quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Precisa avisar ao golpe que o mundo mudou

Precisa avisar a escória parlamentar que o mundo mudou, será mais protecionista que nunca, preço do petróleo vai subir etc. 
É hora de entregar?

Às 5:30 desta manhã, Trump atingiu 270 votos de delegados para ser o 45º presidente dos EUA. 
Desde então, o golpe aqui envelheceu uns 100 anos.

Golpe levita; PSDB, atônito; colunismo, estupefato: nunca admitiram o colapso neoliberal, por isso não 'entendem' o eleitor preferir Trump.

O golpe de 31 de agosto perdeu completamente seu chão geopolítico e programático: 
Trump é sonho americano protecionista.

No voto direto da população, vantagem de Trump é de apenas 100 mil votos; neoliberalismo rachou a sociedade norte-americana de alto a baixo.

Um sistema que marginaliza os mais vulneráveis, retira direitos, desemprega, dissemina incerteza e medo do futuro. 
Trump é sua expressão mórbida.

O 'chanceler' Serra, que pretendia engatar o Brasil aos tratados de livre comércio precisa repensar sua agenda. 
Protecionismo volta com Trump.

A aliança da mídia com a escória, o judiciário e o dinheiro grosso está estupefata: o mundo ao qual pretendia engatar o Brasil desapareceu.

Arrocho neoliberal da PEC replica as origens da tormenta que esfacelou laços sociais, gerou recorde de pobres e desempregados e elegeu Trump.

2008 foi o alarme; engrenagem neoliberal havia saturado; mercados dobraram aposta na exclusão: lá deu Trump; aqui, há tempo de barrar a PEC.

Trump é o desfecho de décadas de recuo da democracia às imposições dos mercados. 
Chocou um fascista que promete devolver os EUA aos americanos.

Lição do desastre ao Brasil: a democracia terá que intervir contra o despotismo do capital para devolver à sociedade o comando do seu destino.

Fonte: CARTA MAIOR
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Donald Trump, a torcida da mídia por Hillary e os que foram deixados para trás pela globalização
09 de novembro de 2016 às 06h24

Luiz Carlos Azenha, de Amsterdã

As pessoas, no aeroporto, se diziam incrédulas: Donald Trump se elegeu presidente dos Estados Unidos, com os republicanos em maioria na Câmara e no Senado.

Um candidato xenófobo, racista, grosseiro — como isso pode acontecer?

Frequentadores de aeroportos talvez tenham mesmo dificuldade para entender.

Eles são, em sua maioria, os beneficiários da globalização que, sob o controle do mercado financeiro, transferiu renda da base para o topo da pirâmide.

Há alguns dias, escrevi um texto sobre como a crise econômica de 2008, nunca de fato resolvida, teve impacto no que chamamos de “democracia representativa” em diferentes partes do mundo.

Tratei de questões que alinhavam a política econômica adotada pelo governo Temer com a revolta dos eleitores estadunidenses que levaram Trump ao poder.

Apesar de ser um produto acabado do establishment dos Estados Unidos, o que o milionário fez foi mobilizar em torno de si muitas das forças revoltadas com o establishment dos Estados Unidos, tão bem representado por Hillary Clinton.

Hillary é tão insider que teve apoio praticamente unânime da mídia estadunidense. Às vezes, foi torcida descarada mesmo.

Como dizia Bernie Sanders antes de aderir a ela, Hillary era a candidata de Wall Street, dos banqueiros. “Mudança na qual você pode acreditar”. Ou na qual os banqueiros podem confiar. Trump disse claramente aos eleitores: eu conheço por dentro as mutretas do “sistema” e vou atacá-las. Tudo indica que é pura demagogia eleitoral.

Trump explorou a raiva dos que foram deixados para trás, navegando na mesma onda que levou o Reino Unido a optar pelo Brexit.

Do ponto-de-vista econômico, a primeira consequência clara da vitória de Trump será a suspensão dos acordos internacionais de comércio que certamente avançariam sob Hillary Clinton. É, portanto, um golpe contra a globalização.

Do ponto-de-vista da política externa, vence a tendência isolacionista que estava submersa nos Estados Unidos. Isso é ruim para o multilateralismo, base da política externa do Itamaraty, submetido agora às intempéries da personalidade do apresentador de TV tornado ocupante da Casa Branca.

Do ponto-de-vista da política interna, trata-se de um profundo golpe contra o que os estadunidenses chamam de geografia interna da Beltway, o rodoanel que circunda a capital dos Estados Unidos. Mesmo o Partido Republicano tradicional será demolido e reconstruído à imagem e semelhança de Trump e seus seguidores, inclusive os desmiolados, xenófobos e racistas.

Depois da Segunda Guerra, o mundo criou uma arquitetura multilateral que tinha como objetivo evitar novos conflitos com a mesma escala. Especialmente depois da queda do Muro de Berlim, foi sobre ela que se assentou a globalização e o “livre mercado” que, na prática, concentrou renda e deixou milhões e milhões de desempregados e subempregados, não representados ou subrepresentados pela política local.

Brexit e Trump são duas rachaduras bem evidentes nesta arquitetura, tanto quanto, no Brasil, a falência da representatividade se expressou recentemente quando ausências, votos brancos e nulos “ganharam” eleições em várias metrópoles.

Nunca é demais lembrar que capitalismo em crise precisa de guerra e que a instabilidade política internacional convida à guerra — mas é cedo para dizer seBrexit e Trump são necessariamente passos neste sentido.

Fonte: VIOMUNDO
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A vitória de Trump sacode o mundo e deixa o golpe sem rumo, anacrônico, envelhecido, demente, descompensado.

Hoje pela manhã o golpe demonstrava preocupação, nervosismo, medo, com o resultado das eleições nos EUA, conforme a charge abaixo:


Arte PAPIRO  -  Velha Mídia e Golpe depois de Trump


terça-feira, 8 de novembro de 2016

O mundo ao contrário



A  charge de Latuff - Fonte: O Cafezinho - retrata com perfeição a realidade do mundo atual:
A Humanidade a Serviço da Economia
Se o mundo atual fosse saudável, em todas as dimensões, a realidade seria o oposto:
A Economia a Serviço da Humanidade.


O golpe e o pré-sal


Em março de 2014 ,o PAPIRO produziu e publicou a charge abaixo.Com o nome de POLITICÍDIO, este blogue, de alguma forma, antecipava o que viria a acontecer como governo do PT, o próprio PT e as reservas de petróleo do país.
POLITICÍDIO   março de 2014



             

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A bovinidade brasileira avança

O gigante que querem que seja anão  

POR FERNANDO BRITO · 05/11/2016

Ontem, todos os jornais deram destaque ao trabalho do japonês Hajime Narukawa, que redesenhou, muito mais proximo da realidade, o mapa do mundo que “vigia” desde que Gerardus Mercator transformou, há quase 500 anos, a Terra em um cilindro, para representá-la num mapa plano.

O resultado, claro, foi que “quem” estava mais próximo do Equador ficou “menor” e quem estava mais próximo dos pólos “cresceu”.

O que, afinal, correspondia em parte à importância cultural e econômica do mundo “desenvolvido”: subtropical, europeu.

O mapa de Narukawa, se olhado com mais que simples curiosidade, mostra que somos maiores do que sempre pensamos olhando o velho mapa de Mercator

Repare: maiores que os EUA, sem o Alasca.

Quase do tamanho da China, esse gigante.

Mas temos uma elite que pensa que um gigante assim pode ser anão.

Pequeno e “bem-comportado”.

Com um governo que faça “o dever de casa” como uma criança, em corpo de homem.

Obediente, quieto, fazendo “tudo o que seu mestre mandar”.

(...)

Fonte: TIJOLAÇO
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Fonte: CARTA MAIOR
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Classe média: o fetiche do igual

POR MARIA BITARELLO– ON 01/11/2016CATEGORIAS: BRASIL, COMPORTAMENTO, DESTAQUES, SOCIEDADE


Vive de aparências e acha isso chique. 
E se tudo isso te parece apenas medíocre e inofensivo, não se engane: há garras e dentes. 
Pois é nela que é feita a engorda do ódio. 
É ela que legitima atrocidades.

Fonte: OUTRAS PALAVRAS
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Em uma aguda crítica sobre a irracionalidade do mundo atual, o PAPIRO produziu e publicou em maio de 2012 o conto abaixo:


razão e emoção
                                              arte PAPIRO de maio de 2012
             

Encontros Cariocas - 1 

Insano Mundo Novo

11.05.2012


Entrava em um restaurante, na Praça Mauá, no centro da cidade do Rio de Janeiro, quando sinto alguém segurando meu braço. Olhei rapidamente para a pessoa e vi um rosto familiar. Fiquei parado tentando me lembrar e ele me perguntou:

- e aí, perdeu a memória ?

- Carninha !!, respondi com alegria.

Carninha é um grande amigo. Passamos bons momentos no ano de 1982 na Brizolândia. Eram reuniões e mais reuniões para debater o cenário político e criar agitações para colocar o Brizola no governo da estado. Sempre depois das reuniões tudo mundo ia para um bar. Carninha, alto e bem gordo, com quase 150 kg, era o primeiro a sugerir algo para comer. Sempre sugeria uma carninha, fazendo um gesto com as mãos que imitava uma faca tirando um filé de um suculento churrasco. O apelido pegou. Seu nome é Leôncio da Silva Albuquerque, mas todo mundo conhecia como Leo Carninha.


- não consegui reconhecê-lo de imediato. Você emagreceu bem. É outra pessoa.

- nada disso. continuo o mesmo , apenas eliminei depósitos de lipídeos. falou e deu uma gargalhada.

Carninha era uma pessoa bem humorada e extremamente culto . Era psiquiatra e psicanalista. Quando o conheci trabalhava em um hospital psiquiátrico.

- e o trabalho ?

- me aposentei pelo hospital e atualmente tenho apenas meu consultório. Trabalho só dois dias por semana.

- até o trabalho ficou mais leve, perguntei rindo.

- é verdade. lá era barra pesada, meu caro. Lembra do Teo ? 

- aquele teu amigo , também psiquiatra.

- ele mesmo.

- o que houve com ele ?

- pois é, você falou em barra pesada e o Teo pirou. Já estava achando que ele andava meio estranho quando se converteu àquela religião. Não pela religião propriamente, mas o movimento dele em direção a religião já anunciava alguma coisa. Em uma certa ocasião lá no hospital, uma paciente adulto e inofensivo, resolveu fazer uma barquinho de papel e ficou brincando com o barco no pequeno lago da entrada. Quando Teo se aproximou, o paciente falou que aquele era o titanic. Teo , para surpresa de algumas pessoas , disse para o paciente que aquilo não era o titanic, pois o titanic tinha chaminés. O paciente falou que era o titanic sim. Teo iniciou uma discussão dizendo que não pois insistia nas chaminés. De repente, Teo pegou o barquinho, rasgou, amassou e pisoteou o que sobrou do papel. O paciente entrou em crise nervosa e partiu pra cima do Teo. Os seguranças conseguiram agir e evitar uma briga. Depois dessa , Teo foi chamado pela direção e sugeriram que ele se aposentasse, pois já tinha tempo suficiente de serviço. E foi o que aconteceu. Mas não parou por aí. Depois de aposentado se tornou pastor na igreja dele. Em um dos cultos, em um procedimento de exorcismo para retirar um diabo de uma pessoa, ele agiu com violência e feriu feio a cabeça de uma mulher. Outra confusão. Os familiares da vítima , supostamente tomada pelo demônio, não gostaram do que viram e o caso acabou numa delegacia de polícia. O delegado, um sujeito experiente e vivido, pois por ali passam delinquentes, descompensados , psicopatas, se assustou com a versão contada pelo Teo. Teo disse que agiu com um pouco de força porque viu nos olhos da mulher a presença do diabo, inclusive com fumaça saindo dos olhos e cheiro de enxôfre . O caso não deu em nada, mas o delegado ficou mais assustado quando soube que ele era psiquiatra.

- é, muito estranho. Que tal se sentássemos ali, vou comer algo, sugeri.

- vamos lá.

- tem algum problema se for ali perto da chaminé das carnes ?

- isso é com o Téo, falou rindo. E tem mais. Outro dia fui visitar os colegas lá no hospital e eles me disseram que o problema do Teo é excesso de sana.

- como é que é ?

- Sana significa sanidade, saudável, saúde. 

- Excesso ???

- foi uma brincadeira. Eles criaram uma doença pro Teo por conta das chaminés, fumaça e brinquedos. Sana, seriam as iniciais de síndrome da ausência natalina adquirida, algo como reflexo de um trauma de infância no período natalino.

- não teve papai noel com brinquedo descendo pela chaminé , perguntei

- é por aí. É meu caro, as pessoas tem uma ideia equivocada sobre os médicos. Isso que aconteceu com Teo é muito comum entre médicos. Tem hora que não seguram a barra. Quando alguém procura um médico , normalmente é por conta de alguma doença, e doença sempre fragiliza a pessoa. Diante do médico, o paciente frágil deposita suas esperanças. Para ele, aquela figura de branco tem o poder sobre a vida e a morte. Com isso confere ao médico uma aura de poder e força, mas na realidade não é bem assim. Nós também temos os mesmos problemas, mesmo treinados para entender as angústias do outro. Chega um dia que a barra pesa. Um amigo meu, que você não conhece, trabalhou trinta anos como médico legista no IML. Passou a vida serrando crânio, metendo concha dentro do corpo para retirar sangue, enfiando as mãos para retirar órgãos, analisando matéria sem vida. Encontrei com o filho dele e perguntei sobre o pai. O filho disse que o pai tinha se aposentado e vivia em uma casa de campo. Disse que o estava achando meio estranho, pois o pai passava a maior parte do dia plantando, cuidando e conversando com flores.

- dá pra entender, comentei.

- pois é, mudou radicalmente quatro das cinco referências sensoriais. O que tocava, o que via, o que ouvia e o que cheirava.

- trocou a morte pela vida. Não tá nada doido, disse.

- será ??? O que ele acumulou durante os anos de trabalho ? Talvez esse novo comportamento possa ser passageiro, fruto de algo que ele não mais aguentava, sonhos, reações. De qualquer forma ele trocou o morto e o feio, pela vida e o belo.

- mas vamos mudar de assunto, me fala como você perdeu tanto peso ?

- pois é. Lembrei de você várias vezes nas reuniões na Brizolândia. Na época achava que você era um pouco radical com suas obsessões de nutrição e saúde, mesmo porque éramos bem jovens. Não entendia suas preocupações como equivocadas, apenas um tanto obsessivas. Então. Um dia , já estava com quase 170 Kg, respirando mal, sem agilidade resolvi mudar. Fiz uma cirurgia de redução de estômago, mudei radicalmente meu hábitos alimentares.

- mas não abandonou a carninha, não é ?

- claro que não. mas só como carne vermelha , no máximo uma vez por semana. e , também, fui reeducado para comer pouco e com qualidade. O resultado é esse. Perdi quase 80 kg, hoje tenho um índice de massa corporal dentro dos limites saudáveis, e , melhor, tenho saúde, alegria. Aquele tempo, nunca mais. Era dificuldade para tudo, ônibus, avião, roletas. O mundo não é feito para gordos.

- mas o mundo incentiva e cria condições para que as pessoas fiquem gordas e obesas, não é ? Como é que fica ?

- você continua cortante como um bisturi, hein ?
- é verdade. Se você prestar atenção nos comerciais de alimentos e bebidas que saturam as telas de tv, verá que só se incentiva porcaria. Refrigerantes, biscoitos vagabundos, carnes gordurosas, embutidos, doces, bebidas alcoólicas, fast food. São alimentos de baixo valor nutricional e altamente calóricos. E o que acontece ? Surgem, então, os programas de tv para educar as pessoas em hábitos saudáveis. É comum , nas manhãs, programas com médicos, e são muitos inclusive com desenvoltura de apresentadores de programas de auditório, ensinado como viver melhor. Quando chamam o intervalo comercial, a propaganda de alimentos sugere o oposto. O mesmo em novelas. Essa novela para adolescentes da tv globo, quando coloca cenas de alimentação , põe os jovens comendo sanduíches com refrigerantes em praças de alimentação de shoppings centers.

- essa novela é uma putaria e pegação entre crianças, comentei.

- também tem isso. Então. Aparece o médico e depois o monstro. Os médicos de tv, nesses programas aproveitam para apresentar medicamentos que possam combater males da obesidade.

-- Hummmm. Propagandistas midiáticos. Nova modalidade de propagandistas de laboratórios farmacêuticos ?

- Isso aí. A força desses segmentos , alimentícios e bebidas, impõe as mídias os estilos de vida desejados por eles e, esses estilos nada tem de saudáveis.

- os médicos do programa fazem um teatrinho de saúde, não é ?

- é isso aí. O lucro dessas empresas tem que crescer cada vez mais, é a lógica do modelo capitalista. Por outro lado, os lucros com a doença também tem que crescer cada vez mais. Se uma pessoa é intoxicada pela ingestão de metais pesados, comum nos dias de hoje por conta de contaminação dos mananciais hídricos, todo o foco na mídia é para o tipo de tratamento médico a ser seguido. Pouco, muito pouco se fala sobre o que motiva a contaminação.

- o capitalismo e suas práticas não podem ser questionadas, comentei.

- exato. banaliza-se a poluição ambiental e a contaminação de solos e recursos hídricos. colocando o foco no tratamento. Nas propagandas de ofertas de supermercados, comuns nas tvś, raramente aparecem ofertas de frutas , legumes , verduras ou alimentos saudáveis.

- só produto industrializado, comentei.

- exato. A quem interessa esse estilo de vida ?

- a mim nunca interessou.

- mas a maioria das pessoas não percebe e acredita que isso é o certo, saudável, porque as mídias fazem parte do esquema do lucro e saturam todas as pessoas com suas falsas verdades.

- e se você questiona, é rotulado como maluco.

- é uma outra questão. Nada pode ser questionado. Com a ascensão e hegemonia do neoliberalismo, a partir da década de 1990, começou-se a criação de padrões. Padrão de consumo, padrão na economia, padrão de entretenimento, padrão de comportamento, padrão de relações interpessoais. Qualquer ideia fora dos padrões deve ser combatida e eliminada, e a mídia está aí, também para fazer esse papel. Por que Cuba é perseguida? Por que é uma outra experiência, diferente dos padrões homogeneizados, não pode florescer, não pode ser um exemplo bem sucedido. Nada pode ser diferente do capitalismo neoliberal. Essa conversa de bloqueio por conta de violação de direitos humanos é balela. Os direitos humanos estão sendo corroídos, em larga escala no mundo capitalista e ninguém, no caso a grande imprensa e mídias, fala em defendê-los. A obesidade é uma grave epidemia mundial. Está associada aos valores do capitalismo, do sucesso pessoal ( se tenho dinheiro como sem parar o que quiser ) do hedonismo.

- a gula é um dos sete pecados capitais, comentei

- pois é. No tocante a esse pecado a Igreja faz vista grossa para não contrariar os lucros das empresas. Mas acusa de crime e pecado, políticas a favor do aborto.

- é a tal história de se ajustar aos padrões, comentei.

- é verdade. O neoliberalismo criou um estreitamento na produção intelectual, de ideias, no entretenimento, nas artes e óbvio na economia. Quando existiam os dois polos, capitalismo e socialismo, a amplitude era bem maior. Atualmente essa padronização, para blindar um modelo que já agoniza, tem criado sérios problemas nas relações interpessoais. O aumento da violência , da intolerância são decorrentes desse estreitamento produzido pela propaganda neoliberal. Nada pode ser diferente. Isso tem desdobramentos nas religiões e no conflito religioso, pois todas, de alguma forma, também querem a hegemonia. Ontem, mesmo presenciei uma discussão, em um bar entre duas pessoas. Um deles dizia pro outro que era importante que ele aceitasse Jesus em sua vida. O outro dizia que nunca tinha duvidado de Jesus. O primeiro insistia que ele estava equivocado e que no momento do julgamento ele teria que aceitar e seria punido. Por pouco não saíram no tapa por causa de um provável veredicto oriundo de notáveis em um tribunal na esfera celeste, pós morte. 

- iriam brigar por isso, perguntei.

- quer expressão maior da irracionalidade que nos rodeia. As pessoas não são estúpidas ou burras . Eles estão dominadas e eclipsadas por um grande sistema, com o apoio das grandes mídias, que tem por objetivo ditar regras e padrões em prol dos interesses das grandes corporações. Assim a intolerância vai aumento, o mesmo com a violência nas relações interpessoais, pois o espaço para opiniões e ideias é cada vez mais estreito. Minha esperança são as mídias sociais, que de alguma forma, conseguem quebrar essa barreira.

- nós conhecemos o enredo é já vimos esse filme antes. O estreitamento começa no campo das ideias, avança com xenofobia, depois com racismo, depois são os pobres, mais adiante os velhos e doentes, depois os negros, depois todos aqueles que não fazem parte da religião dominante, não é ?

- essa é exatamente a realidade que vivemos. Agora, você acredita que a maioria das pessoas percebe a realidade dessa maneira ? Estão sendo conduzidos. O entretenimento , o esporte são estratégias para condução, quando deveriam ser caminhos para cultura, conhecimento e formação de pessoas.

Nossa refeição acabara de chegar. Fizemos uma pausa para o almoço. Olhei , de relance pela janela do restaurante, e vi um transatlântico ancorado no pier da Praça Mauá. Ele tinha três chaminés.

Mídia. A arte de mentir

Desligue a TV e leia um livro


De Estocolmo – Wellington Calasans, colunista do Cafezinho

Li num recente artigo do jornalista e escritor sueco Erik Wijk para uma publicação deste país nórdico, chamada Flamman, “Sobre a necessidade humana de simplificar” (tradução livre do sueco para o português de “Om ett mänskligt behov av att förenkla”), que estamos habituados a receber interpretações mastigadas. Para Wijk, na crítica ao modo simplista de informar e receber informações, “não há necessidade de palavras extravagantes”, pois “a simplificação é pedagogia, eficaz e indispensável na propaganda”.

Relaciono isso ao modo alvinegro de comunicar, amplamente utilizado pela velha imprensa brasileira, concentrada nas mãos de poucas famílias, que molda aquela típica mentalidade em preto e branco do seu público e que está convicta de que isso já é mais do que o suficiente para que seja mantido o exército de analfabetos políticos. Exército este que baba ódio contra o desconhecido e transforma manchetes desta mesma imprensa/elite em teses de mestrado.

A máquina de alienação, aqui carinhosamente chamada de PIG – Partido da Imprensa Golpista, sabe que o silêncio ou poucas palavras cumprem melhor o papel do “finjo que informo e você finge que é bem informado”. Para o PIG, o não informar é mais valioso, pois como diz o jornalista Fernando Brito: “a política sem polêmica é a arma das elites”. Até mesmo o insuspeito ACM ratificou a existência desta estratégia quando certa vez afirmou que “Se o Jornal Nacional não deu, não aconteceu”. Graças a isso, figuras nefastas como José Serra, FHC e tantas outras blindadas pela imprensa/elite, ainda existem na vida pública brasileira e até falam sobre ética e deontologia.

Nesses tempos em que no Brasil a opinião sintética de qualquer subcelebridade ganha uma importância inversamente proporcional ao valor da mensagem proferida, o valor da leitura de livros ganha parâmetros jamais imaginados em outros tempos. Parece paradoxal que em tempos de internet, onde a produção diária de conteúdos informativos é maior do que toda a produção anterior ao surgimento desta rede, as pessoas estejam mais alienadas. O êxito do PIG ao “gerar debates” com as frases que destilam ódio e preconceito, amplamente divulgadas e compartilhadas nas redes sociais, é justificado diante da necessidade de se criar uma cortina de fumaça que possa ser utilizada para encobrir os absurdos praticados na política e justiça do Brasil.

Ocorre que o simplificar não pode ser uma prática comum aos que devem, por obrigação, comunicar com isenção e imparcialidade. É preciso ampliar o leque de possibilidades para que toda e qualquer pessoa, nas diferentes classes sociais, possa desempenhar um papel superior àquele possível a um papagaio. A ignorância política da maioria dos brasileiros ainda é usada como instrumento de manutenção de privilégios pela imprensa/elite, mas isso é arriscado para todos, inclusive para aqueles que vivem a surfar nas ondas do censo comum.

A estratégia da imprensa/elite de reduzir em manchetes a discussão que merecia ser ampla, inclusive aquelas em torno do papel da comunicação social na construção da sociedade, só não resistirá ao resgate da leitura de livros. Talvez os dois primeiros passos sejam desligar a TV e ler mais livros. Se isso ainda soa como algo utópico, faço-o para tentar dizer aos robotizados que é necessário sair da caixa, pensar a partir das próprias percepções e até necessidades pessoais. “Não pense que a cabeça aguenta se você parar”, já nos disse o imortal Raúl Seixas.

Fonte: O CAFEZINHO
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A arte de mentir

6 DE NOVEMBRO DE 2016 POR LUCIANA OLIVEIRA


Há quem minta mais e muito melhor do que as outras pessoas. A famosa cara de pau foi tema de uma edição recente da revista Scientific American, que citou o trabalho de pesquisadores da Universidade de Portsmouth. Veja as características típicas de caras de pau convincentes.

São manipuladores: que mentem frequentemente e não têm escrúpulos morais – por isso, sentem menos culpa. Os mentirosos também não têm medo de que as pessoas desconfiem e não precisam de muito esforço cognitivo para fazer isso. A coisa meio que acontece naturalmente.

São bons atores: quem sabe atuar tem mais facilidade em mentir e se sente confiante ao fazer isso, pois sabe que é capaz de fingir muito bem.

Conseguem se expressar bem: dão uma impressão de honestidade porque o seu comportamento sedutor desarma suspeitas logo de início, além de conseguirem distrair os outros facilmente.

Têm boa aparência: pesquisas já mostraram que pessoas bonitas tendem a ser mais queridas e vistas como honestas, o que ajuda a enganar os outros.

São espontâneos: para acreditarmos num discurso, ele precisa parecer natural. Quem não tem a capacidade de ser espontâneo acaba parecendo artificial – e fica difícil convencer alguém desse jeito.

São confiantes enquanto mentem: bons mentirosos geralmente sentem menos medo de ser desmascarados do que as outras pessoas.

Têm bastante experiência em mentir: assim como nas outras coisas, o treino também leva à perfeição quando se trata de mentir. Quem está acostumado a isso sabe o que é necessário para convencer as pessoas.

Conseguem esconder facilmente as emoções: em algumas situações mais arriscadas, mesmo um mentiroso veterano pode sentir medo e insegurança. Nesse caso, é fundamental conseguir camuflar bem essas emoções. Mentirosos costumam ser bons em fingir sentimentos que não estão realmente sentindo, mas também tendem a manifestar seus verdadeiros sentimentos espontaneamente. Por isso, é necessário ter habilidade em mascará-los para que não venham à tona.

São eloquentes: eles conseguem confundir mais facilmente as pessoas com jogos de palavras e enrolar mais nas respostas caso lhe perguntem algo que exija outras mentiras.

São bem preparados: mentirosos planejam com antecedência o que vão fazer ou dizer para evitar contradições.

Improvisam bem: mesmo estando preparado, é preciso estar pronto para improvisar caso alguém comece a desconfiar da história que ele inventou.

Pensam rápido: para improvisar bem, é preciso pensar rápido. Bons mentirosos conseguem pensar em uma saída rapidamente.

São bons em interpretar sinais não verbais: um bom mentiroso está sempre atento à linguagem corporal do seu ouvinte e consegue interpretar sinais não verbais que possam indicar desconfiança.

Afirmam coisas que são impossíveis de se verificar: por motivos óbvios, bons mentirosos costumam fazer afirmações sobre fatos que sejam impossíveis de se provar e evitam inventar histórias mirabolantes, facilmente desmascaradas.

Falam o mínimo possível: quando é impossível falar algo que não pode ser verificado, o mentiroso simplesmente não diz nada.

Têm boa memória: quem quer desmascarar um mentiroso procura por contradições no seu discurso, porque muitas vezes eles podem simplesmente se confundir ou esquecer detalhes que inventaram. Mas não se impressione se a pessoa conseguir se lembrar e repetir cada vírgula do que lhe contou anteriormente. Bons mentirosos geralmente têm ótima memória.

São criativos: eles conseguem pensar em saídas e estratégias que você nunca imaginaria. Mas não se deixe levar pelo seu brilhantismo – afinal, é isso o que eles querem.

e por fim: imitam pessoas honestas: mentirosos procuram imitar o comportamento que, no imaginário das pessoas em geral, são típicos de quem só diz a verdade — e evitam se parecer com a imagem que se tem dos mentirosos.

Fonte: Café do Brasil

Fonte: Blog da Luciana Oliveira
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As ferramentas diminuíram seus esforços,
O telescópio aumentou sua visão,
Os veículos automotores aceleraram seus passos,
A televisão idiotizou e embotou todos.

Assim é a mídia. Uma usina de mentiras, omissões e manipulações.
Através da linguagem a mídia manipula e induz as pessoas ao entendimento desejado.
Sobre formas de indução à uma determinada compreensão, e também abordando as armadilhas da comunicação presentes diariamente na mídia, o PAPIRO produziu e publicou o conto abaixo, em outubro de 2012:



Diários de Botequim - 3


Comunicação. Atenção! Atenção !

24.10.2012


Era apenas mais um dia, somente um dia. Uma tarde noite de sexta-feira, não diferente de outras tantas naquele lugar, com aquelas pessoas. No bar referência lá estavam Miltão, Ciro, Cardoso, Jadir, Nelsinho e Eu. Início de verão, calor e muita gente pelas ruas em um clima típico de Rio de Janeiro. Embalados pela energia típica daquela hora do dia discutíamos, ou pensávamos que discutíamos, de tudo, sobre tudo, até mesmo sobre o impossível silêncio para um momento daqueles. Foi quando, de repente, mas como de costume, Miltão disparou contra Nelsinho:
- você tem uma tremenda dificuldade de entender o que as pessoas falam. Isso irrita. Só faz pergunta idiota.
Ciro, tentando aliviar o pobre Nelsinho, que apenas ria, acabou entregando ainda mais o rapaz:
- esse cara é um terror, disse Ciro sobre Nelsinho. Continuou. Semana passada a gente encostou em duas meninas aqui no bar e puxamos uma conversa. Quando o papo começou a engrenar, Nelsinho deu um tremendo corte em uma delas. A menina disse que a capital da Turquia era Istambul e ele, querendo aparecer, acabou fazendo merda. Corrigiu a garota em cima do lance, fazendo com que ela ficasse sem graça e com isso inibiu a conversa e esfriou o clima.
- isso é uma anta, disse Jadir.
Ciro continuou. Mas o pior aconteceu ontem. Mais uma vez fomos naquele baile lá da Tijuca. De repente, Nelsinho veio ansioso em minha direção dizendo ter visto duas mulheres sozinhas em uma mesa. Fui conferir, claro. De fato elas estavam sós. Nos posicionamos perto, esperando a orquestra voltar a tocar pra poder tirar pra dançar. Logo que a orquestra iniciou tiramos as mulheres que aceitaram na boa. De repente, mais ou menos três ou cinco minutos depois, no final da primeira música, vejo Nelsinho em pé, sozinho e a mulher dançando com outro. Continuei dançando por mais de meia hora, engatei um bom papo e ainda troquei telefone. Depois fui perguntar pro Nelsinho o que aconteceu, por que ele parou tão rápido. Então ele me disse que resolveu puxar uma conversa mas deu confusão. Ele, de cara sabe o que perguntou para a mulher ?
Você tem nome ? A mulher se espantou e disparou pra cima dele dizendo que óbvio que tinha. Já começa errado, criando estresse. Enquanto Ciro falava, Nelsinho apenas ria. Por causa disso ela descartou ele no final da primeira música.
- isso é uma anta, disse Jadir
- eu acho que ele fica nervoso, ansioso e acaba falando besteira, disse Miltão. O assunto então mudou e entrou na esfera da comunicação, exatamente no momento em que Tadeu se aproxima da mesa. Tadeu é o rico da turma. Executivo de Recursos Humanos em uma multinacional, bom de conversa e extremamente irônico. Certo dia, por causa de sua ironia quase chegou as vias de fato com Miltão. Ambos tem personalidade forte e vivem se estranhando. Jadir e Cardoso, sempre se colocam ao lado de Miltão, fazendo com que também tenham diferenças com Tadeu. Tadeu chegou, com sua pasta de trabalho, e sentou-se ao meu lado, mas na cabeceira da mesa no lado oposto de Miltão. Inicialmente prestava atenção na conversa, até que entrou no debate.
- isso é muto comum. Nelsinho não é o único. Ele pode extrapolar, por vezes, mas a comunicação eficaz não é algo tão simples. Hoje mesmo, ministrei, aqui mesmo em um hotel do bairro, um seminário, de seis horas, com os vinte maiores e mais importantes executivos da empresa. E o assunto foi exatamente comunicação. E olha que são pessoas que trabalham com informações e tomam decisões importantes. Aliás, eu tenho aqui um dos exercícios que fizemos. Vocês topam fazer ? É coisa simples, um pequeno texto que vocês vão ter de dizer o que entenderam sobre o texto e, caso queiram, arriscar o personagem da história, disse enquanto retirava as folhas e distribuía para todos na mesa.
- já que é um texto pequeno , tudo bem, disse Miltão, no que foi seguido por todos.
- OK. Aí vai, uma cópia pra cada um.


                                              Minha História
Hoje, mais uma vez como de outras vezes, vou conversar com vocês sobre um assunto bem interessante. Certamente, e é normal que seja assim, vocês devem estar se perguntando sobre o tema do dia. Enquanto vou alinhavando essas palavras iniciais, me pergunto, e até mesmo sugiro se me permitem, se vocês estão bem relaxados e confortáveis. Hoje, como em quase todas as ocasiões em que me dirijo a vocês, vou conversar com vocês sobre vivências, experiências, aventuras. Ahhhh! e como são interessantes as aventuras. Elas começam bem cedo, para tudo e todos e, obviamente, para mim não foi diferente. E que aventuras tenho para contar para vocês. No início, e como são belos os inícios, tudo era ainda muito discreto, ocupava poucos espaços e merecia cuidados especiais. Não imaginava, assim como vocês podem imaginar a medida que avanço na história, que poderia atingir um estágio de fama, lendas e histórias, a ponto de impactar profundamente toda a civilização. As mãos delicadas, cuidadosas, proporcionaram para mim meus primeiros momentos de presença, de graça. Hoje, em mais um início que se estende até o fim dos inícios, despertei agitado, rebelde para logo depois, pouco tempo depois, encontrar meu equilíbrio, minha forma e minha graça. Alcancei um estágio de minha existência em que poucos, bem poucos, poderiam interferir na minha maneira de ser. E como é bom ser assim, devem vocês estar pensando. Como é bom poder escolher meus caminhos, ocupar os espaços, definir as cores. Vocês, a medida que aprofundo no tema, sobre experiências, aventuras e vivências, certamente vão encontrando seus próprios caminhos , suas realidades, suas cores, suas vivências. Tenho plena convicção que me tornei uma lenda e, para algumas pessoas represento a alegria, a vida, a beleza enquanto que para outros posso ser comparado como uma grande frustração. Alguns me adoram, cuidam bem de mim, me admiram, enquanto outros me detestam a ponto de me expulsar de suas vidas para sempre. É o preço da lenda, devem vocês estar pensando, com certeza. Nessa longa história, de experiências, vivências e aventuras já fiz muito e alcancei grande destaque. E como é bom fazer, ver os resultados concretos, atingir suas metas e objetivos. Vocês, certamente, também já produziram excelentes resultados e a medida que continuo minha história , vocês podem , até mesmo agora, ou em outra ocasião se assim desejarem, pensar sobre os grandes feitos e ainda sobre aqueles que podem alcançar. Quero dizer para vocês, já que se trata de uma longa história, que para relatar todos os grandes eventos seriam necessárias muitas e muitas conversas, assim sendo procurarei citar, de forma geral,meus momentos mais impactantes. Afirmo, sem medo de errar e com a coragem de acertar, que já fui responsável por um dos momentos mais belos do amor. Ahhh! e como o amor é belo. Digo, também, que vivi um momento em que mudei o mundo, transformei as pessoas, assustei os defensores do atraso. Em outra ocasião fui a força do guerreiro, a força que vocês tem para alcançar suas metas e objetivos. Hoje, já bem conhecido , posso afirmar que tenho todas as cores, todas as formas e , sem de receio ou medo de ser ousado, e como é bom ser ousado podem vocês estar pensando, também posso afirmar que sou arte, pura arte, diversas formas de arte em todas as formas possíveis. Minha existência é a minha história, e como sou eterno, pois mitos e lendas são eternos e também sou lendas e mitos , faço por criar todas as emoções nas pessoas, as mais variadas possíveis e imagináveis. Ahhh ! como as mulheres gostam de mim, que carinho e cuidado eles tem por mim. Isso não significa dizer que os homens não gostem, aliás eles se revelam , em relação a mim,de forma mais discreta, silenciosa. Essa história , que vocês certamente leem com toda atenção, e que é a minha história, também tem um final, ou vários finais. Em todo o final, e estamos bem próximo dele, de um deles, talvez, é necessário e importante saber que um mito não tem fim. Muitos, e são de fato muitos homens e mulheres, também lucram , e lucram muito, através de mim ou comigo mesmo. Isso não significa o fim, significa , apenas, o lucro, ou a necessidade. O final pode chegar bem cedo ou ,em muitos casos, talvez na maioria deles, coincida com o final inexorável. E já que estamos falando de uma história de vivências, aventuras e experiências e próximos do fim, desejo que todos vocês recolham os mais variados ensinamentos, de maneira que possam ser utilizados no desenvolvimento de novas habilidades e competências em cada um, antes do final e bem antes do processo do fim. Essa história, rica em elementos , é a minha história, escrita com a minha autorização.

Todos terminaram a leitura, foram colocando a folha de lado mas ninguém iniciava uma resposta. Tadeu se dirigiu para Ciro e perguntou.
- o que você achou ?
- não sei. pode ser muita coisa. Parece que é alguém importante, mas não vou arriscar.
- e você ? Disse Tadeu se dirigindo para mim.
- vou acompanhar o Ciro, disse.
- e você, Nelsinho, o que achou ?
- eu acho que é a história de Jesus Cristo . Tem tudo a ver, disse Nelsinho.
- para de falar asneira, disparou Miltão e continuou. Que Jesus Cristo, cara, parece que não sabe ler. Está claro para mim que o texto fala de alguém importante, pode ser um artista no que acredito que seja, mas o mais importante é que diz respeito de alguém que se revela, saindo do armário . Essa história de Ahhh, o amor é belo é coisa de viado. Isso é texto de um boiola, esse negócio de todas as cores . Pra mim tá escancarado.
Jadir e Cardoso endossaram o comentário de Miltão. Tadeu então tomou a iniciativa.
- esse texto eu apresentei hoje para os vinte maiores executivos da empresa e apenas dez, 50%, apresentaram a resposta certa. E eu estou falando de pessoas que trabalham com informações e tomam decisões com base em análises e relatórios. Descobrir o personagem da história não é o mais importante, mesmo porque o texto não é conclusivo a esse respeito. Muitas pessoas podem ter uma história como essa, ou parte de uma história dessas. Tive respostas de Jesus, assim como Nelsinho, Che Guevara, John Lennon, Madona e até Santos Dumont. Mas isso não é o importante. Claro que o autor, ao elaborar o texto pensou em alguém, ou em algo , para a elaboração. O personagem do texto é o cabelo. Vejam só: 

- " no início tudo era muito discreto, ocupava poucos espaços e recebia cuidados especias" .
Todo mundo nasce com pouco cabelo e os pais tem mimos e cuidados. 
- " alcançar um estágio de fama " .
São inúmeras as lendas e histórias sobre cabelo. 
- " as mãos delicadas cuidadosas proporcionaram para mim meus primeiros momentos de graça ".
O cuidado dos pais nos penteados das crianças. 
- " hoje, em mais um início, despertei agitado, rebelde, para logo depois encontrar o equilíbrio ". 
Todos os dias pela manhã, e os dias são inícios, os cabelos amanhecem agitados desalinhados para depois serem penteados, o equilíbrio. 
- "para muitas pessoas represento a alegria , a vida a beleza para outros sou a frustração" .
Muitas pessoas adoram seus cabelos , já outras são frustrados com o cabelo que tem. 
- " já fui responsável por um dos momentos mais belos do amor " .
É uma referência a história das tranças de Rapunsel. 
- " mudei o mundo, transformei as pessoas , assustei os defensores do atraso " 
É uma referência as transformações sociais da década de 1960, quando passamos a usar cabelos longos e assustar os conservadores. 
- " hoje tem todas as cores todas as formas e sou arte " Pessoas usam cabelos de todas as cores e desenhos artísticos. 
- " em outra ocasião fui a força do guerreiro" .
Uma referência a história de Sansão. 
Entenderam, perguntou Tadeu e continuou. Não vou especificar até final do texto, mas todo ele é sobre o cabelo, não fala de nenhuma pessoa. Isso mostra o efeito da comunicação· No nosso caso, apenas Ciro e ele, disse apontando para mim, se aproximaram da resposta certa, que é a seguinte:
O texto não permite afirmar de quem se trata. São informações generalistas. E 50% dos maiores executivos de uma transnacional não perceberam isso. Quem usa muto essa característica de comunicação é a imprensa, quando deseja induzir ou manipular informações. Outro aspecto também diz respeito ao nosso idioma, o português. Por ser um idioma muito rico, ao contrário do inglês, permite elaborações e construções que podem condenar um inocente ou absolver um culpado, em rígida concordância com as normas de expressão e atendimento as leis. Existe ainda uma tese, apenas uma tese, que estabelece relação entre o desenvolvimento de países com o idioma. Segundo essa tese os países de língua inglesa se desenvolveram mais rápido por causa do idioma e do investimento em educação. Então, não apenas vocês aqui que não acertaram como também os executivos lá empresa, responderam aquilo que vocês desejaram, aquilo que estava na cabeça de vocês, ou seja, relataram suas próprias experiências de vida através de suas respostas.
Nesse momento , Miltão colocou as duas mãos apoiando sobre a mesa, em uma posição de alguém que iria se levantar e disparou contra Tadeu:
- escuta aqui, o cara. Você está querendo curtir com a cara da gente ? Tá pensando que eu sou babaca ? Tá dizendo que eu sou viado ?
- eu não disse nada, você que disse. Tá surdo ? Tá maluco ? falou Tadeu.
O clima esquentou. Miltão se levantou da mesa apontando o dedo para Tadeu. O estresse foi total. Jadir e Cardoso, como de costume seguiram Miltão que já estava com o rosto vermelho de raiva e ainda disse;
- seu repertório esgotou, vou te encher de porrada.
Ciro se colocou na frente de Miltão tentando segurar a fera, enquanto as pessoas das mesas mais próximas se levantaram com receio de um quebra- quebra. Jadir e Cardoso também queriam acertar Tadeu. Ciro e Nelsinho, com muita dificuldade impediam que os três partissem para cima de Tadeu e, ao mesmo tempo, Ciro pedia para que eu levasse Tadeu embora dali. Foi o que fiz. Puxei Tadeu e fomos caminhado pelas ruas do bairro até sua casa. Durante o caminho ainda tentamos trocar algumas palavras, mas não foi possível. Não conseguíamos parar de rir.