quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Guerra ao Islã ?

O discurso da presidente Dilma Rousseff na abertura da Assembleia-Geral das Nações Unidas conteve verdades óbvias, mas inconvenientes; diante dos líderes mundiais, ela teve a coragem de dizer que mais violência, como os bombardeios aos países onde se escondem militantes do Estado Islâmico, irá gerar mais violência; "O uso da força é incapaz de eliminar as causas profundas dos conflitos. Isso está claro na persistência da Questão Palestina, no massacre sistemático do povo sírio, na trágica desestruturação nacional do Iraque", disse ela; no entanto, para a mídia brasileira, com destaque para o Globo, Dilma foi quase confundida com uma militante jihadista disposta a decapitar cabeças; segundo Merval Pereira, discurso de Dilma produziu nele o sentimento de "vergonha alheia"; o que dizer então do Globo?

25 DE SETEMBRO DE 2014 

247 - Há tempos um discurso presidencial não irritava tanto a direita brasileira, como aconteceu nesta quarta-feira. Em Nova York, ao abrir a Assembleia-Geral das Nações Unidas, a presidente Dilma Rousseff teve coragem para enfrentar um tema sensível, no momento em que países do Ocidente, tendo os Estados Unidos à frente, lideram uma nova ação militar contra países como Síria e Iraque, onde se escondem militantes do Estado Islâmico. De acordo com a presidente Dilma, uma nova onda de violência, que não enfrente a raiz dos problemas, irá apenas gerar uma escalada ainda maior de violência.

Eis o que disse a presidente Dilma sobre a questão:

Não temos sido capazes de resolver velhos contenciosos nem de impedir novas ameaças. O uso da força é incapaz de eliminar as causas profundas dos conflitos. Isso está claro na persistência da Questão Palestina; no massacre sistemático do povo sírio; na trágica desestruturação nacional do Iraque; na grave insegurança na Líbia; nos conflitos no Sahel e nos embates na Ucrânia. A cada intervenção militar não caminhamos para a Paz mas, sim, assistimos ao acirramento desses conflitos. Verifica-se uma trágica multiplicação do número de vítimas civis e de dramas humanitários. Não podemos aceitar que essas manifestações de barbárie recrudesçam, ferindo nossos valores éticos, morais e civilizatórios. O Conselho de Segurança tem encontrado dificuldade em promover a solução pacífica desses conflitos. Para vencer esses impasses será necessária uma verdadeira reforma do Conselho de Segurança, processo que se arrasta há muito tempo. (...) Um Conselho mais representativo emais legítimo poderá ser também mais eficaz. Gostaria de reiterar que não podemos permanecer indiferentes à crise israelo-palestina, sobretudo depois dos dramáticos acontecimentos na Faixa de Gaza. Condenamos o uso desproporcional da força, vitimando fortemente a população civil, especialmente mulheres e crianças. Esse conflito deve ser solucionado e não precariamente administrado, como vem sendo. Negociações efetivas entre as partes têm de conduzir à solução de dois Estados – Palestina e Israel – vivendo lado a lado e em segurança, dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas.

O que há de errado nesse argumento? Será que a "Guerra ao Terror", promovida pelos Estados Unidos no Iraque realmente semeou a paz? Será que a intervenção ocidental em países como Egito e Líbia deu origem a países estáveis? Será que a carnificina recente promovida por Israel na Faixa de Gaza, com o assassinato impune de 2,2 mil inocentes, liderado por Benjamin Netanyahu, plantou o amor no coração dos palestinos?

Dilma disse o óbvio. A escalada da violência irá produzir, apenas, mais violência.

No entanto, para a imprensa brasileira, com destaque para o jornal O Globo, a presidente Dilma foi tratada quase como uma militante jihadista do Estado Islâmico, pronta para decapitar cabeças. 

Na capa, duas chamadas para seus "autoelogios", como se o discurso fosse uma peça de campanha política, e para o fato de ela não se opor "à atuação contra o Estado Islâmico". A imagem principal, de um Barack Obama focado, também já denota o alinhamento ideológico da família Marinho.

Internamente, o editorial "Palanque em Nova York" acusou a presidente de usar o "vestido vermelho PT" na ONU e de se colocar ao lado de "sectários muçulmanos, que adotam costumes medievais". Na coluna "Uso indevido", Merval Pereira disse ter sentido "vergonha alheia" pelo discurso de Dilma. Por fim, houve espaço para um artigo do embaixador Luiz Felipe Lampreia, que foi embaixador no governo FHC, afirmando que, com discursos como o de ontem, o Brasil fica cada vez mais distante de tornar-se membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O fato é que, no entanto, enquanto esteve alinhado aos Estados Unidos, o Brasil jamais teve suas pretensões diplomáticas levadas a sério.

Fonte: A JUSTICEIRA DE ESQUERDA
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Ontem, no jornal da noite da Bandeirantes, Boris Casoy - aquele mesmo que foi flagrado atacando garis - disse, referindo-se ao discurso de Dilma na ONU, que a posição do Brasil na política externa é errática desde os tempos de Lula.

Errática, talvez, na opinião do  apresentador do jornal, já que na prática, nos últimos doze anos, o Brasil se beneficiou , e muito, com a política externa adotada pelos governos do PT.

A opinião do apresentador faz parte de um coro , de direita, que gosta de ver o Brasil submisso, de joelhos, retirando sapatos em aeroportos, alinhado com um  modelo predador e em decadência, como é o modelo liderado pelos EUA e a União Européia.

O discurso de Dilma na ONU, em não apoiar mais guerras que acabam por incentivar mais guerras e mais terrorismo,  revela o quão acertada é a política externa brasileira nos governos do PT.

Os exemplos são em grande número, e estão aí, como Iraque, Afeganistão, Líbia e outros tantos.

O fato de não apoiar as soluções bélicas com uso extremo da força,como deseja os EUA,  não significa que o Brasil do PT apoie as ações do Estado Islâmico, como afirmam os limitados jornalistas da velha mídia, sempre de prontidão para manipular, distorcer , e produzir realidades paralelas que atendam seus interesses políticos, doutrinários e comerciais.

Na esteira das manipulações , proliferam declarações de jornalistas da velha mídia em que afirmam sentir vergonha da declaração da presidenta.

O comportamento  da velha mídia brasileira se assemelha, e muito, com o comportamento de um outro fundamentalista, no caso cristão, que foi George Bush II , quando governou os EUA por oito anos.

Quando presidente, Bush disse que aqueles que fossem contrários a guerra sem fim liderada pelos EUA em nome de Jesus  e abençoada pelo Papa João Paulo II - como ocorreu na invasão americana no Afeganistão em 2002 - estariam ao lado dos inimigos do mundo ocidental e dos valores americanos.

Ora, ser contrário as posições dos EUA não significa estar de acordo com os "inimigos" dos EUA.

O pensamento-proposta de Bush II, além de estreito e nada democrático, foi usado para exportar a democracia americana para o mundo, segundo palavras do ex-presidente, "libertando os povos oprimidos" de ditaduras que ignoram as liberdades.

Hoje, passados mais de dez anos e com o distanciamento que sempre facilita a leitura e compreensão da história, pode-se afirmar, também, que Bush II talvez estivesse se referindo ao próprio EUA como um local de democracia violada e de direitos suprimidos.

Mesmo assim, ao que parece , a história se repete e os discursos são praticamente os mesmos.

O presidente Obama, hoje, afirma que os terroristas assassinos do Estado Islâmico só conhecem a linguagem da força, motivo pelo qual justifica seus ataques.

São realmente imagens de extrema barbárie , os assassinatos com decapitação de pessoas inocentes divulgados pelos extremistas do Estado Islâmico.

Assassinatos bárbaros, assim com são os assassinatos de civis inocentes cometidos pelo estado americano com suas práticas de ataques seletivos com  drones ou ainda assassinatos em séries de inocentes cometidos pelo estado israelense em suas guerras.

A luz da realidade dos fatos, são assassinos do estado americano  e aliados em luta contra assassinos do estado islâmico.

A posição brasileira na assembléia da ONU, através do discurso de Dilma, repudia a barbárie como forma de resolução de conflitos.

Aliás, essa posição da diplomacia brasileira não tem nada a ver com os governos do PT e se insere em uma posição história do Brasil no tocante aos conflitos e a maneira de como resolvê-los, sempre defendendo o direito e a soberania dos países envolvidos.

Utópica e pragmática, assim tem sido o posicionamento da diplomacia brasileira ao longo de décadas e décadas, independentemente da origem dos partidos no governo, e privilegiando sempre o diálogo civilizado.

A questão do estado islâmico, um fundamentalismo religioso obscuro e retrógrado, assim como foi o não menos obscuro e retrógrado governo fundamentalista de Bush II, deve ser resolvido contemplando-se as especificidades da região e toda a questão religiosa envolvida.

A presença do ocidente, na resolução ou tentativa de resolução de conflitos em países islâmicos, tem contribuído para agravar ainda mais os conflitos na região, com desdobramentos de ações terroristas pelo mundo.

Para a maioria do povo muçulmano, essa presença do ocidente ganha contornos de uma guerra ao islã, gerando com isso mais guerras e mais conflitos, como acertadamente declarou a presidenta Dilma em seu discurso na ONU.

Fundamentalismo religiosos não são saudáveis, porém nenhum país, mesmo superpotências não declararam a intenção de invadir os EUA para segurar as loucuras fundamentalistas de Bush II.

A cultura ocidental, ao que parece através das ações de países como EUA e  da União Européia, ignora, ou rejeita, o que é ainda pior, a cultura dos países muçulmanos.

Exportar a democracia dos moldes ocidentais para países muçulmanos é desconhecer a cultura do islã, ou má fé dos exportadores.

Os exemplos estão aí, com o fracasso de investidas no Afeganistão, no Iraque e na Líbia, onde o equilíbrio interno desses países foi quebrado com a invasão patrocinada pelos EUA, criando com isso mais instabilidade na região .

Mesmo os países que vivenciaram a primavera árabe, nesta década, tem enormes dificuldades em implementar democracias plenas.

Os estados muçulmanos devem ser percebidos ,reconhecidos e aceitos  de acordo com a realidade e cultura do islã.

São países onde o conceito da democracia ocidental - que em tempos atuais mesmo no ocidente está longe de ser plenamente democrática  - tem enorme dificuldade de adaptação, tendo em vista a religião única , o islã, e as inúmeras interfaces entre religião, política e estado contidas no Alcorão, o livro que rege as sociedades islâmicas.

O presidente dos EUA, ontem, sem que ninguém o acusasse , disse que a guerra contra o Estado Islâmico não era uma guerra contra o islã.

Ato falho ?

Internamente, a velha mídia brasileira alinha-se incondicionalmente com as decisões tomadas pelos governos dos EUA e da União Européia. 
Se ainda tais decisões dizem respeito ao uso da força, ganham uma aprovação maior e mais enfática pelos nossos - nossos suma ova , seus - jornalistas submissos que ignoram o diálogo e a diplomacia como os melhores caminhos  para solução de conflitos.
Curiosamente, se uma determinada categoria de trabalhadores, aqui no Brasil, resolve entrar em greve, imediatamente essa mesma velha mídia os acusa  de intransigentes por não esgotar todas as possibilidades  e formas de diálogo.

A democracia defendida pelos EUA e países da União Européia, e também defendida e aplicada na prática pela velha mídia brasileira, não contempla o diálogo e  ainda valoriza toda e qualquer  manifestação da  força.

Curiosamente, em  democracias prevalece o desejo da maioria, entretanto, o que se vê de forma clara e inequívoca, em todo o mundo ocidental que se diz democrático e civilizado, é uma minoria que se utiliza da força e do poder econômico  para impor suas decisões. 

Parabéns a Presidenta Dilma, pelo corajoso e civilizado discurso na abertura da assembléia da ONU. 
Motivo de orgulho para todos nós.

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