segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A bovinidade brasileira avança

O gigante que querem que seja anão  

POR FERNANDO BRITO · 05/11/2016

Ontem, todos os jornais deram destaque ao trabalho do japonês Hajime Narukawa, que redesenhou, muito mais proximo da realidade, o mapa do mundo que “vigia” desde que Gerardus Mercator transformou, há quase 500 anos, a Terra em um cilindro, para representá-la num mapa plano.

O resultado, claro, foi que “quem” estava mais próximo do Equador ficou “menor” e quem estava mais próximo dos pólos “cresceu”.

O que, afinal, correspondia em parte à importância cultural e econômica do mundo “desenvolvido”: subtropical, europeu.

O mapa de Narukawa, se olhado com mais que simples curiosidade, mostra que somos maiores do que sempre pensamos olhando o velho mapa de Mercator

Repare: maiores que os EUA, sem o Alasca.

Quase do tamanho da China, esse gigante.

Mas temos uma elite que pensa que um gigante assim pode ser anão.

Pequeno e “bem-comportado”.

Com um governo que faça “o dever de casa” como uma criança, em corpo de homem.

Obediente, quieto, fazendo “tudo o que seu mestre mandar”.

(...)

Fonte: TIJOLAÇO
____________________________________________________________


Fonte: CARTA MAIOR
_________________________________________________________________
Classe média: o fetiche do igual

POR MARIA BITARELLO– ON 01/11/2016CATEGORIAS: BRASIL, COMPORTAMENTO, DESTAQUES, SOCIEDADE


Vive de aparências e acha isso chique. 
E se tudo isso te parece apenas medíocre e inofensivo, não se engane: há garras e dentes. 
Pois é nela que é feita a engorda do ódio. 
É ela que legitima atrocidades.

Fonte: OUTRAS PALAVRAS
________________________________________________________________


Em uma aguda crítica sobre a irracionalidade do mundo atual, o PAPIRO produziu e publicou em maio de 2012 o conto abaixo:


razão e emoção
                                              arte PAPIRO de maio de 2012
             

Encontros Cariocas - 1 

Insano Mundo Novo

11.05.2012


Entrava em um restaurante, na Praça Mauá, no centro da cidade do Rio de Janeiro, quando sinto alguém segurando meu braço. Olhei rapidamente para a pessoa e vi um rosto familiar. Fiquei parado tentando me lembrar e ele me perguntou:

- e aí, perdeu a memória ?

- Carninha !!, respondi com alegria.

Carninha é um grande amigo. Passamos bons momentos no ano de 1982 na Brizolândia. Eram reuniões e mais reuniões para debater o cenário político e criar agitações para colocar o Brizola no governo da estado. Sempre depois das reuniões tudo mundo ia para um bar. Carninha, alto e bem gordo, com quase 150 kg, era o primeiro a sugerir algo para comer. Sempre sugeria uma carninha, fazendo um gesto com as mãos que imitava uma faca tirando um filé de um suculento churrasco. O apelido pegou. Seu nome é Leôncio da Silva Albuquerque, mas todo mundo conhecia como Leo Carninha.


- não consegui reconhecê-lo de imediato. Você emagreceu bem. É outra pessoa.

- nada disso. continuo o mesmo , apenas eliminei depósitos de lipídeos. falou e deu uma gargalhada.

Carninha era uma pessoa bem humorada e extremamente culto . Era psiquiatra e psicanalista. Quando o conheci trabalhava em um hospital psiquiátrico.

- e o trabalho ?

- me aposentei pelo hospital e atualmente tenho apenas meu consultório. Trabalho só dois dias por semana.

- até o trabalho ficou mais leve, perguntei rindo.

- é verdade. lá era barra pesada, meu caro. Lembra do Teo ? 

- aquele teu amigo , também psiquiatra.

- ele mesmo.

- o que houve com ele ?

- pois é, você falou em barra pesada e o Teo pirou. Já estava achando que ele andava meio estranho quando se converteu àquela religião. Não pela religião propriamente, mas o movimento dele em direção a religião já anunciava alguma coisa. Em uma certa ocasião lá no hospital, uma paciente adulto e inofensivo, resolveu fazer uma barquinho de papel e ficou brincando com o barco no pequeno lago da entrada. Quando Teo se aproximou, o paciente falou que aquele era o titanic. Teo , para surpresa de algumas pessoas , disse para o paciente que aquilo não era o titanic, pois o titanic tinha chaminés. O paciente falou que era o titanic sim. Teo iniciou uma discussão dizendo que não pois insistia nas chaminés. De repente, Teo pegou o barquinho, rasgou, amassou e pisoteou o que sobrou do papel. O paciente entrou em crise nervosa e partiu pra cima do Teo. Os seguranças conseguiram agir e evitar uma briga. Depois dessa , Teo foi chamado pela direção e sugeriram que ele se aposentasse, pois já tinha tempo suficiente de serviço. E foi o que aconteceu. Mas não parou por aí. Depois de aposentado se tornou pastor na igreja dele. Em um dos cultos, em um procedimento de exorcismo para retirar um diabo de uma pessoa, ele agiu com violência e feriu feio a cabeça de uma mulher. Outra confusão. Os familiares da vítima , supostamente tomada pelo demônio, não gostaram do que viram e o caso acabou numa delegacia de polícia. O delegado, um sujeito experiente e vivido, pois por ali passam delinquentes, descompensados , psicopatas, se assustou com a versão contada pelo Teo. Teo disse que agiu com um pouco de força porque viu nos olhos da mulher a presença do diabo, inclusive com fumaça saindo dos olhos e cheiro de enxôfre . O caso não deu em nada, mas o delegado ficou mais assustado quando soube que ele era psiquiatra.

- é, muito estranho. Que tal se sentássemos ali, vou comer algo, sugeri.

- vamos lá.

- tem algum problema se for ali perto da chaminé das carnes ?

- isso é com o Téo, falou rindo. E tem mais. Outro dia fui visitar os colegas lá no hospital e eles me disseram que o problema do Teo é excesso de sana.

- como é que é ?

- Sana significa sanidade, saudável, saúde. 

- Excesso ???

- foi uma brincadeira. Eles criaram uma doença pro Teo por conta das chaminés, fumaça e brinquedos. Sana, seriam as iniciais de síndrome da ausência natalina adquirida, algo como reflexo de um trauma de infância no período natalino.

- não teve papai noel com brinquedo descendo pela chaminé , perguntei

- é por aí. É meu caro, as pessoas tem uma ideia equivocada sobre os médicos. Isso que aconteceu com Teo é muito comum entre médicos. Tem hora que não seguram a barra. Quando alguém procura um médico , normalmente é por conta de alguma doença, e doença sempre fragiliza a pessoa. Diante do médico, o paciente frágil deposita suas esperanças. Para ele, aquela figura de branco tem o poder sobre a vida e a morte. Com isso confere ao médico uma aura de poder e força, mas na realidade não é bem assim. Nós também temos os mesmos problemas, mesmo treinados para entender as angústias do outro. Chega um dia que a barra pesa. Um amigo meu, que você não conhece, trabalhou trinta anos como médico legista no IML. Passou a vida serrando crânio, metendo concha dentro do corpo para retirar sangue, enfiando as mãos para retirar órgãos, analisando matéria sem vida. Encontrei com o filho dele e perguntei sobre o pai. O filho disse que o pai tinha se aposentado e vivia em uma casa de campo. Disse que o estava achando meio estranho, pois o pai passava a maior parte do dia plantando, cuidando e conversando com flores.

- dá pra entender, comentei.

- pois é, mudou radicalmente quatro das cinco referências sensoriais. O que tocava, o que via, o que ouvia e o que cheirava.

- trocou a morte pela vida. Não tá nada doido, disse.

- será ??? O que ele acumulou durante os anos de trabalho ? Talvez esse novo comportamento possa ser passageiro, fruto de algo que ele não mais aguentava, sonhos, reações. De qualquer forma ele trocou o morto e o feio, pela vida e o belo.

- mas vamos mudar de assunto, me fala como você perdeu tanto peso ?

- pois é. Lembrei de você várias vezes nas reuniões na Brizolândia. Na época achava que você era um pouco radical com suas obsessões de nutrição e saúde, mesmo porque éramos bem jovens. Não entendia suas preocupações como equivocadas, apenas um tanto obsessivas. Então. Um dia , já estava com quase 170 Kg, respirando mal, sem agilidade resolvi mudar. Fiz uma cirurgia de redução de estômago, mudei radicalmente meu hábitos alimentares.

- mas não abandonou a carninha, não é ?

- claro que não. mas só como carne vermelha , no máximo uma vez por semana. e , também, fui reeducado para comer pouco e com qualidade. O resultado é esse. Perdi quase 80 kg, hoje tenho um índice de massa corporal dentro dos limites saudáveis, e , melhor, tenho saúde, alegria. Aquele tempo, nunca mais. Era dificuldade para tudo, ônibus, avião, roletas. O mundo não é feito para gordos.

- mas o mundo incentiva e cria condições para que as pessoas fiquem gordas e obesas, não é ? Como é que fica ?

- você continua cortante como um bisturi, hein ?
- é verdade. Se você prestar atenção nos comerciais de alimentos e bebidas que saturam as telas de tv, verá que só se incentiva porcaria. Refrigerantes, biscoitos vagabundos, carnes gordurosas, embutidos, doces, bebidas alcoólicas, fast food. São alimentos de baixo valor nutricional e altamente calóricos. E o que acontece ? Surgem, então, os programas de tv para educar as pessoas em hábitos saudáveis. É comum , nas manhãs, programas com médicos, e são muitos inclusive com desenvoltura de apresentadores de programas de auditório, ensinado como viver melhor. Quando chamam o intervalo comercial, a propaganda de alimentos sugere o oposto. O mesmo em novelas. Essa novela para adolescentes da tv globo, quando coloca cenas de alimentação , põe os jovens comendo sanduíches com refrigerantes em praças de alimentação de shoppings centers.

- essa novela é uma putaria e pegação entre crianças, comentei.

- também tem isso. Então. Aparece o médico e depois o monstro. Os médicos de tv, nesses programas aproveitam para apresentar medicamentos que possam combater males da obesidade.

-- Hummmm. Propagandistas midiáticos. Nova modalidade de propagandistas de laboratórios farmacêuticos ?

- Isso aí. A força desses segmentos , alimentícios e bebidas, impõe as mídias os estilos de vida desejados por eles e, esses estilos nada tem de saudáveis.

- os médicos do programa fazem um teatrinho de saúde, não é ?

- é isso aí. O lucro dessas empresas tem que crescer cada vez mais, é a lógica do modelo capitalista. Por outro lado, os lucros com a doença também tem que crescer cada vez mais. Se uma pessoa é intoxicada pela ingestão de metais pesados, comum nos dias de hoje por conta de contaminação dos mananciais hídricos, todo o foco na mídia é para o tipo de tratamento médico a ser seguido. Pouco, muito pouco se fala sobre o que motiva a contaminação.

- o capitalismo e suas práticas não podem ser questionadas, comentei.

- exato. banaliza-se a poluição ambiental e a contaminação de solos e recursos hídricos. colocando o foco no tratamento. Nas propagandas de ofertas de supermercados, comuns nas tvś, raramente aparecem ofertas de frutas , legumes , verduras ou alimentos saudáveis.

- só produto industrializado, comentei.

- exato. A quem interessa esse estilo de vida ?

- a mim nunca interessou.

- mas a maioria das pessoas não percebe e acredita que isso é o certo, saudável, porque as mídias fazem parte do esquema do lucro e saturam todas as pessoas com suas falsas verdades.

- e se você questiona, é rotulado como maluco.

- é uma outra questão. Nada pode ser questionado. Com a ascensão e hegemonia do neoliberalismo, a partir da década de 1990, começou-se a criação de padrões. Padrão de consumo, padrão na economia, padrão de entretenimento, padrão de comportamento, padrão de relações interpessoais. Qualquer ideia fora dos padrões deve ser combatida e eliminada, e a mídia está aí, também para fazer esse papel. Por que Cuba é perseguida? Por que é uma outra experiência, diferente dos padrões homogeneizados, não pode florescer, não pode ser um exemplo bem sucedido. Nada pode ser diferente do capitalismo neoliberal. Essa conversa de bloqueio por conta de violação de direitos humanos é balela. Os direitos humanos estão sendo corroídos, em larga escala no mundo capitalista e ninguém, no caso a grande imprensa e mídias, fala em defendê-los. A obesidade é uma grave epidemia mundial. Está associada aos valores do capitalismo, do sucesso pessoal ( se tenho dinheiro como sem parar o que quiser ) do hedonismo.

- a gula é um dos sete pecados capitais, comentei

- pois é. No tocante a esse pecado a Igreja faz vista grossa para não contrariar os lucros das empresas. Mas acusa de crime e pecado, políticas a favor do aborto.

- é a tal história de se ajustar aos padrões, comentei.

- é verdade. O neoliberalismo criou um estreitamento na produção intelectual, de ideias, no entretenimento, nas artes e óbvio na economia. Quando existiam os dois polos, capitalismo e socialismo, a amplitude era bem maior. Atualmente essa padronização, para blindar um modelo que já agoniza, tem criado sérios problemas nas relações interpessoais. O aumento da violência , da intolerância são decorrentes desse estreitamento produzido pela propaganda neoliberal. Nada pode ser diferente. Isso tem desdobramentos nas religiões e no conflito religioso, pois todas, de alguma forma, também querem a hegemonia. Ontem, mesmo presenciei uma discussão, em um bar entre duas pessoas. Um deles dizia pro outro que era importante que ele aceitasse Jesus em sua vida. O outro dizia que nunca tinha duvidado de Jesus. O primeiro insistia que ele estava equivocado e que no momento do julgamento ele teria que aceitar e seria punido. Por pouco não saíram no tapa por causa de um provável veredicto oriundo de notáveis em um tribunal na esfera celeste, pós morte. 

- iriam brigar por isso, perguntei.

- quer expressão maior da irracionalidade que nos rodeia. As pessoas não são estúpidas ou burras . Eles estão dominadas e eclipsadas por um grande sistema, com o apoio das grandes mídias, que tem por objetivo ditar regras e padrões em prol dos interesses das grandes corporações. Assim a intolerância vai aumento, o mesmo com a violência nas relações interpessoais, pois o espaço para opiniões e ideias é cada vez mais estreito. Minha esperança são as mídias sociais, que de alguma forma, conseguem quebrar essa barreira.

- nós conhecemos o enredo é já vimos esse filme antes. O estreitamento começa no campo das ideias, avança com xenofobia, depois com racismo, depois são os pobres, mais adiante os velhos e doentes, depois os negros, depois todos aqueles que não fazem parte da religião dominante, não é ?

- essa é exatamente a realidade que vivemos. Agora, você acredita que a maioria das pessoas percebe a realidade dessa maneira ? Estão sendo conduzidos. O entretenimento , o esporte são estratégias para condução, quando deveriam ser caminhos para cultura, conhecimento e formação de pessoas.

Nossa refeição acabara de chegar. Fizemos uma pausa para o almoço. Olhei , de relance pela janela do restaurante, e vi um transatlântico ancorado no pier da Praça Mauá. Ele tinha três chaminés.

Mídia. A arte de mentir

Desligue a TV e leia um livro


De Estocolmo – Wellington Calasans, colunista do Cafezinho

Li num recente artigo do jornalista e escritor sueco Erik Wijk para uma publicação deste país nórdico, chamada Flamman, “Sobre a necessidade humana de simplificar” (tradução livre do sueco para o português de “Om ett mänskligt behov av att förenkla”), que estamos habituados a receber interpretações mastigadas. Para Wijk, na crítica ao modo simplista de informar e receber informações, “não há necessidade de palavras extravagantes”, pois “a simplificação é pedagogia, eficaz e indispensável na propaganda”.

Relaciono isso ao modo alvinegro de comunicar, amplamente utilizado pela velha imprensa brasileira, concentrada nas mãos de poucas famílias, que molda aquela típica mentalidade em preto e branco do seu público e que está convicta de que isso já é mais do que o suficiente para que seja mantido o exército de analfabetos políticos. Exército este que baba ódio contra o desconhecido e transforma manchetes desta mesma imprensa/elite em teses de mestrado.

A máquina de alienação, aqui carinhosamente chamada de PIG – Partido da Imprensa Golpista, sabe que o silêncio ou poucas palavras cumprem melhor o papel do “finjo que informo e você finge que é bem informado”. Para o PIG, o não informar é mais valioso, pois como diz o jornalista Fernando Brito: “a política sem polêmica é a arma das elites”. Até mesmo o insuspeito ACM ratificou a existência desta estratégia quando certa vez afirmou que “Se o Jornal Nacional não deu, não aconteceu”. Graças a isso, figuras nefastas como José Serra, FHC e tantas outras blindadas pela imprensa/elite, ainda existem na vida pública brasileira e até falam sobre ética e deontologia.

Nesses tempos em que no Brasil a opinião sintética de qualquer subcelebridade ganha uma importância inversamente proporcional ao valor da mensagem proferida, o valor da leitura de livros ganha parâmetros jamais imaginados em outros tempos. Parece paradoxal que em tempos de internet, onde a produção diária de conteúdos informativos é maior do que toda a produção anterior ao surgimento desta rede, as pessoas estejam mais alienadas. O êxito do PIG ao “gerar debates” com as frases que destilam ódio e preconceito, amplamente divulgadas e compartilhadas nas redes sociais, é justificado diante da necessidade de se criar uma cortina de fumaça que possa ser utilizada para encobrir os absurdos praticados na política e justiça do Brasil.

Ocorre que o simplificar não pode ser uma prática comum aos que devem, por obrigação, comunicar com isenção e imparcialidade. É preciso ampliar o leque de possibilidades para que toda e qualquer pessoa, nas diferentes classes sociais, possa desempenhar um papel superior àquele possível a um papagaio. A ignorância política da maioria dos brasileiros ainda é usada como instrumento de manutenção de privilégios pela imprensa/elite, mas isso é arriscado para todos, inclusive para aqueles que vivem a surfar nas ondas do censo comum.

A estratégia da imprensa/elite de reduzir em manchetes a discussão que merecia ser ampla, inclusive aquelas em torno do papel da comunicação social na construção da sociedade, só não resistirá ao resgate da leitura de livros. Talvez os dois primeiros passos sejam desligar a TV e ler mais livros. Se isso ainda soa como algo utópico, faço-o para tentar dizer aos robotizados que é necessário sair da caixa, pensar a partir das próprias percepções e até necessidades pessoais. “Não pense que a cabeça aguenta se você parar”, já nos disse o imortal Raúl Seixas.

Fonte: O CAFEZINHO
____________________________________________________________
A arte de mentir

6 DE NOVEMBRO DE 2016 POR LUCIANA OLIVEIRA


Há quem minta mais e muito melhor do que as outras pessoas. A famosa cara de pau foi tema de uma edição recente da revista Scientific American, que citou o trabalho de pesquisadores da Universidade de Portsmouth. Veja as características típicas de caras de pau convincentes.

São manipuladores: que mentem frequentemente e não têm escrúpulos morais – por isso, sentem menos culpa. Os mentirosos também não têm medo de que as pessoas desconfiem e não precisam de muito esforço cognitivo para fazer isso. A coisa meio que acontece naturalmente.

São bons atores: quem sabe atuar tem mais facilidade em mentir e se sente confiante ao fazer isso, pois sabe que é capaz de fingir muito bem.

Conseguem se expressar bem: dão uma impressão de honestidade porque o seu comportamento sedutor desarma suspeitas logo de início, além de conseguirem distrair os outros facilmente.

Têm boa aparência: pesquisas já mostraram que pessoas bonitas tendem a ser mais queridas e vistas como honestas, o que ajuda a enganar os outros.

São espontâneos: para acreditarmos num discurso, ele precisa parecer natural. Quem não tem a capacidade de ser espontâneo acaba parecendo artificial – e fica difícil convencer alguém desse jeito.

São confiantes enquanto mentem: bons mentirosos geralmente sentem menos medo de ser desmascarados do que as outras pessoas.

Têm bastante experiência em mentir: assim como nas outras coisas, o treino também leva à perfeição quando se trata de mentir. Quem está acostumado a isso sabe o que é necessário para convencer as pessoas.

Conseguem esconder facilmente as emoções: em algumas situações mais arriscadas, mesmo um mentiroso veterano pode sentir medo e insegurança. Nesse caso, é fundamental conseguir camuflar bem essas emoções. Mentirosos costumam ser bons em fingir sentimentos que não estão realmente sentindo, mas também tendem a manifestar seus verdadeiros sentimentos espontaneamente. Por isso, é necessário ter habilidade em mascará-los para que não venham à tona.

São eloquentes: eles conseguem confundir mais facilmente as pessoas com jogos de palavras e enrolar mais nas respostas caso lhe perguntem algo que exija outras mentiras.

São bem preparados: mentirosos planejam com antecedência o que vão fazer ou dizer para evitar contradições.

Improvisam bem: mesmo estando preparado, é preciso estar pronto para improvisar caso alguém comece a desconfiar da história que ele inventou.

Pensam rápido: para improvisar bem, é preciso pensar rápido. Bons mentirosos conseguem pensar em uma saída rapidamente.

São bons em interpretar sinais não verbais: um bom mentiroso está sempre atento à linguagem corporal do seu ouvinte e consegue interpretar sinais não verbais que possam indicar desconfiança.

Afirmam coisas que são impossíveis de se verificar: por motivos óbvios, bons mentirosos costumam fazer afirmações sobre fatos que sejam impossíveis de se provar e evitam inventar histórias mirabolantes, facilmente desmascaradas.

Falam o mínimo possível: quando é impossível falar algo que não pode ser verificado, o mentiroso simplesmente não diz nada.

Têm boa memória: quem quer desmascarar um mentiroso procura por contradições no seu discurso, porque muitas vezes eles podem simplesmente se confundir ou esquecer detalhes que inventaram. Mas não se impressione se a pessoa conseguir se lembrar e repetir cada vírgula do que lhe contou anteriormente. Bons mentirosos geralmente têm ótima memória.

São criativos: eles conseguem pensar em saídas e estratégias que você nunca imaginaria. Mas não se deixe levar pelo seu brilhantismo – afinal, é isso o que eles querem.

e por fim: imitam pessoas honestas: mentirosos procuram imitar o comportamento que, no imaginário das pessoas em geral, são típicos de quem só diz a verdade — e evitam se parecer com a imagem que se tem dos mentirosos.

Fonte: Café do Brasil

Fonte: Blog da Luciana Oliveira
_____________________________________________________________


As ferramentas diminuíram seus esforços,
O telescópio aumentou sua visão,
Os veículos automotores aceleraram seus passos,
A televisão idiotizou e embotou todos.

Assim é a mídia. Uma usina de mentiras, omissões e manipulações.
Através da linguagem a mídia manipula e induz as pessoas ao entendimento desejado.
Sobre formas de indução à uma determinada compreensão, e também abordando as armadilhas da comunicação presentes diariamente na mídia, o PAPIRO produziu e publicou o conto abaixo, em outubro de 2012:



Diários de Botequim - 3


Comunicação. Atenção! Atenção !

24.10.2012


Era apenas mais um dia, somente um dia. Uma tarde noite de sexta-feira, não diferente de outras tantas naquele lugar, com aquelas pessoas. No bar referência lá estavam Miltão, Ciro, Cardoso, Jadir, Nelsinho e Eu. Início de verão, calor e muita gente pelas ruas em um clima típico de Rio de Janeiro. Embalados pela energia típica daquela hora do dia discutíamos, ou pensávamos que discutíamos, de tudo, sobre tudo, até mesmo sobre o impossível silêncio para um momento daqueles. Foi quando, de repente, mas como de costume, Miltão disparou contra Nelsinho:
- você tem uma tremenda dificuldade de entender o que as pessoas falam. Isso irrita. Só faz pergunta idiota.
Ciro, tentando aliviar o pobre Nelsinho, que apenas ria, acabou entregando ainda mais o rapaz:
- esse cara é um terror, disse Ciro sobre Nelsinho. Continuou. Semana passada a gente encostou em duas meninas aqui no bar e puxamos uma conversa. Quando o papo começou a engrenar, Nelsinho deu um tremendo corte em uma delas. A menina disse que a capital da Turquia era Istambul e ele, querendo aparecer, acabou fazendo merda. Corrigiu a garota em cima do lance, fazendo com que ela ficasse sem graça e com isso inibiu a conversa e esfriou o clima.
- isso é uma anta, disse Jadir.
Ciro continuou. Mas o pior aconteceu ontem. Mais uma vez fomos naquele baile lá da Tijuca. De repente, Nelsinho veio ansioso em minha direção dizendo ter visto duas mulheres sozinhas em uma mesa. Fui conferir, claro. De fato elas estavam sós. Nos posicionamos perto, esperando a orquestra voltar a tocar pra poder tirar pra dançar. Logo que a orquestra iniciou tiramos as mulheres que aceitaram na boa. De repente, mais ou menos três ou cinco minutos depois, no final da primeira música, vejo Nelsinho em pé, sozinho e a mulher dançando com outro. Continuei dançando por mais de meia hora, engatei um bom papo e ainda troquei telefone. Depois fui perguntar pro Nelsinho o que aconteceu, por que ele parou tão rápido. Então ele me disse que resolveu puxar uma conversa mas deu confusão. Ele, de cara sabe o que perguntou para a mulher ?
Você tem nome ? A mulher se espantou e disparou pra cima dele dizendo que óbvio que tinha. Já começa errado, criando estresse. Enquanto Ciro falava, Nelsinho apenas ria. Por causa disso ela descartou ele no final da primeira música.
- isso é uma anta, disse Jadir
- eu acho que ele fica nervoso, ansioso e acaba falando besteira, disse Miltão. O assunto então mudou e entrou na esfera da comunicação, exatamente no momento em que Tadeu se aproxima da mesa. Tadeu é o rico da turma. Executivo de Recursos Humanos em uma multinacional, bom de conversa e extremamente irônico. Certo dia, por causa de sua ironia quase chegou as vias de fato com Miltão. Ambos tem personalidade forte e vivem se estranhando. Jadir e Cardoso, sempre se colocam ao lado de Miltão, fazendo com que também tenham diferenças com Tadeu. Tadeu chegou, com sua pasta de trabalho, e sentou-se ao meu lado, mas na cabeceira da mesa no lado oposto de Miltão. Inicialmente prestava atenção na conversa, até que entrou no debate.
- isso é muto comum. Nelsinho não é o único. Ele pode extrapolar, por vezes, mas a comunicação eficaz não é algo tão simples. Hoje mesmo, ministrei, aqui mesmo em um hotel do bairro, um seminário, de seis horas, com os vinte maiores e mais importantes executivos da empresa. E o assunto foi exatamente comunicação. E olha que são pessoas que trabalham com informações e tomam decisões importantes. Aliás, eu tenho aqui um dos exercícios que fizemos. Vocês topam fazer ? É coisa simples, um pequeno texto que vocês vão ter de dizer o que entenderam sobre o texto e, caso queiram, arriscar o personagem da história, disse enquanto retirava as folhas e distribuía para todos na mesa.
- já que é um texto pequeno , tudo bem, disse Miltão, no que foi seguido por todos.
- OK. Aí vai, uma cópia pra cada um.


                                              Minha História
Hoje, mais uma vez como de outras vezes, vou conversar com vocês sobre um assunto bem interessante. Certamente, e é normal que seja assim, vocês devem estar se perguntando sobre o tema do dia. Enquanto vou alinhavando essas palavras iniciais, me pergunto, e até mesmo sugiro se me permitem, se vocês estão bem relaxados e confortáveis. Hoje, como em quase todas as ocasiões em que me dirijo a vocês, vou conversar com vocês sobre vivências, experiências, aventuras. Ahhhh! e como são interessantes as aventuras. Elas começam bem cedo, para tudo e todos e, obviamente, para mim não foi diferente. E que aventuras tenho para contar para vocês. No início, e como são belos os inícios, tudo era ainda muito discreto, ocupava poucos espaços e merecia cuidados especiais. Não imaginava, assim como vocês podem imaginar a medida que avanço na história, que poderia atingir um estágio de fama, lendas e histórias, a ponto de impactar profundamente toda a civilização. As mãos delicadas, cuidadosas, proporcionaram para mim meus primeiros momentos de presença, de graça. Hoje, em mais um início que se estende até o fim dos inícios, despertei agitado, rebelde para logo depois, pouco tempo depois, encontrar meu equilíbrio, minha forma e minha graça. Alcancei um estágio de minha existência em que poucos, bem poucos, poderiam interferir na minha maneira de ser. E como é bom ser assim, devem vocês estar pensando. Como é bom poder escolher meus caminhos, ocupar os espaços, definir as cores. Vocês, a medida que aprofundo no tema, sobre experiências, aventuras e vivências, certamente vão encontrando seus próprios caminhos , suas realidades, suas cores, suas vivências. Tenho plena convicção que me tornei uma lenda e, para algumas pessoas represento a alegria, a vida, a beleza enquanto que para outros posso ser comparado como uma grande frustração. Alguns me adoram, cuidam bem de mim, me admiram, enquanto outros me detestam a ponto de me expulsar de suas vidas para sempre. É o preço da lenda, devem vocês estar pensando, com certeza. Nessa longa história, de experiências, vivências e aventuras já fiz muito e alcancei grande destaque. E como é bom fazer, ver os resultados concretos, atingir suas metas e objetivos. Vocês, certamente, também já produziram excelentes resultados e a medida que continuo minha história , vocês podem , até mesmo agora, ou em outra ocasião se assim desejarem, pensar sobre os grandes feitos e ainda sobre aqueles que podem alcançar. Quero dizer para vocês, já que se trata de uma longa história, que para relatar todos os grandes eventos seriam necessárias muitas e muitas conversas, assim sendo procurarei citar, de forma geral,meus momentos mais impactantes. Afirmo, sem medo de errar e com a coragem de acertar, que já fui responsável por um dos momentos mais belos do amor. Ahhh! e como o amor é belo. Digo, também, que vivi um momento em que mudei o mundo, transformei as pessoas, assustei os defensores do atraso. Em outra ocasião fui a força do guerreiro, a força que vocês tem para alcançar suas metas e objetivos. Hoje, já bem conhecido , posso afirmar que tenho todas as cores, todas as formas e , sem de receio ou medo de ser ousado, e como é bom ser ousado podem vocês estar pensando, também posso afirmar que sou arte, pura arte, diversas formas de arte em todas as formas possíveis. Minha existência é a minha história, e como sou eterno, pois mitos e lendas são eternos e também sou lendas e mitos , faço por criar todas as emoções nas pessoas, as mais variadas possíveis e imagináveis. Ahhh ! como as mulheres gostam de mim, que carinho e cuidado eles tem por mim. Isso não significa dizer que os homens não gostem, aliás eles se revelam , em relação a mim,de forma mais discreta, silenciosa. Essa história , que vocês certamente leem com toda atenção, e que é a minha história, também tem um final, ou vários finais. Em todo o final, e estamos bem próximo dele, de um deles, talvez, é necessário e importante saber que um mito não tem fim. Muitos, e são de fato muitos homens e mulheres, também lucram , e lucram muito, através de mim ou comigo mesmo. Isso não significa o fim, significa , apenas, o lucro, ou a necessidade. O final pode chegar bem cedo ou ,em muitos casos, talvez na maioria deles, coincida com o final inexorável. E já que estamos falando de uma história de vivências, aventuras e experiências e próximos do fim, desejo que todos vocês recolham os mais variados ensinamentos, de maneira que possam ser utilizados no desenvolvimento de novas habilidades e competências em cada um, antes do final e bem antes do processo do fim. Essa história, rica em elementos , é a minha história, escrita com a minha autorização.

Todos terminaram a leitura, foram colocando a folha de lado mas ninguém iniciava uma resposta. Tadeu se dirigiu para Ciro e perguntou.
- o que você achou ?
- não sei. pode ser muita coisa. Parece que é alguém importante, mas não vou arriscar.
- e você ? Disse Tadeu se dirigindo para mim.
- vou acompanhar o Ciro, disse.
- e você, Nelsinho, o que achou ?
- eu acho que é a história de Jesus Cristo . Tem tudo a ver, disse Nelsinho.
- para de falar asneira, disparou Miltão e continuou. Que Jesus Cristo, cara, parece que não sabe ler. Está claro para mim que o texto fala de alguém importante, pode ser um artista no que acredito que seja, mas o mais importante é que diz respeito de alguém que se revela, saindo do armário . Essa história de Ahhh, o amor é belo é coisa de viado. Isso é texto de um boiola, esse negócio de todas as cores . Pra mim tá escancarado.
Jadir e Cardoso endossaram o comentário de Miltão. Tadeu então tomou a iniciativa.
- esse texto eu apresentei hoje para os vinte maiores executivos da empresa e apenas dez, 50%, apresentaram a resposta certa. E eu estou falando de pessoas que trabalham com informações e tomam decisões com base em análises e relatórios. Descobrir o personagem da história não é o mais importante, mesmo porque o texto não é conclusivo a esse respeito. Muitas pessoas podem ter uma história como essa, ou parte de uma história dessas. Tive respostas de Jesus, assim como Nelsinho, Che Guevara, John Lennon, Madona e até Santos Dumont. Mas isso não é o importante. Claro que o autor, ao elaborar o texto pensou em alguém, ou em algo , para a elaboração. O personagem do texto é o cabelo. Vejam só: 

- " no início tudo era muito discreto, ocupava poucos espaços e recebia cuidados especias" .
Todo mundo nasce com pouco cabelo e os pais tem mimos e cuidados. 
- " alcançar um estágio de fama " .
São inúmeras as lendas e histórias sobre cabelo. 
- " as mãos delicadas cuidadosas proporcionaram para mim meus primeiros momentos de graça ".
O cuidado dos pais nos penteados das crianças. 
- " hoje, em mais um início, despertei agitado, rebelde, para logo depois encontrar o equilíbrio ". 
Todos os dias pela manhã, e os dias são inícios, os cabelos amanhecem agitados desalinhados para depois serem penteados, o equilíbrio. 
- "para muitas pessoas represento a alegria , a vida a beleza para outros sou a frustração" .
Muitas pessoas adoram seus cabelos , já outras são frustrados com o cabelo que tem. 
- " já fui responsável por um dos momentos mais belos do amor " .
É uma referência a história das tranças de Rapunsel. 
- " mudei o mundo, transformei as pessoas , assustei os defensores do atraso " 
É uma referência as transformações sociais da década de 1960, quando passamos a usar cabelos longos e assustar os conservadores. 
- " hoje tem todas as cores todas as formas e sou arte " Pessoas usam cabelos de todas as cores e desenhos artísticos. 
- " em outra ocasião fui a força do guerreiro" .
Uma referência a história de Sansão. 
Entenderam, perguntou Tadeu e continuou. Não vou especificar até final do texto, mas todo ele é sobre o cabelo, não fala de nenhuma pessoa. Isso mostra o efeito da comunicação· No nosso caso, apenas Ciro e ele, disse apontando para mim, se aproximaram da resposta certa, que é a seguinte:
O texto não permite afirmar de quem se trata. São informações generalistas. E 50% dos maiores executivos de uma transnacional não perceberam isso. Quem usa muto essa característica de comunicação é a imprensa, quando deseja induzir ou manipular informações. Outro aspecto também diz respeito ao nosso idioma, o português. Por ser um idioma muito rico, ao contrário do inglês, permite elaborações e construções que podem condenar um inocente ou absolver um culpado, em rígida concordância com as normas de expressão e atendimento as leis. Existe ainda uma tese, apenas uma tese, que estabelece relação entre o desenvolvimento de países com o idioma. Segundo essa tese os países de língua inglesa se desenvolveram mais rápido por causa do idioma e do investimento em educação. Então, não apenas vocês aqui que não acertaram como também os executivos lá empresa, responderam aquilo que vocês desejaram, aquilo que estava na cabeça de vocês, ou seja, relataram suas próprias experiências de vida através de suas respostas.
Nesse momento , Miltão colocou as duas mãos apoiando sobre a mesa, em uma posição de alguém que iria se levantar e disparou contra Tadeu:
- escuta aqui, o cara. Você está querendo curtir com a cara da gente ? Tá pensando que eu sou babaca ? Tá dizendo que eu sou viado ?
- eu não disse nada, você que disse. Tá surdo ? Tá maluco ? falou Tadeu.
O clima esquentou. Miltão se levantou da mesa apontando o dedo para Tadeu. O estresse foi total. Jadir e Cardoso, como de costume seguiram Miltão que já estava com o rosto vermelho de raiva e ainda disse;
- seu repertório esgotou, vou te encher de porrada.
Ciro se colocou na frente de Miltão tentando segurar a fera, enquanto as pessoas das mesas mais próximas se levantaram com receio de um quebra- quebra. Jadir e Cardoso também queriam acertar Tadeu. Ciro e Nelsinho, com muita dificuldade impediam que os três partissem para cima de Tadeu e, ao mesmo tempo, Ciro pedia para que eu levasse Tadeu embora dali. Foi o que fiz. Puxei Tadeu e fomos caminhado pelas ruas do bairro até sua casa. Durante o caminho ainda tentamos trocar algumas palavras, mas não foi possível. Não conseguíamos parar de rir.

sábado, 5 de novembro de 2016


Armas e luta

Há um cheiro de 1964 no ar

Hildegard Angel: “É meu dever dizer aos jovens o que é um golpe de estado

Postado em 05 Nov 2016
por : Kiko Nogueira


De Hildegard Angel, em seu blog.

Há cheiro de 1964 no ar. Não apenas no Brasil, mas também nas vizinhanças. Acho então que é chegada a hora de dar o meu depoimento.

Dizer a vocês, jovens de 20, 30, 40 anos de meu Brasil, o que é de fato uma ditadura.

Se a Ditadura Militar tivesse sido contada na escola, como são a Inconfidência Mineira e outros episódios pontuais de usurpação da liberdade em nosso país, eu não estaria me vendo hoje obrigada a passar sal em minhas tão raladas feridas, que jamais pararam de sangrar.

Fazer as feridas sangrarem é obrigação de cada um dos que sofreram naquele período e ainda têm voz para falar.

Alguns já se calaram para sempre. Outros, agora se calam por vontade própria. Terceiros, por cansaço. Muitos, por desânimo. O coração tem razões…

Eu falo e eu choro e eu me sinto um bagaço. Talvez porque a minha consciência do sofrimento tenha pegado meio no tranco, como se eu vivesse durante um certo tempo assim catatônica, sem prestar atenção, caminhando como cabra cega num cenário de terror e desolação, apalpando o ar, me guiando pela brisa. E quando, finalmente, caiu-me a venda, só vi o vazio de minha própria cegueira.

Meu irmão, meu irmão, onde estás? Sequer o corpo jamais tivemos.

Outro dia, jantei com um casal de leais companheiros dele. Bronzeados, risonhos, felizes. Quando falei do sofrimento que passávamos em casa, na expectativa de saber se Tuti estaria morto ou vivo, se havia corpo ou não, ouvi: “Ah, mas se soubessem como éramos felizes… Dormíamos de mãos dadas e com o revólver ao lado, e éramos completamente felizes”. E se olharam, um ao outro, completamente felizes.

Ah, meu deus, e como nós, as famílias dos que morreram, éramos e somos completamente infelizes!

A ditadura militar aboletou-se no Brasil, assentada sobre um colchão de mentiras ardilosamente costuradas para iludir a boa fé de uma classe média desinformada, aterrorizada por perversa lavagem cerebral da mídia, que antevia uma “invasão vermelha”, quando o que, de fato, hoje se sabe, navegava célere em nossa direção, era uma frota americana.

Deu-se o golpe! Os jovens universitários liberais e de esquerda não precisavam de motivação mais convincente para reagir. Como armas, tinham sua ideologia, os argumentos, os livros. Foram afugentados do mundo acadêmico, proibidos de estudar, de frequentar as escolas, o saber entrou para o índex nacional engendrado pela prepotência.

As pessoas tinham as casas invadidas, gavetas reviradas, papéis e livros confiscados. Pessoas eram levadas na calada da noite ou sob o sol brilhante, aos olhos da vizinhança, sem explicações nem motivo, bastava uma denúncia, sabe-se lá por que razão ou partindo de quem, muitas para nunca mais serem vistas ou sabidas. Ou mesmo eram mortas à luz do dia. Ra-ta-ta-ta-tá e pronto.

E todos se calavam. A grande escuridão do Brasil. Assim são as ditaduras. Hoje ouvimos falar dos horrores praticados na Coreia do Norte. Aqui não foi muito diferente. O medo era igual. O obscurantismo igual. As torturas iguais. A hipocrisia idêntica. A aceitação da sobrevivência. Ame-me ou deixe-me. O dedurismo. Tudo igual. Em número menor de indivíduos massacrados, mas a mesma consistência de terror, a mesma impotência.

Falam na corrupção dos dias de hoje. Esquecem-se de falar nas de ontem. Quando cochichavam sobre “as malas do Golbery” ou “as comissões das turbinas”, “as compras de armamento”. Falavam, falavam, mas nada se apurava, nada se publicava, nada se confirmava, pois não havia CPI, não havia um Congresso de verdade, uma imprensa de verdade, uma Justiça de verdade, um país de verdade.

E qualquer empresa, grande, média ou mínima, para conseguir se manter, precisava obrigatoriamente ter na diretoria um militar. De qualquer patente. Para impor respeito, abrir portas, estar imune a perseguições. Se isso não é um tipo de aparelhamento, o que é, então? Um Brasil de mentirinha, ao som da trilha sonora ufanista de Miguel Gustavo.

Minha família se dilacerou. Meu irmão torturado, morto, corpo não sabido. Minha mãe assassinada, numa pantomima de acidente, só desmascarada 22 anos depois, pelo empenho do ministro José Gregori, com a instalação da Comissão dos Mortos e Desaparecidos Políticos no governo Fernando Henrique Cardoso.

Meu pai, quatro infartos e a decepção de saber que ele, estrangeiro, que dedicou vida, esforço e economias a manter um orfanato em Minas, criando 50 meninos brasileiros e lhes dando ofício, via o Brasil roubar-lhe o primogênito, Stuart Edgar, somando no nome homenagens aos seus pai e irmão, ambos pastores protestantes americanos – o irmão, assassinado por membro louco da Ku Klux Klan. Tragédia que se repetia.

Minha irmã, enviada repentinamente para estudar nos Estados Unidos, quando minha mãe teve a informação de que sua sala de aula, no curso de Ciências Sociais, na PUC, seria invadida pelos militares, e foi, e os alunos seriam presos, e foram. Até hoje, ela vive no exterior.

Barata tonta, fiquei por aí, vagando feito mariposa, em volta da fosforescência da luz magnífica de minha profissão de colunista social, que só me somou aplausos e muitos queridos amigos, mas também uma insolente incompreensão de quem se arbitrou o insano direito de me julgar por ter sobrevivido.

Outra morte dolorida foi a da atriz, minha verdadeira e apaixonada vocação, que, logo após o assassinato de minha mãe, precisei abdicar de ser, apesar de me ter preparado desde a infância para tal e já ter então alcançado o espaço próprio. Intuitivamente, sabia que prosseguir significaria uma contagem regressiva para meu próprio fim.

Hoje, vivo catando os retalhos daquele passado, como acumuladora, sem espaço para tantos papéis, vestidos, rabiscos, memórias, tentando me entender, encontrar, reencontrar e viver apesar de tudo, e promover nessa plantação tosca de sofrimentos uma bela colheita: lembrar os meus mártires e tudo de bom e de belo que fizeram pelo meu país, quer na moda, na arte, na política, nos exemplos deixados, na História, através do maior número de ações produtivas, efetivas e criativas que eu consiga multiplicar.

E ainda há quem me pergunte em quê a Ditadura Militar modificou minha vida!

Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
______________________________________________________________


Há um forte cheiro de 1964 no ar. E mais, um odor insuportável de dezembro de 1968.

Um golpe derruba um governo legítimo e lideranças populares são perseguidas ferozmente, criminalizadas e presas.

Polícia invade escola do MST, atirando em pessoas indefesas e desarmadas. Amanhã farão o mesmo em sindicatos, contra movimentos sociais, estudantes e qualquer pessoa que se manifeste contrária ao regime que avança.

Esse passado, que não foi devidamente passado a limpo, ameaça voltar; agora com capas pretas no lugar de tanques, travestido de legalidade por um processo moralizante e civilizatório, ancorado por uma ditadura da narrativa.


Site do Globo ,00:18/05/11/2016 :'de acordo com a direção dos sem-terra, operação teria invadido a ENFF'. 
Teria?  Há filmes, relatos, fotos, feridos... (nota do PAPIRO:  para outras coisas, mesmo sem nenhuma prova, globo tem convicção )
Fonte: CARTA MAIOR

Sobre esse passado o PAPIRO produziu e publicou em abril de 2012 o texto abaixo:

Rio Zona Norte - 2
O Aparelho do Lins de Vasconcelos

20.04.2012

A hora para passar a limpo o passado é agora, no governo Dilma, com a Comissão da Verdade.

Nas sangrentas batalhas travadas pela oposição conservadora e os movimentos sociais, o conhecimento sobre a verdadeira história do período da ditadura militar no Brasil parece que não mais aceita adiamentos. Em diferentes países a verdade foi passada a limpo, com punições ou não, a história seguiu.

Na África do Sul, que viveu, talvez, o mais brutal e bestial regime de segregação racial, com milhares de mortos, a transição para a democracia não permitiu dissimulações ou falsas anistias. A Comissão da verdade, brilhantemente dirigida pelo nobelista pela paz Desmond Tutu, colocou frente a frente os dois lados da disputa. O processo foi doloroso, fazendo com que Tutu fosse às lágrimas por diversas vezes, diante das declarações. Assassinos e familiares dos mortos, independente das cores e do lado, falavam de suas angústias, tristezas e sofrimentos, por conta dos anos de luta. O processo foi fundamental para que o país conhecesse sua história, valorizasse seu passado, e pudesse olhar com firmeza para o futuro. A África do Sul, independente dos sérios problemas ainda a resolver, ficou conhecida como o país de todas as cores, lugar onde a ignorância e a estupidez, tiveram como resposta a civilidade e o diálogo.

Na América do Sul, que sofreu com a barbárie de ditaduras, diversos países trouxeram a tona a verdade sobre os anos em que o sol não brilhou, exatamente na região do Império do Sol.
Em alguns países, os ditadores foram julgados, condenados e cumprem penas por seus crimes. Em outros, a verdade pode ser conhecida, com anistia para todos os lados. O importante, em todos os casos, foi a restauração da ordem democrática, a remoção do entulho autoritário dos poderes e, principalmente, a verdade, condições essenciais para evolução de uma nação.

Nesse contexto, me veem lembranças do ano de 1973.
Naqueles já distantes anos, onde corujas e pirilampos bailavam entre sacis e fadas com os Secos&Molhados, Raul Seixas não sentava no trono de seu apartamento com a boca cheia de dentes esperando a morte chegar e os Novos Baianos enlouqueciam a ditadura e sua patética censura, conheci Lucas.
De um dia para o outro, Lucas, que fora amigo na faculdade, sumiu.

Décadas depois nos reencontramos e pude conhecer um pouco de sua história.

Lucas militava em uma organização contra o regime militar.
Na faculdade era de poucas palavras, mesmo porque qualquer conversa com mais de três pessoas podia ser vista como conspiração comunista.
Seu grupo de ação alugou uma casa que servia de encontro , no pacato bairro do Lins de Vasconcelos, zona norte da cidade do Rio de Janeiro.

O Lins era um bairro estratégico para o funcionamento de aparelhos. Sem ser um bairro de passagem, com pouco movimento, residencial  e com casas com cadeiras na calçada e na fachada escrito que é uma lar, tinha saídas para o subúrbio pelo alto Méier, para o centro pelo Engenho Novo e para a zona oeste, pela estrada Grajaú - Jacarepaguá.

O aparelho que Lucas frequentava ficava numa dessas ruas tranquilas, entretanto eles jamais poderiam imaginar, que na casa em frente morava um jornalista, que trabalhava para a ditadura como torturador. A rua, como em todo bairro da zona norte , tinha seus personagens.

Seu Pinto era um deles. Aposentado, vivia com sua mulher, Dona Walquíria em uma casa próxima. Sujeito de pouca instrução, mas de grande astúcia e ótimo observador. Passava a maior parte dos dias sentado em uma cadeira na porta de sua casa, ora lendo jornais, ora bebendo cachaça.

Na casa em frente a de Lucas, vivia Silvério, o jornalista torturador, casado com Juliana. Tinham um filho, Pedro. Silvério não despertava suspeitas -  menos para Seu Pinto, claro - por ser um sujeito família que frequentava as missas aos domingos na igreja do bairro. Tinha uma rotina, que para Seu Pinto era estranha. Saía de casa as 5 horas da manhã, todos os dias, voltava por volta das 10 horas, saía novamente por volta das 17 horas e voltava às 21 horas. As vezes ficava o dia todo fora de casa. Era um sujeito alto, de olhos claros, com uma aparência saturniana.

No aparelho viviam diariamente Paulo e Vera.
Simulavam um casal recém casado, tinham em torno de 25 anos e para evitar fofocas , também frequentavam a missa aos domingos, mesmo sendo marxistas de carteirinha. Tinham uma caminhonete DKW, um pouco surrada, carro típico de aparelho. Não tinham uma rotina fixa, raramente recebiam visitas que pudessem ser vistas pelos vizinhos.
Mesmo assim, Seu Pinto desconfiava deles.
Para os encontros e reuniões, que aconteciam com frequência, Paulo e Vera traziam as pessoas escondidas na caminhonete, sendo que muitos, ficavam , as vezes, semanas na casa, sem sair a rua ou aparecer para a vizinhança. Quando iam embora, também saim escondidos no carro.

Seu Pinto achava que Vera tinha uma expressão de medo constante, e achava que ali tinha coisa.

Acontece , que em um determinado dia, Igor,  que vivia no aparelho e entrava escondido no carro, pelo vidro da janela avistou Silvério saindo de casa. Levou um susto tremendo, pois reconheceu Silvério como seu torturador.

Certa vez, Igor que caminhava pela Avenida Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro, onde estava estudando a rotina do Banco Irmãos Guimarães na esquina da Rua da Alfândega para uma ação de expropriação, foi agarrado e jogado em um carro. Foi levado para uma órgão de informação das forças armadas, nas proximidades da Praça XV. Ficou no local por oito horas , onde foi interrogado, torturado e mandado embora, por atitude suspeita. No interrogatório estava presente Silvério, que além de trabalhar em um grande conglomerado de mídia carioca como jornalista, também colaborava como torturador para o regime, assim como os donos do conglomerado midiático. Igor levou vários choques elétricos nos órgãos genitais, e diversos telefones, fazendo ficar sem audição por umas três semanas. Aguentou firme, não falou nada e teve sorte de ter sido dispensado.

Quando Igor avistou Silvério na casa em frente avisou rápido os demais companheiros do perigo que aquela figura representava.

Depois de alguns dias de discussões, resolveram que o melhor seria matar Silvério, decisão que aumentou ainda mais o pânico de Vera.

Vizinho ao aparelho existia uma vila residencial, com saída para uma outra rua. Resolveram que iriam matar Silvério, tarefa destinada a Carlão, que simularia uma fuga pela vila mas pularia o muro para dentro do aparelho.
E assim aconteceu. 

Em um dia, às cinco horas da manhã, Silvério levou um tiro certeiro na nuca e caiu. Carlão simulou a fuga e pulou para o aparelho, que naquele dia tinha apenas Paulo e Vera. O tumulto tomou conta da rua. Seu Pinto sabia que ali tinha coisa e grudou os olhos na polícia. Ninguém viu nada. No meio da perícia e de toda aquela gente, Paulo e Vera saíram de casa tranquilamente de carro, com Carlão escondido.

Passados alguns meses da morte de Silvério , o tempo fechou para os frequentadores do aparelho.

Em um tranquilo e melancólico domingo de zona norte, o aparelho foi cercado por "policiais" sem farda. O tiroteio foi intenso e os quatro que estavam dentro de casa resolveram se render, Paulo, Vera, Igor e Carlão.
Lucas , por sorte escapou. Tido como romântico pelos seus amigos de guerrilha, tinha se apaixonado por uma menina hippye, filha de um Almirante de linha dura membro da TFP e diretor do Lyons Club, e fora a um encontro com ela na Quinta da Boa Vista.
Logo em seguida, quando soube que a casa estava crivada de balas e os amigos presos, Lucas saiu do país, pois sabia que estava na mira.

Passadas quatro décadas daquele domingo no bairro do Lins de Vasconcelos, na zona norte do Rio de Janeiro, não se sabe o paradeiro de Paulo, Vera, Igor e Carlão.
Seus familiares tentam , até hoje, saber a verdade sobre o que aconteceu para que possam viver em paz, enterrar seus mortos, ou o que restou de seus corpos. O país precisa dessa verdade para limpar seu entulho autoritário que persiste ainda.

Lucas voltou depois do final da ditadura, mora na região serrana do Rio e é professor, foi salvo pela paixão.

Juliana, viúva de Silvério, o torturador assassinado, se agarrou a religião, frequentava a igreja do bairro todos os dias e acabou se apaixonando pelo padre, com quem se casou e tiveram cinco filhos.

Seu Pinto teve um fim trágico. Sentado na porta de sua casa viu duas pessoas na sua frente iniciar uma discussão que acabou em briga. Um dos envolvidos, viciado em corridas de cavalos, portava um grande binóculo que atirou no outro mas acabou acertando Seu Pinto. O impacto casou um ferimento na testa que evoluiu para uma septicemia, levando o aposentado a morte.

Impedir o pacote e expulsar o governador do cargo

Pacotão anticrise soou mal nas ruas do Rio

Moradores da Ilha de Paquetá reprovam a volta da cobrança de passagem. Trabalhadores temem pela mudança no Bilhete Único

05/11/2016 11:09:43

Rio - As medidas do pacote de reajuste das contas do governo do estado vão pesar bastante no bolso do trabalhador, principalmente, os reajustes no transporte, os corte de benefícios sociais e o aumento de impostos, como o ICMS.

A gratuidade da tarifa aquaviária para moradores de Ilha Grande e Paquetá acaba esse ano. A passagem passa a valer R$ 2,80 a partir de 1º de janeiro de 2017 para quem mora nas ilhas.

Moradora de Paquetá há dois anos, Margarete Silva Pinto, 50 anos, tem a gratuidade e vai ao Rio pelo menos duas vezes na semana para ifazer compras. Com a novidade ela diz que vai ter que reajustar as contas da casa.

"Também vou a médicos no Rio e meu marido, que trabalha em São Gonçalo e já paga duas passagens, vai ter que pagar mais uma. A gente não pode arcar com essa dívida pelo estado”, 
disse a dona de casa.
Bilhete Único passa de R$ 6,50 para R$ 7,50 e o subsídio para cada usuário é limitado a até R$ 150Estefan Radovicz / Agência O Dia

Já o ICMS de alguns produtos e serviços, como a conta de luz e de telefone e produtos como cigarro e cerveja, vai aumentar.

Para a produtora cultural, Andrea Arruda, 48, que mora em Niterói com o marido e quatro filhos, o orçamento da família vai ficar mais apertado. Ela diz que as despesas de luz e transporte são grandes e aumentar o ICMS a essa altura é uma crueldade.

“O verão está chegando esse aumento é um absurdo. Um dos meus filhos estuda no Rio e a passagem já é cara, não sei como vai ser agora. Tem gente deixando de comer para pagar conta. Pagamos impostos e não temos serviços públicos de qualidade. Me sinto explorada pelo governo”, comenta.

Para quem é usuário do Bilhete Único, o reajuste vai ser de 15%, o que passa a tarifa de R$ 6,50 para R$ 7,50. Trabalhadores temem que a medida dificulte a contratação de quem mora em outra cidade por empresas e casas de família. “Minha patroa me paga com dificuldade. Com o aumento da passagem, temo ser dispensada. A situação atualmente já está difícil. Agora, então, tende a piorar ainda mais”, lamenta Laurete Nascimento.

Aluguel Social acaba em junho e desespera beneficiária

Beneficiária do Aluguel Social, Turia de Souza, de 61 anos, mora atualmente sozinha em um quarto na comunidade de Manguinhos. “É o que dá para pagar com R$ 400. Se tirarem o aluguel eu não tenho pra onde ir, o jeito vai ser ir pra rua, mas lá a gente não sabe se acorda vivo. Vou é bater na porta da prefeitura e eles vão ter que me ajudar. Tenho 61 anos, como vou viver na rua?”, questiona.

Dona Turia faz curso gratuito de artesanato e quer fazer corte e costura para ajudar na renda. “Sei fazer muita coisa. A gente não pode é desistir”, diz.

Ato na Alerj marca o dia de medidas

Mesmo debaixo de forte chuva na tarde de ontem, servidores públicos de áreas da Saúde, Educação e Segurança Pública, entre outras, se organizaram em ato em frente à Alerj. O encontro marcava o primeiro dia de reação dos servidores contra o pacote de medidas anunciado pelo governo do estado.

Gritos de ‘Impeachment’ para governador Pezão e ‘Não vamos aceitar a redução salarial’ eram ouvidos durante as falas dos sindicalistas. Representante do Sepe, Marta Moraes diz que a categoria está indignada e não vai ficar de braços cruzados. “Estão retirando nossos direitos e de toda a população”, disse.

Fonte: O DIA
______________________________________________________________
PMDB faz no Rio o que fará no Brasil
Destruir o Estado para entregar aos bancos

publicado 04/11/2016


Reprodução: O Globo

Os programas sociais serão as primeiras vítimas (assim como o Gilmar e o Temer ainda conseguirão fechar o Bolsa Família).

O PMDB (no Rio) vai fechar imediatamente o Restaurante Popular, o Renda Melhor e o Aluguel Social.

O PMDB é assim, quando chega ao Governo: danem-se os pobres.

Breve o Brasil ficará como a Europa, como Paris: será um grande acampamento de pobres foragidos - pobres que fogem do PMDB.

Fonte: CONVERSA AFIADA
____________________________________________________________


O governo do PMDB do Rio de Janeiro, mesmo partido do governo do golpe, anunciou um pacote de medidas para conter a crise.

Um pacote repleto de maldades que irá atingir pobres , trabalhadores e grande parcela da classe média, que, segundo o governo estadual, deverão pagar a conta.


Os  ricos e semi-ricos, que se beneficiaram com isenção de impostos aplicadas por esse mesmo governo, ficaram de fora. Ganharam mas não vão pagar nada.

Quem paga é povo. Na hora de dividir a riqueza, o bolo fica apenas entre os ricos. Na hora de dividir os prejuízos, o povo é que paga a conta. Concentra-se a riqueza e socializa-se a pobreza.

Se estivéssemos na Argentina certamente o povo se unia, saia às ruas, faria o maior barulho e ainda expulsava os governantes de seus cargos.

Que tal fazer o mesmo por aqui, exercitando a cidadania através da democracia participativa direta e reta ?









sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Estado de exceção e barbárie

Silencio dos liberais diante da escalada do regime de força no país, coloca a sobrevivência da democracia nas mãos da frente ampla e da rua.
Golpe anistia remessas de fortunas ao exterior e acusa o MST de 'organização criminosa'.
Prisões no Paraná são tentativa de criminalizar lideranças, afirma MST. 


Ensaios para teste: 
MST é alvo de violência policial em três estados, PR, SP e MS. Milícias fardadas acusam o movimento de 'organização criminosa'

Fonte: CARTA MAIOR
_____________________________
Polícia invade escola do MST; uma pessoa fica ferida

Mesmo sem mandado de busca e apreensão, policiais dispararam contra as pessoas na recepção

Redação
Brasil de Fato | São Paulo (SP), 04 de Novembro de 2016 às 11:06

Policiais invadiram a escola e atiraram seguidas vezes na recepção da Escola Nacional Florestan Fernandes / Reprodução/ MST

Na manhã desta sexta-feira (4), a policiais civis de Mogi das Cruzes e Guararema invadiram a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema (SP). Mesmo sem mandado de busca e apreensão, policiais dispararam contra as pessoas na recepção da unidade e prenderam dois militantes. Segundo relatos, o cerco é feito por 10 viaturas e os policiais não estão identificados.

Os policiais chegaram na escola por volta das 09h25, cercaram o local e pularam a janela da recepção dando tiros para o ar. Os estilhaços, que acertaram uma mulher, eram de balas letais e não de borracha.



“É um abuso de autoridade, uma violência desnecessária, ilegal”, afirmou Giane Alves, advogada do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Segundo Giane, os policiais não informam o motivo da invasão. “Desconfiamos que esteja relacionado com operações que estão acontecendo do Paraná. Mas não sabemos quem eles estão procurando”, disse.

Em nota publicada no site, o MST disse “repudiar” a ação da Polícia de São Paulo e “exige que o governo tome as medidas cabíveis nesse processo. Somos um Movimento que luta pela democratização do acesso a terra no país e não uma organização criminosa”, disse.

Segundo a Delegacia da Polícia Civil de Guararema, a operação visava cumprir um mandado de prisão. Segundo a corporação, eles dispararam um tiro de munição antimotim para proteção, depois que 200 pessoas que estavam no local causaram "confusão e tumulto" contra eles. Ainda segundo a Delegacia, os quatro policiais civis foram feridos durante a ação e encaminhados para a Santa Casa.

Em contato com a reportagem do Brasil de Fato, a Santa Casa não confirmou a entrada de policias no hospital.

Edição: Simone Freire

Fonte: BRASIL DE FATO
__________________________________________________________

Silêncio da mídia no caso da invasão da escola do MST tem nome e sobrenome

4 de novembro de 2016

Não é só impressionante como revelador o silêncio de todos os portais, TVs, rádios e quetais do que se convencionou chamar de mídia golpista acerca da invasão da Escola Florestan Fernandes, do MST.

O silêncio é tanto conivente quanto envergonhado. Afinal, não há como tratar do assunto sem dizer que todos os direitos foram violados nesta invasão.


Os policiais não tinham mandado de busca e apreensão e chegaram atirando, como se pode ver em vários vídeos e fotos circulando nas redes e mesmo em matérias desta Fórum.

No local, como também se pode perceber, não havia nenhum militante portanto qualquer objeto que pudesse ser utilizado como arma de resistência.

Ou seja, não há a menor justificativa para a ação.

Mas não é só isso que fez com que esse fato não se tornasse notícia. Há um sujeito oculto por trás deste silêncio ensurdecedor.

Funciona mais ou menos assim.

O inocente repórter deve ter dito ao chefe, parece que teve um rolo lá na escola do MST e a polícia está no local.

O editor esperto provavelmente deslocou equipe para o local.

O inocente repórter voltou todo empolgado com a matéria. Mas ao relatar o que aconteceu, não convenceu.

O editor esperto queria os porquês, o que motivou aquela ação.

O inocente repórter não tinha o que dizer sobre isso.

O editor esperto passou a bola pra frente.

E lá de cima veio o recado.

Deixa essa história pra lá, porque o super chefe queria silêncio sobre o caso.

Mas quem é o super chefe, perguntou o inocente repórter.

O editor esperto respondeu: isso não é problema nosso.

E assim um certo sujeito que manda e desmanda na mídia paulista e que indicou o ministro da Justiça vai fazendo a lei ao seu gosto e sabor.

Isso mesmo, amigos. O silêncio da mídia no caso da invasão da Escola do MST tem nome e sobrenome: Geraldo Alckmin.

O resto é história pra boi dormir.

Fonte: Blog do Rovai
_______________________________________________________________


Quanto mais o regime de exceção avança no país, a velha mídia se omite, encolhe, desidrata. Naturalmente, a idiotice enquanto informação ganha mais espaço, destaque.

Sobre a barbárie da invasão na escola Florestan Fernandes, do MST, pesquisei no UOL, Folha de SP, BOL, JB e O Dia. Somente o JB apresentou informação. Nos demais, nem mesmo uma nota, uma chamada tímida.

Um ato de extrema violência contra pessoas indefesas, desarmadas, e ainda sem que estivessem envolvidas em algum tipo de conflito, deveria ocupar destaque em todas as mídias.

O Estado Policial avança, contra os pobres, estudantes, trabalhadores, despossuídos, desempregados, e todos aqueles que se colocam como críticos ao regime. A exaltação da força, comum nos regimes fascistas, avança no país; é enaltecida, elogiada, incentivada de tal maneira que o espetacular crescimento e ostentação narcísica de bíceps, acompanha, na mesma proporção o declínio dos neurônios de grande parcela da população. Enquanto isso, o crime organizado continua crescendo e se multiplicando, sem que seja incomodado. A título de exemplo, na cidade do Rio de Janeiro a Polícia Civil tem apenas três helicópteros para combate ao crime. No momento, e já há algum tempo, dois estão fora de operação e mesmo nas delegacias da cidade falta até mesmo papel para registrar ocorrências. A Polícia faz uma campanha para receber doações. Do outro lado, quem não é criminoso é perseguido, detido e morto, pelas forças de segurança que deveriam proporcionar segurança à população.

Nesse estado de barbárie, a notícia do Jornal O Dia, online, em destaque, é para campanha de arrecadação de fundos, não para a Polícia Civil do Rio de Janeiro que nem papel tem, mas para um time feminino de rúgbi, de não sei onde, onde os fundos são solicitados através de fotos das jogadoras, nuas, revelando seus fundos na expectativa que fiquem ocupados, naturalmente ,claro, por fundos que viabilizem financeiramente a equipe.

O Brasil caminha célere para o fundo do poço.

Jogadoras de rúgbi tiram a roupa para arrecadar fundos  
Fonte: O DIA