quinta-feira, 7 de julho de 2016

Deus Mercado

O 'Deus Mercado' e a religião capitalista, segundo Jung Mo Sung

Segundo especialista, a narrativa religiosa do neoliberalismo coloca a fé no Mercado como única possibilidade de salvação e culpa os pobres por sua pobreza

Tatiana Carlotti

Os aspectos religiosos do neoliberalismo e o proselitismo na comunicação foram temas debatidos pelos professores da Universidade Metodista, Jung Mo Sung (Ciências da Religião) e Magali Cunha (Comunicação). Eles participaram do seminário “A Metafísica do Neoliberalismo e a Crise de Valores no Mundo”, promovido pelo Fórum 21, no último dia 2 de julho (sábado), no auditório da Fundação Escola de Sociologia e Política (FESP).

O evento é o primeiro de uma série de debates voltada à discussão do neoliberalismo hoje. A escolha do tema, explica Anivaldo Padilha, presidente do Fórum 21, deve-se ao caráter sagrado atribuído ao mercado que congrega os atributos da “onipotência, onipresença e onisciência”. Uma espécie de “deus Mercado” que vem fracassando, sistematicamente, “em termos de justiça social e de igualdade entre os homens”.

Daí a pergunta: por que o capitalismo atrai tanto?

Segundo o professor Jung Mo Sung, a compreensão dos aspectos religiosos do capitalismo é fundamental para o entendimento não apenas de sua atração, mas também do que se passa hoje no Brasil. Mostrando, a partir de imagens, os ícones (Ferrari, bolsas Louis Vuitton), templos (shopping centers), igrejas (institutos von Mises) e mitos do neoliberalismo, Sung destrinchou a narrativa religiosa - e sedutora - por trás do discurso neoliberal.

“Antes, quando as pessoas se sentiam pecadoras ou impuras, elas iam à Igreja para recuperar a humanidade e a pureza. Hoje, quando se sentem tristes, elas vão ao shopping. Verdadeiras catedrais modernas”, apontou. Não é de se estranhar, portanto, a forte semelhança arquitetônica entre as catedrais e os shopping centers (confiram a imagem acima).

Os mitos do desenvolvimento

Ao longo das décadas de 1960 e 1970, a teoria econômica (da esquerda e da direita) foi embalada por dois mitos principais. Primeiro, a crença de que o “bom da vida era aumentar o poder de consumo”. Sung destacou que, frente a essa ideia, a modernidade promoveu uma inversão: o “bom da vida” passou a ser possível dentro da história (via consumo) e não mais restrito ao pós-morte”.

O segundo mito era que “o padrão de consumo dos países ricos poderia ser universalizado”, fortalecendo “a ideia de que todos os seres humanos têm direitos”. Sung também mencionou que a discordância entre os economistas marxistas e liberais capitalistas se deu aos caminhos para se atingir essa universalização: o mercado ou a planificação estatal.

O exemplo é simples: “Quando se privilegia o ajuste econômico no Brasil e se corta o dinheiro da Educação e da Saúde, por exemplo, é preciso justificar essa decisão. Quando se corta o pagamento de juros aos bancos, para privilegiar programas sociais, também é preciso justificar. Essas duas justificativas, porém, são completamente diferentes porque trabalham com duas estruturas míticas diferentes”.

Em 1970, porém, esses mitos caíram por terra, quando da publicação de “Os Limites do Crescimento” (1972), pelo Clube de Roma. A obra reconhecia os limites do crescimento do sistema capitalista e a impossibilidade da universalização do padrão de consumo. “A primeira reação dos capitalistas foi dizer ´isso é bobagem´. Depois não deu mais para negar”, lembra.

A Fé no Mercado

A partir de então, novos mitos foram construídos. Em 1974, em plena crise do petróleo, F. von Hayek, um dos teóricos do capitalismo, ganhava o Prêmio Nobel de Economia com a obra “A Pretensão do Conhecimento”. Hayek sustentava que a crise do sistema tinha como principal causa a “pretensão dos economistas de saberem como o mercado funciona, porque toda intervenção pressupõe conhecimento”.

“A raiz de todas as crises”, explicou Sung, passou a ser a tentativa de compreensão do funcionamento do Mercado. Em termos míticos, “esse discurso neoliberal é uma reeleitura do mito da Gêneses”, que interditava a Adão e Eva os frutos da Árvore do Conhecimento. “Se não podemos conhecer as leis do Mercado, o que podemos fazer? Temos de ter fé no Mercado”.

Uma fé, destacou, de que “o mercado sempre vai produzir outros melhores resultados possíveis”. “Essa é a base epistemológica do neoliberalismo” que apresenta uma contradição lógica: “se você não pode intervir, porque não pode conhecer o mercado, como pode afirmar que ele sempre vai produzir melhores resultados possíveis? O salto lógico se tornou uma questão de fé”.

Anos depois, ou prêmio Nobel, Milton Friedman, afirmaria: “os que são contra, no fundo, têm um problema de falta de confiança na liberdade do mercado”. Uma narrativa, frisou Sung, disseminada em todos os cantos do mundo, a partir da mídia e, também, da proliferação de institutos, como os institutos von Mises.

Sobre a obra de L. von Mises, “A Mentalidade Capitalista”, o professor avaliou: “é uma maravilha de livro de teologia”. Nela se defende a ideia de que “todo adulto é livre para montar a sua vida de acordo com os seus próprios planos, a partir de um conceito de liberdade pelo qual não existe o outro: sou eu e o meu desejo. É puro indivíduo”.

Captura do desejo

Para L. von Mises, no sistema de mercado livre, “os consumidores são soberanos” e “desejam ser satisfeitos”. Mas, apontou Sung, “consumidor não é qualquer indivíduo” nesta lógica. “O nível é: todos somos humanos, mas nem todos os humanos são cidadãos, e nem todos os cidadãos são consumidores. O desejo soberano [se restringe] aos consumidores”.

Com base na impossibilidade de satisfação dos desejos - conforme alguns vão sendo satisfeitos, surgem novos desejos – von Mises chega a defender a avidez como “impulso que conduz o homem em direção ao aperfeiçoamento econômico”. Afirma, ainda, que “ manter alguém contente com o que já conseguiu ou pode facilmente conseguir, sem interesse por melhorar suas próprias condições materiais não é uma virtude”.

“Essa é a tese teórica”, salientou Sung, lembrando que a sociedade vem criando mecanismos para, justamente, controlar a avidez do desejo individual. “Nós somos seres infinitos na condição de finitude e o nosso desejo é infinito, mas, em uma economia escassa, não há satisfação para todos”.

E se não há satisfação para todos, então, como lidar com a frustração? “A saída neoliberal é a criação de uma verdadeira teologia da culpa”. No capitalismo, todos somos alimentados pela frustração”, apontou.

Teologia da Culpa

“Se você não consegue ser o rei do chocolate, o campeão de boxe ou a estrela de cinema, você é o culpado. Essa é a teologia da culpa: o indivíduo passa a ser culpado pela sua própria frustração”, explicou. E trata-se de uma culpa que atinge a todos, começando pelos mais pobres.

“Por que pobre é pobre? Porque é culpado. Ele merece a sua pobreza”. Segundo essa lógica, “o pobre que não pode comprar brinquedo para o filho assume a culpa duas vezes: pela pobreza e por sentir culpa em ser pobre”. Enquanto isso, o Mercado se consolida enquanto juiz transcendental.

“Se a culpa é de todos, por conta da distribuição de riqueza, quem é o juiz que faz essa destruição? O Mercado. Mas, eu posso questionar o mercado? Não. Ele é inquestionável, está além do bem e do mal, do injusto e do justo”. Na medida em que não está sob o juízo humano, o Mercado se torna algo sagrado. “E o sagrado é aquilo que é separado do sistema profano, acima do juízo e do questionamento da justiça”, explicou.

Sung também alertou: para o capitalista e para o neoliberalismo, o verdadeiro o problema “está nas pessoas que acreditam que os seres humanos têm direitos”.

Direitos Humanos

Ele explicou que o pensamento liberal moderno foi fundado na tradição neotestamentária. Segundo essa tradição, primeiramente, “todos os homens são iguais perante a Deus. Depois, todos os homens passaram a ser iguais perante as leis; e, de acordo com a razão moderna, a essência humana traz consigo direitos implícitos”.

São justamente esses direitos implícitos, denunciou, que estão sendo rejeitados pela teoria pós-moderna ao defender que “tudo é cultural”, inclusive, “afirmar que a natureza humana dá direitos é cultural”. Sob essa ótica, “o grande erro das esquerdas e dos humanistas é acreditar que ser humano tem direito por natureza. Não tem. Quem não conseguiu direitos no contrato do mercado, não tem direito nenhum”.

Essa é a narrativa dos que criticam programas sociais como o Bolsa Família ou o Mais Médicos. “Se pobre não tem direito a comer, porque não tem direito, o que é um programa social como o Bolsa Família? Um roubo. Você tira de quem tem direito – e o ganhou justamente via Mercado - e passa para quem não tem direito”.

Daí a inversão, situou Sung, já que “os defensores dos direitos dos pobres e dos programas sociais tornam-se os grandes malfeitores da humanidade”. A violência explode: “eu estou frustrado porque esse desgraçado de esquerda continua querendo o meu imposto para dar para esses pobres desgraçados. De quem é a culpa da minha frustração? Da esquerda e dos pobres. Aí eles colocam fogo no mendigo”, destacou.

Deveres

Quando o então ministro Alexandre Padilha (Saúde) comemorava o sucesso do Mais Médicos, ele estava reafirmando não apenas o direito das pessoas à Saúde, mas o dever do Estado para com elas. No entanto, muitas pessoas foram contra o programa e retrucaram: “eles não têm direitos e nós não temos deveres. Isso é um roubo”. “Tratam-se de duas estruturas de pensamento diferentes. Saber isso nos ajuda a compreender a agressividade”, explicou.

Em sua avaliação, sempre existiram egoístas exagerados, a diferença é que antes, “as pessoas tinham vergonha de ser publicamente egoístas, porque havia uma pressão cultural. Hoje, elas têm orgulho. Depois que passar a vergonha do Temer, vai continuar esse orgulho e ele vai continuar enquanto esse modelo civilizatório prevalecer”.

A lógica da Responsabilidade


Segundo Sung, “nós retornamos a um debate surgido no século XVIII: o ser humano tem direitos? Para os defensores do neoliberalismo, esses direitos são vistos como ´coisa de bandido´. O processo tecnológico chegou ao ponto de destruir as bases humanistas do mundo moderno”.

A saída, apontou, “está na luta social”. Uma luta que, em última instância, pressupõe “a descoberta dos direitos fundamentais de todos os seres humanos”. Sung também alertou: “culpa e humilhação não acabam quando você come. Quando você come, você mata a fome. Isso vai aparecer em violência familiar, em neuroses, loucuras. E quem se sente culpado não luta”.

Em sua avaliação, “para sair desse entrave é preciso lembrar que apenas um mito combate outro mito”. Citando a experiência do apóstolo Paulo de Tarso que, em pleno Império romano, conseguiu criar comunidades de resistência, Sung avaliou que “Paulo tem algo a nos ensinar”, sobretudo, quando afirma:

“Enquanto ainda éramos inimigos de Deus, Deus se reconciliou conosco” (Rom 5,10).

Essa citação, analisou, é uma “crítica radical à ideia de Deus norteadora das culturas de opressão, que pressupõem um Deus que culpa e pune. E não um Deus – não importa aqui se existe Deus ou não – que humaniza o ser humano e se reconcilia. Antes de qualquer articulação cultural, todos os seres humanos têm direito à vida”.

A proposta de Paulo, avaliou, abre uma fenda na “lógica da culpa” e nos permite entrar em outra lógica: a da responsabilidade. “É preciso responder aos problemas sociais. A lógica da responsabilidade nos chama à ação. A lógica da culpabilidade apenas aponta o culpado. E apontar culpados não resolve nada”, concluiu.

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Confiram abaixo o power point da apresentação do professor Jung Mo Sung, autor de diversos livros, entre os quais: “Mercado, religião e desejo: o mundo de hoje na perspectiva da Teologia da Libertação” (Suhae Munjip, 2014); “Para além do espírito do Império" (Paulinas, 2012) e “Deus em nós: o reinado que acontece no amor solidário aos pobres" (Paulus, 2010).

Leia na próxima reportagem a análise da professora Magali Cunha sobre o discurso religioso do neoliberalismo.

Fonte: CARTA MAIOR
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Censura e Perseguição

'Governos autoritários começam cerceando a liberdade de expressão'

Eliminados os sites progressistas e a comunicação pública, haveria uma situação praticamente totalitária, na qual existiria apenas uma voz.
Redação


Por que o governo interino – e ilegítimo – de Michel Temer quebrou contratos na ordem de irrisórios R$ 11,2 milhões (0,6% do orçamento da SECOM em 2015) com as microempresas da mídia alternativa? Por que tamanho ataque, também, contra a Empresa Brasil de Comunicação, a EBC?

Segundo Venício Lima, um dos maiores especialistas em democratização da comunicação no Brasil, “governos autoritários sempre começam cerceando a liberdade de expressão”. Em entrevista exclusiva à Carta Maior, ele dimensiona o papel dos blogs e sites progressistas e comenta a guerra travada pelo oligopólio da comunicação contra qualquer iniciativa em prol da pluralidade e diversidade de vozes no país.

Confiram a entrevista:

Professor, qual sua avaliação sobre a quebra de contratos de publicidade entre as estatais e as microempresas da mídia alternativa?

Venício Lima – É preciso avaliar essa quebra de contratos no contexto mais amplo das medidas que o atual governo interino tem tomado. Não é por acaso que a comunicação alternativa ao discurso único da grande mídia foi um dos primeiros alvos desse governo.

Isso ficou claro na intervenção ilegal na Empresa Brasil de Comunicação (EBC), uma empresa de comunicação pública; e na suspensão, inclusive de contratos que estavam em vigência, com sites e blogs progressistas que fazem, justamente, a oposição a esse governo interino.

Essa é uma característica dos governos autoritários. Eles sempre começam cerceando a liberdade de expressão.

Podemos estabelecer um paralelo entre os governos brasileiro e argentino em relação às metidas tomadas na área da Comunicação?

VL – Em relação à comunicação, sim. No entanto, Maurício Macri chegou ao poder de uma forma bastante diferente do que vimos acontecer neste governo provisório. Agora, quanto às medidas em relação ao cerceamento da liberdade de expressão e, sobretudo, ao cerceamento das vozes que fazem oposição ao governo, é possível fazer uma comparação.

Logo após ter chegado ao poder, imediatamente, o governo Macri tratou de desconstruir - e está desconstruindo - uma conquista histórica do povo argentino: a Lei de Meios (Ley de Medios).

Como ele conseguiu isso?

VL - Primeiro, tomando medidas por decreto; depois, aprovando no Congresso argentino, com a promessa de que vai reestruturar e apresentar uma nova proposta “mais ampla”, inclusive, sobre a questão digital. Desta forma, ele conseguiu aprovar a desestruturação completa dos principais parâmetros da Lei de Meios, favorecendo de maneira evidente o Clarín, principal grupo de comunicação argentino.

Por que esse ataque à mídia alternativa?

VL – O Brasil tem historicamente, há décadas, um sistema predominantemente privado, comercial, sustentado pela publicidade e consolidado em torno de pouquíssimos grupos familiares, vinculados às elites políticas regionais e locais. Estamos diante de um quadro de oligopólio, em uma área onde a existência de qualquer voz alternativa a esse oligopólio passa a ter uma relevância extraordinária.

Não é por acaso que, historicamente, sempre houve oposição à criação de uma comunicação pública. Também não é por acaso que, historicamente, esses grupos dominantes, que são pouquíssimos, implícita ou não implicitamente, sempre tiveram aliança com os governos.

Eles sempre lutaram contra a possibilidade de qualquer voz alternativa à deles, considerando a importância que a comunicação tem nas democracias representativas. Isso faz com que toda a possibilidade de voz alternativa ganhe importância e, também, que o combate contra ela aumente, porque ela é a única voz dissonante.

Eu vejo essa possibilidade em apenas dois locais: na comunicação pública expressa pela EBC fundamentalmente, e nos chamados sites e blogs progressistas.

O poder desses veículos é pequeno perto do poder desses oligopólios...

VL - É um poder pequeno, mas fundamental. Sites e blogs progressistas e a comunicação pública são o único respiro que existe diante da narrativa dominante da grande mídia. Isso incomoda, mesmo sendo uma luta de David contra Golias.

Se você elimina esses sites e blogs e a comunicação pública, você vai viver uma situação praticamente totalitária, na qual haverá apenas uma voz. Esse é o grande problema. Muita gente não tem consciência do que está em jogo quando se combate a comunicação pública e os sites e blogs, discorde ou não das vozes que são representadas nesses espaços.

Existem, inclusive, mecanismos científicos que mostram, pelo acompanhamento da grande mídia, que ela é partidarizada. Isso não é uma novidade no Brasil. A diferença é que, antes, os instrumentos de verificação eram sempre condicionados. Hoje, você tem o Manchetômetro, do grupo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), liderado pelo professor João Feres.

Eles fazem o acompanhamento sistemático dos principais veículos da mídia dominante. Com clareza e instrumentos transparentes, qualquer pessoa pode ir lá e olhar. Eles mostram como a grande mídia age de forma seletiva e partidarizada. Ou seja, como exclui todas as vozes que não falam igual a ela. Do meu ponto de vista, essa é a pior de todas as corrupções: a corrupção da opinião pública.

O fato é que com a comunicação pública (EBC) e os blogs progressistas, por menor que sejam, abre-se uma fenda, um respiradouro nessa dominância de uma narrativa única. É exatamente isso que eles combatem com tanta violência.

Além dos sites e blogs, a EBC também está sob ataque. Qual seu papel hoje?

VL - A EBC existe em cumprimento a um princípio constitucional. A Constituição de 88, inseriu no capítulo da comunicação - o artigo 223 -, o princípio da complementariedade entre os sistemas público, privado e estatal. O sistema estatal já existia antes da Constituição de 88 e continua existindo.

O sistema privado e comercial é um sistema dominante no Brasil desde a década de 1930, quando o governo Getúlio Vargas, logo após a Revolução de 30, fez uma opção que privilegiou a exploração privada. Aliás, isso é pouco estudado entre nós. Atendeu-se, ali, a pressões não só da política externa norte-americana, mas das grandes empresas estrangeiras que estavam investindo no Brasil, inclusive, fabricantes de equipamentos para a nascente indústria do rádio.

Com essa opção pela exploração comercial como a única forma de fazer radiodifusão, o modelo norte-americano foi adotado. Isso não aconteceu no resto do mundo. A Inglaterra adotou, por exemplo, o modelo oposto.

Décadas depois, em 1988, por iniciativa pessoal do então deputado do MDB do Rio, Artur da Távola, introduziu-se o princípio da complementariedade na Constituição. Há, inclusive, depoimentos posteriores dele que explicam qual era a intenção na época: a de equilibrar, a partir das novas concessões e das renovações de concessões, as forças dos sistemas público e privado. Como acontece em vários países do mundo, sobretudo na Europa.

Então, a EBC surge depois de uma luta de décadas, em 2007-2008, como uma proposta do governo Lula para cumprir esse mandamento constitucional, de equilíbrio entre os sistemas público, privado e estatal. Principalmente, os sistemas público e privado. O sistema estatal, aliás, é demandado pela Constituição que exige a publicidade dos atos do governo para o conhecimento da cidadania. Isso existe nas democracias representativas do mundo inteiro.

Como se deu essa luta, na prática?

VL – Desde o seu início, a criação da EBC encontrou uma resistência enorme no campo do sistema privado. O governo Lula mandou uma medida provisória que tramitou no Congresso, sofreu emendas e foi aprovada, transformando-se em lei em abril de 2008. Um ano depois, a Folha de S. Paulo, em um editorial, pedia o fechamento da EBC. Agora, passados sete anos, no final de junho, repete o pedido, dizendo que passou da hora de pôr termo ao “desperdício de dinheiro público”, é mais ou menos nessa linha o editorial. A EBC surge, portanto, com forte oposição dos grupos privados que se opõem a tudo o que não seja igual a eles, a qualquer voz que não seja a deles.

Vários problemas não conseguiram ser equacionados pela Lei que criou a EBC, até porque foi aproveitada uma estrutura pré-existente, da antiga Radiobrás, e a junção de estruturas legais paralelas é muito complicada. De qualquer maneira, mesmo reconhecendo todos os problemas ainda não solucionados, a EBC é um projeto de comunicação pública em implantação. E esse é um processo permanente de aperfeiçoamento e de correção.

O fato é que a Lei 11.652/ 2008, que criou a EBC, também criou mecanismos que procuram garantir a autonomia e a independência da comunicação pública. Eles têm funcionado, sobretudo o Conselho Curador, formado por 22 membros, 4 representantes do governo, um da Câmara, um do Senado, um dos funcionários e 15 da sociedade civil, escolhidos a partir de uma disputa de indicações de entidades da sociedade civil. Esses indicados passam pelo próprio Conselho Curador que faz uma lista tríplice e a encaminha para nomeação pelo Presidente da República.

Isso pode ser acompanhado?

VL - Qualquer pessoa interessada em ver como, de fato, funciona a EBC, pode consultar as atas do Conselho Curador. Vai ver, inclusive, que ele não é aparelhado como se diz por aí. Aliás, nos últimos 7 ou 8 anos, o Conselho tem sido um vigilante atento, fiscalizando e buscando formas de garantir a autonomia e a independência da empresa.

Da mesma forma, a EBC tem uma ouvidoria autônoma que acompanha o conteúdo dos seus diferentes veículos, fazendo uma vigilância permanente.

A EBC é uma empresa que expressa um projeto de comunicação pública que, apesar de imperfeito, tem mecanismos para a sua própria correção e aperfeiçoamento. É exatamente isso que vem sendo feito e faz com que ela sofra, como tem sofrido, uma campanha permanente de oposição da mídia comercial dominante e, evidentemente, de seus porta-vozes.

Por que tamanha timidez dos governos Dilma e Lula na consolidação da mídia alternativa?

VL - Essa é uma questão fundamental que eu nunca soube responder e, também, nunca consegui que alguém me respondesse. Por que os governos Lula e Dilma não enfrentaram a mídia dominante? Por que não criaram condições para a consolidação da comunicação pública e para a consolidação independente dos chamados blogs progressistas?

Em 2013, frente ao surgimento da internet principalmente, a União Europeia publicou um documento recomendando aos países membros, o apoio do Estado às vozes que se expressam através desses instrumentos. E isso, justamente, em nome da pluralidade e da diversidade, ou seja, do que sustenta a formação de uma opinião pública democrática. Por razões que desconheço, isso não foi compreendido ou não se conseguiu, de qualquer forma, não foi feito nos governos Lula e Dilma.

Os investimentos na EBC foram insuficientes?

VL - A EBC tem um problema de recursos. A Lei que criou a EBC também criou Contribuição para o Fomento da Difusão Pública (CFRP). Essa contribuição é dada, sobretudo pelas empresas, concessionárias e de serviços públicos de telefonia. Mas, há uma questão judicial em torno dessa CFRP e esses recursos nunca chegaram à EBC, mesmo os que já chegaram ao governo foram utilizados para outros fins. Se essa contribuição tivesse, de fato, como previsto na Lei 11.652, chegado à EBC, o problema da economia financeira da emissora estaria resolvido. Só que isso não aconteceu. A lei que cria a EBC cria também mecanismos para o seu autofinanciamento.

Do ponto de vista constitucional, o Estado tem que apoiar a comunicação pública, em nome da pluralidade e da diversidade, como acontece em qualquer lugar do mundo.

Em relação a isso, existe alguma questão legal que poderia enfrentar essa perseguição aos sites e blogs progressistas?

VL - Eu não sou advogado, mas com base nos princípios da ordem econômica isso pode gerar uma reação legal. Trata-se de uma questão de oligopólio, de monopólio, da concorrência. Eu tenho a impressão que é possível se pensar, inclusive, em ações judiciais em relação a isso.

Sem falar do espírito geral da Constituição e dos princípios democráticos que podem ser invocados considerando-se a importância da pluralidade e da diversidade, em prol da saúde da democracia e até mesmo para a sua própria sobrevivência.

Podemos falar em censura neste caso?

VL - É um cerceamento econômico que visa impedir que certas vozes circulem. Qual é o nome disso?

É censura.

Fonte: CARTA MAIOR
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Liberdade para Julian Assange
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Começa campanha internacional em favor do dissidente político que desconcerta os EUA. Seu confinamento revela: “democracias” ocidentais já não toleram jornalismo que revele segredos do poder

Por Ignacio Ramonet | Tradução: Inês Castilho | Imagem: Sam Spratt
Já se completaram quatro anos desde que, em 19 de junho de 2012, o ciberativista australiano Julian Assange, paladino da luta pela liberdade de informação, viu-se obrigado a se refugiar nas dependências da embaixada do Equador, em Londres. O pequeno país latino-americano teve a coragem de lhe oferecer asilo diplomático, quando o fundador do WiliLeaks encontrava-se perseguido e acuado pelo governo dos Estados Unidos e vários de seus aliados (Reino Unido e Suécia, principalmente). A justiça sueca exige que Assange apresente-se em Estocolmo para testemunhar pessoalmente sobre as acusações de agressão sexual feitas por duas mulheres a quem ele haveria mentido sobre o uso de preservativo.
Julian Assange rechaça essas acusações, sustenta que as relações com essas duas pessoas foram consentidas e afirma ser vítima de um complô organizado por Washington. O fundador do WikiLeaks nega-se a ir à Suécia, a menos que a justiça do país lhe garanta que não será extraditado para os Estados Unidos, onde poderia ser detido, conduzido a um tribunal e talvez, segundo seus advogados, condenado à pena de morte por “crime de espionagem”.
Por diversas vezes, Assange também se propôs a responder por videoconferência às perguntas dos encarregados da investigação suecos. Mas estes rejeitaram essa possibilidade, argumentando que ele fugiu da Suécia, embora soubesse que havia uma investigação aberta contra ele. O Supremo Tribunal sueco rejeitou novamente, em 11 de maio de 2015, sua demanda para anular a ordem de detenção que pesa sobre ele.
Na verdade, o único crime de Julian Assange é ter fundado o WiliLeaks. Em vários lugares têm acontecido debates acalorados sobre se o WikiLeaks fez ou não prosperar a causa da liberdade de imprensa; se terminou sendo bom ou mau para a democracia; se essa plataforma deve ou não ser censurada. O que se sabe com certeza é que o papel do WikiLeaks na difusão de meio milhão de informes secretos sobre abusos cometidos por militares no Afeganistão e no Iraque, e de uns 250 mil comunicados enviados pelas embaixadas dos Estados Unidos ao Departamento de Estado, constituem “um marco na história do jornalismo”, definindo dois períodos — um antes e um depois deles. O WikiLeaks foi criado em 2006 por um grupo de internautas anônimos, tendo Julian Assange como porta-voz, e assumiu a missão de receber e tornar públicas informações filtradas (leaks), garantindo a proteção das fontes (1).
Recordemos as três razões que, segundo Julian Assange, motivaram sua criação. “A primeira foi a morte em escala mundial da sociedade civil. Fluxos financeiros via transferência eletrônica de fundos, que se movem com velocidade maior que a penalização política ou moral, destroçando a sociedade civil em todo o mundo. […] Nesse sentido, a sociedade civil está morta, já não existe; uma ampla classe de pessoas tem consciência disso e se aproveita para acumular riqueza e poder. A segunda […] é que há um enorme e crescente Estado de vigilância disfarçado, que está se expandindo pelo mundo, com base principalmente nos Estados Unidos. […] A terceira é que os meios de comunicação internacionais são um desastre, […] o ambiente da mídia internacional é tão mau e deformador que seria melhor que não houvesse nenhum meio, nenhum”.
Assange traz uma visão radicalmente crítica do jornalismo. Numa entrevista chega inclusive a afirmar que, “dado o estado de impotência do jornalismo, me pareceria ofensivo ser chamado de jornalista. […] O maior abuso foi a guerra [do Iraque e do Afeganistão] relatada pelos jornalistas. Jornalistas que participam na criação de guerras por sua falta de questionamento, sua falta de integridade e pelo covarde bate-bola com fontes governamentais”.
A filosofia do WikiLeaks baseia-se num princípio fundamental: os segredos existem para ser descobertos. Toda informação oculta nasce com a vocação de ser revelada e colocada à disposição dos cidadãos. As democracias não devem esconder nada; tampouco os dirigentes políticos. Se as ações públicas destes últimos não são incompatíveis com sua atuação pública ou privada, as democracias não deveriam temer a difusão de “informação vazada”. Neste caso – e só neste caso – significaria que são moralmente exemplares e que o modelo político que encarnam – julgado como “o menos imperfeito de todos”– poderia de fato estender-se, sem nenhum obstáculo ético, ao conjunto do planeta. Por que os jornalistas teriam de calar-se numa democracia, quando um político afirma uma coisa em público e a contraria na esfera privada?
O WikiLeaks oferece aos internautas a possibilidade de tornar públicos, por meio de sua plataforma, gravações, vídeos ou textos confidenciais sem indagar como foram obtidos, mas cuja autenticidade verifica. O WikiLeaks vive de doações dos internautas e de fundações e não aceita ajudas governamentais nem publicidade. Um bom número de instâncias públicas reconheceu a utilidade de seu trabalho. Em 2008 recebeu o Prêmio de Índice de Censura, outorgado pelo semanário britânico The Economist, e em 2009 a Anistia Internacional lhe concedeu o prêmio de melhor “novo meio de comunicação” por ter trazido à luz, em novembro de 2008, um documento censurado sobre um caso de malversação de fundos realizado pelo grupo do antigo presidente do Quênia, Daniel Arap Moi.
Desde sua criação, o WikiLeaks tem sido um banquete permanente de segredos, uma verdadeira fábrica de novidades. Difundiu bem mais revelações do que muitos meios de comunicação de prestígio em décadas… Entre os maiores escândalos que trouxe à tona destacam-se:
> Os documentos que denunciavam as técnicas usadas pelo banco suiço Julius Baer Group para facilitar a evasão fiscal;
> O manual de comportamento penal do Exército norte-americano na base de Guantánamo;
> A lista de nomes, endereços, números de telefone e profissão dos membros do Partido Nacional Britânico (BNP, de extrema direita), na qual figuravam policiais;
> A lista pormenorizada de mensagens de email trocadas com o exterior pelas vítimas dos atentados do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001;
> Os documentos que provavam o caráter fraudulento da quebra do banco islandês The New Kaupthing;
> Os protocolos secretos da Igreja da Cientologia;
> O histórico dos e-mails pessoais enviados durante a campanha eleitoral por Sarah Palin, candidata republicana à vice-presidência dos Estados Unidos, a John McCain, de seu computador profissional (o que é proibido pela legislação estadunidense);
> Os expedientes do julgamento do assassino Marc Dutroux, inclusive a lista com números de telefone, contas bancárias e endereços de todas as pessoas investigadas neste célebre caso de pedofilia.
Por tudo isso, assim como Edward Snowden e Chelsea Manning, Julian Assange é parte de um novo grupo de dissidentes políticos que lutam por um modo diferente de emancipação e são rastreados, perseguidos e assediados, não por regimes autoritários mas por Estados que pretendem ser “democracias exemplares”…
Em fevereiro passado, o Grupo de Trabalho sobre Detenção Arbitrária da Organização das Nações Unidas (ONU), um braçop do Comitê de Direitos Humanos da ONU, declarou que Julian Assange encontra-se “detido arbitrariamente” tanto pelo Reino Unido como pela Suécia. Os especialistas internacionais independentes também afirmaram que tanto as autoridades suecas como as britânicas deveriam “por fim a sua prisão” e “respeitar seu direito a receber uma justa compensação”. Conforme esse veredito internacional, Julian Assange foi submetido a diferentes formas de privação de liberdade: “detenção inicial na prisão de Wandsworth em Londres” em regime de isolamento, “seguida de prisão domiciliar e, depois, do confinamento na Embaixada do Equador”.
Embora o pronunciamento do Grupo de Especialistas Internacionais da ONU não seja vinculante, supõe uma grande vitória moral para Julian Assange no campo das relações públicas, ao dar-lhe a razão em sua longa luta contra as arbitrariedades das autoridades suecas e britânicas.
A esse respeito, o presidente equatoriano Rafael Correa informou que seu governo oferece asilo e proteção ao fundador do WikiLeaks porque “Assange não tem garantias de respeito a seus direitos humanos e a seus direitos em matéria de justiça”. De sua parte, o chanceler equatoriano, Guillaume Long, declarou que o Equador “mantém preocupações legítimas sobre os direitos humanos de Assange” e que Quito considera haver, contra ele, algum tipo de “perseguição política”, motivos pelos quais o Equador continua oferecendo asilo.
Para pedir a liberdade de Julian Assange, seus amigos de todo o mundo organizaram, entre os dias 19 e 24 de junho passado, em várias capitais do planeta (2) (Atenas, Belgrado, Berlim, Bruxelas, Buenos Aires, Madri, Milão, Montevidéo, Nápoles, Nova Iorque, Quito, Paris, Saravejo) uma série de atos e conferências com a participação de importantes personalidades e grandes intelectuais (Noam Chomsky, Edgar Morin, Slavoj Zizek, Arundhati Roy, Ken Loach, Yanis Varoufakis, Baltasar Garzón, Amy Goodman, Ignacio Escolar, Emir Sader, Eva Golinger, Evgeny Morozov).
Em Quito (Equador), o simpósio foi organizado pelo Centro Internacional de Estudos Superiores de Comunicação para a América Latina (Ciespal e contou com uma intervenção do próprio Julian Assange por meio de videoconferência. Por cinco dias debateram-se temas como: O caso Assange à luz do Direito Internacional e dos Direitos Humanos, Geopolítica e Lutas no Sul, Tecnopolítica e Ciberguerra e Dos Pentágono Papers aos Panamá Papers.
O acadêmico espanhol Francisco Serra, diretor do Ciespal, declarou: “Cremos que, na verdade, o problema de Julian Assange é esse: a liberdade de informação. Quando não há liberdade de informação, de movimento nem de reunião, não há direitos humanos. E portanto, o primeiro direito é o direito à comunicação, e é preciso colocar em evidência que o caso Assange é um problema grave de direito à comunicação” (3).
Esses eventos solidários, ocorridos em todos os quadrantes da geografia mundial, definiram dois objetivos. Em primeiro lugar: reivindicar os direitos que foram negados a Julian Assange, como a presunção de inocência ou a liberdade de movimento. E em segundo lugar: recordar o que representa o WikiLeaks, quer dizer, o desafio tão atual da liberdade de informação e de comunicação num mundo permanentemente vigiado.
Notas
(1) Ver Ignacio Ramonet, La Explosión del periodismo, Clave Intelectual, Madrid, 2011.
(2) www.freeassangenow.org
(3) http://www.andes.info.ec/es/noticias/cuatro-anos-libertad-negada-julian-assange-seran-tratados-evento-academico-ciespal.
Fonte: OUTRAS PALAVRAS
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A Olimpíada da democracia nas ruas do país

Passeio - Vitor Teixeira

Fonte: BRASIL DE FATO
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Ou refundamos agora a democracia ou o apocalipse do PMDB também será o nosso

07 de julho de 2016 às 00h32


O APOCALIPSE DO PMDB

Gustavo Castañon, especial para o Viomundo

As trombetas do juízo final parecem estar soando para os chefes políticos do partido que é sinônimo de poder no Brasil há trinta anos.

Depois das fatais delações de Sérgio Machado e Nelson Mello, são esperadas nos próximos dias delações apocalípticas (Lyra e Funaro) envolvendo dezenas de deputados e senadores.

Além de Cunha e Renan (simplesmente os presidentes do Poder Legislativo), também foram denunciados o próprio presidente em exercício, Michel Temer, o ex-presidente José Sarney, o ex-presidente da câmara Henrique Alves, os ex-governadores e ex-ministros Eduardo Braga e Edison Lobão e o ex-líder dos três últimos governos federais, Romero Jucá.

Em qualquer outro país, inclusive o Brasil de dez anos atrás, esses indivíduos já estariam sem qualquer cargo público. Por muito menos, Renan teve que renunciar à presidência do Senado há dez anos. Um lobista teria pago despesas de sua segunda família.

Hoje Renan já responde a assombrosos 13 inquéritos no STF, e continua comandando o processo de impeachment de uma Presidente que jamais respondeu a algum.

Eduardo Cunha, que abriu o impeachment por vingança, já é duas vezes réu no STF e responde mais seis inquéritos nesta corte. Continua presidente da Câmara.

Como explicar que o país não tenha ruído diante dessas denúncias? Porque para protegê-los a mídia corporativa se expõe à desmoralização final? Como esses indivíduos são tão poderosos?

Esse Sarney que apoiou o golpe de 2016 não é o mesmo udenista e coronel do Maranhão que apoiou o golpe de 64? Não é Edison Lobão sua cria e ex-ministro de Lula e Dilma? Não é esse o Renan que foi braço direito de Collor e ministro da Justiça de FHC? Não é esse Eduardo Cunha que era boy de PC Farias, presidente da Telerj, da Cohab, colecionando por onde passou processos e até uma apresentadora da Globo?

Romero Jucá não foi líder de governo de FHC, Lula e Dilma? Não é esse o Temer que tentava carregar malas de Ulysses e que colecionou em eleições várias suplências de deputado?

Talvez haja uma resposta simples a todas essas perguntas. É que esse Brasil, esse presidencialismo de coalisão que conhecemos, foi desenhado há 28 anos pelo PMDB, para o PMDB.

Nunca estiveram fora do poder desde então. Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma: todo presidente brasileiro teve que entregar nacos de poder a esse partido para conseguir governar. Uns mais, como Sarney e FHC, outros menos, como Collor e Dilma. Curiosamente, os dois últimos sofreram processos de impeachment.

Sempre supostamente dividido entre “autênticos” e fisiológicos, oposicionistas e governistas, uma coisa sempre uniu o PMDB: dinheiro público. Até a delação de Sérgio Machado.

Agora, os 100 milhões em propina que Machado afirma ter passado à cúpula do PMDB instauraram o salve-se-quem-puder na legenda sinônimo de fisiologismo e corrupção no Brasil.

Apesar disso, os depoimentos e gravações arrasadoras encontraram ouvidos públicos anestesiados pelo mar infindável de denúncias, além de uma imprensa cínica que, obcecada por seu inimigo de classe, Lula, chegou a criticar as ofensas de Machado a membros do STF.

Seguindo o script, o PMDB tentou uma ridícula campanha de desmoralização do denunciante escarnecendo completamente da inteligência dos brasileiros, como denunciou Janio de Freitas.

Não responderam as denúncias ou explicaram por que o indicado do PMDB para presidir por 12 anos a Transpetro era do dia pra noite indigno de crédito. As tradicionais promessas de processo por calúnia e difamação, inclusive do patético presidente em exercício, foram seguidas pelo também já tradicional vácuo. Ninguém, até agora, processou Machado.

Mas uma nova delação, a do ex-executivo do grupo Hypermarcas, Nelson Mello, veio agora a público acrescentar mais 30 milhões de propina aos mesmos personagens.

E não dará nem tempo de tentar desacreditá-lo: mais três delações prometem explodir o PMDB, o Congresso e o Governo nos próximos 20 dias: a de Milton Lyra, suposto operador de Renan, e a de Lúcio Funaro, suposto operador de Cunha. Por fim, Sérgio Machado promete em 20 dias complementar, com novos documentos e gravações, as denúncias que fez contra Temer.

Então, daqui a mais ou menos um mês, creio que terá chegado o momento de nós brasileiros retomarmos a iniciativa e encontrarmos a vergonha que perdemos.

Porque esses homens, simplesmente, não podem governar o Brasil. Eles não podem ter mandato de nenhuma natureza. Eles não podem sequer ter o direito de andar nas ruas.

Onde está nossa vergonha na cara?

Estamos esperando a direita sair às ruas? Não sairão. Esse é o governo deles.

É a hora de mobilizar as ruas: as Olimpíadas. Vamos depor esses vampiros nacionais, pedir novas eleições gerais e a reforma política. Terão que entregar algo às ruas e ao mundo.

O que nós precisamos agora é simplesmente refundar a República e a Democracia, não mais somente barrar um golpe de estado. A Nova República, fundada pelo PMDB, acabou.

Ou fazemos isso, ou o apocalipse do PMDB também será o nosso.

Não esperemos mais. As trombetas já soaram. Soaram até demais.

Gustavo Castañon é professor de Filosofia e Psicologia na Universidade Federal de Juiz de Fora.


Fonte: VIOMUNDO

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quarta-feira, 6 de julho de 2016

Mentiras&Mentiras

Relatório sobre guerra do Iraque acusa ex-premier Tony Blair de série de erros

Divulgado em Londres, relatório sobre a invasão do Iraque mostra que alegações para a guerra eram frágeis, foram politizadas, revelaram-se falsas

Farsa histórica: depois de investigar 7 anos, relatório Chilcot conclui que decisão inglesa de aderir à invasão do Iraque se baseou em mentiras

Desde a invasão americana, em 2003, 250 mil pessoas foram mortas no Iraque. Relatório oficial inglês condena adesão de Blair à invasão.

Inglaterra investigou por 7 anos a adesão de Blair à guerra do Iraque e concluiu: mentiras justificaram a matança.
Com impeachment será igual.



Fonte: CARTA MAIOR
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Aqui no Brasil não é guerra do Iraque, mas os processos de construção e divulgação de mentiras para alcançar os objetivos do golpe são os mesmos.

Teatro de abusos e absurdos

Ódio a Dilma faz Caiado, o pecuarista, ir à justiça contra a “vaquinha” das viagens

POR FERNANDO BRITO · 05/07/2016


Se houvesse um Prêmio Nobel da Estupidez, Roando Caiado seria candidato permanente à “honraria”.

Anos atrás, quando queria evitar a aprovação da PEC do Trabalho Escravo. que previa a desapropriação das fazendas onde este fosse constatado, dizia que preferia que mandassem para a cadeira elétrica ou à prisão perpétua: “Mas não ataquem a propriedade privada!”.

Ainda bem que a proposta foi aprovada mas não regulamentada até hoje, porque o tio do deputado, Antonio Ramos Caiado Silva entrou na lista dos que ser servia de trabalho escravo e Caiado não teve de mandar o parente para a forca.

Agora, Caiado vai de novo ao território do ridículo, indo à Procuradoria da Justiça pedir ao Dr. Janot que acione Dilma Rousseff por causa da vaquinha – muito bem sucedida, aliás – para recolher recursos para viajar pelo Brasil contra o golpe.

O argumento? Diz Caiado que o sistema de “crowdfunding” impede que seja checada a origem e a legalidade das verbas arrecadadas.

O deputado acaba de inventar o cartão de crédito anônimo. Porque é através do cartão de crédito que as doações são feitas e, querendo, a Justiça ou qualquer um poderá ver de onde veio o dinheiro.

Do meu bolso, inclusive.

A própria campanha avisa claramente: não aceita doação de empresas, apenas de pessoas físicas.

Se Caiado quiser, pode procurar cada uma das mais de dez mil pessoas que doaram, até agora, R$ 662 mil para a presidente possa se defender publicamente.

Ou torcer para que caia nas mãos de um destes procuradores bem imbecis, que concorde com ele e leve o caso aos tribunais. Vai ser lindo para a opinião pública mundial ver que no Brasil, empresas podem dar milhões na caixa-2 aos políticos, mas não se possa fazer uma coleta de tostões entre a população.

Caiado é pecuarista, mas não entende de vaquinha virtual.

Esta, inclusive, não pasta, senador.

Fonte: TIJOLAÇO

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Chaui, PT e a geopolítica

O PT vive o momento mais dramático de sua história política.
E isso tem relação com os muitos erros que cometeu.


O PT fez acordos exageradamente pragmáticos com partidos
fisiológicos e isso lhe tornou também bastante fisiológico.
chaui
O PT aceitou chantagens do campo conservador e por isso passou
a ser refém do conservadorismo.
O PT passou do ponto em concessões econômicas liberais e isso
lhe fez perder parceiros do movimento social.
Há quem defenda, porém, que não fosse isso, o PT nunca teria
ganhado eleições importantes. Como a que o levou, depois da Carta aos Brasileiros, à presidência da República.
É uma tese. E há outras respeitáveis e bem diferentes dessa.
Mas o fato é que também não se pode dizer que é só por esses
recuos que o PT está vivendo o momento mais dramático de
sua história política.
O PT paga pelos seus erros, mas também pelos seus acertos.
Os governos do PT, por exemplo, acertaram na lei do Pré-Sal.
E isso certamente contrariou interesses mais do que potentes.
A professora Marilena Chaui sustentou ontem no Nocaute,
do escritor e jornalista Fernando Moraes, que o juiz Sérgio Moro
foi treinado pelo FBI para conduzir a Lava Jato.
E que o FBI teria por objetivo destruir a esquerda e o campo
progressista para que as reservas de petróleo do Brasil pudessem
ser acessadas pelas companhias privadas americanas, como
Chevron-Texaco, Shell e ExxonMobil.
A professora Chaui deve ter seus motivos para dizer isso.
E, claro, também pode estar errada.
Mas ao mesmo tempo não se deve descartar que a perseguição
que o PT está sofrendo hoje não seja algo absolutamente orquestrado
e que tem objetivos muito mais heterodoxos do que fazer uma limpeza
ética no país.
Será que só os tesoureiros do PT são corruptos?
Será que não há em outros partidos homens e mulheres que tenham
cometido irregularidades ou crimes na gestão das contas de
suas legendas?
Será que os recursos de empreiteiras doados ao PT são frutos de
corrupção e o dos outros grandes partidos que receberam quase a
mesma coisa não?
Será que os esquemas ocorridos nos últimos anos no governo
federal não estão enraizados na vida política brasileira e não
são praticados em governos de estados e prefeituras?
Então, por que só PT?
Por que só o PT tem sido alvo de punições que podem lhe estrangular economicamente?
Por que só a sede do PT foi alvo da Polícia Federal e a dos outros
partidos não?
Por que a esposa e a filha do Eduardo Cunha ainda não receberam
a visita dos amigos do japonês e um filho do Lula por muito menos
teve mandado de busca e apreensão no seu apartamento durante à noite?
Sem querer entrar na onda das ditas teorias da conspiração, o que
é sempre bom lembrar é que quando o governo americano
desclassifica os seus documentos secretos, muitas dessas teorias 
deixam de ser conspirações.
Por isso, quem está tratando a professora Marilena Chaui como
exagerada ou algo ainda pior, deveria ser mais cuidadoso.
E quem está achando que o PT é vítima apenas dos seus próprios
erros, também.
Desprezar os interesses geopolíticos que estão por trás das disputas
que ocorrem em países da importância e do tamanho do Brasil
não é um bom caminho para quem quer discutir e fazer política
com seriedade.
Fonte: Blog do Rovai
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A tentativa de Caiado para impedir a vaquinha obtida
para as viagens de Dilma, de imediato pode parecer
absurda.

No entanto, Caiado não teria proposto tal absurdo se
não tivesse respaldo de que teria chances em ser bem
sucedido.

O que para as pessoas conscientes, hoje, em política,
é um abuso, um absurdo, para os operadores do golpe
é apenas a certeza de que podem agir livremente,
através de absurdos, para consolidar a agenda do golpe.

Assim age Caiado, age a velha mídia quando ignora e
manipula a realidade, agem os golpistas no governo e
outros tantos que seguem céleres na consolidação do
estupro democrático, independente se a maioria da
população brasileira percebe tratar-se de um golpe,
não quer Temer na presidência no lugar de Dilma e,
ainda deseja eleições livres e diretas para presidente
este ano.

Para agir da maneira como esses setores e atores estão
agindo para consolidar a agenda golpista, somente uma
retaguarda muito bem estruturada para garantir o teatro
diário de abusos e absurdos.

Nesse aspecto, o texto acima da professora Marilena Chaui
foi direto ao ponto.

A mídia alternativa, ou suja, sofre um violento processo
de perseguição por parte dos operadores do golpe, com o
intuito de inviabilizar qualquer tipo de análise crítica que
venha a denunciar o teatro de abusos e de absurdos.

Por outro lado, a população brasileira, mesmo consciente
do golpe, ainda não se manifestou de forma contundente,
uma vez que o controle da sociedade exercido pela velha
mídia tornou-se , ainda, mais intenso, no sentido de
cristalizar nas pessoas uma percepção de normalidade
e legalidade sobre as ações golpistas.

As mídias alternativas, mesmo denunciando com
profundidade de análises o golpe, ainda não conseguiram
mobilizar a população no sentido de criar uma massa
crítica para reverter o processo anti-democrático e violento
em curso no país.

Não adianta mais apenas gritar que trata-se de um golpe.
O momento pede ações diretas, objetivas e que causem
um impacto positivo na população no sentido de se criar as
condições necessárias para restabelecer a ordem democrática
e expulsar os golpistas do poder.


PT deveria compor desde já uma
comissão de notáveis para investigar
a fundo todo o processo de impeachment
e lançar um informe mundial

Fonte: CARTA MAIOR

terça-feira, 5 de julho de 2016

Eve of Destruction

Stephen Hawking: 'Os dias da Terra estão contados'

O físico britânico Stephen Hawking – uma das mentes mais celebradas do mundo – mostrou-se pessimista nesta quarta-feira (5) sobre o futuro da espécie e disse que a humanidade só tem uma alternativa para sobreviver: abandonar a Terra e partir para o espaço.

Hawking disse que atualmente há vários experimentos pendentes que poderiam levar a humanidade para outros planetas, como a cartografia da posição de bilhões de galáxias ou o uso de supercomputadores para entender melhor a posição da Terra. O futuro é um mistério, diz ele, mas a sobrevivência dos seres humanos envolve, necessariamente, a exploração do espaço.

"Não creio que vivamos mais mil anos sem ter que deixar este planeta", afirmou o cientista em uma conferência realizada em Tenerife, Espanha, segundo informa o jornal El Mundo.

"Nossa imagem do universo mudou dramaticamente nos últimos 50 anos e estou feliz por ter feito uma pequena contribuição", observou Hawking. Nós, “humanos, não somos mais que coleções de partículas que, no entanto, estão perto de compreender as leis que nos governam, e isso é um grande triunfo", ressaltou.

Apesar do tom pessimista, Hawking, que sofre de esclerose lateral amiotrófica, disse que sua doença lhe ajudou a ver que "cada novo dia era uma recompensa", e terminou a conferência com alguns conselhos providenciais para a plateia.

"Lembre-se de olhar para as estrelas e não para seus pés. Pergunte a si mesmo o que é que faz o universo existir. Seja curioso. E por mais difícil que a vida possa parecer, sempre há algo em que se pode ter sucesso. O importante não é nunca se render", concluiu o físico britânico.

Fonte: JORNAL DO BRASIL
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A exploração e pesquisa são inerentes a natureza humana, e o espaço é o caminho natural a ser explorado. No entanto, acredito que antes de conquistar outros planetas, a espécie humana vai desaparecer da Terra. Está caminhando a passos largos para isso, seja por guerras possíveis, seja pela destruição do habitat natural. O planeta Terra, no seu tempo cósmico, se recuperará.

Pegando carona nas palavras de Hawking lembrei de uma canção de 1965, com mais de meio século, mas que ainda é bem atual.

Eve of Destruction, de Barry McGuirre, que pode-se ouvir no You Tube com direito a um vídeo temático.

Eve of Destruction


The eastern world it is explodin'
Violence flarin', bullets loadin'
You're old enough to kill but not for votin'
You don't believe in war, what's that gun you're totin'
And even the Jordan river has bodies floatin'
But you tell me over and over and over again my friend
Ah, you don't believe we're on the eve of destruction

Don't you understand, what I'm trying to say?
Can't you feel the fears that I'm feeling today?
If the button is pushed, there's no running away
There'll be no one to save with the world in a grave
Take a look around you, boy, it's bound to scare you, boy
And you tell me over and over and over again, my friend
Ah, you don't believe we're on the eve of destruction

Yeah, my blood's so mad, feels like coagulatin'
I'm sittin' here, just contemplatin'
I can't twist the truth, it knows no regulation
Handful of Senators don't pass legislation
And marches alone can't bring integration
When human respect is disintegratin'
This whole crazy world is just too frustratin'
And you tell me over and over and over again my friend
Ah, you don't believe we're on the eve of destruction

Think of all the hate there is in Red China!
Then take a look around to Selma, Alabama!
Ah, you may leave here, for four days in space
But when your return, it's the same old place
The poundin' of the drums, the pride and disgrace
You can bury your dead, but don't leave a trace
Hate your next-door-neighbour, but don't forget to say grace
And you tell me over and over and over and over again, my friend
you don't believe we're on the eve of destruction
you don't believe we're on the eve of destruction


Véspera da Destruição


O mundo oriental está explodindo
Violência eclodindo, balas carregando
Você é velho o suficiente para matar, mas não para votar
Você não acredita na guerra, o que é a arma que você está segurando?
E até o rio Jordão tem corpos flutuando,
Mas diga-me mais e mais e mais uma vez meu amigo,
Ah, você não acredita que estamos às vésperas da destruição.


Você não entende, o que estou tentando dizer?
Você não consegue sentir os medos que eu estou sentindo hoje?
Se o botão é pressionado, não há como fugir,
Não haverá ninguém para salvá-lo com o mundo em um túmulo,
Dê uma olhada em torno de você, garoto, sou obrigado a te assustar , menino,
E você me diz mais e mais e mais uma vez meu amigo,
Ah, você não acredita que estamos às vésperas da destruição.


Sim, meu sangue é tão louco, parece que está coagulando,
Eu estou sentado aqui, apenas contemplando ,
Eu não posso torcer a verdade, ele não conhece o regulamento,
Punhado de senadores não passam de legislação,
E marchas por si só podem não trazer a integração,
Quando a relação humana é desintegrada,
Todo mundo é louco, é apenas frustrante demais ',
E você me diz mais e mais e mais uma vez meu amigo,
Ah, você não acredita que estamos às vésperas da destruição.


Pense de todo o ódio que existe na China Vermelha!
Então dê uma olhada em volta para Selma, Alabama!
Ah, pode deixar tudo aqui, durante quatro dias no espaço,
Mas o seu retorno é para o mesmo lugar,
O runfar dos tambores, o orgulho e vergonha,
Você pode enterrar seus mortos, mas não sem deixar um rastro,
Odeie seu vizinho, mas não se esqueça de dizer a graça,
E você me diz mais e mais e mais e mais uma vez meu amigo,
Você não acredita que estamos às vésperas da destruição.
Você não acredita que estamos às vésperas da destruição.

Traficantes

Caneta Desmanipuladora: Fala sério! Em alguns casos é traficante, em outros não

5 DE JULHO DE 2016 POR LUCIANA OLIVEIRA





Fonte: Blog da Luciana Oliveira
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