terça-feira, 8 de agosto de 2017

9 - Nossa imprensa esportiva...

Uma partida de futebol, sem muita importância, como é a maioria, rolava no Maraca. Um Fluminense x Bangu de dar sono, a não ser pela participação do narrador e do comentarista da tv. O time do Fluminense estava em decadência e o Bangu, sequer estava em alguma coisa. Terminado o primeiro tempo e o placar apontava vitória de 2x0 para o tricolor. Poucos minutos antes do início do segundo tempo, um diálogo sério e compenetrado , sim o diálogo foi sério e compenetrado, entre o narrador e comentarista. 

Vamos lá:

narrador : E aí , como está o jogo?

comentarista: Tá uma moleza só, tá certo ? Alí no meio passa tudo, tá entendendo ? O meio do Fluminense tá metendo todas nas costas do Bangu. Só tem baranga naquela defesa, tá certo ? É só encostar, tranquilo, toca a bola, tá certo ?, que mete mais . Agora, tem que tocar. Tocando é mais fácil.

narrador: Quer dizer que tá de bom tamanho ou cabe mais ? 


comentarista; Cabe, cabe. Cabe mais sim. Olha aqui, o que não pode é forçar. Tem que tocar, tá entendendo? Agora, por enquanto tá de bom tamanho, mas se se chegar junto, ali no meio, mete todas. Tem que trabalhar ali no meio e encostar, tá certo ?


narrador : Taí o que você queria. Bola rolando para o segundo tempo.
l0 - Nossa Imprensa Esportiva...

Uma partida de futebol acontecia normalmente. Como de costume, nossa briosa e animada imprensa radiofônica, disponibiliza profissionais no campo de jogo para informações mais precisas e repleta dos mais variados detalhes. Um repórter, daqueles que fica posicionado atrás dos gols, foi chamado pelo narrador para detalhar um lance. Ele começou bem a narrativa, seguiu com elegância mas o final foi uma tragédia. Tudo aconteceu quando um jogador de um dos times cobrou uma falta, bem perto da área do time adversário. O jogador que cobrou a falta tinha um chute violentíssimo que acabou acertando um jogador que estava na barreira· 

Aí vai o diálogo:

narrador - E aí fulano, o que vocẽ viu ?

repórter - Um falta cobrada com extrema violência atingiu as partes baixas de uma atleta que caiu , imediatamente, e grita de dores. Felizmente todo o departamento médico do clube já se posicionou para o atendimento ao atleta. Ao que parece ele sofreu falta de ar mas já se recupera lentamente. O serviço médico está aplicando um spray para amenizar a dor e flexionando as pernas do atleta. Esse é o único momento que quando um jogador sofre uma pancada não são permitidas massagens. É , meu amigo, bola com bola não é mole não. Informou Capemisa, as pessoas seguras são mais felizes.
ll - Nossa Imprensa Esportiva...


O ano era 1972. Comemorava-se no país os 150 anos da independência do Brasil. O sequiscentenário, palavra que criou alguns constrangimentos na imprensa esportiva. Para comemorar a data o Brasil sediou uma competição de futebol, chamada de Mini Copa do Mundo ou Copa Independência. Participaram do evento 16 seleções de futebol, divididas em quatro grupos, assim como acontecia na Copa do Mundo na época. Por uma ironia do destino, chegam  para disputar a grande finalíssima as seleções de Brasil e Portugal. No dia da grande final, com o Maraca lotado, tribuna de honra repleta de autoridades, no momento em que as seleções entravam em campo, um empolgado repórter de uma emissora de rádio saiu com essa :

" Brasil e Portugal em campo. Chega o grande momento do Brasil reafirmar sua independência, esse país que tem o presidente gente como a gente"

Detalhe : O presidente era o general Médici, em anos de tortura, violência e repressão.
l2 - Nossa imprensa esportiva....

Estávamos no ano de 1969, mais precisamente no dia em que o sol entrava no signo de câncer, que tem como planeta regente a Lua. Por uma dessas coincidências, naquele dia o homem pisaria pela primeira vez em solo lunar. O assunto dominava todas as rodas, assim como a possibilidade de assistir pela TV, ao vivo, a epopeia espacial. Em se tratando de anos da década de 1960, aqueles acontecimentos fantásticos do dia , seriam apenas alguns mais da década. Como o assunto dominava, nossa alegre, empolgada e eclética imprensa esportiva não poderia ficar de fora e resolveu mandar seus pitacos. O diálogo , que reproduzo abaixo, aconteceu entre um narrador e um comentarista, ambos empolgados, antes do início de uma partida de futebol no Maraca;

narrador - prezados ouvintes. Hoje a humanidade viverá um momento histórico. Pela primeira vez o homem pisará o solo da lua. Vejo que nosso comentarista, que acaba de entrar aqui na nossa cabine de transmissão, traz um pequeno aparelho de tv .


comentarista - De fato. mesmo não podendo assistir em minha residência, não irei perder esse momento histórico. Um momento que irá inaugurar uma nova fase de conquistas e que , no futuro, fará da lua um local para o homem construir cidades e bases para novas explorações espaciais.


narrador . Você não acha que a conquista da lua vai acabar com o romantismo que existe em torno do satélite ?

comentarista- Veja bem. O romantismo não acabará nunca ,mesmo com o homem conquistando a Lua. Ela ( a Lua ) que inspira poetas, apaixonados, que dá luz aos nossos imensos campos desse Brasil grande, que encanta a todos com sua beleza, continuará a ser a fonte inspiradora para os namorados. O que seria dos namorados sem a lua ? O romantismo não acabará nunca.

narrador . Muito bem !!! Muito Bem !!! Depois dessas sábias palavras lunáticas , vamos as escalações das duas equipes .



Eiiiiiiiiita, lunáticos !!
l3 - Nossa imprensa esportiva...


Poucos meses atrás todos nós lamentamos o falecimento de um grande jogador de futebol e , principalmente, de um grande homem. Morreu o Doutor Sócrates.

Vítima de complicações hepáticas, oriundas de consumo excessivo de bebidas alcoólicas, como assumido por ele mesmo, o Doutor deixa saudades. Saudades de seu elegante futebol e de suas firmes posições no campo político, sempre na defesa dos ideais democráticos. No dia de seu falecimento, ocorria um jogo do Corinthians, time que lhe deu grande expressão nacional. A partida era transmitida pela emissora que detêm a exclusividade de transmissão de jogos de futebol. No início, o minuto de silêncio teve os atletas do Corinthians repetindo o gesto do Doutor quando comemorava seus gols. Um braço com o punho cerrado para o alto e outro atrás nas costas. No momento da homenagem, forte e marcante nas telas de tv de todo país, apareciam logotipos, no alto do vídeo, das empresas que patrocinam as transmissões esportivas da tv que detêm a exclusividade de transmissão. Um deles era de cerveja.

A era dos raivosos




é exatamente o que acontece comigo, todos os dias, ao longo de anos. Um batalhão de acéfalos raivosos, comandados por alguns animadores de público ainda mais raivosos, descarregam sobre mim toda ignorância e toda raiva que habitam suas pobres e limitadas almas. Apesar do batalhão com suas ofensivas diárias, minhas opiniões prevalecem, não porque sejam melhores que as opiniões dos raivosos, mas prevalecem porque os raivosos não tem opinião. Tudo isso é um corte, talvez um retrato, de um pouco, ou muito, de aspectos comportamentais do Brasil atual. Quando confrontados com conceitos ou opiniões em que não possam ou não saibam como questionar, os raivosos atacam, de diferentes maneiras, aqueles que emitem tais conceitos e opiniões.

O grito Franciscano

O grito dos franciscanos e franciscanas do Brasil: “dirão que é comunismo, mas é Evangelho”
Publicado em 7 de agosto de 2017


Franciscanos e franciscana no Capítulo Nacional das Esteiras, em Aparecida

Um encontro histórico dos franciscanos e franciscanas de todo o Brasil proclamou em carta aprovada por unanimidade neste domingo (6) a adesão incondicional ao papado de Francisco e definiu como missão: “participar da reconstrução da Igreja com o Papa Francisco e reconstruir o Brasil em ruínas”. Trata-se de uma citação de um dos momentos mais conhecidos e cruciais da trajetória de São Francisco que, em 1205, na abandonada igreja de São Damião, em Assis, ao contemplar um crucifixo ouviu o que lhe parece uma mensagem direta: “Não vês como está a minha Igreja? Está em ruínas. Vai, e reconstrói a minha Igreja”. O mantra do encontro, repetido por quase todos os palestrantes e nas homilias durante as missas foi: voltar a Assis –retomar o espírito original de São Francisco.

Mais de mil franciscanos e franciscanas estiveram presentes à Conferência da Família Franciscana do Brasil, que se reuniu desde a quinta-feira (3) em Aparecida (SP). O “sabor de Francisco” convergiu com o reencontro dos parâmetros fundamentais da Teologia da Libertação latino-americana e, em sua carta, os franciscanos afirmaram em espírito de oração: “’Óh Mãe preta, óh Mariama, Claro que dirão, Mariama, que é política, que é subversão, que é comunismo. É Evangelho de Cristo, Mariama!’, ainda assim, invocamos suas bênçãos sobre toda a nossa família e sobre um Brasil sedento de Paz – fruto da justiça, do bem e da Misericórdia de Deus” –a frase é inspirada na “invocação a Mariama”, de dom Hélder Câmara. Leia a íntegra da Carta de Aparecida ao final.

Um dos trechos da carta é todo vazado a partir da melhor tradição da teologia latino-americana, severamente reprimida durante os 35 anos da restauração conservadora sob João Paulo II e Bento XVI: “A realidade ecológica e sócio-política-econômica do nosso país nos exige compromisso profético de denúncia e anúncio. Assistimos, tomados de ira sagrada, à violação dos direitos conquistados, através de muitos esforços, empenhos e articulação pelo povo brasileiro. Por isso, não podemos deixar de nos empenhar junto aos movimentos sociais na luta ‘por nenhum direito a menos’, contra golpes, reformas retrógadas e abusivas conduzidas por um governo ilegítimo, um parlamento divorciado dos interesses da população e uma justiça que tem se revelado fora dos parâmetros da equidade que no lugar de fortalecer o papel do Estado para atender às necessidade e os direitos do mais fragilizados, favorece os interesses do grande capital”.

Foram quatro dias marcados pela emoção e o compromisso, com representantes dos mais de 20 mil religiosos da Primeira Ordem (Frades Menores, Frades Menores Capuchinhos, Frades Menores Conventuais), da Segunda Ordem (Irmãs Clarissas), da Ordem Franciscana Secular (leigos), da Juventude Franciscana (leigos), da Terceira Ordem Regular (TOR), das Congregações e Movimentos simpatizantes de Francisco e Clara de Assis presentes no Brasil -se você quiser ler uma cobertura detalhada do encontro pode clica no site da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil(aqui).

O encontro teve o título de Capítulo Nacional das Esteiras, símbolo da simplicidade, pobreza e disponibilidade franciscana. O espírito de retomada esteve patente, conforme assinalou a carta: “As partilhas realizadas nesses dias nos levam a afirmar: vivemos um verdadeiro Pentecostes. Neste sentido, o Capítulo nos chamou a um revigoramento do Carisma e nos levou a fazer memória da herança, da inspiração originária que deu início ao movimento franciscano. A experiência das esteiras nos leva a retomar nossa vocação enquanto peregrinos e forasteiros.”

Franciscanos e franciscanas conclamaram à construção de “um novo horizonte utópico” fundado nas bases históricas do país “marcadas pelo sangue dos pobres e pequenos, indígenas, mulheres e jovens negros, por um extrativismo desmedido e destruidor, por uma economia que exclui a maioria, por destruição de povos, culturas e da natureza.”

Um dos centros da reflexão do encontro foi a Laudato si – sobre o cuidado da casa comum, encíclica de Francisco sobre o planeta, que se abre exatamente com uma oração de São Francisco: “’LAUDATO SI’, mi’ Signore – Louvado sejas, meu Senhor’, cantava São Francisco de Assis. Neste gracioso cântico, recordava-nos que a nossa casa comum se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços: ‘Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras’” –a íntegra da encíclica aqui.

[Mauro Lopes]

Leia a íntegra da carta dos franciscanos:

CARTA DE APARECIDA

“ Ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres. ” LS,49

A Conferência da Família Franciscana do Brasil, celebrando o Capitulo Nacional das Esteiras, consciente de sua missão de “levar ao mundo a misericórdia de Deus”, dirige-se a todas as pessoas de boa vontade: àquelas que continuam acreditando em um mundo de justiça e fraternidade e àquelas que, em meio às contradições e crueldades de nosso tempo, vivem a dor da desilusão e da falta de esperança.

As partilhas realizadas nesses dias nos levam a afirmar: vivemos um verdadeiro Pentecostes. Neste sentido, o Capítulo nos chamou a um revigoramento do Carisma e nos levou a fazer memória da herança, da inspiração originária que deu início ao movimento franciscano. A experiência das esteiras nos leva a retomar nossa vocação enquanto peregrinos e forasteiros.

As bases nas quais foram construídas a nossa história estão marcadas pelo sangue dos pobres e pequenos, indígenas, mulheres e jovens negros, por um extrativismo desmedido e destruidor, por uma economia que exclui a maioria, por destruição de povos, culturas e da natureza. À luz do nosso carisma, compreendemos que se faz necessário construir um novo horizonte utópico que nos comprometa com a construção de um projeto de país com justiça e paz em respeito à integridade da criação.

Somos sensíveis ao grito dos empobrecidos e da Mãe Terra! É preciso agir com misericórdia para com eles e, com indignação diante desse sistema que exclui, empobrece e maltrata, e convocarmos a todos para se unirem à luta que hoje assumimos juntos: participar da reconstrução da Igreja com o Papa Francisco e reconstruir o Brasil em ruínas.

É chegado o momento de recolhermos nossas esteiras e as lançarmos sobre o chão das periferias do mundo, transformando continuamente nossa maneira de Ser, Estar e Consumir em reposta aos apelos do Papa Francisco.

A realidade ecológica e sócio-política-econômica do nosso país nos exige compromisso profético de denúncia e anúncio. Assistimos, tomados de ira sagrada, à violação dos direitos conquistados, através de muitos esforços, empenhos e articulação pelo povo brasileiro. Por isso, não podemos deixar de nos empenhar junto aos movimentos sociais na luta “por nenhum direito a menos”, contra golpes, reformas retrógadas e abusivas conduzidas por um governo ilegítimo, um parlamento divorciado dos interesses da população e uma justiça que tem se revelado fora dos parâmetros da equidade “que no lugar de fortalecer o papel do Estado para atender às necessidade e os direitos do mais fragilizados, favorece os interesses do grande capital”¹.

Dessa Cidade de Aparecida, Nossa Senhora, Padroeira do Brasil, resgatada das águas de um rio, hoje poluído e degradado, nos faz eleger dentre os diversos apelos um compromisso particular com a Irmã Água. Deste modo, nos empenharemos na construção de um processo de reflexão e ação em defesa da água como bem comum, que se dará através da participação da família em jornadas, fóruns e nas iniciativas de fortalecimento dos trabalhos ligados à promoção da Justiça e da Integridade da Criação.

Tudo isso acontece, irmãs e irmãos, porque São Francisco nos ensinou que nos momentos mais difíceis de nossas vidas devemos voltar à Casa da Mãe. Ele e seus irmãos voltavam, com frequência, à pequena igreja de Santa Maria dos Anjos, a Porciúncula. Nós voltamos ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida, nestes 300 anos de caminhada com os pequenos desta terra.

“Óh Mãe preta, óh Mariama, Claro que dirão, Mariama, que é política, que é subversão, que é comunismo. É Evangelho de Cristo, Mariama!”, ainda assim, invocamos suas bênçãos sobre toda a nossa família e sobre um Brasil sedento de “Paz – fruto da justiça, do bem e da Misericórdia de Deus”.

Conferência da Família Franciscana do Brasil – CFFB

06 de agosto de 2017Esse post foi publicado em Igreja, Sociedade e marcado Franciscanos, Igreja, Igreja e os pobres, Papa Francisco por Mauro Lopes. Guardar link permanente.

8 IDEIAS SOBRE “O GRITO DOS FRANCISCANOS E FRANCISCANAS DO BRASIL: “DIRÃO QUE É COMUNISMO, MAS É EVANGELHO””

Fonte: OUTRAS PALAVRAS