terça-feira, 27 de setembro de 2016

Terrorismo de estado no Brasil

Lava Jato: o braço terrorista do regime de exceção

As instituições de Estado foram capturadas ideologicamente e direcionadas para a perseguição, combate e eliminação dos 'inimigos do regime'.

Jeferson Miola

O golpe não se encerrou na sessão do Senado que cassou o mandato da Presidente Dilma na farsa doimpeachment. Ali apenas se abriu um capítulo novo do ataque à democracia para a consolidação do regime de exceção que se vive no Brasil.

Os objetivos com a suspensão das regras democráticas são: [1] extirpar Lula e o PT do sistema político brasileiro – portanto, a representação dos pobres na política; [2] transferir a riqueza nacional ao capital estrangeiro mediante a regressão dos direitos do povo; e [3] inserir subalternamente o Brasil, a sétima potência econômica planetária, no sistema mundial.

Os sinais de arbítrio e excepcionalidade institucional já eram perceptíveis bem antes do desfecho do golpe, ainda nas etapas de conspiração e desestabilização do ambiente político.

No Judiciário e no Legislativo, decisões fundamentais que regeram o golpe continham escancarada arbitrariedade e excepcionalidade, mas assim mesmo foram legitimadas pela Justiça e naturalizadas midiaticamente, para envernizar o atentado à Constituição com a aparência de legalidade. A Rede Globo e conglomerados da mídia, praticando um noticiário conivente e de viés partidário, são essenciais para a subversão jurídico-institucional em curso.

O regime de exceção se caracteriza pela adoção de medidas de arbítrio e de coerção em substituição ao Estado de Direito e ao regramento legal; e pelo esmagamento da oposição política e social.

É um regime no qual as instituições de Estado, em especial policiais e judiciais, são capturadas partidária e ideologicamente, e direcionadas para a perseguição, combate e eliminação dos “inimigos do regime”.

As Leis e a Constituição deixam de balizar as relações sociais e a resolução dos conflitos. A sociedade é então governada por ocupantes ilegítimos do poder; os sem-voto – usurpadores que, com lógicas totalitárias, distorcem as Leis e a Constituição para aniquilar oponentes políticos e instalar um esquema autoritário de poder.

A manifestação do Tribunal Federal da 4ª Região defendendo a adoção de “situações inéditas [da Lava Jato], que escaparão ao regramento genérico”; ou seja, soluções não subordinadas ao regramento jurídico, é uma evidência assustadora desta realidade.

Na ditadura instalada em 1964, os militares foram gradualistas. As medidas restritivas de liberdade, de repressão e de arbítrio foram instituídas à continuação do golpe, através dos sucessivos Atos Institucionais decretados entre abril de 1964 e dezembro de 1969, e que conformaram a índole fascista do regime.

O arcabouço jurídico do regime ditatorial de 1964, portanto, não foi cabalmente concebido no dia 2 de abril de 1964, quando o auto-proclamado “Comando Supremo da Revolução” [sic], liderado pelo general Arthur da Costa e Silva, assumiu o comando do país depois do golpe que derrubou o Presidente João Goulart.

Já neste golpe de 2016, a oligarquia fascista imprimiu uma dinâmica alucinada desde o primeiro instante. Pretende processar, no menor período de tempo, mudanças cruéis e com forte conteúdo anti-povo e anti-nação, que poderão ter efeito de longuíssimo prazo para a organização econômica e social do Brasil.

Para impor a agenda ultra-reacionária de restauração neoliberal, o governo golpista enfrentará uma oposição radical. Não se pode desprezar que, com a crise de legitimidade e com a propagação da resistência democrática, o regime tenderá ao embrutecimento; deverá assumir formas abertamente violentas, com prisões ilegais, torturas, assassinatos políticos.

O objetivo estratégico da oligarquia golpista é a proscrição do PT e a destruição do Lula no imaginário popular. Nas últimas duas semanas, a Lava Jato, que é o braço terrorista do regime de exceção, deu passos importantes nesta direção.

A força-tarefa da Operação, dominada por militantes fanáticos do PSDB, promoveu na véspera da eleição três ações semióticas, implacáveis, inteligentemente programadas: [1] a encenação espalhafatosa de procuradores “cheios de convicções, mas vazios de provas” contra Lula [dia 12/09]; [2] a aceitação da denúncia estapafúrdia, pelo justiceiro Moro [em 20/09]; e [3] a barbárie jurídica da prisão do ex-ministro Guido Mantega [em 22/09].

A Lava Jato faz um esforço titânico para apagar o legado da maior mobilidade social havida no Brasil em 520 anos no Brasil – 40 milhões de pessoas retiradas da condição de indigência – para ditar, em lugar disso, uma narrativa criminalizadora dos períodos Lula e Dilma, tendo como eixo a corrupção.

Sempre é oportuno recordar o pensador Norberto Bobbio, para quem o fascista não combate de verdade a corrupção, apenas emprega um discurso cínico da corrupção para tomar o poder: “O fascista fala o tempo todo em corrupção. Fez isso na Itália em 1922, na Alemanha em 1933 e no Brasil em 1964. Ele acusa, insulta, agride como se fosse puro e honesto. Mas o fascista é apenas um criminoso, um sociopata que persegue carreira política. No poder, não hesita em torturar, estuprar, roubar sua carteira, sua liberdade e seus direitos”.

Com a cassação de Eduardo Cunha, o sócio do golpista e mega-corrupto governo Michel Temer, a Rede Globo, como num passe de mágica, virou a página da corrupção. A única “sujeira” que permanece na cena pública do noticiário da Globo e da mídia dominante, e que deve ser radicalmente extirpada, é o PT.

O banditismo político alcançou um patamar inédito no Brasil. Não só devido à brutalidade do ataque contra Lula e o PT, mas sobretudo devido à inteligência operacional e estratégica da oligarquia fascista na implantação do regime de exceção.

Fonte: CARTA MAIOR
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Justiça selvagem dá nisso

27 DE SETEMBRO DE 2016 POR LUCIANA OLIVEIRA


LAVA JATO ERROU COM DIRCEU. 
E A PENA, SERÁ REDUZIDA?

Por Tereza Cruvinel
No 247

Movida por convicções, a Lava Jato deduziu que a sigla ‘JD’, na planilha de pagamentos da Odebrecht, era uma referência a José Dirceu ou à sua empresa, a JD Consultoria. Agora, ao prender Antonio Palocci, convencida de que ele é o “italiano”, a Lava Jato admite que errou e que a sigla ‘JD’ é uma referência a Jucelino Dourado, ex-chefe de Gabinete de Palocci.

Em fase anterior da operação, Dirceu foi acusado de ter recebido repasses de R$ 48 milhões da construtora entre 2009 e 2010, com destaque para o fato de que nesta época ele já era réu no processo do mensalão, que levou à Ação Penal 470. A defesa de Dirceu sempre protestou, alegando que todos os recursos auferidos pela JD Consultoria foram contabilizados, que uma soma de tal grandeza não passaria pela empresa sem deixar registros.

Dirceu está peso há mais de um ano em Curitiba e foi condenado pelo juiz Sergio Moro a 20 anos e dez meses de prisão por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. A pergunta que fica é se, reconhecido o engano de R$ 48 milhões, Moro vai rever a “dosimetria” da pena de Dirceu.

Durante coletiva sobre a 35ª fase da Operação Lava Jato, o delegado Filipe Pace disse, e talvez tenha se arrependido, estar “documentalmente provado” que Marcelo Odebrecht coordenou pagamento de propinas relacionadas a várias obras federais e estaduais, citando, entre elas, o metrô e trens de São Paulo e a coleta e tratamento de lixo no Estado, além da reforma do aeroporto Santos Dumont e outras obras do Rio; “Estas ilicitudes, entretanto, estão vinculadas a governos do PSDB, no caso de São Paulo, e do PMDB, no caso do Rio”, destaca Tereza Cruvinel, lembrando que o delegado “tergiversou” quando questionado “sobre os agentes identificados como recebedores destas propinas”; “Estes casos não interessaram à Lava Jato. Afinal, não envolvem ‘agentes políticos’ do PT”, afirma Tereza.

Fonte: Blog da Luciana Oliveira
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No jornal Extra, de Globo, na mesma edição, candidato Crivella perde e ganha

Datafolha: Crivella lidera corrida para a Prefeitura do Rio com 29%

Pedro Paulo com 11% e Freixo com 10% vêm a seguir

Ibope: Crivella lidera intenção de voto para a Prefeitura do Rio 

Pedro Paulo, Freixo e Indio da Costa estão tecnicamente empatados em segundo lugar

O instituto Ibope publicou nesta segunda-feira (26) sua terceira pesquisa sobre intenção de voto para a Prefeitura do Rio de Janeiro. Marcelo Crivella (PRB) continua na liderança da preferência do eleitorado. Na pesquisa anterior, divulgada no dia 14, o senador tinha 31%.

Agora, os candidatos Pedro Paulo (PMDB), com 11%, Marcelo Freixo (Psol), com 9%, e Indio da Costa (PSD), com 8%, aparecem tecnicamente empatados, considerando a margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos.


Fonte: JORNAL DO BRASIL
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Crivella mantém liderança e Pedro Paulo assume o segundo lugar, segundo Ibope

Em segundo lugar, três candidatos estão tecnicamente empatados dentro da margem de erro: Pedro Paulo, Marcelo Freixo e Indio da Costa
26/09/2016 19:49:47 - ATUALIZADA ÀS 26/09/2016 23:13:31
O DIA
Marcelo Crivella lidera com folga disputa no RioArte O Dia

Rio - A seis dias das eleições, o candidato do PRB à Prefeitura do Rio, Marcelo Crivella, ampliou ainda mais sua vantagem na liderança das intenções de voto, segundo pesquisa Ibope divulgada nesta segunda-feira. Crivella aparece na frente com 35% das intenções de voto, 4% a mais do que no levantamento do dia 14 de setembro. A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

Em segundo lugar, estão tecnicamente empatados Pedro Paulo (PMDB), com 11%; Marcelo Freixo (Psol), com 9%; e Indio da Costa (PSD), com 8%. Jandira Feghali (PC do B) e Flavio Bolsonaro (PSC) oscilaram dois pontos percentuais para baixo em relação ao último levantamento Ibope: ambos passaram de 8% para 6% e, com isso, ficaram numericamente para trás no grupo que divide a segunda colocação.

Em seguida aparece Carlos Osorio (PSDB), que subiu um ponto, indo de 3% para 4%. Já Alessandro Molon (Rede) e Carmen Migueles (Novo) estão com 1%. Cyro Garcia (PSTU) e Thelma Bastos (PCO) não pontuaram. Votos brancos e nulos, que antes eram 19%, agora somam 16%. Eleitores que não opinaram são 3%.
Fonte: O DIA
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Datafolha: Crivella mantém liderança nas intenções de voto para prefeito do Rio, com 29%
Pedro Paulo, Bolsonaro, Freixo e Crivella no debate dos candidatos a prefeito da Rede Record Foto: ANTONIO SCORZA / Agência O Globo
O Globo

RIO - O candidato Marcelo Crivella (PRB) sofre ligeira queda, mas mantém a liderança das intenções de voto na corrida pela prefeitura do Rio de Janeiro, com 29% dos votos, de acordo com a pesquisa Datafolha, divulgada nesta terça-feira.

Em relação ao levantamento anterior, Pedro Paulo (PMDB) e Marcelo Freixo (PSOL) trocaram de posições e aparecem com 11% e 10%, respectivamente, seguidos por Flávio Bolsonaro (PSC) e Jandira Feghali (PC do B), ambos com 7%. Carlos Roberto Osório (PSDB) atinge 6% das intenções de voto, enquanto Índio da Costa aparece com 5%. Os cinco candidatos estão tecnicamente empatados em segundo lugar, segundo o Datafolha.

Fonte: EXTRA
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Com a proximidade das eleições as pesquisas estão de volta.
Em três jornais do Rio de Janeiro de hoje, tem-se uma salada de números.
No jornal Extra, do grupo Globo, na capa pode-se ler:

" pela primeira vez Pedro Paulo fica em segundo. Crivella, no entanto, sobe ainda mais e pode definir a eleição  já no próximo domingo"

Na chamada de capa o jornal não diz a fonte da pesquisa.

Já na página oito do mesmo jornal outra informação:


"Datafolha: Crivella mantém liderança nas intenções de voto para prefeito do Rio, com 29%
RIO - O candidato Marcelo Crivella (PRB) sofre ligeira queda, mas mantém a liderança das intenções de voto na corrida pela prefeitura do Rio de Janeiro, com 29% dos votos, de acordo com a pesquisa Datafolha, divulgada nesta terça-feira "

Ou seja, na mesma edição do jornal, Crivella subiu e desceu e a chamada de capa dá destaque para o candidato Pedro Paulo, que, ao que tudo indica, Globo deseja levar para um segundo turno contra Crivella, eliminando da disputa os candidatos de esquerda, indesejáveis para Globo.

No jornal do Brasil, duas citações que citam as fontes, ou seja, os institutos de pesquisa. A informação é mais equilibrada, porém , na chamada, omite o percentual de Crivella pelo Ibope.

No jornal O Dia, apenas a pesquisa do Ibope, com direito a gráfico com todos os candidatos e estratosféricos 35% de intenção de voto para Crivella, e destaque para Pedro Paulo em segundo lugar.
No entanto, ao ler os textos, Pedro Paulo aparece empatado tecnicamente com Freixo e outros.

Nas franjas do pleito, a velha mídia entra em cena e , por aqui na cidade maravilha, ao que tudo se revela principalmente no grupo Globo, o objetivo é impedir que candidatos de esquerda cheguem ao segundo turno, notadamente Marcelo Freixo e Jandira Fegalli.
Para isso, observa-se uma boa vontade da mídia com o candidato Pedro Paulo, candidato do PMDB de Eduardo Paes.

A salada de números impressiona. Por outro lado não se pode afirmar nada, ainda, já que o eleitor apenas começa a se envolver com as eleições , e até mesmo Marcello Crivella, líder nas higiênicas pesquisas, não está garantido no segundo turno, assim como pode vencer no primeiro.

A população deve ficar atenta para as ondas em favor desse ou daquele candidato nessa reta final. Existem as ondas verdadeiras e as ondas artificiais criadas para favorecer A ou B.

Cabe lembrar que nas eleições municipais de 1992, Benedita da Silva, do PT, liderava com folga e tudo indicava que mesmo em um segundo turno venceria , já que os demais candidatos bem colocados nas pesquisas não tinham tanta aprovação na população.
Foi quando, poucos dias antes da eleição, uma onda em favor de Cesar Maia - então um desconhecido da maioria da população - que tinha apenas 2% de intenções de voto, fez com que o candidato chegasse ao segundo turno. A tal onda,  que se acredita foi forjada com inestimável auxílio do grupo Globo, chegou carregada de preconceitos, já que apresentava Benedita como negra e favelada e Maia como um economista branco dotado de uma inteligência acima da média.
A classe média inculta e preconceituosa da cidade assimilou rápido a onda e, no segundo turno, Maia venceu Benedita com facilidade.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Admirável Mundo Novo

Vocês têm fome de quê?

POR REDAÇÃO– ON 23/09/2016CATEGORIAS: BRASIL, DESTAQUES, MEIO AMBIENTE


Primeira edição brasileira do Atlas da Carne será lançada em 29/9, em SP. Obra traz fatos, números e gráficos sobre consequências do abate e consumo de animais. Também sugere alternativas – e não apenas para vegetarianos

Lançamento do Atlas da Carne – Fatos e números sobre os animais que comemos
Em São Paulo, quinta-feira, 29/9, das 18 às 22h
No Ateliê do Gervásio (redação de Outras Palavras)
Rua Conselheiro Ramalho, 945 – Bixiga – Metrô São Joaquim ou Brigadeiro
Inscrições por e-mail: info@br.boell.org


Elaborado por pesquisadores do Brasil, Chile, México e da Alemanha, o Atlas da carne – fatos e números sobre os animais que comemospropõe dezenas de perguntas inquietantes. Você sabia que a produção de carne agrava as desigualdades globais? E que está relacionada ao desmatamento da Amazônia? A publicação mapeia a produção industrial de carne no mundo e como ela atinge recursos hídricos e solos, influencia as mudanças climáticas e as relações sociais. O lançamento acontece na quinta-feira, dia 29 de setembro, no Espacio 945, localizado na Rua Conselheiro Ramalho, 945 – Bixiga – São Paulo (SP).

O Atlas também registra como a criação animal em escala industrial traz consequências como a fome, já que a produção intensiva fica sempre em primeiro plano, em detrimento das necessidades nutricionais de cada país. O cercamento de terras para esse objetivo também causa o deslocamento de pequenos produtores, intensificando problemas sociais. A perda de biodiversidade também é outra grave consequência desse avanço sobre as terras. O Atlas, portanto, indica esses e outros impactos do consumo de carne, seja ela bovina, suína, de aves e de outros tipos como búfalos e ovelhas.

A publicação busca disseminar o máximo de informação quanto aos efeitos da produção de carne e às alternativas a esse modelo predador. Segundo o Atlas, se o consumo de carne continuar crescendo, em 2050 os agricultores e agricultoras terão que produzir 150 milhões de toneladas extra de carne, agravando os problemas. O Atlas da Carne estimula, assim, reflexões sobre como implementar uma pecuária “ecológica, social e ética” como contraponto ao agronegócio nos Estados Unidos, na União Europeia e na América Latina. A publicação traz alternativas ao atual modelo, como a de produzir e consumir a carne localmente, evitando o transporte por milhares de quilômetros. Quer, assim, mostrar ao consumidor de carne toda a cadeia de produção.

No Brasil, onde a crise hídrica já bateu à porta, para cada quilo de carne gastam-se 15 mil litros de água. E a criação intensiva, visando à exportação, leva ao uso de fármacos para erradicar doenças e acelerar a engorda. A contaminação do solo e da água, entre outras, são as consequências. A despeito disso, a demanda global por carne aumenta, mais rapidamente nos países emergentes e de forma cadenciada nos Estados Unidos e na Europa.

O Atlas está em sua terceira edição na Alemanha e já foi publicado em espanhol, inglês e francês. O Brasil ilustra bem a cadeia de produção, pois é um dos maiores produtores de soja do mundo, grão utilizado sobretudo como ração animal. Ao consumir a carne, o cidadão ingere também agrotóxico, usado no cultivo desse defensivo agrícola. A sanha por terra de produtores de soja e outros levam, muitas vezes, à grilagem, à expulsão de pequenos agricultores e a assassinatos de líderes camponeses e indígenas no Brasil. A produção da soja também se desdobra em desmatamento na Amazônia, visto, em maior escala, no Cerrado e no Pantanal, que sofrem também com o avanço das áreas de pastagens, pondo em risco importantes biomas. A pecuária intensiva gera quase um terço dos gases de efeito estufa em nível global.

Lançamento: O lançamento reunirá André Campos, jornalista da ONG Repórter Brasil; Letícia Tura, diretora da Ong FASE; Maureen Santos, coordenadora do programa de Justiça Socioambiental da Fundação e organizadora da versão brasileira do Atlas; e o jornalista e blogueiro Leonardo Sakamoto que fará a moderação. Na ocasião também será lançado o livro Cadeia industrial da Carne – Compartilhando ideias e estratégias sobre o enfrentamento do complexo industrial do complexo industrial global da carne da FASE, resultado da troca de ideias de um encontro sobre a temática.


O envenenamento das abelhas

POR INÊS CASTILHO
– ON 10/09/2013CATEGORIAS: MEIO AMBIENTE, MUNDO, POSTS


Prestadoras de inestimáveis serviços ambientais, elas sucumbem a agrotóxicos, monocultura, manejo inadequado. Como viverá a humanidade se desaparecerem?

Por Inês Castilho, com a colaboração de Taís González

Em sua recente participação no III Encontro Internacional de Agroecologia, em Botucatu (SP), a cientista indiana Vandana Shivalembrou a tragédia que a levou a estudar o impacto da indústria química na agricultura: o vazamento de 42 toneladas de um gás letal na fábrica de pesticidas da Union Carbide em Bophal, na Índia, em 1984, causando a morte de três mil pessoas e sequelas permanentes em mais de 100 mil. O presidente da empresa norte-americana, Warren Anderson, teria fugido do país em avião do governo, dias depois, abandonando na fábrica toneladas de produtos químicos perigosos, entre eles DDT – que estão lá até hoje.

A origem da tragédia, lembra Vandana, está na chamada Revolução Verde, imposta pelos Estados Unidos em sua área de influência geopolítica nos anos 1960 para ampliar o mercado de produtos agrícolas e agroquímicos – fabricados a partir de armas químicas usadas na Guerra do Vietnã. O resultado desse modelo, o agronegócio, é conhecido: 65% da biodiversidade e da água doce do planeta contaminadas por agrotóxicos – caldo de cultura para a morte súbita e desaparecimento das abelhas melíferas, fenômeno batizado em 2006 de Colony Collapse Disorder (CCD), ou Desordem de Colapso da Colônia.

Prestadoras de inestimáveis serviços ambientais, as abelhas respondem pela polinização de 71 dos 100 tipos de colheita que alimentam e vestem a humanidade, segundo relatório da ONU de 2010. Às abelhas devemos, além do mel, do própolis e da cera – os aspargos, o óleo de canola e o de girassol, as fibras têxteis do linho e algodão e culturas utilizadas para forragem na produção de carne e leite, como a alfafa. A videira depende em parte do trabalho das abelhas e, com ela, a produção de vinhos. Em um mundo sem abelhas seriam impensáveis os cítricos, o abacate, o agrião… Em particular, a produção de maçãs, morangos, tomates e amêndoas.

Parece assustador – e é mesmo. A cultura de amêndoas, totalmente dependente da polinização das abelhas, é exemplo da dimensão do desastre: são hoje necessárias 60% das colmeias remanescentes nos Estados Unidos para polinizar as plantações do estado da Califórnia, responsáveis pela produção de mais de 80% das amêndoas no mundo. Nos últimos seis anos, a CCD dizimou cerca de 10 milhões de colmeias do país. A taxa de mortalidade das colônias é de 30% ao ano: das 6 milhões de abelhas existentes em 1947, restam hoje não mais que 2,5 milhões.

Desastre global 

O declínio da população de abelhas foi notado em 2006, nos EUA. Quando a Europa acordou para o problema, em 2007, a CCD já atingia Alemanha, França, Itália, Espanha, Portugal. Ouviam-se notícias sobre o desastre no Canadá, Austrália, Brasil, e até mesmo o desaparecimento de 10 milhões de abelhas em Taiwan. “Sim, é um fenômeno global”, confirma Carlo Polidori, pesquisador do Museu Nacional de Ciências Naturais de Madri, na Espanha, onde as perdas chegam a 90%, em algumas regiões. As últimas notícias são de julho, na província canadense de Ontário, onde se perderam 37 milhões de insetos.

No Chile, onde até o ano passado a versão oficial era de que não havia evidências da existência da CCD, apicultores da região de BioBio registraram, em maio, a perda de milhões de abelhas. Como no Brasil, as chamadas externalidades negativas do modelo de exportação agroindustrial atingem em cheio o pequeno criador.


A abandonada fábrica de pesticidas da Union Carbide em Bophal, na Índia

No Brasil. Registros sobre mortalidade súbita de abelhas encontram-se no país desde 2007 – no Piauí, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, São Paulo. Todos ligados à exposição de pesticidas nas cercanias de áreas de monocultura – de tabaco, soja, cana, milho, laranja. “Os laranjais, que já foram importante fonte de néctar para a produção de mel, são hoje perigosos, dada a quantidade de agrotóxicos usada para combater doenças como o greening”, afirma o geneticista David De Jong, doutor pela Universidade de Cornell (EUA) e professor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (SP).

Em Santa Catarina, em 2011, morreram por causas desconhecidas um terço das 300 mil colmeias existentes no estado. “Quem sente mais são as 30 mil famílias que dependem da produção de mel. Sua perda foi estimada em 6 mil toneladas”, afirma o presidente da Federação dos Apicultores e Meliponicultores do Estado, Nésio Fernandes de Medeiros. Na região de Dourados (MS), desapareceram no início deste ano cerca de 3,5 milhões de abelhas, produtoras de uma tonelada anual de mel. “Há forte suspeita de que foi provocada pela aplicação de um inseticida da classe dos neonicotinoides em um canavial”, considera Osmar Malaspina, professor da Unesp de Rio Claro (SP).

Não surpreende, assim, que nos últimos dois anos o Brasil tenha caído da 5a para a 10a posição no ranking mundial de exportadores de mel. “Menosprezamos o serviço ecológico que as abelhas nos prestam”, observa Afonso Inácio Orth, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Já em 2011 se verificava a falta de abelhas para polinizar maçãs naquele estado. O mesmo ocorre com o pepino, o melão e a melancia. Por polinização insuficiente, além de nascerem frutos com formato e sabor alterados, tem havido perda de produção de laranja, algodão, soja, abacate, café. “Através de experiências controladas verificamos que, onde colocamos mais abelhas, aumenta a produção. Na cultura de maracujá estão tendo de polinizar com a mão, por falta de abelhas”, informa De Jong.

Causas

As causas propostas são diversas: inseticidas e fungicidas, déficit nutricional associado à carência de flora natural, mudanças climáticas, manejo intensivo das colmeias, baixa variabilidade genética, vírus, fungos, bactérias e ácaros – juntas ou separadamente. Até a emissão eletromagnética de celulares já foi investigada, sem resultados conclusivos. Mas o principal fator do desastre, concordam estudiosos, é a classe de agroquímicos denominada neonicotinoides: clotidianidina e imidacloprida, fabricados pela Bayer, e tiametoxan, da Syngenta – neurotoxinas que atingem o sistema nervoso dos insetos, prejudicando olfato e memória.

“Os pesticidas são causa de perdas importantes, com certeza”, afirma David De Jong.“Temos situações de toxicidade aguda, em que as abelhas morrem de uma vez, logo após a aplicação do agrotóxico. Mas há outras em que doses subletais podem fazê-las perder o rumo e não voltar ao ninho. Doses baixas de inseticidas também enfraquecem o sistema imunológico da abelha. O fato é que, com os novos inseticidas do grupo dos neonicotinoides, estamos definitivamente perdendo muitas abelhas Apis mellifera e espécies de abelhas nativas”, adverte o pesquisador.

A avaliação confirma pesquisa realizada na Universidade de Stirling, no Reino Unido, pela equipe do professor David Goulson. O estudo comprova que os neonicotinoides, associados a parasitas e à destruição de habitats ricos em flores que servem de alimento às abelhas, são as principais razões para a perda das colônias. “Abelhas mal nutridas parecem ser mais suscetíveis a patógenos, parasitas e outros estressores, inclusive toxinas”, confirma o relatório de 2012 do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). De fato, boa nutrição é essencial para as abelhas: o avanço das monoculturas tem para elas um efeito devastador.

O presidente da Confederação Brasileira de Apicultores (CBA) e da câmara setorial do mel em Brasília, José Cunha, revela que “esses agrotóxicos são sistêmicos. A planta se desenvolve e o produto tóxico vai para seiva, pólen, néctar, permanecendo no solo durante anos. Mesmo na rotação de culturas continua presente, atingindo o lençol freático. Os polinizadores estão pagando um preço muito alto, é um passivo ambiental incalculável”. Para Suso Asorey, secretário daAssociação de Apicultores Galegos (AGA), “a colocação no mercado destes pesticidas neurotóxicos sistêmicos coincide com perdas de até 40% das colmeias.”

Estudo da Universidade de Maryland e do USDA chega a resultados ainda mais graves. Ao contaminar o pólen, misturas de pesticidas e fungicidas, algumas de até 21 tipos, levam as abelhas a perder a resistência ao parasita Nosema ceranae, relacionado à CCD. “A questão é mais complexa do que fomos levados a crer”, afirma Dennis van Engelsdorp, responsável pela pesquisa. “O fato de não ser um só produto significa que a solução não está em proibir apenas um tipo de agroquímico, mas que é necessário rever as práticas de pulverização agrícola”, diz ele. O Greenpeace lançou em abril o relatório Bees in Declive, no qual afirma ser crucial eliminar o uso dos agroquímicos que afetam as abelhas.

No Chile, os apicultores relacionam a mortandade dos insetos à aplicação de inseticidas já proibidos em outros países, mas que lá continuam legais – e também ao uso, como alimento das abelhas, de frutose e vitaminizadores feitos com milho transgênico.

Proibição 

O que dizer do Brasil, campeão mundial no consumo de agrotóxicos, com mais de um milhão de toneladas anuais – sem contar o que é contrabandeado? Sob forte pressão do agronegócio e da indústria química, o Ibama e o Ministério da Agricultura (Mapa) proibiram o uso de agrotóxicos contendo fipronil (um pirazol) e três neonicotinoides, imidacloprido, clotianidina e tiametoxam, apenas durante o período de floração das culturas.

E só depois da interdição do uso dos neonicotinoides na Itália, França, Alemanha e Eslovênia, e de muito hesitar, é que a Comissão Europeia resolveu não ceder ao lobby da indústria e, também em abril, restringir o uso desses agroquímicos por dois anos, em todo o continente. A guerra pela salvação das abelhas está, portanto, bem longe de terminar.

Sociedade de abelhas

Existem cerca de 20 mil espécies de abelhas, entre elas as melíferas, das quais cerca de 15% são insetos sociais, com forte sentido coletivo, que vivem em colônias em torno da rainha. Há as guardiãs do ninho, as que se especializam em cuidar dos ovos e filhotes, e os que se encarregam de trazer alimentos – néctar e pólen – para a produção de mel.

Cada indivíduo é um prodígio da engenharia biológica: está equipado com sensores de temperatura, dióxido de carbono e oxigênio. Seu corpo, carregado de eletricidade estática, atrai grãos de pólen que elas levam de uma flor a outra, fertilizando-as. O fenômeno tem dimensões extraordinárias, quando examinamos o trabalho coletivo. Em um único dia, uma colmeia pode fertilizar milhões de flores, numa área correspondente a 700 hectares, equivalente a 350 campos de futebol.

Amor incondicional

Mel, pólen, própolis, geleia real são produtos do trabalho da abelha melífera que nos servem de alimento e medicina. O veneno, embora possa ser mortal, é também curativo. Na Coréia do Sul, por exemplo, os insetos são colocados diretamente no corpo, nos pontos de acupuntura, em tratamentos para artrite, reumatismo e esclerose múltipla.

Para o xamanismo, cada espécie tem um espírito grupal, e esses espíritos animais integram a consciência coletiva de todas espécies, inclusive a nossa. A abelhas possuem um sofisticado sistema de comunicação, e sua vida é inteiramente identificada com o coletivo. Seriam guias da humanidade na comunicação, organização e fortalecimento das comunidades. Para o espiritismo, são exemplo de desapego e amor incondicional. Um blog espírita português propõe fazer “um zumbido global gigante” para banir os agrotóxicos da Europa, assinando uma petição.

“As abelhas são seres cuja energia primordial é o amor e, por isso, completamente isentas de medo. Tudo o que produzem é fruto dessa energia … O mel é algo que poderíamos chamar de ‘amor líquido’ e seu uso pelos seres humanos deveria ser feito em profunda reverência”, afirmam os adeptos da Comunidade Figueira, do líder espiritual Trigueirinho, em Minas Gerais.

Habitantes da Terra há mais de 60 milhões de anos, as abelhas são um dos sistemas mais importantes de suporte à vida, e revelam a íntima interdependência entre os reinos animal, vegetal e humano. Citação atribuída a Einstein que circula na internet sugere que, se elas desaparecessem hoje do planeta, a humanidade só sobreviveria por mais quatro anos. Não por acaso, sua morte é conhecida nos EUA como Armagedon das abelhas.

Fonte: OUTRAS PALAVRAS

Vacina neles

Começou a campanha contra raiva. Vacina é grátis. Fonte: O DIA

Encaminhe um golpista para um posto de vacinação e ajude a proteger a sociedade.Mantenha seus animais de estimação longe do alcance dos golpistas.A raiva mata.

A Ditadura dos Miseráveis

Grandes momentos “Os Miseráveis” da operação Lava-Jato (até agora)



(Ilustração da primeira edição de Os Miseráveis, de Victor Hugo, por Emile Bayard, em 1862)

Meu pai era fã de Os Miseráveis (1935), uma das muitas versões para o cinema do clássico de Victor Hugo, com Fredric March como Jean Valjean e Charles Laughton como seu implacável perseguidor, o inspetor Javert. Todas as vezes que o filme passava na sessão Coruja, meu pai juntava os filhos no sofá para lhe fazerem companhia. A história, portanto, é muito vívida em minha memória. Valjean, desesperado pela fome, roubara um pão. E, por este crime, é caçado por Javert a vida inteira, com requintes de sadismo.

O excessivo rigor da Lava-Jato apenas com os petistas, a mão pesada seletiva do juiz Sérgio Moro, sempre me evocam Javert, o inspetor que se achava a própria encarnação da lei. Uma coisa é lutar contra a corrupção, que é o que os procuradores e Moro dizem estar fazendo com esta operação. Outra, bem diferente, é agregar a esta sanha supostamente moralizadora um indisfarçável justiceirismo, capaz de despertar na sociedade um sentimento torpe de vingança.

Como nas execuções medievais, não basta submeter os acusados ao rigor da lei, é preciso expô-los em praça pública, garantir platéia para os momentos mais… miseráveis; as emissoras de TV (sobretudo a Globo) são avisadas com antecedência de cada uma das ações. A própria necessidade de prisão preventiva já foi denunciada pelos advogados de defesa dos detidos na operação como “tortura psicológica” para forçar a delação premiada.

Reúno aqui alguns momentos da Lava-Jato que mais me fizeram vir à mente as cenas de Os Miseráveis, por sua mesquinhez. Este tipo de “castigo” está em total desacordo com as noções mais modernas de punição, como as que defendem a adoção de penas alternativas nos casos em que o criminoso não oferece risco à sociedade. Certamente momentos piores virão e este post poderá ser ampliado no futuro.


(Charles Laughton como o inspetor Javert no filme de 1935)

Prendam-no no hospital – O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega foi preso no dia 22 de setembro pela Lava-Jato na porta do hospital Albert Einstein, enquanto aguardava sua mulher, que está se tratando de um câncer, ser operada. Vários juristas criticaram a necessidade do pedido de prisão provisória de Mantega. Após a repercussão negativa, Moro acabou revogando o pedido no mesmo dia, como se estivesse agindo por questões humanitárias. Ora, se a prisão era mesmo necessária, por que foi revogada?

Sequestrem a casa da mãe – Em abril, o juiz Moro sequestrou judicialmente a casa onde mora a mãe de José Dirceu, Olga Guedes da Silva, em Passa-Quatro (MG). A senhora tem 94 anos. Moro, magnânimo, decidiu que ela pode continuar morando na própria casa como “depositária”.

Tranquem ele no escuro – O ex-senador do PT Delcídio contou à repórter Malu Gaspar, da revista Piaui, que decidiu fazer a delação premiada após ter sido trancado num quarto sem luz na sede da Polícia Federal em Brasília, sufocado pela fumaça do gerador do prédio. “Aquilo encheu o quarto de fumaça, e eu comecei a bater, mas ninguém abriu. Os caras não sei se não ouviram ou se fingiram que não ouviram. Era um gás de combustão, um calor filho da puta. Só três horas mais tarde abriram a porta. Foi dificílimo”, contou Delcídio.

Tirem-lhes os menores prazeres – Em agosto, Dirceu e seu companheiro de cela, Pedro Argôlo, foram castigados pela Lava-Jato porque foram encontrados no cubículo que dividem em Curitiba quatro pendrives, um carregador de celular modelo Samsung, um carregador de um aparelho portátil de reprodução de música e um cabo com entrada USB. Nenhum celular, contudo, foi achado. Os pendrives continham filmes e músicas. Só como comparação, até os presos da ditadura tinham direito a escutar seus radinhos de pilha.

Conduzam-no coercitivamente – Em março, o ex-presidente Lula, que nunca se recusara a comparecer à Justiça e ainda não era réu em nenhuma ação, foi conduzido coercitivamente a mando de Sérgio Moro em circunstância que até hoje permanecem nebulosas. Lula foi tirado de sua casa e levado ao aeroporto de Congonhas, onde foi ouvido durante três horas e meia. Existiram muitos rumores de que Lula iria ser levado para Curitiba e alguma coisa fez com que a operação fosse abortada. O que ocorreu? Foi mesmo necessária a condução de Lula coercitivamente? Sem dúvida: não.

Mantenham-no sujo – Os advogados do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, reclamaram ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) em abril de 2014 melhores condições de prisão para seu cliente, que não podia tomar banho, se exercitar ou ter acesso à luz do dia (tomar banho de sol) durante os finais de semana. Costa chegou a escrever uma carta onde se queixava que, após reclamar da falta de banho, teria sido ameaçado pelos policiais de ser mandado para o presídio de segurança máxima de Catanduvas. Em agosto do mesmo ano ele assinou a delação premiada.

Impeçam-lhes o afeto – Os presos da Lava-Jato não têm direito a visita íntima de suas mulheres e companheiras. Qual a justificativa disso a não ser abalar ainda mais o psicológico do indivíduo? Segundo especialistas, a visita íntima é importante para a manutenção dos laços afetivos e a ressocialização do preso. A intenção da prisão não é que paguem por seus erros e recuperá-los para a sociedade? A castidade forçada, afinal, não faz parte da pena.

Confisquem as castanhas – A mãe de Pedro Argôlo, que é do sul da Bahia, costumava mandar doces caseiros e castanhas para o filho, que repartia com José Dirceu, seu companheiro de cela. Sem explicação alguma, a entrada das castanhas e compotas foi subitamente proibida e agora só entram produtos alimentícios para os presos se houver recomendação médica.

Façam-no falar – Em fevereiro deste ano, Marcelo Odebrecht foi transferido do Complexo Médico-Penal em Pinhais, onde estão detidos os presos da Lava-Jato, para a carceragem da Polícia Federal, onde fica numa cela de 7 metros quadrados, que divide com outros detentos. Em dez dias na nova cela, onde permanece encarcerado por 23 horas seguidas com apenas uma para o banho de sol, Marcelo estava com quadro de anemia e deficiência de vitamina D ligada a hipoglicemia. A defesa do empreiteiro solicitou reforço na dieta e pediu que voltasse ao complexo. Moro autorizou a melhora alimentar, mas não permitiu o retorno a Pinhais.

Fonte: SOCIALISTA  MORENA
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Os abutres
Siro Darlan -  desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e membro da Associação Juízes para a democracia.

Na semana em que um juiz de Curitiba mandou prender e soltar em menos de seis horas um ex-ministro da República fui procurado por um jornalista, famoso por fazer suas reportagens em cima da desgraça alheia com prejulgamentos sem se preocupar com o devido processo legal, agindo como se fosse um “tribunal de exceção” que primeiro escolhe as vítimas para depois encontrar os fatos. O que desejava o “investigador midiático”? Indagava a razão porque eu havia concedido liminar em habeas corpus a uma moça da favela da Rocinha concedendo-lhe aliberdade e depois revogara minha própria decisão para decretar sua prisão.

Respondi que a soltura se dera por excesso de prazo razoável para a prolação da sentença em sede liminar, e que quando levava o processo para julgamento no colegiado sobreveio uma sentença condenatória, a qual, por se tratar de título novo, o habeas corpus deveria ser julgado prejudicado e a liminar cassada, como efetivamente o foi com expedição de mandado de prisão. Tais decisões ocorreram num intervalo de 8 dias. Insistia o jornalista que teria havido recurso do Ministério Público, que se limitara a tomar ciência com ela concordando.

O que leva um serviçal da mídia investigativa a buscar as razões que levaram um magistrado a soltar e prender uma moça da favela e não comentar sequer os motivos que fizeram de uma prisão de um ex-ministro necessária e menos de seis horas depois desnecessária? Certamente que não é o amor à notícia, nem à tão decantada liberdade de imprensa, já que os que servem aos interesses políticos de uma empresa de comunicação não é com certeza o amor a notícia e ao debate, mas a caça às bruxas àqueles que contrariam seus interesses ideológicos e financeiros. O Professor Teun van Dijk, da Universidade Pompeu Fabra de Barcelona, chama isso de manipulação de um ato discursivo ilegítimo que visa controlar a mente das pessoas de acordo com seu próprio interesse.

Não há democracia sem imprensa livre, mas quando não há liberdade para a produção do debate pelos profissionais da mídia com a sociedade, mas uma agenda ditada por uma editoria impregnada por interesses econômicos, políticos partidários e associada a uma deformação da opinião pública através das notícias que publica sem qualquer isenção é sinal que não há liberdade de imprensa e a democracia está sob risco. Profissionais de qualidade que se submetem aos interesses editoriais de seus patrões estão na verdade vendendo sua inteligência e conhecimentos para servir a esses Senhores que lhes paga o soldo e os mantém escravizados. Poucos são aqueles que ainda resistem e esse mercado escravocrata da inteligência alheia.

O que leva determinadas pessoas a manipular a opinião púbica contra os pobres como fez recentemente um candidato à Prefeitura de Curitiba ao afirmar que vomitara ao sentir o cheiro de um pobre? O que leva alguns atores midiáticos a exercitar o ódio à miséria manipulando conceitos que confundem pobreza com marginalidade? Apenas podemos apontar para o uso da poderosa ferramenta midiática para manter os privilégios da minoria rica em detrimento do fosso que separa 1% de milionários dos 90% de pobres que habitam nosso país. A tradição escravocrata que permite que se continue explorando a classe operária tratando-os como sub-humanos, condicionou também o desprezo e o ódio da classe média conservadora pelos marginalizados e excluídos que são tratados com cinismo e indiferença.

Fonte: JORNAL DO BRASIL
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O silêncio dos liberais: raízes da vergonha brasileira

Cabe às ruas civilizar o mercado e as elites, a ponto de tornar a memória de Sobral Pinto algo mais que uma lápide extravagante no cemitério liberal.


por: Saul Leblon


O que se busca caracterizar hoje no Brasil com a palavra golpe é na verdade um retrocesso equivalente a um ciclo de ‘des-emancipação social’. Sua abrangência e brutalidade correspondem a uma ruptura do pacto da sociedade sem consulta-la, o que dificilmente se completará sem atingir o núcleo duro das garantias individuais, as liberdades civis e os direitos políticos.

Diante da escalada temerária, constrange o silencio daqueles que, ideologicamente, avocam-se a filiação ao republicanismo, à independência de poderes, a isonomia diante da lei e o respeito ao sufrágio universal.

Na devastação de um país trincado pela ofensiva conservadora, submetido a um dispositivo midiático que se aliou a milícias de procuradores e caçadores de cabeças vermelhas, faz falta a voz e a coragem da defesa liberal da Constituição e do Estado de Direito.

Onde estão os verdadeiros liberais brasileiros?

Resulta inútil a busca no ambiente acoelhado das togas que se esgueiram na Suprema Corte.

Ou nos corredores da adesão grosseira do liberalismo acadêmico ao golpe.

Desse deserto avulta a memória de um grande advogado brasileiro, conservador nos costumes, mas ferrenho defensor dos direitos individuais, por isso escudeiro lendário dos perseguidos pelo autoritarismo de qualquer matiz.

A falta que faz um Sobral Pinto no Brasil do golpe de 31 de agosto de 2016 está pesada e medida na sua biografia.

Em abril de 1984, em discurso diante de um milhão de pessoas no comício das Diretas, na Candelária, a voz nonagenária levou a multidão ao delírio ao afirmar aquilo que hoje nenhuma toga pranteada tem o desassombro de repetir:

‘Quero falar à nação brasileira, através desta multidão de um milhão de conterrâneos. Nós queremos que se restaure no Brasil o preceito do artigo primeiro, parágrafo primeiro da Constituição Federal: ‘Todo poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido’. Esta é a minha mensagem; este é o meu desejo; este é o meu propósito’.

Não foi um casamento da conveniência com a oportunidade.

Heráclito Fontoura Sobral Pinto, jurista, advogado mineiro, conhecido como “Senhor Justiça”, ‘o homem que não tinha preço’ --porque nunca cobrou honorários de quase trezentos presos políticos que defendeu, entre eles Carlos Prestes, Arraes, Juscelino etc-- jamais tolerou golpes e ditaduras.

Sobral não cobrava causas que envolvessem a defesa das liberdades democráticas.

Como advogado e liberal, considerava seu dever opor-se à violação da Constituição.

Crítico do materialismo comunista (foi um dos fundadores da Pontifícia Universidade Católica, a PUC), chegou a manifestar simpatia pelo golpe de 1964.

Rapidamente corrigiu-se.

Uma semana após a derrubada de Jango, entendeu que a justificativa liberal do movimento era uma farsa.

E diante da farsa, não contemporizou. Escreveria então uma carta famosa ao ditador, general Castelo Branco:

‘Sinto-me no dever de comunicar (…) que os argumentos ora invocados para combater o comunismo foram os mesmos que Mussolini invocou na Itália em 1922 e que Hitler invocou em 1934 na Alemanha. (…) Vivo da advocacia, pela advocacia e, para a advocacia, por entre dificuldades financeiras e profissionais que só Deus conhece. Só tenho uma arma, senhor presidente: a minha palavra franca, leal e indomável’ (9 de abril de 1964).

Era assim o liberal a quem os generais consideravam mais difícil calar do que ao Congresso

Sobral foi o primeiro a utilizar a palavra ‘ditadura’ contra o regime.

Detido em 1969 no AI-5, passou a defender presos políticos, sendo lendária a altivez de sua presença em tribunais militares, a acusar o regime de exceção, dedo em riste em direção aos juízes fardados.

Aos pedidos de tolerância para as ‘inovações democráticas’ introduzidas na Constituição pelos juristas da ditadura, o velho liberal reservava respostas demolidoras.

Vivo fosse, como reagiria Sobral ao entendimento recente da Corte Especial do Tribunal Regional Federa (SC,PR,RS), que isentou o juiz Sergio Moro em violações flagrantes da Lava jato –‘ porque uma operação especial não precisa seguir as regras dos processos comuns’, disseram os magistrados.

O velho jurista provavelmente dispararia seu canhão liberal autentico e indignado. Exatamente como fez diante de considerações equivalentes da ditadura em 1968: ‘Senhores, existe peru à brasileira, mas não democracia à brasileira. A democracia é universal, sem adjetivos’.

Sobral morreu em 1991.

Os liberais que hoje se oferecem à barganha com a história, colocando no plano secundário convicções inegociáveis do bravo jurista, não apenas silenciam diante da violação do artigo primeiro, parágrafo primeiro da Constituição Federal.

Vão muito além disso.

Endossam o ataque maciço, esférico, abusado --perverso em um quadro de recessão brutal-- a vários outros direitos consagrados na Carta de 1988, engrossando um processo de ‘des-emancipação’ social de consequências imponderáveis.

A intolerância aos direitos sociais não é estranha à gênese do liberalismo.

De certa forma, o que se assiste hoje no Brasil é a viagem de volta ao cuore liberal reinante no ventre do capitalismo selvagem dos séculos XVIII e XIX.

O termo ‘des-emancipação’, cunhado pelo filósofo marxista italiano, Domenico Losurdo, no seu livro ‘Contra-História do Liberalismo’, descreve o moedor de carne humana em ação nesses tempos pioneiros.

Mais que negar novos direitos, o que ressalta do bordão liberal nas sociedades inglesa, norte-americana e francesa é a determinação de ‘des-emancipar’.

Ou seja, devolver ao absoluto desamparo a parcela majoritária da sociedade privada dos meios pelos quais se reproduziam as relações de poder e produção no capitalismo.

É disso também que se trata no caso das reformas trabalhista e previdenciária anunciadas pelo golpe no Brasil. O mesmo se pode dizer das consequências da PEC 241 no acesso a direitos públicos essenciais --a escola e a saúde, entre outros.

O conjunto requer uma ruptura de ciclo histórico para se instalar. Mais que um golpe parlamentar, o regime da ‘des-emacipação ‘ no Brasil do século XXI exige a fascistização dos instrumentos de Estado.

A escalada policial de um Ministério Público e de um juiz que assombram a cidadania brasileira ao subordinarem o Estado de Direito a conveniências pessoais e partidárias ilustra o calibre da espiral em marcha. Ou não será disso que se trata quando, há uma semana das eleições o ministro da Justiça do golpe, o notório direitista radical do PSDB, Alexandre Moraes anuncia em campanha novas ações trepidantes da Lava Jato e nesta segunda feira, o juiz Sergio Moro o confirma, prendendo o ex-ministro Palocci?

O ajuste de contas partidário, que não disfarça mais seu propósito seletivo, choca o ovo do arbítrio sob o manto virtuoso do combate à corrupção.

A sigla política que o conservadorismo não conseguiu vencer em quatro eleições presidenciais --e pela qual teme ser derrotado num quinto escrutínio, está sendo dizimada aos olhos da sociedade por um torniquete de interesses que enlaça, à desforra da plutocracia e dos derrotados de 2014, o ‘ajuste de mercado’ e o ‘messianismo jurídico’.

Quem irá detê-los?

O silêncio dos liberais autênticos sobrecarrega a tarefa que é sobretudo da rua.

Mais que o silêncio, o endosso mudo ou ‘técnico’ inocula na sociedade a anestesiante ampola da naturalização de uma ruptura que imobiliza e subjuga.

O decano da Suprema Corte do país apressou-se na semana passada em abençoar a prisão do ex-ministro Guido Mantega, realizada por força policial em um hospital onde o economista acompanhava a esposa, pre-sedada para uma cirurgia contra o câncer (leia a repulsa dos intelectuais de esquerda ao arbítriohttp://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Nota-publica-em-defesa-da-ordem-constitucional-em-desagravo-a-Guido-Mantega/4/36885

Diante do repúdio generalizado, Sergio Moro recuou expondo a motivação eleitoreira de seu gesto.

Mas o burocrata de toga já havia sancionado o exibicionismo autoritário lendo trechos convenientes da legislação.

Não faiscou ali um grão da dignidade desassombrada de Heráclito Sobral Pinto.

Não teve a coragem, a altivez do velho jurista para arguir uma prisão escorada em motivação indigente: a declaração do empresário Eike Batista ao MP, de que atendera, ‘com recursos próprios’, a uma solicitação do ex-ministro de contribuição eleitoral ao PT -- isonômica, afirmou, conforme uma diretriz de doar ao PT, PSDB, Cristovam Buarque...

Disso tudo Moro pinçou a oportunidade de capturar Mantega em um hospital.

E o ‘liberal’ da Suprema Corte a tudo endossou.

Esse, de qualquer forma, não é um roteiro de duelo entre bons e maus; entre togas acoelhadas e liberais autênticos.

O pano fundo que move as peças –e as define pela cumplicidade ou a resistência-- são as ressurgências dos instintos primais do poder econômico, num ciclo global em que o sistema todo passou dos limites e arrasta junto os fracos e os desprovidos de grandeza.

A ordem econômica mundial atravessou o Rubicão e não dá mostras de se autorregenerar como os mercados esperam de si mesmos.

Ao contrário.

Sinais de uma resiliência incurável, que a mídia local minimizou o quanto pode na determinação de afirmar a centralidade do ‘desgoverno’ petista, irrompem de todas as latitudes.

Os bancos centrais já injetaram cerca de U$S 10 trilhões nos mercados financeiros desde 2008, quando tudo começou.

Dinheiro destinado à aquisição de ‘papeis podres’, inflados na farra especulativa e que agora murcham em linha com a anemia global.

Uma epidemia de juros negativos varre o planeta.

A tentativa de firmar as pernas bambas dos mercados financeiros com liquidez ilimitada engessou US$ 14 trilhões investidos em títulos públicos a taxas de retorno zero ou negativas.

Inútil.

As bolsas borbulham, mas antes de ser a recuperação é o aviso da maleita: são as empresas que recompram as próprias ações com o dinheiro grátis fornecidos pelos BCs.

A circularidade estéril rende dividendos à República dos Acionistas, bônus milionários aos diretores.

Zero de emprego.

Não poderia ser diferente.

Um número resume todos os demais: a indústria mundial do aço opera a 60% da capacidade.

A viabilidade siderúrgica exige 80% de uso do potencial instalado.

Não há demanda capaz de promover esse estirão.

Não é só uma conta de chegar.

Algumas coisas se perderam para sempre, dos anos 70 para cá.

O chão estrutural da demanda e do investimento capitalista foi comprometido nos quarenta anos antecedentes em que o consenso neoliberal dizimou o emprego e o salário de qualidade.

Os maiores parques industriais do capitalismo –mas também fatias dos emergentes-- foram deslocados para o baixo custo asiático, em espécie ou através das importações de manufaturados (caso do Brasil).

Pior: a vertigem do Estado mínimo suprimiu o arsenal público que assegurava a manutenção da taxa de investimento na economia (financiamento e grandes obras).

Delegou-se à supremacia financeira a centralidade da acumulação. O desenvolvimento, a democracia, a política e demais instancias da sociedade –inclusive a subjetividade do nosso tempo, foram subordinados aos desígnios dos mercados sem lei.

Nos EUA, a classe média foi esfarelada e vive a sua pior situação econômica em 30 anos.

O poder de compra das famílias assalariadas da maior nação capitalista da terra está abaixo do nível pré-crise e mais aquém do pico de 1999.

A fatia dos salários na renda dos EUA é 5% inferior a do início do século.

Estamos falando propositalmente da economia que reuniria os sinais mais encorajadores da ‘retomada’ diuturnamente anunciada e frustrada.

A estagnação evidencia a falta que faz tudo o que a democracia e o Estado cederam ao mercado nesse período.

É nesse deserto que o conservadorismo brasileiro irrompe para golpear a democracia e reproduzir aqui receita que estrebucha no planeta.

A saber: escalpelar direitos e degradar relações de trabalho e assim maximizar a taxa de exploração do plantel em uso, já que não há espaço para incorporar novos contingentes à extração do suor.

A expressão ‘trabalho-livre’ nessas condições, diz Losurdo referindo-se às balizas liberais que ordenaram a exploração da mão de obra nos séculos XVIII e XIX, soa como um oxímoro.

O filósofo italiano recapitula o esforço épico dos destituídos para civilizar essa relação social fundada em interesses díspares, na qual a luta pela democracia social será sempre inconclusa e instável, defrontando-se regulamente com os limites da costura estrutural que a contradiz e repele.

Sem organização permanente, impossível reter conquistas, resistir ao assalto, avançar em direção a novos direitos.

É esse o maior flanco brasileiro evidenciado pela crise e o golpe.

O vazio abriu as porteiras à regressão liberal desavergonhada.

Losurdo chama a atenção para a flexibilidade das ideias diante do cinzel da história.

Originalmente a serviço da revogação da cidadania, posteriormente o liberalismo se adaptaria aos avanços sociais sólidos, como aconteceu nos anos de ouro do Estado do Bem-Estar Social, no pós-guerra europeu.

O elástico, porém, nunca rompeu o vínculo com a origem .

O retorno ao estado bruto agora no Brasil confirma essa resiliência de cepa ao eleger um marco histórico a retroceder: a Carta emancipadora de 1988. E a ferramenta política a aniquilar: a sigla que, tendo feito ressalvas ao resultado da Constituinte de 1988, tornou-se o seu principal esteio ao chegar ao governo.

No livro de leitura pedagógica para entender os dias que correm, e os liberais que se agacham, Losurdo descreve episódios históricos de ‘des-emancipação’ promovidos pela retroescavadeira liberal que agora serve ao golpe no Brasil

Liberais do início do século XVIII, como Defoe e Benthan, viam com simpatia as workhouses erguidas em Bristol, por exemplo.

Essas penitenciárias dissimuladas compunham uma espécie de conjunção do regime escravo com o da liberdade.

Funcionavam para o capitalismo em fraldas como um almoxarifado do exército industrial de reserva, ademais de limparem as ruas das sobras das ‘classes infelizes’, livrando-as dos pobres, os bêbados, os pedintes, os desocupados e suas famílias.

Seriam necessários mais dois séculos, porém, para um candidato a prefeito no Brasil –um liberal— explicitar a intolerância gástrica à pobreza que enoja e causa vômito às sensibilidades superiores.

Como se vê, a seta do tempo não se quebrou. Mais recentemente, um novo choque de eficiência no capitalismo inglês de Thatcher e Cameron individualizaria as ‘casas de trabalho, desobrigando-se o poder público das despesas com alimentação e vigilância.

A nova tecnologia inglesa estoca a mão de obra em sua própria casa. Reduzida a um insumo igual a qualquer matéria-prima, ela só é requisitada do depósito caseiro quando a demanda assim o exigir: o patrão pagará então o equivalente e tão somente ao seu tempo de uso pela engrenagem produtiva.

Há 700 mil ‘insumos humanos’ desse tipo estocados no capitalismo britânico hoje.

A workhouse do século XXI explica, entre outras coisas, por que um marxista coerente, como Jeremy Corbyn --para surpresa dos analistas da Economist que o davam como morto, foi reeleito à presidência do Partido Trabalhista inglês, na semana passada, com votação superior a de um ano atrás (62,5%).

Os ‘des-emancipados’ vegetam, mas não estão mortos.

O que as ressurgências do século XVIII reservam a eles –como o fazem os ideólogos da terceirização brasileira e da prevalência do negociado sobre o legislado na CLT-- é a prevalência do mérito individual sobre o direito social universal.

A platitude baseia-se na crença de que a construção da sociedade é movida pelo interesse egoísta extrapolado, mecanicamente, na prescrição de uma engenharia social rudimentar: a luta individual pela felicidade leva ao fastígio coletivo.

Aclamados pensadores, como Adam Smith, condicionavam na verdade a centralidade do interesse próprio à irrepreensível obediência a referências morais e religiosas que ordenariam um trilho ético rigoroso. Os impulsos unilaterais assim pautados convergiriam para uma comunidade de laços e valores impecavelmente compartilhados.

Nesse ambiente sacro o papel profano do Estado seria mínimo.

No capitalismo realmente existente as coisas se dão de forma um pouco diferente.

Não é difícil –aliás é muito fácil— deduzir o resultado da supremacia do interesse egoísta em sociedades nas quais, ao lado da luta desesperada de milhões de indivíduos desvalidos, avultam interesses corporativos desmesurados, sobretudo aqueles cujo produto é o dinheiro, sua reprodução e as suas consequências.

A crise mundial é obra dessa assimetria leonina.

A inexcedível capacidade da ganância impor seu absolutismo à sociedade, deixa pouco espaço à acomodação espontânea das partes contrapostas dentro do todo.

É sob esse pano de fundo que a ‘des-emancipação’ toca as trombetas do apocalipse social no Brasil, cujo Estado foi assaltado pelos mordomos dos mercados.

A marcha dos acontecimentos não mente.

Quase 52% dos reajustes salariais realizados em julho e agosto ficaram abaixo da taxa de inflação.

A folha de pagamento do setor privado já encolheu cerca de 4% em 12 meses.

A renda dos brasileiros pobres, e a dos mais pobres, despencou quase 9% este ano.

O desemprego que mais cresce no país –1/3 de todas as demissões— atinge o núcleo duro da coesão social, ou seja, os trabalhadores com mais de dois anos de carteira, 45% deles chefes de família.

A estratégia de ‘des-emancipação’ não se satisfará em extorquir uma década de ganhos reais de poder de compra dos salários.

A voragem é imiscível com o todo que a circunda.

Inclua-se: 60 milhões de novos consumidores ingressados no mercado, a cobrar cidadania plena; um salário mínimo 70% maior em poder de compra –inclusive de aposentados, a dificultar a compressão geral da massa salarial; um sistema de habitação popular subsidiado; bancos públicos ativos; uma Petrobras e um BNDES fechando as lacunas da ausência de instrumentos estatais de coordenação econômica; políticas de conteúdo nacional a devolver um impulso industrializante ao país; os desdobramentos de um acróstico –os BRICS– em instrumentos de contrapeso à hegemonia dos mercados financeiros globais…

A faxina requerida é tão virulenta que convoca o árduo trabalho do escovão repressivo e do detergente ideológico para dissolver a resistência indevidamente alojadas em estruturas de consumo, serviços e participação.

As sirenes da história anunciam confrontos intensos no front.

Em seu livro, Domenico Losurdo alerta que a lógica da ‘des-emancipação’ não reconhece barreiras entre o mercado e a política.

A restauração conservadora francesa, por exemplo, depois de deflagrada esfarelou avanços acumulados desde a derrubada da Bastilha.

Entre eles, o sufrágio universal masculino: aprovado em 5 de março de 1848 foi revogado em 1850. Assim também como uma nova lei de imprensa impôs obstáculos econômicos e políticos à sobrevivência da imprensa popular (lembra algo?).

As idas e vindas das conquistas sociais neste longo amanhecer desautoriza qualquer ingenuidade sobre as nuvens que se acumulam no horizonte do golpe no Brasil.

O silencio dos liberais grita a sua omissão diante da tempestade anunciada.

A julgar pelas raízes da história, continuará assim.

Até que as ruas civilizem novamente o mercado e as elites, a ponto de tornar a memória de Sobral Pinto algo mais que uma lápide extravagante no cemitério liberal brasileiro.

Fonte: CARTA MAIOR
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A água de chuva que não molha



A água de chuva que não molha


No jornal O Globo de hoje, domingo, 25 de setembro de 2016, a seguinte chamada:

" não é o Ministério Público que persegue Lula, são os fatos "


No Brasil atual o fato é o Ministério Público, logo é o Ministério Público que persegue Lula. O Globo manipula, erra e ainda assim, acerta.

O Ministério Público tem sido alvo de vários questionamentos, tornou-se fato, e consequentemente notícia.

A justiça não deve ser notícia, o jornalismo não deve notícia. Quando notícias, é porque são fatos.

Na era atual, era da narrativa que produz o fato, a chuva que cai não deixa as pessoas molhadas, mesmo expostas a chuva.

" é domingo, chove na cidade do Rio de Janeiro. É o início da primavera, estação de alguma chuva, muitas flores, horário de verão. As chuvas que caem, na primavera, não são nem de perto comparáveis as tempestades de verão, quando as pessoas expostas ficam molhadas dos pés aos smart fones. Na era da narrativa dos produz o fato, as cabeças são supérfluas. A chuva da primavera, fraca comparada com a chuva de verão, assim compreendido, não molha as pessoas, mesmo com água caindo nos pés e nos smart fones. Assim sendo, não é a chuva que molha, mas somente a chuva de verão, que cai no verão, e não na primavera quando se inicia o horário de verão. Caso alguma pessoa, desprovida de smart fone e ainda com cabeça, afirme que ficou molhado com a chuva de hoje, domingo, tal afirmação deve ser entendida com teoria de conspiração, já que os fatos são os fatos e não podem sofrer manipulações oportunistas".

Não é o Ministério Público que persegue Lula. É o Ministério Público, a Polícia Federal, o Supremo Tribunal Federal, o Juiz Sergio Moro, o Procurador Cruzado, os partidos de direita, toda a grande mídia e, principalmente, o sistema financeiro internacional que não admite distribuição de renda, eliminação da fome, diminuição drástica da miséria e, principalmente, chuvas de primavera que venham a molhar as pessoas, dos pés aos smart fones.