quarta-feira, 10 de abril de 2013

Imprensa e Poder Público Sujos




Hoje, 10 de abril, é um dia de ótimas lembranças.

Há exatos 29 anos, não necessariamente uma data redonda, a cidade do Rio de Janeiro vivia um de seus momentos mais belos.

O comício na Candelária, centro do Rio, por eleições diretas para presidente da república  reuniu 1 milhão e duzentas mil pessoas.

Talvez a maior concentração de pessoas em um ato político na cidade.

Em um final de tarde típica do outono na cidade, onde o sol respeita o carioca, assistíamos shows de artistas, sim meu caro leitor, naqueles tempos os artistas estavam ao lado do povo, enquanto aguardávamos os principais oradores do mega comício.

" todo artista tem que ir aonde o povo está", cantava Milton Nascimento acompanhado pela multidão.

O tempo passou, ou as pessoas foram passando, e o brasileiro , hoje, já vota para presidente desde 1989, aliás eleições em que o resultado ainda nos remete a tristes e vergonhosas manipulações e fraudes contra o candidato do povo.

Nas ruas o carioca viveu um momento de êxtase.

Hoje, os principais jornais da cidade,  principais não pelo conteúdo mas pelo número de exemplares vendidos, anunciam medidas da Prefeitura para multar as pessoas que jogam lixo nas ruas da cidade maravilha.

Os programas de tv das manhãs, como os programs da tv globo, repercutem a medida , levando os especialistas de sempre para comentar o assunto.

Foram, inclusive, apresentados exemplos de outras cidades pelo mundo onde existem legislações rigorosas para os infratores.

Claro, não faltaram imagens de pessoas jogando lixo nas ruas, aqui e em outras cidades.

A rua, e os espaços públicos, que em tempos que começam a ficar distantes , já foram do povo.

" a praça Castro Alves é do povo, como o céu é do avião" diz a canção de  Caetano Veloso.

Naquele outono do ano de 1984, certamente muito lixo ficou pela rua, depois da passagem da multidão, ou da passagem de um samba popular.

" cada paralelepípedo da cidade essa noite vai se arrepiar" ,diz a canção de Chico Buarque.

Eram outros tempos em que a economia do descartável ainda engatinhava pelo Brasil e, por esse motivo, o lixo foi bem menor, proporcionalmente aos dias de hoje.

O hábito do carioca de jogar o lixo nas ruas vem de longas épocas.

Em nada se justifica usar os epaços públicos como lixeira.

A medida do Prefeito da cidade, que a partir da década de 1980 voltou a ser eleito pelo povo, é boa, porém oportunista e ainda mal repercutida pelos principais meios de comunicação.

A cidade do Rio de Janeiro vem sofrendo com sérios e graves problemas oriundos do lixo, seja ele doméstico, individual ou industrial.

Todas as lagoas da cidade, todos os rios da cidade e a baía da Guanabara, são depósitos a céu aberto de lixo e , principalmente de esgoto doméstico , fruto do descaso das autoridades, eleitas pelo povo em eleições livres e diretas.

O problema se agrava, ano após ano, administração após administração.

Acrescente-se a isto os inúmeros problemas com as ultrapassadas galerias de esgoto e águas pluviais da cidade , que fazem com que dejetos humanos fiquem expostos em chafarizes que brotam das tampas dos bueiros , nas calçadas e ruas da cidade.

Certamente os proprietários desses dejetos fizeram o descarte corretamente não tendo  a intenção de jogá-los nas ruas e muitos menos vê-los circulando pelas calçadas.

Some-se a tudo isso a mudança de perfil do lixo, que hoje, é bem diferente daquela de 29 anos atrás.

Os produtos de consumo, alimentos e bebidas ,em sua maioria,  são acondicionados em embalagens descartáveis.

Os bens de consumo, não duráveis, como equipamentos eletrônicos e elétricos portáteis, também são descartados após um tempo de uso ou quando apresentam problemas no funcionamento, além , claro, das baterias necessárias para o funcionamento.

O plástico é amplamente utilizado como embalagem que acondicona produtos já embalados.

As embalagens de metal, também descartável , proliferam.

E a coleta do lixo , deve estar se perguntando  corretamente o caro leitor.

Não mudou e é a mesma de trinta, quarenta anos atrás.

A prefeitura não tem uma coleta seletiva do lixo residencial e comercial e a logística de coleta, também revela anacronismos.

Nas ruas da cidade, que já foram plenamente do povo,existem recipientes para que o cidadão possa descartar o lixo de momento.

Os recipientes existem até em bom número,mas são inadequados.

Instalados durante a gestão daquele prefeito que pedia sorvete em açougue e andava vestido com agasalho pesado com calor de 40 graus Celsius, não levam em consideração alguns hábitos da população.

Adquiridos seguindo o modelo português, ( não se trata de piada, caro leitor) obviamente são inadequados para descartar um coco, bebida tão comum nas ruas da cidade.

Se o carioca , nas ruas bebe um água de coco, não tem onde descartar o coco, pois ele não entra nos recipientes de coleta.

Como pode observar o caro e higiênico leitor, são inúmeros os problemas do lixo na cidade que porcos administradores não resolvem, isso há décadas.

Some-se aos problemas de administradores porcos, outros problemas que a prefeitura e o estado não resolvem, ou resolvem parcialmente com serviços de péssima qualidade, como os transportes coletivos, explosões de bueiros apenas para citar os mais conhecidos .

Assim sendo , caro e higiênico leitor, o povo da cidade do Rio de Janeiro, foi , hoje , mais uma vez insultado pela grande imprensa, que ao noticar a decisão da prefeitura ( decisão correta, vale repetir) referiu-se ao carioca como sujo, sem fazer nehuma análise crítica da situação e ainda preservando os porcos administradores e os selvagens concessionários dos serviços públicos.

A medida da prefeitura se dá poucos dias depois de um coletivo urbano despencar de um viaduto sem a proteção adequada, depois dos corriqueiros problemas com trens urbanos e barcas, e , também, depois de um equipamento da prefeitura, o estádio de futebol Engenhão, ter sido interditado por problemas durante a construção.

A tv globo, em seus programas matinais, como disse, repercutiu o assunto sem nenhuma análise crítica onde proliferaram imagens do cidadão jogando lixo nas ruas.

Jogar lixo nas ruas vai dar multa para o infrator.

E as multas para os administradores porcos  que fazem da cidade um depósito de esgoto a céu aberto?

Com  a palavra o caro e higiêncio leitor.

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