quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Progresso Encantador

Antropoceno: a era da manipulação da informação

85,5% das importações audiovisuais da América Latina são originárias dos EUA, e elas estão tentando construir a ideia de que não existe aquecimento global.



Najar Tubino reprodução

Enojar é o verbo inspirador deste texto. Depois de muito pesquisar sobre a concentração de poder no mundo hoje, onde 147 transnacionais controlam outras 43 mil, o que corresponde a 40% do mercado mundial, onde os três principais veículos de economia do mundo ocidental fazem parte da carteira de clãs conhecidos há séculos, como os Rothschild, Agnelli, ou já na era moderna, os Murdoch, donos do The Wall Street Journal, do Dow Jones e da Fox News, que divulga diariamente as mentiras sobre as mudanças climáticas e o aquecimento global. The Economist, a revista inglesa de 1873 é a outra fonte, muito celebrada pelos neoliberais e conservadores por sua respeitabilidade, transparência e ética.

Ao iniciar 2016, a revista publicou uma capa sobre o Brasil quebrado e desorganizado, com uma foto da presidenta Dilma Rousseff cabisbaixa. Em agosto de 2015 a Pearson, dona da revista vendeu 50% das ações – 27,3% foram compradas pela família Agnelli, os outros 23,7% pelo próprio Grupo Economist. Ocorre o seguinte: os outros 50% pertencem aos Rothscild, aos agentes financeiros Schroder, aos Agnelli e a Cadbury, maior fabricante de doces do Reino Unidos, que foi engolido pela Kraft Foods, dos Estados Unidos. O detalhe: estas famílias detêm a maioria das ações classe A, que dão direito a indicar a maioria dos 13 membros da diretoria. Ou seja: eles mandam e estabelecem as diretrizes editoriais.

Negócio perfeito no capitalismo

Pior: o grande negócio da The Economist é o Economist Intelligence Unit, que em 2014 faturou US$93 milhões, mais do que os US$37 milhões do Financial Time Group, que publica o jornal FT, que também era da Pearson e foi vendido no ano passado para o grupo japonês Nikkei por US$1,3bi. Este é o funcionamento perfeito do capitalismo: os cães farejadores levantam a situação das empresas, dos setores econômicos em todo o mundo – inclusive faturando com a publicidade- depois entregam para os seus patrões, que no mesmo momento, sairão pelo mundo comprando ações, empresas, terras, de barbada. Um golpe que o clã dos Rothschild britânico instituiu no então poderoso império por Nathan, que se instalou na City londrina em 1809.

A estratégia límpida e transparente, naquela época não tinha o sustentável, conhecida historicamente como o Golpe na Bolsa de Londres consistiu no seguinte: seus informantes presentes na Batalha de Waterloo forneceram o resultado final da carnificina ao patrão, logo em seguida começou a vender os papéis na Bolsa espalhando o boato que Napoleão vencera. Ao mesmo tempo, seus agentes passaram a comprar os papéis por ninharia. Logo depois, o poderoso império ficou sabendo da vitória do seu exército e os papéis explodiram. Então caía o Império Napoleônico e nascia oficialmente o império especulativo dos Rothschild.

No Planeta Mentira não há mudanças climáticas

Mas vamos voltar ao Antropoceno, o novo período geológico que será definido este ano, com as mudanças da espécie humana. Na realidade os mais de sete bilhões de habitantes do mundo não sabem exatamente em que planeta vivem. O controle exercido pelos 30 maiores conglomerados de mídia expõe apenas a sua visão da Terra. Nela, as mudanças climáticas, a destruição de florestas, a extinção de espécies, da miséria da própria espécie são apenas ingredientes do mercado, do sistema econômico que necessita crescer infinitamente, porque sem crescimento não haveria planeta. E afinal, como os 85 bilionários – com mais de 20 bilhões de dólares - poderiam viver e usufruir das maravilhas da natureza, com seus iates, seus clubes de golfe, seus carros esportivos, suas ilhas exclusivas?

Sem contar os outros 300, que estão na lista da Bloomberg, que possuem juntos US$3,7 trilhões e que ao longo de 2014 ganharam mais US$524 bilhões, segundo a pesquisa do professor Luiz Marques, no livro “Capitalismo e Colapso Ambiental”. Para reforçar um pouco mais o poder: as sete principais holdings financeiras dos Estados Unidos – JP Morgan Chase, Bank of America, Citigroup, Wells Fargo, Goldman Sachs, Metlife e Morgan Stanley detêm mais de US$10 trilhões em ativos consolidados, o que corresponde a 70,1% de todos os ativos dos Estados Unidos. São eles que controlam a riqueza mundial, dos 147 grupos que controlam os 43 mil – uma pesquisa do ETH Instituto Federal Suíço de Pesquisas Tecnológicas, de Zurique, selecionaram as 43 mil corporações entre 30 milhões.

Ricos não podem pagar impostos

Eles constataram que os banqueiros são os intermediários que possibilitam a articulação da rede. É claro que as famílias bilionárias do mundo participam de tudo isso. Sem esquecer, que parte desta fortuna, segundo a Tax Justice Network, pelo menos US$21 trilhões estão em paraísos fiscais. Porque o Planeta ficcional criado pelos conglomerados da mídia instituiu que os ricos não podem pagar impostos. Prejudica os negócios, o crescimento. Uma citação do final do livro de Thomas Piketty – O Capital no século XXI – que definiu 300 anos de dados sobre a desigualdade econômica em 669 páginas:

“- A desigualdade entre a taxa de crescimento do capital e da renda e da produção faz com que os patrimônios originados no passado se recapitalizem mais rápido do que a progressão da produção e dos salários. Essa desigualdade exprime uma contradição lógica fundamental. O empresário tende a se transformar, inevitavelmente, em rentista e a dominar cada vez mais aqueles que só possuem sua força do trabalho. Uma vez constituído o capital se reproduz sozinho, mais rápido do que cresce a produção. O passado devora o futuro”.

A desigualdade será a norma no século XXI

E pode investir em educação, conhecimento e tecnologias não poluentes, nada disso elevará as taxas a 4 ou 5% ao ano, como rende o capital. A experiência histórica indica que apenas países em recuperação econômica, como a Europa nos 30 anos gloriosos pós- segunda guerra, ou a China e os emergentes podem crescer neste ritmo por um tempo.

“- Para os que se situam na fronteira tecnológica mundial e em última instância para o planeta como um todo, tudo leva a crer que a taxa de crescimento não pode ultrapassar 1 a 1,5% ao ano, no longo prazo, quaisquer que sejam as políticas a serem seguidas. Com o retorno médio do capital na ordem de 4 a 5% é provável que a desigualdade das taxas de crescimento já citadas voltem a ser a norma no século XXI, como sempre foi na história.”

O divertimento ao invés da realidade

Conclusão: o Planeta criado pelos conglomerados continua executando a mesma plataforma, desde o século XIX, sendo que somente nos períodos posteriores às guerras mundiais que as fortunas foram taxadas. E o que faremos nós no século XXI? Já sabemos que o aquecimento aumenta, os eventos climáticos se aceleram e o agronegócio continua dominando mais áreas de floresta do planeta. Neste momento, entra a outra parte dos conglomerados de mídia – o entretenimento. A força da Disney Company – faturou US$45 bi em 201- e pagou US$21bilhões pela franquia da séria Star Wars e ainda produzirão outros cinco filmes.

E pretendem vender US$5 bilhões em produtos licenciados – videogames, publicações, música, brinquedos. O mercado é grande: parques temáticos em Paris, Hong Kong, Tóquio, agora em 2016, Shangai, na China. Compraram todos os talentos, a Pixar, de Steve Jobs- era o maior acionista individual da Disney -, os heróis em quadrinhos da Marvel, na figura canhestra do Homem de Ferro, rico, cibernético e arrogante. Depois ainda compraram os estúdios de George Lucas. Total: mais de US$15 bilhões. Ou seja, não acreditem em caos climático, divirtam-se.

No Planeta de mentira informação é entretenimento

A revista das famílias poderosas, a The Economist – fez uma daquelas matérias pegajosas sobre “a força” da Disney, em dezembro de 2015. Um trecho:

“- A estratégia deles é a seguinte: os filmes aparecem no centro, a sua volta estão os parques temáticos, os licenciamentos, a música, as publicações e a televisão, Cada unidade da companhia produz conteúdo e impulsiona as vendas das demais”.

É perfeito, se aliar isso a canais de esportes – ESPN – que fatura a metade da grana na Disney, que é uma das quatro líderes mundiais. As outras são: Google, que mais fatura em publicidade, depois a Comcast, que tem a maior rede de televisão a cabo do mundo, e é proprietária da rede NBC e da Universal. Depois vêm a 21st Century Fox, da News Corporation, de Rupert Murdoch; Viacom, dona da MTV e da Paramount, mas dividiu a corporação, criando a CBS Corporation, outra rede dos Estados Unidos. Na lista agora constam Facebook e Baidu, o Google chinês, em faturamento de publicidade.

85,5% das importações audiovisuais dos Estados Unidos

Mas eles não têm o poder dos conglomerados tradicionais. Faltou a Time Warner Company, dona da CNN, que é outra das bases de informação no mundo, além do Carlos Slim, dono da telefonia na América Latina, que agora tem 16,8% das ações do The New York Times, maior acionista individual. Último dado enjoativo desta que é a praga maior desta era geológica: 85,5% das importações audiovisuais da América Latina – 150 mil horas de filmes, seriados e programas jornalísticos- são originários dos Estados Unidos. E em todos estes conglomerados tem a participação acionária dos maiores fundos de investimento ou de pensões do mundo, como é o caso da Vanguard Group – 160 fundos nos Estados Unidos e 120 fora deles -, que estão processando a Petrobras nos Estados Unidos, e que os Rothschild são acionistas.

A família Rothschild – significa a casa do escudo vermelho, baseado no escudo da cidade de Frankfurt, onde Mayer Amschel Bauer, considerado o primeiro banqueiro internacional começou o império. Segundo a versão popular, com uma fortuna do nobre alemão Guilherme IX, que fugia de Napoleão, e deixou três milhões de libras esterlinas em dinheiro e obras de arte, para ele administrar.

Outros negócios dos Rothschild

Ele investiu bem, conta a lenda, que não dividiu um centavo dos lucros. Também diz a lenda que não são judeus étnicos, mas se converteram ao judaísmo no século oito da era cristã. Os Rothschild, em seus vários ramos, são detentores de tudo o que é importante no mundo. A De Beeres, maior empresa de exploração, lapidação e comércio de diamantes, os extratores de minérios Rio Tinto e Anglo American, como acionistas. O Barão francês Edouard, já falecido, em 2005 comprou 37% do jornal Liberation, considerado um veículo que defende ideias de esquerda.

Recentemente se associaram com os Rockfellers na Rússia unindo ativos de US$40 bilhões. Até hoje, as cotações do ouro são definidas no prédio da N M Rothschild & Co, que no Brasil se chama Rothschild, e trabalha no ramo de assessoria financeira, focada em fusões e aquisições, reorganizações societárias. Conta com 50 escritórios espalhados pelo mundo. No Brasil já prestaram serviços para o Itaú Unibanco, no fechamento de capital da Redecard, fizeram o laudo de avaliação do Santander Brasil, que vendeu parte do controle, além da BM&F, Camargo Corrêa, OI e Ambev.

No Laudo de avaliação do Santander, a Rothschild Brasil esclarece: que não possui informações comerciais e creditícias de qualquer natureza que possam impactar o laudo; não possui conflito de interesse, que lhe diminua a independência necessária ao desempenho da função. E que receberia US$800 mil pelo laudo. Algumas linhas adiante: e mais US$4,5 milhões pelo trabalho de assessoria do Santander S.A., que não é o Santander Brasil. Entenderam: tudo ético, transparente e sustentável. E nós estamos ferrados com este planeta mentiroso, que os conglomerados inventaram.

Fonte: CARTA MAIOR
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Para superar o capitalismo (II): a indústria da moda

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Cultura do descarte: vestuário tornou-se indústria que mais emprega e segunda mais poluidora. Para consumo frenético, trabalho ultra-precário. Como escapar do “fast fashion”?
Por Mauro Lopes, editor do blogCaminho para Casa
Leia também:
Para superar o capitalismo, sistema de morte (I)Informado pela Teologia da Libertação e pensamento do papa Francisco, colunista escreve sobre grandes impasses contemporâneos. No primeiro texto, o papel dos bancos e da aristocracia financeira
Escrevo uma breve série de meditações sobre o capitalismo a partir do ensinamento da Igreja e do Papa Francisco, que no II Encontro dos Movimentos Populares, em Santa Cruz de la Sierra (Bolívia), em julho de 2015, qualificou o sistema de “ditadura sutil”. Para o Papa, o capitalismo “é insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos…” Antes, em abril, um dos líderes da reforma da Igreja, o cardeal de Tegucigalpa, Óscar Andrés Rodriguez Maradiaga, ex-presidente da Cáritas mundial e coordenador do grupo encarregado da reforma da Cúria romana havia afirmado que o capitalismo é “um sistema econômico que mata”. Não são ensaios nem artigos, apenas breves meditações que buscam colocar-se a serviço da Igreja, que busca retomar o caminho original dos ensinamentos de Jesus.
2. A indústria da moda
Tempos atrás, quando o dólar ainda estava ao preço “me engana que eu gosto” e a classe média se esbaldava na Flórida e pelo mundo afora, minha mulher e eu fomos a NY. Conhecemos algo novo. Roupa a preço de banana. Numa tal Forever 21 compramos um vestido a 7 dólares (algo como R$15 à época); numa outra H&M, preços inacreditáveis também. Numa japonesa, Uniqlo, igual. Ressoava em nossos ouvidos a cantilena da direita: é mais barato porque o mercado é imenso e porque eles não têm a quantidade de impostos daqui do Brasil! Mas eis que a Forever 21 abriu quase trinta lojas no Brasil e… praticam os mesmos preços!
Como assim? Mas não era mais barato “lá” e “aqui” é tudo mais caro? Pois é. Tudo bem que assim chamado “mercado consumidor” cresceu exponencialmente ao longo dos governos do PT e, afinal, a história de que o Brasil tem a maior carga tributária do mundo é para enganar os trouxas – segundo a Fundação Heritage, a conservadora e americana, sinônimo de “insuspeita” para a direita brasileira, nossa carga tributária é a 32ª do mundo, atrás de países como Alemanha, Hungria, Holanda e outros. Mas, de fato, mesmo assim, o mercado brasileiro ainda é bem menor que o americano e a carga tributária no país é mais alta que na sede do capitalismo.
Então, qual o segredo? Como estas redes vendem a preços tão baixos tanto nos EUA como no Brasil?
Aquilo que faz a festa dos consumidores está baseado na mais abjeta exploração do trabalho humano que um setor econômico produziu na história recente do capitalismo.
Para entender isso, é preciso contextualizar brevemente a indústria da moda. Ela sofreu uma transformação radical no século 21, atingindo valores e volumes sem precedentes. Nenhuma outra cadeia de produção é tão dependente de trabalho humano como ela: são centenas de milhões de trabalhadoras e trabalhadores, desde as plantações de algodão à rede de indústrias, confecções e comércio em todo o mundo. Seu faturamento alcança US$ 3 trilhões/ano! Comercializa-se 80 bilhões de peças de roupas por ano, 400% a mais que há 20 anos.
Esses números estrondosos são a expressão de uma revolução chamada “moda rápida” (fast fashion), a moda do século 21. Tudo o que conhecemos da moda do século 20 foi enterrado. As mais velhas, os mais velhos lembram-se que existiu um tempo de duas estações da moda: a primavera/verão e outono/inverno. Dois momentos de lançamentos no ano. Isso acabou. Hoje há 52 estações por ano, uma a cada semana. Lançam-se modelos, estilos, novidades a cada semana. Mesmo as empresas da “alta moda”, como a Prada e a Louis Vuitton, agora produzem de quatro a seis coleções por ano, e não apenas duas.
No passado, comprava-se um casaco para durar 15, 20, 25 anos – hoje troca-se de casaco a cada ano; os homens compravam 4 ou 5 camisas por ano – compram 10 vezes mais; para cada festa uma roupa diferente; vai sair com alguém interessante? – compre uma blusa, uma camiseta, um lenço, um sapato! Moda rápida. Em velocidade alucinante. Porque tem de tudo o tempo todo a preços cada vez mais baratos.
Grandes marcas garantem a oferta. Zara e H&M (esta ainda está ensaiando entrar no Brasil) disputam a liderança do mercado mundial da “moda rápida” – os grupos a que pertencem faturam ao redor de US$ 20 bilhões cada uma por ano. H&M tem mais de 3 mil lojas em 54 países; a Zara teve lucro superior a US$ 700 milhões apenas no primeiro trimestre de 2015 (nada menos que 28% superior a igual período de 2014). Mas há outras marcas, como a Forever 21, GAP, Uniqlo, Levi’s… Há cinco marcas brasileiras inseridas neste mercado: Riachuelo, Renner, Marisa, C&A e Hering.
Números fantásticos, aplaudidos pelos comentaristas econômicos das mídias tradicionais, que fazem a delícia dos amantes do capitalismo neoliberal.
Mas o que sustenta estes números, ou qual a resultante deles para o mundo?
A indústria da moda é a segunda maior poluidora do planeta hoje, atrás apenas da do petróleo.
A indústria da moda tornou-se a maior terceirizadora de “mão-de-obra” (de trabalho humano na verdade) do mundo. Para que se tenha uma ideia, apenas 3% das roupas compradas nos EUA são produzidas no país. O resto é feito nos países periféricos. Um pouco no Brasil. Mas o volume de produção está concentrado na Ásia, em condições inacreditáveis, que lembram as primeiras fábricas do capitalismo, numa relação pautada pela brutalidade e exploração. As pessoas não são contratadas pelas grandes marcas; há uma rede quase infinita de fábricas e confecções, elas sim contratadas, com base em apenas um princípio, que fez e faz a delícia dos capitalistas, mesmo os “moderninhos” que se dizem preocupados com o meio ambiente: “mais por menos”. O único item do contrato: fazer mais, cada vez mais, por menos, cada vez menos.
Assim é na China, maior produtor de roupas do mundo, seguido por Bangladesh e Camboja. Assim, como é público, acontece no Brasil. Trabalhadores e trabalhadores recebem entre US$ 2 e US$ 3 por dia; não têm registro nem qualquer benefício, não estão integrados a sistemas públicos de saúde ou aposentadoria, são proibidos de reivindicar ou se organizar.
Um dos símbolos da exploração é o que ficou conhecido como a tragédia do Rana Plaza, acontecida em abril de 2013, em Dhaka, capital de Bangladesh –no desabamento do edifício, onde trabalhavam mais de 5 mil pessoas, 1124 morreram. O desabamento revelou pela enésima vez as condições de trabalho de mulheres e homens nas confecções –se quiser, leia aqui uma reportagem feita à época pela BBC.
No Camboja, a repressão às manifestações de trabalhadores e trabalhadoras da indústria da moda tem sido cruel. No massacre de Phnom Penh, capital do país, em janeiro de 2014, cinco jovens foram assassinados pelas forças de segurança. O que eles pediam? Pode parecer absurdo, mas nada mais que um salário mínimo de US$ 160 (algo entre R$ 400 ao câmbio da época e R$ 650 a preços de hoje). Veja aqui um relato da situação no país pela Anistia Internacional.
Se você quiser ter uma visão global sobre a indústria da moda, não pode deixar de assistir o documentário The True Cost, um relato agudo e jornalístico sobre o que acontece no mundo hoje. O documentário está disponível no Netflix com legendas em português, e você pode ter acesso a ele, ao trailer e a outras reportagens clicando no sitehttp://truecostmovie.com/.
E no Brasil?
O Ministério do Trabalho realiza fiscalização específica sobre o trabalho em condições análogas à escravidão desde 1995. Mas apenas no governo Lula elas passaram a ser significativas. Em 2003, primeiro ano do governo do PT, o número de fiscalizações mais do que dobrou, em relação ao governo FHC, de 30 ou ainda menos para 67. Em 2006, a quantidade de operações realizadas anualmente ultrapassou a casa da centena.
O que é trabalho nestas condições? A definição do Ministério ilumina o assunto e, ao mesmo tempo, por si só é capaz de causar consternação e indignação: “Considera-se trabalho realizado em condição análoga à de escravo a que resulte das seguintes situações, quer em conjunto, quer isoladamente: a submissão de trabalhador a trabalhos forçados; a submissão de trabalhador a jornada exaustiva; a sujeição de trabalhador a condições degradantes de trabalho; a restrição da locomoção do trabalhador, seja em razão de dívida contraída, seja por meio do cerceamento do uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, ou por qualquer outro meio com o fim de retê-lo no local de trabalho; a vigilância ostensiva no local de trabalho por parte do empregador ou seu preposto, com o fim de retê-lo no local de trabalho; a posse de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, por parte do empregador ou seu preposto, com o fim de retê-lo no local de trabalho”. Veja aqui esta definição e saiba o que faz o Ministério do Trabalho na busca da erradicação do trabalho em condições similares à escravidão.
O ano em que houve mais trabalhadores resgatados foi 2007; nada menos que 5.999. Há uma concentração grande de casos no campo. Mas, mesmo depois de anos de repressão e campanhas, os números ainda são impressionantes. Em 2015, quase mil pessoas foram resgatadas (936, exatamente). Veja aqui a nota do Ministério sobre o assunto.
A indústria da moda entrou em evidência em 2012, quando a ONG Repórter Brasil, fundada em 2001 com missão de denunciar o trabalho escravo, passou a dedicar atenção a ela. Veja o site da ONG aqui.
A partir de 2009 a ONG começou a publicar as primeiras reportagens em seu site revelando as condições de trabalho patrocinadas por grandes marcas, mas o assunto ganhou grande repercussão em 2012: veja aqui. Uma série de fiscalizações flagrou os trabalhadores, em especial bolivianos e peruanos, submetidos a condições análogas à escravidão em pleno centro da maior metrópole do país, São Paulo. As marcas denunciadas: Zara, Renner, Marisa, Pernambucanas, M.Officer, Colloins, Le Lis Blanc, Bobbô, Hyppychic, Gregory, Cori, Emme, Luigi Bertolli, Unique Chic, 775, Talita Kume, As Marias, Seiki, Atmosfera, Fenomenal, Gangster.
Desde então, uma série de ações e pactos foram firmados com as próprias marcas para coibir o trabalho escravo. No entanto, segundo líderes da Pastoral do Migrante de São Paulo, com quem conversei no início de 2015, há centenas de confecções que continuam produzindo nas mesmas condições, em especial na região central de São Paulo e zona norte da cidade.
Com as ações fiscalizatórias e as denúncias mais frequentes, grandes marcas brasileiras começaram a deslocar parte de sua produção para o Nordeste e lançam mão, cada vez mais, do modelo de “terceirização”. É o caso da Riachuelo, Hering, C&A e Renner. Reportagem de dezembro de 2015 no site da Repórter Brasil denunciou as práticas da indústria na região, leia aqui.
É revelador examinar o discurso dos promotores das condições degradantes de trabalho e ver como ele é sempre o mesmo, no Brasil ou no exterior. A visão é sempre a mesma, a velha visão do colonizador que “faz o favor” de colonizar – a mesma conversa desde o século 15.
Segundo Flávio Rocha, CEO da Riachuelo com carreira política vinculada à direita no país e hoje uma espécie de “estrela” da mídia econômica conservadora, o Estado atrapalha tudo. Ele declarou à Repórter Brasil que “o céu era o limite”, mas que as fiscalizações “intimidatórias” do Ministério do Trabalho têm prejudicado os negócios. “Para Rocha, a melhora das condições de vida dos trabalhadores não é alcançada através da criação de normas trabalhistas, e sim pela demanda e competição por mão de obra.” Ou seja, como as pessoas não tinham emprego, não tinham nada, deveriam ser gratas às empresas por condições de trabalho degradantes.
Em The True Cost, uma entrevista com Benjamin Powell, diretor do Instituto do Livre Mercado, as fábricas no Terceiro Mundo “são parte de um processo que eleva os padrões de vida e levarão a salários mais altos com o tempo”. Pois, afinal, ele proclamou ao repórter no documentário, “as alternativas existentes para esses trabalhadores são piores que as nossas”.
É a lógica do descarte. Ou, como tem afirmado o Papa Francisco, o tempo da cultura do descarte. Descartem-se as roupas porque elas são tão baratas que podemos adquirir outras. Descartem-se os trabalhadores e trabalhadoras porque eles são tão baratos que podemos adquirir outros. É a lógica da indústria.
O que significa atuar com outra lógica? Exigir dos governos ações fiscalizatórias; apoiar iniciativas de organização dos trabalhadores e trabalhadoras; acolher os imigrantes que são alvos preferenciais da escravização. Em nossa família decidimos também nunca mais comprar roupas muito baratas – o baixo preço das roupas é o aparente benefício que recebemos pelo suor, lágrimas e mesmo sangue dos que a fizeram.
Fonte: OUTRAS PALAVRAS
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Realmente o progresso que vivenciamos nos tempos atuais é algo fantástico.

Imagino como seria a vida na cidade do Rio de Janeiro em um futuro próximo, bem próximo, alguns anos aí pela frente.

A mobilidade das pessoas terá um salto gigantesco, já que drones com capacidade para levar em torno de seis pessoas, circularão pelos céus da cidade em um grande número de aerovias, diminuindo o tempo de deslocamento .

Outros drones farão o serviço de entrega nas residências de compras em shopping centers e supermercados.

Os automóveis urbanos , ao estilo smart cars, movidos a eletricidade, dominarão a cena nas ruas da cidade.

Tanto o transporte aéreo como o transporte terrestre serão controlados por softwares, fabricados por outros softwares nos super- super computadores quânticos com seus qubits, milhares de vezes mais poderosos e eficientes do que o mais poderoso computador existente hoje no planeta.

Pouco a pouco irão substituir o doloroso trabalho das pessoas de pensar, isso mesmo , pensar.

A moda será cada vez mais descartável, pois as roupas terão um custo cada vez mais baixo, já que o trabalho escravo será cada vez mais comum, tendo em vista o crescimento da inteligência artificial que fará tudo, ou praticamente tudo, que as pessoas hoje fazem.

Por outro lado, as pessoas usarão um tipo de proteção em todo o corpo contra picadas de insetos, roupas que cobrirão todo o corpo, já que epidemias serão constantes devido as alterações climáticas e agressões sofridas pelo meio ambiente.

Além das epidemias alguns insetos terão um comportamento errático, já que por anos ingeriram grandes quantidades de agrotóxicos o que irá acarretar mutações, como acontecerá com um grupo de abelhas, que vez por outra, atacará as pessoas pelas ruas da cidade.

Devido ao aquecimento global, a cidade vivenciará terríveis ondas de calor, com a temperatura aproximando -se dos 50ºC , com sensação térmica em torno de 60ºC.

As praias da cidade desparecerão, já que elevação do nível dos mares tomará toda a areia das praias.

Grandes diques serão construídos em toda a orla da cidade, próximos as ruas da orla, onde o mar chegará e, vez por outra, com aumentos das marés e mesmo com ressacas, deixará com frequências as ruas e prédios da orla e mesmo de ruas próximas alagadas.

Os imóveis da orla e na proximidade da orla sofrerão um grande desvalorização e muitos ficarão abandonados ou mesmo serão invadidos por pessoas sem teto, principalmente oriundos de países dos continentes americano e africano.

Grandes conflitos acontecerão com moradores nas comunidades dos morros da cidade, já que os locais sofrerão um grande valorização, e as comunidades praticamente serão expulsas de suas casas, que darão lugar a grandes edifícios inteligentes e mesmo grandes condomínios de luxo.

O crime organizado crescerá ainda mais na cidade e dominará totalmente o Estado, como reflexo da situação mundial dominada por organizações criminosas.

Grandes eventos de entretenimento , como shows musicais, acontecerão com frequência na cidade, patrocinados por indústrias alimentícias e de bebidas.

A saúde e a educação pública serão destinadas somente as pessoas em situação de risco, o que não será um contingente desprezível.

O número de casos de morte por doenças degenerativas será altíssimo e dominará a causa de morte das pessoas, principalmente devido a constante e elevada exposição a radiação eletro magnética.

Realmente, o futuro é fantástico, até mesmo encantador.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

A imprensa de um só lado


O DIA: Corrupção seletiva não existe


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Jornal O DIA desafia o coro dos contentes e denuncia o conceito de "corrupção seletiva" de seus coleguinhas.
Editorial: Corrupção seletiva não existe
É injusto sugerir expiar todos os males do Brasil na corrupção cometida por só um governo, a despeito dos equívocos acumulados, e relevar supostos erros no passado
Rio - Parece não haver dúvidas de que a corrupção no Brasil é endêmica e transcende governos, partidos e ideologias. Mas, no bojo das últimas denúncias, dá-se mais peso a este e àquele escândalo em detrimento de outros, conforme a conveniência. Como a recente revelação de que delação premiada de Nestor Cerveró afirmou ter havido pagamento de propina na Petrobras durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, o que foi prontamente negado. O fato passou tímido na grande mídia.
Não se está argumentando perdoar pecados de uns porque outros também os cometeram: a engrenagem dos malfeitos no país é longeva e complexa, e as investigações em curso apenas começaram a entender o mecanismo.
Mas é injusto sugerir expiar todos os males do Brasil na corrupção cometida por só um governo, a despeito dos equívocos acumulados, e relevar supostos erros no passado. Esta é uma democracia que desenterra malfeitos; pior seria se fosse uma República que os engavetasse indiscriminadamente.
Fonte: O DIA

É a mudança no clima, estúpído


Inhame – Combate a Dengue, a Febre Chikungunya e Ajuda a Emagrecer


Inhame – Combate a Dengue, a febre chikungunya e ajuda a emagrecer
No início da colonização na África, os conquistadores acabaram com as plantações de inhame para plantar a cana-de-açúcar. Isso coincidiu com uma grande epidemia de malária. Não se sabe exatamente como ele age na proteção contra doenças tropicais causadas por mosquitos, em especial o Aedes aegypti, mas pesquisadores afirmam que o inhame não só protege contra o ataque do mosquito da dengue, como também ajuda na recuperação dos doentes.
Rico em vitamina B, o inhame faz o organismo exalar um odor que repele o mosquito da dengue e febre chikungunya. Para esse efeito é preciso que se consuma o inhame com frequência.
E não para por aí, sua rica composição depura o sangue, e ajuda no tratamento de infecções.
E ainda tem mais, o inhame é uma grande fonte de energia, suas fibras proporcionam saciedade e por ser um carboidrato complexo (baixo índice glicêmico), é ótimo para dietas de emagrecimento.

Outros benefícios do Inhame.
  • Limpa o sangue: o inhame consegue fazer as impurezas saírem através da pele, dos rins e do intestino.
  • Fortalece o sistema imunológico: o inhame fortifica os gânglios linfáticos, responsáveis pela defesa do sistema imunológico.
  • Previne de doenças:  malária, dengue, febre amarela, febre chikungunya são evitadas com o consumo do inhame.
  • Aumenta a fertilidade da mulher: os fitoestrógenos e hormônios vegetais em sua composição, aumenta a fertilidade e reduz os efeitos da menopausa.
  • Diminui as cólicas menstruais e sintomas da TPM: aumenta a libido, melhora o humor, amenizando as terríveis cólicas menstruais e os efeitos devastadores da temida tensão pré-menstrual.
  • Anti-inflamatório: é um poderoso anti-inflamatório, e ainda diminui o acúmulo de líquidos e toxinas, evitando a formação de celulite.
  • E mais: absorve furúnculos, diminui quistos sebáceos, verrugas, espinhas, tira a inflamação de cicatrizes, dissolve o sangue pisado de contusões, evita inchaço e dor após fraturas e queimaduras; também auxilia no combate ao processo inflamatório de hemorroidas, apendicites, artrites, reumatismo, sinusite, neurites, etc.


Fonte: GOOGLE
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SAIGA: Caso você nunca tenha visto uma saiga se apresse, ou talvez nunca veja. Esses animais estão criticamente ameaçados de extinção, segundo a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN, e o clima pode ser o responsável. Um micro-organismo no sangue das saigas que costumava ser inativo, "despertou" com o aumento das temperaturas e virou venenoso. Uma pesquisa mostrou que ao menos 88% de saigas morreram apenas em maio de 2015, quando as temperaturas subiram no Cazaquistão. Em temperaturas muito frias, as saigas também morrem

Fonte: BOL
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O mundo está entrando na temporada das epidemias, ou, quem sabe, já está vivenciando novas formas de doenças e ressurgimento de doenças que teriam desaparecido.

Diariamente os higiênicos telejornais da mídia privada não poupam tempo para abordar os casos de dengue, zika e outras doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti.

Muito sensacionalismo e pânico para pouca informação de qualidade.

Repetidamente, durante as últimas semanas, a velha mídia tem focado a prevenção no uso de substâncias repelentes, que como se sabe, devem estar fazendo a alegria dos laboratórios farmacêuticos.


Relatos de aquisição de caixas de repelentes por uma única pessoa são frequentes.

Com a chegada de casos de microcefalia em crianças associadas ao zika vírus , transmitido pelo mosquito da dengue, ainda se tem um caminho longo para compreender corretamente as novas epidemias.

Conforme o texto acima, do google, a proliferação de epidemias associadas ao aedes aegypti na África, teve a participação da ação humana, desmatando grandes áreas.

Ontem os telejornais enalteceram o fato de o Brasil ter alcançado uma safra recorde de grãos no ano, 209 milhões de toneladas, extraídas de desertos verdes.

Outro caso se refere a extinção de animais , como no caso da saiga, que está desaparecendo pois ao aumento da temperatura global despertou um micro- organismo inativo no sangue desses animais, tornando-o venenoso.

Um aumento de até 0,5° C na temperatura pode favorecer o surgimento de micro-organismos desconhecidos até então, assim como pode contribuir para mutações e desparecimento de outros micro -organismos.


E isso pode acontecer no meio ambiente e mesmo em animais, inclusive no Homem.

O mundo microbiano é extremamente sensível a pequenas alterações de temperatura, é aí reside o grande perigo da barbárie que se comete contra o meio ambiente, com desmatamentos, monoculturas, poluição ambiental e todo o repertório de agressões ao meio ambiente.

No entanto, esse não é o foco da imprensa, que prefere informar ,diariamente, os novos repelentes lançados no mercado.

Ainda sobre o caso do mosquito, vale a leitura , abaixo, do blá, blá ,blá do então presidente Fernando Henrique Cardoso, no ano de 1996, sobre estratégias de combate ao mosquito
.




Lição da guerra contra o aedes egypt

Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

A leitura do primeiro volume do Diário da Presidência, de Fernando Henrique Cardoso, contém lembranças reveladoras sobre a tragédia atual de nossa saúde pública, que em 2015 pode se transformar na mais grave de nossa história - as doenças transmitidas pelo aedes egypt, muito mais preocupantes e ameaçadoras do que a mais conhecida delas, a dengue.

Pelo Diário, descobre-se que em 1996, há exatamente 20 anos, já se falava sobre a importância de dar combate ao aedes egypt. Recordando um jantar em companhia do ministro da Saúde Adib Jatene, Fernando Henrique conta que a pauta da conversa envolveu a necessidade de se organizar "um forte combate ao mosquito da dengue. Pareceu-me uma coisa de vulto e que tem um sentido social, porque é saneamento."
No mesmo parágrafo, Fernando Henrique recorda compareceu a um encontro de jovens filiados ao PPB, o partido de Paulo Maluf que integrava a base aliada de seu governo. Ali, dedicou-se a " falar dessa campanha da dengue. Já comecei a fazer propaganda, como é do meu estilo, mostrar com clareza as coisas do pais."

O tudo e o nada que se viu nas décadas seguintes, quando FHC terminou o primeiro e o segundo mandato, depois foi substituído por Luiz Inácio Lula da Silva e, este, por Dilma Rousseff. O que se vê por estes dias ajuda a "mostrar com clareza as coisas do país."

Em 30 anos, o aedes egypt cresceu e se multiplicou várias vezes sem ser combatido de forma efetiva. Tornou-se um elemento constante da paisagem urbana brasileira, tão previsível que já não chamava a atenção das autoridades nem dos jornalistas. Até que, em anos recentes, comprovou-se que o aedes egypt é capaz de transmitir doenças como a febre chicungunya, que pode durar meses e provocar dores insuportáveis nas articulações. Também está associado à transmissão da síndrome Guillan-Barré, que provoca paralisias graves, inclusive do sistema respiratório.

Embora faltem dados conclusivos, a maioria dos pesquisadores envolvidos com uma epidemia de microcefalia em recém-nascidos -- mais de 3000 casos registrados no Brasil, coisa nunca vista em qualquer lugar do mundo, em qualquer época -- tem poucas dúvidas de que é possível associar o mosquito a uma doença que pode causar sequelas incuráveis em suas pequenas vítimas.

Entrevistado ontem à noite no programa Espaço Público, da TV Brasil, que em breve estará disponível no youtube, o professor Marcos Boulos, um dos principais infectologistas do país, fez diversas observações relevantes. A entrevista é uma aula ministrada a clareza de quem domina o assunto e não tem dificuldade de expor dúvidas e perplexidades.

Também há lugar para certezas. A principal neste caso é a seguinte. Para o professor, as epidemias só costumam ser enfrentadas e vencidas quando "há um interesse econômico."

Dedicado a moléstias tropicais e doenças infecciosas desde 1972, quando se diplomou, Boulos fez uma longa carreira acadêmica na Universidade de São Paulo e hoje coordena, na Secretaria de Saúde do Estado, os esforços para combater o aedes egypt e as doenças associadas. Seu argumento lembra velhas teses deterministas do século XIX . Podem parecer simplórias na visão de determinados observadores. Mas no caso brasileiro, a visão faz muito sentido e se demonstra pela experiência histórica.

Boulos recordou no programa que o país só erradicou a febre amarela - transmitida pelo mesmo aedes egypt - porque a doença chegou ao Rio de Janeiro, colocando em risco a sobrevivência de uma sociedade que dependia do plantio, compra e venda de café, em torno do qual se construía a maior fatia da riqueza do país e se organizavam as grandes fortunas. Naquele início do século XX, a doença saíra dos bairros pobres, dos cortiços e ambientes sem qualquer amparo, para chegar ao mundo dos ricos. Era economia e também sociologia, na verdade.

Numa demonstração do caráter radical atingido pela campanha de Oswaldo Cruz - e que refletia a necessidade da dar uma resposta a altura da situação - as autoridades não só combatiam o mosquito, mas invadiam casas e vacinavam cidadãos à força, gerando a célebre Revolta da Vacina, recorda o professor. O cuidado se compreende.

Nas grandes epidemias, ninguém está inteiramente a salvo, mesmo aqueles que, em tempos normais, têm direito a uma proteção mais segura e a um atendimento rápido e em geral eficaz, nos raros casos em que isso se faz necessário. Com a sabedoria que o longo convívio com moléstias graves ajuda a consolidar, Marcos Boulos deixou claro que a morte de uma filha, vítima de febre amarela, deu motivos até pessoais para Rodrigues Alves, presidente da República, a empenhar-se na guerra contra a doença.

Se esta visão está correta, pode-se imaginar - esta parte da análise é minha - que a anunciada mobilização contra o Aedes Egypt de vários escalões do Estado brasileiro, do governo federal às prefeituras, passando também pelos governos estaduais, ocorre com um atraso de anos, talvez décadas, mas tem boas chances de produzir bons resultados em 2015.

Isso porque pela primeira vez o mosquito chegou a São Paulo, Estado que pode ser definido como o Rio de Janeiro do século XXI. Concentra o verdadeiro poder econômico -- e grande parte do poder político real. É a maior economia, o centro financeiro e tecnológico, o principal mercado de tudo.

Em 2015 São Paulo também concentra mais da metade dos casos de dengue, que cresceram 160% entre 2014 e 2015. O número relativo de vítimas fatais é ainda maior, desproporcional: 70%. Embora ainda não tenha sido registrado um número significativo de casos de febre chicungunya nem de microcefalia, mais comuns em outras regiões, é razoável imaginar que cedo ou tarde eles irão ocorrer, num mundo de viagens intensas e frequentes.

Desde dezembro de 2007, quando o PSDB e o DEM recusaram quatro votos que poderiam permitir um reforço de até R$ 36 bilhões para a Saúde através da CPMF, criada pelo mesmo Adib Jatene do jantar de 1996 com Fernando Henrique, a elite de São Paulo se mostrou a principal peça de resistência a iniciativas dessa natureza.

Costuma promover campanhas permanentes contra toda iniciativa capaz de representar um reforço a medidas destinadas a proteger o bem-estar da população, a começar pelo projeto de restabelecer a própria CPMF. Outro cuidado é impedir uma reforma tributária que eleve a contribuição dos mais ricos e poupe a classe média. Através de publicidade nos jornais, tenta-se estigmatizar parlamentares que lutam por propostas progressivas.

É como se o Estado mais rico pudesse ser autossuficiente e isolar-se em si mesmo. O quadro atual mostra uma situação com problemas agravados, mais difíceis de serem enfrentados em função de decisões erradas e, quando certas, tomadas com atraso. Desfalcada de verbas, a saúde pública não oferece sequer o "interesse econômico" capaz de motivar investimentos na proteção da população. Sem um "mercado consumidor", como produzir pelo menos repelentes eficazes, em quantidade necessária?

O aedes egypt e toda as tragédias que ele produz mostra a ilusão dessa visão. Cabe lamentar a dor e sofrimento que essa situação provoca, com perdas irreparáveis. Mas é possível reconhecer que ela pode trazer um aprendizado útil a todos.

Fonte: Blog do Miro

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Esse dique já rachou


Dique golpista começa a rachar


Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:

O povo não é bobo. Ou não é tão bobo quanto a mídia pensa.

Comentário que pesquei no site do Globo, abaixo da matéria sobre Jaques Wagner, novo alvo da pistolagem política:



Quando entrei na notícia, era o comentário mais recente, aparecendo, portanto, em destaque.

Esse tipo de reação tem crescido. Sabe-se que a grande mídia, em especial o grupo Abril, contratam empresas especializadas em produzir comentários para os portais.

Os blogs da Veja e mesmo o Antagonista são usuários mais conhecidos dessas técnicas de iludir o leitor e o anunciante, para dar a impressão de uma audiência que não existe.

No caso dos blogs da Veja, os serviços são inclusive de péssima qualidade, e muitos comentários são produzidos quiçá eletrônicamente, por robôs, como se pode constatar pela quantidade bizarra de comentários assinados com nicknames, seguidos de textos repetitivos e redundantes, além da recusa destes mesmos serviços de instalar sistemas de comentários via Facebook, que dificultam o controle e a censura.

Quando aparecem comentários críticos às conspirações midiático-judiciais, é porque o sistema de controle rachou.

O dique da manipulação está começando a se romper.

A grande imprensa iniciou a semana com a nota apocalíptica de sempre, o que ajuda a criar um clima de pessimismo, que o mercado reflete no boletim Focus, o qual por sua vez abastece a mídia, num sistema de retroalimentação desgraceiro e doentio.

A grande imprensa continua a demitir em massa, criando nas redações um clima de terrorismo que resulta numa obediência cega do profissional aos ditames editoriais.

Os jornalistas passam a ter medo até mesmo de pensar diferente. De olho na sobrevivência, os profissionais não apenas vendem sua força de trabalho. Vendem também suas ideias, seus sonhos. Isso é o que o sistema atual pode fazer de mais cruel com a juventude disposta a trabalhar nas redações.

Com o recesso parlamentar, o sistema de pistolagem política depende da Lava Jato para vender conteúdo aos jornalões. De posse de um conjunto gigantesco de informações, um punhado de bandidos travestido de autoridades vende seletivamente vazamentos para uma imprensa interessada especialmente num determinado tipo de informação.

Os vazamentos da delação de Cerveró sobre o governo FHC servem para legitimar uma farsa. E digo farsa não porque desacredite da existência de atos de corrupção, tanto no governo FHC quanto nos governos posteriores. Refiro-me ao método de investigação, baseado em delações, de um lado, e num jogo calculado de vazamentos.

Daí que a agenda política nacional continua estreita. Os brasileiros não conhecem o Brasil. A quantas anda a economia brasileira real?

Por que a imprensa esconde que o Brasil tem o monopólio absoluto da produção mundial de nióbio, minério estratégico e essencial na produção de armas, satélites e produtos tecnológicos? Será porque não interessa à família Itaú, detentora deste monopólio?

Por que a imprensa parou de divulgar amplas reportagens-denúncia (se é que fez alguma vez) sobre a tragédia de Mariana?

A quantas anda a questão fundiária no país?

A nossa imprensa vive presa a uma agenda política incrivelmente curta, e repetitiva. Todos os jornais e revistas só falam de dois ou três assuntos, sob a mesma ótica.

A sociedade brasileira tornou-se muito mais complexa do que seu noticiário. Evidentemente, o monopólio cria essas distorções.

A ameaça de um novo delator de oferecer cem nomes de pessoas, envolvidas em algum esquema, transforma a Lava Jato numa grande pantomina. A delação premiada, definitivamente, vulgarizou-se.

Os réus entenderam que podem falar qualquer coisa, e serão premiados. Se não houver provas, não tem importância: a PF se encarregará de inventá-las, através de suposições as mais esdrúxulas possíveis. Os relatórios da PF tornaram-se peças de ficção, em que o policial, de posse de um conjunto volumoso de vazamentos, constrói uma teoria qualquer, a qual, desde que dentro da linha da mídia, será chancelada e defendida por esta custe o que custar.

As previsões econômicas para este ano ainda são bastante ruins: o boletim Focus, que colhe previsões da iniciativa privada, estimou que o PIB deve cair 3% este ano. Para o ano que vem, contudo, espera-se crescimento. Todos os fundamentos sinalizam que o ciclo negativo se esgota este ano. Aliás, já no segundo semestre deste ano, as luzes devem começar a surgir ao fim do túnel.

Politicamente, inclusive, este ano pode ser bem melhor, em virtude da realização das Olimpíadas e das eleições municipais. Melhor no sentido de possuir uma agenda política um pouco mais abrangente. O golpismo tende a se encolher, constrangido, diante do espetáculo de novas eleições livres e democráticas.

As Olimpíadas servem para erguer o astral, além de atrair, para o país, a atenção global, abrindo excelentes oportunidades para trocas culturais, políticas e comerciais.

Fonte: Blog do Miro
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O governo deveria tratar a imprensa como um partido de oposição?
Postado em 12 jan 2016

por : Paulo Nogueira


Muito dinheiro público nisso aí

Mino Carta escreveu, em seu editorial na última edição da Carta Capital, que o governo deveria tratar a mídia como um partido de oposição.

O mesmo ponto fora defendido, dias antes, pelo escritor Emir Sader.

Não sei exatamente o que isto significaria na vida prática. Um corte substancial no bilionário Mensalão da publicidade oficial posta nas grandes empresas jornalísticas, provavelmente.

Um olhar mais rigoroso para empréstimos a juros maternos do BNDES para essas mesmas companhias, também.

Considere.

Em 2011, o BNDES liberou um empréstimo de pouco menos de 30 milhões de reais para que a Abril reformasse sua TI no departamento de Assinaturas.

Faz sentido?

Quando se lê, hoje, que os Civitas despejaram 450 milhões de reais na Abril para mantê-la de pé fica claro que não.

A família tinha e tem recursos para não recorrer ao dinheiro público de um banco mantido pelos contribuintes.

Isso foi no governo Dilma.

Na era FHC, o BNDES financiou a nova – e pateticamente inútil – gráfica da Globo. (A Globo não enxergou a internet.)

De novo: fazia sentido?

Veja a riqueza pessoal dos Marinhos para chegar a uma rápida resposta. Não, não e ainda não.

Um parêntese. Em editoriais vigorosos, jornais e revistas reclamam sempre cortes de gastos do governo. Alguém já viu um único editorial condenando as despesas bilionárias com propaganda?

O mesmo vale para o BNDES. São denunciados com frequência brutal empréstimos que teriam propósitos mais políticos do que qualquer outra coisa.

Mas e os empréstimos para empresas de jornalísticos cujos donos estão entre as pessoas mais ricas do país? Por que eles não investem seu próprio dinheiro em novos empreendimentos?

Isto é capitalismo: arriscar. A Globo apostou obtusamente no aumento das circulações quando a internet já se avizinhava. Mas quem pagou o preço do erro não foi a empresa. Fomos nós, o povo.

É coisa do Brasil.

Cerca de 25 anos atrás, Murdoch enxergou uma oportunidade da tevê por satélite. Era um investimento altíssimo, e ele teve que recorrer a empréstimos – mas de bancos particulares.

Quase quebrou, porque foi uma aposta fora de hora. Para que sua companhia não entrasse em colapso, Murdoch foi obrigado, sob pressão dos credores, a se associar a um rival na tevê por satélites. Só há pouco tempo, muitos anos depois, ele teve recursos suficientes para comprar a parte que teve que vender.

A isso se dá o nome de capitalismo. De verdade. Não o capitalismo de araque que existe no Brasil e do qual desfrutam, esplendidamente, as empresas de jornalismo.

Eu acrescentaria o seguinte: rever a publicidade oficial e os empréstimos (doações) de bancos públicos deveria ter sido prioridade no governo PT. Em nome da decência, da transparência e, por que não, até de um capitalismo moderno.

Meu ponto é: o governo não precisa tratar a imprensa como um partido de oposição, embora ela se comporte como tal.

Basta tratá-la sem os privilégios vergonhosos, sem as mamatas abjetas que parece impossível derrubar.


Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
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Em delação, ex-deputado Pedro Corrêa cita FHC em compra de reeleição

Jornal do Brasil
Condenado a 20 anos de prisão na operação Lava Jato, o ex-deputado e ex-presidente do PP Pedro Corrêa acertou os termos de sua delação premiada. Segundo informações da coluna de Ancelmo Góis desta terça-feira (12), no jornal "O Globo", as revelações envolvem o nome do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e a compra da reeleição, aprovada pelo Congresso Nacional no governo do tucano.
De acordo com o colunista, Corrêa "diz ter contado tudo de podre que sabe desde que foi eleito deputado pela primeira vez, em 1978, pela Arena" e que as histórias que serão relatadas passam "pela distribuição (concessão) de rádios na época de Sarney e pela reeleição de FH".
Nome de ex-presidente tucano aparece relacionado à compra de reeleição, em delação de ex-deputado
Nome de ex-presidente tucano aparece relacionado à compra de reeleição, em delação de ex-deputado
Este é o segundo dia consecutivo que Fernando Henrique Cardoso é alvo de denúncias. Nesta segunda-feira (11), veio à tona a delação do ex-diretor da Petrobras, no qual garante que a que a compra do conglomerado de energia argentino Pérez Companc (PeCom) pela estatal brasileira em julho de 2002, por US$ 1,02 bilhão, "envolveu uma propina ao governo FHC de US$ 100 milhões". Cerveró atribuiu as informações a diretores da Perez Companc e a Oscar Vicente, executivo argentino que presidia a empresa.
Fonte: JORNAL DO BRASIL
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Já vem de longa data, mais de uma década, que o jornalismo da grande mídia se resume as notícias sobre as Instituições.

O foco sempre nos Poderes da República.

Neste início de ano, com o Congresso Nacional e o STF em férias, os principais jornalistas locutores de telejornais também entram em férias.

De alguma forma, eles, os jornalistas, também fazem parte do Poder, das Instituições.

Assim sendo, como bem descrito no artigo acima, o Brasil se resume as notícias dos Poderes.

No entanto, um apêndice poderoso e desestabilizador continua operando, produzindo vazamentos seletivos para que a chama se mantenha acessa.

Neste universo da fatos irreais, um processo de abertura de impedimento da presidenta da república, fica parado, em stand by, por conta das férias.

Conclui-se, ou pelo menos inclina-se um observador atento a concluir, que tal processo é apenas uma peça do processo de desestabilização e golpe que tais grupos desejam para o país, pois, como se sabe, um processo de impedimento de um presidente da república é algo que envolve fatos gravíssimos que não podem ficar a espera do momento adequado para sejam apurados.

Como no processo atual de impedimento os fatos para tal processo ainda estão sendo procurados de maneira a justificar o próprio processo - o que já caracteriza um golpe pois os fatos é que devem justificar a abertura do processo - pode-se , assim , esperar um período de descanso para, então, voltar no momento adequado com notícias "quentes" sobre a situação política e econômica do país.


Esse dique já rachou.

Gordos envelhecidos

Boninho passa por cirurgia bariátrica, diz jornal

Diretor de TV teria recebido incentivos de André Marques e Ana Furtado
Boninho passa por cirurgia bariátrica, segundo jornalMarcello Sá Barretto/AgNews

Boninho, o diretor do Big Brother Brasil, teria passado por uma cirurgia bariátrica no último fim de semana, em uma clínica, no Rio de Janeiro.
De acordo com informações do jornal Extra, desta terça-feira (12), ele está em casa se recuperando.
Segundo a publicação, Boninho pediu conselhos para André Marques, que também já se submeteu ao procedimento cirúrgico. 
O diretor de TV recebeu incentivo da mulher, a apresentadora Ana Furtado, e da filha, Isabel.

Que fase, Boninho! Por que 2015 não está sendo o melhor ano para o diretor?

Um dos principais diretores da Globo não emplacou atrações

Fonte: R7
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Quem sabe se depois da operação para perder algumas dezenas de quilogramas, o gordo Boninho também consiga recuperar alguma inteligência, já que como diretor não consegue emplacar nenhuma de suas criações, que aliás, são sempre cópias de programas de TV de outros países.

É extensa a lista de funcionários de globo, todos gordos, claro, que fizeram operação para perder peso.

Assim como os funcionários , a emissora dos Marinhos vem perdendo peso na audiência que despenca a cada dia.

Com atrações envelhecidas, caretas e ultrapassadas, globo tem se tornado o reino da pelanca.

Democracia participativa e direta

Sem rebeldia não há saída


Na democracia imperfeita em que vivemos, as formas de repressão se tornaram tão naturais quanto invisíveis.
11/01/2016
Por João Paulo Cunha*

Em uma das cenas do filme “As sufragistas”, uma personagem afirma que é melhor ser rebelde que escrava. Pode parecer uma frase banal – afinal, quem não escolheria a rebeldia à servidão? –, mas que parece nomear opções com as quais nos deparamos todos os dias. Na democracia imperfeita em que vivemos, as formas de repressão se tornaram tão naturais quanto invisíveis.
Criminaliza-se o aborto, jovens negros e pobres são perseguidos como bandidos e índios são mortos de forma covarde. O machismo se firma como gramática de relacionamento em todos os setores, os homossexuais são discriminados, revogam-se políticas humanistas de saúde mental em nome de interesses de mercado. O que era história se torna sintoma. Na sociedade higiênica, a norma é penalizar a diferença. O que é violência extrema se realiza como destino. Sem rebeldia, sobra a escravidão voluntária.
O filme da diretora Sarah Gavron tem como sua maior força política a percepção de que as palavras habituais não bastam quando se trata do combate às injustiças. Enclausurado na via da convenção, a fala é sempre mais fraca que as ações. O empenho da rebeldia é exatamente esse: criar instrumentos para fortalecer as palavras necessárias e canalizar a ação quando o discurso estanca. E é aí que reside a contemporaneidade da história da luta pelo voto feminino mostrada no filme. Mais que uma conquista institucional, trata-se da coragem de olhar adiante da lei, de inaugurar novos contextos de liberdade.
Essa, talvez, seja a melhor inspiração para o ano que começa. Não podemos ficar presos aos limites que estão sendo impostos pelo jogo político tradicional. O cenário montado pelos golpistas é, em sua essência, legalista no sentido mais conservador da palavra. Aceitar o debate nesses termos paralisou, de uma só vez, os dois lados da aliança em torno da defesa conquistas democráticas. O governo ficou refém do discurso jurídico e presa fácil de alianças menores. Os movimentos populares, por sua vez, colocaram bandeiras históricas entre parênteses para fortalecer a resistência ao golpe.
Nesse cenário de recuos táticos, ficaram em segundo plano os temas relacionados aos direitos humanos e mesmo à construção de alternativas ao capitalismo financeiro. Para ecoar um discurso democrático quase regimental, a perspectiva da transformação social foi rendida pelo realismo garantista. A direita, com a esperteza habitual, convocou suas vanguardas do atraso e pautou a discussão política em termos da reação durante boa parte do ano. É este terreno que precisa ser recuperado com urgência.
Durante todo o ano, a presidenta Dilma Rousseff preferiu valorizar a interlocução com a opinião pública por meio da imprensa familiar. Foi uma escolha infeliz. Além de ficar condicionada pelos termos postos pela mídia e, por isso, assumir quase sempre uma atitude reativa, perdeu duas possibilidades fundamentais de diálogo com a sociedade. A primeira, pela dificuldade em apostar em canais mais desimpedidos e baratos, o que a fez refém dos interesses representados pela imprensa hegemônica. A segunda, pela escolha enviesada de seu público prioritário, deixando de lado os setores populares em nome da pretensa opinião pública representada pela mídia comercial. Errou na técnica e na política.
Os movimentos populares, depois de preteridos pela lógica publicista dos meios de comunicação, precisam agora defender o aprofundamento de sua identidade. Eles fizeram sua parte e devem partir para a reafirmação de seus princípios.
O governo deve ter aprendido que não pode contar com os inimigos da democracia, nem mesmo pagando caro, embora ainda se enfraqueça ao mandar seus primeiros sinais de ano-novo via páginas de jornalões. O caminho da recuperação da governabilidade e da economia, que será lento, passará necessariamente pela coragem de falar olho no olho, com os interlocutores certos, nas horas certas.
No momento em que a oposição já não esconde mais sua única estratégia – melar o jogo a qualquer custo –, a conjuntura só pode avançar com palavras e ações de gente grande. O governo precisa crescer para merecer a sociedade organizada disposta a mudar o jogo, desde que seja pra valer.
Este será um ano de rebeldia. É o melhor que os movimentos sociais têm a oferecer ao país.
*João Paulo Cunha é jornalista e colunista do Brasil de Fato MG.
Fonte: BRASIL DE FATO
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O modelo que fundamenta a social-democracia se esvaiu”, diz historiadora portuguesa


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Diante da crise na Europa, a historiadora portuguesa só vê saída na democracia direta

por Allison Avila, na Carta Capital
A historiadora portuguesa Raquel Varela ocupou o centro das polêmicas em seu país após lançar no primeiro semestre um libelo contra a austeridade e a forma tradicional de se fazer política denominado Para Onde Vai Portugal. No livro e na entrevista a seguir, Varela descreve uma realidade que atravessa fronteiras: a destruição do Estado de Bem-Estar Social na Europa e o aumento brutal da desigualdade, uma marca do início do século XXI.
“A diferença entre um rico e um pobre europeus em 1945 era de 1 para 12. Hoje é de 1 para 530.” O grande desafio, afirma, é reconectar os trabalhadores com a política e isso só seria possível por meio da adoção de uma democracia direta. “O modelo de eleições a cada quatro anos não é mais suficiente. Os cidadãos precisam ter poder de fato.”
CartaCapital: Um dos aspectos interessantes de seu livro é a análise de que os atuais governos liberais, ou voltados ao mercado, na União Europeia mantêm um Estado mais inchado do que nunca. Poderia explicar?
Raquel Varela: O Estado controla a economia por meio da dívida pública. Vivemos um modelo no qual os trabalhadores pagam ao Estado, que por sua vez entrega o dinheiro ao setor privado por meio, entre outros, das Parcerias Público-Privadas. Por conta da intervenção da Troika, Portugal teve a sua maior no setor bancário, além de gerar uma desregulamentação do trabalho pela flexibilização da mão de obra. Tudo isso é articulado pelo Estado, sem ter como objetivo a manutenção do pacto social do pós-Guerra. O modelo que fundamenta a social-democracia se esvaiu. A tendência em Portugal e na Europa é de alta concentração da riqueza. Em 1945, a diferença entre um rico e um pobre, ou um trabalhador manual qualificado na Europa, era de 1 para 12. Em 1980, subiu de 1 para 82. E hoje é de 1 para 530. A União Europeia é uma corporação de acumulação de capitais. E a acumulação é incompatível com a manutenção de serviços públicos de qualidade, por causa da queda tendencial da taxa de lucro. Esse foco tem como consequência a destruição do Estado de Bem-Estar Social. O que vemos em Portugal em particular e em outros países é na verdade a ascensão de uma assistência social, com a educação e a saúde públicas focadas cada vez mais nos pobres e desempregados e não em toda a sociedade.
CC: Os partidos na Europa ou em Portugal têm oferecido caminhos concretos de mudança para salvar o Estado de Bem-Estar Social gradualmente sucateado?
RV: Em Portugal, não. Nem mesmo à esquerda, ao menos no que diz respeito aos partidos com maior representação. Dizem ser preciso acabar com a austeridade, mas não dizem como. Isso acontece porque os indivíduos, e os partidos, associam a melhora das condições de vida a partir dos anos 1990 à União Europeia, quando na verdade ela deveu-se, sobretudo, à redução dos preços dos bens de consumo a partir da entrada da China no mercado mundial. Essa facilitação do consumo abriu espaço para grandes endividamentos e a disparada dos preços dos imóveis. O projeto da União Europeia teve muito mais a ver com a “financeirização” do consumo dos trabalhadores do que com uma dádiva que nos foi dada. Isso não é posto em causa por nenhum partido com alguma influência de massas. 
CC: Quem ou quais seriam os potenciais agentes ou instituições viabilizadoras ou promotoras dessa mudança?
RV: É importante lembrar que a sociedade não é dirigida por quem sabe e deve, e sim por quem se organiza politicamente. Mas com os partidos que temos não vamos a lado nenhum. Ou melhor, vamos: rumo ao declínio. Talvez seja preciso uma nova geração, diferente dessa que nasceu sob o pacto social europeu, para voltarmos a ter dirigentes que mereçam o nosso respeito e confiança. Os atuais olham para o pacto social do pós-Guerra, diretamente associado a uma social-democracia sem nada de novo a oferecer, como uma viúva vítima de violência doméstica no funeral do marido: ela chora, nem sabe por quê.
CC: Seu livro ressalta a importância da criatividade, da cidadania e da organização coletiva. Como isso se aplicaria ao Brasil?
RV: Os partidos políticos são fundamentais para um diálogo estratégico e um pensamento teórico. As classes dominantes estão muito mais bem organizadas do que os trabalhadores e temos de dar respostas a esses, mais fragmentados do que nunca, por meio da política. No caso do Brasil, o problema é outro. Os partidos com uma militância engajada, despojada, dedicada aos trabalhadores, são muito minoritários. E o PT transformou-se em um partido de gestão do Estado, do seu aparelho. Há uma fragilização e o grande desafio da política como um todo é buscar os desiludidos, os desmoralizado. Como os partidos vão fazer para as ideias emancipatórias voltarem a ter força social? É um desafio imenso, até porque é preciso construir pontes com os trabalhadores organizados.
CC: E no caso da Europa?
RV: O problema aqui não é falta de consciência da situação, mas falta de organização. Quem vive do trabalho está profundamente atomizado, disperso. A retomada dessa consciência se dará por meio da democracia direta, e não representativa. Não é só decidir quem vai decidir. É decidir de fato. Os cidadãos têm de encontrar mecanismos de decisão nos seus locais de trabalho, hospitais e escolas que frequentam. O modelo de eleições a cada quatro anos, ou delegados sindicais a cada dois anos, não é mais suficiente. O desafio do século XXI é fazer da democracia representativa uma democracia direta, na qual os indivíduos têm o poder real e não de forma meramente ilustrativa.
*Entrevista publicada originalmente na edição 879 de CartaCapital, com o título Todo poder, real, aos cidadãos

Fonte: O CAFEZINHO
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Power To The People
John Lennon

Power To The People

Power to the people
Power to the people
Power to the people
Power to the people
Power to the people
Power to the people
Power to the people
Power to the people, right on
Say you want a revolution
We better get on right away
Well you get on your feet
And out on the street

Singing power to the people
Power to the people
Power to the people
Power to the people, right on

A million workers working for nothing
You better give 'em what they really own
We got to put you down
When we come into town

Singing power to the people
Power to the people
Power to the people
Power to the people, right on

I gotta ask you comrades and brothers
How do you treat you own woman back home
She got to be herself
So she can free herself

Singing power to the people
Power to the people
Power to the people
Power to the people, right on
Now, now, now, now

Oh well, power to the people
Power to the people
Power to the people
Power to the people, right on

Yeah, power to the people
Power to the people
Power to the people
Power to the people, right on

Power to the people
Power to the people
Power to the people
Power to the people, right on

 Tradução:
Poder Às Pessoas

Poder às pessoas
Poder às pessoas
Poder às pessoas
Poder às pessoas
Poder às pessoas
Poder às pessoas
Poder às pessoas
Poder às pessoas, agora
Diga que você quer uma revolução
É melhor começarmos bem agora
Bem você segue seus pés
E lá fora na rua

Cantando poder a às pessoas
Poder às pessoas
Poder às pessoas
Poder às pessoas, agora

Um milhão de trabalhadores que trabalham para nada
É melhor que você os dê o que eles realmente possuem
Nós temos que te derrubar
Quando nós entrarmos na cidade

Cantando poder às pessoas
Poder às pessoas
Poder às pessoas
Poder às pessoas, agora

Eu tenho que lhes perguntar, camaradas e irmãos
Como você trata sua própria mulher em casa
Ela tem que ser ela mesma,
Para que ela pode ser livre

Cantando poder às pessoas
Poder às pessoas
Poder às pessoas
Poder às pessoas agora
Agora, agora, agora, agora

Oh bem, poder às pessoas
Poder às pessoas
Poder às pessoas
Poder às pessoas, agora

Sim, poder às pessoas
Poder às pessoas
Poder às pessoas
Poder às pessoas, agora

Poder às pessoas
Poder às pessoas
Poder às pessoas
Poder às pessoas, agora