segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Jornais de mentira

Delegado da PF diz que só é verdadeira notícia que sai no jornal, por Luis Nassif
Jornais são justamente os veículos onde não existem verdades

Feminismo em discussão

Não me revejo no feminismo dominante de Hollywood e de Oprah Winfrey.

Por Raquel Varela, historiadora portuguesa
15 de janeiro de 2018


Publicado no Facebook de Raquel Varela, pesquisadora do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa

Não me revejo no feminismo dominante, cujo epicentro é agora Hollywood. Não me representam. Oprah Winfrey – conservadora, bilionária, líder de programas “lixo”, juíza em directo, sem garantias de protecção de direitos dos acusados – não é a minha heroína.


Ser negra e mulher em nada atenua o facto de que é um ser humano, disposta a fazer justiça sem provas, em nome de todos, uma espécie de Maria Antonieta dos tempos modernos, a líder moral que decide sozinha quem é culpado e quem é inocente, de preferência em directo na TV.

Mais do que coragem ela reflecte a profunda decadência das sociedades ocidentais em que os media substituem os tribunais. Não muito longe de Trump nos métodos, essa é a dura verdade da crise de civilização norte-americana. Não a autorizo a usar-me, como mulher, para o seu exército.

Quero deixar a minha opinião inequívoca sobre isto por mais que incomode tanto o fanatismo actual que confunde luta de ideias com imposição de ideias.

Uma operária violada, como conheci centenas de casos relatados no estudos que fiz sobre o final do salazarismo, porque dependia do trabalho para alimentar os filhos, não pode – não pode jamais – ser equipada a uma estrela que está 20 anos calada para ganhar milhões e nesses 20 anos é fotografada sorridente ao lado daquele que hoje diz que a agrediu sexualmente durante esses 20 anos.

Estas mulheres são em primeiro lugar vítimas da sua ambição e é acintoso, imoral comparar operárias ou trabalhadoras que sofreram na pele o terror sexual em nome da sobrevivência, a estrelas à procura de um lugar de topo na carreira mais competitiva do mundo.

Eu não sorrio ao lado de homens que me ameaçaram, sexual ou moralmente, sejam eles directores, reis, presidentes ou operários. E não é porque eu sou uma mulher forte que teve a sorte de nascer num lugar confortável, é porque eu tenho balizas morais e princípios claros na vida. Conheci muitas mulheres, por razões de trabalho sobre a revolução dos cravos, como eu, aprendi muito com elas.

Com a diferença que que eram pobres, miseráveis algumas, e mesmo assim colocaram uma linha a partir da qual não passavam. E conheci o contrário, muitas que nasceram em berço de ouro dispostas a tudo. Lamento, mas como mulher, não acho que todas as mulheres estão no papel de vítimas.

Há muitas mulheres no mundo que fazem parte do jogo de dominação e desigualdade da sociedade actual e que estão a cavalgar uma situação real – a desigualdade de género – para disputar espaço nas carreiras pondo assim em causa uma das mais nobres causas que temos, a luta pela igualdade social.

A disputa por chegar a lugares de topo das estrelas, gestoras e outros quadros que está a levar a uma substituição da (falhada) “justiça burguesa” pela ainda mais falhada justiça medieval não tem o meu apoio. Sou mulher, defendo uma sociedade igual, mas não acredito na difamação – sem provas, advogados, julgamentos e presunção da inocência – como arma contra o machismo.

A maioria dos quadros hoje nas universidades são mulheres, são impedidas de ter uma participação igual aos homens nas decisões porque os homens usam esses lugares de poder para, através do assédio, impedir que os seus lugares fiquem em risco por mulheres jovens e dinâmicas, multifacetadas, e muitas vezes – por experiência própria vejo-o – , mais brilhantes e dedicadas que os homens. Tudo isso é verdade e a sociedade paga um preço alto por isso.

Mas nada disso autoriza a uma nova onda inquisitorial em que os justos pagam por pecadores. Lamento, como mulher, que aquilo que era uma esperança, um movimento de mulheres sério e empenhado em luta pela liberdade e justiça seja dirigido hoje não pelas mulheres clarividentes que conheço neste campo, mas por arrivistas sociais movidas pelo ódio contra os homens. Não me representam.

Para derrotar o machismo é preciso, como se diz em Portugal, ter classe, frase que tem um duplo sentido que gosto muito – remete para a classe como origem social e para a classe como atitude moral. E eu na verdade não gosto nada de gente sem classe.

Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
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BRILHANTE.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Muita luta

MBL passará vergonha no dia do julgamento de Lula

Escrito por Pedro Breier,
Postado em Luta pela democracia, Pedro Breier

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(Ato do MBL em Brasília no dia 26/03/17: mais um vexame à vista)


Por Pedro Breier

A coluna da Mônica Bergamo de hoje traz informações sobre as movimentações do MBL para o julgamento de Lula:

TOM FESTIVO

O “CarnaLula”, ato organizado pelo MBL (Movimento Brasil Livre) em Porto Alegre (RS) no dia 24, será “a comemoração de uma decisão que já foi tomada”, diz Pedro Franco, liderança gaúcha do grupo. Para ele, há provas suficientes para confirmar a condenação do ex-presidente.

FESTIVO 2

Os organizadores esperam receber políticos da região Sul que apoiam o MBL.

O prefeito Nelson Marchezan Jr. (PSDB), que chegou a pedir o Exército e a Força Nacional na cidade, foi convidado, segundo Franco.

O pessoal do MBL, a TFP juvenil, é tão… juvenil que não percebe o absurdo de dizer que será “a comemoração de uma decisão que já foi tomada”.

Esse é o grande problema do julgamento. A decisão está tomada desde antes do processo sequer ter começado. É isso que caracteriza a violência judicial absurda, o ataque grotesco à democracia.

O MBL parou no tempo. Acredita que estamos em 2015, quando sua pose de baluarte do combate à corrupção ainda colava; quando a mídia hegemônica inflava espetacularmente os carnavais coxinhas; quando o golpe ainda não tinha acontecido e, portanto, não havia mostrado a que veio.

Esse tempo passou, meus amigos.

Depois do golpe, o apoio (muito mal) velado do MBL ao governo Temer desmoralizou o grupo.

A disparada de Lula nas pesquisas e a queda contínua da popularidade de Sergio Moro demonstra cabalmente que a população está entendendo o que aconteceu.

O “CarnaLula” (tem como ser mais ridículo que isso?) será um fiasco.

Os atos do dia 26 de março de 2017, puxados com força por Kim Kataguiri e cia., já foram absolutamente minguados. Imaginem quase um ano depois de ataques e mais ataques aos trabalhadores protagonizados pelo governo Temer e defendidos pelo MBL.

Os atos de luta – vejam bem, de luta – contra a nova fase do golpe é que bombarão no fim de janeiro.

Resta ao MBL torcer para que o “seu” prefeito, que passou vergonha pedindo exército em Porto Alegre, compareça no carnaval mais mixuruca da história. Até isso é improvável.

O mundo gira.

Que bom.


Fonte: O CAFEZINHO
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A decisão para condenar Lula já foi tomada, é um jogo de cartas marcadas, ou um julgamento singular, como diria um ministro da Suprema Corte. Decisão tomada não pela existência de provas que caracterizam crimes de Lula, o que a cada dia mais e mais pessoas vão tomando consciência. Assim sendo, os minutos, horas e dias depois do "julgamento" não sinalizam comemorações ou carnaval, mas, luta, muita luta.

O crepúsculo do comedor

Para dar espaço a um nome de “centro”, Bolsonaro é demolido pela mesma mídia que o criou.
Por Kiko Nogueira
- 12 de janeiro de 2018

Tietando o “Japonês da Federal”, acusado de participar de um esquema de contrabando

Jair Bolsonaro está sendo destruído pela mesma mídia sem a qual ele não existiria. Nem Sheherazade o quer mais.

Há dias a Folha de S.Paulo, depois que a Globo iniciou o serviço, se dedica a esmiuçar os hábitos corruptos do candidato da extrema direita.

A devassa demorou a ser feita, dado que Bolso está na Câmara dos Deputados há 27 anos, mas antes tarde do que mais tarde.


Além dos filhos na carreira do pai — um deles, Flávio, fenômeno do mercado imobiliário no RJ —, ele empregou ex e atual mulher, tem funcionária fantasma, usa auxílio moradia (“pra comer gente”, admite) etc.

Não vai perder um único voto, já que seus seguidores analfabetos funcionais o amam por motivos outros. Basicamente, seu jeitinho fascista de ser. Mas não vai ganhar novos.

Finalmente descobrimos que JB é um político como qualquer outro.

Quer dizer, na verdade, alguns são mais iguais que outros.

Esse esforço de reportagem, que só se vê quando o assunto é Lula, jamais foi ou será feito para investigar Alckmin, Serra, Doria ou algum outro tucano amigo.

Bolsonaro é fruto da polarização e do discurso de ódio cultivado pela imprensa nos últimos anos.

A demonização da esquerda, a papagaiada “anticomunista” nos protestos pelo impeachment, a radicalização débil mental da classe média, o antipetismo mais rasteiro, a obsessão com a Venezuela e o bolivarianismo — tudo isso foi estimulado em TVs, jornais e revistas.

Bolso incorporou esse sentimento e surfou nele sem ser incomodado.

Agora precisa ser tirado do caminho para abrir espaço para um nome de “centro”. No momento é o Geraldo. Amanhã pode ser o Huck. E por aí vai.

Bolsonaro é o otário que achou que podia comer na mesa deles. Puxou o saco de poderosos, tentou se travestir de liberal, foi atrás de Sergio Moro como uma biebermaníaca.

Está descobrindo que nunca passou de um cachorro louco e seu lugar é no canil da Casa Grande.

Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
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Essa coisa que apoia a tortura e a pena de morte, caro leitor, também é o candidato da maioria dos evangélicos. Esse machista com discurso de frequentador de botequim pé sujo vai sair de cena, e em seu lugar teremos, provavelmente, Alckmim, o Geraldo Opus Dei, ainda mais reacionário e retrógrado que Bolsonaro, porém, sem sair por aí dizendo que come todo mundo. Geraldo se apresenta como um santo, educado, tal qual um clérigo , de fala mansa e pausada. Se Geraldo empacar, teremos provavelmente uma figura midiática, de nariz grande.

Golpista e mentiroso

O silêncio nada inocente e a mentira descarada

POR FERNANDO BRITO · 12/01/2018


A imprensa brasileira tem capacidade de apurar tudo, quando quer.

E não se sente no dever de fazer isso quando acha que “não vem ao caso”.

Há, porém, exceções em alguns casos. E nenhuma, em outros.

Este blog duvidou da informação distribuída pela Globo de que o “Divã” do Faustão com a exibição de Luciano Huck teria sido gravado no longínquo 11 de novembro, antes de que o apresentador tivesse, publicamente, negado ser candidato à Presidência.

Hoje, o Painel da Folha levanta dúvidas sobre isso, informando que Faustão se refere ao artigo de Huck “desistindo” da disputa, que só foi publicado dia 17/11.

É pior, muito pior.

É uma mentira descarada, e se você olhar o vídeo oficial, da própria emissora, verá que a “entrevista” se inicia com uma pergunta sobre se choveu ou não no reveillon e qual dos filhos deu mais trabalho na festa. Huck chega a falar em estar no palco “nos primeiros dias de 2018”.

É evidente que o programa é recente, tão evidente quanto ter sido autorizado – ou determinado – pela direção da emissora.

Mas ninguém vai pedir explicações, como ninguém foi indagar desde quando e quanto Luciano Huck recebe de publicidade da Petrobras para apresentar um merchandising da empresa em seu programa, como se divulgou aqui.

Não é do interesse público, já que a empresa é pública e Huck se tornou um personagem público e político?

Mas se faz o silêncio, nada inocente.

Fonte: TIJOLAÇO
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Hoje, Luciano Huck, o candidato não candidato, afirmou que não é candidato e que participa da vida política para oxigenar a política com ideias novas e éticas. Ahhh, então tá !

Gordo e mentiroso

Ronaldo admite excesso de peso em 2006 e entender convulsão de 98

Fonte: BOL
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Pouco antes do início da Copa do Mundo de futebol de 2006, que foi realizada na Alemanha, o treinador da seleção brasileira na época - Carlos Alberto Parreira - junto com alguns jogadores - inclusive Ronaldo - participaram de uma entrevista por vídeo conferência em que o então Presidente Lula era o entrevistador. Em todas as suas perguntas, não mais do quatro, Lula foi rejeitado , até mesmo de forma agressiva, pelos entrevistados. Uma das perguntas de Lula foi para Ronaldo, quando o ex-presidente comentou que Ronaldo aparentava estar bem acima do peso, ou seja, inclusive gordo. Ronaldo respondeu de forma grosseira, negando estar fora de forma e gordo. Passados praticamente doze anos , o "fenômeno" admite que estava gordo. Mentiu, omitiu, como é de praxe no mundo midiático da direita. Na ocasião, logo após a entrevista, a velha mídia caiu de pau em Lula, dizendo que como repórter Lula era um fracasso, já que todas as suas perguntas foram questionadas e rejeitadas pelos entrevistados. Ronaldo, " o fenômeno", faz parte do grupo político da direita onde se situa Luciano Huck, que ontem afirmou que não será candidato a nada e está apenas querendo oxigenar com ideias e práticas novas a política. Ahhh, então tá.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Ahed Tamimi

Palestina: o rosto viral de Ahed Tamimi

Ela já foi vista mordendo um soldado israelense e, recentemente, dando uma bofetada em outro. Detida desde 19 de dezembro, a adolescente, ícone da luta contra a ocupação para alguns e "provocadora" para outros, perpetua uma tradição familiar de militância

Por Guillaume Gendron - Libération

11/01/2018 09:05


Guillaume Gendron, Libération

Bassem Tamimi reabastece o fogão com carvão e faz mais café para os jornalistas que estão em sua casa, na pequena cidade de Nabi Saleh, na Cisjordânia. Todos ali têm o hábito do café. E todos têm direito a um afetuoso "habibi" (meu amor, meu querido em árabe), quer estejam aqui pela primeira ou pela vigésima vez. Na segunda-feira, ele voltaria ao Tribunal Militar de Ofer para comparecer à audiência que iria decidir se liberaria sua filha Ahed. Infelizmente, a audiência foi adiada e a adolescente, que ainda não sabe a data de seu julgamento, passará pelo menos mais uma semana na cela. No dia 19 de dezembro, ela foi presa às 4 da manhã por soldados que a tiraram de dentro de seu quarto com paredes cor-de-rosa cobertas com adesivos velhos do personagem Bob Esponja.

Quatro dias antes, Ahed Tamimi, 16 anos, havia insultado dois soldados israelenses que ocupavam o pátio de sua casa para desalojar atiradores de pedras, antes de chutarem e darem um tapa em um deles. Tudo sob os olhos de sua prima, Nour, 20 anos, e diante da câmera do telefone de sua mãe, Nariman, que transmitiu a briga ao vivo nas redes sociais. Desde então, o vídeo tornou-se viral e a imagem de Ahed, queixo erguido e cabeleira loira, tomou desde os muros da Cisjordânia às paradas de ônibus de Londres. Nour foi liberada sob fiança na sexta-feira, mas Nariman ainda está detida.

Ahed Tamimi não se tornou um símbolo agora. Já o era antes deste vídeo e, se há uma coisa em que palestinos e israelenses concordam, é que ela foi criada para isso. Para ser uma resistente, uma "lutadora pela liberdade", como seu pai diz, com orgulho. Para ser uma "provocadora", uma "atriz", ridicularizam os israelenses. Já faz quase dez anos que Ahed participa das manifestações semanais organizadas por seu pai. Na sexta-feira após a prece, dezenas de moradores desta cidadezinha palestina de cerca de 600 habitantes, muitas vezes acompanhados por ativistas e jornalistas estrangeiros, marcham até um riacho do outro lado da estrada, onde fica a rica colônia de Halamish, com suas orgulhosas bandeiras com a estrela de David, seu arame farpado e seus loteamentos organizadinhos, ao estilo americano. Os moradores, que têm, há gerações, o hábito de tomar banho no riacho, lutam contra o desvio da fonte pelos colonos que, aos poucos, bloquearam o acesso ao riacho, transformando-o numa espécie de praia privada. Nas duas entradas da cidade foram instaladas duas pesadas barreiras de metal, de modo que o exército, posicionado em uma base próxima, controle o acesso em dias de manifestação, que termina sistematicamente em confrontos mais ou menos violentos. Nos dias bons, os militares bloqueiam a estrada e atiram as granadas ensurdecedoras e gases lacrimogêneos; nos ruins, atiram com balas de borracha. As crianças do vilarejo, os chebab, tentam expulsar os soldados atirando pedras seguindo táticas elaboradas durante a semana. Em oito anos, quase um em cada seis moradores foi preso. Os colonos, por sua vez, reclamam do cheiro do gás.

"Pallywood"


Os Tamimi filmam tudo: abusos, insultos, lesões. O tio de Ahed fundou uma agência de informação com o nome do clã, Tamimi Press. O ritual deu uma aura internacional a Nabi Saleh, que se tornou, no imaginário pró-Palestina, uma espécie de aldeia de Asterix combatendo quase sozinha a ocupação com abnegação e não-violência. Bassem Tamimi repete aos jornalistas: se uma terceira intifada acontecer, ele vai partir. Os israelenses, por sua vez, veem o lugarejo como a sede do que eles chamam, de forma depreciativa, de "Pallywood", um teatro de provocação que utilizaria crianças como bucha de canhão por alguns cliques. Uma visão que beira a teoria da conspiração, retomada pelas altas autoridades israelenses. "A família Tamimi, que talvez nem seja uma família de verdade, veste crianças com roupas americanas e paga-lhes para provocar tropas da IDF [Israel Defence Forces] em frente às câmeras. Este uso cruel e cínico de crianças é um maltrato!", ousou escrever no Twitter Michael Oren, ex-embaixador israelense em Washington e Secretário de Estado da Diplomacia.

Bassem Tamimi, por sua vez, assume sua estratégia, com frases de efeito que o ativista de longa data do Fatah teve tempo de aprimorar durante décadas de ativismo que lhe valeu quatro anos nas prisões israelenses por envolvimento na luta armada. No passado, membros do clã Tamimi também participaram de atos terroristas. "Hoje, a câmera é a arma mais poderosa e mais eficaz para a luta”, teoriza o pai da família. “Ela nos dá poder moral sobre o poder material de nosso inimigo. Os israelenses estão com raiva porque não podem mais monopolizar a mídia. Existem as redes sociais. Filmamos tudo, podemos provar tudo. Se eles querem dizer que é cinema, não me importo, não estou nem aí para suas análises".
Regularmente, uma imagem particularmente edificante das sextas-feiras em Nabi Saleh dá a volta ao mundo. E Ahed sempre se destaca. Em 2012, vimos Ahed, ainda uma menina de 11 anos, frágil, mas impetuosa, de punho erguido diante de um soldado, ameaçando "explodir a cabeça" dele. O chefe de estado turco, Recep Tayyip Erdogan, até lhe ofereceu uma recepção bastante oficial e um iphone novo para continuar filmando. Os israelenses a batizaram de "Shirley Temper" – trocadilho que combina "gênio forte" em inglês com uma referência à estrela infantil de Hollywood Shirley Temple. Três anos depois, Ahed foi vista com uma camiseta cor-de-rosa com uma imagem do Piu-piu da Warner Bros, mordendo o pulso um soldado que tentava imobilizar seu irmão mais novo. Desta vez, a foto fez com ela fosse recebida presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas – na ocasião, Ahed vestiu um macacão camuflado. Bassem Tamimi está ciente e joga com o fato de a aparência de sua filha mexer com a opinião pública internacional. Seus cachos loucos, a ausência de véu, suas roupas adolescentes, sua melancolia revoltada bem millenial: como observou um colunista israelense, se cruzássemos com ela no shopping, ela não chamaria atenção. "Quando veem Ahed, os ocidentais, em sua maioria racistas, veem sua própria filha”, diz o patriarca dos Tamimi. “A oprimida é branco. Isso quebra o estereótipo do palestino de pele escura, que é um terrorista com uma arma na mão. Isso os perturba".

Do lado israelense, foi um gesto, a bofetada humilhante, que perturbou a opinião pública. No vídeo, os soldados não se mexem para evitar uma escalada. "Eles nem a prenderam naquele dia, sequer escreveram um relatório", diz Gaby Lasky, advogada de Ahed Tamimi. “Ela foi presa quatro dias depois, após o vídeo ter viralizado e os políticos interferirem". Em um primeiro momento, os comentaristas israelenses elogiaram a fleuma dos militares, nova prova da "moralidade" do exército israelense. Mas rapidamente, os líderes da direita nacionalista se fizeram ouvir. Na rádio do exército, Naftali Bennett, ministro da Educação e líder dos ultranacionalistas do Lar Judaico, fez um apelo para que Ahed e sua prima "terminem seu dias na prisão". O deputado do Likud Oren Hazan, conhecido por seu destempero, elogiou os soldados por seu "controle", acrescentando que, em seu lugar, "teria enviado essas pequenas terroristas para o hospital mais próximo", antes de se dizer "humilhado" pela liderança militar que não deixa os soldados "mostrarem quem é o verdadeiro dono da casa".

Na televisão israelense, há um debate sem fim sobre como calar os Tamimi de uma vez por todas. Os excessos culminam em um editorial do diário Maariv, onde o famoso colunista Ben Caspit estima que "no caso das meninas, deveríamos fazê-las pagar, na próxima oportunidade, no escuro, sem testemunhas ou câmeras". Uma sugestão interpretada como um apelo ao estupro por uma parte da esquerda israelense.

"Nenhuma tolerância"

"Em vez de um debate sobre a ocupação, a verdadeira causa por trás de tudo isso, o assunto nacional se limita à melhor forma de lidar com uma adolescente", diz Hagai El-Ad. Para o diretor da organização B'Tselem, o caso mostra que não há mais "nenhuma tolerância com a resistência palestina. É quase uma piada: se um palestino filma uma manifestação, é terrorismo midiático; se defende o boicote, é terrorismo econômico; se quer levar um caso a um tribunal internacional, é terrorismo jurídico. Tudo o que não for acordar pela manhã e agradecer a Israel pela ocupação recebe este adjetivo...".

Tudo indica que a justiça militar israelense – onde a taxa de condenação dos palestinos é de 99%, de acordo com as ONGs – quer fazer de Ahed Tamimi um exemplo. Com a consequência previsível de torná-la um ícone ainda mais importante do que é hoje. Doze acusações foram feitas contra ela, quase metade por "ataques", e cinco contra sua mãe, acusada de incitação à violência. Algumas das acusações datam de vários meses, outras se referem a "ameaças" feitas durante sua prisão – a uma soldada que perguntou o que havia feito aos soldados israelenses, ela teria dito: "Tire minhas algemas que eu mostro". No último fim de semana, o jornal Haaretz revelou imagens chocantes do rosto desfigurado de seu primo de 15 anos, Mohammed, atingido na cabeça por uma bala de borracha uma hora antes da filmagem do vídeo. Prova de que, definitivamente, não se trata de teatro. Bassem Tamimi diz ter um "vulcão" na barriga. "Estou triste, preocupado, mas também estou orgulhoso e confiante. Ahed é muito forte. Ela se tornou o espírito de sua geração”. Ele não tem arrependimentos, mas se incomoda quando perguntado se ele sacrificou a infância da filha pela causa. "Sim, criei meus filhos na resistência", diz ele. “Se não houvesse ocupação, poderia mandar minha filha para a aula de dança".
Tradução de Clarisse Meireles

Fonte: CARTA MAIOR
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