sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

COP - 21. Pós Capitalismo. Um Outro Mundo é Possível

Naomi Klein: a defesa da Terra é pós-capitalista


APTOPIX France Climate Countdown
Estado de Emergência: Em 29/11, em Paris, governo francês usa poderes que assumiu em nome da “guerra ao terrorismo” para reprimir manifstação que pedia medidas contra aquecimento global

Ativista-intelectual sustenta: para frear mudança climática, todas as atitudes pessoais têm valor. Mas elas só serão efetivas com mudança no modo de produção e consumo

Por Bill Lueders | Tradução: Inês Castilho
Naomi Klein talvez seja a pessoa mais esperançosa na face da terra. A despeito de sua aterradora avaliação sobre as consequências das mudanças climáticas globais, a maioria delas inevitável, em seu livro de 2014 This Changes Everything: Capitalism vs. the Climate (Isso Muda Tudo: Capitalismo versus Clima) a escritora e ativista canadense acredita na capacidade dos humanos em mudar o curso das coisas.
As mudanças climáticas não são uma ‘questão’ a ser somada à lista de coisas com as quais se preocupar, ao lado de creches e impostos”, escreve Klein. “São antes a convocação para um despertar civilizacional. Uma mensagem poderosa – falada na linguagem de incêndios, enchentes, secas e extinção –, dizendo que precisamos de um modelo econômico inteiramente novo e uma nova maneira de partilhar este planeta. Dizendo que temos de evoluir.”
Colaboradora de publicações como The Nation e The Progressive, e autora de livros que incluem A Doutrina de Choque, sobre como interesses poderosos usam um conjunto de crises conectadas para abrir caminho, Klein não é poliana ao dimensionar a enormidade do desafio. Ele propõe, entre outras coisas, tramar “a extinção das mais ricas e poderosas indústrias que o mundo jamais conheceu – as indústrias de petróleo e de gás.” Mas sua receita é até mais ambiciosa: “A solução para o aquecimento global não é consertar o mundo, é nos consertar a nós mesmos.”
Klein argumenta que os humanos podem vir a recriar o mundo e a natureza de seu relacionamento com ele porque necessitam disso. Seu livro foi chamado no The New York Times de “o mais sério e consciente sobre meio ambiente desde Primavera Silenciosa” e o “primeiro livro verdadeiramente honesto já escrito sobre as mudanças climáticas”, na revista Time. E agora é assunto de um documentário que o acompanha, também denominado This Changes Everything, que Klein está divulgando em viagens pelo mundo. (Para informações sobre exibição, veja o site do filme).
Conversei com Klein pelo telefone em meados de outubro, quando ela estava em Seattle, acompanhando uma projeção. Falamos sobre seu livro, seu otimismo qualificado, seus pensamentos sobre o papa Francisco e o presidente Obama, sua visão sobre como a humanidade pode mudar, e mais.
Naomi: "Ações individuais importam -- por provarem que as coisas que necessitamos fazer para baixar nossas emissões melhoram nossa qualidade de vida. Mas não são um substituto para o trabalho político.
Naomi: “Ações individuais importam — por provarem que as coisas que necessitamos fazer para baixar nossas emissões melhoram nossa qualidade de vida. Mas não são um substituto para o trabalho político.

Seu livro apresenta dois futuros possíveis: ou a humanidade rompe de modo dramático com práticas passadas, especialmente a adesão ao sistema econômico capitalista, ou tendemos inevitavelmente a uma catástrofe sem paralelos. Considerando que nossa estrutura social e política está profundamente comprometida com os ditames do capitalismo, este último cenário não seria mais provável?
Sim. (Risos.) Não defendo a ideia de que as probabilidades estão a nosso favor. Argumento que a aposta é tão alta, que temos uma responsabilidade moral sem precedentes de fazer todo o possível para aumentar nossas chances. E considero que há mais espaço para debater os custos do capitalismo do que em qualquer outro momento da minha vida. Isso foi até tema do primeiro debate dos candidatos do Partido Democrata à presidência dos EUA. Há alguns sinais reais de mudança, desde as eleições na Grécia e a eleição de Jeremy Corbyn como líder do Partido Trabalhista britânico, até a campanha de Bernie Sanders à Casa Branca e as iniciativas do papa Francisco. Penso que, se se tratasse apenas das mudanças climáticas, não teríamos chance. Mas o fato de que este modelo econômico está esmagando as pessoas em tantas frentes simultaneamente cria o potencial para um tipo de política de coalizão que é avalizada pela ciência; e que usa os prazos definidos pela ciência em relação às mudanças climáticas para agir com ousadia e rapidez. Mas, se eu fosse apostar, não apostaria a nosso favor, não.

Você sugere que o problema real por trás das mudanças climáticas não é a natureza humana, nem mesmo os gases de efeito estufa – mas uma história que vimos contando a nós mesmos nos últimos 400 anos. Você poderia elaborar isso?
As mudanças climáticas são, entre outras coisas, uma crise de narrativa. E essa narrativa nasceu nos anos 1600, sustentada pela visão de Francis Bacon e René Descartes. Eles tinham a ideia, revolucionária naquele tempo, de que a Terra não era um sistema vivo, uma mãe a ser reverenciada e temida, mas, ao contrário, uma coisa inerte que poderia ser inteiramente conhecida e da qual se poderia extrair riquezas indefinidamente.
Mas a ideia de que poderíamos dominar a natureza e agir sem pensar nas consequências entrou em colapso com as mudanças climáticas. O aquecimento global nos coloca, os seres humanos, em nosso lugar, de maneira profundamente perturbadora para uma visão de mundo baseada na dominação. Mas é algo a ser abraçado, se você tem uma visão de mundo baseada em interconexão. É o que a maioria dos cientistas tem, cada vez mais.

Você observa que as mudanças climáticas afetarão os países pobres desproporcionalmente e forçarão um êxodo maciço de pessoas de países-ilhas e nações da África sub-saariana. A partir daí, pergunta: “Como trataremos os refugiados das mudanças climáticas que chegarem em nossos portos em botes precários”? A atual onda anti-imigrantes na Hungria – ou entre os candidatos à presidência dos EUA pelo Partido Republicano – sugere uma resposta?

Quando pensamos num futuro mais quente, não se trata apenas do calor, da seca, das tempestades. Tem a ver com as sociedades tornando-se mais mesquinhas, porque esta é a lógica capitalista diante da escassez: o-vencedor-leva-tudo. Estamos vendo exatamente isso, na crise dos refugiados. Essa crise tem suas raízes em guerras por recursos naturais, nas quais o acesso a combustíveis fósseis teve papel central. E um dos aceleradores do conflito civil na Síria foram as mudanças climáticas. A Síria viveu uma seca recorde nos últimos anos, o que levou a uma explosão de violência.
Estamos vendo o melhor e o pior de que são capazes os humanos. Os seres humanos somos complexos. Somos egoístas, gananciosos, racistas, horrendos e belos, cheios de solidariedade e compaixão – tudo ao mesmo tempo. Sistemas diferentes ativam diferentes partes de nós. Por isso, viramos as costas à crise dos refugiados, que o Ocidente teve grande papel em criar. Mas vemos também atos de generosidade tremendos – milhares de pessoas na Islândia e na Alemanha abrindo suas casas, e comunidades organizando-se para amparar refugiados.
Precisamos reconhecer essa complexidade e pensar quais sistemas trazem à tona nosso melhor e nosso pior self. Porque isso irá determinar como respondemos a essa crise.

Uma das partes mais devastadoras do seu livro é quando expõe a tremenda insensatez da ideia de que a inovação humana encontrará um modo de capturar todos os  gases de efeito estufa. Mas a tecnologia não terá de ser parte da resposta, e o mercado não poderá ajudar nesse processo?
A tecnologia é parte da solução, e o fato de o preço da energia solar ter baixado cerca de 95% nos últimos seis anos, a ponto de estar equivalendo ao dos combustíveis fósseis em vários grandes mercados, é parte do que torna essa ideia esperançosa. As tecnologias melhoram o tempo todo. Isso se deve a uma combinação de fatores, não apenas ao mercado. A Alemanha investiu bilhões em pesquisa e desenvolvimento, de que estamos nos beneficiando agora. Mas o mercado também teve um papel. Penso que o perigo surge quando dizemos a nós mesmos que o mercado, ou a tecnologia, irão resolver o problema por nós; e podemos simplesmente relaxar.

Numa comunicação que fez no College of the Atlantic, você disse: “A dura verdade é que a resposta à questão ‘o que eu posso, como indivíduo, fazer para deter as mudanças climáticas’ é: nada”. Explique o que quis dizer com isso.
Parte do que combatemos é o triunfo da lógica do mercado – essa ideia de que nosso maior poder é o de consumidores. Definitivamente, há coisas que você pode fazer como indivíduo para minimizar sua contribuição ao problema. Você pode parar de comer carne, pode parar de viajar de avião, pode fazer da sua vida um experimento em baixo-carbono, se quiser. Mas, como indivíduos, tais atos não dão a partida para a transformação da economia global de que estamos falando.
Ações individuais importam, por nos provarem que as coisas que necessitamos fazer para baixar nossas emissões melhoram nossa qualidade de vida – nos tornam mais saudáveis, mais felizes. Isso cria um exemplo para outros e alimenta nosso trabalho político. Mas não é um substituto para o trabalho político.

Você foi convidada pelo Vaticano para discutir a encíclica das mudanças climáticas do papa Francisco, que chega essencialmente à mesma conclusão que chegamos, de que responder às mudanças climáticas requer mudanças fundamentais em nosso modelo econômico capitalista e consumista. Que diferença faz que o papa Francisco tenha assumido essa causa? Não seriam os católicos bastante espertos para ignorar os ensinamentos e as posições da igreja?
Eles são, mas penso que esse papa é um líder transformador, de modo que ele é mais difícil de ignorar, talvez, que o papa Bento XVI. Eu sempre estimulei as pessoas a ler a encíclica, independentemente de sua fé ou falta dela. Sou uma feminista secular e considero-a um documento profundamente inspirador, muito bem escrito. E olhe para o modo como as pessoas reagiram ao papa Francisco em sua visita aos Estados Unidos. Você viu sua habilidade em tocar as pessoas. Penso que ele está usando seu poder e plataforma de modo extremamente inspirador.

Você foi criticada por Katha Pollitt por não ver o “ponto cego” do papa – a adesão da igreja à desigualdade de gênero e sua oposição à contracepção, ainda que a superpopulação certamente colabore para enfrentar o problema das mudanças climáticas. A igreja católica não seria parte do problema?
Antes de mais nada, não é verdade que não vejo os pontos cegos. Eu me apresentei bem abertamente como feminista quando estava no Vaticano. Quando escrevi meu livro, debati se era o caso de argumentar que as liberdades reprodutivas das mulheres eram parte da batalha contra as mudanças climáticas. E o que ouvi [de outras feministas] foi muita dúvida sobre a instrumentalização dos direitos reprodutivos com o objetivo de gerar ação sobre as mudanças climáticas.
Numa sociedade patriarcal, se você disser que precisamos controlar a população para enfrentar as mudanças climáticas, terá de lidar com muitos precedentes de situações em que mulheres negras, ou indianas, são particularmente atingidas por campanhas de esterilização em massa. Acredito fortemente no direito de escolha das mulheres, e no direito à contracepção. Mas não acredito nisso por causa das mudanças climáticas; acredito porque acredito. Penso que esses direitos deveriam ser defendidos por seus próprios méritos. Também acredito que o controle populacional é frequentemente um modo de mudar de assunto, dos hábitos de consumo dos ricos, em sua maior parte pessoas brancas, para os hábitos de procriação dos pobres, em sua maioria pessoas negras e mestiças. É um modo de tirar nosso pescoço da forca. Se você olha os números, o maior crescimento populacional e as taxas de natalidade mais altas ocorrem em partes do mundo com as emissões mais baixas. O que impulsiona o crescimento das emissões é o consumo ao estilo do Ocidente.

Como você avalia o presidente Obama quanto ao enfrentamento das mudanças climáticas?
Nos últimos seis meses, temos visto mais liderança do que durante toda a sua presidência. É muito pouco, e muito tarde. As reduções de emissão de CO² que ele propõe não estão de modo algum próximas do que devem ser. Como presidente, ele abriu vastos novos territórios para a extração de combustíveis fósseis, incluindo terras públicas que não deveria abrir. Penso que a decisão de permitir que a Shell perfurasse no Ártico foi desastrosa. Podemos ficar tremendamente agradecidos porque a empresa, em grande parte por causa dos danos que estava causando a sua imagem, ao ativismo e ao preço do petróleo,  decidiu que a atividade não vale a pena por enquanto.
Penso que as restrições impostas pelo governo Obama reduziram a velocidade da exploração, mas teria sido tão mais significativo simplesmente dizer não. No momento em que as companhias de combustíveis fósseis têm cinco vezes mais carbono em suas reservas, precisamos que líderes políticos digam: “Você precisa deixá-lo no solo.”

Por um breve momento, alguns anos atrás, parecia que dar alguns passos no sentido de enfrentar as mudanças climáticas poderia ser uma área de acordo bipartite, nos EUA. Agora parece que os republicanos, incluindo os que estão concorrendo à presidência, tentam desqualificar a iniciativa como – para citar Chris Christie – “uma ideia da esquerda selvagem”. Como esse assunto pode ser tão deturpado na política partidária?
Os republicanos entendem que fazer o que precisamos fazer em face das mudanças climáticas é absolutamente antiético para seu projeto político. Se você não acredita em governo, se não acredita em tributar corporações ou os muito ricos, se não acredita que há lugar para a ação coletiva, então não haverá uma resposta para as mudanças climáticas. E mesmo quando você tem os chamados esforços bipartidários a partir de gente como Bob Inglis [ex-congressista republicano da Carolina do Sul], que apoia um imposto sobre receitas de carbono, compensadas por reduções de impostos de renda e corporativos, não é muito melhor do que a negação, porque isso não faria nada para resolver o problema.
De modo que o meu argumento é de que precisamos mudar a ideologia do país; esse é o projeto. A direita foi bem sucedida nisso com Reagan e Thatcher. Eles moveram o polo da política para a direita de forma dramática. E não vamos a lugar nenhum até que movimentemos o polo na outra direção.

Bill Lueders é editor associado do The Progressive.

Fonte: OUTRAS PALAVRAS
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O ataque neoliberal à vida dos negros

Os efeitos da globalização capitalista resultaram no deslocamento maciço de populações negras; aumento da pobreza e violência estatal.


Ajamu Baraka reprodução
Danelly Estupiñan, uma grande ativista de direitos humanos afro-colombiana e minha amiga pessoal, hoje enfrenta uma ameaça mortal de criminosos fanáticos alinhados com os interesses econômicos dos poderosos, que se empenham em manter a subjugação da população negra na cidade portuária de Buenaventura e em toda a Colômbia.

Ativista e membro do Processo das Comunidades Negras (PCN), Danelly faz parte de uma longa lista de mulheres, trabalhadores e jovens ativistas que estão enfrentando a morte ou foram assassinados por se atrever a organizar afro-colombianos em defesa de sua dignidade.

Às 17:30 de 23 de novembro, Danelly recebeu uma ameaça de morte que dizia: "Danelly, você está perto do seu fim". Menos de cinco horas depois, ela recebeu um telefonema de um amigo, que foi interposto por uma voz distorcida dizendo "nós sabemos onde você está, nós sabemos onde você está".

O escritório do Processo das Comunidades Negras (PCN) em Buenaventura atua há décadas em defesa dos direitos e da dignidade da população negra que vive na área de Bajamar da Ilha de Cascajal, em Buenaventura. Os afrodescendentes que vivem nesta área, muitos dos quais foram deslocados juntamente com seus filhos, fugiram de conflitos e de abusos nas comunidades ribeirinhas próximas. Eles agora vivem em condições sub-humanas decorrentes do abandono por parte do Estado. Não só têm de enfrentar uma extrema marginalização, pobreza, falta de serviços básicos e pouco acesso a oportunidades de emprego, mas agora a área em que vivem teve seu valor aumentado como resultado do "acordo de livre comércio" entre a Colômbia e os EUA, o que os tornou alvo de grupos armados que procuram forçá-los a abandonar suas terras.

Eu conheço esta comunidade. Eu andei por suas ruas e comi do mesmo pão que seus habitantes. O governo quer que essa e outras comunidades negras simplesmente desapareçam, porque pretende expandir o porto e construir um novo calçadão na cidade, de modo a atrair investimentos privados e dólares de turistas. Seu único obstáculo são as pessoas que vivem naquela terra valiosa. Danelly e o PCN representam uma resistência organizada a esses planos e, portanto, tornaram-se alvo dos grupos paramilitares que protegem e fazem valer os interesses da elite colombiana.

A pobreza, a repressão e a luta de vida e morte das comunidades negras em Buenaventura, Colômbia, não pode ser compreendida se ignorarmos a estrutura e a lógica da globalização capitalista neoliberal - uma perspectiva que relaciona as condições de Buenaventura com as condições de outra cidade portuária - Baltimore.

Em ambos os casos, os efeitos da globalização capitalista resultaram no deslocamento maciço de populações negras; aumento da pobreza; marginalização econômica do trabalho negro e violência estatal ou privada. A erupção da resistência popular em uma das comunidades mais pobres de Baltimore durante anos de negligência estatal e policiamento militarizado é consequência direta das condições sócio-econômicas devastadoras geradas pelos milhares de empregos perdidos quando os EUA transnacionalizaram grande parte das atividades industriais e portuárias da cidade, resultado de uma globalização neoliberal. Em contexto de pauperização da classe trabalhadora negra em Baltimore, os administradores negros de classe média que ocupavam as instituições governamentais locais apoiaram planos de desenvolvimento, como o complexo Inner Harbor, que deslocou milhares de famílias da classe trabalhadora negra.

Em Baltimore, a relativa fraqueza da resistência negra ao significativo deslocamento em massa fez com que não fossem necessários esquadrões da morte para exterminar líderes comunitários, diferente do que vemos na Colômbia. O domínio eminente e um policiamento militarizado neofascista, com impunidade de crimes cometidos contra os negros e pobres concentrados nas comunidades arruinadas, tem sido arma eficaz para controle e contenção das pessoas. E quando houve erupções de oposição, como durante a última rebelião em Baltimore em resposta ao assassinato policial de Freddie Gray, vimos como o Estado, a nível local e nacional, não hesitou em trazer todo o peso de sua jurisprudência opressora sobre quem se atrevia a resistir.

O que deve ser claramente entendido e articulado em linguagem inequívoca é que essa guerra travada contra corpos negros não significa contenção de "maçãs podres" pelas forças policiais, não é uma falta de revisão eficaz das práticas policiais ou, no caso da Colômbia, não é simplesmente a ausência de um governo que intervenha de forma mais agressiva para desmantelar os grupos paramilitares. A guerra que está sendo travada contra negros pobres e contra a classe trabalhadora é precisamente a manifestação de uma guerra mais ampla, engendrada por uma supremacia branca assassina e voraz, uma classe dominante global, colonial, capitalista e patriarcal que visa manter e expandir a sua hegemonia mundial.

Esta é a base e o objetivo da Parceria TransPacífico (PTP), do Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (APT), da Organização Mundial do Comércio (OMC), do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial (BM), da OTAN, da guerra na Síria e do apoio contínuo ao forte do imperialismo ocidental no Oriente Médio, conhecido como Israel.

Não se confunda com o papel dos estados vassalos, como Turquia, Arábia Saudita, França, Reino Unido ou mesmo com os estados que parecem independentes dessa dominação, como China e Rússia - as fundações da dominação capitalista global, através de força, ainda se situam no Ocidente e representam uma continuação do velho projeto colonial e capitalista pan-europeu, agora com 523 anos. Esta é principal contradição que os diferentes povos do mundo enfrentam.

Em 9 de novembro, os paramilitares assassinaram o jovem ativista Jhon Jairo Ramirez Olaya em Buenaventura. Hoje, Danelly Estupiñan, cuja vida e luta são símbolo para todos aqueles que lutam contra opressões, está enfrentando a morte pela audácia de se organizar e resistir a globalização capitalista.

Nós devemos nos juntar ao povo da Colômbia. Temos de nos certificar de que as vidas dos negros de Buenaventura importam e de que a nossa querida irmã estará protegida. Mas também devemos reconhecer que, para que a vida negra realmente importe, a vida de todos aqueles que sofrem e são explorados pelo capitalismo neoliberal e pela ideologia desumanizadora da supremacia branca devem também importar. A valorização de nossas vidas só pode acontecer quando nós, os oprimidos, lutarmos pelo poder de transformar nossas condições e de imaginar e lutar por um novo mundo.

Ajamu Baraka é um ativista de direitos humanos, organizador e analista geopolítico. Baraka é membro associado do Institute for Policy Studies (IPS) , em Washington DC, e editor e colunista do Black Agenda Report.. Ele é contribui pro  “Killing Trayvons: An Anthology of American Violence” (CounterPunch Books, 2014). E pode ser contatado em www.AjamuBaraka.com

tradução por Allan Brum

Fonte: CARTA MAIOR
 

Vitória dos Estudantes

Alckmin recua. "Picolé de chuchu" derreteu!
Por Altamiro Borges
Em tom funebre, a mídia chapa-branca registrou no início da tarde desta sexta-feira (4): os jovens que ocuparam mais de 200 escolas públicas em São Paulo derrotaram o truculento governador tucano. A brutalidade da tropa de choque da PM, com suas bombas de gás e cassetetes, não conseguiu intimidar os aguerridos alunos. A cumplicidade da imprensa venal, que fez de tudo para ocultar e criminalizar a heróica mobilização, não inibiu o apoio da sociedade. O "picolé de chuchu", tão blindado pela mídia, derreteu. A sua popularidade despencou. Os jovens demonstraram que o melhor caminho é a luta!
Conforme registro do site UOL, da famiglia Frias - que também edita a Folha tucana -, "o governador Geraldo Alckmin (PSDB) oficializou em coletiva de imprensa a suspensão da reorganização escolar na tarde desta sexta-feira. 'Recebi e respeito a mensagem dos estudantes e seus familiares em relação à reorganização. Por isso decidimos adiar a reorganização e rediscuti-la escola por escola', disse". Já o site do Estadão, pertencente à decadente famiglia Mesquita, relatou o "recuo" do governo tucano e registrou: "Estudantes que participaram de manifestação nesta sexta-feira comemoraram, aos prantos, a notícia na Praça da República, região central da capital paulista".
De fato, o momento é de comemoração dos jovens estudantes. Mas é bom não confiar nas palavras de "respeito" do governador paulista. O tucanato já deu várias provas de que é adepto da pura violência contra os movimentos sociais - que o digam os moradores expulsos do Pinheirinho, em São José dos Campos, os professores em greve da rede estadual ou os metroviários demitidos. Geraldo Alckmin só recuou porque as ocupações cresciam e a sua popularidade derretia. Pesquisa do Datafolha, divulgada nesta sexta-feira, apontou que apenas 28% dos paulistas consideram seu governo ótimo ou bom - em outubro do ano passado, o índice era de 48%. Já 30% dos entrevistados classificaram como ruim ou péssimo a sua truculenta e desastrada gestão. É o pior índice dos últimos tempos.
Fonte: Blog do Miro
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reforme seu governo sp       

Não foi uma turma de garotos que derrotou Alckmin. Foi sua própria estupidez

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Com todo o respeito pela garotada das escolas públicas de São Paulo, que foi valente e bem mais madura que muito marmanjo que se deixa levar pela histeria, não foram eles que derrotaram o plano de Geraldo Alckmin de fechar escolas públicas.

"Vamos adiar a reorganização e dialogar escola por escola", diz Alckmin
Quem derrotou foi a reprovação do povo de São Paulo à brutalidade com que seu movimento legítimo foi tratado pelo Governado Geraldo Alckmin, brutalidade repetida hoje na “chuva de bombas” que se derramou nas ruas paulistanas.
Quem derrotou foi o medo – medo, e não escrúpulo – do governador ao ver que estava se tornando inevitável que ocorresse uma tragédia que o marcasse, sem volta, com o estigma de assassino de jovens.

Quem derrotou Geraldo Alckmin foi, sobretudo, Geraldo Alckmin, que se comportou como um arrogante, um tirano, um autoritário que acha que questões educacionais são um caso de polícia.
Quem derrotou o “invencível” governador tucano foi, reconheça-se também, a serenidade com que a gurizada agiu, sem deixar que meia-dúzia de babacas pusesse a perder a simpatia da população.
Por isso, neste instante em que os garotos e garotas das escolas públicas paulistas venceram pacificamente a guerra que se lhes quir mover, nós, os mais velhos, só temos uma coisa a dizer.
Obrigado por  vocês nos fazerem manter – e recuperar, se a andávamos perdendo – a fé em que o mundo pode ser e será melhor.


Nós os vimos sofrer o que não queríamos ver  sofrerem nossos filhos.
E, agora, quando serenamente vencem, sentimos vontade de abraçar cada um de vocês como desejamos abraçar os nossos filhos.
Rovena Rosa / Agência Brasil

Fonte: TIJOLAÇO
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A tática dos estudantes para tentar driblar a violência da PM de Alckmin. Por Mauro Donato

Postado em 04 dez 2015
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“Quero fazer amor com você”

Diante da rigidez de Alckmin, a flexibilidade dos estudantes. O desdobramento das ocupações das escolas se dá em ocupações de ruas e avenidas concretizando o grito de “se a escola fechar, a cidade vai parar.”
Os estudantes dão a cara a tapa. Não têm medo. Sabem que irão apanhar, mas a causa é maior. Como num flash mob decidem rapidamente quais ruas serão interditadas e surgem de surpresa, carregando cadeiras e faixas. Em poucos minutos interrompem o trânsito das principais vias de São Paulo. E tome porrada e bomba.
Na manifestação acompanhada pelo DCM na tarde desta quinta-feira  (3), não teve tiro. Mas não faltou a ameaçadora escopeta apontada para os adolescentes. Uma mãe se desesperou ao ver a arma ‘não letal’ apontada para os jovens e foi tirar satisfação com o comandante. “Esse é seu trabalho? Vai bater em criança, você não tem vergonha não?” Levou um grotesco empurrão com um escudo. Uma chuva de bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral é lançada. Ao menos três pessoas foram feridas por estilhaços.
Impedida pela Justiça de colocar em prática as reintegrações de posse das escolas ocupadas, a Polícia Militar tem se esbaldado com os protestos dos alunos realizados do lado de fora. Nas ruas, demonstra toda sua sanha. Quebra a cadeira na cabeça de aluno, enfia murro na cara como se em briga de rua, da golpes de cacetete nas pernas de meninas, prende adolescentes como se fossem bandidos.
Está na hora da revisão: vamos repetir? Estudantes. Adolescentes. Alunos.
Ao final do protesto de ontem, 14 deles foram detidos. Já são mais de 30 no total e muitos feridos. O que está possibilitando essa barbaridade?
Já noticiamos aqui no DCM que jornalistas da grande mídia foram instruídos a não abordar o assunto de outra forma que não seja favoravelmente ao plano de reorganização do ensino proposto pelo governo. E isso é mais facilmente percebido nas ruas do que vendo os telejornais. Com essa cobertura, a polícia recebeu um cheque em branco. Poucas vezes em manifestações vi tantas expressões raivosas e reações desmedidas de policiais. Tudo bem, exagero, já vi muito piores afinal estamos falando da PM, mas quando se trata de repressão a adolescentes não há como não se revoltar.
Pela manhã, o estudante Elissandro Dias Siqueira ficou pendurado como em um pau-de-arara do Doi-Codi. Enquanto era carregado, suas calças caíram e ele assim foi mantido, humilhado em plena rua. Se fosse seu filho, o que você faria?
O Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), classificou ontem como “verdadeiro atentado” contra os direitos de crianças e adolescentes essas medidas de repressão adotadas depois do chefe de gabinete da Secretaria de Educação declarar guerra. E como em guerra vale tudo, há ainda uma outra covardia sendo praticada nas prisões realizadas. Dada a participação de menores nos protestos, quando um manifestante detido é maior de idade está sendo acudado de aliciamento de menores. Isso é um golpe baixo repugnante.
O governo Alckmin diz estar aberto ao diálogo, mas publica o decreto assim mesmo. Diz estar aberto ao diálogo, mas joga a PM em cima. Diz estar aberto ao diálogo, mas pratica coação na imprensa.
Como na realidade não ouvem ninguém, secretaria de segurança e governador afirmam que não irão tolerar o fechamento de ruas uma vez que impede o ‘sagrado’ direito de ir e vir (sempre tirado da manga e pelo visto mais importante que o direito à educação). Mas o curioso é que na noite anterior, 30 pessoas pararam a avenida Paulista para ‘comemorar’ a bertura do processo de impeachment de Dilma.
A polícia não chegou batendo e lançando bombas por que? Quando a causa é simpática ao governador daí tudo bem? Então não é uma questão técnica ou legal, há um fundo político nas ações determinadas por ele. Não é ele quem diz o tempo todo que o movimento dos alunos não é legítimo pois é político?
E até onde vai isso? Simples. Com a pesquisa Datafolha divulgada hoje sinalizando a popularidade de Alckmin em queda livre, é certo que ele irá recuar. E mais uma vez isso nada tem a ver com uma preocupação com a educação ou respeito ao direito de manifestação. Terá sido simplesmente para salvar a própria pele.

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Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO 
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Governo Alckmin promove atentado contra crianças e adolescentes

publicado em 04 de dezembro de 2015 às 10:05
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Fotos: O Mal Educado e Agência Brasil
Governo de São Paulo promove verdadeiro atentado contra os direitos humanos de crianças e adolescentes
Nota do Movimento Nacional de Direitos Humanos
O Movimento Nacional de Direitos Humanos, maior rede nacional de entidades de defesa dos direitos humanos, formada por mais de 300 entidades filiadas no Brasil, sendo mais de 50 delas no estado de São Paulo, vem a público manifestar sua indignação e repúdio diante na escalada de violência e de violações de Direitos Humanos promovidas pelo Governo do Estado de São Paulo contra crianças e adolescentes – estudantes da rede pública de educação, que legitimamente exigem serem ouvidos pelo governo diante de uma suposta proposta de “reorganização educacional”, que, na verdade, tem como pano de fundo o fechamento de escolas, a superlotação de salas de aulas e os cortes nos orçamentos da educação, exatamente num momento em que o País e seus governos federal, estaduais e municipais deveriam planejar o aumento de ações, programas e investimentos sociais e educacionais, diante das discussões sobre a criminalização da infância e juventude e das estatísticas que demonstram o aumento ultrajante e epidêmico das mortes de jovens excluídos.
A brutalidade das ações estatais contra os estudantes se acentuou após a divulgação, no último final de semana, de afirmações do chefe de Gabinete da Secretaria de Educação, Sr. Fernando Padula, na qual ficou evidente que seria colocada em pratica uma verdadeira “guerra” contra os estudantes e seus apoiadores, incluindo membros de movimentos sociais e, também, os pais que acompanham seus filhos em ocupações de escolas e manifestações.
Apesar das promessas do governador do estado, Geraldo Alckmin, e do secretário de estado da educação, Herman Voorwald, de que a polícia não atuaria contra os estudantes nas mais de 200 escolas ocupadas, principalmente após uma decisão unânime da 7ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, no dia 23 de novembro, que considerou “legítimas” as manifestações e os protestos estudantis, desautorizando qualquer desocupação forçada das escolas, principalmente com a utilização de força policial.
Porém, na prática, policiais, principalmente militares, geralmente fardados, mas também alguns a “paisana”, promovem diariamente “abusos de autoridade”, “constrangimentos”, “torturas físicas e psicológicas”, “ameaças”, “maus tratos”, “intimidações”, “lesões corporais” , “detenções arbitrárias” e “ataques com tiros de balas de borracha e gás lacrimogêneo” nas escolas e nas manifestações pacíficas dos estudantes, entre tantas ações ilegais que fazem parte do “modus operandi” da polícia paulista.
O MNDH apela para que entidades sociais e de direitos humanos atuem em apoio e defesa dos estudantes das escolas ocupadas. Também solicita que todos os ativistas comprometidos com a promoção de direitos se voluntariem para a defesa dos jovens que lutam por uma educação pública de qualidade em São Paulo.
O MNDH ainda exorta para que órgãos como Conselhos Tutelares, Defensorias Públicas, Comissões da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), promotorias de direitos humanos e da infância e juventude, Ouvidoria de Polícia, entre outras, cumpram suas funções públicas visando coibir e punir os abusos praticados por agentes do estado, como por dirigentes da educação, policiais e pelo próprio Governador do Estado, que tem ordenado ações violentas contra os jovens estudantes.
O MNDH também solicita que sejam encaminhados relatos de casos de violências e abusos praticados por agentes do estado contra as crianças e adolescentes que se manifestam, visando a elaboração de um informe a ser encaminhado para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), conforme uma petição já recebida pela referida instituição, que trata da criminalização de crianças e adolescentes no Brasil.
Ressaltamos que todas as violações praticadas pelo Governo de São Paulo contra os jovens estudantes que exercem, de forma organizada e pacífica, os direitos de participação, liberdade, manifestação, protagonismo, reunião, entre outros, previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente e na legislação internacional de proteção dos direitos humanos, serão denunciadas, repudiadas, sendo também exigidas as devidas responsabilizações dos agentes violadores.
O MNDH reafirma seu compromisso com as crianças e adolescentes que promovem o mais importante e legítimo movimento em defesa do direito humano à educação da história contemporânea do Brasil.
COORDENAÇÃO NACIONAL DO MNDH
COORDENAÇÃO ESTADUAL DO MNDH- SP

Fonte: VIOMUNDO

Por onde anda a Verdadeira Democracia ?

Porras loucas da oposição têm 99 votos na Câmara para o impítim

Requião
Fonte: CONVERSA AFIADA

Eduardo Paes: Impeachment é autofagia política e tentativa de golpe 

Fonte: JORNAL DO BRASIL

Ilustrada colonista, impeachment, impítim, nada disso é trend topics...

Estudante que adora o Alckmin
Fonte: CONVERSA AFIADA

Sem-terra e sem-teto se posicionam contra impeachment e pedem cassação de Cunha

Entidades classificam decisão de Eduardo Cunha, de aceitar o pedido de impeachment, como chantagem e como uma forma de garantir seus interesses pessoais.
Fonte: BRASIL DE FATO

Eduardo Cunha é uma ameaça à ordem democrática

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 Fonte: TIJOLAÇO

Mercado prefere que haja impeachment de Dilma, diz FHC 

Fonte: JORNAL DO BRASIl

Leonardo Boff: um eticamente desqualificado manda a julgamento uma mulher íntegra e ética

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Fonte: TIJOLAÇO

O impeachment e a antipolítica

Por Mauro Santayana, em seu blog:

A aceitação do pedido de impeachment pelo Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, ocorre em um momento em que poucas vezes a classe política brasileira esteve tão desacreditada, e tão, também – intencionalmente - vilipendiada junto à opinião pública.

No início do ano, logo depois das eleições, pesquisa do Datafolha indicava que 71% dos entrevistados não tinham preferência por nenhum partido político.

Em julho, pesquisa do Ibope mostrava que o Congresso Nacional ocupava a penúltima posição entre 18 instituições pesquisadas, incluídas a Igreja e o Exército, com a confiança de apenas 17% da população, enquanto, diuturnamente, os mesmos internautas que atacam o PT o faziam – e continuam fazendo - com a classe política, contrapondo a deputados, senadores, vereadores, prefeitos, ministros, considerados, pela bandeira da antipolítica, corruptos, bandidos e desonestos, um altíssimo índice de confiança – empurrado pela própria atitude da mídia – em policiais, procuradores e juízes, como se entre os magistrados, no Ministério Público e nas forças de segurança, só houvesse profissionais impolutos e ilibados, e para o exercício da atividade política fosse característica primordial e imprescindível a condição de mentiroso, ladrão, pilantra e mau-caráter.

É perigoso e ingênuo acreditar que esse seja apenas um retrato do momento, que possa ser corrigido somente com a troca da correlação de forças, e que não haja nada mais no horizonte, além do embate entre diferentes partidos e grupos políticos e os aviões de carreira.

Iludem-se os políticos de centro e de oposição, os oportunistas e os indiferentes, se acreditam que, entregando a cabeça de Dilma Roussef, terão as suas poupadas, e elas continuarão sobre os ombros, para se abaixar à passagem da faixa presidencial.
Pelo contrário, Dilma pode, paradoxalmente, ser o dique – ou o alvo – que ainda atrai para si as balas e contêm o tsunami.

A criminalização da atividade política, insuflada contra o PT pela oposição, secundada por uma mídia seletiva e comprometida, quebrou, quase que definitivamente, o equilíbrio de poderes em que se baseia o sistema republicano tradicional, substituindo a negociação, anteriormente exercida como base do Presidencialismo de Coalizão, pela atuação de forças externas, de caráter não nominalmente, mas profundamente político, criando uma espécie de Frankenstein descontrolado, que coloca, de fato, parcela da burocracia do Estado, acima e além daqueles que detêm o voto da população.

O “acoelhamento” do Senado, recusando a prerrogativa de julgar um de seus pares, mesmo que para sua posterior entrega à prisão – abrindo mão de tentar, ao menos, mostrar firmeza, autonomia e determinação ética para a opinião pública - é o retrato da rendição do Poder Legislativo à máquina repressora de parte da justiça, e abriu a possibilidade para que qualquer homem público seja acusado, em seqüência, de qualquer coisa, a qualquer momento, bastando cair em uma esparrela, por um bilhetinho qualquer – subitamente elevado pela imprensa à condição de “documento” - a acusação de um desafeto ou de um delator “premiado” disposto a qualquer atitude para salvar a própria pele, ou uma frase passível de interpretação dúbia ou subjetiva pinçada em seu e-mail ou em uma conversação telefônica.

Que os incautos não se iludam.

Não haverá tergiversação ou acordo com aqueles que estiverem, na base do governo, ou na oposição, alimentando a ilusão de pensar que irão substituir a Presidente da República em caso de impeachment, ou mesmo de sucedê-la, eventualmente, tranqüilo e normalmente, por meio do voto.

Qualquer liderança que representar ameaça para o projeto de poder em curso – que, mais uma vez, não se iludam os incautos, parece não se tratar de outra coisa – poderá vir a ser eventualmente envolvida na maré de acusações e afastada da vida pública, com as suas cabeças rolando, uma por uma.

A única esperança de retorno a uma situação de normalidade mínima está, no curto prazo, na interrupção negociada, inteligente e equilibrada, do processo de strip-tease, de MMA mútuo, público e suicida dos diferentes partidos e lideranças aos olhos da opinião pública.

E no fim da busca de soluções extemporâneas para a disputa do poder – qualquer singularidade só pode beneficiar forças externas ao ambiente político – com um retorno ao calendário e aos ritos de praxe, o que implica na defesa institucional e organizada, por parte da classe política, de sua imagem frente à opinião pública, seguida de uma disputa programática e civilizada nas próximas eleições, que serão realizadas em menos de um ano.

Isso não bastará, naturalmente, para terminar com o processo de desgaste intencional da atividade pública que está se aprofundando, com enorme e deletério sucesso, e que pretende, entre outras coisas, substituir os “políticos” clássicos, hoje abertamente reputados como “sujos”, por impolutos e heroicos justiceiros messiânicos, que gozam de poder para, se quiserem, tentar governar indiretamente o país por meio de pressões e prisões, ou para fazer uma súbita e “surpreendente” irrupção no universo político.

Mas, pelo menos, poderá levar a atual geração de homens públicos – em última instância herdeira da representação popular por meio do voto – a fazer frente, unida, cerrando fileiras, independente de sua orientação política, a pressões externas, senão em defesa de si mesma, ao menos do Parlamento, como um poder independente, e da própria Democracia, no lugar de se arriscar a sair da vida pública e a entrar na história, um por um, submissos e humilhados, com as mãos nas costas, e a sua biografia arrastada na lama.

Essa reação não impedirá que, embalados pela mídia e as campanhas iniciadas pela própria oposição, personagens oriundos das operações em curso venham a se sentir tentados a participar, também, diretamente, do processo político, transformando-se eventualmente em candidatos, nos próximos pleitos.

Como o Aedes Aegypti, a mosca azul pode picar qualquer um, e o seu vírus é mais poderoso que o da dengue ou que o da chikungunya.

Como um procurador fez questão de lembrar, há poucos dias, há operações que estão em curso – que eram vistas inicialmente como uma forma de tirar o PT do poder - que deverão durar pelo menos pelos próximos 10 anos.

Isso as transforma, como um touro trancado em uma loja de louças - em um elemento novo, incontrolável e permanente – que deverá ter seus efeitos analisados, avaliados e eventualmente corrigidos e limitados, por quem de direito na Praça dos Três Poderes – no contexto do processo econômico, social e político brasileiro.
Fonte: Blog do Miro 
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O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, deputado eleito pelo povo, resolve tomar uma medida baseado em chantagens, vingança  e motivações pessoais.

Um representante de uma parcela da população, que faz da política, de seu cargo, dos votos que recebeu, um balcão de negócios pessoais e também  sua trincheira privilegiada para disputas pessoais.

Para isso , vale, pois assim pensa o parlamentar,  mandar a julgamento a presidenta da república, e, ao fazê-lo, promove um clima de instabilidade no país.

Instabilidade, projetos pessoais e vinganças que não estavam nos votos que recebeu, certamente. 
  
Chamam isso de política. 

No embalo do vingativo inconsequente, políticos de partidos de oposição, eleitos pelo povo , colocam em prática projetos oportunistas , inconsequentes,  que ignoram o desejo da maioria da população expresso nas urnas.

Chamam isso de política.  

Reagindo a porrralouquice dos inconsequentes, o partido do governo, o PT, entra com uma representação do Supremo Tribunal Federal questionando a decisão do presidente da Câmara dos Deputados,  Eduardo Cunha,  que trabalha no congresso nacional, uma ilha de interesses  particulares na região central do Brasil, país onde vivem as pessoas que elegeram os insulares.

O PT, ao tomar conhecimento que a representação contra a porralouquice do insular Eduardo Cunha seria julgada pelo insular ministro do STF Gilmar  Mendes , resolve retirar a representação pois o ministro do STF, tem lado, ideologia e amigos que apoiam o impedimento da presidenta da república, logo não acataria a representação do PT.

Chamam isso de justiça

O Supremo Tribunal Federal, instância última de julgamentos, logo uma Casa em que se espera, ou se imagina, retidão e equilíbrio nos julgamentos, é declarada abertamente como uma das ilhas do arquipélago de interesses e motivações pessoais , na região central do país, onde decisões são tomadas e que irão influenciar a vida dos reles mortais que vivem nas  terras do Brasil, um grupo de quase 200 milhões de pessoas reais  que dependem das decisões dos insulares.
  
Se tudo isso não bastasse para escancarar a distância que existe entre os interesses das pessoas reais e os interesses dos inquilinos do arquipélago , um ex-presidente da república, Fernando Henrique Cardoso, o FHC, vem a público, com o auxílio sempre presente e disponível dos meios de comunicação da grande mídia, dizer que o Mercado apoia a destituição da presidenta da república.

O Mercado, esse ente extra corpóreo que as vezes em um só dia fica ansioso, inquieto, nervoso, alegre, preocupado, feliz, triste,  deprimido, eufórico , e, quando se manifesta, somente para algumas almas privilegiadas , gera uma grande expectativa quanto  as suas opiniões.

Por outro lado, o Mercado não vota - pelo menos diretamente comparecendo em uma urna eletrônica - não aparece em público, mas, ao longo das últimas décadas tornou-se  proprietário do arquipélago da região central do Brasil, daí, a relevância que suas declarações tem entre os insulares, seus inquilinos.

Chamam isso de democracia. 

Assim, políticos, partidos políticos, magistrados e o Mercado, o poder sem rosto,  definem os rumos de um grupo de 200 milhões de pessoas, pessoas que votaram, mas não escolheram , em função de suas decisões, esses políticos, esses partidos, esses magistrados e, sequer conversaram com o poder sem rosto.

Na sequência das decisões tomadas no arquipélago, os oportunistas e parcela do judiciário, tem o amplo e irrestrito apoio de toda a grande mídia para que seus projetos pessoais tenham êxito.

Assim , ontem, hoje, e nos próximos dias, a narrativa e a linguagem dos meios de comunicação dominantes e hegemônicos  dirá aos reles mortais, esse grupo de 200 milhões de pessoas, que a destituição da presidenta da república é algo necessário e, para tanto, grupos de afinidades  ao discurso midiático devem se organizar para sair às ruas e com isso sensibilizar a maioria  da população  em benefício da democracia.

Para os meios de comunicação da grande mídia ,democracia é aquilo  que o proprietário do arquipélago define, e seus inquilinos seguem, assim como fez FHC.

Chamam isso de imprensa livre e democrática.   
 
 
 

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Fim de linha para Cunha


juniaocunharaiva

 

 
 



Rede da dignidade contra o golpe e a vigarice

O governo, emparedado pela lógica conservadora, paradoxalmente, passou a ter escolhas. Como disse a própria Dilma, 'não era mais possível viver chantageada'

por: Saul Leblon

Lula Marques
A história apertou o passo e quando sacode a poeira ela derrama transparência por onde passa.

A retaliação de Eduardo Cunha contra o governo e contra o PT guarda semelhanças com uma cena recorrente da crônica policial.

Enredado em evidências grotescas de ilícitos e falcatruas, o presidente da Câmara sacou um processo de impeachment contra a Presidenta Dilma, depois que o PT –graças à corajosa decisão de seu presidente, Rui Falcão, determinou que o partido não acobertasse o delinquente no Conselho de Ética.

Cunha age como o sequestrador que saca o revólver e o coloca na cabeça do refém, exigindo salvo conduto para si e para o malote de dinheiro.

Eduardo Cunha aposta que os comparsas do lado de fora lhe darão cobertura na fuga cinematográfica para frente.

Talvez tenha razão a julgar pela adesão de pronto de tucanos, como os rapinosos Aécio e Serra, por exemplo.

Outros, aqueles que entendem a política como oportunismo, endossarão igualmente o meliante em nome da honradez.

Ou não é essa –há meses—a especialidade do colunismo isento na sua seletiva campanha anti-corrupção?

A cumplicidade desses comparsas está precificada no metabolismo político brasileiro desde 2005/2006.

Não se espere grandeza de onde impera a mediocridade básica das elites latino-americanas.

Aquela que sonega ao próprio país e ao povo o direito e a competência para se erguer como nação justa e soberana.

O vento implacável da história desnuda em 2015 os novos atores do velho enredo em cartaz em 1932, 1954, 1962, 1964, 1989, 2002, 2005, 2006, 2010 e 2014.

Com um agravante: há um pedaço da sociedade que se descolou definitivamente do país e tem como pátria o capital flutuante que não quer pertencer ao destino de nenhum povo.

Seu interesse e visão de mundo, portanto, são imiscíveis com a ideia de um regime do povo, para o povo e pelo povo.

E isso não é retórica, mas uma ameaça: eles consideram que a Constituição de 1988 prometeu mais do que é justo o dinheiro grosso ceder e que o PT teima em lembrar.

São aliados naturais do assaltante que ameaça agora um  mandato subscrito por 54 milhões de brasileiros.

Daí não sai nada a não ser golpe e dilapidação.

A mudança terá que vir do outro lado.

O lado do país que se avoca o direito de enxergar na justiça social a finalidade e o motor da luta pelo desenvolvimento brasileiro. E que tem na democracia a principal garantia de que esse processo é crível e consistente porque negociado, repactuado e legitimado nas diferentes manifestações de liberdade de um povo --nas lutas, nos escrutínios e nas mobilizações históricas de uma nação.

Estamos diante de um desses momentos que Celso Furtado denominava de ‘provas cruciais de uma nação’.

É, sobretudo, no caso brasileiro, a hora da verdade para as forças progressistas.

Cabe-lhes superar o empate corrosivo que paralisa a sociedade e desacredita a democracia.

Trata-se de vencer a prostração e o sectarismo, fazendo da mobilização contra o golpe o impulso que faltava para uma repactuação do país em torno dos interesses majoritários de seu povo.

Lideranças políticas e sociais não podem piscar.

O enclausuramento ideológico, o acanhamento organizativo e a indiferenciação, diante  da qual a juventude não se reconhece e a militância se recolhe-- devem ser dispensados de uma vez por todas.

Que ninguém se iluda: o apoio ao impeachment tem por trás um projeto econômico devastador

Nele não cabem as urgências e direitos da maioria da população brasileira.

Um notável volume de investimentos é requerido nesse momento para adequar a logística social e a infraestrutura às dimensões de uma nação que incorporou milhões de pobres ao mercado de consumo nos últimos anos.

Agora lhes deve a cidadania plena.

O novo giro da engrenagem terá que ocorrer num momento paradoxal.

Uma tempestade perfeita cobra respostas em várias frentes: prover a infraestrutura, combater a inflação, resgatar a industrialização, dar progressividade ao sistema tributário, ajustar o câmbio, modular o consumo.

Tudo junto e com a mesma prioridade.

Ao mesmo tempo, porém, o labirinto encerra a oportunidade histórica de inovar  metas e métodos.

A plataforma do arrocho, com a qual o conservadorismo capturou o governo  --e agora pretende concluir o assalto tomando-lhe o mandato,  envelheceu miseravelmente ao escancarar  sua incapacidade  para ir além de uma recessão destrutiva.

PIB, emprego, investimento e consumo despencam sob o timão de um ajuste que desajusta o bolso do povo pobre e agrava as contas fiscais da nação.

O interesse conservador que antes pretendia usar o governo para escalpelar as ruas, subtraindo-lhe conquistas e recursos, agora quer usar as ruas e o impeachment para derrubar o governo.

A bipolaridade reflete a ansiedade típica de quem sabe que tem pouco tempo porque aquilo que a rua exige e espera colide com o que o mercado pretende.

Quem dará coerência ao desenvolvimento brasileiro nessa encruzilhada?

Antes turva, a resposta emerge límpida após o assaltante colocar a arma na cabeça do refém nesta tarde da terça-feira, 2 de dezembro de 2015.

A nova coerência macroeconômica terá que ser buscada na correlação de forças redesenhada pela divisão entre os que se alinharão na cumplicidade ao chantagista e os que vão se juntar ao governo para ampliar o espaço  de um novo contrato de crescimento para a nação brasileira.

Emparedado pela lógica conservadora o governo Dilma, paradoxalmente, passou a ter escolhas.

Como disse a própria Presidenta, em desabafo, ’não era mais possível viver chantageada’.

Dilma deve, sim, negociar. Com o Brasil que trabalha e quer trabalhar. Com o capital que produz e quer produzir.

Isso define uma límpida conduta para as próximas horas, os próximos dias, meses e, sobretudo uma próxima reforma ministerial definidora de uma verdadeira governabilidade, com o direito de recorrer ao povo para construir o passo seguinte do crescimento.

O bônus não autoriza o conjunto das forças progressistas a adotar a agenda da fragmentação suicida.

O discurso cego às interações estruturais é confortável . Mas leva ao impasse autodestrutivo e à inconsequência histórica.

A responsabilidade de interferir num processo histórico pressupõe a adoção de balizas que impeçam o retrocesso e assegurem coerência às mudanças.

O jogo é pesado.

Avançar à bordo da composição de forças que delimitou a ação progressista até aqui tornou-se cada dia mais penoso.

Esgotou-se um capítulo.

Não apenas por conta da saturação de um ciclo econômico.

Mas também porque se descuidou de prover a sociedade de canais democráticos para viabilizar o passo seguinte do processo.

Faltava a locomotiva da história apitar outra vez para esticar os limites do possível na repactuação do novo capítulo do crescimento brasileiro.

Foi o que o assalto à mão armada de Cunha desencadeou nas últimas horas.

A presidenta Dilma viu o bonde passar e não hesitou.

Reagiu na direção certa em pronunciamento à Nação

Antes dela, Rui Falcão, Pimenta e outros tiveram a coragem de rechaçar o chantagista e alinhar o PT  ao clamor dos milhões de brasileiros que não aceitam mais compactuar com um sistema político que se tornou um biombo desmoralizado do poder econômico, a serviço de banqueiros e bandidos.

Ao assumir o risco de uma represália que se confirmou, o PT indiretamente reaproximou-se dos que entendem que a soberania popular é  o único impulso capaz de harmonizar os conflitos e sacolejos de uma transição de ciclo de desenvolvimento.

O tempo urge.

O assalto conservador ao mandato de Dilma  joga uma cartada de vida ou morte contra o relógio político.

À medida que apodrece a reputação de seus centuriões, e os savorolas da ética entram em combustão explosiva, restou-lhes apostar tudo no estreito espaço de tempo entre a desmoralização absoluta e a capacidade residual de articular o golpe.

A coragem de Dilma e do PT, a solidariedade do PSOL logo na primeira hora da escalada, o levante maciço nas redes sociais ensejam esperança e legitimidade.

Em 1962 Brizola opôs ao golpe contra Jango uma bem-sucedida mobilização nacional liderada pela Rede da Legalidade.

Que Lula, Luciana, Boulos, Stédile, Vagner Freitas, intelectuais, estudantes, empresários produtivos, personalidades e democratas em geral se unam e se organizem.

Essa é a hora e ninguém fará isso por nós.

Que Dilma recorra diariamente, se preciso, à cadeia nacional para afrontar o monólogo golpista e liderar a resistência nacional.

É o seu mandato que está em jogo.

E que disso nasça uma gigantesca rede da dignidade contra o golpe e a vigarice.
 

Com ela, e somente com ela, emergirá o impulso que falta para abrir passagem ao país que o Brasil poderia ser, mas que ainda não é –e que interesses poderosos não querem que venha a ser.

Fonte: CARTA MAIOR






quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

O mito da imprensa democrática

O mito da imprensa democrática
Por Luciano Martins Costa, no site do FNDC:

Os jornais brasileiros de circulação nacional, aqueles que determinam o eixo da agenda pública, encerram o mês de novembro com a mesma pauta que iniciou o ano de 2015. Não se trata da saraivada de denúncias, declarações, vazamentos e revelações factuais sobre fluxos de dinheiro ilegal ligados a campanhas eleitorais. Essa é apenas a espuma do noticiário e dificilmente saberemos em que os fatos atuais se diferenciam do histórico da corrupção, a não ser pela evidência de que alguns atores estão sendo responsabilizados.

O que a chamada imprensa tradicional do Brasil está produzindo é um projeto recorrente na política nacional, que se associa em ampla escala ao contexto do continente e, em menor grau, se relaciona também com o cenário internacional. Trata-se do programa de desconstrução de políticas que, no longo prazo, poderiam consolidar o ensaio de mobilidade social observado nos últimos anos em boa parte da América do Sul.

São muitas as razões pelas quais as principais corporações da mídia têm interesse em desmobilizar a geração que saiu da miséria para se inserir no protagonismo social na última década. A principal delas é a mudança no perfil do eleitorado de algumas regiões do País, aquelas mais impactadas pelos resultados econômicos dos projetos sociais de renda básica.

Observe-se que, nos últimos nove anos, aconteceram em São Paulo, mais precisamente na sede do Instituto Itaú Cultural, pelo menos sete eventos internacionais de análise dos efeitos dessas políticas públicas sobre a economia. Estiveram presentes economistas, sociólogos, pesquisadores e gestores de programas que engajaram dezenas de milhões de famílias nos mecanismos das contrapartidas, que melhoraram a renda da população atolada nos estratos mais baixos da pobreza.

Esses seminários chamaram a atenção de profissionais de diversas áreas, mas, até onde foi possível observar pessoalmente, não produziram a menor curiosidade na imprensa. Para ser mais preciso, deve-se dizer que, num desses eventos, esteve presente, misturado à plateia, um antigo coordenador de Economia do jornal O Estado de S. Paulo – que dizia, para quem quisesse ouvir, que se sentia tão perdido naquele ambiente como um cachorro que havia caído do caminhão de mudanças.

Essa absoluta falta de interesse diz muito sobre o funcionamento da mídia tradicional: desde o lançamento do primeiro programa de incremento da renda básica, até o advento da presente crise – que tem sido em grande medida insuflada pela própria imprensa -, os editores que ditam a agenda institucional boicotaram, quando não demonizaram explicitamente, essa tentativa de inverter o desenho histórico da pirâmide social.

O leitor e a leitora atentos devem se perguntar: o que isso tem a ver com a crise política, as dificuldades econômicas e os escândalos que não saem das manchetes?

Ora, apenas os midiotas se satisfazem com o cardápio oferecido pela mídia diariamente, pela administração cuidadosa de fragmentos vazados de investigações, pela alimentação constante das idiossincrasias internas dos compostos político-partidários e pela manipulação indecorosa de indicadores econômicos. Foi certamente por um arroubo de consciência que o jornalista e apresentador Sidney Rezende denunciou o catastrofismo do noticiário econômico – o que lhe custou imediatamente o emprego na GloboNews.

O que está em curso, na agenda da imprensa hegemônica do Brasil, é um projeto fascista de poder, que tem sua essência na conhecida lição oferecida por Roland Barthes no dia 7 de janeiro de 1977, quando inaugurou a cadeira de Semiologia Literária no Colégio de França. Esse projeto se desenvolve à sombra de mitos construídos e alimentados pelo sistema do poder arbitrário, ao qual a imprensa, como instituição, sempre serviu sob o disfarce da defesa da modernidade.

A “imprensa democrática” é um mito criado pela imprensa. O que há de democrático no ecossistema da comunicação social são as vozes dissonantes daquilo que Barthes chamou de “discurso da arrogância”, ou o “discurso do poder – todo discurso que engendra o erro”. Esse poder arbitrário se aloja na linguagem, e mais precisamente na linguagem jornalística. Mas essas vozes dissonantes – que costumamos chamar de “imprensa alternativa” -, por sua própria natureza de negação do discurso predominante, não são capazes de se impor como uma linguagem em favor da democracia.

É certo que a justificativa moral da atividade jornalística sempre foi o pressuposto da objetividade: considera-se que o texto noticioso, bem como a imagem com finalidade informativa, correspondem sempre a interpretações objetivas da realidade. Só que não. A linguagem jornalística, apropriada pelo sistema do poder arbitrário, se transforma em mera produção de conceitos com o objetivo claro de oferecer uma interpretação reducionista da realidade, subjetiva e condicionante de uma visão de mundo estreita e conservadora.

Como instrumento da linguagem, observa Barthes, a língua não é reacionária nem progressista: ela é fascista, “pois o fascismo não é impedir de dizer, é obrigar a dizer”. Como instrumento do poder, a linguagem da imprensa hegemônica do Brasil produz esse “discurso da arrogância” a serviço do fascismo.

(Para ler: “Aula”, de Roland Barthes)
* Luciano Martins Costa é jornalista, mestre em Comunicação, com formação em gestão de qualidade e liderança e especialização em sustentabilidade. Autor dos livros “O Mal-Estar na Globalização”,”Satie”, “As Razões do Lobo”, “Escrever com Criatividade”, “O Diabo na Mídia” e “Histórias sem Salvaguardas”.


Fonte: Blog do Miro
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Torcida do Palmeiras impede entrada de equipe da Rede Globo no Allianz Parque

Jornal do Brasil
Na noite da última quarta-feira (2) o Palmeiras conquistou o tri campeonato da Copa do Brasil contra o Santos, no Allianz Parque. A partida, como de costume, teve transmissão ao vivo da Rede Globo, porém, os funcionários da emissora, Kléber Machado, Casagrande e Caio Ribeiro, foram impedidos pelos torcedores palmeirenses de entrar no estádio para realizar a transmissão, que teve de ser feita dos estúdios da Globo, na Zona Sul de São Paulo.

Segundo a coluna Ktv, quando os torcedores avistaram o carro que transportava a equipe da Rede Globo chegando na arena, impediram a passagem do veículo. Os funcionários se sentiram ameaçados e resolveram retornar aos estúdios.

Os motivos dos protestos contra a emissora se devem ao fato de a Globo não chamar o estádio alviverde pelo nome, Allianz Parque. Além de alegarem que a emissora dar preferência aos jogos do arquirrival Corinthians.

Durante a partida, a Globo registrou 31 pontos no ibope, contra 9 pontos da Record e 7 pontos do SBT. Em comparação, a partida que culminou com o título brasileiro do Corinthians, teve um registro de 24 pontos no Ibope.

Até o momento a emissora não se pronunciou sobre o caso.

Fonte: JORNAL DO BRASIL
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Podemos tirar, se achar melhor”: Folha retira vídeo de ocupações de estudantes do ar após visita de Alckmin


Funcionários do jornal confirmaram à Fórum que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) visitou a redação na última terça-feira (2) acompanhado da assessora de imprensa do governo e, poucas horas depois, uma reportagem em vídeo sobre ocupações de estudantes contra a ‘reorganização escolar’ foi tirada do ar

03/12/2015
Por Ivan Longo; da Revista Fórum
Foto: Fernanda Sunega/Prefeitura de Campinas
O jornal Folha de S. Paulo, que até semana passada chamava de “reorganização escolar” o fechamento de mais de 90 escolas imposto pelo governo do estado de São Paulo, adotou, agora, uma nomenclatura ainda mais sutil: “reforma de ciclos”. A adoção de um termo ou de outro, no entanto, passa longe de uma decisão que aparenta ser, senão uma blindagem, pelo menos uma flexibilidade em mudar seu direcionamento editorial de acordo com a ocasião.
Poucas horas depois de uma visita do governador Geraldo Alckmin (PSDB) à redação do jornal, um vídeo sobre o dia a dia de algumas ocupações de estudantes que são contra a proposta do governo foi retirado do ar.
De acordo com o próprio ‘Painel’ do jornal, Alckmin foi recebido, nesta terça-feira (2), em um almoço na empresa da família Frias. Ele estava acompanhado de Marcio Aith, subsecretário de comunicação do governo, e Isabel Salgueiro, assessora de imprensa. A presença de um subsecretário de comunicação e de uma assessora de imprensa sugere que o assunto do encontro foi a imagem do governo no veículo, já que, em menos de duas horas depois da visita de Alckmin, o vídeo publicado sobre os estudantes na manhã do mesmo dia, que mostrava as péssimas condições das escolas estaduais e o cotidiano das ocupações, já não estava mais disponível.
Reprodução: Coluna Painel do jornal Folha de SP
A informação de que, de fato, houve a visita e de que o vídeo foi retirado do ar pouco depois foi confirmada à Fórum por funcionários do jornal, que preferiram não se identificar.
Internautas, no entanto, conseguiram salvar a reportagem antes que ela fosse excluída do site.
Link para a reportágem
Procurada pela Fórum, a Folha de S. Paulo ainda não se manifestou sobre o ocorrido


Fonte: BRASIL DE FATO
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Torcida do Palmeiras expulsa a Globo

Por Altamiro Borges
A sempre atenta Keila Jimenez, do site R-7, registrou a curiosa cena: "A conquista do título da Copa do Brasil pelo Palmeiras, na noite de quarta-feira (2), foi marcada por bons índices de audiência e por uma guerra declarada da torcida palmeirense contra o narrador da Globo Cléber Machado... A partida registrou 32 pontos de Ibope na emissora... Mas se a audiência foi boa, o clima entre a torcida, a Globo e e o narrador Cléber Machado nunca foi pior. Muito criticado e xingado nas redes sociais, Cléber foi obrigado a narrar o título do Palmeiras no estúdio da Globo na zona sul de São Paulo".

Segundo relato da jornalista, a equipe global sequer conseguiu entrar no estádio alviverde. "O carro da emissora foi surpreendido pelo movimento batizado de "hell's green" (inferno verde), formado por torcedores palmeirense que, antes do início da partida, tomaram as ruas em torno do estádio para recepcionar o ônibus do time. Segundo fontes da TV Globo, estavam no veículo o narrador Cléber Machado e os comentaristas Casagrande e Caio. Ameaçada com garrafas, pedras e chutes no carro da emissora, a equipe acabou retornando para a sede". Ela foi recebida aos gritos de "Fora Globo".

O episódio confirma a crescente revolta das torcidas - e não apenas da palmeirense - contra o império global, que monopoliza as transmissões no Brasil. Em setembro passado, o núcleo "Futebol, Mídia e Democracia", fundado pelo Centro de Estudos Barão Itararé, lançou a campanha "Jogo 10 da Noite, Não". A iniciativa visa mudar o absurdo horário das partidas, que fica refém da programação da TV Globo, prejudicando os torcedores e os próprios times. A campanha ganhou rápida adesão, com os torcedores de vários cantos do Brasil produzindo cartazes, faixas e adesivos. Aos poucos, o refrão "O povo não é bobo, fora Rede Globo", constantes nas manifestações populares, poderá ganhar ainda maior força nos estádios do país.

Fonte: Blog do Miro
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A linguagem seletiva da grande imprensa define, ou tenta definir, a realidade.

Na linguagem da grande mídia a opinião publicada pelos meios de comunicação é apresentada com sendo a opinião pública.

Longe disso, a opinião pública raramente aparece publicada na velha imprensa.

Assim sendo, a velha mídia cria um universo paralelo, que é percebido pela população, que ora ignora, ora aceita , ora rejeita.

No caso de grupos de afinidades, como uma torcida de um time de futebol, a linguagem usada pela imprensa não apenas foi rejeitada como funcionários da TV Globo foram impedidos de entrar em um estádio para transmitir um jogo de futebol.

Isso aconteceu ontem durante a partida final da Copa do Brasil entre Palmeiras e Santos, no estádio do Palmeiras, conhecido como Allianz Parque.

Allianz, uma companhia de seguros alemã, parceira da Sociedade Esportiva Palmeiras na construção e exploração do estádio, não patrocina o futebol na globo, logo seu nome, que é o nome do estádio, é omitido pelos jornalistas e comentaristas de globo.

Pense agora, caro leitor, nas inúmeras omissões e manipulações de linguagem que a velha mídia produz diariamente , seja por motivações comerciais, seja por motivações políticas.

A linguagem e o jogo de palavras são o teatro de operações de guerras e de hostilidades, em que a velha mídia, diariamente, publica opiniões em nome de uma suposta opinião pública.

No caso de uma torcida de um time de futebol, a omissão e a manipulação de linguagem midiática, teve resposta para além da linguagem jornalística.

Imagine agora, caro leitor, se assim o desejar, se grupos afins ou mesmo parcela significativa da sociedade civil resolve se voltar contra a grande imprensa através de ações objetivas e contundentes, como por exemplo, impedindo o trabalho de profissionais da imprensa em função dos assuntos abordados.

No caso de uma torcida de um time de futebol, a TV globo sentiu na pele o efeito da manipulação de linguagem.

A paixão conduziu o grupo de afinidade para uma ação objetiva.

E é justamente a paixão das pessoas, que pode mover as peças de um tabuleiro, como por exemplo, exigir a democratização dos meios de comunicação.

A grande imprensa brasileira pode ser qualquer coisa, até mesmo imprensa, mas democracia e compromisso com a verdade não passam nos projetos de jornalismo.