quinta-feira, 14 de maio de 2015

O tempo está contado

Por  13/05/2015

Um pilar do neoliberalismo está balançando


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Por Roberto Savio, da IPS – 

Roma, Itália, abril/2014 – O informe Perspectivas da economia mundial, publicado em abril pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), confirma que as consequências do colapso do sistema financeiro, que começou em 2008, continuam sendo graves. Este quadro se acentua pelo envelhecimento da população, não só na Europa, mas também na Ásia, a desaceleração da produtividade e o fraco investimento privado.

O crescimento médio anterior à crise financeira surgida em 2008 foi de aproximadamente 2,4%. Caiu para 1,3% entre 2008 e 2014, e agora se estima que ficará estabilizado em 1,6% até 2020, no que os economistas chamam de “a nova normalidade”. Em outras palavras, a “normalidade” agora é o alto desemprego, um crescimento anêmico e, obviamente, um clima político difícil.

Para os países emergentes o panorama não é muito melhor. A previsão é de que o crescimento potencial continue diminuindo, de uma média aproximada de 6,5% entre 2008 e 2014 para estimados 5,2% durante o período 2015-2020.

O caso da China é o melhor exemplo. Espera-se que o crescimento caia de uma média de 8,3% nos últimos 10 anos para cerca de 6,8%. A contração da China diminuiu drasticamente os preços das matérias-primas e em consequência prejudicou os países exportadores.

A crise é especialmente forte na América Latina. No Brasil, a queda das exportações contribuiu para piorar a grave crise do país e o aumento da já elevada impopularidade de sua presidente, Dilma Rousseff, devido à má gestão econômica e ao escândalo das revelações sobre a estendida corrupção na Petrobras, a semipública empresa petroleira.

Isso, certamente, abre uma reflexão fundamental. Desde Marx a Keynes, as teorias sobre a redistribuição da renda foram basicamente construídas no contexto de economias estáveis ou em expansão.

Os partidos progressistas foram capazes de obter seus êxitos durante ciclos de crescimento, mas não elaboraram em paralelo a teoria para aplicar em épocas de crise. Em tais situações costumam imitar as receitas da direita, em um giro que borra a própria identidade progressista e faz com que percam adesões no eleitorado.

A situação na Europa, analisada sob esta ótica, é um ensinamento. Todos os partidos xenófobos de extrema direita cresceram desde 2008, quando começou a crise recessiva, inclusive nos países nórdicos, considerados modelos de democracia.

No mesmo período, os partidos progressistas perderam peso e credibilidade. E agora que o FMI vê alguma melhora na economia europeia os partidos progressistas tradicionais não colhem os benefícios.

O FMI qualifica o atual momento econômico como “uma nova mediocridade”, que é uma definição mais franca do que “nova normalidade”. Prevê que nos próximos cinco anos enfrentaremos graves problemas nas políticas pública, com sustentabilidade fiscal e desemprego.

É um fato que os dados macroeconômicos são cada dia menos representativos e costumam ser utilizados para ocultar as realidades sociais. O melhor exemplo é a Grã-Bretanha, campeã do liberalismo, que a cada ano reduz o gasto público.

O governo britânico afirma que no último ano foram criados 600 mil novos postos de trabalho. Porém, a grande maioria dos novos trabalhos é de tempo parcial ou mal remunerado, e o emprego público está em seu nível mais baixo desde 1999. Um claro indicador é o número de pessoas que frequentam os restaurantes que oferecem refeições gratuitas aos indigentes. Na sexta economia do mundo, estes passaram de 20 mil antes da crise, há sete anos, para mais de um milhão no ano passado.

E algo semelhante acontece no resto da Europa, embora em menor medida nos países nórdicos.

Segundo o Escritório de Responsabilidade Orçamentária Britânico, a austeridade bloqueou o crescimento econômico em 1% entre 2011 e 2012. Mas, segundo Simon Wren-Lewis, da Universidade de Oxford, o número é, na realidade, 5%, equivalente a US$ 149 bilhões.

Em outras palavras, a austeridade fiscal reduz o crescimento, e isto cria um grande déficit que obriga a mais austeridade fiscal. É uma armadilha descrita em detalhe pelos economistas keynesianos, como os Nobel de Economia Joseph Stiglitz e Paul Krugman.

Todos devem seguir a “ordem liberal” da Alemanha, que acredita que sua realidade deve ser a norma e os desvios devem ser castigados.

A novidade é que em sua análise sobre A distribuição da renda e seu papel na explicação da desigualdade o FMI, guardião fiscal que impôs em todo o Sul em desenvolvimento o consenso de Washington, basicamente uma fórmula de austeridade somada ao livre mercado a todo custo, com resultados trágicos, parece agora ter despertado.

O FMI faz uma objeção a um princípio fundamental da doutrina liberal. Afirma que a maior formação dos trabalhadores, os sindicatos representativos, e um gasto maior do Estado ajudam a reduzir a desigualdade nos países.

Enquanto a participação dos salários na renda nacional dos países do Grupo dos Sete, os mais industrializados, diminuiu em 12% nos últimos 30 anos, a desigualdade cresceu 25% nas mesmas três décadas. Isto não significa em absoluto que o FMI esteja se convertendo em uma organização progressista, mas mostra que um pilar importante do pensamento neoliberal está balançando.

Naturalmente os banqueiros, verdadeiros responsáveis pela crise mundial, conseguiram impunidade. Foram subtraídos mais de US$ 3 trilhões dos cidadãos de meio mundo para manter os bancos de pé. Os mais de US$ 140 bilhões em multas que os bancos pagaram desde o começo da crise dão a medida quantitativa de suas atividades ilegais e criminosas.

A Organização das Nações Unidas (ONU) calcula que a crise financeira criou pelo menos 200 milhões de novos pobres, centenas de milhares de postos de trabalho precários e vários milhões de desempregados, especialmente jovens. Entretanto, ninguém foi responsabilizado. As prisões estão cheias de pessoas presas por roubos menores, que causaram um impacto social imensamente menor.

Por outro lado, em 2014, James Gorman, chefe do banco Morgan Stanley, recebeu US$ 22,5 milhões. O chefe do Goldman Sachs, Lloyd Blankfein, US$ 24 milhões; James Dimon, chefe do J. P. Morgan, US$ 20 milhões. O mais explorado de todos, Brian Moynihan, do Bank of America, recebeu míseros US$ 13 milhões. Ninguém detém o auge dos banqueiros.

*Roberto Savio é fundador da agência IPS e editor de Other News.


Postado em: Artigos 2015EconomiaIPS 2015
Fonte: ENVOLVERDE 
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“A economia é uma mentira, a globalização
é violenta”: uma entrevista com o teórico do
decrescimento

Postado em 14 mai 2015
Serge Latouche
Serge Latouche

Publicado no Unisinos.

O teórico do decrescimento feliz intervém no Bergamo Festival, na Itália: “O comércio livre é como uma raposa livre no galinheiro livre”. E também critica a Expo Milão: “É a vitória das multinacionais, certamente não dos produtores. É preciso dar um passo para trás. Estamos obcecados pelo acúmulo e pelos números”.
Serge Latouche, francês, nascido em 1940, é o economista-filósofo teórico do decrescimento feliz, da abundância frugal, “que serve para construir uma sociedade solidária”.
Uma ideia que amadureceu anos atrás, em Laos, “onde não existe uma economia capitalista, sob a insígnia no crescimento, mas as pessoas vivem serenas”.
E mais: o decrescimento feliz é um dos caminhos que levam à paz. E Latouchefalará sobre isso no dia 12 de maio no Bergamo Festival (8 a 24 de maio), dedicado ao tema “Fazer a paz”, também através da economia.
O economista francês, em particular, se concentrará sobre a crítica às dinâmicas do capitalismo forçado que alarga a distância entre aqueles que conseguem manter o poder econômico e aqueles que dele são excluídos. É por isso que, segundo Latouche, o decrescimento seria garantia e compensação de uma qualidade da vida humana que pode ser estendida a todos.
Também por isso “considerar o PIB não tem muito sentido: ele só é funcional para a lógica capitalista. A obsessão da medida faz parte da economicização. O nosso objetivo deve ser viver bem, não melhor”.

Sempre pensamos que a paz passava pelo crescimento e que as recessões não faziam mais nada exceto exacerbar os conflitos. O senhor, no entanto, inverte o axioma.

Tudo faz parte do debate. Por anos, pensamos justamente que o crescimento permitisse resolver mais ou menos todos os conflitos sociais, também graças a salários cada vez mais elevados. E, de fato, vivemos 30 anos de ouro, entre o fim da Segunda Guerra Mundial e o início dos anos 1970. Um período caracterizado pelo crescimento econômico e por transformações sociais de uma intensidade sem precedentes. Depois, começou a fase sucessiva, a da acumulação contínua, até mesmo sem crescimento. Uma verdadeira guerra, todos contra todos.

Uma guerra?

Sim, um conflito que vê contrapostos uns contra os outros para acumular, o máximo possível, o mais rapidamente possível. É uma guerra contra a natureza, porque não percebemos que, dessa forma, destruímos o planeta mais rapidamente. Estamos travando uma guerra contra os homens. Até mesmo uma criança entenderia aquilo que os políticos e economistas fingem não ver: um crescimento infinito é, por definição, absurdo em um planeta finito, mas não entenderemos enquanto não o tivermos destruído. Para fazer a paz, devemos nos abandonar à abundância frugal, contentarmo-nos. Devemos aprender a reconstruir as relações sociais.

Uma mudança radical de curso. Saber se contentar, ser feliz com o que se tem certamente não está no DNA de uma sociedade marcada pela concorrência.

É evidente que um certo nível de concorrência traz benefícios para os consumidores, mas deve trazê-lo para consumidores que também sejam cidadãos. A concorrência não deve destruir o tecido social. O nível de competitividade deveria ser semelhante ao das cidades italianas do Renascimento, quando os desafios tinham a ver com as melhorias da vida. Agora, ao contrário, somos escravos do marketing e da publicidade, que têm o objetivo de criar necessidades que não temos, tornando-nos infelizes.
Em vez disso, não entendemos que poderíamos viver serenamente com tudo o que temos. Basta pensar que 40% dos alimentos produzidos vão diretamente para o lixo: vencem sem que ninguém os compre. A globalização extremiza a concorrência, porque, superando os limites, ela zera os limites impostos pelo estado social e tornar-se destrutiva. Saber se contentar é uma forma de riqueza: não se trata de renunciar, mas simplesmente de não dar à moeda mais importância do que ela realmente tem.

Os consumidores, no entanto, podem se beneficiar com a concorrência.

Benefícios efêmeros: em troca de preços mais baixos, eles obtêm salários cada vez mais baixos. Penso no tecido industrial italiano destruído pela concorrência chinesa e, depois, nos próprios agricultores chineses postos em crise pela agricultura ocidental. Estamos assistindo a uma guerra. Não podemos nos iludir que a concorrência seja realmente livre e leal; ela nunca o será: existem leis fiscais e sociais. E, para os pequenos, não há a possibilidade de contrabalançar os poderes. Estamos diante de uma violência descontrolada. O TTIP, o tratado de livre comércio entre Estados Unidos e Europa, seria apenas a última catástrofe: o livre comércio é o protecionismo dos predadores.

Como se faz a paz?

Devemos descolonizar a nossa mente da invenção da economia. Devemos recordar como fomos economicizados. Nós, ocidentais, começamos isso, desde os tempos de Aristóteles, criando uma religião que destrói as felicidades. Devemos ser nós, agora, a inverter o curso. O projeto econômico capitalista nasceu na Idade Média, mas a sua força explodiu com a revolução industrial e a capacidade de fazer dinheiro com o dinheiro. Porém, o próprio Aristóteles entendera que, assim, se destruiria a sociedade. Foram necessários séculos para apagar a economia pré-econômica. Serão necessários séculos para voltar atrás.

Hoje, o senhor prefere se definir como filósofo, mas nasceu como economista.

Sim, porque perdi a fé na economia. Entendi que se trata de uma mentira, entendi isso em Laos, onde as pessoas vivem felizes sem terem uma verdadeira economia, porque ela só serve para destruir o equilíbrio. É uma religião ocidental que nos torna infelizes.

Porém, são muitos os economistas nas cúpulas da política.

De fato, eles têm uma visão muito curta da realidade. Mario Monti [primeiro-ministro italiano de 2011 a 2013], por exemplo, não me agradou. Enrico Letta[primeiro-ministro italiano de 2013 a 2014], ao contrário, sim: ele tem uma forma mais aberta, está pronto para a troca. Eu me afastei da política politicante, até porque o projeto do decrescimento não é político, mas social. Para ter sucesso, é preciso, acima de tudo, de um movimento de baixo, como o neozapatista em Chiapas, que depois também se espalhou para o Equador e a Bolívia. Mas também há exemplos na Europa: Syriza na Grécia e Podemos na Espanha se aproximam desse caminho. Em suma, vejo muitos passos à frente.

Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
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Project Syndicate': A secreta tomada do poder pelas corporações

Economista americano alerta que multinacionais tentam impor como se deve viver no século XXI

Project Syndicate  publicou nesta quarta-feira um artigo do economista americano Joseph Stiglitz sobre a força das grandes multinacionais, que segundo ele têm um poder de influência cada vez maior neste século XXI. “Os Estados Unidos e o mundo estão envolvidos num grande debate sobre novos acordos comerciais. Estes pactos costumavam ser apelidados de ‘acordos de livre-comércio’; na verdade, eram acordos comerciais geridos, adaptados aos interesses corporativos, principalmente nos EUA e na União Europeia. Hoje, estes acordos são mais frequentemente chamados de “parcerias”, como na Parceria Trans-Pacífica (PTP). Mas estas não são parcerias entre iguais: os EUA impõem efetivamente as condições. Felizmente, os ‘parceiros’ da América estão se tornando cada vez mais resistentes”, escreve o economista. 
“Não é difícil ver o motivo. Estes acordos vão muito além do comércio, regulando também o investimento e a propriedade intelectual,  impondo alterações fundamentais aos modelos jurídicos, judiciários e regulamentares, sem contribuições ou responsabilização por parte de instituições democráticas”, diz o artigo de Stiglitz, que foi ganhador do prêmio Nobel de Economia em 2001.
Ele prossegue sua análise: “A parte talvez mais injusta, e mais desonesta, de tais acordos diz respeito à proteção dos investidores. Naturalmente, os investidores têm de ser protegidos contra a apropriação das suas propriedades por governos desonestos. Mas não é para isso que são tomadas estas provisões. Houve pouquíssimas expropriações nas décadas recentes, e os investidores que queiram proteger-se podem comprar seguros da Agência Multilateral de Garantia do Investimento, uma filial do Banco Mundial, e os Estados Unidos e outros governos fornecem garantias similares. Não obstante, os EUA exigem essas provisões na PTP, mesmo quando muitos dos seus 'parceiros' têm proteções de propriedade e sistemas judiciários tão bons quanto os seus.
O verdadeiro propósito destas provisões é entravar regulamentos de saúde, ambientais, de segurança, e mesmo financeiros, destinados à proteção da economia e dos cidadãos americanos. As empresas poderão processar governos pela reparação plena de qualquer redução nos seus lucros futuros esperados decorrentes de alterações regulamentares.
Esta não é apenas uma possibilidade teórica. A Philip Morris está processando o Uruguai e a Austrália por exigirem rotulagem de advertência nos cigarros. Reconhecidamente, ambos os países foram um pouco mais longe que os EUA, tornando obrigatória a inclusão de imagens chocantes que mostrem as consequências do consumo de cigarros.
A rotulagem está funcionando. Está desencorajando o tabagismo. Por isso agora a Philip Morris exige ser compensada por lucros perdidos.
No futuro, se descobrirmos que qualquer outro produto causa problemas de saúde (pensem no amianto), em vez de enfrentar processos pelos custos impostos sobre nós, o fabricante poderia processar os governos por impedirem-no de matar mais pessoas. A mesma coisa poderia acontecer se os nossos governos impusessem regulamentos mais rigorosos para nos proteger do impacto das emissões de gases que contribuem para o efeito estufa.
Quando presidi ao Conselho de Assessores Econômicos do Presidente Bill Clinton, os anti-ambientalistas tentaram promulgar uma provisão similar, conhecida por “tomada regulamentar”. Sabiam que assim que fossem aprovados, os regulamentos seriam suspensos, simplesmente porque o governo não poderia pagar a compensação. Felizmente, fomos bem-sucedidos no combate à iniciativa, tanto nos tribunais como no Congresso dos EUA.
Mas, agora, os mesmos grupos estão tentando rodear os processos democráticos, inserindo essas provisões em legislação comercial, cujo conteúdo está sendo mantido, em grande parte, em segredo do público (mas não das corporações que estão tentando impô-los). É apenas a partir de fugas, e de conversas com responsáveis governamentais que parecem mais comprometidos com o processo democrático, que sabemos o que está acontecendo.
Um poder judiciário público imparcial, com padrões legais construídos durante décadas, baseado em princípios de transparência, de precedência, e da oportunidade para recorrer de decisões desfavoráveis é fundamental para o sistema de governo americano. Tudo isto está sendo colocado de lado, já que os novos acordos exigem arbitragem privada, não-transparente, e muito cara. Além disso, este acordo é frequentemente repleto de conflitos de interesse; por exemplo, os árbitros podem ser “juízes” num caso e defensores num caso relacionado com o primeiro.
Os procedimentos são tão dispendiosos que o Uruguai teve que recorrer a Michael Bloomberg e a outros americanos abastados e comprometidos com a saúde para se defender da Philip Morris. E, embora as corporações possam instaurar processos, outros não podem fazê-lo. Se existir uma violação de outros compromissos, por exemplo, trabalhistas ou de normas ambientais, os cidadãos, os sindicatos e os grupos da sociedade civil não dispõem de qualquer recurso.
Se alguma vez existiu um mecanismo unilateral de resolução de disputas que viola princípios básicos, este é um deles. Foi por isso que me juntei a destacados peritos jurídicos dos EUA, incluindo de Harvard, Yale, e Berkeley, na escrita de uma carta ao Presidente Barack Obama explicando quão nocivos são estes acordos para o nosso sistema de justiça.
Os americanos que apoiam tais acordos salientam que até agora os EUA foram processados poucas vezes, e que ainda não perderam um único caso. As corporações, contudo, estão começando a aprender a usar estes acordos em seu proveito.
E as dispendiosas sociedades de advogados nos EUA, Europa, e Japão muito provavelmente superarão os mal-remunerados advogados governamentais que tentem defender o interesse público. Pior ainda, as corporações dos países avançados podem criar filiais em países membros através das quais investem novamente nas sedes, e seguidamente processar, dando-lhes um novo canal para bloquear a regulamentação.
Se houvesse uma necessidade de uma melhor proteção da propriedade, e se este mecanismo de resolução de disputas privado e dispendioso fosse superior a um sistema judicial público, deveríamos estar mudando a lei não apenas para prósperas companhias estrangeiras, mas também para os nossos próprios cidadãos e pequenas empresas. Mas não tem havido indícios que este seja o caso”.
“As normas e regulamentos determinam o tipo de economia e de sociedade em que as pessoas vivem. Afetam o poder de negociação relativo, com implicações importantes sobre a desigualdade, um problema crescente em todo o mundo. A questão é se devemos permitir que as abastadas corporações usem provisões ocultas, em alegados acordos comerciais, para impor como viveremos no século XXI. Espero que os cidadãos nos EUA, na Europa, e no Pacífico respondam com um retumbante não”, conclui Stiglitz.
Fonte: JORNAL DO BRASIL
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Grandes corporações e o crime organizado - que são a mesma coisa - comandam o mundo.

Em um mundo comandado  pelo crime, diferentes formas de expressões criminosas se manifestam, até  a base da pirâmide social.

Em nome do combate ao crime organizado e a criminalidade nos grandes centro urbanos, as liberdades civis  são suprimidas, fazendo com que o fascismo ganhe corpo e musculatura, e com isso , o crime tem o caminho livre para crescer e se multiplicar.

Com a crise do capitalismo que se iniciou em 2008, a partir de então o crime vem ficando mais forte.

Previsões apontam mais cinco anos de crise profunda no capitalismo mundial, consequentemente mais sofrimento para as pessoas.

Cada vez mais é maior o número de pessoas que adquirem consciência sobre o estado deplorável do mundo atual, apesar do bloqueio diário imposto pela mídia do capital com seu conteúdo imbecilizante a alucinatório.

O capitalismo, que a partir da revolução industrial acenou com a possibilidade de progresso e evolução, atualmente faz exatamente o oposto.

Em um mundo de 7 bilhões de pessoas, 1 bilhão de pessoas consomem o equivalente a 85% de tudo que é consumido, enquanto 6 bilhões dividem 15 %.

Esse quadro não é muito diferente de sociedades antigas, quando reis e nobres desfrutavam de tudo e a imensa maioria das pessoas vivia na escravidão e na miséria. 

Uma proeza fantástica do capitalismo atual em sua volta ao passado bárbaro.

No século XXI, os escravos são os assalariados e os pequenos empresários, de uma maneira geral, que, por conta  da ilusão do consumo e das aparências acreditam que são privilegiados e até mesmo diferentes na escala social.

Os próximos cinco anos, até 2020, serão cruciais para que o capitalismo possa se redefinir, uma vez que a implosão será inevitável.

Se for por auto implosão, o capitalismo adquirirá uma nova aparência, se redefinirá, e talvez se reestruture de forma ainda mais selvagem,claro, expondo uma  aparência civilizada e próspera.

Se a implosão for fruto de grandes manifestações sociais  pelo mundo, tudo pode acontecer com a nova organização social e de produção que emergirá,  ou até mesmo nada.

O tempo está contado.


quarta-feira, 13 de maio de 2015

1990. E ainda dizem que foi por engano

 O  IMPACTO  DA CIÊNCIA  SOBRE  A VISÃO DO MUNDO

Artigo publicado na Revista THOT, edição n° 53, de 1990

Autor: Verônica Rapp de Eston -Professora associada aposentada da Faculdade de Medicina e co-fundadora do Centro de Medicina Nuclear da Universidade de São Paulo

Em vários momentos da história da humanidade, o desenvolvimento científico teve um impacto decisivo sobre a visão de mundo. Na Mesopotâmia, por volta de 4500 a.C., a partir da observação do movimento dos astros, surgiram a astrologia, a física e a matemática e, em decorrência disso, uma classe de sacerdotes cuja influência foi predominante durante muitos  séculos. As descobertas científicas do século XVI levaram ao que, posteriormente, foi chamado de "revolução copernicana". Graças as observações celestes propiciadas pelo desenvolvimento do telescópio ( Nicolau Copérnico, 1473-1543), Galileu Galilei concluiu que o universo não era geocêntrico, isto é, não girava em torno da Terra; esta, sim, girava em torno do Sol. Ao afirmá-lo ele contradizia frontalmente os ensinamentos da Igreja, tendo sido, por isso, obrigado a abjurar, para não ser queimado por ordem da Inquisição.


Em consequência de tais o observações realizadas pelo homem, houve um tremenda aceleração nas ciências físicas e um decĺínio da força política da Igreja. Grande parte das questões relativas à posição do planeta Terra no universo e à natureza e significação dos corpos celestes deixou de ser da alçada da teologia e da filosofia e passou para o campo da pesquisa empírica; problemas que antes  eram submetidos à  apreciação das autoridades eclesiásticas ou de eruditos passaram a ser o objeto de observações sistemáticas e experiências.

Essa transferência de autoridade propiciou um novo conhecimento do homem e de seu universo, permitindo  a "explosão da ciência", que desde então tem exercido uma poderosa influência sobre a imagem e a concepção  de humanidade. Entretanto, a ciência está novamente no limiar de uma série de transformações, cujas consequências podem ter um alcance ainda maior do que aquelas que emergiram das revoluções de Copérnico, Newton, Darwin e Freud.

Questões relativas à consciência e à percepção, experiências subjetivas  e transpessoais, as raízes dos postulados de valores fundamentais e assuntos correlatos constituem hoje um grupo de preocupações que, tal e qual aquelas relativas ao universo físico, começam a se deslocar da esfera das investigações teológicas e filosóficas para o domínio da pesquisa empírica.

O espírito da ciência clássica é de indagação aberta e sem preconceitos a respeito de tudo aquilo que interesse ao pesquisador. Segundo Conant ( 1951), a ciência clássica assenta sobre os seguintes axiomas:

- a razão é o instrumento supremo da humanidade;

- o universo é basicamente físico e ordenado;

- essa ordem pode ser descoberta pela ciência e definida o objetivamente;

- a observação e a experimentação são os únicos meios válidos para  descoberta da verdade científica, que é sempre independente do observador;

- os conhecimentos adquiridos pelo uso da razão libertarão a humanidade da ignorância e conduzi-la-ão a um futuro melhor.


Tais axiomas, no entanto, frente aos recentes progressos em diversas fronteiras da indagação científica, tornaram-se menos seguros.


Paradigmas em transformação


Existe uma relação recíproca entre a pesquisa científica e a sociedade em que ela emerge. Os conhecimentos científicos geram aplicações tecnológicas que, por sua vez, modificam o ambiente cultural.

A lenda grega de Prometeu ilustra magistralmente esse aspecto da ciência. O audacioso Prometeu roubou o fogo dos deuses e, dessa maneira, deu ao homem o controle sobre seu próprio destino. Epimeteu, seu irmão, deleitava-se em brincar com aquelas descobertas, inconsciente das suas consequências. Irados com o roubo, os deuses vingaram-se; enviaram a Epimeteu uma esposa, Pandora; ela possuía uma caixa que, uma vez aberta, derramava sobre a humanidade doenças e aflições; somente a Esperança permanecia na caixa, a fim de preservar o equilíbrio mental do homem diante de seu novo infortúnio.

A respeito disso , De Ropp ( 1972) assim se expressa: " Nossa  época, a idade dos novos Prometeus, ilustra, como nenhuma outra, a profundidade do mito de Prometeu. Jamais os Prometeus  foram tão ousados ou os Epimeteus, tão imprudentes, e nunca a caixa de Pandora esteve tão abarrotada de ameaças".

Os mitos e as imagens de uma determinada cultura, por seu lado, influenciam de maneira marcante aquilo que parece ser possível e tudo o que é aceito cientificamente ou de outra maneira.  As observações não são independentes do observador, como ressalta o físico nuclear Martin Deutsch (1959):" No meu próprio trabalho fiquei perplexo pela maneira como uma idéia preconcebida do pesquisador pode influir sobre os resultados das suas observações. Thomas Kuhn (1970) usou a expressão "paradigma científico" para descrever o modelo geral segundo o qual o homem percebe, conceitua, e valoriza os dados da realidade de acordo com uma determinada imagem dela que prevalece na ciência, ou em certos ramos da ciência, em dada éṕoca. Considera-se  "ciência normal " o conjunto desses paradigmas aceitos num contexto definido. Quando há um acúmulo de dados discrepantes ou anômalos em relação aos paradigmas "normais" acontecem os períodos de crise na ciência, para que então se retomem certos temas rejeitados e tidos como tabus durante anos. É como dizia Bernard Shaw: " Todas as grandes verdade começam como blasfêmias ". Eis apenas alguns exemplos bastante conhecidos: as críticas feitas por Galileu e outros ao geocentrismo, que por pouco não os levaram à fogueira; as descobertas de Mendel, em 1865, relativas aos genes, que permaneceram ignoradas por 35 anos; o estudo da anatomia, durante anos considerado uma violação do "templo do corpo"; as teorias de Darwin sobre a evolução das espécies, ridicularizadas e rejeitadas durante praticamente toda a sua vida, e que ainda hoje se chocam com conceitos religiosos mais estreitos sobre a " criação do homem".

No século XVIII houve uma grande contovérsia quanto aos meteoritos , pois não se aceitava que aquelas rochas pudessem ter caído do céu; assim , os museus os jogavam fora por não serem "reais". Hoje, os cientistas  se consideram mais esclarecidos e abertos a novas descobertas; no entanto, subsiste uma série de preconceitos: não há explicação para os OVNIs, mas eles podem ser observados; nota-se uma resistência às pesquisas ligadas ao cérebro e à mente; os fenômenos de percepção extra-sensorial são analisados com descrença pela ciência oficial.

Verificamos , assim que uma determinada visão de mundo - seja da população em geral, seja dos meios científicos - pode vir a se constituir um obstáculo para o desenvolvimento de conhecimentos importantes e, muitas vezes, fundamentais para o homem.


As limitações do processo científico em si


 A atividade humana em que  ciência se baseia  é a observação e o seu registro, o que representa limites impostos pelo próprio processo de descrição. A esse respeito, Margenau (1963) assim se expressa: " A ciência não mais contém verdades absolutas. Começamos a duvidar de proposições fundamentais, tais como o princípio de conservação da energia, o princípio de causalidade e muitas outras que pareciam firmes e inabaláveis no passado".

Outra limitação importante é a orientação, mais ou menos exclusiva, pra uma maneira analítico-racional de resolver os problemas, embora muitas das descobertas fundamentais da ciência- desde Arquimedes, passando por Newton e Einstein - tenham decorrido de um lampejo de revelação conhecido como "intuição" e só, a posteriori, sido comprovadas experimentalmente. A ciência ocidental tem encontrado dificuldades em definir a intuição. Segundo pesquisas recentes, constatou-se que a capacidade  de expressão lingüística e o raciocínio analítico estão associados ao lado esquerdo do cérebro, enquanto o lado direito lida com a percepção sintética, global. Ao se levar em conta somente as funções da porção esquerda do cérebro, deixa-se de admitir a intuição.

A terceira limitação do processo científico é a especialização ou fragmentação da pesquisa científica, um subproduto da complexidade crescente da ciência. Apesar dos avanços que proporcionou, a especialização tem levado à perda da visão de conjunto a à dificuldade na interpretação global dos fenômenos.

Em decorrência disso  surgiu o método reducionista, assim descrito por Ashby (1973): " Na presença de um sistema, o cientista responde, automaticamente, desmanchando-o em pedaços. Os animais foram reduzidos  a órgãos e, estes, estudados microscopicamente como células; as células foram estudadas como coleção de moléculas e, estas, decompostas em átomos. Os reducionistas afirmavam como dogma  que toda ciência deveria necessariamente avançar dessa maneira." Conheça as propriedades de cada parte e, ao juntar todas as partes, conhecerá o conjunto'. Esse método, levado ao absurdo,  conduz à afirmação de que 'a vida nada mais é que física e química'. Szent-Gyorgi(1961) chega a declarar que 'a biologia depende do critério do físico'." No século passado houve grande progresso ao se utilizar tal método, pois eram estudados sistemas em que havia pouca ou nenhuma  interação entre as partes ( nesse caso, o todo seria a soma das partes). Contudo, nos sistemas que envolvem múltiplas interações entre as partes componentes - como os biológicos ou os ecológicos - a teoria reducionista não consegue explicar o funcionamento do todo.

Por fim, está sendo questionada  também uma idéia clássica da ciência, a de que o mundo objetivo explorado pelos vários métodos científicos é independente da experiência subjetiva do pesquisador. Na física das partículas, a perturbação do sistema objetivo pelo ato da observação passou a ser conhecida  como "princípio da incerteza de Heisenberg". Mas é na área das pesquisas psíquicas que ela pode ser detectada com maior nitidez, pois os fenômenos psíquicos só terão uma realidade em si se mente do observador for parte integrante do experimento.

Assim , a atual visão de mundo foi grandemente influenciada pelo conhecimento do mundo físico, o que contribui para a ênfase materialista da cultura como um todo. O desenvolvimento da ciência contemporânea desafia os velhos paradigmas científicos, influindo decisivamente sobre a formação da imagem do homem. Um não é a causa do outro, mas ambos devem se mover conjuntamente.


Fronteiras cruciais na pesquisa científica


Contestações aos paradigmas  passados tem surgido em fronteiras avançadas das pesquisas. Isso se dá em campos os mais diversos - a física, a biologia, a psicologia, a parapsicologia, etc. - como mostraremos a seguir.


Física moderna e cosmologia


Idéias novas e revolucionárias começam a se desenvolver a partir de 1870, quando Clifford sugere que uma partícula de matéria não passa de uma espécie de montículo no espaço geométrico. Pesquisas posteriores, de Maxwell, Planck e Einstein, culminaram na afirmação de Bohr: a luz tanto poderia ser onda como partícula. Einstein reuniu as noções de tempo e espaço na sua Teoria da Relatividade Geral e, sugeriu não somente que matéria  e energia dividem a mesma equação, mas que a gravidade também pode ser incluída numa teoria de campo unificado. Repentinamente, o universo  se transformava em pura geometria. Nas palavras de Margenau ( 1963): " O átomo sólido e duro transformou-se , quase que completamente, em espaço vazio. Os elétrons podem ser pontos, singularidades matemáticas, perseguindo o espaço".

Na realidade tudo parece estar recuando.  Como a   relatividade Geral predisse, o universo está em contínua expansão. Ultrapassamos a limitada visão copernicana do astro solar com seus planetas e descortinamos uma imensa galáxia em forma de disco com 100 mil anos luz de diâmetro, povoada de 100 bilhões de estrelas, expandindo-se a uma velocidade de 35 quilômetros por segundo. E essa é apenas uma das muitas galáxias existentes num universo cujo limite conhecido está a bilhões de anos luz de distância e repleto de milagres estranhos, como quasares, pulsares e buracos -negros. Em meio  a isso, levantam-se postulados mais estranhos ainda, como antimatéria, o tempo retrocedendo, massa negativa e partículas que viajam a velocidades maiores que a luz.

Além disso, como dizia Jeans (1973), " o universo começa a se assemelhar mais a um grande pensamento do que a uma grande máquina ". A física moderna e a cosmologia colocaram a humanidade em um universo imensamente mais rico e extraordinário do que a visão copernicana poderia imaginar. Segundo LeShan (1969), a imagem do homem cósmico, na física moderna, é muito semelhante à do "homem no universo " das filosofias orientais: nestas, a realidade é aparente,dinâmica e habitada tanto pela harmonia quanto pela singularidade (estranheza). Antes, a interpretação histórica do tempo  era subordinada à busca de poder, simbolizada pela mecânica newtoniana, que tratava os corpos que se movem no espaço como recipientes inertes, desprovidos de energia. A idéia do espaço-tempo de Riemann, mostra já um forte toque chinês: " Campos de força compõem e extensão do universo, que apresenta uma infinidade curvilínea".


Outras ciências físicas e biológicas


Em duas áreas das ciências físicas houve um impacto fortíssimo sobre a imagem do homem. Uma delas diz respeito a entropia², cujo conceito emergiu do estudo da termodinâmica³. De acordo com a Segunda Lei da Termodinâmica, os sistemas isolados tendem naturalmente para um estado de desordem máxima e o universo será fatalmente invadido pelo caos. Sendo essa uma lei da natureza, nada pode ser feito para evitá-lo; o ser humano e a vida passam a ser vistos como insignificantes, não existe um processo possível de evolução, pois o universo está em decadência. Todavia, Huxley(1963) e outros contrapuseram o argumento de que os sistemas vivos esto sujeitos a condições diferentes. Assim , a entropia deve ficar restrita ao tratamento de sistemas fechados, em estado de equilíbrio e sem intercâmbio com o meio ambiente. Os sistemas vivos, ao contrário, são abetos e estão em constante troca com o seu meio ambiente; portanto, o resultado final será diferente. A situação atual da física, onde não é mais possível a certeza absoluta, nos adverte de que  os paradigmas científicos são falíveis.

De maneira semelhante, a visão mecanicista da cibernética de que " o cérebro é simplesmente uma máquina de carne" se transformou no conceito de que o computador é uma extensão do sistema nervosos humano. Porém, segundo McLuhan, os computadores  poderão somente aumentar o intelecto humano, jamais terão consciência de si mesmos, como o homem. A consciência humana parece ter propriedades que nunca poderão ser criadas artificialmente.


O ser humano como espécie


Os estudos da dinâmica de crescimento da população humana demonstram que a humanidade apresenta características de crescimento semelhantes às de outras espécies vivas. No início, deve ser garantida a sobrevivência do indivíduo através da competição e da permanência do mais apto. Mais tarde, o que importa é o comportamento global da espécie, isto é, a cooperação e a permanência do mais sábio. Essas pesquisas revelam que o homem precisa evoluir apoiado numa imagem de seu ser que leve em conta a sobrevivência de toda a espécie.

Intimamente relacionados a estes conceitos estão os estudos da ecologia, que modificaram totalmente a imagem do homem. Ele deixou de ser o conquistador da natureza e passou a cooperar com ela, pois se deu conta de que há  uma interdependência entre a existência humana, a de outras espécies e o meio ambiente como um todo.

Por outro lado, a teoria da evolução se ampliou, passando do nível das espécies para o nível molecular-atômico. Darwin (1859) foi o primeiro a considerar a inter-relação de todas as espécies, como um todo em evolução. A revelação da existência dos genes, por Mendel, evidenciou o mecanismo da hereditariedade, e a descoberta levada a cabo por Watson, em 1953,  de que o DNA(4) é o veículo da informação genética, levou os conhecimentos ao domínio molecular.

Essas descobertas desencadearam um acirrado debate sobre a importância do acaso ou do determinismo no processo de evolução. Monod (1971) afirma  que "somente o acaso é a fonte de todas as inovações, de toda a criação na biosfera". Dessa maneira, a espécie humana seria puramente um resultado do acaso. Entretanto, outros pesquisadores, como Waddington e Weiss (1969), declaram que o gene sofre influência do meio molecular e orgânico. Os sistemas que se desenvolvem pela evolução seriam, assim, os cadinhos de um processo criativo ( Dobzhansky, 1971), e a evolução tenderia a sistemas cada vez mais complexos e sofisticados. Em nossa espécie, a cultura é um fator de influência devido ao cérebro, órgão cuja evolução é favorecida por sua capacidade de permuta de experiências e pensamentos ( Foerster, 1971). Teilhard de Chardin já havia observado, em 1961,  que " a evolução é uma ascensão em direção à consciência". Em função disso , o homem estaria na vanguarda desse processo cósmico de evolução ( Huxley, 1963).


Biologia molecular e genética



Os atuais desdobramentos das ciências biológicas  revelam que a unidade básica da vida é a célula e que suas informações são armazenadas nas moléculas de DNA dos genes. Essa descrição totalmente física dos sistemas vivos ameaçou as filosofias "vitalistas", que defendiam o ponto de vista da existência de um componente especial, não físico, nas entidades vivas. Segundo Hayes (1971), essa visão do homem como um produto final complexo e mesmo previsível de uma evolução macromolecular terá, certamente, um efeito profundo sobre as nossas atitudes sociais , éticas e políticas.

Atualmente predomina o conceito de que o homem é o resultado final de sua constituição genética, que lhe fornece o potencial sobre o qual atuam as experiências adquiridas, principalmente, na primeira infância; os genes dariam ao homem o potencial a ser modelado pelo meio ambiente. Entretanto, o conceito de carma das doutrinas do Oriente sugere que, no futuro, outras influências poderão ser incluídas.

As noções mais recentes de engenharia genética e de clone(5) aventam a possibilidade de manipulações genéticas por parte do próprio homem, quando a natureza humana estaria sujeita à sua escolha, o que poderia reavivar processos de eugenia(6).


Exobiologia e origem da vida



As pesquisas de Miller (1963) e Fox (1971) demonstraram que os aminoácidos podem se formar espontaneamente a partir de seus componentes químicos elementares e dar origem a formas mais complexas de proteínas, principal componente dos organismos vivos.  Por outro lado, descobriu-se que,  desde a formação do nosso planeta até o aparecimento das formas de vida mais simples, meteoros trouxeram do espaço milhões de toneladas desses mesmos aminoácidos para a Terra.  Oistraker (1973) assim se expressa: " Os átomos do seu corpo já passaram por vários astros , eles já foram ejetados, muitas vezes, como gases de estrelas em explosão ". Tais noções fomentam a procura de outras formas de vida nos planetas de nossa galáxia e conduzem à "biologia cosmológica ", conforme definida por Bernal ( 1965): " Uma biologia verdadeira, em seu pleno sentido, seria o estudo da natureza  e atividade de todos os objetos organizados onde quer que sejam encontrados nesse planeta, em outros do sistema solar, ou em outras galáxias, em todos os tempos, no passado ou no futuro".

Sem dúvida alguma, o aumento dos conhecimentos nessa área é de primordial importância para as mais profundas e antigas questões biológicas e filosóficas e terão um impacto decisivo sobre os nossos sistemas religiosos, filosóficos e políticos (Handler, 1970).


Pesquisas do cérebro



Na medicina, uma das fronteiras que mais avançam é a da pesquisa das funções cerebrais. Os primeiros estudos do cérebro já demonstravam, no final do século XVIII, que ele pode ser exitado eletricamente. Do fim do século passado a meados deste, as pesquisas permitiram o mapeamento minucioso das áreas do cérebro por meio de eletrodos finíssimos introduzidos em inúmeros pontos, com estimulação elétrica posterior. Segundo Delgado (1969), " o estímulo elétrico de estruturas cerebrais específicas pode provocar, manter, modificar ou inibir funções autônomas e somáticas, o comportamento individual e social e as reações emocionais e mentais tanto no homem como em animais. O controle físico de inúmeras funções cerebrais é um fato demonstrado, porém as possibilidades e limites desse controle ainda são desconhecidos".

De igual importância são os resultados de pesquisas mais recentes sobre a química das funções cerebrais, de acordo com os quais a desnutrição pode produzir sérios danos para o cérebro em desenvolvimento. Outras teorias sugerem o envolvimento de processos químicos no cérebro relacionados com a aprendizagem e a memória; por meio de experiências realizadas em camundongos de linhagem altamente purificada, detectaram-se diferenças genéticas naqueles processos. Foram descobertas também muitas substâncias químicas cujos efeitos vão desde a alucinação até a tranqüilização e o transe.

Baseando-se nessas pesquisas, Delgado propôs uma sociedade psicocivilizada, que seria manipulada por processos elétricos, semelhante às sociedades controladas descritas por Huxley ( Admirável mundo novo) e Orwell ( 1984).

Outros estudos focalizam a divisão do cérebro em duas metades, sendo a esquerda a que fala, raciocina, lê esta página, por exemplo, e a direita a responsável  pela orientação no espaço, a imagem corporal, o reconhecimento de faces, etc. Esta parte processa a informação de maneira mais difusa e integra informações com maior rapidez; a esquerda é analítica e reducionista, a direita holística(7) e interativa. Sperry (1967) observa que essa assimetria funcional do cérebro parece ser exclusiva dos mamíferos superiores e está mais desenvolvida no homem. Nos indivíduos normais, ambas as partes estão conectadas e há um intercâmbio de informações. O estudo das complexas inter-relações de ambas apenas se inicia e ainda esbarra em dificuldades quando se trata das funções mentais mais elevadas e de especificar quais os centros que governam as diferentes atividades.

As técnicas de feedback (8) mais recentes trouxeram uma grande contribuição nessa área. No Ocidente, fazia-se uma distinção entre o sistema nervosos voluntário ( autônomo) e o involuntário ( vegetativo ). No Oriente, por outro lado, há milênios se afirma que qualquer função do corpo pode ser modificada conscientemente, o que tem sido confirmado pelas últimas pesquisas - pode-se  controlar as funções orgânicas mediante um treinamento adequado. Afastamo-nos, assim, da imagem "robotomórfica" criada pelas pesquisas dos controles elétricos e químicos do cérebro.

De acordo com Anokhin (1971), é verdadeiramente astronômico o número possível de estados do cérebro, e, para alguns,  ele se assemelha cada vez mais a um enorme holograma (9) ( Pribram, 1971). Eis o comentário de Weisskopf (1972): " Quanto mais penetramos na complexidade dos organismos vivos, na estrutura da matéria ou nas vastas expansões do universo, mais nos aproximamos dos problemas fundamentais da filosofia natural. De que maneira um organismo em crescimento desenvolve suas estruturas complexas ? Qual é significado das partículas e subpartículas que compõem a matéria ? Quais são a estrutura e a história do universo ?"



Ritmos biológicos e campos bioelétricos 



A  biologia moderna pesquisou sobretudo os aspectos químicos dos seres vivos. Em décadas recentes, porém, outros fatores foram verificados, como o efeito das radiações eletromagnéticas e das flutuações geomagnéticas sobre os parâmetros da funcionalidade humana ( tempo de reação, humor, e a velocidade dos processos biológicos ). Relacionou-se, por exemplo,  a maior procura hospitais psiquiátricos com a ocorrência de flutuações geomagnéticas. Só recentemente a "poluição eletromagnética" vem sendo investigada ( Healer, 1970).

Muitos dos fenômenos ambientais são de natureza rítmica, podendo-se dizer o  mesmo em relação ao homem. Ressurgiu, então, o interesse pelos ritmos biológicos, a sua significação para o ser humano, da forma de pesquisas que lembram as dos antigos astrólogos pela ênfase dada à relação entre ambiente cósmico e acontecimentos humanos.

Em escala mais ampla, os padrões rítmicos de muitos fenômenos sociais, tais como guerras e conflitos, evocam a imagem  aristotélica do universo como um organismo - o conceito cosmobiológico da natureza. Consideradas globalmente,

as pesquisas científicas vêm corroborar a concepção oriental de indivíduo, concebido como parte essencial de um processo evolucionário cósmico.


Pesquisas sobre consciência



A ciência ocidental tem estado preocupada exclusivamente com o conhecimento objetivo, com a relação das coisas entre si, sem levar em consideração  a consciência do observador. Entre este e a realidade levantou-se uma barreira de instrumentos. Nos anos mais recentes, porém, os estados de consciência em si têm despertado grande interesse. Estudam-se os fenômenos do sono, dos sonhos, a meditação, o controle das ondas cerebrais, ioga, hipnose, etc.  O eletroencefalógrafo e a monitoração dos movimentos dos olhos durante o sono estão trazendo contribuições valiosas para as pesquisas. Verifica-se que muitos estados alterados de consciência podem ser estudados através de métodos científicos, deixando de ser fenômenos puramente religiosos ou místicos. Na realidade, a consciência "normal" é apenas uma parte das potencialidades humanas totais, da mesma forma que a luz visível não passa de uma fração mínima de todo o espectro eletromagnético.



Hipnose



Ela pode ser definida como um estado mental geralmente induzido por outra pessoa, em que, por sugestão, há um controle sobre estados habitualmente fora do domínio do hipnotizado. Nesse estado, pode-se controlar a dor e os processos físicos  (o fluxo sanguíneo), tratar de diversas moléstias e aumentar as habilidades mentais, a memória e a criatividade. Esses fenômenos são produzidos também por auto-hipnose e auto-sugestão. Tem sido amplamente empregados na medicina através do "treinamento autógeno", introduzido por Schultz (1950) e Luthe (1963), visando relaxamento, tranqüilização e aumento do fluxo sanguíneo para mãos e pés. A lista de usos potenciais  da hipnose é extensa, e a maior parte das pessoas está apta a aprender técnicas da auto-hipnose. Entretanto, a preferência por processos físicos-químicos e cirúrgicos é tão grande na medicina ocidental, que mesmo processos psicológicos são tratados com drogas e psicocirurgia ao invés dos métodos psicológicos.




Biofeedback (10)



Essa técnica dá à pessoa uma indicação precisa e imediata sobre determinado processo  físico no momento em que ele ocorre. As pesquisas mais conhecidas sobre o controle das ondas cerebrais foram feitas por Kamiya (1969), que recorreu ao eletroencefalograma¹¹. Quando surgem as ondas alfa, soa uma campanhia e o sujeito deve registrar de que maneira está pensando naquele momento, tentando manter esse estado de consciência. Com esse método, consegue-se aumentar a proporção de ondas alfas após um treinamento de algumas horas e se aprender a controlar estados internos, como pressão sanguínea, frequência cardíaca, temperatura do corpo e da pele e até a atividade elétrica de células da medula espinhal. Esse método demonstrou, com técnicas ocidentais, aquilo que métodos orientais como a ioga e a meditação já haviam alcançado há milênios - a possibilidade de um controle psicossomático sobre muitas  das funções neurovegetativas. Além do mais, a pessoa treinada nessa técnica se torna mais sensível às modificações do meio ambiente, como mudanças magnéticas ou eletromagnéticas.



Os sonhos



São os estados alterados de consciência mais comumente vivenciados pelas pessoas. Desde tempos imemoriais tenta-se interpretar os sonhos, do que se valeram também os psicoterapeutas, como Freud (1950), Jung (1953) e outros. Na década de 50, Aserinsky e Kleitman (1955) descobriram um método muito simples de se estudar os sonhos: o indivíduo adormecido passa por vários ciclos de sono e de sonhos, que são acompanhados de movimentos rápidos dos olhos ( REM¹²); estes vão sendo registrados e, em dado momento, a pessoa é acordada, quando deve se recordar do que estava sonhando. Esse método demonstrou que as pessoas tem uma vivência extensa e importante durante os sonhos, que contribui para sua saúde psicológica, emocional e física. Eis as principais conclusões a que se chegou até o momento: o ato de sonhar é essencial para a saúde mental, e sua privação tem efeitos psicológicos nocivos; os sonhos podem indicar soluções para problemas pessoais de ordem prática; eles também favorecem as criações literárias e artísticas; eles podem apontar conflitos e necessidades emocionais, como também mensagens de percepção  extra-sensorial , ou PES ( telepatia, precognição e outras).



Meditação



Embora seja prática comum no Oriente há milênios, só recentemente a ciência ocidental tem procurado esclarecer esse fenômeno através de  técnicas científicas. Existem dois tipos básicos de meditação: no primeiro, o indivíduo se concentra em um objeto, pensamento, som ou qualquer outra sensação interna ou externa, com o qual tenta se fundir; no outro, ele procura esvaziar a mente de pensamentos , idéias e sensações. As pesquisas demonstram que durante a meditação há uma diminuição das taxas de metabolismo basal, respiração, fluxo sanguíneo e consumo de oxigênio, além de um aumento das ondas alfa no cérebro e maior relaxamento (Wallace, 1970). Os efeitos psicológicos relatados são múltiplos: recordação de experiências, capacidade de abstração, modificação na cor e forma dos objetos e, sobretudo, uma sensação de relaxamento e paz ( Deikman, 1963, e Tart, 1969 ). Segundo estudos realizados por meio de encefalograma, na técnica zen de meditação a percepção do mundo exterior é mantida ( Kasamatsu e Hirai, 1966), enquanto na ioga os estímulos externos são ignorados ( Anand, Chhina e Singh, 1961). Para que a meditação surta efeito, às vezes são necessários muitos anos de aprendizagem e prática. Os que conseguem atingir a meditação profunda relatam uma experiência psicológica que Bucke (1901) chamou de "consciência cósmica". Em 1960, ele assim a descreveu: "A característica fundamental da consciência cósmica é, como seu nome indica, a consciência do cosmo, isto é, da vida e da ordem do universo. Ela vem acompanhada de esclarecimento intelectual ou iluminação que, por si só colocaria o indivíduo  num novo plano de existência - torná-lo-ia quase o membro de uma nova espécie. A isso acrescentam-se um estado de exaltação moral, uma sensação indescritível de elevação, exultação e felicidade, e uma excitação do sentimento moral, que é inteiramente admirável e mais importante para o indivíduo e para a humanidade do que o tão enaltecido poder intelectual. Ao lado disso, surge o que se poderia chamar de 'senso de imortalidade', uma consciência de vida eterna - não a convicção de que ele deverá tê-la, mas a consciência de que ele já a possui".

Essa forma de transfiguração já foi relatada inúmeras vezes por místicos de diferentes épocas e religiões (Deikman, 1963) e indica que a meditação permite insights¹³ de partes mais profundas da consciência (14).



Drogas psicodélicas



Nos últimos decênios, tem-se pesquisado uma variedade de substâncias químicas que alteram a qualidade e as características da consciência, como o ácido lisérgico, a mescalina, a psilocibina e outras, genericamente conhecidas como drogas alucinógenas, psicodélicas ou psicoativas. Segundo Masters e Houston (1966), essas drogas aparentemente são capazes de estimular as percepções e sensações, pois dão acesso a lembranças e experiências passadas, facilitam a atividade mental e produzem alterações no nível de consciência, incluindo-se aí as experiências transcendentais de natureza religiosa, mística e cósmica. Se usadas indevidamente, porém, tais drogas podem causar uma série de perturbações mentais e atitudes anti-sociais, o que levou à  restrição de seu uso, mesmo em condições experimentais perfeitamente controladas.



Processos inconscientes e estímulos subliminais 



A teoria segundo a qual parte dos nossos pensamentos e processos mentais está fora de nossa percepção ou consciência normal está sendo plenamente aceita hoje em dia. Essa parte foi inicialmente chamada de "eu subliminal" por Myers (1903), e tornou-se mais conhecida como "inconsciente" após os estudos de Freud (1950). A princípio, a sugestão de processos inconscientes entrou em conflito coma imagem do homem racional, totalmente consciente dos seus pensamentos e do seu comportamento. Hoje, porém, já se admite que nossa consciência não chega a englobar todos os processos mentais do homem, muito embora eles influam sobre nossas ações, pensamentos e sentimentos. A noção de que os sentidos podem receber informações situadas abaixo dos níveis normais de percepção - a chamada estimulação subliminal - é também motivo de controvérsias. Ao reexaminar recentemente tal fenômeno através de métodos de pesquisa, Dixon (1972) concluiu que ele realmente existe. Em nossos dias, os estudos voltam-se para o super-consciente, para as qualidades mais positivas da mente, e,  enfatizam-se os seus aspectos criativos,  intuitivos e inspiradores (Assagioli, 1965; Aurobindo, 1972;  Teilhard de Chardin, 1961). Essas atividades superconscientes são expressas em sonhos, pressentimentos, sensações  e "conhecimento intuitivo". O novo conceito, que está sendo estudado por filósofos, psicólogos e outros pesquisadores, poderá causar um impacto sobre as noções  de psicologia semelhante ao da teoria freudiana.



Com vistas a uma ciência da consciência 



Vários autores têm buscado explicações para a consciência e suas alterações, como Lily, Muses, Tart (1972) e outros, o que indica que tal pesquisa é cientificamente possível. Até o momento, identificou-se um grande número de diferentes estados de consciência. De acordo com Tart ( 1972, 1973),  esses estudos poderão ter consequências profundas, não somente para a ciência - presa, ainda, à idéia de que o estado normal ou racional da consciência é o melhor para a sobrevivência neste  planeta e para a compreensão do universo -, como também para a visão do mundo e da humanidade. A idéia que emerge dessas pesquisas, quando tomadas em seu conjunto, é basicamente a mesma da teoria evolucionária, na qual a evolução tende para uma complexidade crescente no plano físico e maior percepção na área da consciência.


Parapsicologia e pesquisas psíquicas 


Os fenômenos paranormais ainda não tem explicação dentro das leis conhecidas do universo. Por esse motivo foram, até há pouco, rejeitados pela ciência ocidental. São eles a telepatia, a clarividência, a precognição, e a psicocinese ou telecinese. Os três primeiros são conhecidos genericamente como fenômenos  psi (15) ou percepções extra- sensoriais ( PES ou ESP ). A psicocinese é rotulada, às vezes, de fenômeno psicoenergético. Na telepatia dá-se a percepção das atividades mentais  de outra pessoa sem o emprego dos sentidos usuais e comunicação. A clarividência consiste na habilidade de se obter informações ou perceber eventos que ocorrem em locais distantes de maneira direta, não utilizando os meios normais de comunicação. Pela precognição pode-se prever acontecimentos que vão ocorrer no futuro, sem a intervenção dos dados usuais da dedução. Na psicocinese, o indivíduo consegue movimentar objetos por meios não físicos ou por influência mental direta.

Até anos recentes, as únicas provas da ocorrência  de tais fenômenos eram as  estatísticas sobre indivíduos que apresentavam essas faculdades (Rhine, 1961). Entretanto, vários psicólogos e outros pesquisadores vêm demonstrando, através de métodos ocidentais, que, em condições especiais, esses fenômenos podem realmente ocorrer. As pesquisas modernas concentram-se na busca dessas condições necessárias para que se intensifiquem os fenômenos da psique, num procedimento análogo ao da química, em que se obtém um produto a partir de vertas condições de temperatura, pressão e concentração de reagentes.

A telepatia e outras informações psi são em geral recebidas subliminarmente e tornam-se acessíveis à mente consciente de pressentimentos, sonhos, intuições  e sensações (Rhine, 1961). É possível treinar habilidades psíquicas por meio de técnicas de feedeback imediato para incrementar o processo de aprendizagem.

Estados alterados de consciência, como o relaxamento profundo, facilitam a recepção de informações PES;  isso foi verificado nos sonhos (Ullman e Krippner, 1970), no relaxamento profundo (Brand e Brand, 1973), nos estados que induzem às ondas cerebrais alfa (Honorton, 1969) e nas sugestões hipnóticas ( Krippner, 1967). 

Certos aspectos da física que pareciam  afastar, pela lógica, maioria dos fenômenos psi não são mais mantidos de maneira tão rígida. É o que está ocorrendo, por exemplo, na física quântica em relação às descrições clássicas de causalidade e conservação de energia ( Margenau, 1966). Surgem teorias baseadas na mecânica quântica e na física para explicar esses fenômenos ( Walker, 1973; Muses, 1972; Kozyrev, 1968; Koestler, 1972 ).

A mecânica quântica está fornecendo contribuições importantes para a compreensão do funcionamento do cérebro, e é  uma das áreas científicas de crescimento vital.

Dixon (1972) demonstrou que os estímulos subliminais podem afetar os sonhos, a memória, a percepção consciente, as respostas emocionais, etc. Nesse sentido, a experiência de Puthoff e Targ (1974) tornou-se clássica.  Eles verificaram que quando uma luz estroboscópica (16)  com cerca de quinze lampejos por segundo atinge os olhos de um indivíduo, uma onda alfa característica aparece em seu eletroencefalograma (EEG). Outro indivíduo, colocado à distância e perfeitamente isolado, serve de receptor da informação, devendo advinhar quando  a luz está sendo lançada nos olhos do primeiro sujeito. Em geral, o segundo advinha, na base do acaso, quando a luz está acesa ou não. No seu EEG, no entanto, aparece a onda alfa reveladora. Pode-se tirar daí uma importante conclusão: inconscientemente, de maneira extra-sensorial, o segundo sujeito sabe quando a luz está acesa, mesmo negando esse fato à sua mente consciente. Assim, a capacidade telepática seria comum a todos, estando reprimida na maioria das pessoas. Se isso for verdade, o mesmo pode ocorrer  com todos os outros fenômenos psi.  Fica evidente, então,  que as potencialidades humanas e os processos inconscientes são muito mais amplos do que se supunha segundo os antigos paradigmas.

O impacto de todas essas teorias sobre a cultura moderna pode ser profundo. O paradigma científico ocidental, presentemente aceito, da "realidade" tende a ser físico, causal, mecanicista e objetivo. Os dados das pesquisas psíquicas, por outro lado sugerem que a realidade inclui efeitos parafísicos, que os estados mentais não materiais existem e interagem com os sistemas físicos e que a consciência transcende a natureza física do homem.


A teoria geral dos sistemas e a cibernética 

Na década de 20 ou 30, pesquisadores eminentes do ramo de biologia, como Cannon, Bernard e outros, já começavam a questionar a visão reducionista nos sistemas biológicos, à procura de uma descrição mais global. Mas essas idèias só foram mais largamente reconhecidas após a  Segunda Guerra Mundial; nesse período foi possível agregar conclusões de vários cientistas surgidos independentemente em diferentes centros, tanto da Europa como dos Estados Unidos. O conjunto dessas idéias é conhecido como cibernética, teoria da comunicação, teoria da informação ou teoria dos sistemas.
A teoria geral dos sistemas é, em essência, uma tentativa de integrar, em termos racionais,  os diferentes conhecimentos obtidos nos vários ramos de pesquisa. Ela procura ser, ao mesmo tempo holística e empírica. Sua proposição básica é que as leis e os princípios que governam os sistemas relacionados com uma área do conhecimento provavelmente são também importantes para outra área do conhecimento.
Weiner (1954) observou, por exemplo, que o funcionamento dos sistemas modernos de computação é muito semelhante àquele dos organismos vivos; em ambos existem processos semelhantes para coletar informações do mundo exterior, transformá-las em esquemas mais convenientes, basear a ação na informação transformada e comunicar as consequências de volta ao aparelho interno de regulação. Dessa forma, o desequilíbrio causado  no sistema por um agente externo é contrabalançado pelo uso de feedback para se voltar ao equilíbrio  anterior(17).
A expressão "teoria geral dos sistemas" foi criada simultaneamente em 1954, por Von Bertalanffy(1967), biólogo teórico, Boulding (1961), economista, Gerard (1954), neurofisiologista e Rapoport (1954), matemático. Eles rejeitam especificamente a tese de que uma pessoa é apenas  um conglomerado das partes que a constituem, idéia por muito divulgada pelos reducionistas ( Buckley, 1968). Segundo Weiss (1969), o número de afirmações necessárias para se descrever o todo é mais do que o necessário para se descrever as partes. O termo "mais" não significa o acréscimo de alguma quantidade mensurável do sistema, mas a necessidade de se descrever o comportamento conjunto das partes quando elas se apresentam num grupo organizado.
Essa visão holística tem uma importância imediata para o estudo de muitos aspectos do ambiente humano. Nas palavras de Bateson (1972), "a sabedoria está em reconhecer uma orientação pelo conhecimento do sistema total da criatura. A falta dessa sabedoria sistêmica é sempre punida. Os sistemas biológicos, o indivíduo, a cultura e a ecologia (...) são castigados quando  não levam em consideração a sua ecologia. Se se quiser, poder-se-á dar a essas forças sitêmicas o nome de "Deus".

Interação entre ciência e sociedade 

A ciência, atualmente, influencia cada vez mais a sociedade, tanto pelo impacto tecnológico, como pelo número de pessoas ligadas às suas atividades.
Durantes os últimos cem anos, a ciência desempenhou, entre os povos mais evoluídos,  o mesmo papel antes atribuído à religião. Todos os fenômenos naturais tinham de ser explicados em termos científicos para que fossem aceitos. Dessa maneira, muitas experiências subjetivas ou fatos ainda sem explicação "científica" foram rejeitados, por serem considerados apenas ilusões. É o caso dos fenômenos psíquicos, OVNIs, experiências religiosas e mesmo alguns dos tabus anteriormente aqui descritos. Em anos mais recentes, esses fatos relatados há milênios estão sendo analisados por inúmeras instituições, que os submetem a métodos aceitos pela ciência ocidental.
Concomitantemente a essa mudança na visão científica, ocorre o desencanto da sociedade com a ciência, pelos efeitos muitas vezes desastrosos da aplicação de tecnologias  desenvolvidas, como a crise  ecológica e o abuso da ciência para fins de tecnologia militar (foguetes, bombas atômicas, etc.)
Assim como analisamos de que maneira a ciência e, sobretudo, suas aplicações tecnológicas transformaram  a sociedade, temos agora que nos deter no oposto, isto é, indagar como os valores da sociedade afetaram as atividades científicas. Os gregos haviam descoberto e testado a maioria dos elementos essenciais  do método científico; entretanto, não os transformaram em aplicações tecnológicas, pois a sociedade grega não o exigia por se basear no trabalho escravo (Edelstein, 1957; Farrington, 1953). Além disso, segundo a concepção dos gregos, " o mundo existe para nele se viver e não para ser transformado". É que, na busca do conhecimento, sua abordagem era puramente estética, filosófica.
Opondo-se a essa visão dos gregos, a ideologia judaico-cristã vê o homem separado da natureza, como seu dono - ela teria sido feita para servi-lo. Durante a  Idade Média, as restrições da Igreja retardaram o desenvolvimento de uma paradigma científico adequado, mas, no Renascimento, com a redescoberta dos conhecimentos gregos, houve um desenvolvimento acelerado dos métodos  científicos e da idéia de que a natureza é governada por leis e princípios que podem ser detectados. Campbell (1959) denomina-a "epistemologia do outro"
Atualmente, os cientistas estão percebendo as limitações do método objetivo e reducionista de pesquisa, que visava o mundo exterior, e estão  se voltando para um estudo crítico do mundo interior, isto é, para a "epistemologia do eu". Nas culturas orientais, sempre predominou essa cultura do eu; só agora a pesquisa ocidental se volta para a análise dos fenômenos descritos, por milênios, pelos mestres orientais. O estágio seguinte no avanço evolucionário do homem está numa síntese de ambas as visões, isto é, da epistemologia do outro com a epistemologia do eu.  Ao lado de uma ciência objetiva e de tecnologias físicas, será necessário desenvolver uma ciência e uma economia éticas, voltadas para o bem-estar ecológico, que dê ênfase à pesquisa e à aplicação de tecnologias sociais e psicológicas.
O novo paradigma científico deverá ser holístico, tanto do ponto de vista metodológico, como do ponto de vista dos fenômenos a serem estudados. Deverá se basear numa visão global e não fragmentada do que atualmente é definido como ciências exatas e ciências sociais, procurando o princípio de complementaridade ou reconciliação de opostos, tais como livre-arbítrio e determinismo, materialismo e transcedentalismo, ciência e religião. 

NOTAS

1 - Segunda parte do artigo " A visão do mundo através dos tempos" resumo do livro  de Markley, O, W, e Harmam, W, W, (eds, 1982) Changing images of man ( Pergamon  Press, Nova York), Primeira parte publicada na revista THOT n° 52, 1988, pp.9-17),
2 - Funçao termodinâmica de estado  dos corpos, peculiar a cada substância, que tende para o máximo em um sistema fechado como o universo,
3 - Parte da física que investiga os processos de transformação de energia e o comportamento dos sistemas nesses processos, 
4 - O DNA ou ADN ( ácido desoxirribonucleico) é o transportador das informações genéticas em todos os organismos vivos. É uma molécula com estrutura helicoidal dupla e extremamente longa, um polímero compostos de subunidades semelhantes ou idênticas - os monômeros ou nucleotídeos. Estes são formados por uma parte de fosfato, uma de açúcar (desoxirribose)  e uma base orgânica nitrogenada. Estas bases pertencem tão somente a quatro tipos que nos animais são: a a denina (A), a guanina (G), a timina (T) e a citosina (C). O arranjo e a sequência desses nucleotídeos fornecem as características do DNA.
5 - Conjunto de indivíduos originários de outro por multiplicação assexuada. Todos os membros de um clone tem o mesmo patrimônio genético,
6 - Ciência que estuda as condições propícias à reprodução e ao melhoramento da raça humana,
7 - Do grego holos, inteiro, completo, que abrange o todo, 
8 - Termo inicialmente empregado na eletrônica, hoje usado em outras disciplinas. Significa realimentação, retroalimentação, regeneração,
9 -  Do grego holos, inteiro, completo, e grama ou gramato, letra, escrito, peso; fotografia que se obtém mediante a utilização  de raios laser,
10 - Ver nota 8, 
11-  Registro gráfico das ondas elétricas emitidas pelas células nervosas do cérebro. Existem quatro ritmos cerebrais, convencionalmente indicados como ritmo alfa ( 10 ciclos/seg.), ritmo beta (18 ciclos/seg.), ritmo teta (5 ciclos/seg.) e ritmo delta (3 ciclos/seg.) O ritmo alfa é encontrado nos indivíduos que estão com os olhos fechados, em estado de relaxamento e meditação; o ritmo beta, na vigília e atenção,  os ritmos teta e  delta são encontrados em casos de patologias cerebrais,
12 - Abreviatura do inglês rapide eye movement, 
13 - Compreensão repentina, em geral intuitiva,  que a pessoa tem de suas próprias atitudes e comportamentos, de um problema, de uma situação,
14 - O mesmo fenômeno é descrito por Pierre Weil em A consciência cósmica - Introdução a psicologia transpessoal, Ed. Vozes, Petrópolis, 1979, 2ª edição,
15 - Letra grega usada para designar, tanto na física teórica como na parapsicologia, fenômenos desconhecidos,
16 - A luz intermitente e rápida de um objeto em movimento,
17 - Em biologia, esse fenômeno é conhecido por "homeostase", termo criado por Cannon (1939) na década de 20.

Mundo Animal


1 - Amor Animal Sem Teto

12.mai.2015 - Uma foto de um belo exemplo de amor animal - que está circulando nas redes sociais e causando comoção entre os internautas. Na imagem, um morador de rua aparece dormindo ao lado do companheiro de quatro patas, que dorme em em uma caminha improvisada com cobertor em uma calçada de Copacabana, no Rio de Janeiro
Fonte: BOL

 
                                            2 - Amor Animal em Zoológico

12.mai.2015 - Após observar o trabalho dos tratadores da Myrtle Beach Society, um santuário animal na Carolina do Sul, um orangotango macho decidiu dar mamadeira a três filhotes de tigre que também vivem no local. Ele observou como os tratadores alimentavam os tigrinhos e passou a copiá-los. O orangotango também costuma pentear os pelos com os dedos e lhes dá carinho.
Fonte: BOL 

           3 - O interrogatório Animal para Ministros do STF

13 de maio de 2015 | 12:02 Autor: Fernando Brito
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De Matheus Pichonelli, no Yahoo, sobre o dia tragicômico de ontem, que começou com o “eu acho” do bandido Alberto Youssef, com os enchimentos nadegais em notas de euro da sua ex-mulher, a também doleira Nelma Kodama, que ria sem parar, mostrando como os 11 anos de cadeia ou são brincadeirinha ou não abalaram seu humor e seguiu, por horas, com a insólita sabatina a Luiz Edson Fachin.
Fonte: TIJOLAÇO 
                           
                                                  4 - Traição Animal

Fonte: CONVERSA AFIADA



                                               5 - Loucura Animal


Fonte: CONVERSA AFIADA 


                                                        6 - Briga Animal


terça-feira, 12 de maio de 2015

Jornalismo de Invenção

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Veja inventa entrevista com Marcelo Nova

Olha só que gracinha.
A Veja acaba de oferecer nova contribuição ao jornalismo boimate.
Inventou uma entrevista com Marcelo Nova, vocalista da banda Camisa de Vênus.

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A dica é do coleguinha de twitter @jornalismowando.

Fonte:  O CAFEZINHO
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 Ciência Sem Fronteiras: Globo mente !!!
No Brasil, os jornalistas são piores que os patrões – Mino Carta.


Sugestão do amigo navegante Silva Marcos, no Facebook

 O Conversa Afiada reproduz mensagem postada pela estudante Amanda Oliveira no Facebook:

Na manhã de ontem (11/05) passou na Globo uma reportagem sobre o Ciência Sem Fronteiras onde eu apareço. Gostaria de dizer que tudo o que foi dito à meu respeito naquela reportagem é MENTIRA!

Primeiramente, eu NÃO voltei para o Brasil pela insegurança gerada pela falta do dinheiro. Até porque essa foi a ÚNICA parcela da bolsa que não caiu durante todo o meu intercâmbio. Eu voltei pelo simples motivo que minhas aulas na UFT começariam agora e eu julguei não valer a pena perder outro semestre (e isso foi dito INÚMERAS VEZES na minha entrevista. Mas a Globo achou mais interessante omitir isso e inventar um motivo mais atraente).

Segundo, eu NÃO abandonei o programa. A repórter da Globo fez o favor de enfatizar que voltar antes do prazo era quebra de contrato e que nesses casos todo o dinheiro deveria ser devolvido pela capes.

Mas a Globo, além de sensacionalista, ainda não é capaz de pesquisar as coisas direito antes de falar. Eu não voltei antes do prazo. Eu tinha a opção de retornar em maio e a opção de retornar em agosto. Eu optei pela primeira.

Por favor, se você viu a reportagem ou tem algum parente que viu e comentou com você mostre pra ela esse post.

A minha experiência com o Ciência Sem Fronteiras não poderia ter sido melhor. Teve esse pequeno problema no final, claro, mas nada que justifique o programa ser mal falado des
sa maneira.

Fonte: CONVERSA AFIADA


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A próxima "entrevista"de Veja será com Isaac Newton.

Curta PAPIRO - 12.05.2015

 

    Curtas

1 - Tudo Pela Privada

Nota de corte: Renan adverte  que se Fachin derrapar na defesa da propriedade privada será difícil evitar a sua reprovação. É de chorar.

Fonte: CARTA MAIOR


2 - Imelda Marcos na Cozinha

Na longuíssima tradição escravocrata da elite brasileira, a moda agora é importar filipinas. O professor Wagner Iglecias comenta a notícia da Folha, sobre a importação de filipinas para o trabalho doméstico no Brasil pela classe média alta brasileira.

Fonte: MARIA FRÔ 


 3 -  Capitalismo Anêmico

Sondagem sobre clima econômico projeta menor crescimento mundial

Fonte: JORNAL DO BRASIL


4 - Veja, Não, É, Sim, Quer Dizer, Não Fez

Veja' fez, quer dizer, não fez, uma entrevista com o músico Marcelo Nova, que, espantado, leu o que não falou neste altar da credibilidade

Fonte: CARTA MAIOR


5 -  Comida Enrustida

Tem transgênico aí? 'Se não há o que temer, por que negar que as pessoas saibam o que estão comendo?'

Fonte: CARTA MAIOR



6 - Defunto Caro

Túmulos para obesos em cemitério no Rio já têm interessados
Novos jazigos, disponíveis no Cemitério da Penitência, no Caju, na Zona Portuária da cidade, suportam pessoas de até 350 kg. E pelo conforto do cadáver, que antes era enterrado em cova rasa (de terra), o preço é salgado. Os túmulos de alvenaria e revestidos em granitos estão saindo a R$74.900. 

Fonte: O DIA