quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Malandragem federal

Receita Federal indica que aumento de bens em R$ 1,8 milhão de Cunha é injustificado


Segundo relatório, o crescimento é incompatível com a renda do deputado e de seus familiares e que a variação patrimonial tem relação com gastos no cartão de crédito.
07/01/2016

Da Redação

Cunha e sua esposa Cláudia Cruz | Foto: Reprodução
A Receita Federal aponta em um relatório que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sua mulher e sua filha tiveram um aumento patrimonial incompatível com os seus rendimentos nos últimos anos. Segundo o documento, os valores considerados como aumento patrimonial "a descoberto" da família totalizam R$ 1,8 milhão, entre 2011 e 2014.
Além do salário de R$ 33,7 mil como deputado, Cunha e Cláudia Cruz, sua esposa, também são sócios de empresas na área de comunicação, como a C3 produções e Jesus.com. Segundo a Folha de São Paulo, o deputado disse que o dinheiro vem de negócios do exterior.
A investigação aponta que a filha, Danielle Dytz da Cunha, teve aumento de sete vezes no patrimônio. De acordo com dados do seu Imposto de Renda, ela passou de R$ 208 mil em 2010, a R$ 1,5 milhão em 2014. Uma transferência de R$ 800 mil feita por Cunha em 2013 influenciou significativamente esse aumento.
O pedido para a apuração da Receita foi feito pela Procuradoria-Geral da República, nos marcos da Operação Lava Jato. A Folhateve acesso a este relatório que está sob sigilo e foi finalizado em 29 de outubro.
A assessoria de Cunha informou à reportagem da Folha que ele não possui patrimônio "a descoberto" e que desconhece o relatório da Receita Federal. A investigação, caso comprove irregularidades, pode resultar na cobrança de impostos devidos e de multas, além de fundamentar investigações criminais.
Cunha e sua família já são investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) sob suspeita de terem mantido contas secretas no exterior abastecidas com recursos desviados da Petrobras, no valor de US$ 5 milhões. Cunha também é alvo de um pedido de afastamento do comando da Câmara feito pela Procuradoria-Geral da República e responde a um processo de cassação na Câmara.
Fonte: BRASIL DE FATO
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FHC carrega um general golpista no peito
Florestan não o reconhecia mais...


publicado 07/01/2016
                
florestan e fhc
Florestan lhe foi útil para subir na carreira (acadêmica). Depois...

A partir do twitter do Emir Sader, o Conversa Afiada reproduz artigo de Laurez Cerqueira:


Fernando Henrique carrega um general golpista dentro dele

No discurso de despedida de Fernando Henrique Cardoso, do Congresso Nacional, antes da posse para o exercício do seu primeiro mandato, estava no meio dos parlamentares, elegantemente vestido, sentado na cadeira de sempre, como um aluno disciplinado, já bastante debilitado pela doença hepática, segurando uma bengalinha, o Professor Florestan Fernandes, reeleito por São Paulo.

Fernando Henrique o viu no plenário. Pediu licença ao senador Humberto Lucena, que presidia a sessão, disse que quebraria o protocolo para cumprimentar uma pessoa.

Desceu os degraus do alto da Mesa, embrenhou-se entre os parlamentares que o assediavam calorosamente, postou-se frente ao mestre e o abraçou. Florestan desejou-lhe boa sorte e êxito no governo.

No final daquele momento, como que movido por um lampejo de confiança no ex-aluno, Florestan disse a Fernando Henrique: “Veja bem, Fernando: não crio gatos. Crio tigres”.

Disse isso sob forte emoção, certamente lembrando-se de que ele teria sido um dos professores mais influentes na formação acadêmica dele.

Foi num bar em São Paulo que Florestan conheceu Fernando Henrique, ainda rapazinho, em dúvida sobre que curso faria na universidade.

Florestan teve uma conversa impactante com ele, falou sobre a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, sobre o curso de sociologia, e da importância de se formar sociólogos nas nossas universidades para ajudar nos estudos, nas pesquisas, sobretudo no desenvolvimento do pensamento e na interpretação do Brasil pelos próprios brasileiros.

Foi com base nessa conversa que Fernando Henrique decidiu fazer o exame para cursar sociologia na USP. Florestan foi professor dele, orientador no mestrado e no doutorado.

Ficaram tão amigos que Fernando Henrique mudou-se para a mesma rua que morava o mestre para conviver, frequentar a biblioteca e ouvi-lo mais. Florestan o tinha em alta consideração fraterna e intelectual.

Aquele momento da cerimônia de posse foi marcante para Florestan, mais marcante ainda a decepção com o rumo dado por Fernando Henrique ao governo, que apenas se somou a outras decepções políticas acumuladas ao longo da carreira do ex-aluno presidente. Mas nada disso abalou a relação pessoal e o respeito que tinham um pelo outro.

Em 1996, Fernando Henrique havia dado um golpe na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) que estava sendo debatida na Câmara, sob a coordenação do então deputado Florestan Fernandes, com apoio do Fórum Nacional de Educação.

Numa articulação comandada pelo seu vice-presidente Marco Maciel, ele aprovou no Senado o projeto de lei do governo tornando regimentalmente prejudicado o projeto de LDB da Câmara, que acabou sendo arquivado.

Esse fato deixou Florestan indignado e decepcionado, por ter sido colocado por terra anos de debate e de construção democrática, com a participação da sociedade, de uma proposta de educação que provocaria uma transformação profunda no país.

Dias depois, numa conversa sobre o golpe da LDB, ele sentado, tirou os óculos de hastes e lentes grossas, colocou-os sobre a mesa, passou os dedos nas sobrancelhas de fios compridos, e disse, referindo-se a Fernando Henrique, com todo o cuidado que tinha no trato com as pessoas: “É… Fernando está ficando politicamente irreconhecível”.

O mundo girou e hoje Fernando Henrique rola ladeira abaixo numa decadência ética inimaginável. Lidera a tentativa de um golpe parlamentar contra a Presidenta Dilma e contra a ordem institucional da República, sem o menor constrangimento público, mesmo sabendo que ela é uma mulher íntegra, honesta, de conduta ética ilibada, e que contra ela não há nenhum indício de crime de responsabilidade.

A impressão que passa é que Fernando Henrique guarda um general golpista dentro dele. Tudo indica que é um general integrante da UDN, que andava incubado e agora aflorou.

Parece muito com o que tentou derrubar Getúlio Vargas, Juscelino Kubitscheck, ajudou a eleger Jânio Quadros e derrubou João Goulart.

Em matéria de falta de constrangimento público, de aridez interna, ele e Eduardo Cunha se parecem. Não sentem vergonha do que estão tramando. Aliás, estão juntos na empreitada do “golpe paraguaio” no Brasil.

O fato é que o golpe não vai acontecer, porque a sociedade está com a democracia e vai defender a ordem institucional vigente.

Fernando Henrique Cardoso, Eduardo Cunha e Michel Temer entrarão para a história, mas pela porta dos fundos e farão parte da ala dos golpistas onde estão Carlos Lacerda, os generais Castelo Branco, Costa e Silva, Médice, Geisel, Figueiredo e outros políticos que não toleram a democracia.

Na ala da história onde está Florestan Fernandes, seguramente Fernando Henrique não estará.


Fonte: CONVERSA AFIADA
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Homenagem Ao Malandro
Chico Buarque
  
Eu fui fazer um samba em homenagem
À nata da malandragem
Que conheço de outros carnavais
Eu fui à Lapa e perdi a viagem
Que aquela tal malandragem
Não existe mais

Agora já não é normal
O que dá de malandro regular, profissional
Malandro com aparato de malandro oficial
Malandro candidato a malandro federal
Malandro com retrato na coluna social
Malandro com contrato, com gravata e capital
Que nunca se dá mal

Mas o malandro pra valer
- Não espalha
Aposentou a navalha
Tem mulher e filho e tralha e tal
Dizem as más línguas que ele até trabalha
Mora lá longe e chacoalha
Num trem da Central

Os racistas do deserto de ideias


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Douglas Belchior: Preto, preta, sorria. Você está sendo filmado. E morto, na cidade olímpica

publicado em 08 de janeiro de 2016 às 11:53
Globo e governos: o que fazer com os corpos negros na cidade olímpica?
Como pedir calma, paciência e paz aos que sofrem historicamente com a violência, a tortura e a morte?
O empresário branco denuncia.
O telejornal de maior audiência do país noticia.
O tenente-coronel, militar branco, comenta: “Nos últimos 3 meses, 69 menores foram apreendidos; 120 foram encaminhados a setores competentes“.
O delegado da Policia Civil, branco, reafirma: “Em 2015, foram 80 operações em que 120 menores foram apreendidos”.
O representante do governo, branco também, diz: “A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social faz ações junto com a polícia no Centro do Rio“.
E, para fechar com chave de ouro, como endosso técnico para dar credibilidade à matéria, um especialista faz leitura labial no preto que, segundo o jornal, treina o bando: “Com violência, sem dó nem piedade”.
Esse foi e enredo de uma reportagem levada ao ar na segunda, dia 5 de janeiro de 2016, pelo Jornal Nacional da TV Globo. O mesmo conteúdo fora veiculado repetidas vezes nos noticiários locais da emissora durante o dia e devem ser repercutidos por toda a semana.
A narrativa criminalizante somada à força das imagens faz da peça jornalística uma verdadeira apologia ao ódio contra aqueles que na verdade, são as principais vítimas da contradição social e econômica que vivemos: moradores de rua ou favelados, jovens e negros em sua maioria, e não só homens, mulheres também.
Novidade alguma, já que tais conteúdos tem lugar cativo nos programas policiais de qualidade duvidosa, nas tardes de emissoras de menor audiência.
Mas o que nos importa aqui é a promoção do tema ao patamar do “padrão globo de qualidade”, alçado ao horário nobre, no jornal de maior audiência da principal rede de TV do país. Isso, com certeza, não é por acaso.
O Rio de Janeiro sediará, daqui a poucos meses, o maior evento esportivo do planeta, as Olimpíadas de 2016. As ruas precisam ficar livres e limpas. Corpos negros, indisciplinados, mal educados, sujos e perigosos precisam ser varridos para longe. E a opinião pública precisa estar de acordo.
Cito as Olímpidas por ser, sem dúvida, prioridade atual dos governos Municipal e Estadual do Rio, bem como do Governo Federal. Mas a verdade é que a lógica higienista, racista e genocida de atuação do Estado está presente na história e no cotidiano do Rio de Janeiro. Sua política de segurança pública é, com absoluta certeza, a principal prova desta afirmação.
Menores infratores que roubam à luz do dia, atacam quaisquer desavisados, inclusive idosos e mulheres, dondocas e trabalhadoras, não há critério objetivo. “Bandidos violentos”, “vândalos”, “monstros”. Todos, quase sempre, negros.
Mas quem são eles? Por que moram nas ruas ou vêm sempre dos morros? Por que não têm emprego? Por que não estudam? Por que eles têm ódio?
São vagabundos? Roubam porque querem? Poderiam estar lendo? Viajando? Pedalando? Malhando… mas estão ali, roubando?
Se eu não conhecesse e não compreendesse a história do Brasil, talvez até os condenasse. Mas eu conheço. Por isso não os condeno. E digo mais: a sociedade brasileira não tem moral para condenar adolescentes que batem carteiras, roubam celulares, relógios ou correntes nas esquinas do Rio de Janeiro ou qualquer outra cidade do país.
Não temos – nós enquanto sociedade – moral sequer para condenar os que esfaqueiam ou engrossam as fileiras do crime organizado. Aliás, como bem já descreveu jornalista Mariana Albanese em texto publicado por este Blog, “Perto de quem realmente manda, esses moleques são tão perigosos quanto o Patati e Patatá”. O Brasil não tem moral.
Não se trata, entendam, de defesa a mau feitos ou mal feitores e sim de buscar compreender, de um ponto de vista histórico e sociológico, os porquês de determinadas práticas.
Crimes contra a vida, violência e brutalidade não costumam servir como solução de problemas sociais, econômicos ou políticos. Mas um país que tem na violência e na violação de direitos a prática habitual no trato à significativa parcela da população, tem alguma condição de cobrar postura diferente? Como pedir calma, paciência e paz aos que sofrem historicamente com a violência, a tortura e a morte? Os poetas dos Racionais Mc’s, em poucas palavras, diriam: “Vocês dão taça de veneno e quer suflair?”
Não me parece justo imputar responsabilidade apenas aos que vivem em condições de séria vulnerabilidade, como se estes fossem os únicos responsáveis por essa condição.
No mais, sempre é bom lembrar que a violência e a prática criminosa não são patrimônio exclusivo dos ricos, dos maus políticos, das polícias ou da grande imprensa. Por que pretos e pobres deveriam abdicar dessa possibilidade?
Pezão quer acabar com Fundação para a Infância e Adolescência
A hipocrisia é tanta que, ao mesmo tempo em que as elites racistas querem limpar as ruas e varrer essa gente preta e mal cheirosa para longe, o governo do Rio quer fechar a fundação que acolhe adolescentes em medida de internação.
A notícia foi manchete das grandes redes de comunicação, no dia seguinte à veiculação da maldita reportagem no JN. O governo encaminhou para a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro no fim de 2015 projeto de lei em que propõe a extinção da FIA (Fundação para a Infância e Adolescência).
O governador alega que faltarão recursos para manter os serviços de atendimento às crianças e adolescentes, bem como registrado na nota enviada pelo Palácio Guanabara:
“O projeto de lei, que ainda está em discussão na Alerj, estabelece a extinção de uma autarquia e seis fundações estaduais com base na brusca queda de arrecadação das receitas, agregada à previsão de sua diminuição para os próximos exercícios financeiros, especialmente em razão das incertezas dos cenários econômicos nacional e internacional.”
Como entender? Há, por um lado, a necessidade de “higienizar” a cidade maravilhosa para deleite do turismo olímpico. Já por outro, a iniciativa absurda de acabar com o principal ente público de ação de proteção à criança e ao adolescente no Estado.
Para onde, afinal de contas, seriam removidos os seres desprovidos de humanidade suficiente para dividir o espaço urbano? Cadeias dos adultos? Ainda não dá. Cunha não conseguiu terminar o serviço sujo da aprovação da redução da maioridade penal no Congresso. Então, que fazer?
O que fazer com os corpos negros fora da lei? Sumir com eles!
Sim, afinal, assassinar e deixar corpos expostos tem chamado muito a atenção. Será necessário mudar a prática, coisa que as milícias têm feito com primazia. Desaparecimentos em grande escala. Limpeza das ruas. Corpos às valas.
Mas estamos falando de órgãos governamentais, da guarda municipal da cidade do Rio e da PM do Estado do Rio. São coisas diferentes. Práticas de milícias são outra coisa.
Sabemos que não.
Um estudo do sociólogo e professor Ignácio Cano, responsável pelo Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio, revela um aumento drástico no índice de desaparecidos, a partir da ação de milícias.
Os números são dramáticos. Desde 2008 a quantidade de desaparecidos supera o de homicídios no estado. Em 2015 foram registrados 2533 desaparecimentos contra 995 mortes.
Em 2005 os números apontavam 1455 desaparecidos contra 2030 homicídios. Os dados correspondem a aferições nas Zonas Oeste, Norte, Sul e Subúrbio do Rio. O aumento varia de 47% à 125%.
Síntese da hipótese: TV Globo e demais emissoras expõem o cotidiano de violência das ruas do Rio, o que fortalece o sentimento de insegurança, medo e ódio em relação aos pretos e pobres moradores de ruas e favelas. Estes configuram, portanto, criminosos perigosos à solta.
A crise econômica impede o aprisionamento de tantos mais corpos vivos. Afinal, presos tem alto custo, precisam comer, vestir, dormir e, muito embora superlotar prisões seja ideal para a prática de desvios de verba que acontecem país afora, os tempos são de vacas magras. Exterminar e sumir com os corpos é barato, prático, silencioso e eficaz.
Hipótese ou desvario irresponsável? Estariam os argumentos aqui descritos, fora da realidade? Não creio.
Nenhuma novidade para a cidade que até ontem fora capital do nosso império escravocrata. Nada de novo no país da democracia racial, do futebol, do carnaval e agora, das olimpíadas.
Nenhum absurdo para o país que mais mata negros no mundo e onde a emissora que detém 80% da audiência nacional se coloca a serviço da formação da opinião pública para o apoio ao genocídio e à barbárie.
Preto, preta, sorria. Você está sendo filmado. E morto.
Fonte: VIOMUNDO
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Uma grande parcela da classe média do Rio de Janeiro se transformou em um deserto de ideias.As areias das praias da zona sul da cidade são testemunhas.

De frente para o mar e de costas para a cidade, a aversão ao povo cresceu e se multiplicou.

De alguma forma esse novo comportamento tem influenciado até mesmo os turistas que visitam o Rio de Janeiro, que preferem o Rio além do circuito turístico tradicional e , principalmente, além das aparências.

Cresce no Rio, como em todo mundo, um tipo de turismo que se baseia no livre caminhar pela cidade, em contato direto com a realidade.

Assim sendo, as notas musicais nas calçadas do boulevard 28 de setembro no bairro de Vila Isabel, os passeios na floresta da Tijuca, a cantoria dos pássaros ao entardecer na Av. Maracanã , um caminhar pelo bairro de Santa Tereza, um olhar na confeitaria Colombo no centro da cidade e as amendoeiras do bairro Maria da Graça, ganham cada vez mais relevância.

Os racistas, no entanto, não perdem a oportunidade de conseguir uma vaga para desfilar em uma escola de samba, de maneira que possam sacudir suas joias para as disponíveis câmaras da emissora de TV, e assim aparecer, mesmo que em meio a uma festa do povo, na tela da TV no meio do mesmo povo que tanto rejeitam e matam.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Libertar o sambista e o samba

Aloy Jupiara e Chico Otavio: Em troca de repressão a adversários, ditadura abriu espaço para bicheiros assumirem o Carnaval do Rio

publicado em 05 de janeiro de 2016 às 19:34
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“Os porões da contravenção”, de Aloy Jupiara e Chico Otavio

Por Cláudia Lamego, no site da editora Record
reprodução parcial

Aloy Jupiara leu num documento que um agente da repressão virara segurança de um bicheiro. Chico Otavio entrevistou o coronel reformado Paulo Malhães e descobriu que ele era um dos mais importantes elos entre a ditadura e a contravenção no Rio de Janeiro.
A partir dessas e de outras informações os dois jornalistas decidiram investigar a fundo as relações entre o jogo do bicho e a repressão. O resultado foi, primeiro, uma série de reportagens sobre o assunto que ora deságua no livro “Os porões da contravenção – Jogo do bicho e ditadura militar: a história da aliança que profissionalizou o crime organizado”.
Com uma farta pesquisa em arquivos e jornais da época e entrevistas com militares, sambistas, historiadores e advogados, entre outras fontes, os dois autores revelam na obra como os agentes da ditadura passaram a atuar no crime organizado, em aliança com os bicheiros, após o desmonte do aparelho de repressão a partir do fim dos anos 70.
Esses últimos se beneficiaram da benevolência dos governos militares para garantir segurança, território e organização para seus crimes. A troca de favores era macabra: depois de fazerem desaparecer corpos dos inimigos políticos da ditadura, os agentes da repressão também matavam e torturavam os inimigos ou quem estivesse no caminho dos contraventores.
Sem serem incomodados pela repressão, e atuando em favor dela, por meio dos esquadrões da morte, por exemplo, os bicheiros ganharam poder. Mas faltava a fama e o prestígio: ela veio quando passaram a ocupar um dos mais representativos espaços da cultura carioca: as escolas de samba.
O negócio também se expandiu e eles passaram a explorar as máquinas de caça-níqueis. Três nomes sobressaem nessa história: Anísio Abraão David, capo da Beija-Flor, Castor de Andrade, “dono” da Mocidade Independente, e Capitão Guimarães, este egresso do Exército, que “tomou” a Vila Isabel do então presidente Miro, que se “instalou” depois no Salgueiro.


Como surgiu a ideia de fazer a série de reportagens que deu origem ao livro “Os porões da contravenção” e quais foram os maiores desafios para verter as matérias para o livro?
Aloy: Partimos de pontos diferentes. A motivação de Chico Otavio veio de contatos com Paulo Malhães, da vontade de desvendar aquele personagem, o que fizeram durante o regime e depois dele, instalado na Baixada Fluminense.
A minha foi movida por outra curiosidade. Lendo um documento vi uma referência a um agente da repressão que virara seguranças de um bicheiro. Falei sobre isso com Chico. Seria um caso isolado? Pensamos então na segunda metade dos anos 70, os anos que viram o desmonte do aparelho repressivo, o começo de uma guerra de poder na contravenção e a ascensão de escolas de samba bancadas por bicheiros, como a Beija-Flor e a Mocidade.
Mergulhamos na investigação – analisamos documentos em arquivos; entrevistamos militares, sambistas, advogados; lemos jornais da época; consultamos historiadores – e constatamos que agentes da repressão, torturadores, foram cooptados pelo jogo do bicho e isso levou a contravenção a um novo patamar, a uma nova forma de organização, a se estabelecer como crime organizado. O maior desafio foi conseguir colher depoimentos daqueles que participaram da aliança bicho-repressão.


Como o trabalho da Comissão Nacional da Verdade facilitou o trabalho de apuração do livro? Acham que ainda há o que ser investigado, arquivos a serem abertos, depoimentos a serem dados?
Chico Otávio: Há muito a ser investigado e esclarecido. A Comissão Nacional da Verdade deve ser vista como o início de um trabalho, não seu fim. Com certeza há arquivos que ainda não revelados e pessoas que se mantêm em silêncio sobre a repressão no regime militar.


O livro mostra não só a associação entre os contraventores e os homens dos porões da ditadura como também deixa clara a impunidade aos chefões, que eram monitorados pelos órgãos de informação e poderiam ter sido reprimidos. A ditadura decidiu fazer vista grossa e, apesar de eles terem sido presos algumas vezes, nunca cumpriram as penas por crimes como os assassinatos dos desafetos e o contrabando. Vocês enxergam nessa omissão a origem de tantos problemas de segurança e violência que a população do Rio enfrenta hoje?
Chico Otávio: Foi um jogo de mão dupla, uma lavava a outra. A ditadura se valeu dos bicheiros, os bicheiros se valeram da ditadura.
Ainda que monitorados pelos órgãos de informação, bicheiros estiveram livres para erguer impérios do jogo a partir de uma guerra nas ruas pela tomada de territórios.
Excluindo a prisão de bicheiros após o AI-5, o regime militar não viu ou não quis ver perigo no bicho, não avaliou a periculosidade dos bicheiros e de sua aliança com agentes da repressão, isso que tornou o jogo a organização criminosa, estruturada como a máfia, que é hoje.


O jogo do bicho e o carnaval são duas “instituições” da cultura carioca. Os bicheiros “tomaram” as escolas e criaram a LIESA numa tentativa de serem aceitos pela sociedade, mas também para terem poder de decisão sobre o dinheiro do carnaval. Como vocês veem a relação da imprensa, dos governos e dos fãs com as escolas de samba que são dirigidas por bicheiros que já foram acusados de crimes e até presos? Como explicar essa contradição entre a tradição do carnaval e a influência negativa dos contraventores?
Aloy: A ideia de que o carnaval não sobrevive sem os bicheiros é um clichê recorrente. As escolas são instituições que nasceram como espaço de convivência, lazer e arte dos sambistas.
Quando o desfile das escolas se popularizou, atraindo a classe média, cresceu e virou espetáculo, os bicheiros se apropriaram de agremiações para ganhar exposição, tentar limpar a imagem e passar a ser vistos como mecenas.
Eles se aproveitaram da falta de recursos dos sambistas, que não tinham como bancar carnavais cada vez mais caros. Os bicheiros tinham capital de giro, o dinheiro da jogatina; com ele, as escolas não precisavam esperar a subvenção pública para começar a fazer as alegorias e fantasias.
O poder nas escolas, claro, mudou de mãos. Sambistas tradicionais, como as Velhas Guardas, foram afastadas da tomada das decisões. Antes, eles falavam, ouviam e decidiam. Quem passou a decidir foi o banqueiro do bicho.
Como o carnaval é uma disputa e os sambistas querem que suas escolas sejam campeãs, aceitaram o jogo. Conversando com sambistas mais velhos a gente vê como essa situação é triste: muitos não se sentem valorizados, se consideram colocados de lado; há quem conte que foi barrado ao entrar nas quadras porque os seguranças não sabiam quem eram (muitas vezes esses sambistas são filhos ou netos de fundadores das escolas). Mas há o medo: como se opor a um bicheiro?
Como enfrentar alguém que vive cercado por seguranças, muitos deles policiais? Atualmente, quando tantas empresas investem milhões em patrocínios de enredos, quando o poder público reconhece que as escolas ajudam a mover a economia da cidade, os sambistas não podem gerir e tomar as decisões nas escolas que seus avós e pais criaram porque a contravenção ergueu um muro em torno de um “negócio” que considera seu.


O livro “Os porões da contravenção” surgiu de uma série de reportagens para o jornal O Globo. Num ano de crise nos meios de produção do jornalismo, especialmente dos jornais impressos, o que significa pra vocês a realização de um livro que junta os ingredientes clássicos do jornalismo: uma boa pista, muitas fontes, extensa apuração e um texto bem escrito?
Chico Otavio: A palavra e o sentimento são de realização mesmo. Esperamos que os leitores gostem. Queríamos contar uma história que ainda não tinha sido contada. Contar histórias é o nosso trabalho diário.
A crise no meio jornal não é uma crise da notícia, mas do meio, do modelo de negócio. As pessoas querem, cada vez mais, estar bem informadas, e há diferentes plataformas onde elas podem buscar a informação. Isso nos motivou. Nós acreditamos na força da reportagem.


PS do Viomundo: No livro O Lado Sujo do Futebol, escrito em parceria com Leandro Cipoloni, Amaury Ribeiro Jr. e Tony Chastinet, tratamos da relação entre o então presidente da CBF, João Havelange, o bicheiro Castor de Andrade e o então superpoderoso da Globo, Boni. Além do Carnaval, os bicheiros também lavaram dinheiro no futebol. O repórter André Caramante comprou e leu o livro dos colegas Jupiara e Chico Otávio e diz que é um daqueles que você começa a ler e não consegue parar.


Fonte: VIOMUNDO
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No início dos anos da década de 1970, até o ano de 1975, a escola de samba Beija-Flor de Nilópolis se apresentou somente com enredos que enalteciam o Brasil, em apoio a ditadura militar.

Os resultados foram desastrosos.

Em 1976, a escola de Nilópolis deu uma guinada e desfilou com um enredo que falava do jogo do bicho.

Ficou em primeiro lugar e pela primeira vez ganhava o carnaval do Rio de janeiro.

Abaixo a letra do samba:

Sonhar com anjo é borboleta
Sem contemplação
Sonhar com rei dá leão
Mas nesta festa de real valor, não erre não
O palpite certo é Beija-flor (Beija-flor)
Cantando e lembrando em cores
Meu Rio querido, dos jogos de flores
Quando o Barão de Drummond criou
Um jardim repleto de animais
Então lançou...
Um sorteio popular
E para ganhar
Vinte mil réis com dez tostões
O povo começou a imaginar...
Buscando... no belo reino dos sonhos
Inspiração para um dia acertar

Sonhar com filharada... é o coelhinho
Com gente teimosa, na cabeça dá burrinho
E com rapaz todo enfeitado
O resultado pessoal... É pavão ou é veado

Desta brincadeira
Quem tomou conta em Madureira
Foi Natal, o bom Natal
Consagrando sua Escola
Na tradição do Carnaval
Sua alma hoje é águia branca
Envolta no azul de um véu

Saudado pela majestade, o samba
E sua brejeira corte
Que lhe vê no céu


Em 1984, outra escola, a Portela, também abordou o jogo do bicho -  não de forma direta - em seu enredo e também venceu o carnaval do Rio.
O  21º e último título conquistado pela escola.

Abaixo a letra do samba:


Samba Enredo 1984 - Contos de Areia

G.R.E.S. Portela (RJ)

Bahia é um encanto a mais
Visão de aquarela
E no ABC dos Orixás
Oranian é Paulo da Portela
Um mundo azul e branco
O deus negro fez nascer
Paulo Benjamim de Oliveira
Fez esse mundo crescer (okê, okê)

Okê-okê Oxossi
Faz nossa gente sambar (bis)
Okê-okê, Natal
Portela é canto no ar

Jogo feito, banca forte
Qual foi o bicho que deu?
Deu Águia, símbolo da sorte
Pois vinte vezes venceu

É cheiro de mato
É terra molhada (bis)
É Clara Guerreira
Lá vem trovoada

Epa hei, Iansã, epa hei (bis)
Na ginga do estandarte
Portela derrama arte
Neste enredo sem igual
Faz da vida poesia
E canta sua alegria
Em tempo de carnaval
(Ê Bahia...)


Em 1982, em uma crítica aos caminhos grandiosos que os desfiles tomavam, até mesmo retirando o espaço dos sambistas, o Império Serrano fez um dos mais belos samba de enredo do carnaval carioca.

Abaixo a letra:

Samba Enredo 1982 - Bum Bum Paticumbum Prugurundum


Bumbum paticumbum prugurundum
O nosso samba minha gente é isso aí, é isso aí
Bumbum paticumbum prugurundum,
Contagiando a Marquês de Sapucaí (Eu enfeitei )

Enfeitei meu coração (enfeitei meu coração )
De confete e serpentina
Minha mente se fez menina
Num mundo de recordação
Abracei a coroa imperial, fiz meu carnaval,
Extravasando toda a minha emoção
Óh, Praça Onze, tu és imortal
Teus braços embalaram o samba
A sua apoteose é triunfal
De uma barrica se fez uma cuíca
De outra barrica um surdo de marcação

Com reco-reco, pandeiro e tamborim
E lindas baianas o samba ficou assim
Com reco-reco, pandeiro e tamborim
E lindas baianas o samba ficou assim

E passo a passo no compasso o samba cresceu
Na Candelária construiu seu apogeu
As burrinhas, que imagem, para os olhos um prazer
Pedem passagem pros moleques de Debret
As africanas, que quadro original
Iemanjá, Iemanjá, enriquecendo o visual( Vem meu amor)

Vem, meu amor, manda a tristeza embora
É carnaval, a folia, neste dia ninguém chora

Super Escolas de Samba S/A
Super-alegorias
Escondendo gente bamba
Que covardia!


A discussão vem de longa data, porém é certo que nos últimos anos, talvez os últimos 15 anos, os desfiles das escolas de samba, no que diz respeito aos enredos, deram uma encaretada geral.

As críticas políticas e sociais desapareceram  dos desfiles e a TV Globo passou , até  mesmo, a definir enredos para as escolas, ou um tema que fosse abordado por todas as escolas nos desfiles.

O sono e a monotonia tornaram-se inevitáveis para todos que acompanham os desfiles, ao vivo na passarela do samba Darcy Ribeiro, ou pela tela da TV no meio desse povo, ouvindo um festival de bobagens protagonizados  pelos comentaristas, ao estilo padrão globo de idiotice.

Sequestrado pela TV e pelo bicho, o samba deu anta.

Morte por indigestão

Vitor Teixeira: Morte por indigestão


publicado em 05 de janeiro de 2016 às 20:25






Fonte: VIOMUNDO

O fazer jornalismo da grande mídia comprova a tese do multiverso

O mundo paralelo dos desastres de Photoshop da Abril e da Veja.


Postado em 06 jan 2016
por : Pedro Zambarda de Araujo

No final do ano, a velha revista feminina Claudia divulgou a capa de sua primeira edição de 2016. A personagem era a apresentadora da TV Record, Ana Hickmann, com a chamada “ginástica, filho, trabalho, dieta: acredite, a rotina dela é quase igual a sua” (então tá).

Choveram reclamações sobre os efeitos operados pelo programa Adobe Photoshop, que apaga imperfeições físicas, emagrece corpos, remove estrias e pode transformar todo mundo em algo inexistente no mundo real.


Mesmo sendo do meio, Ana Hickmann ficou com aparência de uma boneca de porcelana. Pálida, chegou a ser comparada a uma versão desidratada da cantora de country pop Taylor Swift.

A própria Ana fosse reclamou na internet. “Gente!!! Essa não sou eu”, disse no perfil Claudiaonline no Instagram. No dia seguinte, o marido de Ana Hickmann, Alexandre, postou uma foto do casal e tirou sarro com a legenda: “SEM PHOTOSHOP”.

As barbeiragens com o photoshop na Abril não são uma novidade. A “mulher alface da Veja” foi uma das atrocidades da editora em sua história. O erro gráfico foi justamente deslocar para a direita as pernas de uma mulher em uma capa sobre dieta.


Mas o photoshop da Veja também serve a propósitos mais sombrios e escusos. Figuras do noticiário político são transformadas em vilãs apenas escurecendo retratos. Em 2015, o ex-presidente Lula foi retratado como estando prestes a ser preso e, numa capa posterior, colocado em uma roupa de detento.

Dilma está invariavelmente em imagens obscurecidas. Por outro lado, o juiz Sergio Moro da operação Lava Jato, o vice-presidente Michel Temer e o ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso aparecem radiantes.

De uma maneira maniqueísta e quase infantil, a Veja mexe nas fotos dos petistas de modo a aparecer como monstros enquanto seus críticos são heróis. É como se a realidade não fosse suficiente para se enquadrar no universo superficial da publicação. Anteriormente, Aécio Neves e até José Serra foram retratados como figuras iluminadas, nos anos de 2014 e 2010, respectivamente. Num jogo de luzes e sombras, o Photoshop da Veja oculta a verdade.

As concorrentes não fazem uma manipulação tão forçada. A Istoé e a Carta Capital tendem a usar imagens mais neutras e chamam atenção para suas opiniões em chamadas e montagens. Já a Época adotou desde 2014 imagens mais escuras para todos os personagens da política nacional.

“A promessa de resgatar o ânimo do país não pode estar inscrita num rosto — glamoroso ou magnético — claramente simplificado. As instituições brasileiras exigem mais do que feições e fisionomias carismáticas para serem devidamente reabilitadas”, disse o jornalista Alberto Dines em seu Observatório da Imprensa, sobre a última capa da Veja em 2015, chamando Sergio Moro de salvador do ano.

Dines, não por acaso, relembra no mesmo artigo que o livro “Mein Kampf” (“Minha Luta”) de Adolf Hitler recentemente caiu em domínio público e seu relançamento provocou polêmica por reviver o pensamento simplista do nazismo, do “bem contra o mal”.

A Veja e as manipulações gráficas da editora Abril desfiguram, obscurecem e confundem o debate público. “[Elas] não parecem editadas por jornalistas, mas por consumados semiólogos e psicolinguistas a serviço de uma narrativa balizada por símbolos subliminais”, diz Alberto Dines.

De Ana Hickmann até o novo herói jurídico antipetista, Sergio Moro, a imprensa sem pluralidade vive num universo paralelo de celebridades e ícones inventados.

Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
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Lu Alckmin e Tito, o cãozinho voador
publicado em 06 de janeiro de 2016 às 10:13

Voos de Lu Alckmin não dão capa na ‘Folha’
Por Altamiro Borges, em seu blog

A Folha de S.Paulo, o jornal que se jacta de só ter o rabo preso com os leitores, publicou nesta terça-feira (5) uma curiosa notinha – bem minúscula: “Presidente do Fundo Social de Solidariedade de São Paulo, a primeira-dama, Lu Alckmin, utilizou as aeronaves do governo mais vezes do que todos os secretários de Geraldo Alckmin somados desde 2011. Até 2015, a mulher do governador teve os helicópteros e jatos do Estado à disposição para 132 deslocamentos em que foi a passageira principal. Os auxiliares de Alckmin juntos foram passageiros principais em 76 ocasiões… O governo diz que Dona Lu ‘desenvolve amplo trabalho voluntário, com agenda transparente'”.

A notinha, apesar de bem minúscula, causou alvoroço nas redes sociais.

Alguns internautas inclusive descobriram que “dona Lu” viaja sempre com seu pitbull de estimação [Nota do Viomundo: de nome Tito].

O que mais chama a atenção, porém, é o destaque dado à notícia pelo jornal da famiglia Frias — que nunca escondeu sua paixão por Geraldo Alckmin e outros tucanos de alta plumagem.

A curiosa informação não virou manchete nem sequer ocupou a capa da Folha.

Imagine se as incontáveis viagens de “solidariedade” fosse feitas pela esposa ou por algum “amigo do Lula”.

Seria capa do jornal e destaque nos noticiários da televisão.

De imediato, a oposição proporia a convocação de uma CPI para apurar o uso das aeronaves e os fascistas mirins organizariam marchas contra a corrupção — todos teleguiados pela mídia partidária!

Mas tudo bem! A Folha só tem o rabo preso com o leitor! E ainda tem midiota que acredita nesta balela!

Fonte: VIOMUNDO
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Memória: A origem da subserviência da mídia brasileira aos interesses dos Estados Unidos

publicado em 06 de janeiro de 2016 às 09:50
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Uma breve história da luta da grande mídia contra os interesses nacionais


Por Leandro Severo (*), na Carta Maior
Em 1957, uma CPI da Câmara dos Deputados comprovou que O Estado de São Paulo, O Globo e o Correio da Manhã foram remunerados pela publicidade estrangeira para moverem campanhas contra a nacionalização do petróleo.
Em momentos cruciais para o país se inclinaram para o golpismo e a traição aos interesses nacionais: contra Getúlio, a Petrobrás, JK, contra Jango, apoiando a ditadura, Collor, FHC e suas privatizações, atacando Lula.
Em 1941, enquanto milhões de homens e mulheres derramavam seu sangue pela liberdade nos campos da Europa e da União Soviética, a elite dos círculos financeiros dos Estados Unidos já traçava seus planos para o pós-guerra.
Como afirmou Nelson Rockfeller, filho do magnata do petróleo John D. Rockfeller, em memorando que apresentava sua visão ao presidente Roosevelt: “Independente do resultado da guerra, com uma vitória alemã ou aliada, os Estados Unidos devem proteger sua posição internacional através do uso de meios econômicos que sejam competitivamente eficazes…” (COLBY, p.127, 1998).
Seu objetivo: o domínio do comércio mundial, através da ocupação dos mercados e da posse das principais fontes de matéria-prima.
Anos mais tarde, o ex-secretário de imprensa do Congresso americano, Gerald Colby, sentenciava sobre Rockfeller: “no esforço para extrair os recursos mais estratégicos da América Latina com menores custos, ele não poupava meios” (COLBY, p.181, 1998).
Neste mesmo ano, Henry Luce, editor e proprietário de um complexo de comunicações que tinha entre seus títulos as revistas Time, Life e Fortune, convocou os norte-americanos a “aceitar de todo o coração nosso dever e oportunidade, como a nação mais poderosa do mundo, o pleno impacto de nossa influência para objetivos que consideremos convenientes e por meios que julguemos apropriados” (SCHILLER, p.11, 1976).
Ele percebeu, com clareza, que a união do poder econômico com o controle da informação seria a questão central para a formação da opinião pública, a nova essência do poder nacional e internacional.
Evidentemente, para que os planos de ocupação econômica pelas corporações americanas fossem alcançados havia uma batalha a ser vencida: Como usurpar a independência de nações que lutaram por seus direitos? Como justificar uma postura imperialista do país que realizou a primeira insurreição anticolonial?
A resposta a esta pergunta foi dada com rigor pelo historiador Herbert Schiller:
“Existe um poderoso sistema de comunicações para assegurar nas áreas penetradas, não uma submissão rancorosa, mas sim uma lealdade de braços abertos, identificando a presença americana com a liberdade – liberdade de comércio, liberdade de palavra e liberdade de empresa. Em suma, a florescente cadeia dominante da economia e das finanças americanas utiliza os meios de comunicação para sua defesa e entrincheiramento, onde quer que já esteja instalada, e para sua expansão até lugares onde espera tornar-se ativa” (SCHILLER, p.13, 1976).
Foi exatamente ao que seu setor de comunicações se dedicou. Estava com as costas quentes, já que as agências de publicidade americanas cuidavam das marcas destinadas a substituir as concorrentes europeias arrasadas pela guerra.
O setor industrial dos EUA havia alcançado um vertiginoso aumento de 450% em seu lucro líquido no período 1940-1945, turbinado pelos contratos de guerra e subsídios governamentais. Com esta plataforma invadiram a América Latina e o mundo.
Com o suporte do coordenador de Assuntos Interamericanos (CIIA), Nelson Rockfeller, mais de mil e duzentos donos de jornais latinos recebiam, de forma subsidiada, toneladas de papel de imprensa, transportada por navios americanos.
Além disso, milhões de dólares em anúncios publicitários das maiores corporações eram seletivamente distribuídos. É claro que o papel e a publicidade não vinham sozinhos, estavam acompanhados de uma verdadeira enxurrada de matérias, reportagens, entrevistas e releases preparados pela divisão de imprensa do Departamento de Estado dos EUA.
A vontade de conquistar as novas “colônias” e ocupar novos territórios como haviam feito no século anterior, no velho oeste, não tinha limites.
No Brasil, circulava desde 1942, a revista Seleções (do Reader’s Digest), trazida por Robert Lund, de Nova York.
A revista, bem como outras publicações estrangeiras, pagava os devidos direitos aduaneiros, por se tratar de produtos importados, mas solicitou, e foi atendida pelo procurador da República, Temístocles Cavalcânti, o direito de ser editada e distribuída no Brasil, com o argumento de ser uma revista sem implicações políticas e limitada a publicar conteúdos culturais e científicos. Assim começou a tragédia.
Logo em seguida chegou o grupo Vision Inc., também de Nova York, com as revistas Visão, Dirigente Industrial, Dirigente Rural, Dirigente Construtor e muitos outros títulos, que vinham repletos de anúncios das corporações industriais.
Um fato bastante ilustrativo foi o da revista brasileira Cruzeiro Internacional, concorrente da Life International, que, apesar de possuir grande circulação, nunca foi brindada com anúncios, enquanto a concorrente americana anunciava produtos que, muitas vezes, nem sequer estavam à venda no Brasil.
Ficava claro que os critérios até então estabelecidos para o mercado publicitário, como tempo de circulação efetiva, eficiência de mensagem e comprovação de tiragem, de nada adiantavam. O que estava em jogo era muito maior.
Um papel importantíssimo na ocupação dos novos mercados foi desempenhado pelas agências de publicidade americanas.
McCann-Erickson e J. Walter Thompson eram as principais e tinham seu trabalho coordenado diretamente pelo Departamento de Estado.
Para se ter uma idéia, a McCann-Erickson, nos anos 60, possuía 70 escritórios e empregava 4.619 pessoas, em 37 países; já a J. Walter Thompson tinha 1.110 funcionários, somente na sede de Londres. Os Estados Unidos tinham 46 agências atuando no exterior, com 382 filiais. Destas, 21 agências em sociedade com britânicos, 20 com alemães ocidentais e 12 com franceses.
No Brasil atuavam 15 agências, todas elas com instruções absolutamente claras de quem patrocinar.
No início dos anos 50, Henry Luce, do grupo Time-Life, já estava luxuosamente instalado em sua nova sede de 70 andares na área mais nobre de Manhattan, negócio imobiliário que fechou com Nelson Rockfeller e seu amigo Adolf Berle, embaixador americano no Brasil na época do primeiro golpe contra o presidente Getúlio Vargas.
Luce mantinha fortes relações com os irmãos Cesar e Victor Civita, ítalo-americanos nascidos em Nova Iorque. Cesar foi para a Argentina, em 1941, onde montou a Editorial Abril, como representante da companhia Walt Disney, já Victor, em 1950, chega ao Brasil e organiza a Editora Abril.
Neste mesmo período seu filho, Roberto Civita, faz um estágio de um ano e meio na revista Time, sob a tutela de Luce e logo retorna para ajudar o pai.
Poucos anos depois, o mercado editorial brasileiro está plenamente ocupado por centenas de publicações que cantavam em prosa e verso o american way of life.
Somente a Abril, financiada amplamente pelas grandes empresas americanas, edita diversas revistas: Veja, Claudia, Quatro Rodas, Capricho, Intervalo, Manequim, Transporte Moderno, Máquinas e Metais, Química e Derivados, Contigo, Noiva, Mickey, Pato Donald, Zé Carioca, Almanaque Tio Patinhas, a Bíblia Mais Bela do Mundo (1), além de diversos livros escolares.
Em 1957, uma Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara dos Deputados, comprova que O Estado de São Paulo, O Globo e o Correio da Manhã foram remunerados pela publicidade estrangeira para moverem campanhas contra a nacionalização do petróleo.
Em 1962, o grupo Time-Life encontra seu parceiro ideal para entrar de vez no principal ramo das comunicações, a Televisão: a recém-fundada TV Globo, de Roberto Marinho. Era uma estranha sociedade. O capital da Rede Globo era de 600 milhões de cruzeiros, pouco mais de 200 mil dólares, ao câmbio da época.
O aporte dado “por empréstimo” pela Time-Life era de seis milhões de dólares e a empresa tinha um capital dez mil vezes maior.
Como denunciou o deputado João Calmon, presidente da Abert (Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão): “Trata-se de uma competição irresistível, porque além de receber oito bilhões de cruzeiros em doze meses, uma média de 700 milhões por mês, a TV Globo recebe do Grupo Time-Life três filmes de longa metragem por dia – por dia, repito… Só um ‘package’, um pacote de três filmes diários durante o ano todo, custa na melhor das hipóteses, dois milhões de dólares” (HERZ, p.220, 2009).
O Brasil e o mundo estão em efervescência. A tensão é crescente com revoluções vitoriosas na China e em Cuba. A luta pela independência e soberania das nações cresce em todos continentes e os EUA colocam em marcha golpes militares por todo o planeta. A Guerra Fria está em um ponto agudo.
É nesse quadro que a Comissão de Assuntos Estrangeiros do Congresso dos EUA, em abril de 1964, no relatório “Winning the Cold War: The O.S. Ideological Offensive” define:
“Por muitos anos os poderes militar e econômico, utilizados separadamente ou em conjunto, serviram de pilares da diplomacia. Atualmente ainda desempenham esta função, mas o recente aumento da influência das massas populares sobre os governos, associado a uma maior consciência por parte dos líderes no que se refere às aspirações do povo, devido às revoluções concomitantes do século XX, criou uma nova dimensão para as operações de política externa. Certos objetivos dessa política podem ser colimados tratando-se diretamente com o povo dos países estrangeiros, em vez de tratar com seus governos. Através do uso de modernos instrumentos e técnicas de comunicação, pode-se hoje em dia atingir grupos numerosos ou influentes nas populações nacionais – para informá-los, influenciar-lhes as atitudes e, às vezes, talvez, até mesmo motivá-los para uma determinada linha de ação. Esses grupos, por sua vez, são capazes de exercer pressões notáveis e até mesmo decisivas sobre seus governos” (SCHILLER, p.23, 1976).
A ordem estava dada: “informar”, influenciar e motivar. A rede está montada, o financiamento definido.
O jornalista e grande nacionalista, Genival Rabelo, exatamente nesta hora, denuncia no jornal Tribuna da Imprensa do Rio de Janeiro: “Há, por trás do grupo (Abril), recursos econômicos de que não dispõem as editoras nacionais, porém, muito mais importante do que isso, está o apoio maciço que a indústria e as agências de publicidade americanas darão ao próximo lançamento do Sr. Victor Civita, a exemplo do que já fizeram com as suas 18 publicações em circulação, bem como as revistas do grupo norte-americano Vision Inc.” (RABELO, p.38, 1966)
Mas é necessário mais. É preciso enfraquecer, calar e quebrar tudo que seja contrário aos interesses dos monopólios, tudo que possa prejudicar os interesses das corporações.
A General Eletric, General Motors, Ford, Standard Oil, DuPont, IBM, Dow Chemical, Monsanto, Motorola, Xerox, Johnson & Johnson e seus bancos J. P. Morgan, Citibank, Chase Manhattan precisam estar seguros para praticar sua concorrência desleal, para remeter lucros sem controle, para desnacionalizar as riquezas do país se apossando das reservas minerais.
Várias são as declarações, nesta época, que deixam claro qual o caminho traçado pelos EUA.
Nas palavras de Robert Sarnoff, presidente da RCA – Radio Corporation of America – “a informação se tornará um artigo de primeira necessidade equivalente a energia no mundo econômico e haverá de funcionar como uma forma de moeda no comércio mundial, convertível em bens e serviços em toda parte” (SCHILLER, p.18, 1976). Já a Comissão Federal de Comunicações (FCC), em informe conjunto dos Ministérios do Exterior, Justiça e Defesa, afirmava: “as telecomunicações evoluíram de suporte essencial de nossas atividades internacionais para ser também um instrumento de política externa” (SCHILLER, p.24, 1976).
É esclarecedor o pensamento do delegado dos Estados Unidos nas Nações Unidas, vice-ministro das Relações Exteriores, George W. Ball, em pronunciamento na Associação Comercial de Nova Iorque:
“Somente nos últimos vinte anos é que a empresa multinacional conseguiu plenamente seus direitos. Atualmente, os limites entre comércio e indústria nacionais e estrangeiros já não são muito claros em muitas empresas. Poucas coisas de maior esperança para o futuro do que a crescente determinação do empresariado americano de não mais considerar fronteiras nacionais como demarcação do horizonte de sua atividade empresarial” (SCHILLER, p.27, 1976).
A ação desencadeada pelos interesses externos já havia produzido a falência de muitos órgãos de imprensa nacionais e, por outro lado, despertado a consciência muitos brasileiros de como os monopólios utilizam seu poder de pressão e de chantagem.
Em 1963, o publicitário e jornalista Marcus Pereira afirmava em debate na TV Tupi, em São Paulo: “Em última análise, a questão envolve a velha e romântica tese da liberdade de imprensa, tão velha como a própria imprensa.
Acontece que a imprensa precisa sobreviver, e, para isso, depende do anunciante. Quando esse anunciante é anônimo, pequeno e disperso não pode exercer pressão, por razões óbvias. É o caso das seções de ‘classificados’ dos jornais. Mas poucos jornais têm ‘classificados’ em quantidade expressiva. A maioria dos jornais e a totalidade das revistas vivem da publicidade comercial e industrial, dos chamados grandes anunciantes. Acho que posso parar por aqui, porque até para os menos afoitos já adivinharam a conclusão” (RABELO, p.56, 1966).
Não é difícil perceber o quanto a submissão aos interesses econômicos estrangeiros levou a dita “grande mídia” brasileira a se afastar da nação. A se tornar, ao longo dos anos, em uma peça chave da política do Imperialismo. Em praticamente todos os principais momentos da vida nacional se inclinaram para o golpismo e a traição.
Já no primeiro golpe contra Getúlio, depois, contra sua eleição, contra sua posse, contra a criação da Petrobrás, contra a eleição de Juscelino, contra João Goulart, contra as reformas de base, apoiando a Ditadura, apoiando a política econômica de Collor, apoiando Fernando Henrique e suas privatizações, atacando Lula.
Hoje, ela novamente tem lado: o das concessões de estradas, portos e aeroportos, o dos leilões de privatização do petróleo e da necessidade da elevação das taxas de juros, do controle do déficit público com evidentes restrições aos investimentos governamentais, ou seja, da aceitação de um neoliberalismo tardio.
Por que atuam desta forma?
Genival Rabelo deu a resposta: “Um industrial inteligente desta cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro me fez outro dia esta observação, em forma de desafio: ‘Dou-lhe um doce, se nos últimos cinco anos você pegar uma edição de O Globo que não estampe na primeira página uma notícia qualquer da vida americana, dos feitos americanos, da indústria americana, do desenvolvimento científico americano, das vitórias e bombardeios americanos. A coisa é tão ostensiva que, muita vez, sem ter o que publicar sobre os Estados Unidos na primeira página, estando o espaço reservado para esse fim, o secretário do jornal abre manchete para a volta às aulas na cidade de Tampa, Miami, Los Angeles, Chicago ou Nova Iorque. Você não encontra a volta às aulas em Paris, Nice, Marselha, ou outra cidade qualquer da França, na primeira pagina de O Globo, porque, de fato, isso não interessa a ninguém. Logo, não pode deixar de haver dólar por trás de tudo isso…’ Outro amigo presente, no momento, e sendo homem de publicidade concluiu, deslumbrado com seu próprio achado: ‘É por isso que O Globo não aceita anúncio para a primeira página. Ela já está vendida. É isso. É isso!’. ‘E muito bem vendida, meu caro – arrematou o industrial – A peso de ouro’ ” (RABELO, p.258, 1966).
(*) Leandro Severo é Delegado à Conferência Nacional de Comunicação, Secretário Municipal de Comunicação em São Carlos entre 2007 e 2012 e membro do Partido Pátria Livre.
COLBY, G; DENNETT, C. Seja feita a vossa vontade: a conquista da Amazônia, Nelson Rockfeller e o evangelismo na idade do Petróleo. Tradução: Jamari França. Rio de Janeiro: Record, 1998.
HERZ, D. A história secreta da Rede Globo. Porto Alegre: Dom Quixote, 2009. Coleção Poder, Mídia e Direitos Humanos.
RABELO, G. O Capital Estrangeiro na Imprensa Brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.
SCHILLER, H. I. O Império norte-americano das comunicações. Tradução: Tereza Lúcia Halliday Petrópolis: Vozes, 1976.
Outros livros recomendados:
• Tio Sam chega ao Brasil – a penetração cultural americana – de Gerson Moura, Ed. Brasiliense – São Paulo – 5ª edição [1ª Ed. 1984]
• O Imperialismo Sedutor – a americanização do Brasil na época da Segunda Guerra – Antonio Pedro Tota – Companhia das Letras – São Paulo – 2000
• A Invasão Cultural Norte-Americana – Júlia Falivene Alves São Paulo – Moderna – 1988 – 26ª edição


Fonte: VIOMUNDO
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Antropoceno: a grande obra do capitalsimo

Antropoceno: a grande obra do capitalismo

Como a população será informada sobre a real situação das mudanças climáticas se os próprios autores dessas informações são dominados pelas corporações?        

Najar Tubino
David Baird
A Comissão Internacional de Estratigrafia vai definir em 2016 se a espécie humana é a maior força natural do planeta, o que precisa de registro nas pedras, tal como já acontece com a radioatividade liberada em mais de dois mil testes nucleares já ocorridos. Argumentos para reforçar a tese de alguns pesquisadores não faltam: metade das florestas foi detonada, mais de 50% das populações de vertebrados, o que envolve pássaros, peixes, anfíbios, mamíferos, foram aniquiladas, o mesmo valendo para populações de espécies de água doce ou marinhas. Anualmente os extratores revolvem as entranhas da terra para buscar dois bilhões de toneladas de ferro, 15 milhões de toneladas de cobre – somente os Estados Unidos extraem três bilhões de toneladas de minérios.

Além de 272 milhões de toneladas de plásticos produzidas em 192 países, sendo que uma parcela entre 4,8 milhões e 12 milhões são jogadas nos oceanos. E as 57 mil represas existentes no mundo que drenaram metade das zonas úmidas e retêm 6.500km3 de água, algo equivalente a 15% do fluxo hidrológico dos rios. Sem contar os 2,3 gigatoneladas de sedimentos retidos nos reservatórios. Não é a toa que nos últimos 10 anos, 85% dos deltas foram inundados pelo mar.

O livro: Capitalismo e colapso ambiental

Podemos acrescentar mais números: 2,2 bilhões toneladas de resíduos sólidos jogados no ambiente, incluindo fezes e urina da população urbana que já domina o planeta – mais de quatro bilhões de pessoas. Ou seis trilhões de cigarros fumados, que depois formam uma montanha de 750 mil toneladas de plástico e resíduos cancerígenos. Ou ainda mais, na direção da era digital: 93,5 milhões de toneladas de lixo eletrônico previstas para este ano, com a grande contribuição de computadores e smartphones, que agora usam 63 elementos na sua composição. É óbvio que os Estados Unidos lideram a excrescência- 29,8 quilos per capita, seguidos pela União Europeia com 19,2, sendo que na Alemanha o consumo per capita é de 23,2kg. Não custa acrescentar mais uma informação – o Centro de Dados do Facebook, na Carolina do Norte, inaugurado em 2012 consumirá na próxima década um milhão de toneladas de carvão. A Agência Internacional de Energia prevê que em 2030 o carvão será a grande fonte de energia elétrica no mundo – entre 34 e 43% da capacidade das usinas.

Os números circulam diariamente pelo globo terrestre e o professor Luiz Marques, da UNICAMP, transformou no livro “Capitalismo e Colapso Ambiental”, com 641 páginas e uma interrogação: será que ainda estamos vivos ou só falta aguardar a hora da catástrofe. Mas tem um fundamento que define melhor a situação no mundo globalizado em 2016. Uma citação do livro “Capitalismo e Colapso Ambiental”:

“- A riqueza da humanidade adulta de 4,7 bilhões de pessoas é de US$240,8 trilhões (2013), 68,7%, mais de dois terços dos indivíduos adultos situados na base da pirâmide de riqueza possuem 3% - US$7,3 trilhões da riqueza global, com ativos de no máximo 10 mil dólares. No topo da pirâmide – 0,7% dos adultos possuem 41% da riqueza mundial ou o equivalente a US$98,7 trilhões de dólares. Somados os estratos superiores da pirâmide – 393 milhões de pessoas, 8,4% da população adulta – detêm 83,3% da riqueza global.”

Para completar: as 500 milhões de pessoas mais ricas no planeta produzem metade das emissões de CO2, enquanto os três bilhões mais pobres emitem 7%.

Quem são os responsáveis?

Por isso, quando a mídia conservadora e idiota disseminada pelo mundo como um gás tóxico alardeia a força da espécie, ou do “homem”, como sempre preferem, como destruidora do meio ambiente é preciso perguntar o seguinte: quem são os representantes da espécie, de que sociedade participam, qual o conluio socioeconômico e político que estão investidos? Enfim, quem são os responsáveis pela sexta onda de extinção de espécies do planeta, pela destruição das florestas, dos mangues, das margens dos rios, do envenenamento dos solos e do ar e que jogam grande parte da humanidade numa corrida insana atrás de acumulação e desperdício?

O professor Luiz Marques tem razão quando diz que a definição do Antropoceno é uma questão filosófica. Não existe mais a visão da divisão entre homem e natureza, agora é natural que a natureza se humanize. Dito isso, após listar todas as consequências da onda capitalista que varre o planeta nos últimos 300 anos.

Entretanto, quem está envolvido com a realidade ambiental, social e econômica do mundo, do país, da sua cidade sabe que a pergunta mais complicada de responder é: por que as pessoas não reagem, não lutam contra a maré acumulativa, contra o apelo consumista, afinal, temos uma catástrofe logo ali na esquina nos esperando. Ou, no mínimo, sabemos que estamos condenando os nossos descendentes a viver no Planeta sobre o administração de HADES, o inferno grego.

Metano da calota polar é um detonador

Deixando de lado o que é óbvio, porque no mundo moderno, onde 28 megacidades têm mais de 10 milhões de habitantes, a corrida pela sobrevivência ou pela manutenção do patrimônio mínimo – casa, carro, bicicleta, skate, que seja – não dá margem para vacilo. Ou a pessoa está dentro do sistema e comunga das regras, ou está à margem e luta unicamente pela sobrevivência física. Teoricamente, as informações sobre a situação do mundo circulam, mas de uma forma exótica, sempre com um caráter longínquo ou até mesmo controverso, ou polêmico, como dizem os agentes da mídia corporativa. Aliás, como as populações serão informadas sobre a real situação das mudanças climáticas, se os próprios autores dessas informações rezam pela cartilha de conservadores e autoritários políticos e as corporações que os dominam, sem o mínimo escrúpulo em discutir o assunto. A maior preocupação dos pesquisadores envolvidos nas questões ambientais e sociais do planeta é com a velocidade do aquecimento da temperatura. Segundo ponto: uma maior aceleração pode incluir a calota polar ártica, a parte da Sibéria onde as temperaturas subiram acima das médias dos últimos anos, e estão abrindo furos no permafrost- que é o solo congelado com vegetais- e uma imensa quantidade de metano – entre 100 bilhões e um trilhão de toneladas permanece estocada.

Isso não é uma dedução ou uma análise filosófica. Pode realmente ser um detonador do aumento da temperatura global em poucos anos, antecipando entre 15 e 35 anos a data em que o aumento da temperatura ultrapassaria os dois graus centígrados. Agora, em 2030, exatamente daqui a 14 anos, quando a população ultrapassar os oito bilhões de pessoas, a quantidade de carros que deverá circular no planeta será de dois bilhões. A pergunta é simples: alguém acredita que a velha Terra com seus 4,6 bilhões de anos aguenta dois bilhões de veículos fumegando de norte a sul?

Fonte: CARTA MAIOR
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terça-feira, 5 de janeiro de 2016

O moralista bbb

A ironia do destino: O Pedro Bial (que... - Mulheres contra o ...

https://pt-br.facebook.com/MulheresContraoFeminismo/.../69782601364...

A ironia do destino: O Pedro Bial (que bateu na ex-esposa segundo rumores) entrevista as feministas e estas ficam quietas quietinhas . Elas todas revoltadas .

Fonte: Google
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O valentão moralista.




Sem Açúcar
Chico Buarque

Todo dia ele faz diferente, não sei se ele volta da rua
Não sei se me traz um presente, não sei se ele fica na sua
Talvez ele chegue sentido, quem sabe me cobre de beijos
Ou nem me desmancha o vestido, ou nem me adivinha os desejos

Dia ímpar tem chocolate, dia par eu vivo de brisa
Dia útil ele me bate, dia santo ele me alisa
Longe dele eu tremo de amor, na presença dele me calo
Eu de dia sou sua flor, eu de noite sou seu cavalo

A cerveja dele é sagrada, a vontade dele é a mais justa
A minha paixão é piada, sua risada me assusta
Sua boca é um cadeado e meu corpo é uma fogueira
Enquanto ele dorme pesado eu rolo sozinha na esteira

E nem me adivinha os desejos
Eu de noite sou seu cavalo