quinta-feira, 7 de abril de 2016

477 - Versão neoliberal

MPF proíbe atos nas Universidades. Querem matar a democracia, que lhes deu a vida

ditadura
Quando eu era estudante universitário, nos tempos da ditadura, algum espaço de liberdade persistia dentro das universidades.
O famigerado Decreto 477, baixado por Costa e Silva, em 1969, caíra em desuso e seria revogado, em 1979.
Universidade sem liberdade de pensamento e de expressão deste pensamento não existe: é um corpo morto.
Agora, por iniciativa do Ministério Público Federal, esta instituição que vai se tornando maldita como toda aquela que atenta contra sua mãe, a liberdade, ele está voltando.
O Ministério Público de Goiás enviou uma “recomendação” (recomendação uma ova, porque o mesmo texto já requisita a relação de eventos já ocorridos e seus responsáveis) à Universidade Federal de Goiás para que “não realize nem permita, em suas dependências físicas, nenhum ato de natureza político-partidária, tendo por objeto o processo de impeachment da Presidente da República, seja favorável ou contrariamente”.
Como, nas Universidades, é fortíssimo o movimento antigolpe e inexpressivo o do “impeachment” fica claro o alvo dos procuradores, muito bem pagos com o dinheiro público. Aliás, nem escondem seu lado, pois no mesmo texto avaliam que há “grandes manifestações  de brasileiros que pugnam pela cassação do mandato da Chefe do Executivo Federal” e apenas “protestos de grupos adversos  ao impeachment”.
Quem assina a ordem para este  arreganho autoritário são os procuradores Aílton Benedito de Souza e Cláudio Drewes Siqueira.
O primeiro ficou conhecido por intimar o Itamaraty explicar a  convocação de “26 jovens do Brasil para compor  Brigadas Populares de Comunicação na Venezuela”. Brasil era apenas o nome de um bairro da cidade venezuelana de Cumatá. Pura idiotice.
O segundo, pela tentativa de proibir a veiculação de comerciais sobre as Olimpíadas e Paraolimpíadas, sob aalegação de que “seu objetivo é estimular na sociedade sentimentos favoráveis à Presidente da República, ao seu governo e à coalização partidária que lhe empresta sustentação, num momento em que, como “nunca antes na história deste país”, estão mais fragilizados politicamente, enfrentando elevadíssima rejeição social, inclusive, com processo de impeachment já deflagrado na Câmara dos Deputados, cujo resultado dependerá sobremaneira das manifestações da sociedade que acontecerão nos próximos meses”.  
Que autoridade têm estes senhores para falar em atos “favoráveis ou contrários” ao impeachment se eles próprios, no exercício da função pública, os praticam?
Agora, antes mesmo de implantarem sua ditadura, já investem contra a liberdade nos campus universitários.
O que mais farão depois?
Fonte: TIJOLAÇO
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Em todo o tempo de estudante universitário, tanto na UERJ como na UFRJ, convivi com o decreto 477 da ditadura militar.

Qualquer tipo de associação ( grêmio universitário, diretório acadêmico,etc.) era proibida. Também eram proibidos a exibição de filmes e shows musicais.

Protestos, de qualquer natureza, nem pensar.

Fora das salas de aula, existia, apenas, um pequeno espaço para jogos de tenis de mesa e totó. Nada mais.

Qualquer proposta de atividade cultural que partisse dos estudantes era sempre negada pela direção da universidade e sempre eramos lembrados, em tom de ameaça, do decreto 477.

Fora das salas de aula, pouco se podia fazer.

E é com surpresa que vejo procuradores tentando calar a liberdade de expressão e de pensamento em uma universidade federal, assim como fizeram os militares no período da ditadura militar no país.

Um retrocesso que certamente dará ainda mais motivação aos jovens e estudantes, não apenas da Universidade Federal de Goiás como de todo o país, na luta contra o golpe anti-democrático em curso no congresso nacional.

Tema do PIG



O partido da imprensa golpista, o PIG, ganhou uma música tema.

A canção Piggies, dos Beatles.


Abaixo a versão em inglês e a tradução



Piggies

Have you seen the little piggies
Crawling in the dirt?
And for all the little piggies,
Life is getting worse;
Always having dirt to
Play around in.

Have you seen the bigger piggies
In their starched white shirts?
You will find the bigger piggies
Stirring up the dirt
Always have clean shirts to
Play around in.

In their styes with all their backing,
They don't care
What goes on around.
In their eyes there's something lacking.
What they need's a damn good whacking.

Everywhere there's lots of piggies
Living piggy lives.
You can see them out for dinner
With their piggy wives.
Clutching forks and knives to
Eat their bacon.

Porquinhos

Você já viu os porquinhos
Rastejando na lama?
E para todos os porquinhos
A vida vai ficando pior
Sempre tendo sujeira para
Se esbaldarem

Você já viu os grandes porquinhos
Em suas camisas brancas engomadas?
Você irá encontrar os grandes porquinhos
Revolvendo a sujeira
Sempre há camisas limpas para
Eles se esbaldarem

Em sua pocilga com todo o forro
Eles não se importam
Com o que está rolando
Em seu olhos existe algo faltando
O que eles precisam é de uma boa palmada

Em todo lugar há muitos porquinhos vivendo
Uma vida porca
Você pode vê-los jantando fora
Com suas esposas porquinhas
Segurando garfos e facas para
Comerem o bacon


quarta-feira, 6 de abril de 2016

Globo com medo da Força

O Globo corta a “Força” da foto de Dilma, mas tem de admitir que ela se fortaleceu

duascapas
As duas capas com uma “pequena diferença” na foto de Dilma Rousseff na cabine do mega-avião cargueiro KC-390, da Embraer, vão para a história do jornalismo quando se falar na tentativa de golpe em 2016.
A da esquerda, da primeira edição, foi editada com sensibilidade e apanhou o início do “Força Aérea Brasileira” para fazer o gancho com a situação que a manchete descreve, de que a situação da presidenta da República ainda não é fatal nem mesmo na arapuca montada na comissão de impeachment por Eduardo Cunha. Embora não se possa esperar muito de lá – onde é exigida apenas maioria simples, isso denota que não será nada fácil obter os 342 votos no plenário da Câmara.
O jornal já estava rodando e os primeiros exemplares, que vão para fora do Rio, já tinham sido despachados.
Aí apareceu alguém – algum personagem sinistro, decerto – e disse: assim não pode, assim não dá!
– Como assim? 
-Como é que vocês vão dar força a essa mulher?
-Que força, chefia? Ah, esse negócio da foto…é que o avião…
-Que mané avião, rapaz. Isso é coisa subliminar, de comunista, para barrar o impeachment. Coisa de comunista, pensa que eu não sei? Eu também já fui, no tempo em que ganhava pouco…Sei muito bem como vocês agem…
-Mas, chefe…
-Nem mas nem meio mas, corta a Força. Se quiser brincar de Força, vai ver Star Wars.
E o personagem de voz metálica  saiu, luzindo o capacete negro e o manto igual, como as camisas de Sérgio Moro.

Porque não podem mais nos calar? 60% dos lares têm internet, ora


web
O IBGE divulgou hoje sua pesquisa sobre o uso de internet no Brasil
Em 2014, 54.4% dos domicílios brasileiros tinham conexão com a web. Mantido o crescimento dos últimos anos, é perfeitamente possível dizer que hoje este número ronda os  os 60%.
Dez anos antes (2004), eram 12%.
Entre os jovens (15 a 30 anos) são 80% ou mais, hoje.
Claro que a rede é dominada – o mundo inteiro é – pelos grandes grupos empresariais. Produzem muita besteira, pouco conteúdo e promovem enormes interesses.
Mas a internet é tão imensa que sobra espaço, como em nenhum outro meio de comunicação, para as pessoas e para as ideias que se opõem à dominação.
E a dominação depende do silêncio, depende que o menino não possa dizer que o rei está nu.
A grande mídia tem a hegemonia dos meios de comunicação e os meios de comunicação têm cada vez mais hegemonia no processo de formação (e deformação) do pensamento coletivo.Porque o que eles defendem é ruim, falso, perverso, desumano.
Têm a hegemonia, mas cada vez menos têm o monopólio.
Porque são gigantes e nós, formiguinhas.
É por isso que eles vão sempre começar ganhando.
E muito provavelmente terminar perdendo.
Fonte: TIJOLAÇO
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Globo com medo da força.

A força das formiguinhas, um batalhão.

Atualmente, em tempos de internete, Globo só pode mesmo cortar a força na manchete.

E ainda assim para mico.


A saída é pela esquerda

Jornal Nacional 'interna' Janaína Paschoal

Por Altamiro Borges



A advogada Janaína Paschoal, nova musa dos golpistas, ganhou alguns minutos de fama ao exibir os seus dotes teatrais num ato pelo impeachment de Dilma Rousseff em São Paulo, na segunda-feira (4). Com gestos próximos à insanidade, ela berrou pela queda da presidenta e, invocando Deus, afirmou que era preciso "cortar as asas" de Lula. O vídeo bombou na internet. Mas, pelo jeito, constrangeu até os seus bajuladores. Prova do tiro no pé, o Jornal Nacional desta terça-feira decidiu "internar" a tal advogada do impeachment, censurando o seu discurso carregado de ódio. A não exibição gerou nova corrida às redes sociais, com críticas à emissora golpista da famiglia Marinho.

A jornalista Mariana Godoy, que já trabalhou na TV Globo, questionou o sumiço: "Por que o JN não mostrou a Janaína Paschoal?". Um internauta ironizou: "Até a TV Globo ficou com vergonha daquela loucura". Outro provocou: "Se a Janaína fosse do PT, hoje no JN você veria seu discurso". Teve ainda questionamento à seletividade da mídia: "Depois do show de 'sobriedade' da advogada na USP seria interessante indagar. E aí #istoémachismo, vai dar ou não capa para ela?". Já a filósofa Márcia Tiburi, autora do imperdível livro Como conversar com um fascista, explicou o impacto do discurso omitido pela emissora: "Janaína Paschoal: Não é loucura, é fascismo".

Muitos internautas ainda lembraram que a musa do impeachment advoga para o procurador Douglas Kirchner, que nesta semana foi afastado do cargo por ter participado de sessões de tortura contra sua própria esposa. A exemplo de Janaína Paschoal, o maluco também pretendia "cortar as asas" de Lula, utilizando a midiática Operação Lava-Jato para atacar o ex-presidente. Só que o Conselho Nacional do Ministério Público decidiu, por 12 votos a dois, demiti-lo após confirmar as acusações sobre sua militância doentia numa seita religiosa que prendeu e torturou sua ex-mulher. Mesmo com as provas, a advogada que invoca Deus ainda insistiu na inocência do seu cliente. A TV Globo também evitou tratar deste caso escabroso, optando por "internar" os dois golpistas insanos.

Fonte: Blog do Miro
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A advogada Janaína não surtou.

Sua performance/discurso , teatralizada, foi proposital, em busca de um lugar de destaque no lado político que defende.

Em tempos de disputa política acirrada, janaínas proliferam, independente do lado.

Surto, mesmo, vivencia uma parcela da sociedade brasileira que sai às ruas a favor de um impeachment que a maioria não sabe nem mesmo como justificar.

Argumentam, os defensores do impeachment, que pedem a saída da presidenta por conta da corrupção.

Curioso é que a presidenta não foi legalmente acusada de nenhum ato de corrupção e nem mesmo está sendo investigada na Operação Lava jato.

Em surto, mesmo, estão todos aqueles que se informam pela velha mídia sem fazer um mínimo de reflexão ou análise crítica sobre as informações recebidas.

O surto, coletivo e bizarro, pode ser compreendido, em parte, pela declaração dada à mídia, esta semana,  por um cacique de um partido de oposição ao governo antevendo uma derrota do impeachment:

- não iremos jogar a toalha. Temos que trabalhar com todas as possibilidades, incluindo a proposta de eleições para presidente este ano. Se não formos bem sucedidos, não iremos deixar o governo governar.

Outros políticos de oposição, caciques de alta plumagem, também repetem diariamente com grande repercussão na velha mídia que a presidenta tem que sair, como se a saída da presidenta fosse algo definitivo, irreversível, inquestionável, e que ainda não aconteceu devido as teimosias e manobras do governo.

Com essas "notícias" sendo repetidas com frequência pela velha mídia, sem nenhum tipo de questionamento, obviamente que uma grande parcela da população passa a repeti-las e também não admitindo que magistrados, políticos, artistas e outras pessoas com visibilidade, se posicionem contrárias ao impeachment em suas áreas de atuação.

Assim sendo, a parcela da sociedade em surto faz ameaças, e mesmo interpelações , à magistrados, artistas e à todos aqueles contrários ao impeachment e que de alguma forma ou meio, desfrutam de visibilidade.

Janaína, a advogada, apenas pegou carona no clima para desfrutar alguns minutos de fama.

Irracionalidade, mesmo, tem sido o comportamento da velha mídia e de políticos de oposição, que apostam na multidão acéfala para validar seus projetos políticos.

Ouvir declaração de um político de oposição que se o impeachment não passar o governo não irá governar - um governo eleito pela maioria da população, com 54 milhões de votos, e de forma livre e democrática - e ainda não ouvir nenhum questionamento da mídia sobre esses tipos de declarações, contribui para entender o comportamento totalmente irracional de parcela da população que apoia o impeachment.

Janaína alimentou essa irracionalidade, procurando holofotes e espaços no panteon dos golpistas, irresponsáveis. Nem sempre se vê mágica no absurdo.

A oposição ao governo, responsável, é necessária e bem vinda, haja visto os erros do governo Dilma.

Por outro lado, ao governo Dilma, que fique a lição:

A vitória contra o golpe do impeachment está sendo possível graças as movimentos populares e de parcela da população em defesa da democracia.

Isso significa que no novo pacto o governo deve se voltar para o povo, com políticas sociais, naturalmente à esquerda.
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Por que a democracia já está vencendo o golpe?

A vitória da legitimidade democrática está criando bases para decisões que respeitem a Constituição e abre espaço para a construção da governabilidade

Juarez Guimarães

Em um golpe na democracia que se realiza por dentro das instituições jurídicas e parlamentares contra a Constituição e a soberania popular, a relação entre o uso da legitimidade e da força é diferente daquela necessária a um golpe militar. Neste último, como em 1964, o uso da força militar resolve o impasse da disputa de legitimidade. Mas mesmo neste caso, como a direção golpista das Forças Armadas aprendeu com a derrubada de Getúlio em 1954 e as tentativas frustradas de golpe contra Juscelino e pelo impedimento da posse de Jango Goulart, é necessária alguma base de legitimação de massas.

Na modalidade de tentativa de golpe na democracia que está agora em curso, a disputa da legitimidade democrática é decisiva. E há evidências de sobra que esta batalha decisiva está sendo perdida pelos golpistas.

As evidências mais exuberantes são as manifestações democráticas que, retomadas neste ano nos atos do dia 18 de março, continuam a florescer, com centenas de milhares, por todo país. No dia 31 de março, embora a manifestação em São Paulo continuasse muito massiva, o epicentro político se deslocou para o grande ato de Brasília, para a bela manifestação com Chico Buarque no Rio de Janeiro e para a grande retomada das ruas pela esquerda em Porto Alegre e em mais vinte cidades gaúchas. No dia 2 de abril, foi a vez de Fortaleza em vigoroso ato com a presença de Lula.

O grito “não vai ter golpe”, definitivamente, tomou as ruas, as redes e os ares do Brasil. E ganhou, pela primeira vez, um estatuto internacional com manifestações simbólicas e combativas em muitas capitais do mundo, a começar por Lisboa e Coimbra, exorcizando o seminário golpista organizado por Gilmar Mendes. A deslegitimação internacional do golpe está bastante avançada, não apenas na América Latina, mas em artigos publicados nos jornais de maior circulação, e isto é fundamental nestes novos tempos em que até a globalização neoliberal faz um apelo retórico à democracia.

As evidências podem ser verificadas também pela negativa, isto é, pela crescente deslegitimação dos principais personagens, símbolos e instrumentos do golpe.

A começar por Temer: em um golpe como esse, a passagem para a imaginação de um novo governo é um momento crucial. O futuro governo Temer, tratado já como realidade imperativa pela mídia golpista, agora é passado: está profunda e definitivamente desmoralizado.

A dupla Moro- Janot vive certamente o seu maior momento de deslegitimação pública desde o início da Operação Lava-Jato. A sua corrupção e o seu reiterado partidarismo, a sua seletividade e seu caráter de facção, estão cada vez mais desnudados para a opinião pública. Aquela que seria a sua consagração no meio jurídico – o apoio quase unânime do Conselho Federal da OAB – tornou-se o seu contrário: questionada por quatro ex-presidentes democráticos da entidade, contestada por um manifesto de oito mil advogados e juristas, ironizada até pelo bandido Cunha.

Esta deslegitimação se volta agora cada vez com maior força aos grandes veículos da mídia golpista. O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto realizou o maior ato da história contra a Rede Globo em São Paulo, com dezenas de milhares de pessoas. Muitos artistas da própria Globo já vieram a público protestar contra o golpe promovido por seus patrões.

Em uma luta pela hegemonia, vence quem põe a questão que o adversário é obrigado a responder. E a retórica golpista, ali mesmo onde ela se produz e reproduz, está cada vez mais sob interpelação: no argumento vago e impreciso de FHC em seu artigo dominical em O Estado de São Paulo, no editorial cínico de Otávio Frias, no argumento defensivo do editorial de O Globo, na cisão oportunista de Aécio ao se pronunciar em Lisboa que o PSDB não participará de um governo que não seja eleito pelo voto.

Se a campanha das diretas já marcou a consciência do fim da ditadura militar, a resistência democrática ao golpe hoje é o sinal histórico de sua maturidade. Enquanto consciência popular, a democracia brasileira está já além de suas instituições jurídicas, midiáticas e parlamentares.

A disputa da legalidade

Esta derrota dos golpistas no campo da legitimidade democrática, está criando pela primeira vez uma fratura cada vez maior na dinâmica de legitimação midiática da violação do devido processo legal e da Constituição que vinha sendo feita pela Operação Lava-Jato desde os seus inícios.

O ponto de inversão foi certamente o episódio do depoimento coercitivo do ex-presidente Lula pelo juiz Moro e suas imediatas reações. Ali o juiz Moro ficou, pela primeira vez, isolado.Depois, veio o episódio grotesco dos procuradores de São Paulo a pedir a prisão de Lula. Ficaram desmoralizados. Seguiu-se a mais criminosa ainda divulgação dos grampos do ex-presidente Lula, da presidenta Dilma e dos escritórios de advogados de defesa, pelo juiz Moro e autorizada por Janot. Moro, desta vez, sofreu uma condenação generalizada.

Na sequência, a liminar escandalosamente ilegal concedida por Gilmar Mendes a um pedido de sua própria funcionária para impedimento da posse de Lula e para a continuidade de seu processo em Curitiba, seguida pela peça absurda de janot, que indicava ao STF o não impedimento da posse de Lula como ministro mas a continuidade de sua investigação por Moro. Ambos foram, por unanimidade, derrotados pelos juízes do STF.

Se o impeachment é previsto na Constituição, a caracterização do crime de responsabilidade da presidenta Dilma foi sempre a grande impossibilidade argumentativa dos golpistas. A atualização, didática e defintiva, dos argumentos que demonstram esta impossibilidade argumentativa está no longo ensaio “Afinal, a quem a OAB representa? O pedido de impeachment pela OAB e a tentativa de golpe de Estado em curso no Brasil”, dos professores de Direito Constitucional Alexandre Gustavo Melo Franco de Moraes Bahia, Diogo Bacha e Silva e, Marcelo Andrade Cattoni de Oliveira e Paulo Roberto Vecchiatto, no site Empório do Direito, de 31 de março de 2016.

Fundamental neste processo tem sido o reposicionamento do governo Dilma, através do seu novo Ministro da Justiça. Lembre-se que até janeiro o governo Dilma e o ex-ministro da Justiça davam ainda cobertura de legitimidade às ações da Lava-Jato, apesar do seu caráter nitidamente corrompido e golpista. Agora, não: a palavra do novo Ministro Aragão, sóbria, exata, firme, tem estabelecido e cobrado novos padrões de respeito à legalidade e à não instrumentalização do poder judiciário, da Polícia Federal e da Procuradoria Geral da República.

Governabilidade e derrota do impeachment

Na divisão de trabalho midiático dos golpistas, coube certamente às empresas Folha de S. Paulo e Uol, com suas reservas de credibilidade informativa e de pluralismo mesmo muito restringido, o grande papel na disputa entre os formadores de opinião. Se a Rede Globo se comunica com as massas, junto com as rádios noticiosas como a CBN, se os colunistas do PSDB, espalhados por quase todos os jornais brasileiros, pregam para os já convertidos, as empresas de Frias contam decerto com alguma reserva de credibilidade para o público.

Ora, no plano da opinião editorial, da agenda, do enquadramento da notícia, da análise e da formação de opinião, as empresas de Frias certamente merecem um estudo à parte. Como praticam a desinformação sistemática, o pluralismo de exceção, a fraude permanente dos princípios básicos do jornalismo! Há dois anos viemos tomando conhecimento, dia a dia, da queda iminente do governo Dilma.

Quantas manchetes – neste jornalismo cínico de ficção – foram dadas à montagem de ministério do governo... Temer. Quantas análises montadas em opiniões dadas anonimamente, atribuídas a fulano, quantas especulações formadas a partir de um se estrategicamente posicionado, quanta informação distorcida, retirada do contexto, direcionada até em sentido contrário ao original. Uma retranca “Governo sitiado” acondiciona tudo: na ausência de um golpe militar, a Folha/Uol já decretou o estado de sítio?

E, no entanto, como hoje já se noticia, a maioria necessária para o impeachment parece estar longe de ser alcançada. Será que ela tem o mesmo estatuto ontológico do futuro governo Temer?

Logo, saberemos. Se o PMDB continua tão dividido, se o agora chamado “baixo clero” se movimenta fisiologicamente em massa em direção ao governo Dilma (uma pergunta ao UOL: será Eduardo Cunha um membro do “alto clero?”), não será por que há muita incerteza e dúvida quanto à aprovação do impeachment?

Neste movimento dos barcos – os ratos já começam a pular fora do barco furado do impeachment, a começar por quem mais o promove, como o editor da Folha de S. Paulo? – pode vir a ser decisiva a entrada do ex-presidente Lula para dar um novo horizonte e uma nova direção à nau do governo Dilma.

Nestas próximas duas semanas, as ruas e as redes vão ecoar cada vez mais alto o “não vai ter golpe”. É hora do governo Dilma afirmar em alto e bom som, como uma vez afirmou o ministro do Trabalho, Miguel Rossetto, que “haverá democracia e haverá mais direitos”!

Fonte: CARTA MAIOR
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terça-feira, 5 de abril de 2016

Assédio golpista


Novas eleições? "Convença o Congresso e depois fale comigo", diz Dilma 05/04/2016 11h3

Do UOL, em São Paulo

Alvo de um processo de impeachment na Câmara, a presidente Dilma Rousseff ironizou, nesta terça-feira (5), a proposta de convocar novas eleições gerais como uma medida para encerrar a crise política que atinge o país. "Convence a Câmara e o Senado a abrir mãos de seus mandatos, aí vem conversar comigo", declarou.

Segundo reportagem da "Folha de S.Paulo", a proposta vem sendo articulada por nove senadores do PSB, PPS e Rede. A ideia ganhou o endosso do senador Valdir Raupp (PMDB-RO) na segunda-feira.

Em discurso na tribuna do Senado, ele afirmou que a possibilidade equivaleria à antecipação do fim do mandato, e não a renúncia ou impeachment. "Seria (...) antecipar as eleições presidenciais que aconteceriam agora em outubro próximo, concomitantemente com as eleições municipais", explicou Raupp, segundo o qual a proposta não foi discutida com o PMDB.

Hoje, porém, Dilma demonstrou pouca preocupação com a possibilidade. Segundo ela, aceitar novas eleições seria abrir mão da segunda metade de seu mandato.

"Eu acho que essas propostas [novas eleições], como várias outras, são propostas. Não rechaço nem aceito", disse a presidente ao ser questionada por jornalistas.

No domingo, em resposta ao editorial da "Folha de São Paulo" --que pedia a renúncia da presidente e do vice-presidente Michel Temer (PMDB) para que possam ser convocadas novas eleições--, Dilma disse que "jamais renunciará"
e
A possibilidade de novas eleições também foi levantada nesta terça-feira também pela Rede Sustentabilidade, partido de Marina Silva. A presidenciável lidera pesquisa Datafolha de intenções de votos à presidência para 2018, tendo entre 21% e 24% das intenções.

Fonte: BOL
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Golpista uma vez, golpista sempre.

Como cresce a probabilidade de o golpe do impeachment ser derrotado, os golpistas já pensam em uma nova modalidade de golpe.

O novo golpe seria antecipar as eleições de 2018 para outubro deste ano.

Essa obsessão pelo golpe tem semelhanças, bem nítidas, com práticas de assédio sexual, bullying, assédio moral etc.

Como tal, sugiro que se discuta a possibilidade de se incluir como crime o assédio golpista.

Isso já está passando do ridículo.

Cunha em todas

Panamá Papers: Cunha, Edison Lobão e João Lyra também estão envolvidos no escândalo

Postado em 3 de abril de 2016 às 6:23
Do El Pais:
Acaba de ser divulgada uma investigação jornalística mundial sobre a Mossack Fonseca – empresa com sede no Panamá que se dedica à abertura de offshores no exterior – que revela uma ampla listagem de políticos e outras personalidades públicas que mantêm seu dinheiro (de maneira ilegal ou lícita) em paraísos fiscais.
A reportagem, uma iniciativa do Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo, com a participação de veículos de mídia brasileiros, contém mais de 11 milhões de documentos de cerca de 200.000 offshores ligadas a pessoas de aproximadamente 200 países. Entre eles, está o Brasil, cujas investigações sobre o esquema de corrupção da Petrobras contribuíram com o vazamento de dados confidenciais da Mossack Fonseca – já que o escritório brasileiro da empresa foi alvo da 22a fase (Triplo X) da Operação Lava Jato.
Aparecem entre os envolvidos nos chamados “papéis do Panamá” os nomes do Presidente da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), do usineiro e ex-deputado federal João Lyra (PTB-AL), do ex-ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA). A força tarefa da Lava Jato investigou o escritório brasileiro por conta da suspeita de que a Mossack estivesse ajudando o ex-presidente Lula a ocultar verdadeira propriedade do tríplex do Guarujá. Mas seu nome não apareceu entre os clientes da empresa panamenha.
Ao menos 57 brasileiros já relacionados à investigação da Polícia Federal aparecem nos documentos, ligados a mais de cem offshores criadas em paraísos fiscais. Duas delas, por exemplo, foram criadas pela Mossack para Luiz Eduardo da Rocha Soares e Olívio Rodrigues Dutra, acusados de operar contas secretas da empreiteira Odebrecht. Há ainda nomes desconhecidos dos investigadores brasileiros, que deverão somar-se ao processo capitaneado por Sérgio Moro no Ministério Público do Paraná.
Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
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             E Agora?

Todo mundo na lista da Mossack Fonseca, menos o PT.
Mas o alvo poderá ser o PT
Considerando os nomes revelados, se pode deduzir que a mídia golpista e a força-tarefa da Lava-Jato não terão um grande empenho investigativo..
Jeferson Miola

A Mossack Fonseca [MF] é uma empresa de gestão financeira com sede no Panamá, um paraíso fiscal por onde circulam trilhões de dólares oriundos do narcotráfico, da corrupção, do comércio de armas, da lavagem de dinheiro e, também, de dinheiro limpo em busca do discutível privilégio da isenção fiscal – daí a expressão “paraíso”.

A MF criou ou vendeu offshore´s [contas bancárias ou empresas instaladas em paraísos fiscais] a vários políticos, banqueiros, agentes públicos e empresários brasileiros – tanto em operações legais [a chamada “sonegação legal” (sic) de impostos aceita pela lei brasileira, desde que declarada no imposto de renda (IR)]; como em operações irregulares, que envolve dinheiro de origem duvidosa.

A divulgação da lista dos clientes brasileiros da MF causa suspense e curiosidade em relação aos nomes ainda não revelados. Considerando os nomes revelados, se pode deduzir que a mídia golpista e a força-tarefa da Lava-Jato terão reduzido empenho em investigar:

- a lista tem políticos e familiares de políticos do PMDB, PSDB, PTB, PDT, PP, PSD e PSB, e nenhum do PT. Com isso, cai a probabilidade de escandalização midiática do assunto pela Globo, RBS, IstoÉ, Veja, Época, Folha, Estadão, Gilmar, Moro e Polícia Federal; e cresce a probabilidade de que o assunto seja abafado;

- fosse Ricardo Lewandowski, Teori Zavascki, Luís Roberto Barroso ou Marco Aurélio Mello o dono de conta em paraíso fiscal – mesmo que declarada no IR –, e não o juiz precocemente aposentado do STF Joaquim Barbosa, a mídia já teria feito o maior escarcéu;

- está na lista o filho do presidente da FIESP, que explicou que a offshore está declarada no IR. A FIESP, presidida por Paulo Skaf [colega de PMDB de Michel Temer e sócio no golpe], financia os movimentos golpistas que desestabilizam o Brasil e lidera a campanha de redução de impostos que tem como símbolo um pato – quanta ironia!;

- não consta da lista a offshore Vaincre LLC. Segundo noticiário de fevereiro passado, a Vaincre LLC foi usada como fachada para a construção duma mansão paradisíaca em área de proteção ambiental em Paraty/Rio. Ainda de acordo com notícias da época, a mansão pertenceria à família Roberto Marinho, dona da Rede Globo – fato que a família Marinho desmentiu, porém não esclareceu se usa ou se freqüenta tal mansão. Equipes do jornalismo da própria Globo poderiam sobrevoar a mansão com helicóptero [evitando usar o helicóptero do Senador Perrella, amigo do Aécio] para investigar se existem barcos de lata, pedalinhos e pertences dos Marinho na área da mansão;

- do PSDB, como sempre, curiosamente só aparece político morto – Sérgio Guerra, o ex-presidente nacional do partido. Os políticos vivos – e bem vivinhos –, como o Aécio Neves, não está na lista agora divulgada, talvez porque a conta secreta da família dele está em outro paraíso fiscal – de Lienchtenstein – esta sim sem ser declarada no IR até ser descoberta. As notícias não dizem ao certo se ele é o titular ou o controlador desta conta secreta em Lienchtenstein, mas o fato é que a Procuradoria Geral da República, conduzida pelo implacável Rodrigo Janot, quando recebeu a denúncia da conta decidiu pelo arquivamento, e não investigou, como seria esperado. A vida oferece agora uma nova oportunidade para Janot, Moro e a PF investigarem o Aécio, e então desmentirem o que até as pedras suspeitam: que a Lava-Jato foi instrumentalizada e partidarizada para aniquilar Lula e o PT;

- nenhuma surpresa a reação de Eduardo Cunha, que como Aécio e Temer costuma freqüentar várias listas, e que, incrivelmente, apesar disso, se mantém no leme do golpe contra a Presidente Dilma: “desmente, com veemência, estas informações ... e desafia qualquer um a provar que tem relação com companhia offshore”. No dicionário Eduardo Cunha de delinqüência, o vocábulo adequado seria usufrutuário de conta secreta, e não o de dono [sic].

Como não tem ninguém do PT na lista de contas secretas da Mossack Fonseca, é bem provável que o assunto apague como uma vela. Ou, mesmo não estando na lista, o PT poderá se tornar o alvo prioritário das investigações. Afinal, o plano é aniquilar o PT: olha o PT, mata o PT!
Fonte: CARTA MAIOR
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Quando o assunto é corrupção, Eduardo Cunha, o presidente da Câmara dos Deputados, pode ser considerado como sendo o inconsciente coletivo.

Todo mundo acessa.

"Combate ao Terror", fracasso anunciado

“Combate ao Terror”, fracasso anunciado

Soldados armados até os dentes patrulham, em Bruxelas, a Grande Praça. Aposta na militarização e em preconceitos injustificados contra imigrantes é totalmente ineficaz, porque reforça discurso dos fundamentalistas
Soldados armados até os dentes patrulham, em Bruxelas, a Grande Praça. Aposta na militarização e em preconceitos contra imigrantes é totalmente ineficaz, porque reforça discurso dos fundamentalistas
Em resposta a atentados na Europa, Ocidente tornou-se menos livre e tolerante; mais brutal e xenófobo. É exatamente o que os fundamentalistas desejavam
Por Roberto Savio | Tradução: Inês Castilho
O massacre de Bruxelas causou uma reação a curto prazo que não considera uma projeção mais estratégica. Todo o debate é agora sobre segurança, reforço policial, novas estratégias militares, como se o terrorismo pudesse ser resolvido simplesmente como uma questão de ordem pública.
Seria também necessário adotar um enfoque mais global e integral, e aceitar que estamos diante de um problema que deve ser abordado por vários ângulos. Isso faz com que este artigo enfrente o costumeiro problema da falta de espaço, para uma análise mais profunda. Vou pedir, portanto, ao leitor que abra os links de alguns artigos anteriores, para assim contar com mais informação sobre questões impossíveis de tratar adequadamente no presente artigo.
1) Falta de debate político. Vemos as lideranças políticas europeias mobilizando-se, depois de cada evento, somente com alguma declaração retórica sobre a solidariedade e o horror, mas sem esforço nenhum para construir uma resposta comum e singular. É supreendente ver que as autoridades francesas e belgas nem sequer tratam de vincular as ações dos terroristas com sua vida anterior e seus antecedentes, quando é realmente necessário fazer uma análise sociológica e cultural, além de adotar medidas meramente policiais. Ainda que isso seja importante, não é relevante para o debate político (ver link).
2) Não se faz nenhum esforço para explicar que o terrorismo islâmico é, antes de mais nada, uma batalha interna do mundo muçulmano, empregada na Europa somente por conveniência. O ramo sunita é o principal do Islã, com 88% dos muçulmanos. Mas não foi descoberto nenhum terrorista que não fosse praticante do wahabismo, ou ramo salafista dos sunitas, originário da Arábia Saudita, de onde foi ativamente exportado pela família real Al-Saud.
Riad construiu mais de 1.600 mesquitas e dotou-as de pessoal e imans salafistas, gastando anualmente mais de 80 milhões de dólares para apoiar seu ramo sunita. Para os salafistas, várias outras correntes do Islã são consideradas infieis, como os Sufi e os Yazidis. Os xiitas são o principal inimigo. A maioria dos xiitas vive no Irã, o principal inimigo da Arábia Saudita. Esses dois países lutam entre si através das guerras subsidiárias ou guerras por procuração, desde a Síria até o Iemên, com um número de vítimas milhares de vezes superior ao de todas as vítimas dos atentados na Europa. Qualificar todo o Islã de promotor do terrorismo é, portanto, um erro dramático. (Veja o link)
3) Até que seja controlada pela Rússia e pelos Estados Unidos, a disputa entre a Arábia Saudita e o Irã continuará em todo lugar, ou até que a Arábia Saudita entre numa crise grave. Seu nível de gastos atual não será, em breve, compatível com o preço do petróleo. O Fundo Monetário Internacional já avisou Riad que, a menos que reduza seus gastos, irá à falência em 10 anos. Até agora, a Arábia Saudita tem sido apoiada por todo o Ocidente, em especial pelos Estados Unidos, por sua importância como principal exportador de petróleo.
O painel de especialistas da ONU no Iêmen documentou violação das leis de guerra em 119 voos de combate da coalizão [liderada pela Arábia Saudita, que invadiu o país]. A informação é da Human Rights Watch, que pede, junto com a Anistia Internacional e outras organizações, um embargo sobre a venda de armas a Riad. Mas a Arábia Saudita é o segundo maior importador de armas do mundo.
De qualquer modo, é muito pouco provável que a Arábia Saudita e seus aliados, emires e xeques dos países do Golfo, possam assumir a liderança do mundo sunita, porque eles são seguidores do ramo intolerante do Islã e, a longo prazo, não parecem capazes de competir com um Irã muito maior e mais desenvolvido. Mas, no momento, todo o mundo tem feito vistas grossas às responsabilidades da Arábia Saudita na difusão do salafismo.
4) O salafismo nos leva ao ISIS, que assumiu essa tendência do Islã como religião oficial, inclusive radicalizando-a ainda mais. Sem dúvida, existe um consenso crescente de que o Estado Islâmico está usando a religião como meio para o recrutamento, reunindo todos aqueles que se sentem frustrados com o secularismo e a modernização. O ISIS, como entidade tangível, poderia ser derrotado por duas brigadas mecanizadas em poucas semanas, segundo especialistas militares.
Mas isso seria dissolvê-lo entre as 600 mil pessoas que vivem em seu território, resultando num excelente apoio a sua teoria: a de que os muçulmanos estão sempre sujeitos aos cruzados cristãos, que instalaram reis e emires em seus tronos e manipularam o mundo árabe com eficácia, segundo seus interesses.
Os cruzados nunca aceitarão o poder de uma autêntica entidade árabe, e continuarão a controlar o mundo árabe por meio de seus marionetes. Essa visão e o chamamento à guerra santa contra os invasores e governos árabes continuarão depois da morte do ISIS como entidade territorial, porque tocam um ponto sensível em todo o mundo árabe, já que se baseiam em fatos históricos. Ou seja, o chamamento do ISIS sobreviverá ao Califado. (Veja o link)
5) A reação da Europa foi não intervir seriamente contra o ISIS, mas dar apoio às facções na guerra da Síria. Sua responsabilidade na onda de refugiados que fogem da Síria e da Líbia são claras, mas sem consequências. (Veja este link)  Além de adotar uma decisão totalmente ilegal sobre como tratar os refugiados, a Europa entrou num pacto de Fausto com a Turquia, país que fez vistas grossas ao ISIS e se posiciona claramente contra os princípios da democracia professados pela Europa. O Alto Comissariado das Nações Unidas e o Médicos sem Fronteiras retiraram-se da Grécia, declarando que o plano é ilegal.
Claro que isso não passa desapercebido no mundo árabe, e faz aumentar o abismo em relação ao Ocidente. Na retórica dos países da direita radical da Europa (Polônia, Hungria, Eslováquia) e dos partidos mais à direita, os refugiados converteram-se em portadores do terrorismo na Europa. A Europa sequer foi capaz de aplicar medidas óbvias de coordenação em matéria de terrorismo, devido ao zelo crescente dos governos. Não há nenhuma estratégia sobre essa questão, além da retórica, que é muito útil à estratégia do ISIS.
6) A direita radical e os partidos xenófobos são, portanto, aliados de fato do ISIS. É evidente que, sem uma estratégia de sensibilização e informação, a discriminação contra os árabes aumentará, e essa é exatamente a esperança do ISIS, que pede aos muçulmanos que vivem na Europa para decidir: ou se integram ao Ocidente e se convertem em apóstatas, ou auxiliam o grupo, atacando em todos os lugares.
7) Nenhum terrorista veio do mundo árabe. Todos os implicados até agora são europeus, nascidos e criados na Europa. Todos eram pequenos delinquentes e marginais. Nem todos eram muçulmanos praticantes, mas convertidos, doutrinados na prisão ou através das redes sociais. Eram, de fato, niilistas que encontraram no ISIS dignidade e a possibilidade de escapar de uma vida sem trabalho e sem futuro. A Europa destinou 6 bilhões de euros para impedir a entrada de refugiados, depois de aplicar mais de 7 bilhões em gastos militares no Oriente Médio. Se esse dinheiro tivesse sido investido nos guetos dos árabes que vivem na Bélgica, França e Grã Bretanha, provavelmente as condições para que o terrorismo se expandisse teriam sido drasticamente reduzidas.
8) É fato que, sem imigrantes, a Europa não terá viabilidade para competir em nível internacional e manter a estabilidade social. (Veja olink) A população ativa está em declínio desde 2010. A Alemanha necessita de 800 mil pessoas. Em 2060, haverá 50 milhões de pessoas a menos na Europa e o sistema previdenciário, com uma população muito mais idosa, vai entrar em colapso.
Atualmente, a expectativa de vida é de 80 anos para o homem e 85,7 para as mulheres. Em 2060 será de 91 para o homem e 94,3 para a mulher. A idade de 82% dos refugiados sírios é inferior a 34 anos, e um estudo do ministério do Interior da Áustria revelou que eles têm, em média, nível educacional superior ao do cidadão austríaco. Por isso, o cidadão europeu deve ver os imigrantes como um recurso e um apoio. Nenhuma campanha de sensibilização sobre este tema está em marcha, porque politicamente não seria bem vista.
9) A tendência é a contrária. Os partidos xenófobos cresceram em todas as últimas eleições e pedem a expulsão dos imigrantes, como Donald Trump está fazendo nos Estados Unidos. Isso, além de ser impossível, é também um erro político trágico. A animosidade contra os muçulmanos, sem nenhum esforço para compreender a complexa realidade, vai favorecer o terrorismo e radicalizar os imigrantes que vêm para a Europa trabalhar e viver com dignidade.
10) A conclusão final é que estamos caindo na armadilha de um choque de civilizações, em que defendemos uma Europa cristã contra um mundo muçulmano hostil. Este é o pior erro possível. Cai muito bem para a retórica do ISIS, já que qualquer choque requer polarização. O aumento do medo e da insegurança ajuda os partidos de direita radical e xenófobos a se apoderar da Europa.
A polarização nunca foi útil para a democracia e a tolerância. Um grupo de no máximo 50 mil militantes, num universo de 1,5 bilhões de muçulmanos, é capaz de mudar nossa vida, reduzir nossa privacidade e as liberdades individuais, e aumentar o militarismo e a vigilância.
Se não conseguirmos escapar da armadilha do choque de civilizações, a Europa vai mudar profundamente, porque o fenômeno do terrorismo permanecerá durante uma ou duas gerações. Foram necessários quase dois séculos para a Europa se desfazer das guerras de religião. Na Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), numa população total de 79 milhões de pessoas, morreram oito milhões, em sua maioria civis.
Será que a história nos ajudará a enfrentar o presente?
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Roberto Sávio

Roberto Sávio é fundador e presidente emérito da agência de notícias Inter Press Service (IPS) e publisher de Other News.
Fonte:  OUTRAS PALAVRAS
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