quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Resistência

Sopro de inspiração

6 DE OUTUBRO DE 2016

img_5324
Fonte: Blog da Luciana Oliveira
__________________________________________________________
Pedra do Sal, no Rio, é palco de uma roda de samba marcada pela resistência
06/10/2016 13h34
Anderson Baltar
do BOL, no Rio de Janeir

 Imagem: Diego Mendes/BOL

Roda de samba da Pedra do Sal reúne todas as tribos em local histórico

O grupo busca valorizar a essência do samba, por isso, as vozes não são microfonadas, apenas os instrumentos de cordas. "A intenção é trazer os cantos guturais dos tempos da escravidão. O samba sai puro, sem qualquer tipo de maquiagem", conta Pimentel.

Em meio à revitalizada região portuária do Rio de Janeiro, a poucos passos da Praça Mauá e do Boulevard Olímpico – menina dos olhos da cidade em tempos olímpicos, encontra-se uma verdadeira joia da cultura popular carioca: a Pedra do Sal. Local simbólico para a comunidade afro-brasileira que ocupou o Rio de Janeiro desde o século 17, a pedra tem esse nome por conta de ter sido um atracadouro para o comércio de sal nos tempos coloniais. Muitos anos depois, o espaço é o porto seguro para um intenso trabalho de preservação do samba e sua ancestralidade.

"Estamos aqui para lutar pela essência do samba. É uma luta política, ideológica e pedagógica, no sentido de que marcamos terreno e procuramos difundir essa tradição para as novas gerações", explica o percussionista Walmir Pimentel, um dos líderes do movimento e porta-voz da Roda de Samba da Pedra do Sal, que há dez anos ocupa o histórico endereço todas as segundas-feiras a partir das 19h. Montada em meio ao larguinho ao final da rua Argemiro Bulcão, a roda tem uma característica que a distingue de todas as outras: as vozes não são microfonadas, apenas os instrumentos de cordas. "A intenção é trazer os cantos guturais dos tempos da escravidão. O samba sai puro, sem qualquer tipo de maquiagem", afirma Pimentel.

A data da roda não foi escolhida por acaso. Segunda-feira é um dia com uma simbologia muito forte para os cultos de matrizes africanas. Na umbanda, é dia de Preto Velho. No candomblé, saúdam-se Omolu e Exu. Através dos batuques mais ancestrais, as entidades são louvadas e o local serve de ponto de encontro de sambistas, que geralmente nesse dia folgam de seus compromissos nas casas de show. O grupo, atualmente, é formado por Walmir Pimentel (percussão), Wando Azevedo (surdo), Paulo Cesar Correia (percussão), Peterson Vieira (percussão), Rogério Família (cavaco), Juninho Travassos (cavaco) e Juninho Silva (violão).

Samba para todos

Num cenário informal, os músicos se posicionam no meio do largo, em frente à Bodega do Sal, bar que teve a iniciativa de organizar o evento e até hoje fornece toda a logística. André Peterson, proprietário da Bodega, é testemunha ocular do crescimento da importância cultural da Pedra do Sal. Morador do local desde a infância, ajudava a mãe, Irene, a administrar o Alho Poró, um pequeno restaurante vizinho. Com a compra do bar, a roda, que já acontecia, ganhou mais destaque – muito antes do surgimento do projeto Porto Maravilha, que revitalizou toda a região portuária carioca. "O sucesso daqui foi imenso e começou a atrair muita gente. Tanto que, há sete anos, criamos outra roda, que acontece às sextas", conta Peterson.

Diego Mendes/BOL

Sentadas na Pedra do Sal, a paranaense Amanda (esq.) e a norte-americana Loren se divertem no intervalo da roda

Os dois eventos têm públicos diferentes. A roda de sexta-feira é mais frequentada pelo pessoal que sai do trabalho no Centro da Cidade e procura dar uma relaxada.

É o Samba de Lei, comandado pelo músico Wagninho e que já gerou importantes frutos para a nova geração de bambas cariocas. Todas as segundas-feiras, em paralelo à roda, ele oferece oficinas de percussão para mulheres no andar superior da Bodega. Desse trabalho surgiu o grupo Moça Prosa, que começa a conquistar uma legião de adeptos no circuito do samba carioca.

Já a roda de segunda-feira tem um perfil bastante eclético. Pela Pedra do Sal circula desde uma quantidade expressiva de universitários a turistas de todas as partes do Brasil e do mundo. Várias barracas são montadas no entorno e vendem bebidas e iguarias típicas de quem está acostumado a seguir os batuques pela cidade. O povo da roda tem suas próprias barracas e o proprietário da Bodega não esconde sua preocupação com todo o comércio do entorno. "Prejudica um pouco nas vendas, não nego. Mas nem por isso vamos deixar de fazer o samba acontecer", assinala Peterson.

Sentadas na pedra durante o intervalo dos músicos, a paranaense Amanda Viegas e a norte-americana Loren Lorenzo diziam estar encantadas com o ambiente. A brasileira o conheceu no ano passado, quando fez um trabalho temporário no Rio de Janeiro. Ao receber a amiga californiana de férias na cidade, fez questão de levá-la à Pedra do Sal em sua primeira saída noturna. "Eu adoro samba e me apaixonei por aqui desde a primeira vez que vim. Aqui o samba flui com toda espontaneidade, bem diferente do que vemos nas casas de shows", explica Amanda, que é fã de Arlindo Cruz e Maria Rita. Sua amiga, que vivia a primeira experiência com o samba, declarou-se completamente emocionada com o que presenciava. "Nunca tinha ouvido samba nos Estados Unidos e estou enfeitiçada. Essa música fala direto com a nossa alma", derreteu-se Loren.

Símbolo de resistência

Emoção e ancestralidade. Essa é a marca da roda da Pedra do Sal, que, se depender de seus idealizadores, nunca irá se perder, apesar da Zona Portuária carioca estar na moda. Walmir se queixa do comportamento de muitos frequentadores eventuais, que insistem em conversar perto da roda e reclamar da falta de microfones. "A gente tenta conscientizar e explicar que esse é o conceito, que nós nos sentimos bem assim. Mas eu fico extremamente chateado com esse tipo de postura. Na Olimpíada, tivemos alguns problemas, mas nós não vamos deixar de ser um ponto de resistência", enfatiza.

Diego Mendes/BOL

Sem microfone e cercados pelo público, músicos fazem "samba puro"

A resistência se manifesta também no repertório. A intenção dos músicos é fugir completamente do chamado "Top 10" das paradas para tocar canções menos badaladas. "Gostamos de trazer para o público músicas pouco conhecidas, mas que são verdadeiras joias. Não tocamos só o lado B, C ou D de Cartola, mas também de compositores menos reconhecidos, como Baiaco, Brancura ou Wilson Batista", explica Walmir. O samba-enredo também não é esquecido, porém dentro dessa mesma dinâmica. Quando a reportagem do BOL esteve no local, o grupo tocou, dentre outros, sambas pouco lembrados de escolas que estão nos grupos de Acesso, como Caprichosos de Pilares e Tupy de Braz de Pina.

Mesmo sendo diferente do habitual na maioria das rodas, a qualidade do repertório sobrepõe-se e conquista quem está em volta da roda. Os movimentos, que eram tímidos no começo, se intensificam. Por volta das 22h, o local está completamente tomado de gente, que se une em torno dos músicos e não esmorece nem com a chuva fina que insiste em cair. Bem colado à roda, o autônomo Vinicius Quintella canta todas as músicas e bate na palma da mão no ritmo da canção.

"Estou aqui todas as segundas-feiras, não perco por nada. E não é só o samba que me traz aqui. O lugar é fantástico, exala ancestralidade. A energia é única. Além do mais, vemos gente de todos os tipos por aqui. É uma mistura que demonstra exatamente o que é o Rio de Janeiro, onde todo mundo pode curtir junto, sem discriminação", afirma Vinicius, fã de Candeia, João Nogueira e Roberto Ribeiro.

É nesse ambiente, onde, no passado, as baianas faziam seus rituais religiosos e Hilário Jovino Ferreira fundou o rancho Reis de Ouro – o primeiro a sair no Carnaval, revolucionando a folia carioca -, que o samba resiste avesso aos modismos e sem fazer concessões. "O importante aqui é marcar posição. Quanto mais simples, mais nobre é o samba. Esperamos que as novas gerações sigam essas pegadas", finaliza Walmir Pimentel.

Roda de Samba da Pedra do Sal
Endereço: Rua Argemiro Bulcão - 1, Saúde (zona portuária), Rio de Janeiro (RJ)
Dia e horário: segundas-feiras, 19h
Entrada: gratuita

Fonte: BOL


Ele quer enganar a gente

Manifesto em favor do arco-íris

Querer tirar o vermelho do Brasil é querer tirar o Brasil do Brasil: palavra Brasil tem a mesma raiz de brasa. Tirar o vermelho é reduzi-lo a cinzas.
Flávio Aguiar

5 de outubro de 2016: o governo anuncia que quer tirar o Brasil do vermelho.

Não é bem assim. Porque este governo está transformando o Brasil num cheque sem fundo para os brasileiros, mas especial e sem limite para as multinacionais, as petroleiras, as financeiras.

Na verdade o que o governo quer é expulsar o vermelho do Brasil.

Não vai dar certo.

Pra começo de conversa, o governo teria de aprovar uma PEC reformando o arco-íris.

Ou proibindo de vez que o arco-íris apareça no Brasil. Mas aí ele teria de proibir também o nascente e o poente. E o planeta Marte.

O vermelho está em toda parte.

Está na camiseta do Internacional, do América, do Bangu, do Flamengo, do Remo, do São Paulo e de muitos outros times brasileiros. Não que os outros times não tenham direito a outras cores. Claro que têm. Porque o Brasil ainda é, apesar do novo governo, o Brasil de todas as cores. O Brasil do arco-íris, até do ultra-violeta e do infra-vermelho, do branco e do negro, tudo misturado.

O vermelho está em doze das bandeiras dos estados brasileiros. Até na do estado de São Paulo! E a do Espírito Santo tem uma faixa cor-de-rosa.

E ele está também nas bandeiras de inúmeros países: Portugal, França, Itália, Albânia, Croácia, Montenegro, Dinamarca, Noruega, Equador, Bolívia, México, Japão, Egito, Angola, África do Sul, Nova Zelândia… apenas para citar alguns. Até na bandeira dos Estados Unidos o vermelho aparece!

O vermelho está no rabanete e no tomate, e portanto está no molho bolonhesa e na pizza. Está em algumas das pimentas. Na fruta do café, na maçã, na romã, no morango, na framboesa, na rosa e no cravo, no hibisco e no gerânio, etc., etc., etc

O vermelho está na alma do churrasco…

O Brasil é vermelho. Querer tirar o vermelho do Brasil é querer tirar o Brasil do Brasil. Porque a palavra Brasil tem a mesma raiz de brasa, braseiro, brasear, esbraseado… Querer tirar o vermelho do Brasil é querer reduzir o Brasil a cinzas.

O vermelho está nas meias e nos paramentos dos cardeais. E também subiu à cabeça dos cardeais - os pássaros. E está na crista dos galos e das galinhas.

O vermelho é a cor exclusiva das esquerdas? Ora, ora, nos Estados Unidos os republicanos, que são normalmente mais reacionários do que os democratas, se identificam pela cor vermelha, e os democratas, que normalmente são menos reacionários do que os republicanos, pela cor azul.

O vermelho une a humanidade. Porque é a cor do sangue dos africanos, dos europeus, dos americanos, dos asiáticos, dos oceânicos, dos moradores do Ártico e dos visitantes da Antártida e também dos que moram na linha do Equador. É a cor do sangue de homens e mulheres, de crianças e idosos, de LGBTs e heterossexuais… Como se vê, o vermelho não tem preconceitos.

Se os glóbulos vermelhos parassem de se reproduzir, os seres humanos morreriam sufocados.

Acho que o governo se empolgou com sua foto, a inaugural. Aquele bando de homens de terno preto mas de alma apenas branca.

E agora está querendo tapar o Brasil arco-íris com a sua peneira.

Porque não dá para proibir apenas o vermelho.

Tem que destruir o arco-íris.

Por isto, defendamos o arco-íris. O nosso Brasil arco-íris e de tudo quanto é cor. E fica declarado que daqui por diante o 5 de outubro será o dia do arco-íris.

Fonte: CARTA MAIOR
_________________________________________________________

 

O governo do golpe lançou hoje essa tal campanha "vamos tirar o Brasil do vermelho"
Claramente com duplo sentido, em referência as esquerdas e com desdobramentos perigosos.
Assim como a "grávida" da foto, ele quer enganar a gente.
                      GOVERNO  TEMER                         Mulher com barriga falsa

Golpe Austroposeidon magnificus

Cientistas anunciam descoberta do maior dinossauro do Brasil, com 25 metros

Museu de Ciências da Terra/Divulgação
05/10/201613h09
Titanossauro Austroposeidon magnificus tinha 25 metros de comprimento

Fonte: BOL
_____________________________________________________________
 

Não deixa de ser curioso, e também significativo, que no momento em que o Brasil do golpe acelera para o passado e no Rio de Janeiro a idade média ressurge, cientistas tenham descoberto o maior dinossauro no Brasil.

Os pequenos gigantes e o paraíso

Resende vence e avança à semifinal da Copa Rio
05/10/2016 20:21

Atual bicampeão da Copa Rio, o Resende carimbou, nesta quarta-feira (05/10), a classificação para a semifinal da edição 2016 da competição. Comandando as ações da partida desde o início, o Gigante do Vale venceu o Angra dos Reis por 2 a 0, gols de Robinho e Wandinho, no estádio do Trabalhador. Agora, o Resende está a quatro jogos do tricampeonato do torneio.

Feliz com o resultado, o técnico Toninho Andrade destacou a atuação da equipe e disse esperar uma partida complicada contra o Friburguense, adversário da semifinal:

"Foi uma vitória importante, com autoridade. A equipe fez um bom jogo. Criamos muitas chances de gol, e poderíamos ter feito até um placar mais elástico. Mas o mais importante foi a vitória. Teremos um confronto muito difícil contra o Friburguense, pela semifinal. Agora, temos que recuperar o time para o jogo de sábado. Vamos em busca de fazer uma boa partida e trazer uma vantagem para o jogo de volta, que vai ser em casa", disse o treinador.

O Gigante do Vale se classificou para a semifinal ao terminar na liderança do Grupo B, com 17 pontos, ficando a frente da Portuguesa pelo saldo de gols.
imgCapa















Fonte: FERJ
____________________________________________________________
 

Essa é a realidade da maioria de jogadores de futebol, profissionais, do Estado do Rio de Janeiro e mesmo do Brasil.

Equipes que não disputam competições nacionais, ou mesmo regionais, e que tem o campeonato estadual, que se encerra em abril/maio, como principal competição do ano.

Na foto, o jogo entre Resende e Angra dos Reis, times da primeira e segunda divisão de profissionais do Estado do Rio de Janeiro, respectivamente, em jogo da Copa Rio, competição criada e organizada pela Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro para manter os times em atividade durante todo o ano.

O jogo realizado no campo do Resende, na cidade de mesmo nome, na região do Vale do Paraíba.

O Gigante do Vale em campo, como é conhecido o time do Resende, e seu estádio, com o placar da década de 1950 e o apoio publicitário, fixo, dos 'Extintores Paraíso", em pintura no muro na lateral do campo.

Um paraíso inalcançável para a maioria dos times de futebol do Rio de Janeiro e do Brasil.

Em um momento em que se discute no Brasil a reformulação dos campeonatos estaduais com redução do número de equipes e do tempo de disputa, qual será o futuro de milhares de profissionais, trabalhadores, empregados em centenas de clubes por todo o Brasil ?

Que os campeonatos estaduais sofram redução no números de clubes participantes e no número de datas, parece ser o caminho correto. No entanto, se faz necessário que o calendário nacional tenha competições, nacionais ou mesmo regionais, que contemplem a maioria dos clubes de futebol do país, garantindo atividade para os clubes e para trabalhadores durante toda a temporada, ano após ano. A realidade do futebol brasileiro não está nos altos salários de alguns jogadores profissionais do futebol, todos, claro, badalados pela mídia. A maioria dos profissionais do futebol no Brasil, tem salários, quando pagos em dia, de até dois salários mínimos.

Dos pequenos clubes, ou clubes de menor investimento como a imprensa assim se refere para não chamá-los daquilo que de fato são, ou seja, pequenos, surgiram e surgem, ainda, grandes talentos do futebol brasileiro.

Reduzir e otimizar os campeonatos estaduais, e, ao mesmo tempo, estudar e viabilizar competições nacionais e/ou regionais para a maioria dos trabalhadores do futebol brasileiro de maneira que o paraíso seja ao menos um sonho para os pequenos, como o Gigante do Vale, por exemplo.

O Rio de Freixo como referência nacional

No Rio de Janeiro, é Freixo versus trevas

Por Bepe Damasco, em seu blog:

O Rio de Janeiro é uma cidade de inegável vocação cosmopolita e vanguardista. Tida e havida como uma espécie da caixa de ressonância do país na política, na cultura e nas artes, o Rio é plural e libertário por excelência, ditando costumes e comportamentos. Os cariocas e os visitantes sabem que o ar daqui está impregnado de liberdade.

Mas, todo esse patrimônio civilizatório está ameaçado pela candidatura do bispo da Igreja Universal, Marcelo Crivella, à prefeitura. Já imaginou o Rio ter um prefeito que considera o homossexualismo pecado e crime? Já pensou o Rio ter um prefeito que só consegue enxergar a questão das drogas através da lente da repressão e da porrada? Já pensou o Rio ter um prefeito cuja mente turvada por dogmas religiosos o leva a criminalizar o aborto, e não encará-lo como um direito das mulheres e uma questão de saúde pública?

Uma das maiores conquistas da humanidade, e que lhe custou milhões de vidas, foi a separação entre igreja e Estado. Pois, por mais que negue, Crivella na prefeitura significa contaminar o Estado laico com o vírus letal do fundamentalismo religioso. Não pode dar certo.

A dimensão religiosa de cada ser humano merece todo o respeito, bem como o merecem os que, como eu, não professam nenhum tipo de credo religioso. Exatamente por isso é extremamente nocivo para o regime democrático a mistura de política com religião.

Basta ver o estrago causado pelo ativismo político de figuras abjetas como Malafaia e Feliciano. Aliás, Malafaia já iniciou sua pregação das trevas em defesa de Crivella. Com ele, certamente marcharão os próceres da onda de ódio, preconceito e intolerância que vem alcançando setores crescentes da sociedade. Nesse ponto não cabe tergiversações: parcela significativa da população se aproxima de forma alarmante de valores totalitários e fascistas.

Barrar esse avanço obscurantista no Rio acaba sendo um dever da cidadania. Não se trata gostar ou não do candidato Marcelo Freixo, ou de comungar com as posições de seu partido, o PSOL. Neste momento, o buraco é bem mais embaixo. O resultado geral das eleições municipais é inequívoco quanto à vitória das forças do atraso e do golpe, antinacionais e antipopulares até a medula. O desafio dos democratas e progressistas cariocas é fazer do Rio, com a vitória de Freixo, um bunker de resistência ao retrocesso.

Freixo e seu partido se colocaram ao lado da democracia, na luta contra o golpe midiático-jurídico-parlamentar. Agora, com a ida ao segundo turno no Rio, têm uma oportunidade de ouro para deixar o sectarismo de lado, conquistando o apoio de todas as forças que acreditam numa cidade ainda mais humana, libertária e plural, onde as cartas não sejam dadas pela máfia do transporte e pela especulação imobiliária.

Fonte: Blog do Miro
__________________________________________________________
 

A eleição é municipal, mas por acontecer na cidade do Rio de Janeiro, a mensagem deve ser nacional. A cidade do Rio de Janeiro, em termos populacionais, é algo em torno de 1,5 Uruguai.

O PSol não pode se fechar e as esquerdas, centro esquerda e centro, sem exceções, devem ser unir em torno da candidatura da esperança, em um projeto ousado, vanguardista, diametralmente oposto ao adversário local e ao governo do golpe.

Fazer do Rio de Janeiro um projeto piloto para o país.

PS. Por que até o momento , alguns blogues e sites progressistas não se manifestaram, de forma afiada, sobre o segundo turno no Rio de Janeiro ?

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Os 10 pontos que explicam o Novo Sistema Mundial

Os 10 pontos que explicam o Novo Sistema Mundial


Precisamos tomar consciência das rápidas evoluções em curso e refletir sobre a possibilidade de que cada um de nós pode intervir de alguma forma.

Ignacio Ramonet - Doutor em semiologia, professor emérito da Universidade de Paris e diretor do Le Monde Diplomatique em espanhol. Autor do livro “El Imperio de la Vigilancia”, entre outros.


Como é o Novo Sistema Mundial? Quais são suas principais características? Que dinâmicas estão determinando o funcionamento real do nosso planeta? Que características dominarão os próximos 15 anos, de aqui até 2030?

Para tentar descrever este Novo Sistema Mundial e prever seu futuro imediato, vamos a utilizar a bússola da geopolítica, uma disciplina que nos permite compreender o jogo das potências e avaliar os principais riscos e perigos. Para antecipar, como num tabuleiro de xadrez, os movimentos de cada potencial adversário.

O que essa bússola nos diz?

O declínio do Ocidente

A principal constatação é o declínio do Ocidente. Pela primeira vez desde o Século XV, os países ocidentais estão perdendo poderio diante da ascensão das novas potências emergentes. Começa a fase final de um ciclo de cinco séculos de dominação ocidental do mundo. A liderança internacional dos Estados Unidos se vê ameaçado hoje pelo surgimento de novos polos de poder (China, Rússia, Índia) a escala internacional. O “rebaixamento estratégico” dos Estados Unidos já começou. O “século americano” parece chegar ao fim, ao mesmo tempo em que vai se desvanecendo o “sonho europeu”…

Embora os Estados Unidos continuem sendo uma das principais potências planetárias, está perdendo sua hegemonia econômica paulatinamente, com o crescimento da China, e já não exercerá sua “hegemonia militar solitária” como fez desde o fim da Guerra Fria. Caminhamos em direção a um mundo multipolar, no qual os novos atores (China, Rússia e Índia) têm vocação de constituir sólidos polos regionais para disputar a supremacia internacional com Washington e seus aliados históricos (Reino Unido, França, Alemanha, Japão).

Na terceira linha aparecem as potências intermediárias, com demografias em alta e fortes taxas de crescimento econômico, que podem se transformar também em polos hegemônicos regionais, com talvez, se mantiverem essa tendência nos próximos quinze anos, em um grupo de influência planetária. São os casos de Indonésia, Brasil, Vietnã, Turquia, Nigéria e Etiópia.

Para se ter uma ideia da importância e da rapidez da queda de prestígio do Ocidente, basta observar estas duas cifras: parte dos países ocidentais que hoje representam 56% da economia mundial serão apenas 25% em 2030 – em menos de quinze anos, o Ocidente perderá mais da metade de sua preponderância econômica. Uma das principais consequências disso é que os Estados Unidos e seus aliados já não terão os meios financeiros para assumir o rol de guardiães do mundo. Desse modo, esta mudança estrutural poderia debilitar o Ocidente de forma duradoura.

O inabalável crescimento da China

O mundo se “desocidentaliza” rapidamente, e é cada vez mais multipolar. Nesse cenário, se destaca, uma vez mais, o papel da China, que emerge como a grande potência do Século XXI. Embora a China se encontre ainda longe de representar um autêntico rival para Washington, por enquanto. Em parte, a estabilidade do novo candidato a império não está garantida, porque coexistem em seu seio o capitalismo mais salvagem e o comunismo mais autoritário. A tensão entre essas duas dinâmicas causará, cedo ou tarde, uma quebra que poderia debilitar o seu poder.

De qualquer forma, neste 2016, os Estados Unidos continuam exercendo uma indiscutível dominação hegemônica sobre o planeta. Tanto em termos de domínio militar (fundamental) como em vários outros setores cada vez mais determinantes: em particular, o tecnológico (Internet) e o soft power (cultura de massas). O que não significa que a China não tenha realizado prodigiosos avanços nos últimos trinta anos. Nunca na história, nenhum país cresceu tanto em tão pouco tempo.

Por enquanto, o poder dos Estados Unidos está em declínio, e o da China em ascensão inabalável. Já é a segunda potência econômica do mundo, superando o Japão e a Alemanha.

Para Washington, a Ásia é agora uma zona prioritária, e o presidente Barack Obama decidiu reorientar a estratégia de sua política exterior. Os Estados Unidos tenta frear a expansão da China no continente, cercando-a com bases militares e se apoiando em seus sócios locais tradicionais: Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Filipinas. É significativo que a primeira viagem de Barack Obama, depois de reeleito em 2012, tenha sido uma turnê por Birmânia, Cambodja e Tailândia, três Estados da Associação de Nações do Sudeste da Ásia Sudeste (ASEAN, por sua sigla em inglês), uma organização que reúne os aliados de Washington na região, a maioria deles com problemas de limites marítimos com Pequim.

Os mares da China se tornaram as zonas de maior potencial de conflito armado da área Ásia-Pacífico. As maiores tensões entre Pequim e Tóquio têm a ver com a soberania das Ilhas Senkaku – Diaoyú para os chineses. Também há disputas com o Vietnã e as Filipinas, sobre a propriedade das Ilhas Spratly, um conflito que vem crescendo gradualmente. A China está trabalhando para modernizar o arsenal de sua marinha. Em 2012, lançou seu primeiro porta-aviões, o Liaoning, e está construindo um segundo, com a intenção de intimidar a Washington. Pequim suporta cada vez menos a presencia militar dos Estados Unidos na Ásia. Entre estos dois gigantes, se está instalando uma perigosa “desconfiança estratégica” que, sem sombra de dúvidas, poderia marcar a política internacional da região daqui até 2030.

O terrorismo jihadista

Outra das ameaças globais que nossa bússola indica é o terrorismo jihadista praticado pela Al Qaeda e pela organização Estado Islâmico (ISIS, por sua sigla em inglês). As principais causas desse terrorismo jihadista atual são os desastrosos erros e os crimes cometidos pelas potências ocidentais que invadiram o Iraque em 2003, além dos disparates nas intervenções armadas na Líbia (2011) e na Síria (2014).

No Oriente Médio continua sendo o foco de conflito mais perturbador do mundo. Particularmente, em torno da inexplicável guerra civil na Síria. Está claro as grandes potências ocidentais (Estados Unidos, Reino Unido, França), aliadas aos Estados que mais difundem pelo mundo a concepção arcaica e retrógrada do Islã (Arábia Saudita, Qatar e Turquia), decidiram apoiar, com dinheiro, armas e instrutores, as milícias insurgentes sunitas. Os Estados Unidos constituiu nessa região um amplo “eixo sunita”, com o objetivo de derrubar Bashar al-Assad e despojar o Irã de um grande aliado regional. Mas o governo de Bashar al-Assad, com o apoio da Rússia e do Irã, vem resistindo, e continua se consolidando. O resultado de tantos erros é o terrorismo jihadista atual que multiplica os atentados odiosos contra civis inocentes na Europa e nos Estados Unidos.

Algumas capitais ocidentais continuam pensando que a potência militar massiva é suficiente para conter o terrorismo. Porém, na história militar, abundam os exemplos de grandes potências incapazes de derrotar adversários mais fracos. Basta recordar os fracassos norte-americanos no Vietnã, nos Anos 70, ou na Somália, nos Anos 90. Num combate assimétrico, aquele que pode mais, não necessariamente vence. O historiador Eric Hobsbawn recordava que “na Irlanda do Norte, durante cerca de trinta anos, o poder britânico se mostrou incapaz de derrotar um exército tão minúsculo como o IRA, que certamente nunca esteve em vantagem no conflito, mas tampouco foi vencido”.

Os conflitos em que o mais forte enfrenta o mais fraco em terreno são fáceis de iniciar, mas não de terminar. O uso massivo de meios militares pesados não significa necessariamente alcançar os objetivos buscados.

A luta contra o terrorismo também está autorizando, em matéria de governação e política interior, todas as medidas autoritárias e todos os excessos, inclusive uma versão moderna do “autoritarismo democrático” que tem como principal alvo não as organizações terroristas em sia mas sim os grupos insubmissos e insurgentes que se opõem a las políticas globalizadoras e neoliberais em certas regiões do mundo.

A crise será longa…

Outra constatação importante: os países ricos continuam padecendo pelas consequências do terremoto econômico-financeiro que foi crise de 2008. Pela primeira vez, a União Europeia vê sua coesão e até a sua existência sob ameaça – situação confirmada pelo “brexit”. Na Europa, a crise econômica durará ao menos uma década mais, ou seja, até pelo menos 2025…

As crises, em qualquer setor, acontecem quando algum mecanismo deixa de atuar como o esperado, começa a ceder, até que se quebra. Essa ruptura impede que o conjunto das máquinas continue funcionando. É o que está ocorrendo na economia mundial desde que estourou a crise do subprime, em 2007-2008.

As repercussões sociais desse cataclismo econômico têm sido de uma brutalidade inédita: 23 milhões de desempregados na União Europeia e mais de 80 milhões de pobres… Os jovens em particular são as vítimas principais; gerações sem futuro. Mas as classes médias também estão assustadas, porque o modelo neoliberal de crescimento as abandona à margem do caminho.

A velocidade da economia e do mercado financeiro hoje é como a de um relâmpago, enquanto a velocidade da política se parece à de um caracol, para melhor comparação. É cada vez mais difícil conciliar tempo econômico e tempo politico. E também crises globais e governos nacionais. Tudo isso provoca nos cidadãos sentimentos de frustração e angústia.

A crise global produz vencedores e perdedores. Os vencedores se encontram, essencialmente, na Ásia e nos países emergentes, que não têm uma visão tão pessimista da situação como a dos europeus. Mas também há muitos “vencedores” entre os países ocidentais, cujas sociedades se encontram fraturadas pelas desigualdades entre ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres.

Na verdade, esses países não estão suportando uma só crise, mas sim uma soma de crises mescladas tão intimamente umas com as outras que não conseguimos distinguir entre causas e efeitos. Os efeitos de umas são as causas de outras, formando assim um verdadeiro sistema de crises. Ou seja, enfrentamos uma autêntica crise sistêmica do mundo ocidental, que afeta a tecnologia, a economia, o comércio, a política, a democracia, a identidade, a guerra, o clima, e meio ambiente, a cultura, os valores, a família, a educação, a juventude, etc.

Do ponto de vista antropológico, estas crises estão se traduzindo num aumento do medo e do ressentimento. As pessoas vivem em estado de ansiedade e de incerteza. Voltam a estar presentes os grandes pânicos diante de ameaças indeterminadas, como a da perda do emprego, dos eletrochoques tecnológicos, das consequências da biotecnologia, das catástrofes naturais, da insegurança generalizada… Tudo isso configura um desafio para as democracias. Porque esse terror se transforma às vezes em ódio e em repúdio. Em vários países europeus, e também nos Estados Unidos, esse ódio se dirige hoje contra o estrangeiro, o imigrante, o refugiado, o diferente. A ojeriza contra os chamados “outros” (muçulmanos, latinos, ciganos, subsaarianos, indocumentados, etc) vem crescendo e fomentando os partidos xenófobos e a extrema direita.

Decepção e desencantamento

É preciso entender que, desde a crise financeira de 2008 (da qual ainda não saímos), já nada é igual em nenhum lugar do mundo. Os cidadãos estão profundamente desencantados. A própria democracia como modelo vem perdendo sua credibilidade. Os sistemas políticos foram sacudidos até as raízes. Na Europa, por exemplo, os grandes partidos tradicionais estão em crise. E em todos os lugares e possível perceber o avanço das agrupações de extrema direita (na França, na Áustria e nos países nórdicos) ou de partidos antissistema e anticorrupção (na Itália e na Espanha). A paisagem política foi radicalmente transformada.

Esse fenômeno chegou aos Estados Unidos, um país que já viveu uma onda populista devastadora, em 2010, protagonizada então pelo chamado Tea Party. A candidatura do multimilionário Donald Trump para ocupar a Casa Branca prolonga aquela onda e configura uma revolução eleitoral que nenhum analista poderia prever. Embora persista, em aparência, a velha dicotomia entre democratas e republicanos, a ascensão de um candidato tão heterodoxo como Trump constitui um verdadeiro sismo. Seu estilo direto, bonachão, seu discurso maquiado e reducionista, apelando aos baixos instintos de certos setores da sociedade, deram a ele um caráter de autenticidade aos olhos dos mais decepcionado eleitores da direita.

Vencedor das primárias do Partido Republicano, Trump soube interpretar o que poderíamos chamar de “rebelião das bases”. Melhor que ninguém, ele percebeu que, por um lado, existe a fratura cada vez mais ampla entre as elites políticas, econômicas, intelectuais e midiáticas, e por outro, uma quebra na base do eleitorado conservador. Seu discurso violentamente crítico à burocracia de Washington, aos meios de comunicação e a Wall Street seduz particularmente os eleitores brancos, pouco cultos e empobrecidos pelos efeitos da globalização econômica.

Sismos e mais sismos

Neste sentido, poderíamos dizer que outra grande característica do Novo Sistema Mundial são os sismos. Sismos financeiros e monetários, sismos climáticos, sismos energéticos, sismos tecnológicos, sismos sociais, sismos geopolíticos – como o restabelecimento de relações entre Cuba e Estados Unidos, ou, em outro sentido, o recente golpe de Estado institucional no Brasil, contra a presidenta Dilma Rousseff. Sem esquecer dos sismos eleitorais, como a vitória do “Não” aos acordos de paz no plebiscito realizado na Colômbia, além do “brexit” no Reino Unido, ou o sucesso da extrema direita na Áustria, ou a derrota de Angela Merkel em várias eleições parciais na Alemanha. Ou o enorme sismo eleitoral que poderia constituir efetivamente a eventual vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, em novembro.

Acontecimentos imprevistos que surgem com força, sem que ninguém, ou quase ninguém, possa se prevenir. Há uma falta de visibilidade geral. Se governar é prever, vivemos uma evidente crise de governança geral. Em muitos países, o Estado que protegia os cidadãos deixou de existir. Há uma crise da democracia representativa: “não nos representam!”, diziam os “indignados”. As pessoas reclamam que a autoridade política volte a assumir o seu papel de condutor da sociedade. Se insiste na necessidade de reinventar a política e de fazer o poder político entender que precisa colocar freios ao poder econômico e financeiro dos mercados.

Internet, a ciberespionagem e a ciberdefesa

O Novo Sistema Mundial também se caracteriza pela multiplicidade de rupturas estratégicas cujo significado às vezes não compreendemos. Hoje, a Internet é o vetor da maioria das mudanças. Quase todas as crises recentes têm alguma relação com as novas tecnologias da comunicação e da informação, com a desmaterialização e a digitalização generalizadas e com a propagação das redes sociais. Mais que uma tecnologia, a Internet é um ator fundamental das crises. Basta recordar o rol cumprido por WikiLeaks, Facebook, Twitter e as demais redes sociais na aceleração da difusão de informação, e também na conectividade social através do mundo.

Até 2030, no Novo Sistema Mundial, algumas das maiores coletividades do planeta já não serão países e sim comunidades congregadas e vinculadas entre si pela Internet e pelas redes sociais. Por exemplo, “Facebooklândia”, com mais de um bilhão de usuários, ou “Twitterlândia”, com mais 800 milhões. Espaços cuja influência no jogo de tronos da geopolítica mundial, poderia ser decisiva. Hoje, as estruturas de poder se mostram cada vez mais obsoletas aos olhos de um público com acesso às novas redes e ferramentas digitais.

Por outro lado, a estreita cumplicidade entre algumas grandes potências e as grandes empresas privadas que dominam as indústrias da informática e das telecomunicações, a capacidade em matéria de espionagem de massas cresce também de forma exponencial. As megaempresas, como Google, Apple, Microsoft, Amazon e Facebook estabeleceram estreitos laços com o aparato do Estado em Washington, especialmente com os responsáveis pela política exterior. Essa relação se tornou evidente. Compartilham as mesmas ideias políticas e idêntica visão do mundo. Em última instância, esses estreitos vínculos e a visão comum do mundo, por exemplo, entre a Google e a administração estadunidense, estão a serviço dos objetivos da política exterior dos Estados Unidos.

Se trata de uma aliança sem precedentes: Estado, aparato militar de segurança e indústrias gigantes da web. Criaram um verdadeiro império da vigilância, cujo objetivo claro e concreto é manter a Internet sob constante observação, toda a Internet e todos os internautas, como foi denunciado por Julian Assange e Edward Snowden.

O ciberespaço se transformou numa espécie de quinto elemento. O filósofo grego Empédocles sustentava que nosso mundo estava formado por uma combinação de quatro elementos: terra, ar, água e fogo. Porém, o surgimento da Internet, com seu misterioso “interespaço” superposto ao nosso, formado por bilhões e bilhões de intercâmbios digitais de todo tipo, por seu roaming, seu streaming e seu clouding, engendrou um novo universo, de certo modo quântico, que completa a realidade do nosso mundo contemporâneo como se fosse um autêntico quinto elemento.

Neste sentido, é preciso destacar que cada um dos quatro elementos tradicionais constitui, historicamente, um campo de batalha, um lugar de confrontação. E que os Estados vem tendo que desenvolver componentes específicos das forças armadas para cada um destes elementos: para a terra, o exército de terra; para o ar, o exército do ar (aeronáutica); para a água, o exército da água (marinha); e, num carácter mais singular para o fogo, os “guerreiros do fogo” (bombeiros). De forma natural, como aconteceu com a criação da aviação militar – entre 1914 e 1918 –, todas as grandes potências estão conformando hoje, juntos com os exércitos tradicionais e os combatentes do fogo, um novo exército cujo ecossistema é o quinto elemento: o ciberexército, encarregado da ciberdefensa, que tem suas próprias estruturas orgânicas, seu Estado maior, seus cibersoldados e suas próprias armas: supercomputadores preparados para defender as ciberfronteiras e enfrentar a ciberguerra digital, no âmbito da Internet.

Uma mutação do capitalismo: a economia colaborativa

Trinta anos depois da expansão massiva da web, os hábitos de consumo também estão mudando. Pouco a pouco, está se impondo a ideia de que a opção mais inteligente hoje é a de usar algo em comum, e não necessariamente comprá-la. Isso significa abandonar aos poucos uma economia baseada na submissão dos consumidores e no antagonismo ou na competição entre os produtores, e passar a uma economia que estimula a colaboração e o intercâmbio entre os usuários de um bem ou um serviço. Tudo isto planteia uma verdadeira revolução no seio do capitalismo, que está bem diante dos nossos narizes, uma nova mutação.

É um movimento irresistível. Milhares de plataformas digitais de intercâmbio de produtos e serviços estão se expandindo a toda velocidade. A quantidade de bens e serviços que podem ser alugados ou intercambiados através de plataformas online, sejam elas pagas ou gratuitas, já é literalmente infinita.

A nível planetário, esta economia colaborativa cresce atualmente entre 15% e 17% ao ano. Com alguns exemplos de crescimento absolutamente espetaculares. Um exemplo conhecido é o Uber, a aplicação digital que conecta passageiros e motoristas, que tem somente cinco anos de existência e já vale 68 bilhões de dólares, e opera em 132 países. Por sua parte, Airbnb, a plataforma online de alojamentos para particulares, surgida em 2008, já encontrou camas para mais de 40 milhões de viajantes, e vale hoje mais de 30 bilhões de dólares – significa que, sem ser proprietária habitação nenhuma, a empresa já vale mais que os grandes grupos Hilton, Marriott ou Hyatt.

Outro aspecto fundamental que está mudando – e que foi nada menos que a base da sociedade de consumo –, é o sentido da propriedade, o desejo de possessão. Adquirir, comprar, ter, possuir eram os verbos que melhor traduziam a ambição essencial de uma época na qual o ter definia o ser. Acumular “coisas” (casas, carros, geladeiras, televisores, móveis, roupa, relógios, livros, quadros, telefones, etc) constituía, para muitas pessoas a principal razão da existência. Parecia que, desde o início dos tempos, o sentido materialista de posse era inerente ao ser humano.

A economia colaborativa constitui um modelo econômico baseado no intercâmbio e na comunhão de bens e serviços, mediante o uso de plataformas digitais. Se inspira nas utopias do compartilhamento e em valores não mercantis, como a ajuda mútua ou a convivialidade, e também no espírito de gratuidade, mito fundador da Internet. Sua ideia principal é: “o que é meu é seu”, ou seja compartilhar em vez de possuir. O conceito básico é a troca. Se trata de conectar, por via digital, aqueles que buscam “algo” com aqueles que oferecem esse algo. As empresas mais conhecidas desse setor são Uber, Airbnb, Netflix, Blabacar, etc.

Muitos indícios nos levam a pensar que estamos assistindo o ocaso da segunda revolução industrial, baseada no uso massivo de energias fósseis e em telecomunicações centralizadas. Assistimos o surgimento de uma economia colaborativa que obriga o sistema capitalista a mutar.

Por outra parte, num contexto em que as mudanças climáticas se tornam a principal ameaça à sobrevivência da humanidade, os cidadãos não desconhecem os perigos ecológicos inerentes ao modelo de hiperprodução e de hiperconsumo globalizado. Também nesse sentido, a economia colaborativa oferece soluções menos agressivas para o planeta.

Num momento como o atual, de forte desconfiança sobre o modelo neoliberal e as elites política, financeira, midiática e bancária, a economia colaborativa parece entregar respostas a muitos cidadãos em busca de sentido e de ética responsável. Exalta valores de ajuda mútua e boa vontade para dividir recursos, critérios que, em outros momentos, foram a argamassa das teorias comunitárias e de ambições socialistas. Porém, que ninguém se equivoque, pois hoje elas são o roto de um capitalismo mutante, que deseja se afastar da selvageria do impiedoso período ultraliberal.

Nossa bússola também nos mostra como a aparição de tensões entre os cidadãos e alguns governos, em dinâmicas que vários sociólogos qualificam como “pós-políticas” ou “pós-democráticas”… Por um lado, a generalização do acesso à Internet e a universalização do uso das novas tecnologias permitem à cidadania alcançar altas quotas de liberdade e desafiar os representantes políticos (como durante a crise dos “indignados”). Ao mesmo tempo, essas mesmas ferramentas eletrônicas proporcionam aos governos, como já foi dito acima, uma capacidade sem precedentes para vigiar os seus cidadãos.

Ameaças não militares

“A tecnologia – como analisa um relatório recente da CIA – continuará sendo o grande nivelador, e os futuros magnatas da Internet, como poderia ser o caso dos donos de Google e Facebook, possuem montanhas inteiras de bases de dados, e manejam muito mais informações que qualquer governo, e em tempo real”. Por isso, a CIA recomenda à administração dos Estados Unidos que faça frente a essa ameaça eventual das grandes corporações de Internet, ativando o Special Collection Service, um serviço de inteligência ultrassecreto, administrado conjuntamente pela NSA (sigla em inglês da Agência Nacional de Segurança) e pelo SCE (Serviço de Elementos Criptológicos) das Forças Armadas, especializado na captação clandestina de informações de origem electromagnética. O perigo de que um grupo de empresas privadas controle toda essa massa de dados reside, principalmente, em que poderia condicionar o comportamento da população mundial em grande escala, e que inclusive das entidades governamentais. Também se teme que o terrorismo jihadista seja substituído por um ciberterrorismo ainda mais poderoso.

A CIA toma tão em sério este novo tipo de ameaça que considera que, finalmente, o declínio dos Estados Unidos não foi provocado por uma causa exterior, mas sim por uma crise interna: a quebra econômica a partir dos anos de 2007 e 2008. O informe insiste em dizer que a geopolítica de hoje deve se interessar por novos fenômenos que não possuem necessariamente um carácter militar. As ameaças militares não desapareceram, mas alguns dos perigos mais importantes rondam as nossas sociedades hoje são de ordem não militar: crise climática, mutação tecnológica, conflitos econômicos, crime organizado, guerras eletrônicas, esgotamento dos recursos naturais…

Sobre este último aspecto, é importante saber que um dos recursos que está se esgotando mais aceleradamente é a água doce. Em 2030, 60% da população mundial terá problemas de abastecimento de água, dando lugar ao surgimento de “conflitos hídricos”. Com respeito ao petróleo e o gás natural, graças às novas técnicas de fraturação hidráulica, a exploração dessas matérias-primas energéticas está alcançando níveis excepcionais. Os Estados Unidos já são quase autossuficientes em gás, e em 2030 poderia ser também autossuficiente em petróleo, o que tende a abaratar seus custos de produção de manufaturas, impulsar a relocalização de suas indústrias. Mas se os Estados Unidos – principal importador atual de hidrocarburetos – deixa de importar petróleo, podemos prever então uma queda no preço do barril. Quais serão as consequências disso para os grandes países exportadores?

O triunfo das cidades e das classes médias

No mundo para o qual caminhamos, 60% das pessoas viverão nas grandes cidades, algo inédito na história da humanidade. As consequências da redução acelerada da pobreza, as classes médias serão dominantes e triplicarão de tamanho, passando de um bilhão a três bilhões de pessoas. Isto em si já seria uma revolução colossal, e deixará como sequela, entre outros efeitos, uma mudança geral nos hábitos culinários e, em particular, um aumento do consumo de carne a escala planetária, o que agravará a crise meio ambiental.

Em 2030, seremos 8,5 bilhões de habitantes no planeta, mas o aumento demográfico cessará em todos os continentes, menos na África, com o conseguinte envelhecimento geral da população mundial. O vínculo entre o ser humano e as tecnologias protésicas estimulará a invenção de novas gerações de robôs e a aparição de “super homens”, capazes de proezas físicas e intelectuais inéditas.

O futuro é muito poucas vezes previsível. Por isso, é preciso deixar de imaginá-lo em termos de prospectiva. Devemos nos preparar para atuar em diferentes circunstâncias possíveis, das quais somente uma se tornará realidade. A geopolítica é uma ferramenta extremamente útil. Nos ajuda a tomar consciência das rápidas evoluções em curso e a refletir sobre a possibilidade de que cada um de nós pode intervir de alguma forma, e propor um rumo. Para se tentar construir um futuro mais justo, mais ecológico, menos desigual e mais solidário.

Tradução: Victos Farinelli

Fonte: CARTA MAIOR
_______________________________________________________________

A farra das termelétricas no governo FHC

PF investiga corrupção em compra de termelétricas durante governo Fernando Henrique Cardoso


De acordo com Polícia Federal, esquema envolve as empresas Alstom/GE e NRG

A Polícia Federal abriu uma investigação sobre um suposto esquema de corrupção na compra de termelétricas pela Petrobras durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, entre os anos de 1999 e 2001. O documento que consta a abertura do inquérito foi publicado no dia 23 de setembro pela PF no sistema da Justiça Federal do Paraná.

O inquérito policial faz parte da Operação Lava Jato, envolve as empresas Alstom/GE e NRG e tem como base declarações do ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró, de acordo com a declaração do delegado Roberto Biasoli, Nestor Cerveró teria recebido propina durante governo FHC

Cerveró cumpre pena em regime domiciliar desde junho. Em seu depoimento de delaçãopremiada, ele afirmou que recebeu propina não apenas na compra das máquinas, mas também R$ 200 mil da empreiteira Camargo Corrêa, direto das mãos do lobista Afonso Pinto Guimarães.

Segundo o ex-diretor da Petrobras, o valor foi pago em parcelas mensais de R$ 15 mil entre 1999 e 2000, durante o governo de FHC. O delator também afirmou que a empreiteira foi responsável pela obra da termelétrica de Nova Piratininga, em São Paulo.

Cerveró disse ter recebido R$ 300 mil dólares da NRG, pela construção da termelétrica TermoRio, que afirmou que o valor foi depositado na conta da Suíça da qual ele é proprietário, administrada por Peter Schmid. Segundo ele, o valor teria sido depositado na conta de uma vez só, em 2000 ou 2001.

Fonte: JORNAL DO BRASIL
___________________________________________________________
 

Se as investigações da PF no caso das termelétricas no governo de FHC, tivessem as mesmas profundidade e divulgação que a operação lava jato, o escândalo de corrupção seria bem maior.

Naqueles anos, o Brasil, através do gasoduto Brasil-Bolívia recebia do então governo neoliberal da Bolívia, gas quase que de graça.

A farra do gas, como ficou conhecida na época, abriu oportunidade de negócio para geração de energia elétrica através de termelétricas, que usavam o competitivo gas boliviano.

Todo mundo resolveu entrar no negócio das termelétricas, de camelô a globopar.

Plim, plim.