aparelho. Não tinham uma rotina fixa, raramente recebiam visitas que pudessem ser vistas pelos vizinhos.
Mesmo assim, Seu Pinto desconfiava deles.
Para os encontros e reuniões, que aconteciam com frequência, Paulo e Vera traziam as pessoas escondidas na caminhonete, sendo que muitos, ficavam , as vezes, semanas na casa, sem sair a rua ou aparecer para a vizinhança. Quando iam embora, também saim escondidos no carro.

Seu Pinto achava que Vera tinha uma expressão de medo constante, e achava que ali tinha coisa.

Acontece , que em um determinado dia, Igor,  que vivia no aparelho e entrava escondido no carro, pelo vidro da janela avistou Silvério saindo de casa. Levou um susto tremendo, pois reconheceu Silvério como seu torturador.

Certa vez, Igor que caminhava pela Avenida Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro, onde estava estudando a rotina do Banco Irmãos Guimarães na esquina da Rua da Alfândega para uma ação de expropriação, foi agarrado e jogado em um carro. Foi levado para uma órgão de informação das forças armadas, nas proximidades da Praça XV. Ficou no local por oito horas , onde foi interrogado, torturado e mandado embora, por atitude suspeita. No interrogatório estava presente Silvério, que além de trabalhar em um grande conglomerado de mídia carioca como jornalista, também colaborava como torturador para o regime, assim como os donos do conglomerado midiático. Igor levou vários choques elétricos nos órgãos genitais, e diversos telefones, fazendo ficar sem audição por umas três semanas. Aguentou firme, não falou nada e teve sorte de ter sido dispensado.

Quando Igor avistou Silvério na casa em frente avisou rápido os demais companheiros do perigo que aquela figura representava.

Depois de alguns dias de discussões, resolveram que o melhor seria matar Silvério, decisão que aumentou ainda mais o pânico de Vera.

Vizinho ao aparelho existia uma vila residencial, com saída para uma outra rua. Resolveram que iriam matar Silvério, tarefa destinada a Carlão, que simularia uma fuga pela vila mas pularia o muro para dentro do aparelho.
E assim aconteceu. 

Em um dia, às cinco horas da manhã, Silvério levou um tiro certeiro na nuca e caiu. Carlão simulou a fuga e pulou para o aparelho, que naquele dia tinha apenas Paulo e Vera. O tumulto tomou conta da rua. Seu Pinto sabia que ali tinha coisa e grudou os olhos na polícia. Ninguém viu nada. No meio da perícia e de toda aquela gente, Paulo e Vera saíram de casa tranquilamente de carro, com Carlão escondido.

Passados alguns meses da morte de Silvério , o tempo fechou para os frequentadores do aparelho.

Em um tranquilo e melancólico domingo de zona norte, o aparelho foi cercado por "policiais" sem farda. O tiroteio foi intenso e os quatro que estavam dentro de casa resolveram se render, Paulo, Vera, Igor e Carlão.
Lucas , por sorte escapou. Tido como romântico pelos seus amigos de guerrilha, tinha se apaixonado por uma menina hippye, filha de um Almirante de linha dura membro da TFP e diretor do Lyons Club, e fora a um encontro com ela na Quinta da Boa Vista.
Logo em seguida, quando soube que a casa estava crivada de balas e os amigos presos, Lucas saiu do país, pois sabia que estava na mira.

Passadas quatro décadas daquele domingo no bairro do Lins de Vasconcelos, na zona norte do Rio de Janeiro, não se sabe o paradeiro de Paulo, Vera, Igor e Carlão.
Seus familiares tentam , até hoje, saber a verdade sobre o que aconteceu para que possam viver em paz, enterrar seus mortos, ou o que restou de seus corpos. O país precisa dessa verdade para limpar seu entulho autoritário que persiste ainda.

Lucas voltou depois do final da ditadura, mora na região serrana do Rio e é professor, foi salvo pela paixão.

Juliana, viúva de Silvério, o torturador assassinado, se agarrou a religião, frequentava a igreja do bairro todos os dias e acabou se apaixonando pelo padre, com quem se casou e tiveram cinco filhos.

Seu Pinto teve um fim trágico. Sentado na porta de sua casa viu duas pessoas na sua frente iniciar uma discussão que acabou em briga. Um dos envolvidos, viciado em corridas de cavalos, portava um grande binóculo que atirou no outro mas acabou acertando Seu Pinto. O impacto casou um ferimento na testa que evoluiu para uma septicemia, levando o aposentado a morte.

Impedir o pacote e expulsar o governador do cargo

Pacotão anticrise soou mal nas ruas do Rio

Moradores da Ilha de Paquetá reprovam a volta da cobrança de passagem. Trabalhadores temem pela mudança no Bilhete Único

05/11/2016 11:09:43

Rio - As medidas do pacote de reajuste das contas do governo do estado vão pesar bastante no bolso do trabalhador, principalmente, os reajustes no transporte, os corte de benefícios sociais e o aumento de impostos, como o ICMS.

A gratuidade da tarifa aquaviária para moradores de Ilha Grande e Paquetá acaba esse ano. A passagem passa a valer R$ 2,80 a partir de 1º de janeiro de 2017 para quem mora nas ilhas.

Moradora de Paquetá há dois anos, Margarete Silva Pinto, 50 anos, tem a gratuidade e vai ao Rio pelo menos duas vezes na semana para ifazer compras. Com a novidade ela diz que vai ter que reajustar as contas da casa.

"Também vou a médicos no Rio e meu marido, que trabalha em São Gonçalo e já paga duas passagens, vai ter que pagar mais uma. A gente não pode arcar com essa dívida pelo estado”, 
disse a dona de casa.
Bilhete Único passa de R$ 6,50 para R$ 7,50 e o subsídio para cada usuário é limitado a até R$ 150Estefan Radovicz / Agência O Dia

Já o ICMS de alguns produtos e serviços, como a conta de luz e de telefone e produtos como cigarro e cerveja, vai aumentar.

Para a produtora cultural, Andrea Arruda, 48, que mora em Niterói com o marido e quatro filhos, o orçamento da família vai ficar mais apertado. Ela diz que as despesas de luz e transporte são grandes e aumentar o ICMS a essa altura é uma crueldade.

“O verão está chegando esse aumento é um absurdo. Um dos meus filhos estuda no Rio e a passagem já é cara, não sei como vai ser agora. Tem gente deixando de comer para pagar conta. Pagamos impostos e não temos serviços públicos de qualidade. Me sinto explorada pelo governo”, comenta.

Para quem é usuário do Bilhete Único, o reajuste vai ser de 15%, o que passa a tarifa de R$ 6,50 para R$ 7,50. Trabalhadores temem que a medida dificulte a contratação de quem mora em outra cidade por empresas e casas de família. “Minha patroa me paga com dificuldade. Com o aumento da passagem, temo ser dispensada. A situação atualmente já está difícil. Agora, então, tende a piorar ainda mais”, lamenta Laurete Nascimento.

Aluguel Social acaba em junho e desespera beneficiária

Beneficiária do Aluguel Social, Turia de Souza, de 61 anos, mora atualmente sozinha em um quarto na comunidade de Manguinhos. “É o que dá para pagar com R$ 400. Se tirarem o aluguel eu não tenho pra onde ir, o jeito vai ser ir pra rua, mas lá a gente não sabe se acorda vivo. Vou é bater na porta da prefeitura e eles vão ter que me ajudar. Tenho 61 anos, como vou viver na rua?”, questiona.

Dona Turia faz curso gratuito de artesanato e quer fazer corte e costura para ajudar na renda. “Sei fazer muita coisa. A gente não pode é desistir”, diz.

Ato na Alerj marca o dia de medidas

Mesmo debaixo de forte chuva na tarde de ontem, servidores públicos de áreas da Saúde, Educação e Segurança Pública, entre outras, se organizaram em ato em frente à Alerj. O encontro marcava o primeiro dia de reação dos servidores contra o pacote de medidas anunciado pelo governo do estado.

Gritos de ‘Impeachment’ para governador Pezão e ‘Não vamos aceitar a redução salarial’ eram ouvidos durante as falas dos sindicalistas. Representante do Sepe, Marta Moraes diz que a categoria está indignada e não vai ficar de braços cruzados. “Estão retirando nossos direitos e de toda a população”, disse.

Fonte: O DIA
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PMDB faz no Rio o que fará no Brasil
Destruir o Estado para entregar aos bancos

publicado 04/11/2016


Reprodução: O Globo

Os programas sociais serão as primeiras vítimas (assim como o Gilmar e o Temer ainda conseguirão fechar o Bolsa Família).

O PMDB (no Rio) vai fechar imediatamente o Restaurante Popular, o Renda Melhor e o Aluguel Social.

O PMDB é assim, quando chega ao Governo: danem-se os pobres.

Breve o Brasil ficará como a Europa, como Paris: será um grande acampamento de pobres foragidos - pobres que fogem do PMDB.

Fonte: CONVERSA AFIADA
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O governo do PMDB do Rio de Janeiro, mesmo partido do governo do golpe, anunciou um pacote de medidas para conter a crise.

Um pacote repleto de maldades que irá atingir pobres , trabalhadores e grande parcela da classe média, que, segundo o governo estadual, deverão pagar a conta.


Os  ricos e semi-ricos, que se beneficiaram com isenção de impostos aplicadas por esse mesmo governo, ficaram de fora. Ganharam mas não vão pagar nada.

Quem paga é povo. Na hora de dividir a riqueza, o bolo fica apenas entre os ricos. Na hora de dividir os prejuízos, o povo é que paga a conta. Concentra-se a riqueza e socializa-se a pobreza.

Se estivéssemos na Argentina certamente o povo se unia, saia às ruas, faria o maior barulho e ainda expulsava os governantes de seus cargos.

Que tal fazer o mesmo por aqui, exercitando a cidadania através da democracia participativa direta e reta ?









sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Estado de exceção e barbárie

Silencio dos liberais diante da escalada do regime de força no país, coloca a sobrevivência da democracia nas mãos da frente ampla e da rua.
Golpe anistia remessas de fortunas ao exterior e acusa o MST de 'organização criminosa'.
Prisões no Paraná são tentativa de criminalizar lideranças, afirma MST. 


Ensaios para teste: 
MST é alvo de violência policial em três estados, PR, SP e MS. Milícias fardadas acusam o movimento de 'organização criminosa'

Fonte: CARTA MAIOR
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Polícia invade escola do MST; uma pessoa fica ferida

Mesmo sem mandado de busca e apreensão, policiais dispararam contra as pessoas na recepção

Redação
Brasil de Fato | São Paulo (SP), 04 de Novembro de 2016 às 11:06

Policiais invadiram a escola e atiraram seguidas vezes na recepção da Escola Nacional Florestan Fernandes / Reprodução/ MST

Na manhã desta sexta-feira (4), a policiais civis de Mogi das Cruzes e Guararema invadiram a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema (SP). Mesmo sem mandado de busca e apreensão, policiais dispararam contra as pessoas na recepção da unidade e prenderam dois militantes. Segundo relatos, o cerco é feito por 10 viaturas e os policiais não estão identificados.

Os policiais chegaram na escola por volta das 09h25, cercaram o local e pularam a janela da recepção dando tiros para o ar. Os estilhaços, que acertaram uma mulher, eram de balas letais e não de borracha.



“É um abuso de autoridade, uma violência desnecessária, ilegal”, afirmou Giane Alves, advogada do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Segundo Giane, os policiais não informam o motivo da invasão. “Desconfiamos que esteja relacionado com operações que estão acontecendo do Paraná. Mas não sabemos quem eles estão procurando”, disse.

Em nota publicada no site, o MST disse “repudiar” a ação da Polícia de São Paulo e “exige que o governo tome as medidas cabíveis nesse processo. Somos um Movimento que luta pela democratização do acesso a terra no país e não uma organização criminosa”, disse.

Segundo a Delegacia da Polícia Civil de Guararema, a operação visava cumprir um mandado de prisão. Segundo a corporação, eles dispararam um tiro de munição antimotim para proteção, depois que 200 pessoas que estavam no local causaram "confusão e tumulto" contra eles. Ainda segundo a Delegacia, os quatro policiais civis foram feridos durante a ação e encaminhados para a Santa Casa.

Em contato com a reportagem do Brasil de Fato, a Santa Casa não confirmou a entrada de policias no hospital.

Edição: Simone Freire

Fonte: BRASIL DE FATO
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Silêncio da mídia no caso da invasão da escola do MST tem nome e sobrenome

4 de novembro de 2016

Não é só impressionante como revelador o silêncio de todos os portais, TVs, rádios e quetais do que se convencionou chamar de mídia golpista acerca da invasão da Escola Florestan Fernandes, do MST.

O silêncio é tanto conivente quanto envergonhado. Afinal, não há como tratar do assunto sem dizer que todos os direitos foram violados nesta invasão.


Os policiais não tinham mandado de busca e apreensão e chegaram atirando, como se pode ver em vários vídeos e fotos circulando nas redes e mesmo em matérias desta Fórum.

No local, como também se pode perceber, não havia nenhum militante portanto qualquer objeto que pudesse ser utilizado como arma de resistência.

Ou seja, não há a menor justificativa para a ação.

Mas não é só isso que fez com que esse fato não se tornasse notícia. Há um sujeito oculto por trás deste silêncio ensurdecedor.

Funciona mais ou menos assim.

O inocente repórter deve ter dito ao chefe, parece que teve um rolo lá na escola do MST e a polícia está no local.

O editor esperto provavelmente deslocou equipe para o local.

O inocente repórter voltou todo empolgado com a matéria. Mas ao relatar o que aconteceu, não convenceu.

O editor esperto queria os porquês, o que motivou aquela ação.

O inocente repórter não tinha o que dizer sobre isso.

O editor esperto passou a bola pra frente.

E lá de cima veio o recado.

Deixa essa história pra lá, porque o super chefe queria silêncio sobre o caso.

Mas quem é o super chefe, perguntou o inocente repórter.

O editor esperto respondeu: isso não é problema nosso.

E assim um certo sujeito que manda e desmanda na mídia paulista e que indicou o ministro da Justiça vai fazendo a lei ao seu gosto e sabor.

Isso mesmo, amigos. O silêncio da mídia no caso da invasão da Escola do MST tem nome e sobrenome: Geraldo Alckmin.

O resto é história pra boi dormir.

Fonte: Blog do Rovai
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Quanto mais o regime de exceção avança no país, a velha mídia se omite, encolhe, desidrata. Naturalmente, a idiotice enquanto informação ganha mais espaço, destaque.

Sobre a barbárie da invasão na escola Florestan Fernandes, do MST, pesquisei no UOL, Folha de SP, BOL, JB e O Dia. Somente o JB apresentou informação. Nos demais, nem mesmo uma nota, uma chamada tímida.

Um ato de extrema violência contra pessoas indefesas, desarmadas, e ainda sem que estivessem envolvidas em algum tipo de conflito, deveria ocupar destaque em todas as mídias.

O Estado Policial avança, contra os pobres, estudantes, trabalhadores, despossuídos, desempregados, e todos aqueles que se colocam como críticos ao regime. A exaltação da força, comum nos regimes fascistas, avança no país; é enaltecida, elogiada, incentivada de tal maneira que o espetacular crescimento e ostentação narcísica de bíceps, acompanha, na mesma proporção o declínio dos neurônios de grande parcela da população. Enquanto isso, o crime organizado continua crescendo e se multiplicando, sem que seja incomodado. A título de exemplo, na cidade do Rio de Janeiro a Polícia Civil tem apenas três helicópteros para combate ao crime. No momento, e já há algum tempo, dois estão fora de operação e mesmo nas delegacias da cidade falta até mesmo papel para registrar ocorrências. A Polícia faz uma campanha para receber doações. Do outro lado, quem não é criminoso é perseguido, detido e morto, pelas forças de segurança que deveriam proporcionar segurança à população.

Nesse estado de barbárie, a notícia do Jornal O Dia, online, em destaque, é para campanha de arrecadação de fundos, não para a Polícia Civil do Rio de Janeiro que nem papel tem, mas para um time feminino de rúgbi, de não sei onde, onde os fundos são solicitados através de fotos das jogadoras, nuas, revelando seus fundos na expectativa que fiquem ocupados, naturalmente ,claro, por fundos que viabilizem financeiramente a equipe.

O Brasil caminha célere para o fundo do poço.

Jogadoras de rúgbi tiram a roupa para arrecadar fundos  
Fonte: O DIA

De uma forma ou de outra, cheirinho de trapaça

Mas hein? TV Globo divulga mandos de campo da Copa do Brasil antes do sorteio

Por iG São Paulo | 04/11/2016 11:02 - Atualizada às 04/11/2016 11:07

Emissora anunciou horas antes do sorteio oficial da CBF que o jogo de volta seria mesmo em Porto Alegre, casa do Grêmio

A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) definiu os mandos da campo da final da Copa do Brasil nesta sexta-feira, em sorteio realizado às 9h da manhã - o primeiro jogo será em Belo Horizonte, casa do Atlético-MG, e a volta acontece em Porto Alegre, no estádio do Grêmio.

Porém, horas antes do sorteio, a TV Globo já havia adiantado a ordem dos jogos. No programa "Hora 1", que começa diariamente às 5h da manhã, a apresentadora Monalisa Perrone revela que o jogo de ida da decisão seria mesmo em Minas Gerais, com o segundo marcado para o Rio Grande do Sul.

O relógio da emissora marcva 5h10 da manhã, pouco mais de três horas antes do evento oficial da CBF.
Monalisa.jpg
Antes das 6h, Monalisa Perrone deu o resultado de um sorteio que aconteceu... às 9h!
O jornalista Chico Pinheiro, torcedor do Atlético-MG e que também trabalha na TV Globo, explicou o que teria supostamente acontecido. "Foi uma falha nossa. Ela (Monalisa) deu a notícia na madrugada de ontem, 6 horas depois de Galo e Inter. Tinha 50 % de chance de acertar", comentou. Mesmo assim soa estranho, não?

Fonte: IG
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Sorteio dos mandos da Copa do Brasil causa desconfiança em Belo Horizonte

Do correspondente Marcellus Madureira
4 NOV2016 13h42
Definindo os locais e datas da final da Copa do Brasil, com o Atlético-MG fazendo o primeiro
confronto em Belo Horizonte, no dia 23 de novembro, e decidindo o título em Porto Alegre,
no dia 30, o sorteio dos mandos da decisão do torneio, realizado na manhã desta sexta-feira,
gerou bastante polêmica entre os torcedores atleticanos.

Sorteio define segundo jogo da final da Copa do Brasil na Arena do Grêmio

Atlético acaba com especulações e garante Robinho na Cidade do Galo

Tudo começou já nas primeiras horas do dia, pelas redes sociais, quando alguns internautas
divulgaram o vídeo de um jornal da Rede Globo já passando as datas e locais das partidas,
mesmo antes da realização do sorteio, que ocorreu no meio da manhã desta sexta-feira.
Além disso, os aplicativos para celular da emissora também informavam o primeiro jogo
em Belo Horizonte e o segundo em Porto Alegre, ainda assim antes da definição oficial.

Outro motivo para desconfiança dos atleticanos foi o site Grêmio Tur, uma agência de
viagens oficial da equipe tricolor, também anunciar antecipadamente as datas dos jogos,
sendo a primeira em Belo Horizonte e a segunda no Rio Grande do Sul.

Apesar da desconfiança da torcida, o Atlético-MG respondeu à reportagem, em contato
por telefone, e preferiu não entrar me uma polêmica, afirmando que acredita na
idoneidade do sorteio.
Fonte: TERRA
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Tudo isso é muito estranho, e qualquer que seja o caminho para uma análise, é fato que TV Globo não é confiável.

Primeiro.

Se Globo tinha conhecimento dos locais dos jogos antes do sorteio, pode-se concluir que Globo interfere na competição, na ordem dos jogos, o que é gravíssimo pois coloca em xeque a lisura e a credibilidade da competição. Também expõe a CBF, na condição de
entidade que organiza a competição. Fica a dúvida se as competições são confiáveis. O nome disso é trapaça.

Segundo.

Se foi apenas uma falha da emissora, como declarou o jornalista, conclui-se que o jornalismo praticado no Grupo Globo é um jornalismo de chutes, ou, como citado por um executivo da emissora, jornalismo teste de hipóteses, o que é gravíssimo , pois coloca em xeque a lisura e a credibilidade das informações prestadas pelo emissora. Dizer que foi uma falha nossa tem se tornado rotina, até mesmo Cuca Beludo sabe disso. Por outro lado, se foi chute, a jornalista não disse ao telespectador que era chute, e apresentou o chute da mesma maneira que apresenta outras notícias. O nome disso é trapaça.


Diante dos fatos, se estivéssemos vivenciando um regime democrático, a declaração de Globo seria motivo de investigações por parte das autoridades, pois pode estar em jogo um esquema de favorecimento de determinados clubes em detrimento de outros. No caso da Copa do Brasil, competição em questão, é sabido, mesmo sem ser consenso, que o time que faz o segundo jogo em casa teria uma certa vantagem. No caso, o "favorecido" foi o Grêmio de Porto Alegre, na disputa com o Atlético, de Belo Horizonte.

Se a imprensa esportiva do Brasil tivesse independência, o assunto seria prioridade.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Aprendeu rápido




1º.nov.2016 - Bruna Marquezine posa com refugiada na cidade Azraq, na Jordânia. A atriz dividiu os momentos da visita ao Oriente Médio com os fãs no Instagram Reprodução/Instagram

Fonte: BOL
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Marquezine tem apenas 21 anos, mas aprendeu rápido.
A bela e inteligente atriz da Globo aparece ao lado de refugiados na Jordânia.
Se a mídia vive obcecada em acompanhar tudo o que você faz, e isso as vezes incomoda você, então faça tudo aquilo que a mídia não gosta muito de divulgar.
Principalmente assuntos relativos a violação de direitos humanos, crises humanitárias, situações de precarização do trabalho e outros similares. Com isso, já que a mídia estará no seu pé, você estará divulgando causas relevantes. O que pode acontecer, é que a mídia em pouco tempo deixe você de lado. Se isso acontecer, e se você estiver com saudades da visibilidade,  passe um fim de semana em Barcelona, e você irá aparecer na primeira página de todos os jornais do país e também em todos os telejornais.

Os escravos do século XXI

Jorge Souto Maior ao presidente do TSE: 
Não cumprir as leis trabalhistas é “bom negócio” para patrões

03 de novembro de 2016 às 11h14

Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, se reuniu com o presidente do TST, Ives Gandra Martins Filho, para tratar da PEC 241. Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil, via Fotos Públicas


por Jorge Luiz Souto Maior -  juiz do Trabalho e professor da Faculdade de Direito da USP

O Presidente do TST, Ministro Ives Gandra da Silva Martins Filho, parecendo cumprir uma missão, voltou a se expressar de forma pejorativa com relação à Justiça do Trabalho, aos juízes do trabalho e aos direitos trabalhistas na grande mídia, onde, afinal, sempre teve bastante espaço [i]

Segundo Martins Filho, haveria um “desbalanceamento” da Justiça do Trabalho em favor dos trabalhadores [ii]. Indaga o Presidente: “Será que a balança não está pesando demais para um lado?”

De plano, impressiona a pergunta, vez que, sendo o questionador o administrador maior da Justiça do Trabalho, deveria, bem ao contrário, dar a resposta e ainda fazê-lo a partir de estudos e análises concretas e não de modo meramente opinativo, na forma de uma figura de retórica.

Cabia-lhe, pois, falar dos impactos para os trabalhadores das majoritárias decisões da Justiça do Trabalho que:

*não reconhecem o princípio da sucumbência no processo do trabalho;

* admitem a terceirização nas atividades-meio;

* estabelecem a responsabilidade apenas subsidiária do tomador dos serviços;

* acolhem o regime de 12×36;

* declaram a constitucionalidade do banco de horas;

* fazendo letra morta da norma constitucional que estabeleceu o limite de 44 horas semanais;

* não concebem a ilegalidade, fixando as necessárias reparações compensatórias, das horas extras ordinariamente prestadas e que ultrapassam, inclusive, o limite de duas horas ao dia;

* permitem a terceirização no setor público;

* prescrevem a responsabilidade subjetiva, e não a objetiva, nos acidentes do trabalho;

* mantêm a configuração do acidente do trabalho com base no pressuposto da necessidade da prova do nexo causal, não reconhecendo as presunções do Nexo Técnico Epidemiológico e fazendo sobressair os caracteres degenerativos;

* adotam a excludente de responsabilidade nos acidentes do trabalho a partir da visualização do “ato inseguro da vítima”;

* não consideram aplicáveis mais que um adicional de insalubridade mesmo quando presentes distintos agentes nocivos à saúde no ambiente do trabalho; *

* continuam adotando o salário mínimo como base de cálculo do adicional de insalubridade apesar da proibição constitucional e da referência expressa da Constituição a “adicional de remuneração”;

* não deferem a acumulação dos adicionais de insalubridade e de periculosidade; fixam valores quase sempre muito baixos para as indenizações por acidentes do trabalho e por danos morais e materiais, comparativamente aos que eram praticados na Justiça comum antes da alteração da competência [iii];

* homologam acordos sem respeito ao caráter imperativo da legislação do trabalho, legitimando autênticas renúncias a direitos;

* consignam nos acordos cláusula com quitação do extinto contrato de trabalho;

* pronunciam, sistematicamente, a prescrição quinquenal com base em interpretação extremamente restritiva da norma constitucional;

* rejeitam a eficácia da norma constitucional que garante aos trabalhadores a relação de emprego protegida contra a dispensa arbitrária;

* negam a teoria da subordinação estrutural e reticular para efeito do reconhecimento do vínculo empregatício;

* recusam a aplicação dos preceitos legais pertinentes ao dano social, cuja função é punir de forma adequada e exemplar, a prática das agressões reincidentes e deliberadas da legislação trabalhistas, retirando a vantagem econômica do agressor;

* resistem em garantir às trabalhadoras domésticas a integralidade de direitos; impõem limitações inconstitucionais e ilegais ao exercício do direito de greve etc.[iv


Fizesse uma pequena pesquisa, buscando dados concretos, seria obrigado a reconhecer, como já o fizeram, em 1986, o então Presidente do TST, Ministro Marcelo Pimentel, em seu discurso de posse[iv], e o Presidente do TST, Ministro Vantuil Abdala, no discurso proferido por ocasião da inauguração da nova sede do TST, em 1º/02/2006 [v], que o descumprimento da legislação trabalhista constitui-se “um bom negócio” para o empregador.

Como dito pelo professor e desembargador do trabalho aposentado do TRT3, Antônio Álvares da Silva, em razão dos juros praticados e da ausência de punição específica pela prática do ilícito, “demandar na Justiça do Trabalho tornou-se um negócio extremamente lucrativo e favorável ao empregador.

Enquanto protela com recursos infundados a obrigação de pagar, gira com o dinheiro, obtendo vantagens muito mais significativas que, depois de alguns anos, até mesmo superam o valor do débito” [vi].

Concretamente, no Brasil, o descumprimento deliberado da legislação trabalhista tornou-se “um bom negócio” para o empregador.

Mas o problema maior da fala de Martins Filho foi o de que não se limitou a isso. Partindo de premissa extraída de falas evidentemente parciais, chegou a uma conclusão generalizante.

Segundo a reportagem referida, o Ministro teria dito que desde que assumiu a presidência do TST, no início deste ano, tem ouvido de empresários e parlamentares a crítica de que a Justiça trabalhista superprotege o empregado em detrimento das empresas e “Se há tanta reclamação no setor patronal, alguma coisa está acontecendo.”

A fala é muito grave, pois, considerando apenas uma versão, sugere a existência, de forma generalizada, de atuações jurisdicionais indevidas. Faz uma acusação coletiva e sem qualquer prova, corroborando, simplesmente, para o descrédito da própria Justiça que administra e reprimindo, publicamente, os trabalhadores que buscam a efetividade de seus direitos, negando-lhes, pois, a cidadania.

Depois, saiu falando sobre as benesses do acordo, mas não proferiu uma só palavra a respeito do problema concreto dos direitos trabalhistas no Brasil, existente desde quando as primeiras leis foram editadas ainda na Primeira República, que é o da ausência de eficácia, caracterizada pela recusa sistemática de parte do empresariado brasileiro em admitir limites à exploração do trabalho humano.

Lembre-se, a propósito, da enorme resistência do setor empresarial à regulamentação de lei de férias, em 1923 [vii] e da mudança de postura do mesmo setor, no início da década, admitindo a importância da legislação, mas deixando claro que não teria condições de arcar com os custos decorrentes de sua aplicação, chegando mesmo a solicitar, expressamente, a prorrogação “tanto extensa quanto possível” de sua entrada em vigor, o que somente foi superado em 1932, quando se realizou acordo entre o governo e os industriais, do qual resultou a ineficácia concreta da legislação, conforme relata Werneck Vianna:

Na verdade, as duas partes cederam. Os empresários, ao aceitar a legislação social, o governo pela tolerância que mostrou quanto às faltas cometidas por aqueles contra suas disposições. A boa vontade do Ministério do Trabalho em relação ao empresariado paulista foi a ponto de delegar sua atividade fiscal ao Departamento do Trabalho do Estado, órgão subordinado à Secretaria da Agricultura. Por esse mecanismo, as classes dominantes de São Paulo passaram a controlar a implementação das leis trabalhistas, o que diz bem da eficácia da nova fiscalização. [viii]

Os industriais interessavam-se, verdadeiramente, pela parte da legislação que mantinha os sindicatos sob forte controle. De fato, o regime corporativo encontrou solidariedade no seio industrial. Aceitaram a legislação “sob a condição de que os sindicatos não invadam a arena social” e, assim, rejeitam o instituto da negociação coletiva, que segundo os empresários poderia submetê-los a serem explorados pela “classe operária organizada sindicalmente” [ix]. A negociação coletiva, portanto, não teve vida real, mesmo que regulada por Decreto desde 1931, tendo sido referida na Constituição de 1934 e referendada na Carta de 37.

Dentro desse contexto, a Convenção 81 da OIT, que trata da atuação do Estado na Inspeção do Trabalho, somente veio a ser ratificada pelo Brasil em 1957, chegando a ser denunciada em 05 de abril de 1971. Esta Convenção somente voltou a ter vigência no Brasil em 11 de dezembro de 1987, por intermédio do Decreto n. 95.461. E, hoje, são apenas cerca de 2.300 auditores fiscais do trabalho os responsáveis pela fiscalização do cumprimento das obrigações trabalhistas em todo o país.

Não se esqueça, ainda, que a atuação dos fiscais do trabalho no âmbito rural somente teve início entre nós em 1994, com a edição da Instrução Normativa nº 24, de 24/3, possibilitando, a partir de 1995, por conta de pressão internacional, o começo da luta contra o trabalho escravo, sendo certo que a presença do Estado no âmbito rural não foi lá muito bem recebida, tanto que, em 28 de janeiro de 2004, três auditores fiscais do trabalho e um motorista, servidores do Ministério do Trabalho, foram assassinados em Unaí/MG.

O que se tem no Brasil, portanto, é uma realidade de extrema precariedade dos direitos da classe trabalhadora, o que faz, em concreto, com que os trabalhadores cedam diariamente em seus direitos e em sua dignidade, favorecendo ao processo de acumulação de riquezas que se dá no Brasil da forma mais intensa e perversa do que na maioria das regiões do mundo [x], a tal ponto de mantermos elevados e indecorosos índices de exploração de trabalhadores em condições análogas às de escravos, [xi],de exploração do trabalho infantil [xii], de um elevadíssimo número de acidentes do trabalho [xiii] (quase sempre não indenizados), de extensas jornadas de trabalho [xiv] (muitas vezes praticadas sem remuneração), sobretudo no trabalho terceirizado de limpeza, conservação e vigilância, sem falar, é claro, do trabalho doméstico.

O caminho a percorrer, portanto, é exatamente o inverso ao preconizado pelo Ministro Martins Filho.

O que se requer, com urgência, é a efetivação dos direitos e garantias trabalhistas, até porque a estratégia da redução de direitos já deu mostras suficientes, após 50 anos de experiências, de sua ineficácia.

Ora, considerando o que se verificou na realidade brasileira desde sempre e, de forma mais nítida, de 1964 prá cá, no sentido da não aplicação das leis e, de modo paradoxal, da flexibilização de leis que não se aplicavam, já se tem suficientemente provado que a retração de direitos não gera empregos, servindo, isto sim, para gerar maior sofrimento aos trabalhadores, agravar os problemas sociais e econômicos, ao mesmo tempo em que permite uma maior concentração de capital, satisfazendo, em geral, a interesses estrangeiros.

Nesse sentido, o que falta historicamente à Justiça do Trabalho é uma postura punitiva mais contundente das práticas de descumprimento reiterado da legislação trabalhista, que, ademais, acabam beneficiando o empregador que não respeita a ordem jurídica, em prejuízo daqueles que cumprem, de forma precisa, como deve ser, a lei trabalhista.

Essa necessária atuação da Justiça do Trabalho seria, inclusive, uma resposta ao requerimento expresso da sociedade em geral, que se diz cansada da ilegalidade, da impunidade, da sonegação, da corrupção e da injustiça.

O que se precisa entender, de uma vez por todas, é que os direitos trabalhistas não são meramente custos. São, isto sim, preceitos ligados à essencial preservação mínima da condição humana no modo de produção capitalista.

Direitos que estão previstos na Constituição e nas leis do país, tendo valor e vigência como quaisquer outros direitos e que, por isso mesmo, devem ser respeitados e aplicados, sendo que a mera discordância pessoal não é suficiente para retirar-lhes a validade, seja o “discordante” Presidente da República, Ministro de alguma pasta do Executivo, Ministro do Supremo Tribunal Federal, Presidente de entidade empresarial, diretor de algum grande conglomerado econômico, diretor de grande veículo de informação, ou mesmo Presidente do TST.

São Paulo, 31 de outubro de 2016.

[i]. Vide, a propósito: SOUTO MAIOR, Jorge Luiz. “Basta de violência aos direitos sociais”. Disponível em: http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI35588,71043-Basta+de+Violencia+aos+Direitos+Sociais

[ii]. ALVES, Murilo Rodrigues. Disponível em: http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,presidente-do-tst-ve-desbalanceamento-da-justica-em-favor-dos-trabalhadores,10000085271, acesso em 31/10/16.

[iii]. Vide, a propósito, CAVALCANTE, Sandra Regina. O papel da Justiça do Trabalho na prevenção e reparação dos acidentes e doenças ocupacionais. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública para obtenção do título de Doutora em Ciências – Área de concentração: Saúde Ambiental. Faculdade de Saúde Pública. Universidade de São Paulo, 2016, pp. 48-52 e pp. 149-179.

[iv]. “Demandar, na Justiça do Trabalho, tornou-se um grande negócio. Melhor a demanda que qualquer operação bancária, porque o empregador, aqui, retendo o dinheiro do empregado, sobre ele pagará 6% ao ano, quando, se operasse em Banco, sobre o mesmo seriam cobrados em torno de 40%. Se a lide demorar dois anos, realmente terá aumentado seu capital, às custas do empregado despedido, em 100%, com um acréscimo avultado de despesas para o Estado. Dupla agressão, ao empregado e ao estado, que lhe oferece uma justiça barata. O êxito do demandado está, pois, em saber administrar sua demanda na Justiça do Trabalho, porque, com o dinheiro do trabalhador, aumentará seu capital de giro. As medidas que retardam a solução final farão com que o empregador seja beneficiário de rico empréstimo, ao qual pagará juros de 6% ao ano, um ganho de, no mínim o, 50% sobre a érea bancária.” (PIMENTEL, Marcelo. Discurso de posse na Presidência do TST, 1986. Revista do Tribunal Superior do Trabalho: órgão oficial da Justiça do Trabalho, Brasília, DF — Brasil, ano de 1987, São Paulo, LTr, 1988, p. 208).

[v]. “A aprovação no Congresso dos projetos de reforma das leis processuais trabalhistas e também o que eleva os juros igualando-os aos da taxa Selic como é em todos os ramos do judiciário é prioridade nesse ano. Não se pode admitir que seja um bom negócio para o mau empregador o trabalhador ter que ir a juízo para haver seus direitos.” (Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=visualiza_noticia&id_caderno&id_noticia=3442

[vi]. SILVA, Antônio Álvares da. “Competência da Justiça do Trabalho para aplicação das multas administrativas”. Revista do TRT – 3ª Região, Belo Horizonte, n. 72, p. 45-63, jul./dez. 2005. p. 50.

[vii]. VARGAS, João Tristan. O trabalho na ordem liberal: o movimento operário e a construção do Estado na Primeira República. Campinas: UNICAMP/CMU, 2004, p. 282.

[viii]. VIANNA, Luiz Werneck. Liberalismo e sindicato no Brasil. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999, p. 222.

[ix]. VIANNA, Luiz Werneck. Liberalismo e sindicato no Brasil. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999, p. 221.

[x]. http://oglobo.globo.com/economia/brasil-tem-segunda-pior-distribuicao-de-renda-em-ranking-da-ocde-7887116, acesso em 19/06/16.

[xi]. http://reporterbrasil.org.br/2016/02/nova-lista-de-transparencia-traz-340-nomes-flagrados-por-trabalho-escravo/, acesso em 18/06/16.

[xii]. http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/11/em-2014-havia-554-mil-criancas-de-5-13-anos-trabalhando-aponta-ibge.html, acesso em 18/06/16.

[xiii]. http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-04/brasil-e-quarto-do-mundo-em-acidentes-de-trabalho-alertam-juizes, acesso em 18/06/16.

[xiv]. Brasileiro é campeão em horas extras: http://www.e-konomista.com.br/n/horas-extras-no-trabalho/, acesso em 18/06/16.


Fonte: VIOMUNDO
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Em um mundo onde o valor maior, acima de tudo, é o consumo turbinado, as pessoas, em diferentes países, passam a ganhar status pela quantidade de coisas e objetos que possuem. Essa distorção social trouxe modificações profundas nas relações interpessoais, despertando nas pessoas uma competição selvagem além de instintos e sentimentos inferiores, como a inveja, por exemplo, em ascensão meteórica nas relações interpessoais nos dias atuais. Desta forma o outro passa a ser visto ou como um obstáculo que deve ser eliminado, ou como um vencedor que não se suporta a presença e assim deve ser eliminado, ou, em menor escala como alguém que se aceita a presença. Nesse contexto, as relações em ambientes de trabalho tornam-se ainda mais competitivas, afastando os trabalhadores de uma unidade necessária para defesa de seus direitos. Aliado a isso, a precarização do trabalho cresce em todo mundo, transformando fábricas e linhas de produção nos campos de concentração nazistas do século XXI.

Como uma crítica as condições de escravos a que estão submetidos os trabalhadores nos dias atuais, e também a incapacidade de vivenciar a felicidade do outro, o PAPIRO produziu e publicou, em 24.08.2012, o conto abaixo. Em sintonia com o devastador artigo de VIOMUNDO, acima, o conto continua atual.

Boa leitura.

Rio Zona Norte - 5


O Sucesso de Maria das Graças


Em mais um dia, como em todos os outros dias da semana, Maria das Graças , pontualmente às seis horas da manhã aguarda, de pé em uma fila, o coletivo que a levará para seu trabalho.

Jovem, bonita, simples, de bom astral, paupérrima e vivendo na baixada fluminense, ficará por volta de uma hora no ônibus até chegar no seu local de trabalho, no bairro da Penha, zona norte da cidade do Rio de Janeiro.

Na plenitude de seus vinte anos de idade, a jovem que deixou sua cidade natal e sua família no interior do estado de Tocantins ainda com dezessete anos fugindo da pobreza extrema para tentar a sorte na cidade maravilhosa, alimenta sonhos, planos e esperanças de uma vida melhor.

Uma vida que ela vê, ouve , diariamente nas mídias, como sendo o ideal para qualquer pessoa que queira ser feliz e alcançar o sucesso.

Vivendo em uma pequena casa de apenas um cômodo , em que paga aluguel e sobrevive com o salário mínimo que recebe pelo trabalho de operária em uma fábrica de roupas esportivas, espera um dia ser uma vencedora, uma mulher chique, bem cuidada e se possível famosa como os exemplos de seus ídolos das novelas e programas de TV, que saíram de baixo, lutaram e alcançaram o sol.

Nem sempre, mesmo chegando com antecedência na fila do ônibus, Maria das Graças consegue fazer a viagem sentada, confortável, ainda que os coletivos não tenham ar condicionado e o calor na região costuma ser infernal mesmo nas primeiras horas do dia, o que , por vezes, faz com que chegue ao local de trabalho já cansada.

Responsável e dedicada, nos dois anos em que trabalha na fábrica jamais chegou atrasada ou foi repreendida por mau comportamento ou qualquer infração no seu trabalho.

Cumpre, diariamente, de segunda a sábado, uma jornada de doze horas de trabalho, das sete horas da manhã às sete da noite, tendo quinze minutos antes de iniciar o trabalho para um lanche, uma hora para o almoço, e mais quinze minutos na parte da tarde para outro lanche.

A fábrica é terceirizada de uma gigante transnacional de material esportivo que tem alguns de seus ídolos como garotos propaganda de seus produtos.

A maioria das operárias é de mulheres, jovens, com o mesmo perfil de Maria das Graças.

O trabalho é extremamente cansativo, repetitivo e as condições do local são totalmente inadequadas, no tocante a temperatura ambiente, o calor é constante, as instalações, as cores da edificação e equipamentos, excesso de ruído e condições mínimas de segurança.

Os sanitários não tem uma higiene adequada e os aspectos ergonômicos para execução do trabalho baseiam-se em improvisações.

As equipes de operárias são divididas, no local de trabalho, em estações onde dez meninas realizam tarefas de corte e costura de tecidos.

Para cada estação existe um supervisor que fiscaliza , em tempo integral, o trabalho e a produção das meninas, não permitindo qualquer tipo de conversa que possa levar a uma interrupção no ritmo de produção.

Saídas para o banheiro são acompanhadas por uma supervisora , exclusiva para esse fim.

As meninas só podem conversar um pouco, nos horários de lanche, e no tempo que sobra da hora de almoço, que aliás, assim como os lanches, é oferecido no restaurante da empresa e descontado no salário das operárias.

Muitas operárias preferem trazer o almoço de casa, não apenas para economizar o almoço da empresa, como também pela péssima qualidade das refeições oferecidas.

A empresa , sequer disponibiliza um local para que as operárias possam aquecer suas marmitas.

Maria das Graças tornou-se uma referência na sua estação,ou seja no seu grupo de dez operárias. 



Sempre feliz, esbanjando simpatia e acreditando na vida, sua presença quebra, pelo menos em parte, o clima de terror dentro daquela fábrica .

Entoando canções, em voz bem baixa mas percebidas pelas outras nove enquanto realiza suas tarefas, cria uma atmosfera de paz e otimismo que ajuda a superar a dura realidade em que vivem.

Nos horários de lanche e almoço, sempre pode ser vista como o centro das atenções para as colegas da estação, que se encantam e adquirem forças com o alto astral de Maria das Graças.

Na hora em que deixam a fábrica, já do lado de fora, conversam rapidamente antes que cada uma tome seu destino.

Nesse momento, como de costume , Maria das Graças é vista , no centro da roda e as demais sorrindo , felizes com suas histórias.

Em um outro dia, o coletivo que conduzia a jovem para o trabalho quebrou durante o percurso, o que fez com que Maria das Graças tivesse que aguardar um outro coletivo e com isso chegasse atrasada, pela primeira vez em dois anos, no seu trabalho. 


Antes de assumir seu posto na estação, foi chamada pela gerência e advertida que caso o atraso se repetisse seria demitida por justa causa.


Ainda foi informada que os setenta minutos de atraso daquele dia seriam descontados de seu salário.

Não se abateu, assumiu seu posto e realizou suas tarefas com as competência e dedicação costumeiras.

Conversou com as colegas da estação, que ficaram revoltadas com o tratamento dado a menina, já que não tivera nenhuma culpa ou responsabilidade pelo que tinha ocorrido.

Maria das Graças não comprou a revolta, preferiu esquecer o assunto e conversar sobre a novela das nove que ela tanto adorava e não perdia um capítulo.

Reunidas na porta da fábrica, já na saída para casa nem parecia que a jovem tinha sido advertida, ameaçada de perder o emprego e ter sua ficha manchada.

No dia seguinte, pontualmente as seis horas da manhã, lá estava a jovem embarcando no coletivo que a levaria para seu trabalho.

Não poderia imaginar o que aconteceria na viagem.

Desta vez, sentada no banco ao lado da janela, sonhava e fazia planos caso ficasse rica.

Tinha certeza que ficaria, era uma questão de tempo, pouco tempo.

E foi em pouco tempo que tudo mudou dentro coletivo.

Dois homens armados anunciaram um assalto, isso em um ônibus cheio, porém não lotado, mas com pessoas de pé.

A menina entrou em pânico e ficou paralisada, era a primeira vez que vivia a experiência, de que já tivera conhecimento pelos programas de TV que tanto adorava e os tinha como referência.

O passageiro ao seu lado, um senhor também ficou imóvel.

De repente, um passageiro reagiu e sacou uma arma , dando início a um tiroteio dentro do coletivo.

O passageiro ao lado da jovem tentou se proteger rapidamente, jogando a parte de cima de seu corpo, o tronco, quase que no colo de Maria das Graças.

Terminado o tiroteio e tendo os assaltantes sido imobilizados, o passageiro ao lado de Maria das Graças estava imóvel, já morto, com um tiro na cabeça que acabou servindo como um escudo para o peito da jovem, o provável destino daquele projétil.

A menina , com a roupa já suja de sangue do senhor morto, tentava sair do local, o que conseguiu com a ajuda de outro passageiro e a ação de alguns policiais que passavam pelo local e prenderam os assaltantes.

Traumatizada, porém sem ferimentos, conseguiu sair do coletivo,e com as roupas sujas de sangue, foi para seu trabalho, desta vez chegando quase que na hora do almoço, por causa dos tramites legais que acompanham casos como este.

As colegas da estação ficaram chocadas com a história contada pela jovem e deram todo apoio , carinho a atenção na tentativa de amenizar o trauma da menina.

Não faltaram abraços e beijos para acalmar a querida amiga.

Entretanto, a gerência chamou Maria das Graças para se explicar do segundo atraso, agora de quatro horas, em dois dias seguidos. 


A jovem, com as provas do terror em suas roupas, explicou todo o ocorrido e ainda indicou a delegacia onde se processou o registro de ocorrência com o seu nome.


De nada adiantou.

Maria das Graças foi demitida por justa causa, sem direito a nenhuma indenização.

As colegas da estação, quando souberam da demissão da amiga ficaram ainda mais revoltadas, mas nada puderam fazer a não ser chorar e consolar a jovem, que apesar de perder o emprego não demonstrava irritação, revolta ou tristeza.

O pior ela já tinha passado, ou pensou que tinha sido o pior.

A tristeza tomou conta das colegas de estação , não mais teriam a alegria de Maria das Graças, uma igual a elas, para amenizar o terror daquela fábrica.

A jovem foi para casa, fora um dia estressante, deitou na cama e dormiu sem se preocupar com horário.

Mesmo assim acordou cedo no dia e seguinte e começou a pensar em conseguir trabalho.

Antes disso teve tempo para fazer o que não fazia nos dias de trabalho, foi a padaria, no mercado fazer umas comprinhas e ainda fez uma aposta em uma casa lotérica.

Cantando , a jovem não perdeu tempo nem se lamentou.

No dia seguinte, bem cedo, já estava em uma agência de empregos se candidatando a um novo emprego.

Preencheu fichas, fez entrevistas e conseguiu um emprego de balconista em uma lanchonete na Gávea, zona sul do Rio de janeiro.

Deveria começar em três dias, porém a aposta de loteria que fizera no dia anterior mudou totalmente sua vida.

Acertou as dezenas premiadas e ganhou uma quantia que lhe garantia a independência financeira.

Maria das Graças explodiu em felicidade.

Sorria, cantava, chorava sozinha em sua casa, mostrando toda sua beleza.

Nada falou sobre o prêmio, nem para vizinhos ou com as amigas da estação que não via desde o dia em que fora demitida.

Com a quantia ganha a jovem, esperta e segura voltou para sua cidade natal , no interior do estado de Tocantins.

Lá, com o auxílio da família, aplicou o dinheiro em imóveis, comprou uma casa nova para ela e os pais , e garantiu a independência financeira para a família.

Tinha agora, como renda, de suas aplicações vinte vezes o salário que recebia na fábrica.

Era uma vida confortável para eles.

Passaram seis meses de sua saída da fábrica e Maria das Graças tinha outra aparência.

Usava roupas idênticas aos personagens de suas novelas favoritas, comprova produtos de beleza e fazia os tratamentos de beleza sugeridos pelos comerciais de TV.

Estava ainda mais bonita e radiante.

Resolveu ir ao Rio de janeiro, para passeio, e aproveitou para visitar as colegas da estação na fábrica do terror.

Planejou chegar na fábrica no final do expediente pois poderia encontrá-las no lugar de sempre, ao lado , porém, não muito distante, do portão principal.

E assim aconteceu.

Avistando as colegas da estação, acenou , esbanjando as mesmas alegria , simpatia,  simplicidade e humildade de costume, que em nada mudaram com a mudança de sua condição financeira.

As nove colegas se aproximaram, não acreditando no que viam, e ficaram perplexas quando souberam de toda a história contada por Maria das Graças.

Após ouvirem tudo foram se aproximando da jovem e inicialmente, sem nada combinado, começaram a rasgar sua roupa, agredí-la com socos e pontapés.

A jovem , indefesa, estava quase desmaiando, semi nua, foi jogada ao chão, pisoteada e com uma pedra, uma das colegas bateu em seu rosto até afundar a face e o crânio, quase que esmagando.

Outra, arrancou-lhe os olhos com as mãos enquanto as demais com pedaços de pau tentavam furar seu corpo no abdômen.

Saciadas, as nove colegas se retiraram, sem falar uma palavra umas com as outras e deixaram o corpo de Maria das Graças, mutilado, sem vida ao lado do portão principal da fábrica do terror.