sábado, 11 de junho de 2016

Fora Temer faz com que o dinheiro deixe de ser apenas um pedaço de papel


11 de June de 2016
Notas de 10 reais já estão circulando por aí carimbadas com um Fora Temer. Temer. Quem botou o assunto pra circular nas redes foi a amiga Ivana Bentes no seu perfil no Facebook.

Ela lembra que na época da ditadura o artista plástico Cildo Meireles

“colocava a arte conceitual na resistência e nos circuitos cotidianos”.




E que uma das mais famosas ações daquele período foi o de

carimbar notas de 1 cruzeiro com a frase “Quem matou Herzog?”.


Lembro-me com nitidez do dia em que ao ler essa frase numa nota,

ter perguntado ao velho Renato quem era o Herzog.

E ter recebido uma das suas boas aulas de história.

De um professor intelectual que tinha cursado apenas até

o segundo ano primário.


O mundo de hoje é muito diferente do da década de 70, onde as notas

eram quase o único lugar onde se podia fazer uma informação circular

sem correr o risco de censura.

Afinal, como descobrir a origem do carimbador?


Hoje, a despeito de a mídia tradicional buscar construir o país

a partir de sua narrativa, há a Internet. Onde blogues e perfis

espalhados em várias plataformas de redes sociais fazem o contraponto.


Há muito mais oxigênio no ecossistema informativo de hoje do

que naquela época, mas mesmo assim não deixa de ser revigorante

ver que a indignação ainda busca ocupar todos os espaços vazios

para mandar seu recado.


E também de ver que com um Fora Temer carimbado, o dinheiro

deixa de ser apenas um pedaço de papel,

como poetizou Arnaldo Antunes


Fonte: Blog do Rovai
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sexta-feira, 10 de junho de 2016

Quarteladas de Togas

Barroso, inacreditável: impeachment depende de desgaste político; crime, acha-se um

POR FERNANDO BRITO · 09/06/2016


Eu devo ser um sujeito muito antigo, porque sou do tempo em que julgamento, sobretudo o penal, deveria ser pautado pela materialidade do fato criminoso e sua tipificação na lei.

Parece que não é mais assim.

O senhor Luís Roberto Barroso, segundo o Valor, disse hoje a estudantes de Direito (imagina o que serão ouvindo coisas assim) que o impeachment depende essencialmente a perda de sustentação política (neste caso, parlamentar) do governante, porque o crime de responsabilidade, querendo, se acha:

“O impeachment depende de crime de responsabilidade. Mas, no presidencialismo brasileiro, se você procurar com lupa, é quase impossível não encontrar algum tipo de infração pelo menos de natureza orçamentária. Portanto, o impeachment acaba sendo, na verdade, a invocação do crime de responsabilidade, que você sempre vai achar, mais a perda de sustentação política”

Percebeu, leitor? Como “você sempre vai achar” um crime de responsabilidade, o importante para “impixar” ou não “impixar” um governante eleito é quantos deputados e senadores querem isso.

Ainda que eles julguem como o lobo julgou o cordeiro, isso não vem ao caso.

Para testar a tese do Dr. Barroso basta imaginar o contrário: um presidente que faça todo tipo e loucura fiscal, inclusive para entupir os parlamentares de verbas, só precisa da tal “sustentação política”.

Perguntinha: pode-se duvidar, por exemplo, que Eduardo Cunha tenha “sustentação política”?

Sabe aquela história toda que você ouviu sobre a Lei 1.059, que define os atos pelos quais pode ser impedido? Esqueça… Diz o Dr. Barroso:

“Essa [a questão do impeachment] deixa de ser uma questão de certo ou errado e passa a ser uma questão de escolhas políticas. Não é papel do Supremo fazer escolhas políticas”.

O papel do Supremo, então, qual é? Fazer apenas o “cerimonial da degola”?

Fonte: TIJOLAÇO

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Em dia de protesto nacional, Gilmar se desespera e garante (se depender dele) 'o impeachment presidencial está a caminho de se concretizar'

Fonte: CARTA MAIOR

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"não tenho provas para condenar José Dirceu, mas irei condená-lo, pois a literatura jurídica assim me permite faze-lo".

"crime de responsabilidade, querendo se acha".

Diante do Supremo Deus e seus absurdos cabe uma pergunta ao ministro Barroso:

Ao agir de forma seletiva o Supremo Deus não estaria fazendo uma escolha política ?

O caro leitor agora tem a certeza que condenar ou não uma pessoa depende de um número de variáveis envolvidas no processo. O crime e a culpa do acusado são meros detalhes, que oscilam em função de escolhas políticas, apesar da declaração contrária do ministro do Supremo Deus.

Um judiciário com esses conceitos se transforma em um monstro, pois pensa que é deus. Assim sendo constrói a pior de todas as ditaduras.

Com a máxima vênia, entramos na era das quarteladas de togas.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

O golpe em cana

charge de AROEIRA
Fonte: O DIA
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Governo Temer tem só 11,3% de aprovação, aponta pesquisa: 



Fonte: CARTA MAIOR
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Primeiramente, Fora Temer.

No governo da ponte para o futuro arcaico, os modernistas Sarney, Renan, Jucá ( essa porra ) e Cunha, foram parar na cadeia.

Quatro articuladores do golpe.

terça-feira, 7 de junho de 2016

Governo do Golpe. Ame-o ou cale-se



O esforço da grande mídia e do governo para silenciar os blogs


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Os blogs políticos independentes, que não fazem parte de portais corporativos, são um mistério.
De que se alimentam, como vivem, onde moram?
Como fazem os brasileiros, os blogs se viram: prestam serviços de consultoria, ganham com publicidade, dão palestras, vendem assinaturas, pagam do próprio bolso.
Para a grande mídia, porém, os blogs precisam ser exterminados, para que a narrativa golpista possa reinar solitária na opinião pública.
O novo governo Temer, mesmo diante de problemas econômicos e sociais de terrível gravidade que o Brasil enfrenta, tem encontrado tempo, desde o primeiro dia, para adotar ações políticas contra os blogs.
Como convém a qualquer ditadura, é preciso silenciar a crítica!
E com o apoio cafajeste da grande mídia e de seus satélites na blogosfera conservadora, que vem publicando freneticamente editoriais e reportagens contra os famigerados blogs políticos de esquerda.
O foco deles, naturalmente, nem são todos os blogs, mas meia dúzia de blogs com mais audiência, que se especializaram em fazer a desconstrução da narrativa golpista da mídia.
É incrível a truculência reunida contra um punhado de blogueiros.
Gilmar Mendes, Ali Kamel, Lava Jato, governo Temer, Globo, Estadão, Veja, Folha, Antagonista: todos unidos contra meia dúzia de blogueiros.
Os valores apresentados como "denúncia exclusiva" do Antagonista atestam mais a sua pobreza do que qualquer outra coisa.
Para o Cafezinho, então, o valor (R$ 124 mil para todo 2016) chega a ser ridículo, se cotejado com a audiência do blog e com o que a mídia tradicional recebe (além de não terem sido pagos, o que dá essa história toda o aspecto de pastelão).
Quanto maior a audiência do blog, maior o seu custo, porque evidentemente é preciso fazer alguns investimentos para se manter altos índices de visitação: contratar um programador, ter um bom servidor, uma ou duas pessoas para gerir conteúdo, pagar um desenhista, um repórter freelance, etc.
Não se passou 24 horas para que o governo Temer, reagindo ao Antagonista, determinasse o "bloqueio" de valores que ainda não foram pagos aos blogs.
A informação do Estadão contradiz a denúncia do Antagonista: os tais valores mostrados com "exclusividade", se já eram pequenos, sequer serão pagos.

ScreenHunter_130 Jun. 07 10.48
A grande mídia e Temer parecem não ter consciência de quanto esse tipo de abordagem é fascista e atrasada. Nos EUA, blogs e jornais tem - invariavelmente - um posicionamento político transparente e aberto ao público. Ninguém é discriminado por conta disso.
Durante os governos Lula e Dilma, a grande mídia, "simpática ao PSDB", continuou a receber normalmente suas verbas de publicidade, na ordem dos bilhões e bilhões.
Blogs políticos de oposição recebiam recursos normalmente. Não havia discriminação. Lembro de alguns episódios até divertidos, como esse da imagem abaixo:
flagra
Em 13 anos de governo, Globo, Veja, Folha, Estadão, e todos os seus respectivos blogueiros ultra-agressivos contra o PT, recebiam enormes somas de dinheiro.
Em três semanas de governo Temer, ele não apenas determina que não haverá mais contratos de publicidade entre o governo e blogs políticos, portais e revistas progressistas, como decide bloquear o pagamento de valores já contratados?
Coisa de ditadorzinho de republica bananeira!
Evidentemente, é uma postura ilegal.
Em primeiro lugar, os tais "R$ 8 milhões" da reportagem do Estadão é um número para fazer efeito, que junta sabe-se lá quantos sites e blogs.
Em segundo lugar, só por aí - pela exiguidade dos valores - se vê como a blogosfera jamais recebeu, mesmo nos governos Dilma ou Lula, tratamento especial do governo.
É evidente que eles vão conseguir, efetivamente, prejudicar os blogs.
Se o governo apenas se limitasse a cortar verbas de publicidade, tudo bem, mas os ataques políticos na mídia chapa-branca dificultam também que os blogs consigam recursos na publicidade privada, por causa da abordagem criminalizante que se faz do perfil político dos blogs.
Naturalmente, o anunciante privado ficará temeroso em anunciar em blogs e sofrer "retaliação" de uma mídia que, aparentemente, não tem compromisso nenhum com um aspecto vital da democracia: oferecer à população uma gama ideologicamente colorida de serviços de informação.
No caso do Cafezinho, esse esforço para nos sufocar talvez nos obrigue a reduzir custos, mas sobreviveremos.
Nós criticamos a mídia corporativa não por ser "simpática ao PSDB", como ela sempre foi, mas porque ela é historicamente golpista, defendeu a ditadura militar e hoje defende o golpe do impeachment. Criticamos porque é uma mídia ultraconservadora e acreditamos que, numa democracia, a existência de blogs que fazem o contraponto político e ideológico ao conservadorismo deveria ser saudada, porque é da diversidade que nasce a criatividade, e da criatividade nasce o empreendedorismo e a riqueza das nações!
Na matéria do Estadão, lemos o seguinte:
ScreenHunter_131 Jun. 07 11.12
É uma comédia, né.
Não tenho nada contra o Observatório da Imprensa ou o Congresso em Foco, sites muito bons, e que espero que continuem recebendo publicidade institucional.
O problema é chamar - implicitamente - Globo, Veja, Estadão, Folha, de veículos "apartidários", e mencionar "debates de relevância pública". Quem define o tipo de debate que tem "relevância pública"? Bem, talvez um governo democraticamente eleito poderia, muito delicadamente, definir o que são debates de relevância pública, e mesmo assim haveria quem, com certa justiça, contestasse esse direito.
Agora, um governo como esse aí, nascido de um golpe, que legitimidade tem para definir algo assim?
Os debates no Cafezinho não tem relevância pública apenas porque tem um viés progressista? Que raios de democracia é essa?
Se o governo Temer não quer anunciar em blogs políticos, tudo bem, é a vida. Seria até hipocrisia minha pretender receber publicidade de uma administração golpista como essa.
O Cafezinho nunca viveu de banners oficiais, embora eu não veja problema nenhum se fosse este o caso, desde que oferecesse a audiência requerida pelo anunciante.
No entanto, a informação do Estadão - que sintomaticamente não ouviu o "outro lado" - de que a publicidade estatal é a principal fonte de renda dos blogs não é correta no meu caso. A principal fonte de renda do Cafezinho são assinaturas dos leitores e adsense do Google.
Aliás, por falar nisso, vou aproveitar a ocasião e retomar uma promoção que deu muito certo há alguns dias atrás. Desta vez, temos um pretexto ainda melhor: é aniversário do editor (eu) do Cafezinho.
Fonte: O CAFEZINHO
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O golpe quer, e como quer, que todos os blogues e sites independentes sejam recatados e alinhados com o governo do português arcaico.

O golpe não aceita e nem tolera divergências indecentes de opinião.

Impressiona, como bem afirma o texto acima, que uma das primeiras medidas do governo do golpe arcaico, seja perseguir, censurar e até mesmo inviabilizar os blogues chamados de sujos.

Por outro lado, e ele sempre existe, tal perseguição revela que o golpe reconhece a qualidade e a veracidade de informações, contra informações e opiniões produzidas pela mídia independente, caso contrário não teria motivos para persegui-los.

O golpe sabe, muito bem, que informação é poder. No entanto, não quer admitir que com o surgimento e crescimento da internet, esse poder, antes concentrado, vem sendo diluído, ainda que em pequeno volume, mas o suficiente para adquirir, em determinados momentos e contextos, relevância e destaque com os conteúdos produzidos,assim como esta postagem, por exemplo.

Um erro histórico

O grande erro e a grande dor causada pelo neoliberalismo

A melhor maneira de estimular a economia é dar um giro de 180º, acabando com as reformas contraproducentes que foram impostas à população.

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Vicenç Navarro* - Público.es
reprodução
Se você lê a imprensa econômica ou as páginas econômicas da imprensa em geral, deve ter visto que em muitos países estão sendo introduzidas práticas bancárias através das quais as instituições financeiras, em vez de pagar juros pelo dinheiro que o cidadão deposita no banco, cobram do mesmo para guardar esse dinheiro. É o que chamam de juros negativos. Você se perguntará: por que o fazem? E a resposta a essa pergunta varia de acordo com o economista que responde. As chamadas “ciências econômicas” não são tão científicas como a maioria da população acredita.

Uma resposta muito frequente é a de que existe hoje no mundo muitíssimo dinheiro. Na verdade, há tanto dinheiro que não se sabe o que fazer com ele. E, para os ricos, é mais seguro ter o dinheiro depositado no banco que debaixo da almofada da sua casa. A resposta tem certa lógica. Mas o que você faria se tivesse muito dinheiro seria, em vez de colocar o dinheiro debaixo da almofada ou num banco? Tentaria utilizá-lo bem, investindo, comprando propriedades que gerassem renda agora ou num futuro a médio ou longo prazo, aumentando o consumo. Isso é precisamente o que a maioria dos economistas também dirá. Já que o maior problema das economias desenvolvidas é a escassa demanda, parece lógico que se tomem medidas para aumentar o consumo. As autoridades públicas tentam fazer com que, no lugar de guardar o dinheiro, as pessoas utilizem esses recursos comprando. É importante, portanto, que os bancos, em vez de forçar a barra com os juros sobre os depósitos, incrementando a poupança.

Essa explicação parece lógica, mas há um grande problema: assumir que não se está conseguindo aumentar o consumo no país – seja porque não há suficiente dinheiro em circulação, o que é não é verdade, mas é difícil de explicar. Em realidade, os bancos centrais, incluindo o BCE (Banco Central Europeu), vem imprimindo mais e mais dinheiro (bilhões de novos euros em circulação. No entanto, a economia permanece estancada. Para dizer a verdade, os bancos já chegaram a entregar empréstimos com juros negativos, durante muito tempo. Se os juros do dinheiro que você deposita no banco são mais baixos que a inflação (que é o que aconteceu durante bastante tempo), você está perdendo dinheiro no depósito bancário.

Por que a política monetária é dramaticamente insuficiente?
 

O grande erro dos talibãs neoliberais está aí. Acreditar que a economia pode se tornar a base da quantidade de dinheiro que há no mercado (que depende, entre outros fatores, da quantidade de dinheiro que o Banco Central imprime, que é o que se chama política monetária) é estar profundamente equivocado. Isso não quer dizer que seja completamente errôneo. Há um elemento de verdade, mas só um elemento, e agora é um elemento muito pouco importante. O que não quer dizer que os bancos não puderam ajudar no estímulo da economia. Mas, hoje, a banca privada não o faz. O Banco Central deveria dar (a juros muito baixos) dinheiro aos Estados (uma quantidade que possa ser regulada), para que os mesmos possam, com esses recursos, apoiar diretamente as famílias e as pequenas e médias empresas. Mas não o fazem, porque preferem fazer tudo através da banca privada, que utiliza a maior parte desse dinheiro para fins especulativos.

Não o fazem, e não é porque os banqueiros sejam pessoas ruins (embora muitos pensem que sim, porque são avarentos e não sempre honestos com seus clientes), mas sim porque a rentabilidade do investimento é muito maior na especulação que no que se chama investimentos produtivos (na produção de bens e serviços). Além disso, não confiam nas pequenas e médias empresas, pois as vê como pouco seguras. Em outras palavras, o problema não é a falta de dinheiro mas sim os canais pelos quais são distribuídos tal dinheiro. Na verdade, as grandes empresas nunca tiveram tanto dinheiro, mas também enfrentam um grande problema: não há onde depositá-lo. Por isso os bancos cobram para guardá-lo.

Qual é o problema, então?

Acreditem, embora você não veja isso na imprensa, o maior problema da economia hoje é a falta de demanda de bens e serviços, porque a população não tem dinheiro para comprá-los. E o fato de não ter dinheiro é porque a maioria consegue sua renda na base do trabalho, ou seja, salários ou outras formas de compensação relacionadas com o trabalho. Aí está o ponto decisivo. As rendas derivadas do trabalho (como porcentagem de todas as rendas) vêm caindo, enquanto as rendas do capital vão crescendo. Esse é um problema gravíssimo, mas silenciado e ocultado pelos meios de comunicação. Se você acha que essa teoria é paranoica, tente mostrar onde se lê sobre isso em artigos ou matérias na televisão. Pode haver uma ou outra exceção, mas elas só vão confirmar a regra.

Essa ausência não significa que os jornalistas sabem a verdade e a ocultam. Isso costuma acontecer, mas não é o mais frequente. Na verdade, o que predomina é mais a ignorância, não a manipulação, mesmo nos meios ditos especializados em economia – embora realmente exista os que funcionam pela regra contrária.

É muito fácil ver o que está ocorrendo. Os cortes nas políticas sociais diminuíram a demanda de uma forma substantiva. Hoje, a escassez de demanda é o maior problema na Zona Euro (especialmente no sul da Europa), e é responsável pelo estancamento econômico e o baixíssimo crescimento econômico. Esse estancamento foi causado, por sua vez, pela queda nos investimentos produtivo (na União Europeia, a baixa foi de 8,4% em investimentos no ano 2000 para 6,8% em 2014, enquanto na Espanha, ainda pior, de 7,5% a 5,7% durante o mesmo período). A diminuição do apoio em áreas como a investigação e o desenvolvimento também é bastante notável. Na verdade, as políticas de reformas trabalhistas impulsadas pelos diferentes governos – tanto o PP (Partido Popular, força de direita da qual faz parte o presidente Mariano Rajoy) quanto o PSOE )(Partidos Socialista Operário da Espanha, de centro-esquerda), e inclusive a nova frente de centro-direita chamada Cidadão aplaudiu essas medidas, que tiveram como consequência a queda no valor real dos salários e o aumento da precariedade, e das políticas de austeridade, com cortes realizados e aplaudidos por tais partidos, que tiveram um impacto muito negativo, causando primeiro a grande recessão, e logo atrasando a recuperação econômica.

A sabedoria convencional está mudando?

Os exemplos mais notáveis de atraso se dão devido ao enorme domínio dos meios de informação por parte de forças conservadoras e neoliberais. Tanto a direção do FMI quanto até mesmo o presidente do BCE indicaram que as políticas monetárias são insuficientes, e que o que parece ser a solução é um pacote de medidas fiscais para estimular a economia mediante medidas fiscais.

O que se entende por medidas fiscais é a redução dos impostos, com o que se consideram que estimulará a economia, o que é verdade, mas só até certo ponto, já que as diminuições de impostos, por regra geral, beneficiam mais as rendas superiores que a maioria da população, e os primeiros já têm tanto dinheiro que o que recebem como isenção ou rebaixa dos impostos se transforma em acúmulo, não em mais consumo, ao contrário do que a maioria da população, que não tem tantas posses e gasta quase toda a ajuda extra que recebe.

Logo, a melhor maneira de estimular a economia é dar um giro de 180º, acabando com as reformas contraproducentes que foram impostas à população. Na verdade, o presidente estadunidense Franklin Roosevelt tirou o seu país da Grande Depressão graças a um incremento enorme do gasto público, através de investimentos públicos bastante necessário ao país, o estabelecimento da Segurança Social e o estímulo à sindicalização, para que se aumentassem os salários. Hoje, isso é o que a Espanha necessita, por exemplo. Infelizmente, nem o PP, nem o PSOE, a frente de centro-direita Cidadãos propõem algo semelhante àquilo. As propostas do PSOE não se distanciam o suficientemente das políticas públicas seguidas por seus antecessores, e isso é parte do problema. Hoje, a principal necessidade é estimular a economia através de um aumento notável dos investimentos públicos nas áreas sociais, energéticas e industriais, criando empregos de qualidade. Um aumento importante dos salários, revertendo as reformas trabalhistas para reforçar os sindicatos, ao invés de debilitá-los. Se a Espanha não faz isso, seguirá o mesmo caminho enfrentado pela Grécia, que terminou aceitando a continuidade das reformas neoliberais. E tal mudança das políticas contra o que se indica nos círculos econômicos e políticos, onde se reproduz a sabedoria convencional. Portugal é um exemplo de onde a coalizão governante de esquerda tratou tais políticas. A Espanha poderia ser outro. Na realidade, os dias da austeridade estão contados, pois existe hoje uma rebelião dos países da Zona Euro (vejamos o que acontece na França). Diante de tais políticas, que prejudicam muito as classes populares. A vitória nas próximas eleições e nas internas pode fazer com que, no dia 26 de junho, uma coalizão de partidos progressistas anti-austeridade, seria um passo muito importante para reverter o austericídio presente. Pensem, portanto, que o seu voto pode determinar que se continue com essas políticas desastrosas ou que alguém seja capaz de confrontar tudo.

* Catedrático de Ciências Políticas e Políticas Públicas pela Universidade Pompeu Fabra, professor de Políticas Públicas da The Johns Hopkins University, ex-catedrático de Economia, da Universidade de Barcelona.
 Tradução: Victor Farinelli

FMI admite que o neoliberalismo é um fracasso

Muitas das descobertas do informe que atinge centro da ideologia neoliberal fazem eco ao que os seus críticos e vítimas vêm criticando há várias décadas.

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Benjamín Dangl* - Bitácora

reprodução
Na semana passada, um departamento de investigação do Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou um informe no qual admite que o neoliberalismo é um fracasso.
 
O informe, cujo título é Neoliberalism: Oversold? (neoliberalismo: méritos exagerados?), é um sinal para que se abra uma esperança sobre a possível morte dessa ideologia.
 
O FMI está atrasado em apenas uns 40 anos. A jornalista canadense Naomi Klein escreveu um irônico comentário sobre o informe em seu twitter: “Então, os multimilionários criados (pelo neoliberalismo) devolverão o dinheiro, não é assim?”.
 
Muitas das descobertas do informe que atinge centro da ideologia neoliberal fazem eco ao que os seus críticos e vítimas vêm criticando há várias décadas.
 
“No lugar de promover o crescimento”, segundo o informe, “as políticas de austeridade impulsadas a partir das ideias neoliberais acabaram somente reduzindo as regulações, para limitar o movimento de capitais, o que, de fato, fez com que e aumentasse a desigualdade”.
 
Essa desigualdade “poderia por si só debilitar o crescimento…”. Portanto, segundo o informe, “os responsáveis políticos deveriam estar muito mais abertos à redistribuição (da riqueza) do que de fato estão”.
 
Entretanto, o informe omite alguns aspectos notáveis da história e do impacto do neoliberalismo.
 
O FMI sugere que o neoliberalismo foi um fracasso, mas que funcionou muito bem para 1% da população mundial, algo que sempre foi o propósito do FMI e do Banco Mundial. Tal como informou a organização Oxfam, em relatório difundido nos primeiros meses deste ano, o 1% mais rico da população mundial possui uma quantidade de riqueza equivalente a de todo o resto da população do planeta (do mesmo modo, a jornalista investigativa Dawn Paley comprovou em seu livro Drug War Capitalism (“A Guerra Capitalista Contra as Drogas”) que a guerra contra as drogas, longe de ser um fracasso, foi um tremendo sucesso para Washington e para as corporações multinacionais).
 
O informe do FMI escolheu o Chile como caso de estudo do neoliberalismo, mas não menciona nem uma só vez o fato de que as políticas econômicas e toda a ideologia neoliberal foram impostas no país durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), respaldada pelos Estados Unidos, uma omissão muito importante dos investigadores, e que não é casual, pois a ligação entre o terrorismo d Estado e a implantação do neoliberalismo na América Latina é um tema bastante conhecido.
 
Em 1977, em sua “Carta Aberta à Junta Militar” da Argentina, o valente jornalista Rodolfo Walsh denunciou a repressão desse regime, uma ditadura que organizou o assassinato e a desaparição de mais de 30 mil pessoas.
 
“Não obstante, esses acontecimentos que comovem a consciência do mundo civilizado, não constituem o maior sofrimento infligido o povo argentino, tampouco a pior violação dos direitos humanos que vocês já cometeram”, escreveu Walsh a respeito da tortura e dos assassinatos. “É na política econômica deste governo onde se percebe não só a explicação dos crimes, mas também uma gigantesca atrocidade que castiga a milhões de seres humanos: a miséria planificada…  Basta dar uma volta de algumas horas pela Grande Buenos Aires para comprovar a rapidez com que essa política transformou a cidade numa favela de dez milhões de pessoas”.
 
Tal como demonstra vividamente a jornalista Noami Klein em sua obra prima Shock Doctrine (“A Doutrina do Choque”), essa “miséria planificada”, formava parte da agenda que o Fundo Monetário Internacional impulsou durante décadas.
 
Um dia depois de Walsh enviar a carta à Junta pelo correio, ele foi capturado pelo regime, assassinado, queimado e teve seu cadáver atirado num rio, tornando-se outra vítima mais entre as milhões que o neoliberalismo já produziu.
 
Benjamin Dangl trabalhou como correspondente na América Latina, cobrindo movimentos sociais no continente por mais de uma década. É autor de livros comoDancing with Dynamite: Social Movements and States in Latin America, e também The Price of Fire: Resource Wars and Social Movements in Bolivia. Atualmente é editor do site UpsideDownWorld.org, sobre ativismo e política na América Latina.
 
Tradução: Victor Farinelli


Fonte: CARTA MAIOR
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Brasil recatado

As “belas, recatadas e do lar” da história do cinema
2016-04-20 12:36:09


Sylvia Kristel. Maria Schneider. Marilyn Monroe. Victoria Abril. Dezenas de mulheres em filmes de Fellini, musas de Almodóvar. Uma história da tradicional família mundial

Por Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)

Sou suspeito. Como fã de cinema italiano, diria que nenhum cineasta terá retratado tão bem as mulheres “belas, recatadas e do lar” como Federico Fellini. (A expressão foi consagrada pela revista Veja de uma forma que se propunha a ser séria, ao falar de Marcela Temer, mas foi ironicamente revertida em seu sentido original pelos internautas. A enumeração, por sinal, remete a um clássico do cinema italiano, os “Feios, Sujos e Malvados” de Ettore Scola.)
O vídeo acima exibe Saraghina, a personagem de Eddra Gale dançando rumba em um dos filmes mais importantes do cinema, o “Oito e Meio” de Fellini. Mas o cineasta – que se fartaria de fazer caricaturas no Congresso brasileiro – apresenta também Volpina (Josiane Tanzilli) e a a moça da tabacaria (Maria Antonietta Beluzzi) em “Amarcord”, ou um verdadeiro desfile de recatadas em “Cidade das Mulheres”. (Fellini estava à frente do seu tempo, ao eleger uma prostituta como protagonista nos anos 50, em “Noites de Cabíria”.)
O cinema italiano valeria uma coletânea específica. Por exemplo, com Ornella Muti em certos filmes de Marco Ferreri. Com Sophia Loren, talvez em “Um Dia Muito Especial”, de Scola. (Nesse caso, de fato recatadíssima. Ma non troppo.) Mais recentemente com a espanhola Penélope Cruz no “Não se Mova”, de Sergio Castellitto. Com Bernardo Bertolucci escandalizando em “Último Tango em Paris”. Ou, mais precisamente, a francesa Maria Schneider:
Mas vou me conter. E migrar para o cinema francês, ali do lado. Bom, quem seria mais bela (e recatada) que a holandesa Sylvia Kristel? Lembro-me da música de Pierre Bachelet para a série que marcou época, em um clima que só podia ser explicado pela revolução dos costumes do Maio de 1968: “Melodia de amor que cantava o coração de Emmanuelle…”
Mas antes de exemplos mais explícitos temos toda a tradição das femme fatale. (Presentes também nos quadrinhos. Valentina. Elektra. Mulher-Gato.) Da França aos Estados Unidos. Brigitte Bardot. Catherine Deneuve. Lana Turner. Bo Derek.
Cinema americano. Bom, são tantas. Quem melhor sintetizaria a condição de bela e recatada mulher do lar? Rita Hayworth? “Nunca houve uma mulher como Gilda”. Marilyn Monroe? Mas vou ser mais contemporâneo – ou quase – e homenagear Thelma e Louise (Susan Sarandon e Genna Davis). Pelo, digamos, puritanismo:
Ok, ok. Vocês venceram. Não dá para fazer uma coletânea como esta sem uma imagem de Norma Jeane Mortenson (1926-1962). Marilyn, Marilyn:
E como esquecer de Lena Olin em “Insustentável Leveza do Ser”? (Passa-se na Tchecolosváquia, mas o filme é americano, com Daniel Day-Lewis e a francesa Juliette Binoche. Uma mulher de sorte.)
Cinema espanhol. Pedro Almodóvar tinha características de extrema discrição, como sabemos. Com personagens particularmente contidos, prontos para algum cerimonial no Palácio do Planalto. Aqui, Victoria Abril em “Ata-me”:
victoriaabril
Finalmente, o cinema brasileiro. De Virgínia Lane a Sonia Braga, de Norma Bengell a Leila Diniz. Mas aqui não tem para ninguém, não é mesmo? Relembremos da dama das damas, a grande vedete Dolores Gonçalves Costa (1907-2008). Também conhecida como Dercy Gonçalves:
Observo que não coloquei datas nos filmes. Ah, mas quem precisa de datas? Essas mulheres serão sempre eternas, eternamente caseiras, belas e recatadas. Merecem capas toda semana nas revistas de todo o Brasil.
(Abaixo podemos ver Volpina, a discreta personagem de Fellini em “Amarcord”. No fim do vídeo podemos ver um poeta em ação. Como Michel Temer e a revista Veja, um poeta!)



Os nomes da rosa
2016-02-23 16:27:23

Por Camilo Vannuchi

Na primeira vez que tentei ler "O Nome da Rosa", desisti na primeira página. Bastaram seis ou sete palavras em latim para que eu deixasse o livro de lado. Devo ter lido umas três vezes o primeiro parágrafo, duas vezes o segundo, e mesmo assim nada fazia sentido. Eu tinha provavelmente 11 ou 12 anos na ocasião.

- É um livro sobre igreja - concluí.

Uma coisa me intrigava. Não havia fotos nem ilustrações. Mas uma página exibia um esquema da incorporação do mosteiro, uma espécie de planta baixa, com suas galerias, entradas e saídas, as torres e a biblioteca. Demorei-me um pouco mais naquele desenho. Alguém me explicou, não sei se meu pai ou minha mãe, que o livro narrava uma série de mortes de religiosos, e que a ilustração ajudava o leitor a localizar cada um dos crimes, acompanhando a investigação conduzida por um frade de fora, em visita ao local. Fã de Conan Doyle e Agatha Christie aos 12 anos, entusiasmado com os assassinatos em série narrados em "O Caso dos Dez Negrinhos", que mais tarde seria rebatizado no Brasil, entendi que "O Nome da Rosa" contaria a mais impressionante investigação da qual eu já tomara conhecimento.

- É um livro de detetive - percebi.

Nos anos que se seguiram, eu ainda não me sentia à vontade para enfrentar o latim e as digressões sobre filosofia e religião que suas centenas de páginas encerravam. Mas vi o filme. Mais de uma vez. Ali, o Poirot de Umberto Eco era interpretado por um Sean Connery de batina e cucuruto raspado, tão inteligente quanto o texto que o inspirara. A atmosfera noturna do longa, o clima de desconfiança, o risco iminente, tudo isso conduzia para uma aflição permanente: esse frade vai deixar que todos morram antes de solucionar o mistério?

Da primeira vez que vi o filme, iniciando o Ensino Médio, ficou a lembrança do sexo escondido, cheio de culpa, feito às pressas pelo jovem noviço com uma sedutora garota que, anônima, representava tudo aquilo que um aspirante deveria evitar: o desejo, a liberdade, os hábitos profanos, a hipótese de bruxaria. O rapaz, narrador do filme, lamentava, depois de velho, jamais ter conhecido seu nome.

- É um livro sobre a paixão - decidi.

Na segunda vez que vi o filme, pouco depois, talvez aos 17, foi o aspecto político que eclodiu. Inquisição, censura, intrigas, poder, disputas e, principalmente, hipocrisia. Religiosos anunciavam o Evangelho e, nos bastidores, abraçavam o capeta. Quem ardia na fogueira? O mais fraco, é óbvio. O feio, o tonto, o pobre, o grotesco, os desajustados. A puta. A bruxa. Ou seja: a mulher. Difícil a tarefa de investigar o que não deve nunca ser investigado, denunciar o que ninguém jamais deveria saber. Difícil a tarefa de cortar a própria carne, dar os anéis para preservar os dedos, punir os membros podres de uma igreja decrépita para preservar a instituição e ajudá-la a renascer melhor, mais limpa. Um enredo que diz muito sobre a política brasileira de 2016.
- É um livro sobre resistência.
Quando finalmente li "O Nome da Rosa", aos 20 e poucos anos, aflorou diante dos meus olhos o mais fascinante dos segredos sobre aquele livro tão comentado, algo que o filme jamais conseguiu mostrar de forma clara, e que tornava ainda mais mágica a obra daquele monstro sagrado da literatura e da semiologia chamado Umberto Eco. Tudo ali, as mortes, a investigação, a censura, as disputas, o sexo, girava em torno de um tesouro supremo, que a tudo une e a tudo atribui significado. O conhecimento. Precisamente, na alegoria de Eco, o conhecimento sobre a alegria, algo há muito sonegado das gentes, difamado como algo pequeno, menor, talvez como pecado. A alegria que em tudo deveria permanecer como regra e norte, costurando como laço o sagrado e o profano.

- "O Nome da Rosa" é um livro sobre o riso.

Fonte: NOVA ERA
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A beleza da "Juventude" e a corja do 17 de abril

"O futuro é uma grande oportunidade de liberdade e a liberdade é uma grande oportunidade da juventude"
publicado 07/06/2016
juventude
Caine rege uma orquestra imaginária de vacas!
Conversa Afiada reproduz do site "Uma coisa e outra" inspirada crítica de Léa Maria ao filme "Youth" de Sorrentino:


Beleza na tela e a imundície em Brasília

Filme A  Juventude

Léa Maria Aarão Reis*
Enganam-se os que pensam que, neste momento sombrio do Brasil, viver e respirar unicamente os desdobramentos da política doente de Brasília – e como corolário, a resistência ao golpe – é fato imperativo absoluto. Janelas de cultura e da arte, com ar fresco e saudável, podem fazer, mais do que nunca, a vida suportável para a nossa renitência.

Farta do deboche que os golpistas fizeram com o meu voto, e enojada com o que ocorre no congresso, nos tribunais, no MP e na velha mídia; cansada de ver o grotesco nos homens dos ternos com cheiro de mofo e nas mulheres  travestidas de peruas,  - “aquela corja que se exibiu para o Brasil e para o mundo no dia 17 de abril” como diz  Emir Sader. E também no Senado.

Farta de ver os esgares ensaiados, sorrisos irônicos debochados e cabelos pintados acintosos ou implantados em calvícies irreversíveis; cochichos protegidos pelas mãos que escondem de nós, cidadãos eleitores, a verdade do que realmente dizem e pensam (e não querem que saibamos).

Cansada da agressão das gravatas caras e horrendas; as roupas ensebadas retiradas dos armários onde aguardaram, com naftalina, um novo uso, desde 1964; e dos olhares fugidios de golpistas, das gomalinas dos “traidores e os desleais” denunciados pela presidente eleita Dilma Rousseff.

Farta das imagens da desavergonhada máfia nacional oligárquica - arrogante, pretensiosa e inculta -, que tomou de assalto o poder; e  intoxicada pela enxurrada diária do noticiário vendido que não cessa de surpreender e deprimir através de “artes e manhas” malévolas; por todo o lixo que estamos constrangidos a consumir no atual ambiente de cupidez e falta de vergonha, é com esforço libertarmo-nos do labirinto sinistro em que se transformou a vida política nacional e mergulhar na pura beleza da arte do cinema.

O filme do italiano Paolo Sorrentino, A Juventude (Youth), é um dos melhores que assistimos, no período de um ano. Uma reconciliação com a vida através da sua beleza.

Está há mais de um mês em cartaz nos cinemas do Rio e de São Paulo, e é outro sucesso do roteirista e diretor napolitano, autor de A grande beleza, com o qual ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro de 2014, o Globo de Ouro de então, e o Bafta de melhor filme em língua estrangeira. Em ambos, o mesmo tema: a brevidade da vida e o exorcismo do medo da morte.

Sorrentino, 46 anos, é da nova geração européia que areja e renova o cinema. Há 20 anos abandonou seus estudos de Economia para fazer filmes. Dirigiu, aliás, um estranho e excelente filme, nos Estados Unidos, com Sean Penn como um roqueiro recluso que persegue um nazista depois da morte do pai, intitulado Aqui é o Meu Lugar, (2012), aqui exibido discretamente. David Byrne canta, nesse pequeno e belo filme com uma trilha musical impecável. Imperdível.

Discípulo de Fellini, com controle firme de uma linguagem extrovertida cinematográfica, e mestre da caricatura e da crítica, o italiano utiliza estruturas de narrativa semelhantes à do maior-de-todos, no seu La grande belezza e, agora, em A Juventude: diálogos curtos e ferinos –  no melhor estilo cortante da inteligência italiana - entrelaçados a clipes de imensa beleza plástica e povoados com personagens simbólicos na sua super- dimensão - tipos arrivistas, fúteis e ridículos da alta e média burguesia. A elegância das câmeras de Sorrentino continua suprema: elas vão e vêm em todas as direções.

Com este  Youth ele contrapõe à histeria das grandes festas e às manobras e intrigas da falsa beleza, do filme anterior, a placidez e despreocupação dos velhos ricos instalados na paz um pouco modorrenta dos privilegiados, mergulhados na água de piscinas medicinais e absolutamente silenciosas – e no esplendor da verdadeira beleza; a da natureza.

Fred Ballinger (o formidável ator britânico Michael Caine fazendo um personagem inspirado no célebre maestro Ricardo Muti, também napolitano como Sorrentino), Mick Boyle (grande ator americano Harvey Keitel, um pouco calcado nos cineastas Sidney Lumet e William Friedkin) e Brenda Morel (uma Jane Fonda irreconhecível, numa ponta forte, fazendo uma bruxa, uma ex-super estrela ressentida que vem atormentar o amigo), os três representam o mito dos artistas que passam. Em contraponto, a juventude de meia dúzia de personagens secundários se interpõe na reta final das existências desses ícones.

Fred, célebre diretor de orquestra e compositor aposentado não deseja voltar a pisar nos palcos após a morte da mulher. Mick, cineasta em crise criativa, tenta concluir um roteiro para o que seria seu último filme. E há Brenda (Fonda), que o abandona pelas séries de televisão que pagam mais que o cinema.

Além dos veteranos, aparecem Lena (Rachel Weisz), filha e ajudante de Fred, e Jimmy Tree (o brilhante ator Paul Dano), outro hóspede do hotel/spa, nos Alpes, no qual Fred e Mick passam as férias todos os anos. O cenário é idílico e, lá, o tempo parece congelado. No filme, ambientado no antigo sanatório para tuberculosos de Davos, na Suíça, no qual Thomas Mann escreveu sua obra-prima A Montanha Mágica, Sorrentino faz uma pequena menção a Maradona através de um personagem hospedado no mesmo local.

Uma das mais belas pequenas sequências do filme é a do velho maestro regendo, no silêncio profundo do ambiente, uma orquestra imaginária composta pelas vacas das imediações. Com sua particular visão estética do cinema, Sorrentino une, novamente, música e imagens, produz um magnífico balé visual e, a partir da velhice e da decadência, presta homenagem à juventude.

Para ele, o filme é "otimista e uma excelente oportunidade para exorcizar o medo da passagem do tempo, do envelhecimento, da morte física e mental.” Na entrevista coletiva após a exibição do filme para a imprensa ele comentou: "O futuro é uma grande oportunidade de liberdade e a liberdade é uma grande oportunidade da juventude.

Um dos recados do filme é este: a beleza da liberdade não é ser livre para fazer o que quiser, mas estar consciente reconhecendo a possibilidade de liberdade.

Lembra o que Flavio Dino, o governador do Maranhão disse, diante da violência do assalto ao poder político, no Brasil: a razão e a lucidez são instrumentos decisivos para derrotar o golpe parlamentar e recobrar a liberdade.

E, por que não?  A arte  e a beleza também, como estamos vendo nas ocupações dos jovens através de todo o país.

*Jornalista
Fonte: CONVERSA AFIADA
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