segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Inteligência duvidosa

EI prepara novos atentados, alerta diretor da CIA

Agência ANSA

O diretor da CIA, John Brennan, advertiu nesta segunda-feira (16) que o Estado Islâmico (EI, ex-Isis) prepara novos ataques, os quais estariam sendo planejados há meses.

Marrom é a cor da tragédia de Mariana. Marrom é a cor da imprensa

Depois de justa homenagem aos mortos em Paris, tuiteiras pedem que autoridades brasileiras façam o mesmo em relação à tragédia de Mariana

publicado em 15 de novembro de 2015 às 11:09
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Fotos: Antônio Cruz/Agência Brasil
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DUAS FACES HORRENDAS PREGADAS NO MESMO ROSTO HOSTIL
por Fernando Coelho, no Facebook

Minas e Paris têm a mesma grandeza trágica. Mas perpetuam significados diferentes na explosão das duas barbáries. Uma, a francesa, de conveniência política, gFonte: VIOMUNDOFonte: VIOMUNDOeopolítica, internacional. A nossa, travada nos interesse econômicos, no envolvimento do próprio Governo, bancos, investidores de outros países. Constitui-se em nossa irrevogável prisão.
Os assassinos de Paris, infernais, mostram a cara, assumem suas misérias contra o mundo. Os assassinos da calamidade brasileira se escondem em desculpas, maquinações pestilentas do subjugo do nosso desenvolvimento.
Os assassinos endemoniados do Estado Islâmico têm origem religiosa nos equívocos do fundamentalismo. Os assassinos brasileiros alimentam-se de outro tipo de covardia, o assédio moral e financeiro a comunidades, inocentes trabalhadores rurais, com a conivência de políticos e da própria burguesia reinante neste emaranhado de golpes contra o humilhado povo brasileiro.
Não haverá sublevação brasileira. A mão de ferro dos ladrões dos nossos bens é mais pesada. Portanto, não se enganem, porque haverá hierarquização da Imprensa brasileira no tratamento dos dois infelizes e monstruosos fatos. A Imprensa nacional vive de favores, donativos, vendas, negociatas dos seus espaços, cujos lucros e valores estão alijados dos envelopes de pagamentos de nós, jornalistas intimidados.
A Imprensa tupiniquim vai privilegiar a tragédia francesa, porque vai parecer constante, presente, competente e não corre risco financeiro. A ocupação da lama no território mineiro, com a explosão não acidental da barragem em Mariana, por questões de contabilidade dos donos da Imprensa, vai submergir a outro tipo de lama: o volume do capital que os anunciantes, os da Vale e os seus sócios, derramam no caixa das famílias donas da comunicação nacional.
O Jornal Nacional deu o tom. Boba, Dilma quer que sejamos todos franceses, porque o Governo está omisso e tem interesses na Vale-Samarco. Então, que os olhos e a informação verdadeira sejam desviados daqui. Portanto, nós vamos chorar por nós mesmos. Nós temos que resolver o nosso problema de autorrespeito porque ninguém será por nós. Minas é o maior desastre socioambiental de todos os tempos.
Mostra claramente que somos um povo sem dignidade, sem eira nem beira, sem destino. E com a honra da sobrevivência maculada por causa do cinismo de suas autoridades ineficientes e aproveitadoras. Não adianta choro nem vela. Minas será esquecida pela Imprensa, pelo Palácio do Planalto, pela delicadeza.
Não posso dizer, e nunca o faria, que não sou a França. Sou, sim. Mas sou integralmente Minas Gerais. Por Minas, poeta raquítico, pego em armas. É o que devemos fazer agora, enquanto estamos respirando. E só.
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Fonte: VIOMUNDO
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Globo protege a Vale e a Samarco

publicado 16/11/2015
E o FHC da Lava Jato...
Como lembra o documento do PT, que fez graves acusações ao Ministro (sic) Gilmar e ao juiz "não vem ao caso" e eles engoliram em seco, a Globo impediu os editores de associar o Príncipe da Privataria à Lava Jato.

Agora se vê que a proteção chega à Vale, dona da Samarco.

Ah, se a Vale fosse estatal, e não tivesse sido vendida a preço de banana pelo Príncipe, a pedido do Cerra.

Essa proteção teria sido soterrada na lama...

Do Twitter do Ricky Silva:

Equipe da Globo corta entrevista quando nota que entrevistado está denunciando Samarco/em Mariana (MG)



Fonte: CONVERSA AFIADA
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MST e MAB ocupam sede da Samarco em Belo Horizonte

"Cobramos ainda a garantia da participação dos envolvidos em todas as etapas, que eles participem de todas as equipes técnicas de assistência!", reforça coordenador dos Atingidos por Barragens.
13/11/2015
Da Redação,
Em Belo Horizonte (MG)

Ato em BH | Foto: Reprodução/MAB
Em um mesmo prédio na Savassi, na zona sul de Belo Horizonte (MG), estão os escritórios da Samarco, da Vale e da Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração. Na frente do edifício, cerca de 450 militantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), de várias regiões do estado, fazem um ato na tarde desta sexta-feira (13), cobrando a responsabilidade das empresas na tragédia de Mariana.
Segundo Mateus Alves, da coordenação estadual do MAB, os manifestantes exigem se reunir com representantes das mineradoras para apresentar uma pauta de reivindicação. "São três pontos principais. Primeiro, exigimos um plano emergencial de atendimento às famílias, que inclui o pagamento de um salário mínimo por pessoa, moradia adequada e cesta básica. O segundo ponto é em relação a um plano de recuperação de toda a bacia do Vale do Rio Doce - que enfrenta um caos - e a realização de um amplo diagnóstico, que seja participativo, para dimensionar os danos reais", afirma.
Segundo Alves, o terceiro ponto contempla o pedido de instalação de uma mesa negociação com representantes do MAB, da Arquidiocese de Mariana, dos governos e empresas para fazer um acompanhamento de todo o processo daqui pra frente. "Cobramos ainda a garantia da participação dos envolvidos em todas as etapas, que eles participem de todas as equipes técnicas de assistência!", reforça.
Uma delegação foi recebida por uma das diretoras da Vale, que recebeu a pauta e se comprometeu a reunir novamente com eles numa audiência na quarta-feira, em Mariana.

Fonte: BRASIL DE FATO
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Índios fecham ferrovia da Vale em MG em protesto contra 'morte de rio sagrado'


Luis Kawaguti e Ricardo Senra



Enviados especiais da BBC Brasil a Conselheiro Pena (MG)
  • BBC
    Sem água há mais de uma semana, índios decidiram interromper ferrovia em protesto Sem água há mais de uma semana, índios decidiram interromper ferrovia em protesto
Com o corpo pintado para a guerra, tinta preta no rosto e olhos vermelhos de noites mal dormidas, Geovani Krenak, líder da tribo indígena Krenak, mira a imensidão de água turva e marrom.
"Com a gente não tem isso de nós, o rio, as árvores, os bichos. Somos um só, a gente e a natureza, um só", diz. Ele respira fundo, e continua: "Morre rio, morremos todos".
Parte dos 800 km de extensão do rio Doce, contaminado pela lama espessa que escoa há 10 dias de duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco, em MG, atravessa a reserva da tribo. Tida como sagrada há gerações, toda a água utilizada por 350 índios para consumo, banho e limpeza vinha dali. Não mais.
Sem água há mais de uma semana, sujos e com sede, eles decidiram interromper em protesto a Estrada de Ferro Vitória-Minas, por onde a Vale, controladora da Samarco e da ferrovia, transporta seus minérios para exportação.
"Só saímos quando tiverem a dignidade de conversar com a gente. Destruíram nossa vida, arrasaram nossa cultura, e nos ignoram. Não aceitamos", anuncia o índio Aiá Krenak à BBC Brasil.
Procurada, a Vale informa que "continua, com apoio da Funai, as tentativas de negociação com o Povo Indígena Krenak para liberação da ferrovia".
"Cabe ressaltar que a Vale, como acionista da Samarco juntamente com a BHP Billiton, tem atuado ativamente nas ações para atendimento às famílias afetadas pelo acidente do dia 5 de novembro e reitera seu compromisso em se relacionar com o Povo Krenak de modo transparente e participativo, mantendo uma relação construtiva, respeitando suas características próprias e a legislação vigente", disse a empresa por meio de nota.
A empresa afirma que a interdição está impedindo o transporte de água para as comunidades da região do Rio Doce. "Atualmente, cerca de 360 mil litros de água, sendo 60 mil litros de água mineral e 300 mil litros de água potável, provenientes de Vitória (ES), estão nos trens aguardando a liberação da ferrovia para distribuição", diz a Vale no comunicado.
"A empresa repudia quaisquer manifestações violentas que coloquem em risco seus empregados, passageiros, suas operações e que firam o Estado Democrático de Direito e ratifica que obstruir ferrovia é crime."

41 graus, sem água

BBC
Parte dos 800 km do rio Doce, contaminado pela lama espessa, atravessa a reserva da tribo
Sentados ao longo dos trilhos enferrujados, sob o sol de 41 graus, os índios cantam uma música de compasso lento, marcado pelas batidas de cajados de madeira no chão, tudo no idioma krenak. De cocar amarelo, apoiado por um tronco de madeira, o pajé, homem mais velho das redondezas, chora. Ernani Krenak, 105 anos de idade, se aproxima e traduz a canção para a reportagem da BBC Brasil.
"O rio é lindo. Obrigado, Deus, pelo rio que nos alimenta e banha. O rio é lindo. Obrigado, Deus, pelo nosso rio, pelo rio de todos."
Sua irmã pede a palavra. Dejanira Krenak, de 65 anos, quer lembrar que o sofrimento não é só dos índios. "Não é 'só nós', os brancos que moram também na beira do rio precisam muito dessa água, eles convivem com essa água, muitos pescadores tratam a família com os peixes, diz.
Atrás dos dois, uma índia molha os rostos suados das duas filhas pequenas com uma cuia mal cheia de água de um galão doado por moradores de cidades vizinhas, como Conselheiro Pena e Resplendor.
Segundo os índios, crianças e idosos têm prioridade na distribuição da pouca água limpa estocada.
A família está acampada sob lonas pretas na margem da ferrovia, onde também se espalham barracas de camping e colchões ao relento. Ali, homens e mulheres fumam longos cachimbos, enquanto acendem pequenas fogueiras para aquecer o jantar coletivo.

Rio morto

BBC
Decisão judicial determinou que índios deixem local até a próxima terça-feira
À BBC Brasil, o professor de recursos hídricos Alexandre Sylvio Vieira da Costa, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, disse que o rio precisará de pelo menos 10 anos para "começar a se estabelecer novamente". "Todas as plantas aquáticas que dão base ao ciclo biológico do rio morreram com a chegada esse rejeito, composto basicamente de ferro, alumínio e manganês. A água fica mais densa e o oxigênio não consegue se misturar", explicou Costa. "Por isso não sobrou nada. Nem caramujo."
Além do prejuízo na fauna e na flora, sete mortes foram registradas até este domingo. Dez dias após o acidente, pelo menos 18 pessoas ainda estão desaparecidas.
A tragédia ambiental é resultado do rompimento das barragens de Fundão e Santarém, em Mariana, a cerca de 100 km de Belo Horizonte.
As barragens represavam rejeitos de mineração - resíduos, impurezas e material usado para a limpeza de minérios - da Samarco, empresa controlada pela mineradora brasileira Vale e pela anglo-australiana BHP.
A presidente Dilma Rousseff visitou o local na semana passada e anunciou cobrança de multa de R$ 250 milhões à Samarco.

Decisão judicial

A noite cai, e a quantidade de mosquitos é insuportável.
"Nunca foi assim", diz o índio Geovani Krenak, enquanto a dupla de repórteres gesticula para afastar a nuvem de insetos. "Esses mosquitos vieram com essa água podre, com os peixes que nos alimentavam e agora estão descendo o rio mortos."
A 500 metros dali, dezenas de vagões, carregados de toneladas de minério de ferro que seguiriam para portos no Espírito Santo, estão parados na ferrovia.
A estrada de ferro também tem intenso movimento de passageiros - quem tinha bilhetes de viagem foi orientado a remarcar suas passagens ou aguardar reembolso após 30 dias.
À BBC Brasil, os índios informaram que foram notificados por uma decisão judicial que determina que eles deixem o local em até cinco dias - o prazo expira na próxima terça-feira.
Eles prometem continuar lá - a menos, dizem, que representantes da Vale apareçam para discutir com eles a recuperação do rio sagrado e um esquema de fornecimento de água por caminhões pipa.

Fonte: BOL
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Mariana: essa não é uma tragédia ambiental

Bombeiros fazem busca por desaparecidos em Bento Rodrigues. Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil
Bombeiros fazem busca por desaparecidos em Bento Rodrigues. Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil

O que aconteceu em Mariana é uma catástrofe para as vítimas, para a região, para o país e para o mundo. É uma tragédia e ponto!
Por Reinaldo Canto – 

O rompimento das barragens de rejeitos de mineração da Samarco, em Mariana (MG) é mais um entre muitos exemplos de desleixo e falta de responsabilidade que congrega e une todos os setores diretamente e indiretamente envolvidos com a fiscalização e o sempre demonizado licenciamento ambiental.
A destruição ainda está longe de conseguir ser devidamente contabilizada, pois o movimento da onda de rejeitos continua a espalhar seu legado de terror sepultando em seu caminho onde antes existia vida, rios, plantas, animais, cidades e pessoas. As próprias autoridades já decretaram a morte de Bento Rodrigues, pois o distrito de Mariana não deverá ser uma localidade habitável tão cedo. Faltam ainda também descobrir os danos que serão causados na passagem dessa lama pelo estado do Espírito Santo.
A multa de R$ 250 milhões aplicada recentemente pelo Governo Federal à Samarco representa apenas um pequeno paliativo quando o que deveria ter sido feito é trabalhar a prevenção evitando o caos e não a remediação caso dessa multa e, com certeza, das muitas declarações indignadas já divulgadas e as outras mais que certamente ainda virão. Atividades suspensas, novas multas e até mesmo o encerramento dos trabalhos realizados nessa planta mineradora são esperados, mas nem de longe vão compensar o absurdo desse acontecimento.
E como neste nosso Brasil varonil, desgraça pouca é bobagem, o que, no mínimo deveria servir como alerta para evitar novos casos semelhantes, eis que o nosso Congresso Nacional, aquele já devidamente identificado como o mais reacionário desde os tempos da ditadura, está a discutir o afrouxamento das leis que tratam exatamente dos riscos ambientais de grandes obras.
Em recente artigo, Mauricio Guetta, advogado e assessor do Programa de Política e Direito Socioambiental do Instituto Socioambiental (ISA), apontou que entre outros, tramita um projeto de Lei, o de número 654/2015, do senador Romero Jucá (PMDB-RR), criando um “diminuto rito de licenciamento ambiental” para os empreendimentos de infraestrutura “estratégicos para o interesse nacional”, tais como, rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos e de energia ou quaisquer outros destinados à exploração de recursos naturais. Para o advogado do ISA, isso significa, simplesmente que “as obras com maior potencial de causar significativos danos socioambientais seriam justamente às que seriam contempladas com menores controles e prevenção”.
Poderia e deveria ser uma brincadeira de mau gosto, mas com certeza não é! Até porque historicamente, quaisquer medidas compensatórias ou preventivas sempre foram consideradas empecilhos ao desenvolvimento. Mesmo que a realidade se imponha, a ganância ainda consegue prevalecer em detrimento do futuro.
O circo de horrores provocado pela lama da Samarco está longe de cumprir seu roteiro destruidor. Mas, pelo que podemos vislumbrar ao cessar esse espetáculo nefasto, nossas autoridades certamente irão nos contemplar com novos capítulos, já que para isso já vimos que empenho não deverá faltar.
O que poderíamos tentar, ao menos, é usar as expressões mais próximas da realidade, como por exemplo, substituindo licenciamento ambiental, simplesmente por “licenciamento responsável e sustentável para o futuro de todos” e nomear corretamente uma tragédia como tal e não como ambiental. Basicamente, porque para muitos, a tragédia ambiental ainda soa como algo distante da vida das pessoas, o que demonstra cabalmente a sua inverdade no caso da Samarco.
Tragédias que matam pessoas, destroem casas, sepultam rios e consomem florestas são tragédias, simples e tragicamente assim!  (#Envolverde)

* Reinaldo Canto é jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente e pós-graduado em Inteligência Empresarial e Gestão do Conhecimento. Passou pelas principais emissoras de televisão e rádio do País. Foi diretor de comunicação do Greenpeace Brasil, coordenador de comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e colaborador do Instituto Ethos. Atualmente é colaborador e parceiro da Envolverde, colunista de Carta Capital e assessor de imprensa e consultor da ONG Iniciativa Verde.

Fonte: ENVOLVERDE
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Entre o luto e a saudade: um panorama do maior desastre ambiental do Brasil

Entenda as consequências da enxurrada de lama de rejeite da mineração.

16/11/2015
Por Caio Santos, para os Jornalistas Livres
Foto: Douglas Resende e Rafael Lage
Quem chega em Gesteira, distrito rural no município de Barra Longa, MG, nunca vai imaginar que antes passava um córrego com água cristalina e havia um campo verde amplo na frente, onde bois e cavalos pastavam. Porque quem chegar hoje em Gesteira não verá um pasto, nem um animal ou um riacho. Verá apenas uma gigantesca lagoa de barro escuro onde antes era um vale. Os moradores descrevem para mim, entre o luto e a saudade, a paisagem onde cresceram e que, provavelmente, nunca mais verão na vida.
“Antes esta paisagem daqui era tudo verdinho com uma pastagem e tinha um rio com água clarinha. Acabou tudo.” — diz Claudiano da Costa, morador de Gesteira.

Mais de dez dias após a queda das barragens da mineradora Samarco, ainda se desconhece todas as extensões do impacto ecológico liberado na forma de 62 milhões de litros de lama residual da mineração. O barro de rejeitos saiu de Bento Rodrigues, na cidade histórica de Mariana, em Minas, e ainda percorrerá mais de 850 km até chegar ao mar, deixando um rastro de destruição à fauna, à flora e às comunidades que estiverem em seu caminho. Só é preciso observar a área destruída — seja do leito do rio, seja do espaço — para compreender que é um dos maiores desastres ambientais na história do Brasil.
No entanto, ainda há muitas perguntas buscando entender como esta tsunami de lama afetou todo um ecossistema. Aqui está um panorama do que já sabemos.
Lama Tóxica?
Para ter compreensão do impacto é preciso primeiro entender qual é o conteúdo da enxurrada de lama que vêm das minas. Segundo a mineradora Samarco, as barragens apenas continham rejeitos de minério de ferro e manganês, misturados basicamente com água e areia. A empresa insiste que o material é inerte, não causando danos ao ambiente ou à saúde. No entanto, análises do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Baixo Guandu, ES, mostram a presença de diversos metais pesados na água do Rio Doce, como arsênio, mercúrio e chumbo.
Foto: Douglas Resende e Rafael Lage
Estes elementos são extremamente tóxicos ao ambiente e à saúde humana, sendo absorvidos nos corpos dos diferentes organismos e dificilmente eliminados. Normalmente, eles acumulam nos tecidos de seres vivos e, com o tempo, na própria cadeia alimentar. Ao ingerir a carne ou folhas contaminadas, o metal pesado não é processado, envenenando o bicho ou pessoa que consumiu a comida intoxicada. Com o tempo, os metais pesados podem gerar problemas sérios à saúde, como câncer, úlceras e danos neurológicos.
Na tarde de sábado, 14/11, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, apresentou um laudo da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) negando a existência de metais pesados na água e contrariando os laudos de Baixo Guandu. Nesta quinta-feira, 12/11, uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) também foi coletar amostras da lama e da água no Rio Doce para apurar o grau da devastação e verificar, entre outros aspectos, a presença de metais pesados. Ainda resta esperar os resultados da investigação dos cientistas mineiros, que devem chegar no decorrer da semana.
  O Fim da Vegetação
No entanto, mesmo sem arsênio e mercúrio e ao contrário do que a mineradora sugere, a lama está longe de ser inofensiva. Apesar da presença do ferro e manganês não significar um perigo à saúde, estes elementos causam consequências profundas à terra.
Foto: Augusto Gomes/ Andirá Imagens
“O ferro (e o manganês) tem uma facilidade muito grande de reação, sendo um ligante por sua própria natureza. No caso, essa lama vai formar uma capa muito dura devido à presença do ferro. A tendência é fazer uma ligação muito forte e ficar sobre a superfície formando uma crosta” —  diz a professora do Instituto de Geociências da UFMG e especialista em geologia ambiental, Leila Menegasse. Segundo ela, esta cobertura poderá impedir a infiltração da água e também cobrirá a própria vegetação, tornando o ambiente estéril.
As raízes ficam soterradas, desaparece a possibilidade da fotossíntese porque a água fica muito turva e as folhas ficam todas fechadas pela deposição de materiais. As plantas que entrarem em contato com essa lama certamente irão morrer” acrescenta o professor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, Francisco Barbosa.
Rio Doce Morto
Quem se aproximar do Rio Doce, seja em Minas seja no Espírito Santo, verá ele amarronzado, escuro e com diversos detritos boiando. Essa imagem não é apenas feia e desagradável, ela também é extremamente danosa à vida aquática. Esse barro, mesmo diluído, torna á água turva e barra a passagem de raios solares, escurecendo o rio e impedindo que algas façam fotossíntese. O baixo nível de oxigênio na água é insustentável para os animais, fazendo com que, em um ato de desespero, muitos peixes simplesmente pulem fora d’água.
Se em cima cadáveres boiam, embaixo o rio encolhe. “Toda essa área que recebeu uma carga de segmentos irá sofrer um processo de deposição de material no fundo do rio. Isto vai aumentar a altura da calha e, a grosso modo, vai entupir o rio” explica o coordenador do Centro de Pesquisas Hidráulicas, Carlos Barreira Martinez. O processo é intensificado pela destruição da mata auxiliar, ainda existindo a possibilidade de a lama cobrir as nascentes, diminuindo consideravelmente o volume da água. Este perda não significa apenas menos água, mas compromete sua qualidade e a torna imprópria para o uso.
Os mananciais oriundos do Rio Doce são usados para abastecer diversas comunidades rurais, seja para o uso pessoal, seja para irrigação de plantações ou consumo pelo gado. Essas comunidades rurais serão profundamente afetadas e não poderão recorrer ao rio mais. Mesmo considerando apenas a população urbana, a enxurrada de lama passa por, no mínimo, 23 cidades de Minas Gerais e do Espírito Santo, o que representa meio milhão de pessoas com a torneira seca.
Milhares de pessoas sem água
A cidade mais afetada pelos rejeitos da Samarco é também a maior da bacia do Rio Doce: Governador Valadares, MG, com 280 mil habitantes. Mesmo a 300 km de Mariana, sua SAAE, em laudo preliminar da água, encontrou um nível de turbidez oitenta vezes maior do que o tolerável, além de níveis de ferro que chegaram a superar treze mil vezes o tratável. Esta condição insalubre do rio fez com que o abastecimento de água fosse cortado no domingo, 08/11. Dois dias após a interrupção, a prefeita Elisa Costa declarou estado de calamidade pública.

“Todo o dia esse caos. Todo dia gente transportando água. Todo mundo carregando água como pode”
descreve de Marcos Renato, habitante da cidade. Em longas filas, a população gasta horas em pontos de distribuição de água, sofrendo, além da seca e da sede, das altas temperaturas. “Estamos atendendo normalmente nas unidades de saúde e nos preparando para possíveis doenças que venham a surgir pela falta de água e pelo uso da água contaminada. Enfim, a situação aqui não está nada fácil” comenta Flávia França, médica local e membro da Rede de Médicas e Médicos Populares.
Segundo a prefeitura do município, as companhias Samarco e Vale fizeram pouco ou mal esforços para ajudar a população. Na sexta-feira, 13/11, em nota ela comunicou que a mineradora só tinha aceitado pagar os caminhões pipa. Mais tarde do dia, a primeira remessa de água, com 280 mil litros, estava contaminada com querosene, não servindo para consumo. A situação só começou a melhorar no sábado, quando o governador de Minas, Fernando Pimentel, anunciou o uso de um coagulante que permitirá o tratamento da água. A substância facilita a separação da lama e da água, permitindo assim que ela seja filtrada e volte a ser potável. A expectativa é que o abastecimento na cidade retorne nesta segunda-feira, dia 16/11.
Um Oceano Inteiro Afetado

É importante lembrar que o rio não é só água em movimento, mas também funciona como transporte de nutrientes para o mar, que acabam sustentando diversos organismos. Coincidentemente, na foz do Rio Doce, ocorre também o encontro de correntes marinhas do Sul e do Norte, formando um “rodamoinho” de água de cerca de setenta quilômetros de diâmetro. Esta área é rica em nutrientes e também reúne espécies marinhas de todo o mundo. Por isso, segundo o diretor da Estação de Biologia Marinha Augusto Ruschi, o biólogo e ecólogo André Ruschi, a foz do Rio Doce se torna uma dos maiores pontos de desova de peixes marinhos do mundo.
É o maior criadouro do Oceano Atlântico. Todos os grandes peixes do Oceano, do hemisfério sul e norte, vêm para lá se reproduzir, sendo um fenômeno impar. É uma das regiões marinhas mais importantes do planeta e, da costa brasileira, é a mais sensível de todas”. A chegada de diversos rejeitos da mineração significa um risco para todo o ecossistema do oceano. Como ainda resta a chance da presença de metais pesados na lama, há a possibilidade de contaminação da imensa biodiversidade do local. Todos os seres vivos, desde o minúsculo plâncton ao gigante marlim, podem acabar envenenados por estes elementos.
Recuperação?
Restam ainda muitas dúvidas em relação a como e quanto o ambiente será afetado pela lama da Samarco. Mas uma merece destaque: é possível recuperar o estrago? Ainda é muito cedo para afirmar com certeza, porém se estipula que o volume de água do rio talvez será o primeiro a normalizar.
“A natureza é muito mais forte do que podemos imaginar. Com o passar do tempo e muito lentamente os rios vão se recuperando. A vida dos tributários vai voltar a ocupar o rio e ele, em uma ou duas décadas, vai se recuperar. O que é muito tempo.” afirma o coordenador do Centro de Pesquisas Hidráulicas, Carlos Barreira Martinez. No entanto, para que isto ocorra é necessário que a lama se dilua e escorra para outras áreas, o que só é possível com a ação da chuva. A estiagem que a região sudeste enfrenta é um agravador deste cenário, atrasando muito uma possível revitalização do Rio Doce.
Obviamente, a biodiversidade animal e vegetal da região não pode esperar décadas para ver o rio novamente. “O conjunto de seres vivos vai estar todo ameaçado e vários desses organismos vão desaparecer, ainda que, vamos esperar, seja localmente. Eventualmente alguns desses organismos podem ter a chance de voltarem a colonizar essas áreas. Para que isso aconteça, vai precisar de tempo. No entanto, outros organismos não vão ter a chance de colonizar porque requer um tempo muito mais longo para que as cadeias alimentares se restabeleçam”explica o professor do ICB da UFMG, Francisco Barbosa. Ele estima que o começo dessa recuperação só irá acontecer em um futuro distante, precisando de 20 a 30 anos para a maioria dos diversos processos se sucederem.
Mas, se este prazo já é muito grande no continente, no oceano, ele é ainda maior. O especialista em biologia e ecologia marinha, André Ruschi lembra que a chegada de nutrientes ao oceano depende dos ciclos da maré, definidos pelos movimentos dos astros, como a lua e o sol: “A cada onze anos, com as enchentes, as cheias carregam grandes quantidades do material do rio para o mar”.
Como a região também é onde ocorre a confluência de espécies e correntes de todo o Oceano Atlântico, sendo uma das áreas de maior biodiversidade no mundo, o impacto, segundo o cientista, representará um atraso de séculos ao ecossistema.
Foto: Douglas Resende e Rafael Lage
Fonte: BRASIL DE FATO
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A apresentadora de telejornal da TV Globo, Sandra Anenberg se desmanchou em lágrimas, ao vivo, ao noticiar os ataques em Paris.

A indignação tomou conta dos jornalistas e comentaristas de Globo, por conta dos mortos da França.

Indignação justa, porém seletiva, já que o maior desastre ambiental da história do Brasil, como um número de mortos que cresce a cada dia, não merece lágrimas ou comentários indignados.

Nem mesmo uma análise jornalística sobre as responsabilidade  das empresas responsáveis pela tragédia de Mariana é possível ser ver no jornalismo indignado e emotivo com a tragédia francesa.

Para a velha mídia brasileira e seu jornalismo de defesa das corporações, os mortos de Mariana, diferentemente dos mortos de Paris, não tem rostos nem histórias de vida, e a natureza devastada não significa um atentado contra valores universais da humanidade.

A cidade que pode sumir do mapa,  fruto do lucro e ganância extremas, não é citada na velha mídia como um ataque aos valores democráticos e civilizados.

A intolerância do capital em relação a vida das pessoas, o que também é uma expressão fundamentalista, é exaltada na velha mídia como a vitoriosa economia de mercado , tão odiada pelos fundamentalistas que mataram centenas de pessoas em Paris e fizeram com que os jornalistas de globo se desmanchassem  em lágrimas.

Um modelo econômico mundial que despreza todas as formas de vida é o outro lado da mesma moeda em que terroristas fanáticos matam centenas de pessoas inocentes.

As lágrimas dos jornalistas da velha mídia estão cheias de lama, assim como o próprio jornalismo.


sábado, 14 de novembro de 2015

COP - 21. Cultura de Paz. Um Outro Mundo É Possível

Colheita macabra
Por Fernando Brito · 14/11/2015

Não conheço a Paris de hoje, nunca pus os pés por lá. Mas, pela dor, acabamos todos, neste instante ali bem perto, diante de tamanho morticínio.

Mais ainda porque, se não pus os pés, levou-se à velha Paris a minha cabeça, conduzida pela mão apaixonada de Victor Hugo, por tudo o que a cidade significou na história humana, e a quem ele declarava seu amor incondicional:

“Pode-se dizer que Paris tem as virtudes do cavalheiro: é sem medo e sem censura. Sem medo, ele o prova diante do inimigo.Sem mancha, prova-o diante da história. Teve, por vezes, a cólera: será que o céu não tem vento? Como os grandes ventos, as cóleras de Paris são saneadoras. Depois do 14 de julho, não há mais Bastilha; depois do 10 de agosto (de 1972, a tomada popular do palácio real), não há mais realeza. Tempestades justificadas pela amplificação do azul.”

Não há um que não chore aqueles jovens, que não fizeram nada para ofender ninguém. Mas já são tantos mortos, os das torres gêmeas, os do avião russo, agora os franceses, e os milhares e milhares em Cabul, Damasco, Bagdá e por tantos lugares que já não nos é permitido só chorar: é preciso falar e agir.

O presidente François Hollande acaba de responsabilizar o “Estado Islâmico” – repito, não é Estado, nem Islâmico – pelo ato de barbárie. Não basta prometer resposta implacável, porque, para ser implacável mesmo, há de ser lúcida e não uma primária “vingança”.

Pois é preciso entender o que cria esta monstruosidade.

E me socorro de novo do grande herói francês, sobre o que ele dizia do fundamentalismo religioso, para pensar:

Aqui, uma pergunta. Será que estes homens são maus? Não. Que é que eles são, pois? Imbecis. Ser feroz não é difícil, para isto basta a imbecilidade. Então, será que nasceram imbecis? De forma alguma. Algo os tornou assim. Acabamos de dizê-lo. Embrutecer é uma arte.

A segunda metade do século 20 foi a do fim completo do colonialismo, na Ásia, na Arábia, na África, até nos pequenos protetorados da América Central e do Caribe. Em alguns poucos, a guerra os libertou, como no Vietnã, mas na maioria das vezes a luta pela independência não virou confronto total: ficara evidente que o tempo da dominação colonial passara.

Daquilo sobrou pouco: uma chaga remanescente, dolorosa, a dos palestinos, a quem nunca se permitiu deixar rebrotar na terra as raízes.

Aqueles povos foram aprendendo, com seus erros, acertos e distrofias, a viver sendo de novo seus próprios senhores. Fizeram ditadores? Sim, os fizeram, como aqui os tivemos e nunca nos enviaram tropas para libertar-nos e dar-nos a democracia. Ao contrário, deram alfanges aos que quiseram desabrochar as primaveras que começamos a descobrir.

A primeira década e meia do século 21, ao contrário, tem sido a da intervenção, a da ocupação, o das bombas e mísseis “inteligentes” que iam exterminar as imaginárias “armas de destruição em massa”, mas que atingiram em cheio as estruturas de poder e de convívio – torto, defeituoso, autoritário – que tinham minimamente organizado.

Nunca hesitaram, para isso, em valer-se da fé obscura e fanática. Criaram os Bin Laden e os grupos que virariam o Isis. Não raro, até, lhes enviaram dinheiro, armas e até mesmo alguns de seus cidadãos mais tresloucados, ávidos por viver uma espécie de sacerdócio bélico.

A colheita macabra disso é a noite de ontem em Paris, como outras safras já se colheram em Nova York e nos céus do Sinai.

Pagaram-na com a vida os jovens de Paris. Paga-la-ão em vida os milhões de refugiados com que a guerra que o Ocidente moveu em seus países fez abarrotar a Europa, contra os quais vão se elevar os níveis de xenofobia, discriminação e maus tratos.

Para ficarem em paz talvez nem lhes adiante fazer como seus antepassados tiveram de fazer na Idade Média, tornando-se cristão novos: abjurar da fé, da cultura, da língua, como fizeram os meus Nogueira, os seus Pereira, Carneiro, Lobo, Moreira.

Porque no Ocidente “civilizado” também espalharam-se os esporos do fundamentalismo, que é o fascismo, o ódio ao diferente, o direito auto-concedido de achar-se o puro e aos demais impuros, infiéis.

Semeou-se o ódio, revolveu-se o chão com guerras, brotou o ressentimento, floresceu a insânia e e nos nauseia o cheiro fétido da flor do terror.

Não há caminho para a paz que não seja o do respeito à autodeterminação dos povos.

Todos os outros levam à violência e a violência é uma arma que acaba por ferir a mão de quem a brande.

Fonte: TIJOLAÇO
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As raízes do terror islâmico
por : Paulo Nogueira

A reação dos jornais franceses

Diante de uma tragédia como a de ontem em Paris, duas atitudes se impõem.

A primeira é chorar cada morte. Na última contagem, 120 pessoas foram mortas pelos atos conjuntos de terrorismo, e dezenas estão feridas, muitas em estado crítico.

A palavra mais comum nos jornais franceses deste sábado é, previsivelmente, horreur, horror.

Derramadas todas as lágrimas, vem a segunda atitude. Tentar compreender como uma violência de tal magnitude pôde acontecer.

É um passo essencial para evitar que outros episódios dantescos como o desta sexta em Paris possam se repetir.

Mas há, aí, uma extraordinária dificuldade em sair de lugares comuns como a “violência radical” do islamismo e dos islâmicos.

Trechos do Corão, o livro sagrado dos muçulmanos, são citados em apoio dessa tese falaciosa e largamente utilizada.

A questão realmente vital é esta: o que leva ao extremismo tantos muçulmanos, sobretudo jovens? Por que eles abandonam vidas confortáveis em seus países de origem, abraçam o terror e morrem sem hesitar pela causa que julgam justa?

Os líderes ocidentais não fazem este exercício porque a resposta àquelas perguntas é brutalmente indigesta para eles.

O terror islâmico nasce do terror ocidental, numa palavra.

Há muitas décadas os países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, promovem destruição em massa nos países islâmicos.

Querem garantir o petróleo, a que preço for, e fingem que estão naquela região com propósitos civilizatórios.

O último grande ato de predação foi a Guerra do Iraque. Sabe-se hoje que as razões alegadas pelos americanos e seus aliados britânicos para realizá-la foram mentirosas.

O Iraque de Saddam Hussein simplesmente não tinha as armas de destruição em massa que serviram de pretexto para a guerra.

Um levantamento reconhecidamente criterioso calcula em cerca de 120 000 as mortes de civis iraquianos. Outras fontes falam em meio milhão.

Quem paga por este crime de guerra chancelado por Bush nos EUA e Tony Blair na Grã Bretanha?

Ninguém.

Você pode imaginar o tipo de reação que ações como a Guerra do Iraque provocam entre os sobreviventes da violência ocidental.

Mais recentemente, os drones americanos – os aviões de guerra teleguiados – vem semeando mortes em quantidade pavorosa nos países árabes.

Apenas nos anos de Obama, calcula-se que 500 civis tenham sido mortos pelos drones, muitos deles crianças e mulheres.

No mesmo dia do drama parisiense, os americanos comemoraram a morte, por um drone, do terrorista do Estado Islâmico que se tornou conhecido como Jihadi John. Aparentemente JJ foi quem degolou várias pessoas em medonhas execuções filmadas e postadas na internet.

Brutalidade gera brutalidade.

Bin Laden foi o cérebro por trás de uma mudança radical nas retaliações islâmicas. Ele levou a guerra para dentro dos países ocidentais. O maior exemplo disso foram os atentados de 11 de Setembro.

O que a mídia ocidental quase não noticiou é que Bin Laden virou um ídolo entre os muçulmanos e como tal foi chorado ao ser executado pelos americanos.

Os atentados de Paris obedecem à mesma lógica: transportar os combates para a casa dos inimigos.

O que torna esta guerra ainda mais complicada para os ocidentais é que os soldados islâmicos não se importam de morrer pela causa. Alguns deles se explodiram ontem em Paris.

Sem refletir profundamente sobre as origens do terror islâmico é impossível que a situação mude.

Obama, quando anunciou a morte de Bin Laden, disse famosamente que o mundo ficara mais seguro.

Os episódios de ontem em Paris mostram quanto Obama se equivocou – lamentavelmente.

Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
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Contre la peur : la solidarité ! (Ensemble)
Samedi, 14 Novembre, 2015

Humanite.fr

Communiqué d'Ensemble

Aujourd’hui, nous sommes dans un moment de deuil.

Les attaques terroristes meurtrières qui ont eu lieu vendredi 13 novembre ont causé de très nombreuses victimes. Elles constituent une tragédie effroyable. Notre compassion et notre solidarité vont à toutes les personnes qui sont touchées par ce drame, aux familles des victimes et à tous leurs proches.

Ces attentats s’inscrivent dans la suite des attaques de janvier dernier contre Charlie Hebdo et l'hypercasher, contre le musée du Bardo ainsi qu'à Sousse en Tunisie. Elles font écho aux tragédies que vit le Moyen-Orient (Liban, Syrie, Irak, Turquie, Palestine...). Les groupes terroristes responsables de ces actes sont inspirés et organisés par Daech. Cette organisation animée par une idéologie totalitaire prétend se revendiquer de la religion pour enclencher une véritable guerre entre les peuples.

Ces groupes politiques fanatisés ont trouvé un terreau favorable pour se développer en Irak et en Syrie, avec la guerre meurtrière menée contre son propre peuple par Bachar El Assad, et par les conséquences terribles de l’intervention américaine en Irak. Ils trouvent un écho parmi des personnes désespérées qui se font embrigader dans une logique mortifère.

Nous sommes face à un défi
Les réponses ne sont pas à chercher dans une prétendue union nationale, ni dans une surenchère sécuritaire ou dans la remise en cause des libertés publiques. Des mesures sont nécessaires pour assurer la sécurité des populations mais nous nous opposons à l'état d'urgence en ce qu'il empêche les réunions, les rassemblements et les manifestations et permet des atteintes aux libertés individuelles.

Plus que jamais, il faut combattre tous les amalgames, les réactions racistes, islamophobes, et toutes les dénégations complotistes et antisémites que ces actes visent à alimenter.

Nous appelons au soutien des peuples de Syrie, d'Irak, du Liban, de Palestine, de Turquie et du peuple kurde pour la défense de leurs libertés et droits démocratiques.

Ce n’est pas la peur qui doit prévaloir mais la mobilisation citoyenne. Nous appelons à un rassemblement unitaire et populaire pour la solidarité, l'accueil des migrant.e.s et réfugié.e.s, l'égalité, la justice sociale et la démocratie.

Fonte: HUMANITÉ
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A ignorância, o fundamentalismo e a brutalidade, predominam no mundo "civilizado" e globalizado.

Mais uma vez, como em tantas outras vezes em várias partes do mundo, centenas de pessoas, em uma só batelada, tem suas vidas ceifadas por valores contemporâneos e universais da humanidade .

A cultura de violência e guerras, o desprezo pela democracia, o sequestro das liberdades individuais, fazem parte do novo repertório de valores universais da humanidade neste século XXI.

Ontem, o presidente dos EUA, ao se referir a violência em Paris, afirmou que não se trata , apenas , de um ataque aos cidadãos franceses, mas sim, e principalmente, um ataque aos valores universais da humanidade.

Valores universais que em décadas vem sendo destroçados por uma fome de lucros, com consequente destruição da vida e do meio ambiente, fazendo com que bilhões de pessoas pelo mundo vivam, ou a deriva em busca de novas oportunidades em outros países sempre com as fronteiras fechadas, ou em plena miséria e pobreza , sentindo o amargo em suas bocas da fome real em um impensável mundo "civilizado e próspero".

Os chamados ataques terroristas, como o que ocorreu em Paris, estão inseridos em uma lógica de desprezo pela vida, pela natureza , pelo meio ambiente, pelas liberdades individuais, pela democracia e , independente do que se pense sobre o assunto, são parte de uma cultura que a cada dia mais e mais pessoas não aceitam, não toleram, não suportam.

A tragédia, em um mundo de bateladas de tragédias diárias, passa a ter um valor e um destaque especiais de tragédia para o show midiático, que por alguns dias , respirará melhores índices de audiência e consequentemente de lucros.

A mesma mídia, que logo após a batelada de lama - fruto do rompimento de uma barragem - que varreu uma cidade do mapa e matou dezenas de pessoas e destruiu a vida de outras tantas, tentou , e ainda tenta, preservar a empresa responsável pelo acidente de maneira que os lucros de seus acionistas não sejam abalados, isso enquanto centenas de pessoas sofrem por perderem seus entes queridos, suas casas, seus bens e , principalmente, toda uma história de vida.

Homens bomba e corporações bomba proliferam, enquanto bilhões de pessoas aguardam bateladas de alimentos para saciar a fome , e , do outro lado, uma minoria fica cada vez mais rica, se abarrotando com bateladas de dólares.
 
Arte: Bruna Marquezine

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

COP - 21. Democracia Plena e Direitos Humanos. Um Outro Mundo É Possível

"Há uma estrutura de Estado permitindo que os abusos policiais aconteçam”, aponta especialista


Em Minas Gerais, casos de violência policial foram registrados em protestos contra o deputado Eduardo Cunha e em manifestações por moradia, transporte e de defesa dos direitos indígenas.
12/11/2015
Por Wallace Oliveira,
De Belo Horizonte (MG)


Manifestantes em Belo Horizonte | Foto: Caio Santos/Jornalistas Livres
Em Belo Horizonte (MG), mais uma manifestação terminou com repressão. Ela aconteceu no último dia 31, quando cerca de 300 pessoas realizavam um ato pedindo a saída do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e pela retirada do Projeto de Lei 5.069/13. Um jovem que passava ao lado de um policial foi agarrado pelo braço e detido. Outra jovem foi presa e arrastada por quatro soldados.
Este não é um caso isolado. Ao longo do ano, incidentes semelhantes se repetiram em Minas Gerais, como em atos por moradia, transporte e de indígenas.
Para analistas, a violência policial não é um problema pontual ou efeito do comportamento inadequado de agentes da segurança pública: “É claro que não se justifica nenhum uso excessivo da força. Devem existir punições individualizadas para os responsáveis. Mas não adianta focar só no policial, sem deixar claro que há uma estrutura de Estado permitindo que os abusos aconteçam”, comenta o professor Robson Sávio, do Núcleo de Estudos Sociopolíticos (NESP) da PUC-MG.
Para ele, os governos democraticamente eleitos, de direita e de esquerda, não estariam dispostos a alterar esse quadro: “Existe uma coalizão envolvendo governos de direita e de esquerda, que impede que a segurança pública se torne uma política social cidadã”, explica Robson.
Ele acrescenta que, em Minas Gerais, a situação é ainda pior: “Apesar de ter criado uma secretaria de Direitos Humanos, o atual governo entregou a Secretaria de Defesa Social (SEDS) a um grupo conservador, que fragmentou a secretaria e deu mais autonomia às polícias. Para piorar, a PM age de forma arbitrária e violenta e o governador diz que a polícia agiu dentro dos protocolos, como no ato do Tarifa Zero”, critica.
Até o fechamento da edição impressa do Brasil de Fato MG, a Secretaria de Defesa Social, a PM e a Secretaria de Direitos Humanos não responderam à reportagem.
Outros casos
Em junho, moradores das ocupações da região da Izidora protestavam próximo à Cidade Administrativa contra uma ameaça de despejo. A Polícia Militar (PM) disparou bombas e balas de borracha contra as pessoas, inclusive crianças e idosos.
Em agosto, o movimento Tarifa Zero BH realizava uma passeata contra o aumento da passagem. A marcha estava a mais de 20 metros da barreira policial e os integrantes não realizaram nenhuma ação violenta. Contudo, a PM também atacou. Cerca de 50 pessoas foram encurraladas dentro de um hotel e detidas pela polícia.
No dia 7 de setembro, em Montes Claros, a indígena Juvana Xacriabá foi agredida: “O PM me puxou com muita força, jogou no chão, colocou um joelho na minha cabeça e o outro nas costas. Fiquei alguns minutos sem conseguir respirar. Fui tratada como um animal”, relata Juvana.
Em outubro, a PM intensificou as ações na comunidade Pedreira Prado Lopes, região noroeste da capital, alegando combate ao tráfico de drogas. Moradores relatam diversos abusos, como revista indiscriminada, sem flagrante, sem mandado judicial e sem identificação dos PM’s, ameaças e agressões físicas e verbais contra mulheres e menores.
O que fazer em casos de abuso?

A Ouvidoria de Polícia é um órgão externo, que não está subordinado à PM. “Fazemos o controle social das polícias, recebendo denúncias, manifestações, reclamações e desvios de conduta. As denúncias são enviadas para as corregedorias da PM, da Polícia Civil ou do Corpo de Bombeiros, que têm um prazo de dois a três meses para investigar e responder à ouvidoria. Se a denúncia não é acatada, nós remetemos ao Ministério Público, que é o dono da ação”, explica o ouvidor de polícia do Estado, Paulo Alkmim.   
Para entrar em contato com a Ouvidoria de Polícia, bastar ligar para o telefone 162 ou acessar o site ouvidoriageral.mg.gov.br.

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CIVIS MORTOS POR POLICIAIS NO BRASIL

De acordo com o último anuário brasileiro de Segurança Pública, o registro de mortes de civis decorrentes de intervenção policial no Brasil cresceu 37%. Foram 2.203 pessoas mortas por policiais em 2013 e 3022 em 2014.

O anuário pode ser acessado pelo link: migre.me/s1f4H

Coisas que você pode exigir durante uma abordagem
• A identificação do PM.
• Ser revistada/o por policiais do mesmo sexo que você.
• Acompanhar a revista de seu carro e pedir que uma pessoa que não seja policial a  testemunhe.
• Ser presa/o apenas por ordem do juiz ou em flagrante.
• Em caso de prisão, não falar nada além de sua identificação.
• Avisar à sua família e advogado.
• Não ser algemada/o, caso não aja com violência ou não tente fugir da abordagem.

Coisas que a polícia NÃO pode fazer numa abordagem
• Ameaça de qualquer tipo.
• Agressão física ou verbal, lesão corporal e tortura.
• Chantagem.
• Entrar na sua casa sem mandado de busca e
   apreensão.
• Fazer busca em residência entre 18h e 6h.

Fonte: BRASIL DE FATO
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Emílio Rodriguez Lopez: Os estudantes que querem ficar nas suas escolas merecem aplausos da sociedade e não borrachadas da PM do Alckmin

publicado em 13 de novembro de 2015 às 11:39
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Flagrantes da ocupação da Escola Estadual Fernão Dias Paes, no bairro de Pinheiros, em São Paulo.  Fotos: Roberto Parizzoti/Secom/CUT e Rovena Rosa/Agência Brasil, via Fotos Públicas

Emílio Carlos Rodriguez Lopez, no Facebook

A imprensa paulista fala em escolas invadidas, quando na verdade o lugar de alunos é na escola e é lá que eles estão.
Parece-me que o ato violento será quando a polícia invadir a escola para tirá-los do seu lugar natural…estes serão os verdadeiros invasores…
Além do mais, quem é violento é o Governo paulista que se quer consultou pais, alunos, professores e servidores sobre o fechamento de escolas e as mudanças da tal reorganização.
Sequer estes alunos terão o direito de escolher novas escolas e poderem permanecer juntos.
É lamentável tratar problemas sociais como caso de polícia, isto é voltar para o inicio do século passado.
É tão lindo estes alunos não quererem deixar suas escolas, mesmo algumas tendo problemas de manutenção, isto por si só mostra como prezam a Educação.
Por isso peço a todos, independente de credo, que rezem e protestem nas redes sociais contra este absurdo que pode ocorrer a partir das 18 horas de hoje.
Não desejo um novo Pinheirinho.
Vocês que ocuparam escolas são nossos heróis e merecem aplauso da sociedade e não borrachadas da polícia. A responsabilidade do que vier a acontecer é de uma pessoa só: Geraldo Alckmin.
Emilio no FB

Fonte: VIOMUNDO
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Jogo duro e violento de Alckmin vai viralizar ocupação de escolas

Por redacao novembro 13, 2015 13:08

ocupar escolas
O governador Alckmin está seguindo à risca a sua política à la Big Stick.  Fala com suavidade para a mídia, mas bota a policia com cassetes e escopetas na rua pra “dialogar” com os movimentos.
Alckmin não está sendo original. O Big Stick foi criado por Roosevelt. Ele defendia que o EUA só deveriam dialogar com a América Latina mostrando força. Ou seja, na base do porrete.
O governador paulista vem obtendo sucesso há muito tempo usando essa tática com os movimentos sociais, mas parece ter encontrado agora um adversário perigoso e que pode levá-lo a uma derrota histórica.
Ontem estive na escola Fernão Dias, que conheço há uns 20 anos. Ela foi a primeira a ser ocupada em São Paulo por estudantes que são contra o plano de fechamento de escolas que Alckmin pretende implementar sem ter discutido com ninguém, professores, pais, alunos, especialistas em educação e qualquer outro segundo da sociedade.
Haviam uns 20 carros de polícia por lá  e uns 150 a 200 policiais cercando o local. Dentro do colégio, no máximo 20 garotas e garotos, sendo que apenas um deles parece ter 18 anos. Todos os outros menores de idade.
Me impressionou ver uma menina ruiva de uns 14 anos que parecia ser uma das líderes do movimento. Segundo depoimento de quem estava acampado por lá em solidariedade, ela já tinha conseguido driblar a barreira policial por duas vezes, tendo saído e entrado da escola.
Fiquei imaginando o que aconteceria com ela se fosse agredida por um daqueles policiais bem nutridos, fortes e ameaçadores que estavam por lá. Ela provavelmente desmontaria.
Hoje já são sete escolas ocupadas. Essas histórias estão correndo o estado. Em Osasco, Diadema, Santo André, na Zona Sul, na Leste etc. garotas e garotos estão se mobilizando.
E a polícia e suas tropas de choque estão sendo acionadas para barrá-los na sua legítima ação de protestar contra uma das mais absurdas ações de todos os tempos que um governador de São Paulo tenta patrocinar com seu jeito meigo de mudar o nome das coisas, o fechamento de escolas.
A potência desse movimento é algo que supera o Big Stick de Alckmin. Se ele vier a mostrar força com esses garotos, terá milhares e milhares de pessoas nas ruas e nas escolas em solidariedade a eles e contra ele. O tamanho da desproporção da violência é algo que não deixa espaço a dúvidas.
Mas ao mesmo tempo se Alckmin vier a ficar quieto fazendo de conta que não é com ele, o movimento pode ir ganhado força aos poucos e em breve serão 100 escolas ocupadas.
Ou o governador recua enquanto é cedo ou viverá dias de Beto Richa.
Essa meninada conseguiu colocar o supostamente imbatível Alckmin nas cordas. Se ele pagar pra ver, vai perder.

Fonte: BLOG DO ROVAI
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COP-21. Alimentos. Um Outro Mundo É Possível

Como alimentar uma população crescente em tempos de mudança climática?

Até 2050, teremos que produzir comida para mais 2 bilhões de pessoas. Foto: Shutterstock
Até 2050, teremos que produzir comida para mais 2 bilhões de pessoas. Foto: Shutterstock

Agir no nível local e consumir de maneira consciente estão entre as principais formas de reduzir o impacto climático da indústria alimentar, responsável por cerca de 50% das emissões globais de gases de efeito estufa

Luna Gámez, do ISA
Atualmente, 800 milhões de pessoas no mundo sofrem com a fome, o que representa 11% da população vivendo em situação de insegurança alimentar, segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). Conforme indica o Relatório Mundial de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, esse número pode aumentar para 1,4 bilhão de pessoas como consequência dos efeitos da mudança climática.
“Até 2050, teremos que produzir comida para mais 2 bilhões de pessoas, o que supõe mais pressão sobre a terra e sobre a água. Precisamos de sistemas alimentares que produzam mais com menos e que sejam resilientes às mudanças climáticas”, disse o brasileiro José Graziano da Silva, diretor geral da FAO.
O setor agropecuário emite 12% do total de emissões de gases de efeito estufa, mas, se contabilizarmos as emissões indiretas de todos os processos relacionados com a indústria alimentar, essa porcentagem atinge entre 44% e 57% do total das emissões globais, segundo a ONG Grain (saiba mais). No Brasil, essa porcentagem é ainda maior: 60% (leia mais).
Entre os processos indiretos responsáveis pelas emissões figuram: o desmatamento e a queima da matéria orgânica – que em 90% das ocasiões são produzidos como resultado da expansão da fronteira agrícola; o transporte dos alimentos e das matérias primas; a embalagem e a refrigeração dos produtos; e o desperdício de alimentos, cuja decomposição emite 4% do total de emissões (leia mais sobre emissões do setor agropecuário e mudança climática).
“Desperdício e fome são os dois lados de uma mesma moeda”, afirmou Carlo Petrini, sociólogo e gastrônomo italiano fundador do movimento Slow Food, no evento “Nós alimentamos o planeta”, realizado em Milão, em outubro, pela organização SlowFood. Petrini também lembrou que nosso sistema de produção de alimentos é capaz de alimentar 12 bilhões de pessoas, embora população do planeta seja hoje de 7,3 bilhões – e mais de 10% sofre com fome e malnutrição. “Este sistema esquizofrênico desperdiça 40% da comida produzida”, informou Petrini.
Embora exista uma grande preocupação global com o problema da fome, o Banco Mundial adverte que só 1% dos recursos financeiros solicitados à comunidade internacional para ajudar aos países mais afetados pelo problema são disponibilizados atualmente (leia mais). Muitos países perdem entre 2% e 3% do seu PIB devido a problemas alimentares.
Para alguns a resposta contra a fome no mundo tem sido a produção intensiva de alimentos. Porém, o projeto de consultoria da Trucost para a FAO demonstra que os custos ambientais da produção industrial de alimentos atingem US$ 3,33 trilhões por ano (quase o PIB da Alemanha).

Como reduzir as emissões no setor alimentar?
“Na minha região, muita gente perdeu as safras por conta das chuvas e muita gente sofre com a desnutrição.Temos de mudar a forma de produzir e consumir, mas com a mudança climática fica complicado”, disse o jovem produtor senegalês Hady Diop, no encontro, em Milão.
A relação entre o clima e a produção de alimentos depende diretamente do manejo dos solos (veja aqui vídeo da Via Campesina e Grain). Quase a metade do CO2 da atmosfera provém da destruição de matéria orgânica dos solos. Por meio do manejo sustentável e da recuperação dos solos poderíamos conseguir estocar o carbono e aumentar a produção de alimentos em 58%, segundo a FAO.
Metas específicas para controlar as emissões do setor agropecuário mal são consideradas no texto que deverá ser negociado na Conferência do Clima de Paris, que acontece em dezembro. Tampouco existem propostas alternativas ao sistema atual de produção de alimentos.

Agir do local ao global
Movimentos sociais e organizações como a Via Campesina, Grain ou Slow Food defendem que é preciso agir desde o nível local até o global para enfrentar esse desafio. Em outubro, o evento “Nós alimentamos o planeta” reuniu 2,5 mil jovens produtores do mundo inteiro, entre os quais também figuravam cozinheiros, acadêmicos e integrantes de movimentos sociais pela alimentação de mais de 120 países. “[O objetivo foi] juntar todos aqueles que produzem nosso alimento para discutir de que forma teria que ser nutrido o planeta”, disse Valentina Bianco, responsável pela região da América Latina na Slow Food Internacional, em entrevista ao ISA.
“Precisamos tentar produzir e consumir localmente para reduzir o transporte, o desperdício de comida e as emissões resultantes desses processos”, disse Bianco. De acordo com ela, existem três caminhos para alimentar o planeta e limitar o impacto da alimentação no meio ambiente: “produzir e ser agricultor, ter uma pequena horta (que pode ser urbana) e ser um consumidor consciente, o que chamamos de coprodutor”.
“O pessoal no campo está envelhecido, precisamos incentivar os jovens a ficarem na terra. Eu sou jovem e vivo as dificuldades de ser agricultor. Nós defendemos o campo com gente feliz que possa produzir alimentos de qualidade com um preço justo, a gente só fica no meio rural se tiver uma garantia econômica mensal”, disse Alexandre Leal dos Santos, jovem produtor do Paraná que participou encontro em Milão.
Reunião da Comitiva Brasileira no encontro de Milão. Mais de 50 pessoas participaram do grupo
Reunião da Comitiva Brasileira no encontro de Milão. Mais de 50 pessoas participaram do grupo

“Num país periférico como o Brasil, cuja vocação sempre foi exportar coisas, hoje falamos de agricultura familiar, e isso é uma evolução, mesmo que ainda não seja uma agricultura ecológica, pois utiliza muito fertilizante. Mas é preciso entender que o Brasil é um lugar bastante complexo”, expôs Ranieri Portilho Rodrigues, representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário do Brasil.
“Na Slow Food acreditamos que a agricultura familiar possa ser uma resposta aos problemas de alimentação que temos atualmente, mas precisamos que o setor político e institucional acredite e apoie realmente esse sistema”, afirmou Valentina Bianco. Ela acrescentou que esse movimento não só se preocupa com garantir a segurança alimentar, como também defende a luta pela soberania alimentar, pela qual “cada pessoa tenha direito a se alimentar com produtos próprios da sua tradição e do seu território e conservar o patrimônio agrícola de sua cultura”.
Evento sobre alimentação indígena no encontro de Milão
Evento sobre alimentação indígena no encontro de Milão

“Se nós quisermos salvar o planeta, nós teremos que começar por nossa alimentação. Mas nós estamos deixando as nossas comidas tradicionais por alimentos industrializados”, afirmou, em entrevista ao ISA, Sergio Wara, indígena Sateré Mawé e liderança do projeto Guayapí, rede de comércio justo internacional de guaraná.
Wara também anunciou que sua comunidade apresentará, em julho de 2016, o primeiro grupo de Slow Food indígena, que será chamado de “Miuakua”.
Entre os representantes brasileiros também estavam Marcelo Martins do Programa Xingu, do ISA, e o indígena Miaraip Kaiabi, que apresentaram para mais de 2 mil pessoas o óleo de pequi e a pimenta do Xingu, entre outros produtos da Associação da Terra Indígena do Xingu (ATIX). Eles defenderam a necessidade de fortalecer a agrobiodiversidade. “Protegendo nossa alimentação também protegemos nossa cultura”, disse Miaraip. (ISA/ #Envolverde)
* Publicado originalmente no site Instituto Socioambiental.

Fonte: ENVOLVERDE
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“O capitalismo transforma o que deveria ser alimento em apenas mercadoria”, diz Stédile

As consequências da ofensiva do capitalismo na agricultura brasileira foi uma dos temas abordados pelo coordenador nacional do MST, em aula pública sobre a alimentação saudável.
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Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST

As consequências da ofensiva do capitalismo na agricultura brasileira fizeram parte dos principais temas abordados pelo coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile, em aula pública sobre a alimentação saudável, realizada no último sábado (14), em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

O evento, organizado pela Frente Parlamentar Gaúcha em Defesa da Alimentação Saudável em parceria com entidades e movimentos sociais, aconteceu ao lado da Feira Agroecológica, no Parque da Redenção.

Logo após a abertura da aula pelo coordenador da Frente, deputado estadual Edegar Pretto (PT), Stédile pediu solidariedade e um minuto de silêncio às vítimas do capitalismo.

Entre os exemplos, citou os milhares de mortos na Síria; os mais de 120 mortos em atentados em Paris, na última sexta-feira (13); e os mortos e desaparecidos na tragédia em Mariana (MG), após rompimento de duas barragens de rejeito de minério da Samarco/Vale.

De acordo com Stédile, o domínio do capital financeiro e das grandes corporações internacionais sobre o modelo de agricultura existente hoje no Brasil e no mundo corresponde a uma reorganização econômica do planeta, iniciada nos anos 90, que é fruto de uma nova etapa do sistema capitalista, responsável pela origem da crise econômica existente no país.

“Cerca de 500 empresas dominam 60% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, sendo que 50 delas atuam no setor da agricultura.

Nunca antes a humanidade estivera sobre o domínio de um só modelo de produção e essa é uma situação que afeta de forma unitária todas as famílias do mundo.

Essa também é a causa e a origem da crise econômica que a sociedade está vivendo. Não é culpa do governo, mas nem o governo tem consciência dessa crise”, disse Stédile.

O coordenador do MST explicou ainda que o capitalismo transformou a agricultura em mecanismo de acumulação de riquezas e desigualdade social.

“O capitalismo dominou bancos e multinacionais e com esse sistema ocorreu uma revisão nacional da produção, onde as 50 empresas brincam com o planeta e decidem, de acordo com seus interesses, o que cada território vai produzir.”

Conforme o coordenador do MST, outra tática do capital para a acumulação de riquezas se dá através da padronização da produção e uniformização do preço dos alimentos.

Ele também lembrou que 85% das terras cultivadas no país se destinam a produção de soja, milho, pastagem, cana-de-açúcar e eucalipto.

“Para o capital os alimentos são mercadorias e na sua lógica toda mercadoria ter que ser padronizada para assim obter lucro.

Ele fez o nivelamento dos preços dos alimentos, independente do tempo de trabalho necessário para a produção, o que afetou a economia camponesa do mundo inteiro.

Hoje, ninguém sabe o valor exato das culturas; a safra de soja do ano de 2019 já está vendida na Bolsa de Amsterdã a um determinado preço”, declarou.

Stedile também afirmou que o capitalismo e as grandes empresas que agem dentro dos estabelecimentos agrícolas são responsáveis pelas mudanças na forma de produção da agricultura, que hoje é baseada no uso de agrotóxicos, sementes transgênicas, monocultivo e plantios em grandes áreas.

“Os fazendeiros organizaram a produção na maior escala possível para ter lucro máximo. E esse lucro é dividido com empresas e bancos que financiam seus plantios”, declarou.

Outra ofensiva do capital na agricultura, destacada Stédile, foi a substituição da mão de obra pelo uso de venenos.

“No Brasil estão usando os agrotóxicos com substituição de mão de obra. Nos últimos dez anos mais de 2,4 milhões de trabalhadores rurais assalariados perderam seus empregos.

Eles foram substituídos pelos venenos. É desta forma que o capital também atua na agricultura e transforma o que deveria ser alimento em apenas mercadoria”, argumentou.

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Contradições do Capital

Segundo Stédile, por mais força que tenha o capitalismo, para cada ação desse sistema haverá uma contradição que levará a uma crise e à mobilização social.

O mesmo vale para a sua atuação na agricultura, onde o uso abusivo de agrotóxicos tem aumentado cada vez os casos de câncer no Brasil.

Outros exemplos citados por Stédile foram a descoberta de Glifosato no leite materno de mulheres que residem em Lucas do Rio Verde (GO), e os prejuízos que os venenos causam à biodiversidade.

“Além de prejudicar a saúde, mata os seres vivos que há na natureza – só não mata a soja, contamina as águas e o solo, e altera o clima. Hoje, até os cemitérios estão sendo reduzidos para plantar com o uso veneno e em nome do lucro”.

Finalizando a aula pública, Stédile disse que acredita na conscientização da população sobre o tema e defendeu a produção livre de agrotóxicos como alternativa ao agronegócio. “Ânimo, camaradas, porque na sociedade brasileira há energias progressistas e a prova está na agroecologia.

Vamos derrotar essas ideias atrasadas e reacionárias e construir uma agricultura sem agrotóxicos e uma sociedade socialista, que é o sono de todos nós”, concluiu.

Engajamento social

Para o coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Alimentação Saudável, deputado Estadual Edegar Pretto, a luta em defesa da alimentação saudável depende do apoio e engajamento de toda a população.

“Não é justo que litros e mais litros de venenos matem nosso povo em nome do lucro de meia dúzia de fazendeiros que não se importam com a água, a saúde e o meio ambiente. A população tem que começar a denunciar essas ações e exigir a rotulagem dos alimentos transgênicos. Essa luta que estamos enfrentando não é pequena, mas vale a pena”, complementou Pretto.

Fonte: MST
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