quinta-feira, 19 de março de 2015

Picaretas e achacadores

Cid Gomes chama Eduardo Cunha de “achacador”, perde o cargo, e leva Congresso para o centro da crise

Reprodução
O ministro Cid Gomes foi ao Congresso preparado para o confronto. Preparado, talvez, para sair do governo “por cima”. Dias antes, disse que o Congresso estava cheio de “achacadores”. Foi chamado para dar explicações, num clima de intimidação institucional comandado por Cunha
19/03/2015
Por Rodrigo Vianna
Dilma escolheu hoje o seu Ulysses Guimarães. Ele se chama Eduardo Cunha.
Para os mais novos: no governo Sarney, um presidente fraco virou refém das artimanhas e manobras do político mais habilidoso do Congresso, não à toa chamado de “Dr” Ulysses.
Dilma, hoje, deixou às claras quem manda no governo.
O ministro Cid Gomes foi ao Congresso preparado para o confronto. Preparado, talvez, para sair do governo “por cima”. Dias antes, disse que o Congresso estava cheio de “achacadores”. Foi chamado para dar explicações, num clima de intimidação institucional comandado por Cunha.
Cid disse o óbvio aos parlamentares:  “partidos de oposição têm o dever de fazer oposição. Partidos de situação têm o dever de ser situação ou então larguem o osso, saiam do governo”.
A frase alterou ainda mais os ânimos. Cid foi chamado de mal-educado. E devolveu, apontando para Cunha: “prefiro ser acusado por ele de mal-educado do que ser acusado como ele de achaque”.
Ok. O gesto de Cid pode ter carregado algo de oportunismo, num momento tão duro para o governo. Mas ao menos deixa tudo às claras. Ele botou o guizo no gato. Qual a causa da corrupção na política?  Dilma e o PT ou os “achacadores”?
Cid cumpriu um papel didático, e Cunha “Underwood” Cunha usou o Plenário como se fosse sua casa cercada de seguranças no Alto da Gávea (pelo menos era lá que ele morava em 2001, quando fui recepcionado por um capanga de revólver na cintura, ao tentar entregar um envelope para a mulher dele, Claudia Cruz – colega jornalista).
Eduardo Cunha não é Ulysses. É doutor só na truculência.
Cid saiu de plenário com dignidade. Ao cravar o “achacador” na cara de Cunha, levou o Congresso para o centro da crise. O DataFolha, que mostrou a queda de popularidade de Dilma, indicou também que só 9% aprovam a atuação dos parlamentares.
Contestada nas ruas por setores golpistas, Dilma entrega seu governo ao PMDB de Cunha. O presidente da Câmara, sentado em sua cadeira, foi quem anunciou a demissão de Cid Gomes.
A pancadaria verbal de hoje pode arrastar não só Dilma, mas o Parlamento e as instituições políticas para o contro da crise.
Parece não haver volta no caminho escolhido por Dilma. O programa do segundo turno não será retomado. O PMDB, chefiado por um deputado chamado de “achacador” na tribuna, é quem garante “governabilidade”.
Isso não vai dar certo.
A esquerda e os movimentos sociais, parece-me, devem seguir enfrentando os golpistas e rechaçando qualquer tentativa de mudar – na marra e no grito – o resultado eleitoral de 2014. Além do mais, devem enfrentar a horrorosa pauta que brotou do asfalto de Copacabana e da avenida Paulista nesse dia 15.
Mas, ao mesmo tempo, está claro que é cada vez mais improvável se construir uma saída sob comando desse governo – sequestrado por Cunha e tomado pela letargia.
A saída não é, nem de longe, trabalhar contra o governo Dilma. Mas para além do governo.
Uma Reforma Política que brote da força das ruas é a única saída pela esquerda. Há força pra isso?
Fonte: BRASIL DE FATO
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Na década de 1980, o então deputado federal Luís Inácio Lula da Silva disse que na câmara existiam uns trezentos picaretas.
A declaração de Lula repercutiu e por pouco o deputado não foi processado.
No entanto, os 300 picaretas foram bem entendidos pela população e a expressão se fez presente em uma canção da banda Paralamas do Sucesso.
Lula  na época falou a verdade, o que seguramente incomodou a maioria, ou seja, os 3o0 picaretas.
Passados quase trinta anos, sempre os trinta anos, agora é a vez de Cid Gomes dizer em alto e bom som que na câmara existem  uns 400 achacadores.
De 300 para 400, foi a inflação.
A reação da Câmara, ou seja da maioria dos deputados, foi de uma profunda indignação por terem sidos acusados, injustamente segundo os 400, de achacadores.
Seguramente a maioria da  população concordará com Cid Gomes.
Adicione-se ainda a nova crise a Lista de Janot, que apontou um número expressivo de deputados federais  supostamente envolvidos em esquemas de corrupção.
Se a declaração de Cid Gomes vai gerar mais uma crise no governo, isso é irrelevante no momento atual.
Por outro lado, Cid Gomes , que falou a verdade, colocou o foco na discussão de uma profunda reforma política, que dentre outras coisas, venha a acabar com o financiamento privado de campanhas.
Cabe lembrar ao caro e atento leitor, que o PMDB , as oposições, a velha mídia e aqueles partidos fisiológicos, não querem de maneira nenhuma uma reforma política profunda que venha a sanear as campanhas eleitorais e os partidos políticos existentes. E ainda, a proposta de reforma política que está tramitando atualmente na Câmara dos Deputados, é uma reforma picareta, que muda para não mudar nada, e tem o apoio do PMDB, velha mídia , oposições e , provavelmente, dos paneleiros chiques  e raivosos que saíram às ruas no último domingo.
Na política da chantagem, ou do achaque , o deputado pelo PMDB do clã Picciani, gritou que se Cid Gomes não deixasse o ministério do governo Dilma após a  declaração , o PMDB deixaria a aliança que sustenta o governo.
Que aliados, hein, caro leitor ?
No meio dessa confusão de crises, o governo acena com uma reforma ministerial, que se bem conduzida pode melhorar o quadro .
Quanto a base de partidos aliados, o governo bem que poderia costurar alianças com outros partidos na Câmara, para minimizar o peso do PMDB. Isso é possível.
Deve também, o governo, não abrir mão da reforma política profunda, do imposto sobre fortunas e da proposta de regulação dos meios de comunicação.
É dever das esquerdas, no momento, trabalhar em apoio ao governo Dilma e para além dele.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Para voltar a ficar bem na foto

IMPRENSA & CRISE POLÍTICA

Uma pesquisa oportunista

Por Luciano Martins Costa em 18/03/2015 na edição 842
Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 18/3/15
Os principais diários de circulação nacional trazem na quarta-feira (18/3) duas reportagens valiosas para a análise da crise política. Numa delas, a Folha de S. Paulo apresenta um levantamento da popularidade da presidente da República, onde ela, evidentemente, aparece com alta taxa de reprovação. No outro assunto, tanto a Folha como o Estado de S. Paulo e o Globo citam um documento supostamente reservado, com uma análise extremamente negativa sobre a política de comunicação do governo federal.
A pesquisa Datafolha não pode ser considerada apenas em seus aspectos estatísticos. Aliás, embora o jornal dê toda ênfase aos números – que apontam o mais baixo índice de aprovação de um governante desde o fim do mandato de Fernando Collor de Mello –, o que importa aqui é a circunstância em que foram colhidas as opiniões. Os pesquisadores do instituto saíram às ruas precisamente nos dias 16 e 17, logo após as manifestações de protesto contra o governo – estimuladas pela imprensa –, o que, com certeza, condiciona um grande número de respostas.
Interessante observar também que o levantamento inclui perguntas sobre a situação econômica, que revelam igualmente um aumento do pessimismo, curiosamente numa circunstância em que o noticiário aponta perspectivas mais otimistas sobre a economia (ver aqui, aqui e aqui).
Evidentemente, as respostas sobre a avaliação da presidente sofrem forte influência das manifestações e da cobertura intensamente negativa feita pela imprensa no período. Da mesma forma, é ocioso afirmar que, no clima conflagrado, a perspectiva dos consultados sobre a situação econômica tenderia a ser a pior possível.
Para os observadores da imprensa, a quarta-feira produz um exemplo de como funciona o círculo de convencimento da mídia tradicional. Como se sabe, a Folha de S. Paulo estimulou a participação dos leitores nas manifestações do domingo, dia 15, oferecendo espaço em seu portal, o UOL, para fotos e vídeos dos protestos. A iniciativa foi copiada por outros jornais e portais da internet. Em seguida, o Datafolha sai a campo para referendar, com uma pesquisa oportunista, o que seria o ânimo da população com relação ao governo e à economia do país.

A comunicação errática

O outro assunto destacado pelos jornais – um estudo interno do Planalto sobre a crise política – é o reverso do quadro. Esse quadro mostra, de um lado, uma imprensa partidarizada agindo de maneira extremamente eficiente no processo de demonizar o grupo político que ocupa o Planalto e, do outro, um governo incapaz de produzir uma estratégia de comunicação minimamente funcional.
O próprio vazamento do estudo, apontado como um “informe interno”, revela a incapacidade do Executivo de sequer manter em território restrito documentos de seu interesse. Trata-se de um relatório não assinado (ver aqui), portanto anônimo e, por isso, possivelmente apócrifo.
O que fez com que os três principais diários de circulação nacional o aceitassem como um documento oficial? Evidentemente, o que dá credibilidade ao texto é sua fonte, ou seja, quem vazou o documento é reconhecido como alguém ligado ao governo.
A situação lembra um episódio ocorrido durante o governo do ex-presidente Lula da Silva, quando a Folha de S. Paulo publicou uma nota dizendo que havia um “espião” no Planalto vazando informações para a imprensa. Ora, conforme se revelou posteriormente, o “espião” era um funcionário de confiança da Secretaria de Comunicação, que havia feito carreira na própria Folha, e que se dedicava, em suas relações sociais, a contar anedotas sobre reuniões ministeriais e sobre o próprio presidente Lula.
Não é de hoje, portanto, que os governos do Partido dos Trabalhadores se veem em situação desconfortável diante da chamada opinião pública, por conta de uma comunicação amadorística, sem rumo e, quase sempre, vulnerável às manipulações da mídia tradicional. Nos três mandatos sucessivos da aliança que governa o país desde 2003, são raros os momentos em que a Secom deu demonstrações de ter uma estratégia coerente com o que se espera de um governo com o perfil petista.
O relatório que a imprensa reproduz diz que o Brasil vive “caos político”, conforme destaca o Estado de S. Paulo em manchete, e afirma que o governo produz uma comunicação “errática”.
Não se pode afirmar que se trata de um documento válido, ou se é parte de conspirações internas entre assessores da presidente. Mas a surra que o Planalto está sofrendo na disputa pelo apoio da população mostra que o autor do texto sabe do que está falando.

Fonte: OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA
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Desde 2003, primeiro governo Lula, que o governo do PT não tem uma comunicação eficaz.
Pode-se dizer que tal afirmativa é , ao  mesmo tempo, certa e errada.

Durante o primeiro governo Lula, de 2003 a 2006, a internete e as redes sociais ainda não tinham a influência que tem hoje na sociedade, tanto que, o fenômeno dos debates por conta  do estouro do mensalão, em 2005, foi o surgimento dos blogues. 

Uma nova palavra surgia no vocabulário, e passou-se a conhecer , melhor, o poder da internete.

A partir dali, os blogues proliferaram no país. Isso é fato.

Por outro lado, a comunicação institucional do governo Lula nunca foi das melhores , no entanto, isso não foi um grande problema , já que Lula, como é de conhecimento de todos, tem uma oratória invejável.

Tanto que, durante o estouro do mensalão e mesmo com o governo acuado e com a popularidade em baixa, Lula não se escondeu em gabinetes, ao contrário, estava sempre discursando em eventos do governo federal por cidades brasileiras.

Em seus discursos, invertia sempre a agenda, disponibilizando um tempo mínimo para os assuntos para os quais se apresentava nas cidades, e levava a maior parte do tempo debatendo e defendendo o governo por conta das acusações do mensalão. 

Essa postura de Lula, mereceu o seguinte comentário da comentarista tucana, Dora Kramer, na rádio Band News FM:

" é visivel que Lula está fragilizado com as denúncias e , na minha opinião, ele não deveria se pronunciar dessa maneira"

Kramer, desejava que Lula ficasse calado , talvez por ser conhecedora da sua extraordinária capacidade de se comunicar com as massas.

Isso aconteceu em 2005, e está lá, nos arquivos da emissora.

Lula continuou sua peregrinação com seus discursos inflamados, quando, no final de 2005, alguns jornalistas , e  eram muitos, apontavam Lula e o PT como mortos politicamente, o que motivou os seguintes comentários de Delfim Neto  e de Fernando Henrique Cardoso, respectivamente:

" eu discordo. Lula tem um capital político e uma força que não podem ser desprezadas"

" você acha ? ( perguntou  respondendo FHC ao jornalista ) . tenho minhas dúvidas"

Essas declarações, de ambos, ocorreram quando o governo Lula, em dezembro de 2005 , apresentava os menores índices de aprovação.

O restante da história todos conhecem, Lula venceu as eleições de 2006 e ainda fez sua sucessora em 2010, tudo isso com todos os problemas de comunicação institucional dos governos do PT.

Estamos em 2015, e Dilma não é Lula e, além disso, a comunicação do governo continua a mesma, com os mesmos problemas.

No entanto, a política, assim como a fotografia, revela o momento. 

Em pouco tempo tudo pode ficar diferente, para melhor ou mesmo piorando a vida do governo.

Dilma sangra com sua pior avaliação, hoje, no entanto, o capital político do PT não pode ser desprezado e, cabe ressaltar que  Lula entrou em campo, articulando e mobilizando o partido.

Não tenho a menor dúvida que a resposta virá em breve.

O eleitor de Dilma se mobilizou durante as eleições, e o fez de forma assertiva e eficaz, em uma disputa violenta e acirrada conseguindo a quarta vitória para o PT.

Terminadas as eleições , o relaxamento foi natural , o que não aconteceu com a oposição, ainda com a faca nos dentes e sem entender como perdeu mais uma eleição, e mais, disposta a incendiar tudo que aparecer em sua frente.


O governo Dilma cometeu  um relaxamento nesses meses após a vitória de outubro último, e ainda empurrou para seus eleitores alguns ministros que são difíceis de digerir.

Lula , certamente colocaria ministros que seus eleitores aprovariam e, que iriam  tomar as mesmas medidas, sem grandes traumas,  que os eleitores agora não aprovam.

Tudo isso , de certa forma, faz parte da política, e uma carcterística  do PT é uma certa demora em dar respostas para as crises , que , as vezes , o próprio partido cria.

Por outro lado, com doze anos governando o país, em meio a crises , tentativas de golpe e convívio nada saudável com uma imprensa hostil e até mesmo criminosa, os quadros do PT tem experiência acumulada e sólida para poder  reverter o momento  e ficar bem , de novo, na próxima fotografia.

Alguns quadros do PT, e até mesmo blogueiros ditos sujos, defendem que o partido tente suavizar na direita o ódio que agora se manifesta contra o governo.

De minha parte, penso o oposto.

Quanto maior o ódio da direita, maior a irracionalidade, e maiores as chances da razão petista - se bem conduzida e acredito que será - vir a prevalecer.

O leitor atento  e fiel deste blogue, já percebeu  que estimular o ódio na direita e na mídia  tem sido uma rotina diária e divertida  do PAPIRO.

Que o PT volte a ser PT em chão firme, com o apoio de sua militância aguerrida, e que parta pra cima dos golpistas.

O jogo não é tão difícil quanto parece ser.

O protesto chique x mudanças pra valer

Marcos Luiz Ribeiro de Barros disse:
17/03/2015 às 7:11 pm Miguel, ainda sobre a pesquisa datafolha domingo na Av. Paulista, 76% tinha curso superior e ganham mais de 10 salários mínimos: essa gente sempre foi contra a Dilma/PT. É preciso que vocês mostrem isso (Você, PHA, Luis Nassif, etc.).
Logo, foi um ato dos derrotados em 26/10/2014.

Fonte: O CAFEZINHO

coluna
Fotos do protesto em coluna social de jornal

Sem dúvida, foi um ato de classe média, alta e de ricos.

Com direito a fotos na coluna social de jornal.

Foi um circo, cá entre nós, incentivado pela imprensa e pelo PSDB, que aproveitaram as investigações do lava-jato e as necessidades de ajustes na economia que o governo vem fazendo e que não são simpáticas nem aos eleitores do PT.

Com muito barulho e sempre culpando o governo por tudo,  a mídia aproveitou o clima e o circo se fez, principalmente nas ruas da cidade de São Paulo.

Para a maioria dos manifestantes, foi algo com um domingo em família no parque, já que a imensa maioria dos manifestantes não tinha discurso político que durasse cinco segundos.

Foi um ato contrário ao PT, típico dos paulistas, que pensam que São Paulo é Milão, na Itália.

Uma demonstração de classe, já que o PT representa os trabalhadores, pobres , sempre rejeitados pelas elites, dos Jardins ao Leblon.

O conflito de classe, no entanto, regrediu para  o ódio, principalmente por parte dos ricos, que amargam a quarta derrota para PT nas eleições presidenciais.

O caro leitor, sempre atento, percebe que  a manifestação pode ser definida como algo do tipo:

" não aguento mais perder para você",  "tenho ódio das suas vitórias",  "detesto suas políticas de valorização da cultura brasileira",  "detesto seus intelectuais" ,"quero odiar, xingar, não aguento mais represar esses sentimentos de raiva por perder tanto ", " quero mostrar que somos ricos, chiques, temos cães de raça" , "viemos todos com a camisa da seleção brasileira de futebol , porque ficamos felizes com a derrota desse país para a Alemanha por 7 x 1,  e reafirmamos nossa condição de derrotados", etc...

Foi o domingo do ódio explícito, sem consciência , sem conteúdo político, uma palhaçada  que entrará para a história, como bem ilustrado na charge abaixo, que revela quem são e  como pensam os manifestantes:


Vitor Teixeira: Patologias políticas
publicado em 17 de março de 2015 às 21:26
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Isso é fato, no entanto o governo Dilma deve reagir e partir pra cima, começando com uma estratégia de comunicação eficaz e atuante.

Se a população está insatisfeita com a corrupção, como afirma a velha mídia raivosa, o caminho para o combate ao desvio de dinheiro público, começa com uma reforma política. Não essa reforma que corre na Câmara dos Deputados e conduzida pelo PMDB, mas sim uma reforma política profunda, que dentre outras coisas, acabe com o financiamento privado de campanha.

Concorda, Ministro Gilmar Mendes ?

Pelo andar da discussão, parece que o Ministro  Mendes não concorda, assim como o imortal de globo, o Merval, assim como a velha mídia, o PMDB, e a quase totalidade os partidos políticos.

Esquizofrênica essa velha mídia, grita contra a corrupção empurrando inocentes úteis para as ruas, mas na hora de combater para valer a corrupção não aceita mudanças nas estruturas viciadas.

Os partidos de esquerda e a parcela da sociedade que de fato desejam mudanças nas estruturas obsoletas, devem participar das campanhas em favor de uma reforma política pra valer que minimize a corrupção e, também,  em defesa da democracia.

Leia abaixo, o que diz CARTA MAIOR sobre a agenda de protestos pela reforma política:

 Dia 21 de abril o PT fará manifestações em defesa da democracia e da reforma política; antes, dias 30 de março e 16 e 17 de abril, a executiva nacional e diretórios estaduais se reúnem, com a presença de Lula, para discutir a agenda de mobilizações.

Como sugestão deste blogue, os protestos agendados deveriam também incluir a reforma da mídia e a questão da distribuição das verbas de publicidade do governo aos órgãos de imprensa, comunicação e mídia , de uma maneira geral.

terça-feira, 17 de março de 2015

Uma questão de ordem

Maioria foi às ruas protestar contra a corrupção

  • 15.mar.2015 - Grupos contrários à presidente Dilma Rousseff fazem ato na avenida Paulista
    15.mar.2015 - Grupos contrários à presidente Dilma Rousseff fazem ato na avenida Paulista

  • Segundo informações do Datafolha, a maioria dos manifestantes que participaram dos atos contra o governo no último domingo (15) em São Paulo, foram às ruas para protestar contra a corrupção. Cerca de 47% dos participantes citaram este motivo ao serem consultados pelo instituto.
O segundo motivo mais citado foi o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, mencionado por 27%. Os outros motivos foram protestar contra o PT (20%) e contra os políticos (14%).
No universo dos 210 mil manifestantes que lotaram a avenida Paulista no domingo na contagem do Datafolha, 82% declararam ter votado no tucano Aécio Neves no segundo turno da eleição presidencial de 2014, 37% manifestaram simpatia pelo PSDB e 74% participavam de protesto na rua pela primeira vez na vida.
Como o Datafolha havia feito uma pesquisa semelhante na sexta (13) junto aos manifestantes do ato liderado pela CUT, UNE e MST, entre outras entidades, é possível comparar os perfis dos dois públicos.
No ato da sexta, formado majoritariamente por eleitores de Dilma, 71% votaram nela no segundo turno, as principais motivações foram protestar contra perdas de direitos trabalhistas (25%), por aumento salarial para professores (22%), por reforma política (20%) e em defesa da Petrobras (18%). A defesa de Dilma foi citada por apenas 4%.
Fonte: BOL
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Essa é boa.

A velha mídia somente foi descobrir ontem, um dia após os protestos de domingo, o que as pessoas estavam fazendo nas ruas.
E olha que foi uma manifestação marcada com meses de antecedência, com uma agenda supostamente definida, bem diferente das manifestações espontâneas de junho de 2013, quando até hoje analistas discutem  aquele movimento.

Como bom observador do cenário político e midiático do país, o caro e atento leitor deve estar se perguntando se a pesquisa do Data folha foi para identificar as motivações dos manifestantes, ou se foi para definir tais motivações, já que a sensação de circo e de insanidade que marcou o domingo deve ter gerado um desconforto nos setores conservadores e reacionários da direita brasileira. 

Segundo o Data folha, praticamente a metade dos manifestantes estavam ali se manifestando contrários a corrupção no país.

Só agora descobriram que a corrupção existe ?

Essa é uma boa pergunta, e é bem provável que a maioria somente nesses governos do PT esteja tomando conhecimento de como a corrupção existe e como está entranhada em todos os poderes da república.  
Atente ao fato, segundo o Data folha, que 74% dos manifestantes estavam participando de um protesto pela primeira vez.

No entanto, esse conhecimento sobre como a corrupção opera, só é possível quando um governo resolve enfrentá-la e a mídia resolve divulgar as investigações sobre os órgãos e empresas governamentais.

O fato de casos de corrupção estarem pipocando aos montes durante os governos do PT, pode e deve ser entendido de duas maneiras, pelo menos:

 - primeiro como algo extremamente negativo, já que toda sociedade espera que a corrupção exista em níveis civilizados, já que somente os ingênuos acreditam que se pode eliminar totalmente a ação de corruptos. Um esquema de corrupção bem elaborado entre as partes envolvidas , nem Deus descobre. Logo a corrupção, assim como a violência urbana, a burrice e a insanidade , sempre irão existir no seio da sociedade , no entanto espera-se que em níveis aceitáveis. É chato, reconheço, e gera um desconforto,ver tantos caso de corrupção,

 - segundo como algo extremamente positivo, já que os governos do PT estão empenhados em investigar, punir os corruptos  e ainda recuperar os valores desviados ilegalmente. 

Como os governos do PT estão investigando, a corrupção aparece, e claro, durante o período desses governos. 
No entanto, o fato de um governo não investigar casos de corrupção , e com  isso a mídia não fazer barulho, não significa que a corrupção não existiu naqueles governos, ao contrário, deve ter existido até mesmo com mais facilidade já que não foi investigada.

Voltando a pesquisa do Data folha, a outra metade foi protestar contra os políticos em geral, pelo impitima da presidenta e até mesmo pela volta da ditadura militar.

Perceba, caro leitor, que 50% dos manifestantes descobriram só agora  que a corrupção existe e outros 50 % deliravam de peito aberto, alguns, como a socialite da foto abaixo, na esperança de se tornar celebridade e, quem sabe, ser convidada para participar do quadro de debatedores do programa do Raul Gil, do SBT, ao lado de Val Marchiori e Tammy.

A socialite Juliana Isen no protesto, em São Paulo

Talvez não seja  essa a intenção da manifestante, e seu desempenho de peito aberto tenha sido apenas uma questão de ordem.

Seja lá o que que for, outras razões , sensíveis, vem a tona por conta do perfil dos manifestantes.

Em sua esmagadora maioria , os manifestantes eram brancos e de classe média, incitados por setores do empresariado midiático - principalmente mas não o único - e político da sociedade.
Não se viu, preto, operário, trabalhador rural e funcionários públicos , em meio a festa voluptuosa de domingo, principalmente nas ruas da Cidade São Paulo, em que o governador do estado é Geraldo Alckmin, que deixou toda a população  da região metropolitana de São Paulo na maior seca, e sequer foi citado nos protestos. Coisas de paulista, deixa pra lá.

Veja o que diz CONVERSA AFIADA:

82% dos manifestantes em SP votaram em Aécio

Bessinha cobriu os protestos dos coxinhas

Tinha três pardos



Abrindo um parênteses, lembro da famosa passeata dos 100 mil, no movimento estudantil, no ano de 1968 na cidade maravilha. Na ocasião, Nelson Rodrigues, sempre ele, conhecidíssimo como sendo simpático a direita, escreveu uma crônica criticando a passeata, já que na visão de Nelson não existiam pretos e trabalhadores no movimento, apesar da defesa dos interesses dos trabalhadores estar presente naquela manifestação. Ainda segundo Nelson, foi uma passeata da classe média e quando  o líder estudantil Vladimir Palmeira pediu para que todos se sentassem para os discursos, somente uma manifestante ficou de pé, o que Nelson atribuiu ao fato de que a moça teria lido somente a orelha do livro de Marcuse.

Essa passagem da passeata dos 100 mil, me remete aos atos de domingo , principalmente em São Paulo.

O caro leitor sabe, que todos perdem com a corrupção, pobres ou ricos. 
Sabe também que ainda no Brasil, os trabalhadores assalariados são os que mais pagam impostos, sejam impostos diretos  ou indiretos. 
Também sabe, que os ricos , por serem ricos, sempre encontram as melhores maneiras e formas de engenharias financeiras para não pagarem  impostos .
Uma evidência inquestionável, é o caso do banco HSBC, onde uma fortuna na faixa dos sete bilhões de reais encontra-se em contas de brasileiros no banco suíço, quantia essa supostamente desviada de forma ilegal do país.
E de uma coisa eu e você, caro leitor, temos certeza; não foram  os trabalhadores assalariados ,  os pretos, os  trabalhadores rurais que desviaram essa dinheirama de forma ilegal .
Foram os ricos, os endinheirados, que talvez assustados com as iniciativas do governo do PT em abrir e expor todos os esquemas de corrupção, resolveram , de peito aberto e com a cara dura, sair ás ruas em nome de uma moralidade e de uma ética em que jamais foram os principais protagonistas.

Essa moralidade  e essa ética, tão pedida com cores da camisa da seleção de futebol brasileira nas ruas das principais cidades brasileiras no domingo último, não pertencem a maioria desses manifestantes, isso, caro leitor, por uma razão muito simples.
As pessoas cumpridores de seus deveres como cidadãos, conhecidas como honestas, sentem-se envergonhadas e mesmo  acanhadas em se declararem como tais e , sabem perfeitamente, que a raiz dos problemas de corrupção e sonegação de impostos não se resolve com proselitismos protagonizados por uma maioria de fariseus ,que incitam uma multidão acéfala às ruas para preservar seus  seculares interesses criminosos.

Assim como a moça dos 100 mil apenas leu a orela do livro de Marcuse, a socialite do protesto apenas assiste aos telejornais da mídia privada e lê os jornalões impressos.

A questão da corrupção e seu combate sistemático não se esgota, ao contrário, o assunto deve amplamente debatido pela sociedade e o governo Dilma deve continuar investigando e punindo os corruptores, corruptos e sonegadores.

No entanto, sabemos todos, assim espero, que apenas investigar  e punir os corruptos não é suficiente para atacar de forma firme a corrupção e a sonegação e, para que a corrupção se mantenha em níveis aceitáveis na sociedade, outras medidas devem debatidas e posteriormente implementadas pelo governo federal.

Entendo, ainda, que tais medidas para minimizar a corrupção não podem ser discutidas pelo atual congresso nacional, uma vez que o número de parlamentares envolvidos em esquemas ilícitos é farto e volumoso. 

 Pelo mesmo motivo, qualquer proposta de criação de um novo marco regulatório para as comunicações no país,  também não pode ser avaliada por este congresso, já que o número de parlamentares proprietários de emissoras de rádio, de emissoras TV e de  jornais é indecente.

Assim a realidade vai se desenhando:

 - milhares foram às ruas protestar contra a corrupção , incitados por setores do empresariado e político que  vêem seus interesse  serem ameaçados com  as investigações em curso do governo federal e também com as denúncias de remessa ilegal de divisas para o exterior;

 - se o foco dos manifestantes foi o combate a corrupção - algo que não se sabia antes da manifestação , mesmo sendo marcada com antecedência - sabe-se que a corrupção não pode ser eliminada com um decreto presidencial, mas sim com medidas eficazes  que contemplem uma ampla e profunda reforma na política , juntamente com um modelo de governança, seja nos órgãos do governo e nas empresas estatais, que proporcione total transparência e participação ativa da sociedade nas decisões de aplicação dos recursos e também na fiscalização dos projetos e obras em andamento;

- curiosamente, em uma manifestação contra a corrupção, como afirma o Data folha,  de  esmagadora maioria branca de classe média e rica, nenhum  parlamentar e nem mesmo o congresso nacional mergulhado em evidências de corrupção e sonegação de impostos ,foi alvo dos manifestantes;

- é sabido que os esquemas de corrupção na Petrobras tiveram início , ou em uma visão realista teriam  se intensificado , no ano de 1996. Cabe ainda lembrar que o  jornalista Paulo Francis,do grupo Globo, á época denunciou o esquema na estatal e, devido a isso foi processado por dirigentes da empresa, o que teria contribuído para a seu falecimento, já que não dispunha de recursos para pagar uma indenização milionária;

- ainda, se de fato o foco da manifestação  foi o combate a corrupção, estranha-se a inexistência  nos protestos ,ou mesmo algum tipo de menção pelos manifestantes, dos esquemas milionários de desvios de recursos nos governos do PSDB no estado de São Paulo, além das estripulias e travessuras aéreas do candidato derrotado Aécio Neves, quando governador de Minas Gerias,

O que o povo brasileiro honesto e  trabalhador  deseja , é que as apurações continuem, com rigor e isenção, e que todos os culpados sejam punidos.
Além disso, o país, alavancado pelos investimentos e obras da Petrobras não pode  sofrer nenhum tipo de paralisação enquanto perdurarem as investigações.

O carnaval já passou e  o verão está chegando ao fim.
Já está na hora de voltar ao trabalho.



segunda-feira, 16 de março de 2015

Insanidade coletiva

Adilson Filho: 

Um clima de insanidade geral toma conta da Nação

publicado em 16 de março de 2015 às 12:40
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por Adilson Filho
Que boa parte da classe média se tornou reacionária nos últimos anos acredito que, a essa altura, ninguém mais discorde. Mas quando Paulo Freire, um dos educadores mais importantes da nossa história, é esculhambado nas ruas, acho que a coisa precisa ser investigada com mais profundidade.
Acho que se aquelas pessoas soubessem quem foi esse homem, a dimensão de sua pedagogia, a importância de suas ideias para a educação brasileira — naquilo que talvez seus próprios filhos hoje estejam se beneficiando para no futuro não repetir gestos lamentáveis como esses — jamais fariam isso.
Um fato como esse é muito preocupante, pois sinaliza (ainda que simbolicamente) para aniquilação do último bastião do maior dos valores civilizatórios, creio eu, que podem redimir essa nação: a educação crítica e humanista, proposta por Freire.
Nesse sentido, eu acho que se quisermos compreender com mais clareza o que está acontecendo com a nossa sociedade, acredito ser fundamental, nesse momento, recorrer a um velho clássico da Sociologia brasileira: “Casa Grande & Senzala”, do também pernambucano Gilberto Freyre.
Certamente encontraremos ali boas explicações sobre como construímos a nossa socialização, como olhamos e subjugamos os negros, os desfavorecidos sociais, ao mesmo tempo em que conseguímos, com criatividade ímpar, estabelecer uma maneira de nos relacionar baseada numa ‘cordialidade’ completamente falsa.
Um tipo de socialização na base do “tamo junto e misturado” que, jamais teve o sentido de inclusão, mas sim de diluir eventuais conflitos que poderiam emergir da violência absurda que se escondia nessas relações.
A partir da última década, um “pequeno” arranhão foi dado na estrutura social — mesmo sem alterar as suas bases — e isso já foi motivo para enorme desconforto e instabilidade. Dividir aeroporto ou filas de exposição no MAM com o porteiro, ver a empregada doméstica se empoderando em seus direitos trabalhistas, o gari se organizando e deixando de recolher o lixo, tudo isso é algo muito novo, totalmente inusitado que deu um sacolejo nessas relações baseadas no mandonismo, no tapinha nas costas e alegria geral — “o pobre é muito gente boa, divertido pra caramba, a gente se dá muito bem; eu, uma pessoa muito caridosa, inclusive ajudo a sua filha com material escolar todos os anos, desde que ela fique lá, e não venha querer dividir agora a universidade com os meus filhos, aí já é demais”.
Ainda assim, o nosso caso é tão complexo, tão singular, que analisar o que está acontecendo só observando a estrutura é pouco. E é aí que entra o segundo fator, acredito, decisivo: A influência nefasta e corrosiva da mídia hegemônica com seus valores e métodos de persuasão.
Durante quase uma década os principais veículos de comunicação se encarregaram de pegar o cidadão já assustado com essa “pequena revolução” e entupir-lhes as veias, artérias e até a sua alma de programas de péssima qualidade, bastante violência (que vai de um tapa no Big Brother até a forma como falam da inflação do tomate) e um pensamento único ultra-liberal, sempre o mais superficial possível, baseado em muita desinformação.
O resultado disso é o medo, o pânico, a confusão ideológica, tudo isso que foi penetrando em sua subjetividade até chegar a esse assustador estado de desespero que temos testemunhado por aí.
E não menosprezemos o que está acontecendo. Há um clima de insanidade geral tomando conta da nação. São pessoas agredindo as outras de todas as maneiras, gente chorando em videos, pedindo socorro aos militares, gente escrevendo carta pra embaixada americana intervir em nosso país, batendo panela e xingando palavrões sexistas ao lado dos filhos, tem relatos de mordida nas ruas, gente surtando em posto de gasolina, etc. Há muito sofrimento envolvido, as pessoas não estão teatralizando, essa dor existe, é da alma, é coletiva; talvez até sejam gritos de dor que carregam o peso da ancestralidade, a nossa história triste de dominação – um pouco do sofrimento e da morte dos índios, da escravidão do negro, das torturas, todos esses ‘demônios’ voltando agora e explodindo no inconsciente coletivo de uma parcela da população.
Enfim, vale a pena voltar a “Casa Grande & Senzala”. Um clássico obrigatório da nossa Sociologia e que certamente ajudará numa compreensão maior sobre o atual momento brasileiro que, mais a frente, quando tudo isso passar ( e vai passar) será também objeto de estudo, assim como são hoje essas outras páginas infelizes da nossa História.
Prefiro olhar pra esses gritos e ver neles a certeza de que o nosso corpo social está se renovando. O futuro do país finalmente começou a ser construído de uma outra maneira; alguns vícios ainda persistem e vamos combatê-los com pressão nas ruas pelas mudanças necessárias; mas com todos os problemas que ainda temos, essa reação de parte da sociedade sinaliza que estamos no caminho certo. Acho isso que nos dá força pra seguir.
Fonte: VIOMUNDO
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'Impeachment', 'intervenção militar', 'basta de Paulo Freire'... o que querem os manifestantes?

Um milhão virou 210 mil, com uma pauta onde não se via a luta pelos menos privilegiados




Nos protestos de domingo (15) contra a presidenta Dilma Rousseff, na Avenida Paulista, os 1 milhão de participantes que, segundo a PM, estavam nas ruas, num passe de mágica se transformaram em 210 mil, segundo o Datafolha.

Levando em consideração de que havia muitas famílias na passeata, com pais, mães e filhos, podemos chegar à conclusão de que havia em torno de 140 mil pessoas com idade para votar. Ora, em São Paulo Aécio Neves contou com 4,1 milhões de votos na capital e com 15 milhões de votos em todo o estado.

Podemos chegar à conclusão de que boa parte das pessoas que votaram em Aécio não aderiu aos protestos. Aliás, nem Aécio foi para as ruas. Assistiu pela janela, em Ipanema.


Capa da 'Folha' desmente números oficiais, que afirmavam haver 1 milhão nas ruas, em SP
Capa da 'Folha' desmente números oficiais, que afirmavam haver 1 milhão nas ruas, em SP

Com relação às manifestações, ficam perguntas no ar: havia faixas pedindo aumento do salário mínimo? Defendendo o direito das mulheres? Dos negros? Havia cartazes defendendo os direitos humanos?

Não. O que se viu foi "fora Dilma", "fora PT", "intervenção militar, já", e "Impeachment". E os pedidos de impeachment durante o protesto se sucederam mesmo após os mais renomados juristas, a CNBB e a própria adversária de Dilma nas eleições, Marina Silva, terem afirmado exaustivamente que, além de não ter base jurídica e constitucional, o impeachment só seria mais prejudicial ao país.

O que se viu nas ruas foi um processo radical contra o PT e Dilma. E o governo, ao reagir, passou o recibo que, a juízo de especialistas, não tinha a necessidade de passar. Acusou o golpe que era contra o governo e contra as instituições, por razões individuais, em função das recentes eleições.

Os cerca de 20 criminosos flagrados armados - se realmente estavam armados - que supostamente tinham o objetivo de causar confrontos na passeata, são a comprovação triste de que tais fatos podem se repetir, talvez em maiores proporções, em novos protestos, com uma população mais raivosa.


No cartaz durante protesto de domingo, em Brasília, 'Basta de Paulo Freire'
No cartaz durante protesto de domingo, em Brasília, 'Basta de Paulo Freire'

Num dos flagrantes do protesto, manifestantes, em Brasília, mostravam cartaz onde de lia "Basta de Paulo Freire", um dos mais brilhantes educadores, pedagogos e filósofos da história do Brasil, sendo considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial. Basta, não é de Paulo Freire. Basta é com as provocações em que só perdem os que tem o que perder.


Fonte: JORNAL DO BRASIL
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Um clima de insanidade e de irracionalidade toma conta do país, graças, principalmente, a campanha sistemática promovida pelos veículos de mídia do grupo Globo.

Pessoas em surto pedem impeachment da presidenta, sem qualquer embasamento jurídico ou político para tal demanda, apenas repetindo o que dizem e escrevem os principais colunistas de jornais e telejornais.

Pessoas pedem intervenção militar em um país que vive em pleno regime democrático, a ponto de permitir que pessoas possam até mesmo surtar em suas demandas.

No meio dessa geléia que foi a manifestação de ontem, nenhum pedido dos manifestantes tem base legal, política e racional, o que revela uma insanidade coletiva.

Cabe agora ao governo federal tomar as medidas necessárias para implementar uma terapia coletiva, e , para isso , é de extrema importância trazer à tona o debate sobre a regulamentação dos meios de comunicação e, até mesmo, cassar os sinais das emissoras de TV do grupo Globo, mesmo que apenas por um determinado período, para que a população possa ser atendida e a democracia no espectro informacional reestabelecida.

Torcedores em rede











E pela décima rodada do campeonato estadual do Rio de Janeiro, o Fluminense perde o terceiro jogo, a segunda derrota para times de menor investimento.

Ao final do jogo de meio de semana, contra o Bonsucesso,  quando o tricolor fez três gols nos primeiros quinze minutos de jogo e depois tirou o pé e parou de jogar garantindo o placar até o término da partida, na saída do campo , um jogador quando entrevistado disse que o time tirou o pé já que domingo, ontem, teria um jogo difícil.

Parece que tirou o pé geral, já que a apatia de alguns jogadores ontem foi escandalosa, inclusive do mesmo que foi entrevistado e deu tal declaração.

O torcedor já viu esse filme.




No ano passado, 2014, ano em que o PT através da candidata Dilma conseguiu a quarta vitória consecutiva sobre o PSDB em eleição livre e democrática para a presidência da república, o time do Fluminense apresentou o mesmo comportamento que vem apresentando neste ano, até o momento. 

No campeonato brasileiro de 2014, o tricolor jogou oito vezes contra os times de São Paulo - times grandes, ricos e vencedores - e venceu sete jogos e empatou apenas um. Um aproveitamento excelente de 87,7%.
Por outro lado perdeu várias vezes e empatou outras tantas, contra times de menor investimento que estavam brigando na parte baixa da tabela de classificação, sendo que alguns foram rebaixados para série B. Todos jogavam bem fechadinhos, como diz o treinador tricolor.

Ganha dos ricos e dá aos pobres.


Como seria bom se tivéssemos um governo que resolvesse taxar a fortuna dos ricos em benefício dos pobres.


Esse comportamento do time do Fluminense se repete neste ano, mesmo  o time tendo reformulando metade do elenco.

O treinador, sempre que vem a público diz que o Fluminense é um time ofensivo e que sente dificuldades de jogar contra equipes que jogam bem fechadas.
Ora, se o time é ofensivo deve saber jogar contra qualquer equipe, o que não acontece.  
Logo o time tricolor é um time 50% ofensivo, pois só sabe jogar contra equipes que oferecem espaços.
É uma deficiência que deve ser corrigida com treinamento  e com variações e opções táticas eficazes, como , aliás, afirmou corretamente um jogador do Fluminense , ontem, ao término da partida.

Os jogadores, quando entrevistados, dizem que os torcedores são passionais e exageram.

Também não é 100% verdadeiro.
A grande maioria ,dos torcedores, quando analisa o desempenho de seus times em partidas , campeonatos  e a vida de seus clubes, o faz de forma extremamente racional e analítica. 
No entanto essa grande maioria quando se manifesta, inclusive com uma agenda sobre aquilo que percebe ,o faz de forma passional, irracional e descabida. 
Isso acontece tanto em períodos de vitórias, com elogios e endeusamentos de atletas como em derrotas , com xingamentos, brigas e até mesmo pedido de impeachment de presidente, como pode ser visto em faixa colocada por parte da torcida do Fluminense em jogos do clube.

O futebol, como tudo na vida de uma sociedade , acaba por ser contaminado pelo clima  e pelo estado de espirito dessa sociedade.


Lembro que no ano de 1984, quando o país  fervia em campanha por eleições diretas para presidente da república - era o final de uma ditadura militar sanguinária - um time de futebol, o Corinthians, implementou, com sucesso dentro e fora do campo de jogo,  a famosa democracia corintiana, onde uma abertura nas relações dos jogadores com a direção do clube e com os torcedores pode ser vista e vivenciada.

Sócrates e seus companheiros  de clube, contaminados pelo clima daqueles anos, estavam bem a frente de seu tempo.

Hoje, quando a democracia sofre restrições, contenções e ataques até mesmo em países com histórico democrático, o futebol , de certa forma, também se contamina, quando assistimos o presidente da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, dizer, em alto e bom som, que irá punir e multar clubes que apenas  criticarem o campeonato de futebol do Rio de janeiro. 

Se isso não bastasse, o atual  presidente da CBF foi governador do estado de São Paulo nos anos de 1982 e 1983, no final da ditadura militar, pelo partido dos militares que estavam no poder.

A luz  e a esperança trazem a inteligência, enquanto o obscurantismo e o autoritarismo trazem a ignorância.


Enquanto a seleção de futebol  alemã ficava quarenta dias no Brasil durante a copa de 2014, hospedada em uma localidade paradisíaca e ensolarada em um vilarejo no sul do estado da Bahia, a seleção brasileira ficou o mesmo período em um local gelado, chuvoso e cinzento.


O torcedor do Fluminense assiste o filme do ano passado se repetir em 2015, no entanto, quando protesta o faz de forma irracional e passional, como  a totalidade de torcedores de outros clubes.

Isso acontece, em grande parte, pelo desconhecimento  devido a falta de transparência na gestão dos clubes.

Na era da sociedade em rede e do sócio torcedor, um empoderamento natural acontece, tanto para o cidadão quanto para o torcedor.

No entanto, as estruturas hierarquizadas e pouco transparentes de governos, corporações e clubes, criam um choque entre a organização social em redes e as organizações hierárquicas dos Poderes. 
E isso sempre tem uma conta a ser paga.

Lembro que em um passado, lá pelos anos da década de 1990, quando a internete era apenas um embrião e a sociedade em rede um exercício de futurologia, o PT - Partido dos Trabalhadores - implementou com sucesso por mais de dez anos um modelo de gestão participativa na prefeitura de Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul. 

Em rede, em uma sociedade em rede que ainda engatinhava, o povo participou horizontalmente nas decisões da prefeitura, definindo prioridades com total transparência.

Assim como Sócrates, o PT estava a frente de seu tempo.


Atualmente,  mesmo com o obscurantismo querendo avançar, ouvidorias e ombusdmam começam a ficar obsoletas, tendo em vista a possibilidade  de torcedores e cidadãos terem diálogos, debates, fóruns e contatos em  tempo real com governos, corporações e clubes de futebol.

No entanto,  na maioria  das estruturas hierarquizadas e obsoletas, nem mesmo uma ouvidoria existe e a concentração do poder midiático é mais uma ameaça a democracia.

Veja o que diz CARTA MAIOR :

 O direitaço deste domingo foi além do que estava precificado porque a mídia foi além do se supunha. O que se supunha é que associaria a simpatia pela 'causa' à cobertura favorável. Mas ela convocou, orientou e deu organicidade às redes sociais da mobilização.Por fim, repercutiu como quis. Ao governo: precisa desenhar ou ficou claro?

Na política, o drama do choque de realidades se fez de forma clara em alguns países europeus, ao longo dos últimos oito anos.
Depois de meses e anos de protestos sucessivos  nas ruas - fruto da organização horizontal das sociedades em redes -  as populações grega e espanhola - assim como outras sociedades - entenderam que para mudar as estruturas obsoletas apenas os protestos não eram suficientes. 
Entenderam, corretamente,  que  deveriam competir de acordo com as regras vigentes em tais democracias e, com isso, criaram organizações ou coligações partidárias para disputar o Poder.
Aquilo que antes era movimento se transforma em partido político, e tem sido bem sucedidos nas eleições. 
Cabe ressaltar que hoje, no jornal o globo, o colunista Merval Pereira, em artigo passional assim como um torcedor  de futebol que protesta,  afirma que se o Brasil fosse um regime parlamentarista, a presidenta teria que ser mudada por conta dos protestos de ontem. Só para lembrar, Grécia e Espanha, tem chefes de governo em regime parlamentaristas e tiveram inúmeras manifestações gigantescas ao longo desses últimos  anos e nenhum primeiro ministro saiu do cargo por conta das manifestações naqueles países.



Na política como no futebol, os torcedores, de clubes e partidos políticos avaliam  bem a situação, no entanto são completamente irracionais e descabidos no momento em que se manifestam, favoráveis ou contrários.


O sócio torcedor nos clubes de futebol e a sociedade organizada em redes - ambas formas de empoderamento das pessoas - em um futuro bem próximo ainda irão cobrar a conta, caso as estruturas não se modernizem.