terça-feira, 17 de setembro de 2013

Máscaras & Máscaras

Cobrir o rosto é o de menos

Os Black Blocs não são radicais e a esquerda não pode ser condescendente com isso. Eles fazem ações epidérmicas, levianas e superficiais. Radical quer dizer ir à raiz das questões. Qual a radicalidade de se juntar meia dúzia de garotos hidrófobos e depredar a fachada de um banco? Em que isso penaliza o sistema financeiro?


A esquerda não pode, em hipótese alguma, ser condescendente com as ações dos Black Blocs.

Assim como é imperativa a condenação da violência policial, deve-se igualmente negar qualquer aprovação a táticas individualistas, desagregadoras e isolacionistas de grupelhos que se valem de manifestações para desatar sua bílis colérica sobre orelhões, lixeiras e vitrines de lojas.

Qual o programa dito radical dos Black Blocs?

Nenhum, pois os Black Blocs não são radicais. Fazem ações epidérmicas, levianas e superficiais.

Radical quer dizer ir à raiz das questões. Qual a radicalidade de se juntar meia dúzia de garotos hidrófobos e depredar a fachada de um banco? Em que isso penaliza o sistema financeiro?

Baixar em um ponto as taxas de juros é algo muito mais eficiente e danoso à especulação do que as travessuras de meninos e meninas pretensamente rebeldes que cobrem os rostos para parecerem malvados ou misteriosos.

Aliás, qual a finalidade de máscaras e rostos ocultos, além do desejo infantil de um dia ser Batman, Zorro ou National Kid e sair por aí saltando sobre prédios e vivendo aventuras espetaculares? De se ter uma identidade secreta, na qual de dia enfrenta-se uma vidinha besta e à noite, na calada, devolve-se anonimamente à sociedade o mal que se esconde nos corações humanos, como dizia o Sombra em voz gutural?

O pior é que as peripécias dos blocos de blaques isolam os protestos da população que a eles poderia aderir e reduz o ímpeto das mobilizações à idéia de baderna pura e simples. Que acaba sendo complementar à violência policial. Ambas se justificam e se explicam.

Trotsky tem um texto admirável chamado “Por que os marxistas se opõem ao terrorismo individual”, escrito em 1911. Ali, o revolucionário russo opõe a consequente manifestação coletiva a ações estrepitosas de poucos indivíduos tomados de fúria aleatória.

O seguinte trecho tem a precisão de um compasso:

“Para nós o terror individual é inadmissível precisamente porque apequena o papel das massas em sua própria consciência, as faz aceitar sua impotência e volta seus olhos e esperanças para o grande vingador e libertador que algum dia virá cumprir sua missão”.

E mais adiante, completa:

“Nos opomos aos atentados terroristas porque a vingança individual não nos satisfaz”.

Os Black Blocs têm uma ação deletéria. Acabam justificando a violência policial para um grande número de potenciais participantes de mobilizações de protesto. Exacerbam o reacionarismo existente na sociedade e transformam movimentos sociais em sinônimo de vandalismo. Animam pit bulls existentes nos aparelhos de segurança, como o boçal que atende pelo nome de capitão Bruno, da tropa de choque de Brasília.

Os Black Blocs não organizam nada, não querem nada.

E podem fazer com que manifestações maciças virem nada.
Fonte: CARTA MAIOR
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Anonymous lança vídeo contra Marco Civil




Vídeo vai na contramão da luta da sociedade civil pela aprovação da lei, que garante neutralidade da rede e privacidade do internauta
Por Adriana Delorenzo
Enquanto movimentos da sociedade civil lutam pela aprovação do Marco Civil da Internet, um vídeo divulgado no Youtube pelo canal Anonymous convoca a sociedade contra a aprovação da lei e ainda chama a população para ir às ruas no dia 27 de setembro. “Marco Civil é um atentado à liberdade de expressão. Censura está sendo imposta pelo governo, o chamado Marco Civil da Internet. Acorde e lute contra isso. Mais uma lei que vai tentar censurar os internautas de mostrar as mentiras do sistema”, diz o marcarado no vídeo.
O projeto de lei do Marco Civil ( PL 2126/11) está para ser votado na Câmara dos Deputados e busca garantir que a internet continue funcionando como é hoje, mantendo a neutralidade da rede, que obriga os pacotes de dados a serem tratados de forma isonômica, sem distinção por conteúdo, origem, destino ou serviço. O texto final do projeto foi construído com participação da sociedade com consulta e audiências públicas. Para o ciberativista e consultor em mídias digitais João Carlos Caribé, a não aprovação do Marco Civil só interessa aos “grupos de telecomunicação e aos grandes escritórios de advocacia que lucram com os direitos autorais”.
“Está na cara que o Anonymous no Brasil é a direita mascarada, quem conhece o Anonymous internacional sabe que eles têm uma postura mais progressista”, diz Caribé. Para ele, os representantes brasileiros estão desacreditados e ele acha difícil campanhas como essa colarem na rede.
Fonte: REVISTA FÓRUM
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O assunto é complexo.
O debate é fundamental.
Generalizações e reducionismos não agregam valor.
Rostos cobertos, ou pintados, estão inseridos em tradições de lutas.
O EZLN -exército zapatista de libertação nacional- que pode-se afirmar de orientação pela esquerda, tem nas máscaras seu símbolo e nem por isso ninguém por lá deseja ser national kid ou batmann.
Por aqui existem máscaras e máscaras.
Muitos que saíram às ruas nos protestos de junho, com rostos cobertos por camisas ou lenços, não tinham nenhuma ligação com black blocs e, pelo que vimos, estavam lá , apenas, para atos de vandalismo, e terror, apoiados por setores de ultra direita.
Pouco se falou deles.
Já os black blocs, que assumiram uma suposta orientação de esquerda, passaram a ser demonizados pela velha imprensa e também por setores da esquerda.
Isso não é uma defesa dos black blocs, nem uma rejeição, apenas uma constatação.
A esquerda e a direita, embarcam no mesmo discurso, que em tese pode ser atribuído a uma defesa da real politik, atribuindo ingenuidade, terror e vandalismo a um grupo, que ao que parece, deseja mais que a velha política , desgastada, do toma lá da cá, dos acordos de 'governabilidade', da política enquanto um projeto eleitoral.
Talvez, e aí concordo com o autor que a maneira de expressar essa negação por algo que foi útil nos últimos anos não seja a forma mais adequada, mas é assim que os movimentos e idéias amadurecem.
Antes dos protestos de junho era raro se ouvir ou ler algo sobre ataques a símbolos do capitalismo.
Nem a esquerda e muito menos a direita abordavam tal assunto.
Hoje, pelo menos no texto de CARTA MAIOR, se discute se a tática de ataques aos símbolos capitalistas é eficaz ou não. Ou seja, abre-se um canal para reflexões sobre novas formas de luta contra o inimigo. Reconhece-se a necessidade de luta. O inimigo é identificado.
Tudo isso, e talvez mais, não estava na pauta de discussões da sociedade antes dos protestos de junho, tanto na esquerda como na direita.
Se a tática dos blac blocks é ineficaz e produzida por vândalos, como cita o autor, ela pelo menos serviu para abrir janelas nas pessoas sobre o inimigo e formas de desestabilizá-lo. Isso é fato.
Por outro lado, os também mascarados do grupo Anonymus, caminham na contramão de avanços democráticos, e nada aparece sobre eles na velha mídia.
Como disse existem máscaras e máscaras.

Os governos de esquerda da América do Sul, das últimas décadas, avançaram em políticas e programas sociais, mas não romperam com o modelo hegemônico.
O que se observa, atualmente , é que se deseja avançar mais, e no contrexto da real politik, parece que as margens de manobra para atender as demandas da esquerda, estão se esgotando.
Uma esquerda com partidos políticos que tenham apenas projetos eleitorais está se esgotando.
Se faz necessário um salto, com um projeto ousado e popular.
A luta é necessária, mesmo que com equívocos, erros e recuos.
Os discursos tanto da esquerda como da direita, que negam a luta, se situam em uma defesa do status quo, com poucos oscilações dentro de um contexto que não proporciona grandes avanços.
O risco faz parte , tanto para direita como para a esquerda.


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