quarta-feira, 30 de agosto de 2017

A farsa da lava-jato chega ao cinema

A farsa da Lava-Jato chega ao cinema
Por Bepe Damasco, em seu blog:

O monopólio midiático está abrindo espaços generosos para promover o filme “Polícia Federal – a lei é para todos”, que será lançado em sete de setembro. Em um país no qual expressiva parcela da população é submetida à lavagem cerebral diária da mídia é até de se esperar que uma obra dedicada à mistificação e à mentira faça sucesso.

Enquanto Lula é ovacionado no Nordeste, na maior consagração popular protagonizada por um político brasileiro em toda a história, no submundo do golpe e do fascismo o que se vê é uma correria contra o tempo para lançar o filme no feriado da independência, em clara tentativa de apropriação desse simbolismo.

Pelo que já li sobre o filme, não resta dúvida de que ali está uma ode ao estado de exceção. Justiça seletiva, condenações sem provas, conduções coercitivas ilegais, cerceamento do direito de defesa, caçada ao maior líder popular do país, desrespeito ao juiz natural, prisões provisórias e preventivas que duram anos, partidarização do Judiciário, da Polícia Federal e do Ministério Público. Tudo isso é envolto por uma aura de heroísmo e ganha uma narrativa feita sob medida para seduzir a multidão de analfabetos políticos.

A chamada “a lei é para todos” soa patética quando personagens se baseiam em delegados, procuradores e juízes reais que recebem acima do teto constitucional e traem suas funções republicanas aderindo ao ativismo político mais escancarado.

Se acreditassem mesmo que a lei é para todos, tucanos de alta plumagem estariam presos. Se respeitassem de fato a Constituição, não teriam sido sócios de um golpe de estado, que apeou do governo uma presidenta que não cometeu nenhum crime de responsabilidade. Se tivessem algum resquício de patriotismo, não contribuiriam para que uma quadrilha de bandidos de alta periculosidade se instalasse no Palácio do Planalto e na Esplanada dos Ministérios.

O roubo dos direitos do povo, a destruição da economia, o desemprego que castiga mais de 13 milhões de brasileiros, a anarquia e a desmoralização das instituições e o Brasil literalmente posto à venda pelo presidente ilegítimo nunca foram objeto de protestos dos que serão endeusados por esse filme. Lamento pelos artistas que mancharam suas biografias atuando num longa metragem que cedo ou tarde será motivo de vergonha para a cinematografia nacional.

Fonte: Blog do Miro
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Dilma inocentada e os ladrões no Poder

Em um ano, Dilma foi inocentada pelo menos cinco vezes das acusações do impeachment
As sucessivas absolvições de Dilma comprovam que o real objetivo do golpe era tirá-la do cargo para “estancar a sangria", “botar o Michel, num grande acordo nacional”, "com o Supremo, com tudo"


A PRESIDENTA DILMA NA CARAVANA DE LULA NO NORDESTE. FOTO: REPRODUÇÃO FACEBOOK
Katia Guimarães
29 de agosto de 2017, 18h30

Xingada de “ladra” e “corrupta”, além de outros termos impublicáveis, no último ano a presidenta eleita Dilma Rousseff já foi inocentada pelo menos cinco vezes das acusações que levaram o Congresso a retirá-la do cargo para o qual havia sido reeleita em 2014. A mais recente delas foi hoje, com a notícia de que o TCU (Tribunal de Contas da União) isentou Dilma de ter cometido “qualquer ato irregular” na compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras, em 2006, assim como os demais integrantes do Conselho de Administração da empresa, na época presidido por ela. O episódio de Pasadena foi emblemático e inaugurou o início da Operação Lava-Jato, em 2014.

Em dezembro de 2015, diante da impossibilidade de sustentar que as tais “pedaladas fiscais” eram crime de responsabilidade, única razão prevista na Constituição para o impeachment, os advogados Janaína Paschoal, Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr. chegaram a associar a compra de Pasadena a uma suposta “omissão” de Dilma em relação aos “desmandos” na Petrobras. Como nesta época ela não era presidente da República, o relator Jovair Arantes optou por tirar a menção à refinaria do pedido de impeachment na Câmara e deixou só as pedaladas. Entretanto, no Senado, Zezé Perrella (aquele do helicoca) usou o episódio da refinaria para justificar a saída de Dilma. “Eu voto por Pasadena, pela Petrobras, pelo nosso suado dinheiro que foi pra Cuba, África e Venezuela. É por isso que eu voto ‘sim’,” disse o amigo de Aécio Neves.

Durante a votação da cassação da chapa Dilma-Temer pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a advogada Janaina Paschoal voltou à carga contra a presidenta citando a negociação de Pasadena. Mas a própria absolvição da chapa da chapa pelo tribunal aponta em sentido oposto ao alegado pela professora da USP.

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Janaina Paschoal @JanainaDoBrasil
Min Herman cita que a negociação da Refinaria de Pasadena permitiu o repasse de valores ilícitos da ordem de 15 milhões! Como não cassar?!
17:18 - 8 de jun de 2017
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Ao incluir Pasadena, Janaina e seus parceiros na empreitada agiram como se ignorassem que o TCU havia isentado Dilma no ano anterior ao pedido de impeachment, em 2014. Certamente se basearam nos depoimentos de Nestor Cerveró, que conduziu o negócio, e do ex-senador Delcídio do Amaral, que disseram que a petista sabia da existência de “um esquema”. A coluna Painel do jornal Folha de S. Paulo,desta terça-feira revela, porém, que o relatório dos analistas do TCU e do Ministério Público de Contas aponta que a versão dos delatores é mentirosa. O caso deverá ser analisado pelo plenário do tribunal amanhã, 30 de agosto.

Na semana passada, Dilma havia sido inocentada de outra acusação, a de que teria articulado para barrar as investigações da Lava-Jato. Relatório final da Polícia Federal sobre um inquérito que tramita em segredo de justiça no Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu que não houve crime de obstrução de Justiça na indicação do ministro Marcelo Ribeiro Navarro Dantas ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) por parte da presidenta em 2015. A falsa acusação também foi feita por Delcídio na delação. Para tentar reduzir sua pena, o ex-senador disse que Navarro teria sido escolhido para o STJ com o compromisso de conceder habeas corpus e recursos favoráveis a empreiteiros presos na operação.
No último ano, a presidenta eleita Dilma Rousseff já foi inocentada pelo menos cinco vezes das acusações que levaram o Congresso a retirá-la do cargo para o qual havia sido reeleita em 2014

Vale citar também que, recentemente, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, o procurador da República no Distrito Federal, Ivan Cláudio Marx, afirmou não haver provas de que Dilma e o ex-presidente Lula eram donos de contas no exterior, no valor de 150 milhões de dólares, onde recebiam propinas. A falsa acusação foi feita pelo empresário Joesley Batista, dono da JBS, mas nada foi provado. “É uma história meio absurda desde o início”, afirmou o procurador. “Ele não tem nada. Essa história não tem pé nem cabeça. Não tem como provar.”

Em julho de 2016, antes mesmo da votação do golpe no Senado, o mesmo procurador, Ivan Marx, havia descoberto que Dilma era inocente em outra investigação. Ele pediu o arquivamento de investigação aberta para apurar possível infração penal de Dilma em relação às chamadas pedaladas fiscais. Ele apontou que não houve operações de crédito e que, além disso, as chamadas “pedaladas” não configuram crime.

As pedaladas fiscais nada mais eram que o atraso de repasses do Tesouro Nacional para que bancos públicos pagassem obrigações do governo com programas sociais e empréstimos subsidiados, uma prática que ocorria desde 1994. O procurador analisou seis tipos de operações, ouviu integrantes da equipe econômica, analisou auditorias do TCU e os documentos de cada uma delas. Segundo o procurador, as manobras não se enquadram no conceito legal de operação de crédito ou empréstimo. Por isso, não seria necessário pedir autorização ao Congresso.

Ou seja, a principal razão para o impeachment de Dilma não existiu e nem era crime. Uma perícia contratada pela defesa da presidenta durante o processo tinha chegado à conclusão de que Dilma nem sequer participou das reuniões que decidiram as “pedaladas”, que, aliás, foram liberadas por uma lei dois dias depois de Temer assumir o poder.

Se vivêssemos uma democracia, o processo de impeachment teria sido sumariamente arquivado. E, se a mídia comercial fizesse jornalismo em vez de política partidária, teria destacado que presidenta reeleita por 54 milhões de eleitores não cometeu os crimes que lhe foram imputados por adversários. Na época, jornais, rádios e televisões brasileiras foram incapazes de, ao contrário da imprensa internacional, sequer levantar dúvidas se Dilma estava sendo arrancada do cargo justa ou injustamente.

As sucessivas absolvições da presidenta eleita na Justiça comprovam cada dia mais que o real objetivo do impeachment era tirá-la do cargo para “estancar a sangria” da Lava-Jato, “botar o Michel, num grande acordo nacional”, “com o Supremo, com tudo” e livrar a cara do PMDB. Enquanto Dilma é inocentada, todo dia tem alguém do governo golpista sendo denunciado ou virando réu.

Fonte: SOCIALISTA MORENA
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terça-feira, 29 de agosto de 2017

Direita em um universo paralelo

Palmério Dória @palmeriodoria

Entidades da floresta, em sessão extraordinária, decidiram recusar o apoio de Susana Vieira e Marcelo Serrado. Curupira: "Andam pra trás".


Fonte: CARTA MAIOR
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Direita sem voto fantasia um Lula sem povo. Assista e confira

POR FERNANDO BRITO · 29/08/2017


Aquele site de extrema-direita do qual aqui não se pronuncia o nome, fica desesperado com o sucesso da caravana de Lula pelo Nordeste.

Ele, e outros “coxinhas” produzem a versão de que os atos estejam esvaziados.

Hoje, para provar que o ato que reuniu milhares de pessoas ontem em Mossoró (RN) foi um fracasso, publicou uma foto com poucas pessoas no local.

A foto não é falsa, é verdadeira.

Mas foi tirada à tarde, ainda com sol.

E o ato foi à noite…

Manipulação tão barata quanto torpe.

Para não colocar as imagens – lindas, competentíssimas – de Ricardo Stuckert, fui buscar as feitas num vídeo por um jornal local, o Defato.

É para você entender que o jornalismo padrão “Veja” – que vai muito além da revista, é uma abreviatura.

O nome completo é “Veja só o que nós queremos, do jeito que queremos que você Veja”
Fonte: TIJOLAÇO
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Um gol de placa

O mito de Lula ganha mais força e só condená-lo não é mais o suficiente para 2018
28 de agosto de 2017

A Caravana de Lula pelo Nordeste tem se mostrado o maior acerto político do PT e de Lula nos últimos tempos. Aquele golaço quando o time está perdendo de 3 a 0 e que abre o caminho para uma reação histórica.

Um golaço que faz com que os adversários passem a achar que serão derrotados, mesmo estando à frente do placar. Porque o gol foi feito pelo craque do time que parecia acuado, cansado, imobilizado pela forte marcação e pelas pancadas que tinha tomado durante todo o campeonato.

Este craque pegou uma bola na sua defesa e disparou em velocidade impressionante, fez embaixadinhas, meteu a bola por entre as pernas de dois adversários e na hora que se deparou com o goleiro, lhe deu um chapéu e completou para o gol de calcanhar.

De tão lindo o gol, o estádio silenciou. Ao invés de gritar.

O silêncio do estádio é a metáfora do silêncio ensurdecedor da mídia sobre esta caravana de Lula pelo Nordeste. Um silêncio que comprova a beleza e o acerto da ação.

Lula está se mostrando do tamanho do Brasil. E está resgatando a esperança de que as coisas podem mudar e voltar a ser do jeito que foram com ele na presidência.

O Brasil não tem ninguém com condições objetivas de levar esta mesma mensagem para o povão. E por isso mesmo, Lula, se candidato, é imbatível.

E se não for candidato por obstrução golpista, ainda terá condições de eleger alguém que vier a apoiar.

Porque depois desta e de outras caravanas que virão por outras regiões, o Lulismo estará imensamente forte para a disputa de 2018.

Como alguém já disse, podem até prender Lula, mas o lulismo eles não terão como prender.

Por isso mesmo, talvez não baste tirá-lo do jogo.

Este golaço de Lula cria um novo problema para o golpe.

PS: E por isto mesmo o blogueiro decidiu que vai cobrir a reta final da caravana. Parte para Teresina no dia 2 e acompanha o grupo que está na estrada até o Maranhão

Fonte: Blog do Rovai

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

#LulaPorAlagoas cita Nise da Silveira

"É necessário se espantar, se indignar e se contagiar, só assim é possível mudar a vida" 



terça-feira, 22 de agosto de 2017

Capitalismo fóssil


ANTROPOCENO, CAPITALISMO FÓSSIL, CAPITALISMO VERDE E ECOSSOCIALISMO

MICHAEL LÖWY 19 AGO 2017

É urgente desacelerar o caminho suicida cavado pelo sistema por meio de um amplo movimento no combate contra a mudança global e o capitalismo fóssil.



J.M.W. TURNER "SNOW STORM: HANNIBAL AND HIS ARMY CROSSING THE ALPS" ,1812

Por onde é a saída?
Resenha de dois livros1 de marxistas norte-americanos sobre os desafios do Antropoceno:
Ian Angus, Facing the Anthropocene. Fossil Capitalism and the Crisis of the Earth System. New York: Monthly Review Press, 2016, 277 pp.,
Richard Smith, Green Capitalism. The God that Failed. World Economics Associations Book Series, vol 5, 2016, 172 pp.

As publicações de ecologia crítica encontram nos Estados Unidos um público crescente, como o sucesso do último livro de Naomi Klein (This Changes Everything) pode atestar. No interior desse campo se desenvolve também, cada vez mais, uma reflexão ecossocialista de inspiração marxista, a qual pertencem os dois autores aqui resenhados.

Um dos promotores ativos dessa corrente é a Monthly Review e sua editora. É ela que publica o livro importante e muito atual sobre o Antropoceno de Ian Angus, ecossocialista canadense e editor da revista eletrônica Climate and Capitalism – um livro reconhecido com entusiamo tanto por cientistas, como Jan Zalasiewicz ou Will Steffen, entre os principais promovedores dos trabalhos sobre Antropoceno, quanto por pesquisadores marxistas, como Mike Davis e Bellamy Foster, ou os ecologistas de esquerda como Derek Wall, dos Verdes ingleses.

A partir dos trabalhos do químico Paul Crutzen – Prêmio Nobel por suas descobertas sobre a destruição da Camada de Ozônio – do geofísico Will Steffen, e de outros, a conclusão de que entramos numa nova era geológica, distinta do Holoceno, começa a ser amplamente admitida. O termo “Antropoceno” é o mais utilizado para designar essa nova época, caracterizada por profundas mudanças no sistema-terra, resultante da atividade humana. A maioria dos especialistas concorda em datar o início do Antropoceno em meados do século XX, quando se desencadeia uma “Grande Aceleração” de mudanças destrutivas: ¾ das emissões de CO2 foram produzidas a partir de 1950. O emprego do termo “Antropo” não significa que todos os seres humanos são igualmente responsáveis por essa mudança dramática e preocupante: os trabalhos dos pesquisadores mostram claramente a esmagadora responsabilidade dos países mais ricos, os países da OCDE.

Conhecemos também as consequências de tais transformações, principalmente a mudança climática: elevação de temperatura; multiplicação de eventos climáticos extremos; aumento do nível das águas do oceano, afogando as grandes cidades costeiras da civilização humana, etc. Tais mudanças não são graduais e lineares, podem ser abruptas e desastrosas. Essa parte do estudo me parece pouco desenvolvida, aliás: Ian Angus menciona esses perigos, mas não discute as ameaças que pesam sobre a sobrevivência da vida no planeta de forma mais concreta e detalhada…

Que fazem os poderes constituídos, os governos do planeta, sobretudo os dos países ricos, principais responsáveis pela crise? Angus cita o comentário feroz de James Hansen, climatólogo da NASA norte-americana na COP21 de Paris (2015): “uma fraude, farsa… não passa de uma besteira” 2. Com efeito, se todos os países presentes na Conferência das Partes sobre as Mudanças Climáticas mantiverem suas promessas – pouco provável, visto que nenhuma sanção foi prevista pelos acordos de Paris – não poderemos evitar um aumento da temperatura do planeta superior a 2º C: o limite aceito oficialmente que não se deverá em nenhum caso exceder, se se quiser evitar um processo irreversível e incontrolável de aquecimento global. Na realidade, o verdadeiro limite se aproximaria de 1,5º C, como admitiram os próprios participantes da COP 21. Conclusão de Naomi Klein: ainda é tempo de evitar um aquecimento catastrófico, mas não no quadro de regras atuais do capitalismo.

Ian Angus partilha desse diagnóstico – próximo, nos termos “atuais” – e dedica a segunda parte de seu livro à raiz do problema: o capitalismo fóssil. Se as grandes empresas e os governos continuam a lançar carvão nas caldeiras do trem desgovernado (run-away train) do crescimento, isso não se deve a uma falta da “natureza humana”; trata-se de um imperativo essencial ao próprio sistema capitalista. O capitalismo não pode existir sem crescimento, expansão, acumulação de lucro e, portanto, destruição ecológica. Ora, o crescimento está baseado, há quase dois séculos, nas energias fósseis, que hoje concentram mais investimentos que qualquer outro ramo da produção – sem falar das generosas subvenções acordadas pelos governos. Só as reservas de petróleo representam mais de 50 trilhões de dólares: não se pode contar com a boa vontade da Exxon e Cia para abrir mão desse trunfo. Sem falar dos outros ramos da produção – automotivo, aviação, plástico, químico, autoviário, etc, etc – estreitamente associados ao capitalismo fóssil. Os 1% que controlam as riquezas dos 99% restantes da humanidade concentram também o poder econômico e polítco; reside aí a razão do fracasso retumbante das “conferências internacionais” sobre a mudança climática, que sempre terminam em “besteira” (bullshit), para usar as palavras de James Hansen.

Qual é, então, a alternativa? Não se pode mais retornar ao Holoceno, observa Angus. O Antropoceno já se iniciou e isso não pode ser revertido. A mudança climática em curso perdurará por milhares de anos. É urgente desacelerar o caminho suicida cavado pelo sistema por meio de um amplo movimento que associe todos aqueles dispostos a se juntar no combate contra a mudança global e o capitalismo fóssil – na esperança de poder, no futuro, substituir o capitalismo por uma sociedade solidária, o ecossocialismo. A Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática e os Direitos da Terra Mãe, em Cochabamba, Bolívia, em 2010, que reuniu dezenas de milhares de indígenas, agricultores, sindicalistas e trabalhadores é um exemplo concreto desse movimento

E o que se passa entre os partidários do socialismo? Ian Angus constata o pesadelo ecológico que a URSS representava, sobretudo a partir do momento em que Stálin liquidou os ecologistas soviéticos. (Essa parte merece igualmente um desenvolvimento mais amplo). Alguns socialistas criticam o que chamam de “catastrofismo” dos ecologistas; outros pensam que a ecologia é um diversionismo em relação à “verdadeira” luta de classes. Os ecologistas não são um bloco homogêneo, mas partilham a convicção de que uma revolução socialista efetiva só pode ser ecológica, e vice-versa. Da mesma maneira sabem que precisamos ganhar tempo: a luta por desacelerar o desastre, obtendo vitórias parciais contra a destruição capitalista e em favor de um futuro ecossocialista, fazem parte de um mesmo processo integrado

Quais são as chances de tal combate? Não há nenhuma garantia, constata sobriamente Angus. O marxismo não é um determinismo. Marx e Engels escreveram no Manifesto Comunista que a luta de classes pode levar a uma transformação revolucionária da sociedade ou à “ruína comum das classes em luta”. No Antropoceno, a “ruína comum” – o fim da civilização humana – é uma possibilidade real. A revolução ecossocialista não é de forma alguma inevitável. Deveremos ser capazes de construir uma ponte sobre a brecha entre a raiva espontânea de milhões de pessoas e o início de uma transformação ecossocialista. Conclusão do autor desse livro estimulante e documentado admiravelmente: se lutarmos, poderemos perder; se não lutarmos, certamente perderemos…

Richard Smith não discute o Antropoceno, salvo em uma frase que resume seu propósito: Entramos no “Antropoceno”, isto é, “não é mais a Natureza que comanda a Terra. Somos nós que comandamos. É tempo de começar a tomar decisões conscientes e coletivas”.

Seu livro é muito mais que uma crítica do “capitalismo verde” como o título indica. Trata-se de uma coletânea de textos, em ordem um pouco improvisada e com algumas repetições; mas o conjunto é de admirável coerência e rigor. Poderíamos começar pelo diagnóstico: em maio de 2013 o observatório de Mouna Loa no Havaí constatou a concentração de CO2 na atmosfera em mais de 400 ppm (partes por milhão). Não havia alcançado tal nível desde o Pleistoceno 3, há três milhões de anos, quando a temperatura era 3º ou 4º C mais elevada que hoje; o Ártico não tinha congelado e o nível do mar estava 40 metros acima do atual. Os lugares que hoje chamamos Nova York, Londres, Xangai estavam submersos… os climatólogos não cessam de multiplicar os avisos: caso não se suspenda, a curto prazo, as emissões de gás de efeito estufa, seguiremos rumo ao aquecimento global incontrolável e irreversível, que terá por resultado o colapso de nossa civilização e pode nos extinguir enquanto espécie.

Ora, e o que acontece? Os negócios continuam como sempre (“Business as usual”), as emissões não só deixaram de diminuir nos últimos anos, como não pararam de aumentar, batendo recordes a cada ano. Continuamos a extrair energia fóssil e a buscamos cada vez mais longe, nas profundezas do oceano, ou nas areias betuminosas. Em suma, o espírito dominante pode ser resumido pela fórmula “depois de mim, o dilúvio”.

De quem é a culpa? Assim como Ian Angus, Richard Smith aponta claramente o responsável pelo desastre: o sistema capitalista e sua necessidade imperativa, irresponsável, insaciável de “crescimento”. O crescimento não é uma mania, moda ou ideologia: é a expressão racional de exigências da reprodução capitalista. “Crescer ou morrer” é a lei de sobrevivência em meio a selva do mercado competitivo capitalista. Sem o excesso de consumo não há crescimento, e sem este só resta a crise, a ruína, o desemprego em massa. Mesmo um economista “dissidente” como Paul Krugman acabou por se resignar ao consumismo: trata-se, escreve, “de uma corrida de ratos, mas que correm dentro de suas gaiolas; é isso que faz girar a roda do mercado”.

É simplesmente a lógica do sistema. Daí o fracasso das conferências internacionais, do “capitalismo verde”, das Bolsas de direitos de emissão, das taxas ecológicas, etc, etc. Como exprimiu cinicamente o economista neoliberal ortodoxo Milton Friedman, “as corporações se envolvem nos problemas para fazer dinheiro, não para salvar o mundo”. Conclusão de Richard Smith: Se queremos salvar o mundo, deve-se retirar das corporações o poder sobre a economia. “Ou salvamos o capitalismo, ou salvamos nós mesmos. Não podemos salvar os dois”. O capitalismo é uma locomotiva descontrolada, que derruba continentes inteiros de florestas, devora oceanos de fauna e flora, bagunça o clima e avança rapidamente em direção a um abismo: a catástrofe ecológica. Donde a crítica de Smith às ilusões dos economistas ou ecologistas partidários do “capitalismo verde” (tão numerosos nos EUA e também na França!) – esse “deus que fracassou” – ou de um “decrescimento” respeitando as regras do mercado e da propriedade privada (Herman Daly).

Que fazer? Não há solução “técnica”, nem dentro dos marcos do mercado. Deve-se reduzir drasticamente, num prazo bastante curto, a utilização de energias fósseis não somente na produção de eletricidade, mas nos transportes, calefação, indústria, agricultura produtivista, etc, etc. E já que Exxon, British Petroleum, General Motors, etc, não desejam cometer suicídio econômico – e nenhum dos governos capitalistas têm a intenção de forçá-los a isso – é preciso que a própria sociedade tome nas mãos os meios de produção e distribuição, e reorganize todo o sistema produtivo – garantindo emprego digno a todos os trabalhadores de empresas que estariam condenadas à extinção ou a redução drástica.

Não basta substituir as energias fósseis por outras renováveis. É necessário reduzir substancialmente a produção e o consumo (“decrescimento”). Segundo Richard Smith, ¾ dos bens produzidos hoje são inúteis, ou nocivos, ou eivados de obsolescência programada. Se pararmos de produzir para acumular lucro, em favor de satisfazer necessidades, poderemos fabricar produtos úteis, duráveis, reparáveis, adaptáveis, utilizáveis por dezenas de anos – como minha velha VW 1962, que ainda roda, diga-se… Daremos prioridade às necessidades sociais e ecológicas que atualmente são negligenciadas ou sabotadas: a saúde, a educação, a moradia (conforme as normas ecológicas), a alimentação saudável e orgânica. Poderemos trabalhar muitas horas a menos e ter férias mais longas.

Contudo, isso implica romper radicalmente com o sistema capitalista, retirar dos proprietários privados o controle da economia, e planificá-la de modo democrático: o ecossocialismo. As comissões de planejamento poderão ser eleitas nos níveis locail, regional, nacional, continental e, cedo ou tarde, internacional. E as grandes decisões serão tomadas pela própria população: carros ou transporte coletivo? Nuclear ou saída do nuclear? E assim em diante. Trata-se de substituir a “mão invisível do mercado” – que só vai perpetuar os negócios de sempre (“business as usual”) – pela mão visível das decisões democráticas da sociedade. Uma tal planificação democrática se situa em oposto diametral à triste caricatura burocrática que foi a “planificação central” – perfeitamente autoritária, senão totalitária – da extinta URSS. Trata-se de um projeto de uma outra civilização, uma civilização ecossocialista.

A demonstração de Richard Smith é perfeitamente coerente. A única ressalva que eu lhe faria é a ausência de mediações. Como passar do curso suicida da civilização capitalista a uma sociedade ecossocialista? É uma questão pouco abordada em seu livro…

O ponto de partida aqui só pode ser as mobilizações atuais, as que Naomi Klein designa como Blockadia: as lutas dos indígenas e dos ecologistas canadenses contra as areias betuminosas, as lutas nos Estados Unidos contra os oleodutos (o oleoduto XXL foi bloqueado), as da França contra o gás de xisto (vitoriosa provisoriamente), as das comunidades indígenas da América Latina contra as multinacionais petrolíferas ou mineradoras, etc. Essas lutas – locais, regionais ou nacionais – são essencialmente, sob vários aspectos, as que: a) possibilitam a desaceleração do curso em direção ao abismo; b) reerguem o valor da luta coletiva; c) fomentam a tomada de consciência anti-sistêmica (anticapitalista).

Felizmente, no último parágrafo de seu livro, Richard Smith se interessa por essa dimensão concreta do combate em favor do ecossocialismo, saudando o impulso, “no mundo inteiro, de lutas contra a destruição da natureza, contra as barragens, contra a poluição, contra o subdesenvolvimento, contra as usinas químicas e centrais térmicas, contra a extração predatória de recursos, contra a imposição dos OGMs (Organismos Geneticamente Modificados), contra a privatização de terras comuns, de água e serviços públicos, contra o desemprego capitalista e a precarização. Hoje temos uma onda crescente de “despertar” de massas global – quase uma revolta global massiva. Essa insurreição global está ainda no início, incerta de seu futuro; mas seus instintos democráticos radicais são, acredito, a última e melhor esperança da humanidade”.

(Texto originalmente publicado no site Mediapart. Tradução de Flavia Brancalion.)


Notas do autor

1 Nenhum dos dois livros foi publicado ainda no Brasil, ou em português. Em tradução livre, os títulos seriam: “Enfrentando o Antropoceno, capitalismo fóssil e a crise no sistema da Terra” e “Capitalismo Verde, o deus fracassado”.

2 “a fraud, fake… just bulshit”, no que o autor comenta em seguida, entre parânteses, “difícil de traduzir”. (n. trad.)

3 Período compreendido entre 2,588 milhões e 11,7 mil anos atrás. (n. edi.)



Fonte: Movimento. Crítica, teoria e ação

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Criança que dá lucro

Maior parte do dinheiro doado para o Criança Esperança fica para a Rede Globo, diz documento

agosto 20, 2017


WikiLeaks divulga documento que mostraria que a Globo fica com 90% do dinheiro do Criança Esperança. Confira abaixo o link para o documento e confira você mesmo.

Com informações do Wikileaks Promovida pela TV Globo em parceria com o Unicef – Fundo das Nações Unidas para a Infância -, a campanha já arrecadou R$ 122 milhões, em 18 anos, investidos integralmente no Brasil.

O Show do Criança Esperança completou 18 anos de alegria. Sob o comando de Renato Aragão, a festa de solidariedade teve a sempre presente Xuxa e muitos outros convidados como Sandy & Junior, Caetano, Angélica e Maurício Mattar.

WikiLeaks divulga documento que mostraria que a Globo fica com 90% do dinheiro do Criança Esperança. Confira abaixo o link para o documento e confira você mesmo.

Um documento publicado pelo site WikiLeaks, famoso por divulgar materiais e informações confidenciais de governos e empresas, registra uma investigação sobre o recebimento de verbas da campanha Criança Esperança da Rede Globo pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

O documento pode ser encontrado no site do Wikileaks no endereço abaixo:

Clique aqui para acessar o documento.

Unesco

O documento, de 15 de setembro de 2006, revela um telegrama que teria sido enviado do escritório da Unesco em Paris, na França, para Washington, capital dos EUA. O material relata uma solicitação de reunião do então embaixador brasileiro na capital francesa, Luiz Filipe de Macedo Soares, com lideranças da entidade da ONU para discutir irregularidades ocorridas no escritório da Unesco em Brasília.

Fonte:  Página Lula Presidente no facebook
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 Isso é pior do que roubar defunto.