domingo, 5 de abril de 2015

O Apocalipse

Por que a hostilidade crescente contra a Globo?

5 de abril de 2015 | 10:49 Autor: Miguel do Rosário
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A Globo passa por uma profunda crise de imagem, e que só tende a piorar, porque o seu jornalismo piora a cada dia.
Seu jornalismo torna-se cada dia mais e mais manipulador, mais e mais mentiroso.
As verdades são transformadas em mentiras, através de um processo de manipulação cada vez mais sofisticado e mais cínico.
As mentiras são transformadas em verdades aplicando-lhes, na superfície, um verniz de meia-verdade.
Uma de suas apresentadoras, Angelica, é fragorosamente vaiada ao visitar uma universidade (Unirio), no Rio de Janeiro.
Seus jornalistas, igualmente, não podem mais pisar nenhuma universidade pública sem serem recebidos por vaias.
Em São Paulo, 60 mil professores marchando nas ruas também entoam coros contra a Globo. Entendem que a Globo é contra eles, ao não dar informações honestas sobre a greve, sobre as condições de trabalho, puxando sempre a sardinha para o lado do governo estadual.
No complexo do alemão, moradores em protesto contra a polícia militar, que matou inocentes durante operação na favela, incluindo uma criança, hostilizam a equipe da Globonews.
Por que isso?
A Globo não é um político, um estadista, a quem as pessoas endereçam sua irritação em relação aos problemas econômicos do dia a dia.
A irritação com a Globo é algo bem mais profundo, bem mais consciente, bem mais politizado.
A presença da imprensa deveria ser comemorada por grevistas, manifestantes de uma comunidade, e universitários, porque seria a oportunidade de transmitir ideias à opinião pública.
Não é o que acontece.
Manifestantes, trabalhadores ou estudantes, protestam contra a Globo antes mesmo de saberem o resultado da cobertura, porque a experiência lhes ensinou que a Globo sempre vai distorcer a informação, contra o trabalhador, contra o estudante.
Blogueiros e jornalistas independentes sabem que a Globo é seu principal adversário, até porque a emissora não esconde isso.
Sempre que tem oportunidade, produz matérias para agredir e difamar jornalistas independentes.
Nos sindicatos e partidos de esquerda, cresce o entendimento de que a Globo se tornou o principal partido político da direita.
Um partido conservador que faz oposição à qualquer coisa que cheire a nacionalismo, qualquer coisa que beneficie o trabalhador ou o estudante.
A Globo sustenta o castelo de cartas da mídia corporativa brasileira. Um castelo de cartas que, por sua vez, sustenta o que existe de mais atrasado e reacionário em nosso país.
Toda a estrutura midiática nacional repousa sobre a Globo e seus milhares de tentáculos.
A Globo é o principal adversário, e admite isso, em editoriais, de uma regulamentação democrática da mídia, porque sabe que o seu monopólio seria o primeiro a ser atingido se o universo midiático deixasse de ser o ambiente selvagem de hoje, em que prevalece apenas o mais forte.
E o mais forte de hoje deve sua força ao regime ditatorial, por um lado, e a financiamentos ilegais dos Estados Unidos, de outro.
É uma força, portanto, duplamente ilegal, duplamente antidemocrática.
Ilegal por nascer do arbítrio interno, do golpe; e ilegal por violar nossa soberania, ao nascer do capital estrangeiro.
Antidemocrática por ter articulado o golpe e depois tê-lo sustentado; e antidemocrática por se posicionar contra o povo brasileiro, em benefício de minorias endinheiradas.
Os outros canais de TV também são ruins, mas a estrutura midiática, como um todo, tem a Globo como principal ponto de apoio.
Não é por outra razão que a Globo é blindada por todo o corpo midiático oficial.
Sem a oposição política da Globo, haveria condições de uma regulamentação democrática de TV e rádios no Brasil, introduzindo dispositivos para garantir a pluralidade política.
O trabalhador brasileiro não pode usar o controle remoto. Num canal temos Sheherazade incitando linchamento de jovens pobres, no outro Boris Casoy humilhando garis, no outro Arnaldo Jabor festejando “golpe democrático” em Honduras e sugerindo algo parecido no Brasil.
Em São Paulo, o sujeito que escolhe ver a TV pública, se depara com Augusto Nunes, blogueiro da Veja, apresentador do Roda Viva, entrevistando golpista bancado pela CIA estimulando manifestações contra o governo.
Com esse congresso, de fato, será difícil aprovarmos alguma mudança, mas isso ocorre justamente porque a mídia ajudou a elegê-lo.
As forças mais retrógradas do congresso, com Eduardo Cunha à frente, são os fiadores dessa mídia ainda tão poderosa, embora já tão decadente em termos de ética e moral.
Em todo o mundo desenvolvido, há pluralidade nos meios de comunicação.
Nos EUA, não há nada parecido com a Globo.
Estados e municípios tem jornais e TVs locais. Em muitos condados, há tvs públicas locais.
Fox e MSNBC, uma republicana, mais à direita, outra democrata, mais à esquerda, disputam a liderança dos canais fechados.
Na Europa, então, nem se fala.
O jornal em língua inglesa com mais audiência de internet no mundo é o The Guardian, de centro-esquerda.
Mesmo se você ler um grande jornal conservador americano ou europeu, como o Washington Post, nos EUA, ou o Le Figaro, na França, notará uma profunda diferença em relação à nossa imprensa: eles respeitam o outro; há um grau civilizatório que eles não ultrapassam.
No último final de semana, houve eleições locais na França. A direita ganhou disparado. Na França, é assim. Há uns seis anos atrás, a esquerda tinha levado tudo. Agora é a direita que leva a melhor.
Le Figaro, jornal da direita, não trata a esquerda, contudo, como um inimigo a ser eliminado do mapa. Há respeito pelo adversário. Organizações de esquerda (partidos, sindicatos) são respeitadas.
Esses jornais, de qualquer forma, são apenas jornais: não possuem concessões públicas de rádio e tv.
Não há essa contínua tentativa de criminalizar a política, que assistimos aqui.
Não há essa excrescência que é termos um jornal privado, fortemente partidário, distribuindo prêmios a juízes em função de sua perseguição a um determinado partido.
Enfim, a nossa democracia, para se consolidar, precisará se livrar desses entulhos da ditadura.
Não tem nada a ver com socialismo ou comunismo.
A regulamentação democrática de sistemas de oligopólio e monopólio são medidas liberais, comuns e necessárias ao capitalismo.
O oligopólio asfixia a livre iniciativa, trava o empreendedorismo, sufoca a criatividade.
Um país tão rico e tão diverso acorrentado aos pés de um monstro criado na ditadura?
Nossa democracia, nossos filhos, merecem mais que isso.
Boa Páscoa a todos!
Fonte: TIJOLAÇO
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Você disse tudo.

Globo passa por uma profunda e difícil crise, onde sua imagem e sua credibilidade estão em níveis cantareiros.

Aliás, globo e tucanos estão no mesmo barco, que navega com dificuldades em águas sujas e rasas.

A recuperação de globo vai demorar, pois seu processo de queda ainda está em franca expansão.

Navegando em águas rasas e sujas e  ainda com a disruptiva e paradigmática internete ocupando todos os seus espaços, não há alternativa viável pra Globo, sequer mortos volumes para ganhar uma sobrevida.

O próximo golpe que Globo receberá, e  será um golpe profundo, se dará com a fuga dos anunciantes que hoje pagam valores irreais para a importância e alcance que globo diz e acreditar ter.

Tal qual em  um trágico naufrágio, os anunciantes sairão em bloco,deixando um vazio para trás no vazio que ocupavam  e acreditavam se beneficiar, acomodados em ilusões e em falsas referências do espaço eletromagnético.

Uma tragédia de dimensões épicas, onde cenas de profundo desespero irão chocar a todos pela sua fúria destruidora e selvagem.

Quem viver verá.


sábado, 4 de abril de 2015

PSol e o efeito Orloff

Luciana Genro: “Nenhum setor da burguesia quer de fato o impeachment ou muito menos um golpe”

publicado em 04 de abril de 2015 às 11:33
genro
03/04/2015 – Copyleft
O Brasil caminha para a direita?
Há muito espaço para a esquerda crescer e ser a força mais dinâmica, mas ela precisa ser uma esquerda autêntica, que não tenha medo de dizer seu nome.

por Luciana Genro, na Carta Maior
Esta pergunta angustia muitos ativistas e segmentos progressistas da sociedade, que temem que o resultado da crise política e econômica seja um golpe ou um processo de impeachment contra Dilma, capitaneado pelo PSDB.
Para tentar responder a esta questão é preciso olhar o presente de forma dialética, isto é, tentando organizar as contradições aparentes, buscando a essência dos fenômenos e sabendo que o presente não é apenas o instante, que ele ressoa experiências passadas, e também, é claro, projeta o futuro.
Então voltemos a junho de 2013, pois aquele evento colocou o Brasil na rota mundial da indignação, fenômeno que se expressou na Primavera Árabe e nas lutas sociais ocorridas naEuropa, principalmente na Espanha e na Grécia.
Não é difícil perceber que os resultados podem ser bem distintos. Mas antes de falar das conclusões, olhemos mais de perto o Brasil.
O levante de junho foi uma explosão juvenil e popular que revelou o desgaste profundo das instituições políticas, dos partidos e dos políticos.
Despertou uma simpatia generalizada na sociedade, desde os setores mais populares até a classe média que voltou às ruas no dia 15 de março. Desde junho não cessaram as lutas sociais. Um setor de massas mais consciente, ainda minoritário em relação à população mas capaz de alterar o cenário político, irrompeu na cena pública e se expressou inclusive no processo eleitoral, principalmente na votação do PSOL.
Foi com este setor que Dilma buscou dialogar no segundo turno, polarizando com Aécio Neves, com um discurso que alguns acreditavam expressar a possibilidade de uma guinada à esquerda no governo. Isso obviamente não se materializou.
Ao contrário, como dissemos na campanha, qualquer um que vencer vai aumentar o preço da gasolina, da luz e fazer um forte ajuste nas costas do povo. Assim foi, assim está sendo. O reajuste das tarifas, o descontrole da inflação nos preços de alugueis, utensílios básicos e alimentos elevaram o mal-estar social.
O sentimento de frustração experimentado pelos que acreditaram em Dilma se revelou na grande ausência de massas populares no dia 13 de março.
Convocado pelos velhos aparatos sindicais e pelo MST para ser um contraponto ao 15, acabou por demonstrar a fragilidade do governo, fato também confirmado pelas pesquisas de opinião que apontam uma mínima histórica para os índices de popularidade de Dilma: 64,8% consideram ruim ou péssimo o seu governo e apenas 10,8% consideram bom ou ótimo.
A situação defensiva dos governos, inclusive dos Estados, se evidencia com o crescimento das greves, principalmente do funcionalismo público. A corrupção revelada pela segunda etapa da operação Lava Jato, na qual aparecem nomes importantes do PT, como o seu tesoureiro nacional, agudiza a crise política.
A burguesia sente que é hora de agir. O desgaste não é só do governo, é de todo o regime.
O dia 15 de março foi então manejado pela Rede Globo, principal partido da classe dominante, para evitar qualquer possibilidade de um novo junho.
Tomou as ruas a mesma classe média que aderiu a junho na sua segunda etapa, na ocasião simbolizada no Movimento Cansei e na pauta da PEC 37, junto com grupos minoritário de direita que atuam nas Redes Sociais, insuflados pela Globo, pelo PSDB e pelas burguesias estaduais.
No imediato, esta nova conjuntura aberta pelo dia 15 de março pode inibir ações de massas pela esquerda, devido ao temor de setores da vanguarda de se confundir com a direita e a sua pauta do impeachment. Isso pode afastar do horizonte mais próximo ações mais fortes, como uma greve geral, mas não impedirá que as lutas sociais continuem pelas demandas concretas da classe trabalhadora, como salário e moradia, com destaque para o funcionalismo público e o MTST.
Os atos do dia 26 de março demonstraram também que uma ampla vanguarda juvenil está disposta a seguir nas ruas contra os cortes na educação, a precariedade e o alto custo do transporte público.
Além disso, apesar da natureza reacionária do dia 15, a corrupção enfurece todo o povo e, somada à crise econômica, torna a conjuntura explosiva.
A classe média não tem um projeto próprio. Ela pode ir a reboque da burguesia, e seus segmentos mais abonados em geral seguem um curso mais reacionário.
As franjas mais populares, entretanto, podem ser disputadas para um projeto de esquerda, por isso a denúncia da corrupção e a luta pelo confisco e cadeia para os corruptos, o Fora Renan e Eduardo Cunha não são bandeiras menores.
O novo escândalo envolvendo grandes grupos econômicos e midiáticos, como Gerdau e RBS, fará com que cada vez menos esta seja uma pauta da burguesia e da grande mídia.
Nenhum setor da burguesia quer de fato o impeachment ou muito menos um golpe.
Eles gostariam de ter derrotado o PT nas eleições, pois este partido já não consegue mais cumprir o papel de freio às lutas sociais, sua maior utilidade para garantir a aplicação dos planos econômicos capitalistas.
O filho legítimo da burguesia, Aécio Neves, era o escolhido para gerenciar os interesses do capital esta nova etapa. Mas ele perdeu, e agora a instabilidade política gerada por um processo de impeachment não interessa à burguesia. O que eles precisam é de um governo completamente rendido, que aplique a fundo o ajuste. E isto eles já tem.
Isto não significa que a queda de Dilma esteja descartada. As ruas muitas vezes vão além do que querem os seus dirigentes.
O fato é que a bandeira do impeachment, pelas mãos de Bolsonaro, Agripino Maia ou Aécio não tem potencial para arrastar multidões.
A falta de credibilidade do Congresso e o envolvimento na corrupção do segundo e do terceiro na linha sucessória colocam a necessidade de um eventual impeachment ser acompanhado de novas eleições. Isso a burguesia não quer, pois atrapalharia muito a aplicação do ajuste.
Imaginem agora, depois de tudo o que ocorreu, um novo processo eleitoral no qual os candidatos teriam que se posicionar sobre as medidas impopulares que Dilma vem tomando. Seria um desastre para o regime.
O PSOL não está pelo impeachment, pois não anda a reboque do reacionarismo. Mas também não estamos na defesa do governo. Muito pelo contrário: há momentos em que não dizer algo é manter a sua força em latência.
Então, retomando a pergunta inicial, acredito que não, em dinâmica o Brasil não está caminhando para a direita. Mas os processos que ocorreram ao redor do mundo demonstram que o desfecho das situações de crise e revolta social nem sempre se dão imediatamente de forma positiva.
A Primavera Árabe não conseguiu produzir, pelo menos de forma visível, uma alternativa de esquerda. Já na Grécia e na Espanha estamos assistindo processos muito mais vivos e progressivos.
No Brasil a degeneração do PT e sua utilização indecente do nome da esquerda empurra uma parte do povo para a confusão total sobre os conceitos de esquerda e direita e parcelas da classe media para a direita mesmo.
Mas há protestos sociais, categorias que lutam, cultura viva, movimentos por direitos civis que empurram para a defesa dos interesses populares e para a defesa da igualdade, para usar um termo genérico que é definidor da esquerda autêntica. E felizmente há o PSOL, que foi fundado quando os primeiros sinais da traição petista surgiram, quando ainda a imensa maioria apostava no PT.
Surgiu contra corrente, inspirado em revolucionários da história como Leon Trotsky, que também soube nadar contra a corrente quando muitos diziam que o stalinismo era o socialismo.
Por isso a pergunta não tem uma resposta definida. Dependerá da luta.
As condições da esquerda são favoráveis por que tivemos junho de 2013. Mas o legado de junho precisa ser honrado. Há muito espaço para a esquerda crescer e ser a força mais dinâmica, mas precisa ser uma esquerda autêntica, como diz Vladimir Safatle, uma esquerda que não tenha medo de dizer seu nome, e que, portanto, não tenha nada que ver com este governo que gerencia os interesses dos capitalistas e aplica um ajuste fiscal contra o povo.
Nosso desafio é construir um terceiro campo na política nacional.
O campo dos que não tem relação com as empreiteiras, contas secretas na Suíça e nem se beneficiam de manobras para sonegação fiscal.
O campo dos que querem conquistar uma democracia real, na qual o povo tenha as rédeas do país e a política econômica seja um instrumento para fazer justiça social e não para garantir o lucro dos bancos e o pagamento de juros aos especuladores.
O campo fiel às bandeiras de junho e à luta por mais direitos.

Fonte: VIOMUNDO
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Fazer oposição sempre é fácil, o difícil é governar.

Oposição joga pedras, governo é vidraça.

Lembro que lá pelo início do ano de 2000 , Lula , na oposição ao governo de FHC, disse que se o governo não tinha condições de fazer uma reforma tributária, que fizesse, pelo menos, uma mini reforma, para aliviar a situação.

O governo de FHC não fez reforma e nem mini reforma e, quando no governo, Lula, também não fez.

Quando no campo da oposição, as críticas e possíveis soluções  são sempre apresentadas, no entanto, quando se é governo, as coisas mudam.

Existe o discurso para e eleitor - oposição - e a realidade a ser vivenciada - governo - e entre os dois , muitas vezes, um abismo.

Luciana e o PSol analisam a conjuntura atual , com base  nos grandes protestos ocorridos nesta década no Brasil e pelo mundo.

Os protesto de junho de 2013, como bem exposto acima, teve um grande componente de jovens, que rejeitava, todas as  formas atuais do fazer política assim como os partidos políticos atuais, inclusive o PSol. 

Eram jovens, em maioria, que tinham como fio condutor de suas indignações exigências por mais direitos e serviços públicos de qualidade.

De uma forma ou de outra, rejeitavam a polarização esquerda -direita, assim como o rodízio de Poder por esses campos da Política, como também  aconteceu na Europa, principalmente na Espanha e na Grécia, aproveitando como exemplo já  que esses dois países foram citados no artigo acima de Luciana.

Nos dois países acima, foram meses e talvez anos de grandes protestos que enquanto apenas protestos e manifestações de rua , não mudaram o cenário políticos desses países.

As mudanças passaram a ocorrer quando os jovens da Espanha e da Grécia, se organizaram em partidos políticos, disputando o Poder com as tradicionais agremiações políticas.

Nas Espanha foi criado um novo partido, que representa os indignados das grande manifestações, o Podemos.

Já na Grécia, formou-se uma coalização de partidos de esquerda , o Syriza, como opção para se chegar ao Poder.

No Brasil ainda levará um tempo para que a manifestação juvenil de 2013 possa se consolidar como um partido político, se é que isso acontecerá e, pelo que se percebeu nas últimas eleições  de 2014 nenhum partido político existente atualmente é depositário das demandas e das vozes das ruas.

Para se combater o avanço da direita reacionária que cresce no Brasil, não será um partido político do campo da esquerda o porta voz e aglutinador dos interesses de uma esquerda verdadeira.

Qualquer partido que assim se coloque , estará fazendo o mesmo papel  que outrora  fez o PT antes de ser governo, ou seja, sempre na oposição e como opção para a mudança.

Pela complexidade da conjuntura, somente uma frente ampla de partidos de esquerda, movimentos sociais e associações, que se agrupem  em torno de uma agenda verdadeira de esquerda e realista, poderá fazer frente ao avanço da direita reacionária.

Nenhum partido de esquerda no momento presente tem representatividade para falar em nome de uma esquerda autêntica, que esteja inserida na complexa conjuntura atual.

Quando o PSol se apresenta como o alternativa única, não é muito diferente do PT de outrora.

O único terceiro campo viável é uma grande frente de esquerdas.

Alto custo

Avião da Germanwings faz pouso de emergência em Stuttgart  

Um avião da companhia aérea alemã Germanwings, filial de baixo custo da Lufthansa, realizou neste sábado (4) uma aterrissagem de emergência em Stuttgart, no sul da Alemanha, devido a um defeito técnico, segundo fontes do aeroporto da cidade.
O voo 4U 814 decolou às 5h (horário de Brasília) de Colônia com direção à cidade italiana de Veneza, e o pouso ocorreu uma hora e dez minutos depois. Nenhum dos passageiros ficou ferido, acrescentaram as fontes.
A Germanwings, por meio de um comunicado, classificou o ocorrido de "procedimento de segurança padrão" e "desvio de rota", e disse que ao contrário do informado pelo aeroporto não poderia ser considerado uma "aterrissagem de emergência".
O pouso foi determinado após ser detectado um vazamento de óleo no avião. Por isso, de acordo com os protocolos estabelecidos, um dos motores teve que ser desligado, segundo a companhia.
A Germanwings informou, além disso, que os passageiros saíram do avião pelas saídas padrão, sem precisar recorrer a procedimentos de emergência.
O voo tinha 123 passageiros a bordo e cinco tripulantes, que ficaram no aeroporto de Sttutgart enquanto a aeronave era vistoriada.
A Germanwings ofereceu a possibilidade dos passageiros retornarem para Colônia ou esperar para seguir viagem para Veneza, onde se estima que o voo chegará às 10h (horário de Brasília).

Fonte: BOL
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Germanwings é uma filial de baixo custo da Lufthansa.

Air Asia é uma filial de baixo custo da Malásia Airlines.

O baixo custo esteve envolvido , recentemente, em dois grandes acidentes aeronáuticos de grandes proporções.

O que seria o baixo custo ?

Ausência de acompanhamento médico dos tripulantes e pilotos ?

Manutenção das  aeronaves flexibilizada ?

Não faz sentido que tais atividades sejam menores em companhias de baixo custo, que de forma direta estão ligadas a grandes companhias aéreas.

Seria o baixo custo, então, uma prática comum em todas as companhias aéreas, de baixo custo ou não , sendo Germanwings e Air Asia apenas marcas estratégicas de marqueting na disputa alucinada por rotas dentro dos seus respectivos continentes, Europeu e Asiático ?

É aí que reside o perigo.

Aqui no Rio de janeiro, quando ocorreu o fenômeno dos surgimento das vans como transporte rodoviário alternativo, uma empresa gigante do setor de transporte rodoviário de passageiros, a 1001, resolveu disputar o mercado que as vans conquistavam.
No entanto não colocou seus ônibus com a marca 1001 e , sim uma nova empresa, com o nome de Opção, com preços bem similares aos preços praticados pelas vans. 
Os ônibus da Opção eram os mesmos da 1001, como cores e logo diferentes, mas que certamente tinham os mesmo funcionários e procedimentos de manutenção.

O mesmo acontece com Germanwings e Air Asia, sendo que o baixo custo, a produtividade máxima, a pressão máxima nos funcionários e o lucro máximo, são  as regras gerais de todas as empresas, ditas de baixo custo ou não
.
Assim sendo os acidentes crescerão, cada vez mais.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

E a vida, o cinismo e a barbárie seguem

latuff
Charge: LATUFF

Estão batendo em Luciana Genro porque ela disse, mais uma vez, uma verdade. Por Paulo Nogueira

Postado em 03 abr 2015
Dizer a verdade custa caro
Dizer a verdade custa caro
Estão batendo em Luciana Genro porque ela disse, mais uma vez, uma verdade.
Num mundo tão cínico, isto é um problema: dizer a verdade.
No Twitter, ela escreveu que, como tanta gente, também lamentava a morte de Thomaz Alckmin.
Mas acrescentou que também gostaria de ver as pessoas lamentando a morte do garoto Eduardo Ferreira, de 10 anos, por uma bala de um policial no Morro do Alemão.
Acusaram-na de “politizar” a morte do caçula de Alckmin.
Ora, é uma estupidez. Ela estava, e está, absolutamente certa. Tanto quando esteve ao dizer em rede nacional que Aécio não deve ser levado a sério ao falar em corrupção, ele que mandou construir um aeroporto particular numa fazenda da família.
Para registro, não muito depois Dilma manifestou pesar pelo garoto, e disse esperar que os criminosos sejam punidos.
É vital, sim, juntar as duas mortes num só pacote e compará-las porque ali está o Brasil tal como ele é.
Thomaz morreu num acidente. Foi um caso de extrema má sorte.
Eduardo morreu a chamada morte programada. Foi destino, e não azar. Todos os dias meninos como ele estão sujeitos à violência policial. São os desvalidos de sempre.
Thomaz foi colhido pela morte, e Eduardo pela vida.
Nas favelas ocupadas por policiais merecidamente detestado pelas comunidades, balas são uma rotina da qual ninguém escapa.
É um erro monumental acreditar que pelotões de policiais possam resolver o problema das favelas.
Foge-se do fato incontestável: o drama das favelas só desaparecerá quando não mais as houver.
A única coisa que é realmente igual em ambos os casos é a dor infinita dos pais.
Num caso parecido, na Antiguidade, um sábio grego escreveu que ninguém podia se declarar feliz enquanto não morresse.
Ele falava de Príamo, o rei de Troia, para quem tudo corria tão bem até a velhice, mas que foi obrigado a ver o filho Heitor ser morto diante de seus olhos.
Que os pais de Thomaz e Eduardo encontrem forças para seguir adiante num episódio que desafia a vontade de acordar para um novo dia até o fim.
E que, como Luciana Genro disse, que os lamentos se espalhem fraternalmente entre Thomaz e Eduardo.
Na morte, nos igualamos.
Na vida, porém, somos abjetamente desiguais no Brasil.
Que pelo menos as lamentações, tão fartas para Thomaz entre políticos ávidos por platitudes, se estendam também para Eduardo.
Os sinos dobram por ambos.

Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
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Thomaz era rico.

Eduardo era pobre.

Thomaz foi vítima de uma fatalidade.

Eduardo faz parte da rotina, da normalidade.

Thomaz era filho de um governador.

Eduardo era filho de um nordestino.

Thomaz morava em palácio.

Eduardo morava na favela.

Todo o staff da elite e da mídia sentiu a morte de Thomaz.

Somente os familiares e vizinhos sentiram a morte de Eduardo.

Thomaz tinha futuro.

Eduardo era um problema para o futuro.

Thomaz foi uma morte trágica.

Eduardo foi mais uma estatística.

Thomaz estava em um helicóptero que perdeu uma pá e caiu.

Eduardo retirou o celular do bolso e um policial atirou no menino, pensando tratar-se de uma arma.

Eduardo morreu sonhando em um dia ser Bombeiro.

Quando os bombeiros chegaram ao local do acidente, Thomaz já estava morto.

A velha mídia passou o dia inteiro de ontem mostrando imagens de Thomaz.

Vez por outra Eduardo surgia, como rotina de crimes nas tardes na TV.

Políticos, autoridades e artistas, se uniram para chorar a morte de Thomaz.

O povo se uniu no Alemão para protestar a morte de Eduardo.

E a vida, o cinismo e  a barbárie seguem.

Tá todo mundo ligado


quinta-feira, 2 de abril de 2015


Professores revoltados com a TV Globo

Por Altamiro Borges

Uma passeata com mais de 60 mil professores toma as ruas centrais da capital paulista na tarde desta quinta-feira (2). Alegres, irreverentes e pacíficos, os grevistas criticam a intransigência do governador de São Paulo – "uma vaia para o Geraldo Alckmin" – e expressam sua indignação diante da cobertura "jornalística" das emissoras de rádio e televisão – "uma vaia para a Globo" grita um líder no caminhão de som e milhares repetem "fora Rede Globo, o povo não é bobo" e "A verdade é dura, a Rede Globo apoiou a ditadura". Do helicóptero da emissora, o domesticado repórter informa que a passeata reúne "uns 500 professores" e não dá detalhes sobre a combativa mobilização da categoria.

Antes da passeata, na assembleia realizada no Masp, na Avenida Paulista, os professores aprovaram por unanimidade a continuidade da paralisação. "A greve continua. Alckmin, a culpa é sua"! Em uma nova rodada de negociação, o governo do PSDB voltou a rosnar arrogância e manteve a sua postura intransigente e autoritária. Os professores reivindicam melhorias nas condições de ensino – centenas de escolas foram fechadas nos últimos anos, as salas estão superlotadas e falta até papel higiênico nas unidades de ensino. Os grevistas também exigem aumento salarial e melhores condições de trabalho.

A manipulação da mídia privada, que tenta invisibilizar a poderosa greve dos professores e blindar o tucano Geraldo Alckmin, não desanima os grevistas. "Estamos de alma lavada. Mostramos mais uma vez a força e a organização da categoria", afirma Maria Izabel Azevedo Noronha, a Bebel, presidenta da Apeoesp. Para ela, a postura dos jornais, revistas e emissoras de rádio e tevê, sempre contrária às lutas dos trabalhadores, confirma a urgência de medidas para democratizar a mídia no Brasil.

No caso da TV Globo, quando da marcha golpista de 15 de março, ela até alterou a sua programação para incentivar a participação num ato que pregava o impeachment da presidenta Dilma e, inclusive, a volta dos militares ao poder. Artistas globais ajudaram a convocar o protesto e a emissora, unida ao comando da Polícia Militar, espalhou a mentira de que a marcha reuniu mais de 1 milhão de pessoas. Agora, no caso da passeata dos docentes em greve, o repórter domesticado fala em "500 presentes". Não é para menos que um dos slogans mais gritados na passeata desta quinta-feira foi o "Fora Rede Globo"
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Fotos: Apeoesp

Fonte: Blog do Miro
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A operação da zelite não vale nota


Por Renato Rovai abril 2, 2015 16:02




A operação da zelite não vale nota

    Ninguém sabe o que é a Operação Zelotes.
    Ontem à noite perguntei numa turma de Jornalismo com 50 estudantes quem sabia algo do novo escândalo. Só 3 levantaram a mão.
    A culpa não é dos alunos, mas do silêncio obsequioso da mídia que não quer entregar os verdadeiros corruptos da nação.
    A OPERAÇÃO ZELOTES (assim, em caixa alta mesmo, editor) é o maior escândalo de todos os tempos e ainda mal começou a ser apurada.
    Ela pega quase todo o sistema financeiro, grandes empresas e grupos de mídia, como a RBS.
    Toda a zelite que grita “Fora Dilma” está na lista. E por isso esse escândalo é tratado como se fosse um segredo. Não vale nem nota em canto de página. Quanto mais manchete.
    É hora de fazê-lo conhecido. Falar dele sem parar. Divulgá-lo é defender os verdadeiros interesses do país.
    Com os 20 bilhões dessa operação no caixa do governo, o Joaquim Levy poderia voltar pro Bradesco e deixar de cortar recursos do seguro desemprego.
    O ajuste fiscal é a valor da corrupção da tal Zelotes. E só o  Bradesco é acusado de fraudar o governo em 2,7 bilhões.
    É hora de eles pagarem as contas do ajuste. Não os trabalhadores…

    Fonte: Blog do Rovai
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    RBS, pega na Operação Zelotes, tem Gávea, de Armínio Fraga, como sócia

    2 de abril de 2015 | 19:12 Autor: Fernando Brito
    rbsgavea
    O grupo RBS, que começou a admitir indiretamente a falcatrua contra a Receita Federal, numa “autuaçãozinha” de R$ 672 milhões (leia noDiário do Centro do Mundo o presidente do grupo Duda Sirotsky dizendo que fez a mutreta foram seus advogados, não ele), tem mais um ingrediente explosivo em sua participação na Operação Zelotes, além da sua condição de associada da Globo em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.
    É que a RBS tem um sócio, especializado, justamente, em operações financeiras: a Gávea Investimentos, de Armínio Fraga, ex-quase-futuro Ministro da Fazenda de Aécio Neves.
    Em 2008, Fraga comprou 12,6% do capital do grupo gaúcho, por valor não revelado.
    Passou a ser, portanto, beneficiário direto de anulação de débitos fiscais que, no ano em que comprou parte de RBS.
    E não são “debitinhos”, não.
    R$ 672 milhões é mais que todo o ativo da holding RBS Participações apurado em suas demonstrações contábeis de 2013.
    E se o débito refere-se a autuação desta época, ou anterior, certamente não escaparia da due diligence normal neste tipo de compra de capital, porque não se paga por um ativo que tenha passivo fiscal desta ordem.
    Fonte: TIJOLAÇO
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    Uma passeata com 60 mil professores em São Paulo, ontem, é apresentada por globo como sendo um protesto com 500 pessoas.
    A operação Zelotes, da Receita Federal, flagrou o maior esquema de corrupção e sonegação do país que faz da lava jato  um esquema peixe pequeno.
    Na Zelotes, encontram-se como grandes criminosos a RBS - associada de globo no sul do país - o  BRADESCO, do ministro Levy, o homem  do ajuste e do arrocho contra o povo trabalhador , e ainda ligações com empresas ligadas a Armínio Fraga, que estaria no lugar de Levy, hoje, caso Aécio - envolvido até pescoço em esquemas de corrupção em FURNAS - fosse o presidente.
    Tudo isso e ainda a  dinheirama que o tesoureiro do PSDB tem no HSBC, e muito mais, não são notícia na velha mídia do jornalismo de mágica e de ilusionismo que assola o país.
    Como a sujeira que envolve as oposições e empresas da velha mídia é  de grande monta - não confundir com Albertinho Limonta - o globo, de hoje, resolveu apresentar como manchete principal de primeira página o suposto acordo de paz entre Irã e EUA.
    O direito a paz, o direito de nascer para um mundo melhor. Grande globo !
    Se a sujeira continuar a emergir , como deve acontecer nos próximos capítulos, a manchete principal de primeira página de Globo será sobre o possível desaparecimento de Tuvalu, na Oceania,  motivado pelo aumento do nível dos oceanos, fruto das alterações climáticas.
    Alterações climáticas que globo esconde e manipula  por muito tempo, mas que agora com Zelotes na fita e bombando, ganha enorme relevância no noticiário, obviamente eclipsando quaisquer esquemazinhos menores de sonegação de impostos, lavagem de dinheiro e crimes de corrupção.
    É meu  caro leitor, quando a coisa aperta globo voa para o outro lado do mundo, no entanto, os professores estão de olho.

    quinta-feira, 2 de abril de 2015

    Depressão neoliberal

    quinta-feira, 2 de abril de 2015



    Germanwings e a depressão neoliberal

    Por Franco Berardi, no site Outras Palavras:

    Dizem que o jovem piloto Andreas Lubitz sofria de crise depressiva e mantinha escondidas da Lufthansa as suas condições psíquicas. Os médicos tinham aconselhado um período de licença do trabalho. Mas isso não é de fato surpreendente: o turbocapitalismo contemporâneo detesta aqueles que pedem para usufruir licenças médicas, e detesta à enésima potência qualquer referência à depressão. Deprimido, eu? Não se fala nunca disso. Eu estou bem, perfeitamente bem, eficiente, alegre, dinâmico, enérgico e acima de tudo competitivo. Faço jogging toda manhã, estou sempre disponível e preparado para coisas extraordinárias. Não seria talvez esta a filosofia do “baixo custo”? Não seríamos talvez rodeados ininterruptamente pelo discurso da eficiência competitiva? Não estaríamos talvez constrangidos no cotidiano a comparar o nosso estado de ânimo com aquela alegria agressiva dos rostos bem sucedidos que aparecem nos anúncios publicitários? Não correríamos talvez o risco de demissão se faltarmos demais ao trabalho por estarmos doentes?

    Agora os jornais (os mesmos jornais que há anos vêm nos chamando de pouco esforçados e elogiam a exclusão dos ineficientes) aconselham-nos a prestar mais atenção nos processos seletivos. Teremos controles extraordinários para verificar se os pilotos de avião não sejam desequilibrados, loucos, depressivos, maníacos, melancólicos tristes e abatidos. De verdade? E os médicos? E os coronéis do exército? E os motoristas de ônibus? E os condutores de trem? E os professores de matemática? E os agentes da polícia rodoviária?

    Depuremos os deprimidos. Depurêmo-los. Pena que sejam a maioria absoluta da população contemporânea. Não estou falando dos deprimidos declarados, que aliás estão crescendo em proporção, mas daqueles que sofrem de infelicidade, tristeza, desespero, aqueles que raramente informam da situação e o fazem com certa prudência. A incidência de doenças psíquicas tem crescido enormemente nas últimas décadas. A taxa de suicídio, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde, subiu 60% (!) nos últimos quarenta anos.

    Quarenta anos? O que isso poderá significar? O que aconteceu nos últimos quarenta anos para que tanta gente se apresse em vestir paletó de madeira? Existirá talvez uma relação entre esse incrível aumento da propensão a abreviar a vida e o triunfo do neoliberalismo, que implica precariedade e competição obrigatória? E existirá talvez uma relação com a solidão de uma geração inteira que cresceu diante da tela, sendo submetida a contínuos estímulos psico-informativos e tocando sempre menos o corpo do outro? Não se esqueçam que, para cada suicídio realizado, existem cerca de vinte tentados sem sucesso. E não se esqueçam que, em muitos países do mundo, os médicos são convidados a ter cautela na hora de atribuir a morte ao suicídio, se não existirem provas evidentes da intenção do falecido. E quantos acidentes de carro ocultam uma intenção suicida mais ou menos consciente?

    Não apenas as autoridades de investigação e a companhia aérea revelaram que a causa do desastre aéreo foi o suicídio de um trabalhador que sofria de crise depressiva e que a mantinha escondida, eis que na internet se coloca em marcha o costumeiro exército de teóricos da conspiração. “Até parece que vou acreditar”, dizem aqueles que suspeitam de um complô. Deve ter a mão da CIA, ou talvez Putin, ou quem sabe foi simplesmente um gravíssimo erro da Lufthansa que agora querem esconder do público. Um chargista que se chama Sartori e acredita ser muito espirituoso mostra um cara lendo um jornal com a manchete “Tragédia Airbus: responsável o copiloto deprimido” e fala: “daqui a pouco vão dizer que o ISIS também é feito por deprimidos”.

    Olha aí, parabéns. Acertou o ponto em cheio: o terrorismo contemporâneo pode ter mil causas políticas, mas a única causa verdadeira é a epidemia de sofrimento psíquico (e social, mas as duas coisas são uma só) que se está difundindo pelo mundo. É possível explicar o comportamento de um terrorista, de um jovem que se explode para matar uma dezena de outros seres humanos, apenas em termos políticos, ideológicos, religiosos? Certo que se pode, mas vai ser conversa fiada. A verdade é que quem se mata considera a vida um peso intolerável, e vê na morte a única salvação, na tragédia a única vingança. Uma epidemia de suicídio se abateu sobre o planeta Terra, porque por décadas se pôs pra rodar uma gigantesca fábrica de infelicidade de onde parece cada vez mais impossível escapar.

    Aqueles que em todo lugar veem um complô deveriam parar de buscar uma verdade escondida, deveriam em vez disso interpretar diversamente a verdade evidente. Andreas Lubitz se trancou naquela maldita cabine porque a dor que sentia dentro de si era de fato insuportável, e porque acusava daquela dor os 150 passageiros e colegas que voavam com ele, e todos os outros seres humanos que como ele são incapazes de libertar-se da infelicidade que devora a humanidade contemporânea, desde que a publicidade nos submeteu a um bombardeio de felicidade obrigatória, desde que a solidão digital multiplicou os estímulos e isolou cada um dos corpos, desde quando o capitalismo financeiro nos constrangeu a trabalhar o dobro para ganhar a metade.

    * Tradução de Bruno Cava.
     
    Fonte: Blog do Miro
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    Passados alguns dias do acidente nos Alpes franceses, começam a surgir, felizmente, análises equilibradas no universo midiático.
    E obviamente, tais análises são exceção em uma mídia mundial sempre disposta a jogar tudo de encontro as rochas.
    Assim como Alberto Dines, em seu excelente texto acima, fiquei perplexo com esse episódio e , no momento em que escrevo esse texto , em que faço com que as pontas de meus dedos se choquem com as teclas de um teclado frio e distante, mesmo estando tão próximo,  não encontrei nenhuma explicação para a tragédia, assim como tenho rejeitado todas as narrativas oriundas de  uma imprensa apressada em tudo justificar.
    Como sempre tem acontecido desde o 11 de setembro, o terrorismo é sempre a primeira hipótese para acidentes com mortes e, uma vez descartada a hipótese matter, distúrbios mentais dos autores sempre surgem em segundo lugar.
    Como se atos de terrorismo não fossem um distúrbio dos autores, uma irracionalidade em nome da razão.

    Como se o reducionismo simplista , limitado e apressado também não fosse um distúrbio.
    No mundo dos distúrbios, estados nacionais em nome da segurança agem da mesma maneira que os terroristas, de forma racional, em nome da segurança e em defesa da civilização próspera , civilizada, saudável.
    O jovem alemão , bem sucedido profissionalmente, não foi o primeiro  a assombrar o mundo e certamente não será o último.
    Centenas ou milhares de casos de atiradores  que resolvem sair por aí atirando e matando qualquer pessoa que encontram pela frente, tem sido lugar comum no noticiário, que , como de costume, tentar encerrar o assunto atribuindo problemas mentais aos criminosos.
    Que uma pessoa que resolve  matar outros , conhecidos ou não, sem nenhum motivo aparente, certamente tem algum distúrbio, ou , quem sabe um mix de fast distúrbios, isso me parece óbvio.

    No entanto, a velha mídia apressada, mesmo diante de tantas evidências que se repetem e não mais podem ser apenas justificadas como problemas pontuais, sempre volta aos distúrbios psicológicos do agressor como sendo a causa última .
    Seria tal forma de relatar a realidade também um distúrbio ?
    Um mundo de desequilibrados, onde a suposta alegria das pessoas  nada mais seria do que uma representação para atender códigos sociais.
    Sorria, afinal, você está sendo filmado e deve ficar feliz também por esse fato.
    Abra e beba a felicidade, diz o comercial do símbolo maior de todos os distúrbios.
    Trabalhe muito, seja competitivo, desconfie de tudo e de todos, vigie seu vizinho, afinal, viver é uma guerra e somente os mais fortes irão sobreviver.
    Caso se sinta triste, vá a um shopping center, compre uma roupa nova, o tênis da moda, ou quem sabe, até mesmo troque de carro,  a sensação de felicidade será instantânea, e você poderá mostrar para seus "amigos" como você é feliz e bem sucedido, afinal viver é ganhar e acumular, sempre o máximo.
    As praças de alimentação de um shopping center são o divã da pós modernidade , que pode resolver todo tipo de angústia e de sofrimento, essa é a mensagem explícita e implícita de um mundo de distúrbios, ancorado em coisas, onde qualquer coisa passa a ter um valor , um preço.
    Ao sucesso, mesmo que seja lembrado somente após a morte, como tem sido uma constante nos filmes de Hollywood:
    "certamente se assim agirmos iremos morrer, no entanto eles também morrerão e nossos nomes serão nomes de escolas públicas, para eternidade"

    A passagem acima é comum nos filmes atuais.

    Sucesso, competição e coisas.

    Tudo e todos são coisas, que se pode atribuir um valor, construindo, dessa forma, um fundamentalismo materialista, não muito diferente de outras expressões de fundamentalismos.

    No mundo dos fundamentalismos, o distúrbio reina, naturalmente, socialmente aceito, no entanto sempre que atos extremos acontecem a causa apresentada pela mídia sempre diz respeito a um distúrbio, individual, pontual, algo fora da curva e que não merece grande destaque.

    O estresse é a doença da pós modernidade, sendo que na mesma França que agora sente-se perplexa com o acidente, recentemente um estudo revelou o crescente número de suicídios de empregados em determinadas empresas.

    Na Alemanha, os índices de absenteísmo e de alcoolismo no trabalho não devem ser desprezados.

    No mundo das coisas , do quantitativo, a felicidade pode ser encontrada ao se abrir uma garrafa de refrigerante, pelo menos é o que diz a mensagem publicitaria.

    Os momentos de  tristeza, como manifestações normais da natureza humana, são vistos como sérios problemas psicológicos e socialmente não são aceitos , já que no mundo civilizado e próspero seria inconcebível não ser  feliz, alegre, risonho.

    Momentos de tristeza , assim como momentos de felicidade, são normais e fazem parte da natureza humana.

    O excesso e a persistência de um ou outro em prevalecer, merece atenção.

    Rir de tudo pode indicar sinais de desespero.

    Uma tristeza crônica , também merece cuidados.

    No entanto, qualquer tristeza no mundo civilizado atual, é imediatamente rotulado como um problema grave, que requer cuidados médicos e remédios pesados.

    No mundo dos distúrbios, a doença é um grande negócio, talvez mais um distúrbio da natureza nada humana dos negócios da medicina humana.

    Suicídios tem crescido em todo o mundo, talvez como uma forma de libertação por parte de seus praticantes e as razões , certamente são os tais distúrbios, e eles são muitos em um mundo de distúrbios, de desequilibrados - inclusive, você, caro leitor - de midiotas.

    A partir de agora, pilotos não ficarão mais sozinhos no bunker que se tornou a cabine de comando de um avião pós 11 de setembro.

    Serão vigiados em suas vidas particulares, assim como seus familiares, e devem sorrir o dia inteiro.

    Essa , certamente, será a resposta para evitar que distúrbios não acabem com todos nas rochas.

    Afinal foram 150 vidas, algo insiginificante para as centenas de vidas que desaparecem diariamente vítimas da fome, um distúrbio socialmente aceitável, já que os famintos são seres incapazes , fracos, inaptos, para um mundo alegre, civilizado , próspero e evoluído.

    Talvez o jovem alemão tenha sofrido uma desilusão amorosa, algo normal na vida de qualquer pessoa.

    Há mais ou menos 40 anos , Aldir Blanc escreveu a canção abaixo, que em uma passagem , o personagem triste e deprimido vê a morte como uma solução, no entanto teve um amigo para conversar.

    No mundo atual, onde todos estão sitiados e paradoxalmente conectados, tem crescido o número de pessoas que encontram no suicídio a saída.

    Afinal, para todo suicida, o suicídio é uma decisão racional e libertadora.

    Mundo esquisito e doentio esse em que vivemos.

                                      Amigo é Para Essas Coisas
    Autores: Aldir Blanc e Silvo da Silva
    
               
    - Salve!
    - Como é que vai?
    - Amigo, há quanto tempo!
    - Um ano ou mais
    - Posso sentar um pouco?
    - Faça o favor
    - A vida é um dilema
    - Nem sempre vale a pena
    - Pô...
    - O que é que há?
    - Rosa acabou comigo
    - Meu Deus, por quê?
    - Nem Deus sabe o motivo
    - Deus é bom
    - Mas não foi bom pra mim
    - Todo amor um dia chega ao fim
    - Triste
    - É sempre assim
    - Eu desejava um trago
    - Garçom, mais dois
    - Não sei quando eu lhe pago
    - Se vê depois
    - Estou desempregado
    - Você está mais velho
    - É
    - Vida ruim
    - Você está bem disposto
    - Também sofri
    - Mas não se vê no rosto
    - Pode ser
    - Você foi mais feliz
    - Dei mais sorte com a Beatriz
    - Pois é
    - Vivo bem
    - Pra frente é que se anda
    - Você se lembra dela?
    - Não
    - Lhe apresentei
    - Minha memória é fogo!
    - E o l´argent?
    - Defendo algum no jogo
    - E amanhã?
    - Que bom se eu morresse!
    - Pra quê, rapaz?
    - Talvez Rosa sofresse
    - Vá atrás!
    - Na morte a gente esquece
    - Mas no amor a gente fica em paz
    - Adeus
    - Toma mais um
    - Já amolei bastante
    - De jeito algum!
    - Muito obrigado, amigo
    - Não tem de quê
    - Por você ter me ouvido
    - Amigo é pra essas coisas
    - Tá
    - Tome um Cabral
    - Sua amizade basta
    - Pode faltar
    - O apreço não tem preço, eu vivo ao Deus dará