quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Comunicação e Linguagem

CRISE HÍDRICA

Quem sai no retrato

Por Luciano Martins Costa em 22/01/2015 na edição 834
Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 22/1/2015


Os jornais de quinta-feira (22/1) refletem uma circunstância corriqueira na relação da imprensa com o poder político e reproduzem o estado de guerra que domina o ambiente midiático. As manchetes e outros títulos de destaque nas primeiras páginas procuram exacerbar as dificuldades da economia nacional, ao mesmo tempo em que tentam colocar o problema de abastecimento de água em São Paulo na conta das mudanças climáticas.
O conjunto de notícias e opiniões que os diários apresentam como a síntese do período induz o leitor a acreditar que o Brasil é um comboio em direção ao abismo, e que o condutor, o ministro da Fazenda Joaquim Levy, está tomando as providências para reduzir a velocidade e desviá-lo de volta para o trilho do desenvolvimento. A presidente da República, responsável pela estratégia que o ministro deve administrar, é citada quase exclusivamente no meio de declarações sobre o escândalo da Petrobras.
Há espaço, ainda, para a fotografia do presidente reeleito da Bolívia, Evo Morales, envergando a bata tradicional na cerimônia indígena que antecede sua posse. Com exceção do Estado de S. Paulo, os jornais expõem na primeira página a imagem de Morales junto a xamãs nativos, acompanhada de textos que mal dissimulam o preconceito. No Globo, o título do conjunto é: “Dom Evo I”. Na Folha de S.Paulo, o título chega próximo da zombaria: “Pelos poderes de Evo”, diz o jornal paulista.
A imprensa não suporta essa coisa de indígena fora de reservas, ocupando palácio de governo e resolvendo problemas centenários de seus países.
Como se vê, há uma série de elementos a serem observados nas escolhas dos editores. Um dos aspectos mais interessantes é o posicionamento que a imprensa faz dos principais protagonistas da cena pública.
Evo Morales, que vai para seu terceiro mandato com um histórico de êxitos na recuperação da economia e da autoestima dos bolivianos, é retratado como uma aberração excêntrica, numa América Latina cuja elite se imagina europeia. A presidente do Brasil vira personagem secundária na crônica do poder. Por outro lado, o governador de São Paulo, responsável direto pela crise que ameaça o bem-estar de milhões de cidadãos, é retirado de cena quando deveria estar respondendo perguntas incômodas, porém cruciais.
Racionamento de fato
Se a imprensa aprova as medidas anunciadas pelo governo federal, o destaque vai para o ministro da Fazenda. Se a imprensa se vê na contingência de reconhecer o descalabro na gestão dos recursos hídricos e no sistema de distribuição de energia em território paulista, o foco vai para auxiliares do segundo ou terceiro escalão. O governador Geraldo Alckmin aparece apenas para criticar a empresa responsável pela gestão da energia, AES Eletropaulo, numa clara manobra para criar um novo foco de atenção e desviar do Palácio dos Bandeirantes o olhar crítico do público.
O isolamento da presidente Dilma Rousseff no noticiário sobre medidas econômicas (que a imprensa apoia) vem acompanhado de comentários que amplificam supostas reações de dirigentes de seu partido às medidas anunciadas pelo ministro da Fazenda. Assim, o leitor é induzido a pensar que Joaquim Levy conduz a economia à revelia da presidente e contra a orientação do partido que a reconduziu ao poder.
No caso paulista, quem vai para a frente da batalha comunicacional é o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, que em artigo na Folha de S.Paulo tenta convencer o cidadão de que não há racionamento de água, mas pode vir a acontecer. Aproveita para reconhecer que a principal causa da crise hídrica é a fartura de vazamentos na tubulação. São 64 mil quilômetros de tubos enterrados sob o asfalto da região metropolitana, uma extensão correspondente a uma volta e meia em torno do planeta.
O presidente da Sabesp só não explica por que seu chefe, o governador Geraldo Alckmin, não exigiu que a empresa corrigisse essa deficiência desde a primeira vez que ocupou o Palácio dos Bandeirantes, em 2001. E a Folha de S.Paulo esquece que publicou no dia 12 de outubro de 2003, um domingo (ver aqui), uma reportagem na qual alertava para o fato de que, se nada fosse feito para reduzir as perdas, a região metropolitana só teria água até o ano de 2010.
Nada foi feito. Tudo que sai dos mananciais do sistema Cantareira se perde nos vazamentos. A Sabesp raciona a água, a imprensa faz o racionamento dos fatos.

Fonte: OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA

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Fatos, notícias , comunicação e  linguagem.

Tudo acontece de acordo com os interesses dos veículos da velha mídia , independente da verdade ou da relevância dos fatos.


Um trabalho diário, constante, de manipulação da realidade, ora por omissão, ora por distorção.


E ainda , longos textos em matérias impressas ou faladas que pouco acrescentam, inconclusivos que  induzem o leitor /ouvinte às conclusões desejadas.


O coisa alguma passa a ser a notícia , e a notícia de fato nem nas entrelinhas aparece.


Imagina-se um significado que o leitor ou ouvinte deve compreender como notícia, e, a partir daí, se constrói uma narrativa , repleta de vazios e preconceitos.


A respeito desse tema, e também da comunicação e da linguagem de uma maneira geral,   O PAPIRO sugere a leitura do texto abaixo, da série Diários de Botequim - Comunicação. Atenção !  Atenção !  Atenção ! - publicado por este  blogue em 24 de outubro de 2012.

Diários de Botequim - 3 

 

Comunicação.    Atenção! Atenção ! Atenção !




Era apenas mais um dia, somente um dia.

Uma tarde noite de sexta-feira, não diferente de outras tantas naquele lugar, com aquelas pessoas.

No bar referência lá estavam Miltão, Ciro, Cardoso, Jadir, Nelsinho e Eu.

Início de verão, calor e muta gente pelas ruas em um clima típico de Rio de Janeiro.

Embalados pela energia típica daquela hora do dia discutíamos, ou pensávamos que discutíamos, de tudo, sobre tudo, até mesmo sobre o impossível silêncio para um momento daqueles.

Foi quando, de repente, mas como de costume, Miltão disparou contra Nelsinho:

- você tem uma tremenda dificuldade de entender o que as pessoas falam. Isso irrita. Só faz pergunta idiota

Ciro, tentando aliviar o pobre Nelsinho, que apenas ria, acabou entregando ainda mais o rapaz:

- esse cara é um terror, disse Ciro sobre Nelsinho. Continuou.
Semana passada a gente encostou em duas meninas aqui no bar e puxamos uma conversa.
Quando o papo começou a engrenar, Nelsinho deu um tremendo corte em uma delas.
A menina disse que a capital da Turquia era Istambul e ele, querendo aparecer, acabou fazendo merda.
Corrigiu a garota em cima do lance, fazendo com que ela ficasse sem graça e com isso inibiu a conversa e esfriou o clima

- isso é uma anta, disse Jadir.

Ciro continuou.
Mas o pior aconteceu ontem. Mais uma vez fomos naquele baile lá da Tijuca. De repente, Nelsinho veio ansioso em minha direção dizendo ter visto duas mulheres sozinhas em uma mesa. Fui conferir, claro. De fato elas estavam sós. Nos posicionamos perto, esperando a orquestra voltar a tocar pra poder tirar pra dançar. Logo que a orquestra iniciou tiramos as mulheres que aceitaram na boa.
De repente, mais ou menos três ou cinco minutos depois, no final da primeira música, vejo Nelsinho em pé, sozinho e a mulher dançando com outro. Continuei dançando por mais de meia hora, engatei um bom papo e ainda troquei telefone. Depois fui perguntar pro Nelsinho o que aconteceu, por que ele parou tão rápido. Então ele me disse que resolveu puxar uma conversa mas deu confusão. Ele, de cara sabe o que perguntou para a mulher ?

Você tem nome ?

A mulher se espantou e disparou pra cima dele dizendo que óbvio que tinha. Já começa errado, criando estresse. Enquanto Ciro falava, Nelsinho apenas ria. Por causa disso ela descartou ele no final da primeira música.

- isso é uma anta, disse Jadir


- eu acho que ele fica nervoso, ansioso e acaba falando besteira, disse Miltão
O assunto então mudou e entrou na esfera da comunicação, exatamente no momento em que Tadeu se aproxima da mesa.

Tadeu é o rico da turma.

Executivo de Recursos Humanos em uma multinacional, bom de conversa e extremamente irônico.

Certo dia, por causa de sua ironia quase chegou as vias de fato com Miltão.

Ambos tem personalidade forte e vivem se estranhando.

Jadir e Cardoso, sempre se colocam ao lado de Miltão, fazendo com que também tenham diferenças com Tadeu.

Tadeu chegou, com sua pasta de trabalho, e sentou-se ao meu lado, mas na cabeceira da mesa no lado oposto de Miltão.

Inicialmente prestava atenção na conversa, até que entrou no debate.

- isso é muto comum. Nelsinho não é o único. Ele pode extrapolar, por vezes, mas a comunicação eficaz não é algo tão simples. Hoje mesmo, ministrei, aqui mesmo em um hotel do bairro, um seminário, de seis horas, como os vinte maiores e mais importantes executivos da empresa. E o assunto foi exatamente comunicação. E olha que são pessoas que trabalham com informações e tomam decisões importantes. Aliás, eu tenho aqui um dos exercícios que fizemos. Vocês topam fazer ? É coisa simples, um pequeno texto que vocês vão ter de dizer o que entenderam sobre o texto e, caso queiram, arriscar o personagem da história, disse enquanto retirava as folha e distribuía para todos na mesa

- já que é um texto pequeno , tudo bem, disse Miltão, no que foi seguido por todos.

- OK. Aí vai, uma cópia pra cada um.





                                         Minha  História

Hoje, mais uma vez como de outras vezes, vou conversar com vocês sobre um assunto bem interessante. Certamente, e é normal que seja assim, vocês devem estar se perguntando sobre o tema do dia. Enquanto vou alinhavando essas palavras iniciais, me pergunto, e até mesmo sugiro se me permitem, se vocês estão bem relaxados e confortáveis. Hoje, como em quase todas as ocasiões em que me dirijo a vocês, vou conversar com vocês sobre vivências, experiências, aventuras. Ahhhh! e como são interessantes as aventuras. Elas começam bem cedo, para tudo e todos e, obviamente, para mim não foi diferente. E que aventuras tenho para contar para vocês. No início, e como são belos os inícios, tudo era ainda muito discreto, ocupava poucos espaços e merecia cuidados especiais. Não imaginava, assim como vocês podem imaginar a medida que avanço na história, que poderia atingir um estágio de fama, lendas e histórias, a ponto de impactar profundamente toda a civilização. As mãos delicadas, cuidadosas, proporcionaram  para mim meus primeiros momentos de presença, de graça. Hoje, em mais um início que se estende até o fim dos inícios, despertei agitado, rebelde para logo depois, pouco tempo depois, encontrar meu equilíbrio, minha forma e minha graça. Alcancei um estágio de minha existência em que poucos, bem poucos, poderiam interferir na minha maneira de ser. E como é bom ser assim, devem vocês estar pensando. Como é bom poder escolher meus caminhos, ocupar os espaços, definir as cores. Vocês, a medida que aprofundo no tema, sobre experiências, aventuras e vivências, certamente vão encontrando seus próprios caminhos , suas realidades, suas cores, suas vivências. Tenho plena convicção que me tornei uma lenda e, para algumas pessoas represento a alegria, a vida, a beleza enquanto que para outros posso ser comparado como uma grande frustração. Alguns me adoram, cuidam bem de mim, me admiram, enquanto outros me detestam a ponto de me expulsar de suas vidas para sempre. É o preço da lenda, devem vocês estar pensando, com certeza. Nessa longa história, de experiências, vivências e aventuras  já fiz muito e alcancei grande destaque. E como é bom fazer, ver os resultados concretos, atingir suas metas e objetivos. Vocês, certamente, também já produziram excelentes resultados e a medida que continuo minha história , vocês podem , até mesmo agora, ou em outra ocasião se assim desejarem, pensar sobre os grandes feitos e ainda sobre aqueles que podem alcançar. Quero dizer para vocês, já que se trata de uma longa história, que para relatar todos os grandes eventos seriam necessárias muitas e muitas conversas, assim sendo procurarei citar, de forma geral,meus momentos mais impactantes. Afirmo, sem medo de errar e com a coragem de acertar, que já fui responsável por um dos momentos mais belos do amor. Ahhh! e como o amor é belo. Digo, também, que vivi um momento em que mudei o mundo, transformei as pessoas, assustei os defensores do atraso. Em outra ocasião fui a força do guerreiro, a força que vocês tem para alcançar suas metas e objetivos. Hoje, já bem conhecido , posso afirmar que tenho todas as cores, todas as formas e , sem de receio ou medo de ser ousado, e como é bom ser ousado podem vocês estar pensando, também posso afirmar que sou arte, pura arte, diversas formas de arte em todas as formas possíveis. Minha existência é a minha história, e como sou eterno, pois mitos e lendas são eternos e também sou lendas e mitos , faço por criar todas as emoções nas pessoas, as mais variadas possíveis e imagináveis. Ahhh ! como as mulheres gostam de mim, que carinho e cuidado eles tem por mim. Isso não significa dizer que os homens não gostem, aliás eles se revelam , em relação a mim,de forma mais discreta, silenciosa. Essa história , que vocês certamente leem com toda atenção, e que é a minha história, também tem um final, ou vários finais. Em todo o final, e estamos bem próximo dele, de um deles, talvez, é necessário e importante saber que um mito não tem fim. Muitos, e são de fato muitos homens e mulheres, também lucram , e lucram muito, através de mim ou comigo mesmo. Isso não significa o fim, significa , apenas, o lucro, ou a necessidade. O final pode chegar bem cedo ou ,em muitos casos, talvez na maioria deles,  coincida com o final inexorável. E já que estamos falando de uma história de vivências, aventuras e experiências e próximos do fim, desejo que todos vocês recolham os mais variados ensinamentos, de maneira que possam ser utilizados no desenvolvimento de novas habilidades e competências em cada um, antes do final e bem antes do processo do fim. Essa história, rica em elementos , é a minha história, escrita com a minha autorização. 


Todos terminaram a leitura, foram colocando a folha de lado mas ninguém iniciava uma resposta.

Tadeu se dirigiu para Ciro e perguntou.

- o que você achou 

 - não sei. pode ser muita coisa. Parece que é alguém importante, mas não vou arriscar.
  
 - e você ? Disse Tadeu se dirigindo para mim.

- vou acompanhar o Ciro, disse.

- e você, Nelsinho, o que achou ?

- eu acho que é a história de Jesus Cristo . Tem tudo a ver, disse Nelsinho.

 - para de falar asneira, disparou Miltão e continuou. Que Jesus Cristo, cara, parece que não sabe ler. Está claro para mim que o texto fala de alguém importante, pode ser um artista no que acredito que seja, mas o mais importante é que diz respeito de alguém que se revela, saindo do armário . Essa história de Ahhh, o amor é belo é coisa de viado. Isso é texto de um boiola, esse negócio de todas as cores . Pra mim tá escancarado.

Jadir e Cardoso endossaram o comentário de Miltão.  

Tadeu então tomou a iniciativa.  

- esse texto eu apresentei hoje para os vinte maiores executivos da empresa e apenas dez, 50%, apresentaram a resposta certa. E eu estou falando de pessoas que trabalham com informações e tomam decisões com base em análises e relatórios. Descobrir o personagem da história não é o mais importante, mesmo porque o texto não é conclusivo a esse respeito. Muitas pessoas podem ter uma história como essa, ou parte de uma história dessas. Tive respostas de Jesus, assim como Nelsinho, Che Guevara, John Lennon, Madona e até Santos Dumont. Mas isso não é o importante. Claro que o autor, ao elaborar o texto pensou em alguém, ou em algo , para a elaboração. 
O personagem do texto é o cabelo. 
Vejam só:

" no início tudo era muito discreto, ocupava pucos espaços e recebia cuidados especias"  tudo mundo nasce com pouco cabelo e os pais tem mimos e cuidados.
  
" alcançar um estágio de fama " são inúmeras as lendas e histórias sobre cabelo.
  
" as mãos delicadas cuidadosas proporcionaram para mim meus primeiros momentos de graça "  o cuidado dos pais nos penteados das crianças.
  
" hoje, em mais um início, despertei agitado, rebelde, para logo depois encontrar o equilíbrio " todos os dias pela manhã, e os dias são inícios, os cabelos amanhecem agitados desalinhados para depois serem penteados, o equilíbrio.
  
"para muitas pessoas represento a alegria , a vida a beleza para outros sou a frustração" mutas pessoas adoram seus cabelos , já outras são frustrados com o cabelo que tem.
  
" já fui responsável por um dos momentos mais belos do amor " é uma referência a história das tranças de Rapunsel 

" mudei o mundo, transformei as pessoas , assustei os defensores do atraso " é uma referência as transformações sociais da década de 1960, quando passamos a usar cabelos longos e assustar os conservadores.
  
" hoje tem todas as cores todas as formas e sou arte " pessoas usam cabelos de todas as cores e desenhos artísticos 

" em outra ocasião fui a força do guerreiro"  uma referência a história de Sansão.

Entenderam, perguntou Tadeu e continuou. 
Não vou especificar até  final do texto, mas todo ele é sobre o cabelo, não fala de nenhuma pessoa. Isso mostra o efeito da comunicação· No nosso caso, apenas Ciro e ele, disse apontando para mim, se aproximaram da resposta certa, que é a seguinte:
 

O texto não permite afirmar de quem se trata. São informações generalistas. E 50% dos maiores executivos de uma transnacional não perceberam isso.  Quem usa muito essa característica de comunicação é a imprensa, quando deseja induzir ou manipular informações. Outro aspecto também diz respeito ao nosso idioma, o português. Por ser um idioma muito rico, ao contrário do inglês, permite elaborações e construções que podem condenar um inocente ou absolver um culpado, em rígida concordância com as normas de expressão e atendimento as leis. Existe ainda uma tese, apenas uma tese, que estabelece relação entre o  desenvolvimento de países com o idioma. Segundo essa tese os países de língua inglesa se desenvolveram mais rápido por causa do idioma e do investimento em educação. 

Então, não apenas vocês aqui que não acertaram como também os executivos lá empresa, responderam aquilo que vocês desejaram, aquilo que estava na cabeça de vocês, ou seja, relataram suas próprias experiências de vida através de suas respostas.

 Nesse momento , Miltão colocou as duas mãos apoiando sobre a mesa, em uma posição de alguém que iria se levantar e disparou contra Tadeu:

- escuta aqui, ô cara. Você está querendo curtir com a cara da gente ? Tá pensando que eu sou babaca ? Tá dizendo que eu sou viado ?

 - eu não disse nada, você que disse que o texto era cosia de um viado, boiola. Tá surdo ? Tá maluco ? falou Tadeu.

 O clima esquentou. Miltão se levantou da mesa apontando o dedo para Tadeu. O estresse foi total. Jadir e Cardoso, como de costume seguiram Miltão que já estava com o rosto vermelho de raiva e ainda disse;


- seu repertório esgotou, vou te encher de porrada.

Ciro se colocou na frente de Miltão tentando segurar a fera, enquanto as pessoas das mesas mais próximas se levantaram com receio de um quebra- quebra.

Jadir e Cardoso também queriam acertar Tadeu.

Ciro e Nelsinho, com muita dificuldade impediam que os três partissem para cima de Tadeu e,  ao mesmo tempo, Ciro pedia para que eu levasse Tadeu embora dali

Foi o que fiz.

Puxei Tadeu e fomos caminhado pelas ruas do bairro até sua casa.

Durante o caminho ainda tentamos trocar algumas palavras, mas não foi possível.

Não conseguíamos parar de rir.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Produtos da moda produzidos por escravos

Trabalho escravo: os grilhões ocultos da elite brasileira

A sustentabilidade do desenvolvimento sob os aspectos ambiental, econômico e humano tornou-se lugar-comum de uso proveitoso, sem o qual não se atinge a desejável respeitabilidade da opinião pública. São palavras ao vento com interesses econômicos acaçapados
17/12/2013
Por Tiago Muniz Cavalcanti 
Se o assunto é a transformação da realidade social, a dissimulação é a tônica dentre os detentores do poder econômico. O discurso é o mesmo e já não comove: prega-se o respeito ao meio ambiente, à concorrência leal e às leis trabalhistas. A sustentabilidade do desenvolvimento sob os aspectos ambiental, econômico e humano tornou-se lugar-comum de uso proveitoso, sem o qual não se atinge a desejável respeitabilidade da opinião pública. São palavras ao vento com interesses econômicos acaçapados.
É assim na indústria da moda. Grandes grifes hasteiam a bandeira da responsabilidade social, do respeito, do comportamento ético e do compromisso com a verdade. Criam códigos de conduta que contemplam missões, valores e princípios dignos de um Estado Democrático de Direito e, com isso, vinculam sua imagem à probidade, ao decoro e aos direitos humanos. Contam com público fiel à marca e ao estilo de vida que lhe corresponde.
Mascara-se, no entanto, uma realidade cruel e pungente: uma produção barata e degradante. Pulveriza-se intensamente a cadeia produtiva: contrata-se e subcontrata-se, dissipando-se os riscos da atividade. Negocia-se a prestação dos serviços sob o rótulo de relações estritamente comerciais. Paga-se pouco, muito pouco: o limite necessário para garantir o lucro máximo.
A consequência não é outra, senão uma tragédia social. Milhares de costureiros, brasileiros e imigrantes, homens e mulheres, socialmente vulneráveis, submetidos a condições de trabalho ofensivas à dignidade. Espremidas em um pequeno imóvel localizado na zona central da cidade de São Paulo, as famílias residem em habitações coletivas e trabalham diuturnamente em manifesta degradação, expostas a riscos iminentes de incêndio e eletrocussão.
À geração de riquezas econômicas não corresponde correlata inserção social da pessoa trabalhadora, função primária da labuta humana. Trata-se de trabalho escravo na cadeia das grifes de grande renome e indubitável solidez econômica. Uma escravidão estrutural, pautada na degradação humana. Uma escravidão perspicaz, cuja vítima desconhece seu algoz. Uma escravidão social pós-moderna, onde os grilhões não estão visíveis aos olhos da sociedade. Uma escravidão impune.
Trabalho escravo contemporâneo
Não raro, os escravagistas pós-modernos, que ditam as regras de um mercado nefasto, saem ilesos nas ações judiciais que lhes são movidas. Mais das vezes, o Judiciário afasta a responsabilidade jurídica daqueles que contribuem diretamente para o ilícito, seja por desconhecer o conceito contemporâneo de trabalho escravo, seja por aceitar as escusas defensivas das grandes grifes, que possuem notória capacidade de mobilização político-jurídica em prol dos seus interesses e invariavelmente alegam desconhecimento do fato. Seja, ainda, por pura ideologia.
Foi o que ocorreu em recente decisão do TRT da 2ª Região (São Paulo/SP) que, em sede de mandado de segurança, utilizado como via de recorribilidade interlocutória, já prejulgou o caso posto e afastou a responsabilidade da grande grife. Os fundamentos não são novos: os trabalhadores resgatados possuíam “empresa regularmente constituída”; inexistência “de qualquer forma de intimidação visando restringir a liberdade de locomoção”; e, mais grave, nas condições a que estavam submetidas as vítimas, “vive grande parte da população brasileira”. Como se vê, a decisão mostra-se conservadora sob os aspectos jurídico e social.
A primazia da realidade cedeu à roupagem do formalismo e ao tecnicismo da teoria geral dos contratos mercantis. Desconsiderou-se a robustez das provas colhidas na diligência promovida pelos órgãos públicos fiscalizadores, que não deixava margem a dúvidas quanto ao comando e logística traçados pela grife, beneficiária direta da mão de obra das vítimas que produziam exclusivamente para a marca.
Trabalho-escravo-grifes
Olvidou-se o emérito julgador que o bem jurídico tutelado pelo trabalho escravo se transmudou na sua acepção contemporânea. Atualmente, não mais se exige a presença de instrumentos restritivos da liberdade, como práticas usuais de outrora, mas condições aviltantes à dignidade da pessoa trabalhadora provenientes da disparidade socioeconômica entre vítima e escravocrata moderno. A dignidade humana passou a ser, portanto, o bem jurídico protegido pelo crime de redução à condição análoga à de escravo, podendo ser atingida – inclusive, e não apenas – pela restrição da liberdade de ir e vir.
O último fundamento da decisão talvez seja o mais preocupante, pois traz consigo um preconceito ínsito. Um preconceito de classe. Afastar a característica degradante pelo simples fato de que grande parte da população brasileira também vive em condições precárias, inseguras e compartilhando cômodos revela o pensamento excludente que pauta grande parte da elite brasileira. Trocando em miúdos, é dar aos pobres a pobreza; aos miseráveis, a miséria.
É mais aceitável absolver do que condenar. É mais fácil não enxergar o elo existente entre as regras impostas de cima para baixo e as condições precárias de trabalho. É mais confortável virar as costas para o necessário processo de aprimoramento contínuo de uma cadeia marcada pela escravidão pós-moderna.
Trabalhadores em oficina que produzia para a Marisa
É inegável que a tomadora final dos serviços prestados lá embaixo, em condições subumanas, se omitiu no seu dever social, jurídico e cívico de conhecer os métodos materiais e humanos utilizados para a confecção dos produtos que encomenda. Não se preocupou em aferir a real capacidade produtiva daqueles que lhe prestam serviços e não teve interesse, sequer, em verificar como seu produto foi fabricado. Beneficiou-se diretamente da força de trabalho de toda a cadeia produtiva, mas deliberadamente fechou os olhos para as condições da produção, pondo-se em condição de ignorância. Trata-se de uma cegueira absolutamente proposital em face daquilo que ocorre ao seu redor.
A situação exige reflexão. Demanda colaboração da sociedade civil organizada, dos órgãos públicos responsáveis pela luta contra a escravidão e, especialmente, do Judiciário. Impõe-se que os magistrados assumam um papel político proativo, tomando para si o dever de contribuir para a transformação da realidade social. É mister, em arremate, desvelar a omissão culposa da elite da moda e arrebentar os grilhões camuflados que acorrentam milhares de trabalhadores brasileiros.
*Tiago Muniz Cavalcanti que é procurador do Trabalho em São Paulo e membro da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (Conaet) do Ministério Público do Trabalho
Fonte: BRASIL DE FATO
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As grandes marcas de produtos e materiais esportivos, que se deslocam pelo mundo em busca de locais mais baratos para a produção de seus produtos, são as campeãs do trabalho escravo.

Impressiona que muitos atletas, conhecidos em todo o mundo, façam propagandas desses produtos.

Não apenas atletas, como celebridades, atores  e pessoas formadoras de opinião para uma aprcela da sociedade.

A velha mídia, como de costume, nada informa sobre a barbárie crescente no mundo que é a prática da escravidão de pessoas para produção de bens de consumo.

Aliás, muitos desses produtos , de marcas famosas, são grandes anunciantes das emissoras de rádio e TV.

A respeito desse tema, O PAPIRO sugere a leitura do conto abaixo - O Sucesso de Maria das Graças - da série do PAPIRO, Rio Zona Norte, publicado neste blogue em 24 de agosto de 2012.

O conto aborda questões de trabalho escravo, mobilidade urbana e patologias sociais.



Rio Zona Norte - 5 


O Sucesso de Maria das Graças


Em mais um dia, como em todos os outros dias da semana, Maria das Graças , pontualmente às seis horas da manhã aguarda, de pé em uma fila, o coletivo que a levará para seu trabalho. 

Jovem, bonita, simples, de bom astral, paupérrima e vivendo na baixada fluminense, ficará por volta de uma hora no ônibus até chegar no seu local de trabalho, no bairro da Penha, zona norte da cidade do Rio de Janeiro.  

Na plenitude de seus vinte anos de idade, a jovem  que deixou sua cidade natal e sua família no interior do estado de Tocantins ainda com dezessete anos fugindo da pobreza extrema para tentar a sorte na cidade maravilhosa, alimenta sonhos, planos e esperanças de uma vida melhor. 

Uma vida que ela vê, ouve , diariamente nas mídias, como sendo o ideal para qualquer pessoa que queira ser feliz e alcançar o sucesso. 

Vivendo em uma pequena casa de apenas um cômodo , em que paga aluguel  e sobrevive com o salário mínimo que recebe pelo trabalho de operária em uma fábrica de roupas esportivas, espera um dia ser uma vencedora, uma mulher chique, bem cuidada e se possível famosa como os exemplos de seus ídolos das novelas e programas de TV, que saíram de baixo, lutaram e alcançaram o sol. 

Nem sempre, mesmo chegando com antecedência na fila do ônibus, Maria das Graças consegue fazer a viagem sentada, confortável, ainda que os coletivos não tenham ar condicionado e o calor na região  costuma ser infernal mesmo nas primeiras horas do dia, o que , por vezes, faz com que chegue ao local de trabalho já cansada. 

Responsável e dedicada, nos dois anos em que trabalha na fábrica jamais chegou atrasada ou foi repreendida por mau comportamento ou qualquer infração no seu trabalho. 

Cumpre, diariamente, de segunda a sábado, uma jornada de doze horas de trabalho, das sete horas da manhã às sete da noite, tendo quinze minutos antes de iniciar o trabalho para um lanche, uma hora para o almoço, e mais quinze minutos na parte da tarde para outro lanche. 

A fábrica é terceirizada de uma gigante transnacional de material esportivo que tem alguns de seus ídolos como garotos propaganda de seus produtos. 

A maioria das operárias é de mulheres, jovens, com o mesmo perfil de Maria das Graças. 

O trabalho é extremamente cansativo, repetitivo e as condições do local são totalmente inadequadas, no tocante a temperatura ambiente, o calor é constante,  as instalações, as cores da edificação e equipamentos, excesso de ruído e condições mínimas de segurança. 

Os sanitários não tem uma higiene adequada e os aspectos ergonômicos para execução do trabalho baseiam-se em improvisações. 

As equipes de operárias são divididas, no local de trabalho, em estações onde dez meninas realizam tarefas de corte e costura de tecidos. 

Para cada estação existe um supervisor que fiscaliza , em tempo integral, o trabalho e a produção das meninas, não permitindo qualquer tipo de conversa que possa levar a uma interrupção no ritmo de produção. 

Saídas para o banheiro são acompanhadas por uma supervisora , exclusiva para esse fim. 

As meninas só podem conversar um pouco, nos horários de lanche, e no tempo que sobra da hora de almoço, que aliás, assim como os lanches,  é oferecido no restaurante da empresa  e descontado no salário das operárias.  

Muitas operárias preferem trazer o almoço de casa, não apenas para economizar o almoço da empresa, como também pela péssima qualidade das refeições oferecidas. 

A empresa , sequer disponibiliza um local para que as operárias possam aquecer suas marmitas. 

Maria das Graças tornou-se uma referência na sua estação,ou seja no seu grupo de dez operárias. 

Sempre feliz, esbanjando simpatia e acreditando na vida, sua presença quebra, pelo menos em parte, o clima de terror dentro daquela fábrica . 

Entoando canções, em voz bem baixa mas percebidas pelas outras nove enquanto realiza suas tarefas, cria uma atmosfera de paz e otimismo que ajuda a superar a dura realidade em que vivem.  

Nos horários de  lanche e almoço, sempre pode ser vista como o centro das atenções para as colegas da estação, que se encantam e adquirem forças com o alto astral de Maria das Graças. 

Na hora em que deixam a fábrica, já do lado de fora, conversam rapidamente antes que cada uma tome seu destino. 

Nesse momento, como de costume , Maria das Graças é vista , no centro da roda  e as demais sorrindo , felizes com suas histórias. 

Em um outro dia, o coletivo que conduzia a jovem para o trabalho quebrou durante o percurso, o que fez com que Maria das Graças tivesse que aguardar um outro coletivo e com isso chegasse atrasada, pela primeira vez em dois anos, no seu trabalho. 

Antes de assumir seu posto na estação, foi chamada pela gerência e advertida que caso o atraso se repetisse seria demitida por justa causa. 

Ainda foi informada que os setenta minutos de atraso daquele dia seriam descontados de seu salário. 

Não se abateu, assumiu seu posto e realizou suas tarefas com as competência e dedicação costumeiras. 

Conversou com as colegas da estação, que ficaram revoltadas com o tratamento dado a menina, já que não tivera nenhuma culpa ou  responsabilidade pelo que tinha ocorrido. 

Maria das Graças não comprou a revolta, preferiu esquecer o assunto e conversar sobre a novela das nove que ela tanto adorava e não perdia um capítulo. 

Reunidas na porta da fábrica, já na saída para casa nem parecia que a jovem tinha sido advertida, ameaçada de perder o emprego e ter sua ficha manchada. 

No dia seguinte, pontualmente as seis horas da manhã, lá estava a jovem embarcando no coletivo que a levaria para seu trabalho. 

Não poderia imaginar o que aconteceria na viagem. 

Desta vez, sentada no banco ao lado da janela, sonhava e fazia planos caso ficasse rica.
Tinha certeza que ficaria, era uma questão de tempo, pouco tempo. 

E foi em pouco tempo que tudo mudou dentro coletivo. 

Dois homens armados anunciaram um assalto, isso em um ônibus cheio, porém não lotado, mas com pessoas de pé. 

A menina entrou em pânico e ficou paralisada, era a primeira vez que vivia a experiência, de que já tivera conhecimento pelos programas de TV que tanto adorava e os tinha como referência. 

O passageiro ao seu lado, um senhor também ficou imóvel. 

De repente, um passageiro reagiu e sacou uma arma , dando início a um tiroteio dentro do coletivo. 

O passageiro ao lado da jovem tentou se proteger rapidamente, jogando a parte de cima de seu corpo, o tronco, quase que no colo de Maria das Graças. 

Terminado o tiroteio e  tendo os assaltantes sido imobilizados, o passageiro ao lado de Maria das Graças estava imóvel, já morto, com um tiro na cabeça que acabou servindo como um escudo para o peito da jovem, o  provável destino daquele projétil. 

A menina , com a roupa já suja de sangue do senhor morto, tentava sair do local, o que conseguiu com a ajuda de outro passageiro e  a ação de alguns policiais que passavam pelo local e prenderam os assaltantes. 

Traumatizada, porém sem ferimentos, conseguiu sair do coletivo,e com as roupas sujas de sangue, foi para seu trabalho, desta vez chegando quase que na hora do almoço, por causa dos tramites legais que acompanham casos como este. 

As colegas da estação ficaram chocadas com a história contada pela jovem e deram todo apoio , carinho a atenção na tentativa de amenizar o trauma da menina. 

Não faltaram abraços e beijos para acalmar a querida amiga. 

Entretanto, a gerência chamou Maria das Graças para se explicar do segundo atraso, agora de  quatro horas, em dois dias seguidos. 

A jovem, com as provas do terror em suas roupas, explicou todo o ocorrido e ainda indicou a delegacia onde se processou o registro de ocorrência com o seu nome. 

De nada adiantou. 

Maria das Graças foi demitida por justa causa, sem direito a nenhuma indenização. 

As colegas da estação, quando souberam da demissão da amiga ficaram ainda mais revoltadas, mas nada puderam fazer a não ser chorar e consolar a jovem, que apesar de perder o emprego não demonstrava irritação, revolta ou tristeza. 

O pior ela já tinha passado, ou pensou que tinha sido o pior. 

A tristeza tomou conta das colegas de estação , não mais teriam a alegria de Maria das Graças, uma igual a elas, para amenizar o terror daquela fábrica. 

A jovem foi para casa, fora um dia estressante, deitou na cama e dormiu sem se preocupar com horário. 

Mesmo assim acordou cedo no dia e seguinte e começou a pensar em conseguir trabalho. 
Antes disso teve tempo para fazer o que não fazia nos dias de trabalho, foi a padaria, no mercado fazer umas comprinhas e ainda fez uma aposta em uma casa lotérica. 

Cantando , a jovem não perdeu tempo nem se lamentou. 

No dia seguinte, bem cedo, já estava em uma agência de empregos se candidatando a um novo emprego. 

Preencheu fichas, fez entrevistas e conseguiu um emprego de balconista em uma lanchonete  na Gávea, zona sul do Rio de janeiro. 

Deveria começar em três dias, porém a aposta de loteria que fizera no dia anterior mudou totalmente sua vida. 

Acertou as dezenas premiadas e ganhou uma quantia que lhe garantia a independência financeira. 

Maria das Graças explodiu em felicidade. 

Sorria, cantava, chorava sozinha em sua casa, mostrando toda sua beleza. 

Nada falou sobre o prêmio, nem para vizinhos ou com as  amigas da estação que não via desde o dia em que fora demitida. 

Com a quantia ganha a jovem, esperta e segura voltou para sua cidade natal , no interior do estado de Tocantins. 

Lá, com o auxílio da família, aplicou o dinheiro em imóveis, comprou uma casa nova para ela e os pais , e garantiu a independência financeira para a família. 

Tinha agora, como renda, de suas aplicações vinte vezes o salário que recebia na fábrica. 

Era uma vida confortável para eles.
Passaram seis meses de sua saída da fábrica e Maria das Graças tinha outra aparência.
Usava roupas  idênticas aos personagens de suas novelas favoritas, comprova produtos de beleza e fazia os tratamentos de beleza sugeridos pelos comerciais de TV.
Estava ainda mais bonita e radiante. 

Resolveu ir ao Rio de janeiro, para passeio, e aproveitou para visitar as colegas da estação na fábrica do terror. 

Planejou chegar na fábrica no final do expediente pois poderia encontrá-las no lugar de sempre, ao lado , porém, não muito distante, do portão principal. 

E assim aconteceu. 

Avistando as colegas da estação, acenou , esbanjando a mesma alegria , simpatia  e simplicidadee humildade de costume, que em nada mudaram com a mudança de sua condição financeira. 

As nove colegas se aproximaram, não acreditando no que viam, e ficaram perplexas quando souberam de toda a história contada por Maria das Graças. 

Após ouvirem tudo foram se aproximando da jovem e inicialmente, sem nada combinado, começaram a rasgar sua roupa, agredí-la com socos e pontapés. 

A jovem , indefesa, estava quase desmaiando, semi nua, foi jogada ao chão, pisoteada e com uma pedra, uma das colegas bateu em seu rosto até afundar a face e o crânio, quase que esmagando. 

Outra, arrancou-lhe os olhos com as mãos enquanto as demais com pedaços  de pau tentavam furar seu corpo no abdômen.  

Saciadas, as nove colegas se retiraram, sem falar uma palavra umas com as outras e deixaram o corpo de Maria das Graças, mutilado, sem vida ao lado do portão principal da fábrica do terror.

Coronel com gelo

      No Tempo em que as propagandas eram compreensivas



               (Anúncio publicado no jornal O Estado de S.Paulo em 25/11/1947)

Fonte: FUTEPOCA
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Uma propaganda da marvada destinada aos jornalistas.

Cachaça Coronel, de luxo, anunciada em grande jornal como estimulante, desde que se beba apenas um gole, como afirma a propaganda
.
Normalmente as bebidas, quando anunciadas, não são dirigidas para uma determinada categoria profissional.

O que teria levado o pessoal da Coronel a anunciar , em jornal, a cachaça para jornalistas ?

Que o pessoal do FUTEPOCA e também do PAPIRO, considerem a propaganda compreensiva  com a categoria, a gente entende.

No entanto, Coronel, escancara hábitos dos jornalistas.

Aliás, ainda sobre cachaças, veja , abaixo, a diferença entre um praticante de yoga e alguém que exagerou na cachaça: