sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Saci na Copa

Viva o Saci, mascote do povo na Copa do Mundo de 2014!

autor: Mouzar Benedito, mineiro de Nova Resende, é geógrafo, jornalista e também sócio fundador da Sociedade dos Observadores de Saci (Sosaci).


 
Parece óbvia a pergunta, a Fifa, todos sabemos, já escolheu o tatu-bola que, coitado, recebeu um nome pra lá de infeliz, Fuleco. Ele está escolhido e pronto, não é?
Não, não é. O Fuleco é mascote da Fifa. Não vi até hoje o coitado ser tratado como mascote pelo povo. E o povo tem razão: não fomos nós que o escolhemos. Seus aparecimentos nos gramados são burocráticos e sem graça, sem aplausos, sem ganhar a simpatia de ninguém.
O Fuleco é mascote dos bastidores, da manipulação de grana, dos burocratas.

Tenho ouvido muita gente declarando apoio ao Saci para ser mascote. Mas mascote do povo, não da Fifa.
Deixemos que o Fuleco compareça aos estádios junto com estrangeiros e com brasileiros que têm grana pra ir lá. Nos bares, em casa, nas reuniões de amigos para assistir aos jogos, o Saci há de ser o escolhido e comemorado.
Nós o havíamos indicado, com um monte de justificativas. Relembro algumas:
- Ele é de origem indígena, tornou-se negro e “ganhou” o gorrinho mágico presente em muitos mitos europeus, então é uma espécie de síntese da formação do povo brasileiro, que é uma mistura desses três grandes povos, além dos orientais que vieram pra cá quando a figura do Saci já estava pronta.
- Ele é negro, como a maioria dos nossos jogadores de futebol, e essa negritude, num país que não superou o racismo, é importante como símbolo de uma luta por igualdade. É também perneta, o que representa outra bandeira de luta nestes tempos que se fala tanto de inclusão. Além disso é e pobre, não tem nem roupa, e mora no mato. Com três motivos para ser “infeliz”, ele é gozador, brincalhão, aprontador, divertido. Enfim, um brasileiro autêntico, dos bons.
- Ele é um ser libertário. Uma das lendas sobre a perda de uma das pernas do Saci é que quando se tornou negro ele foi escravizado por um fazendeiro e era mantido à noite, na senzala, preso a um tronco por uma perna, com grilhões. Uma noite, ele cortou a perna presa e fugiu: preferia ser um perneta livre do que um escravo de duas pernas.
- Hoje em dia fala-se tanto em ecologia, proteção e recuperação do meio ambiente… E aí está o Saci de novo, como protetor da floresta.
- Ele é popular, conhecido de todos os brasileiros, e existem desenhos dele feitos por um montão de gente, e até as crianças o desenham e se divertem com ele. Aí está um motivo para ele não ser o escolhido da Fifa: não dá lucro aos mercenários do esporte. Inventaram uma mascote (nada contra o tatu-bola) e registraram três nomes como marcas pertencentes à Fifa para depois anunciar a escolha e pôs os três nomes em votação pela internet, os três horrorosos. Nem ao menos tiveram a dignidade de deixá-lo com seu próprio nome, tatu-bola. Virou Fuleco.
- O Saci faz parte da nossa cultura popular e, se fosse “eleito”, seria assumido pela população, ao contrário do tal Fuleco, pra quem todo mundo torce o nariz.
Então, repito, vamos torcer para que se realize no Brasil uma bela Copa do Mundo, apesar da submissão do país à Fifa, e que a seleção brasileira jogue bonito e vença. Mas protestando contra a corrupção, contra os desmandos da Fifa, contra a mercantilização do esporte e contra tudo de ruim, todas as tramoias que tentam nos enfiar goela abaixo. E festejando o que tem de bom: a alegria do futebol bem jogado e bonito, a nossa riquíssima cultura, o nosso jeito de ser e viver.
O Fuleco estará nos estádios superfaturados da Copa? Pois bem, nas ruas, nas praças que queremos que continuem sendo do povo, festejaremos com o Saci. Que cada um o desenhe, pinte, faça escultura dele com sua arte e sua criatividade, não tem que ser “um” Saci oficial, imposto. Muitos cartunistas devem oferecer criações bem-humoradas do Saci Mascote, para serem usadas por quem quiser. Mas quem não quiser nenhuma delas pode desenhar, pintar ou esculpir seu próprio Saci, o Saci do seu grupo, da sua turma.
Os Sacis são democráticos. Ninguém vai pagar royalties em nome dele.
Enfim, viva o Saci, mascote do povo na Copa do Mundo de 2014, no Brasil.
Não nos submeteremos a nenhum império. Que a Fifa vá reinar em outras plagas!
Fonte: REVISTA FORUM

Taí uma excelente idéia.
Fico imaginando o país inteiro, durante a copa do mundo, com mácaras do Saci, gorro e tudo que diz respeito ao nosso símbolo.
A FIFA não poderá impedir que os torcedores de todos os cantos  usem os símbolos do Saci, nas ruas e nos estádios.
Pode até impedir que jogadores coloquem o gorro no momento de comemoração de gols. Se isso acontecer os jogadores podem comemorar pulando em uma perna.
Isso vale para jogadores de todas as seleções que estarão aqui na Copa do mundo do futebol da FIFA.
Cebe lembrar que o símbolo escolhido pela FIFA para mascote da copa, o tal do Fuleco, um tatu bola, recebeu esse nome para que não tivesse um nome igual a uma outra coisa qualquer e com isso  não associar concorrência.
Gulosa essa FIFA.
O tal Fuleco, em suas primeiras aparições em espaços públicos de algumas cidades brasileiras com o patrocínio da coca-cola, sofreu rejeição da população e os bonecos gigantescos do tatu da FIFA foram atacados por descendentes legítimos do Saci.
A campamha pelo Saci como mascote alternativo e ao mesmo tempo o mascote de fato, deve ser organizada desde já.
É interessante que seja criado um comitê para arrecadar fundos para produzir e divulgar todo o material promocional.
Já posso ver em praças e ruas de grandes cidades brasileiras gigantescos bonecos do Saci bebendo uma cachaça bem brasileira ou até mesmo uma água de coco.
Camiseteas, gorros , adesivos, mácaras espalhadas pelo país.
Não tenho dúvida que se a campanha for bem organizada e conduzida o Saci não só ganhará a simpatia de todos os brasileiros como de todo o mundo.
Sua história é ótima e simpática.
Seria , e acretido que será de fato, uma boa forma de protestar contra as idiotices da FIFA.
Um protesto pacífico, inteligente e que ganhando o mundo por conta da visibilidade da copa, levará o Saci para todos os cantos do planeta e, com ele a exportação de um produto de nossa industria cultural que pode se tranformar em revistas, filmes de animação e tudo mais relativo a nossa cultura, já que Saci tem outros amigos, também bem interessantes,  no mato onde vive.
Cabe ainda lembar, em reforço  ao Saci como mascote, que nosso cientista Miguel Nicolellis pretende dar o pontapé inicial da competição com uma pessoa portadora de necessidade espéciais utilizando  um produto de seu brilhante  trabalho no campo das neurociências, um exoesqueleto que fará com que a pessoa possa se movimentar.
Certamente a FIFA irá pular de raiva com essa idéia, porém o Saci já pula, e de alegria.
Aliás, a idéia de Saci como mascote de fato é algo bem do caráter do Saci.
Vamos levar a alegria e a boa molecagem do Saci para as ruas.
O PAPIRO não só apoia a idéia como se coloca  a disposição para divulgar todos os passos e eventos relativos a  apoteose do Saci.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Seleção ou Morte

"Diego Costa só pensou nele", critica Felipe Andreoli

Jornalista e humorista do CQC lamentou a postura do atacante brasileiro que preferiu defender a Espanha.

Fonte: TERRA

Quando a gente pensa que a velha mídia esgotou seu repertório de asneiras, eis que sempre aparece alguém para dizer, em alto e bom som de voz com imagem, mais uma besteira.
A asneira da vez vem do fascista programa CQC da Band, aliás programa sempre presente na lista de barbaridades. 
O jogador de futebol, Diego Costa, nascido no interior do estado de Sergipe deixou o país com 17 anos de idade para tentar a sorte no futebol europeu.
Certamente quando saiu do Brasil, ninguém conhecia o rapaz, ninguém perguntou o motivo de sua saída, ninguem ofereceu alguma ajuda para que ele permanecesse no Brasil.
Quantos jovens existem por aí tentando a sorte como jogador de futebol?
Dessa multidão de jovens, apenas poucos, bem poucos, conseguem o sucesso de Diego Costa.
Pelo mundo inteiro há uma legião de jogadores de futebol brasileiros, todos desconhecidos aqui no Brasil.
Alguns bem sucedidos e naturalizados nos países onde atuam que acabam ficando por lá e jamais retornam ao país.
Diego Costa saiu do Brasil em um pau de arara aéreo, para tentar a sorte.
Venceu , e é grato àqueles que o acolheram, desejando assim naturalizar-se espanhol e jogar pela seleção da Espanha.
Seu sucesso em gramados europeus chamou a atenção do treinador da seleção brasileira que resolveu convocá-lo para um amistoso.
O atleta rejeitou o convite, naturalmente, e o assunto invadiu a idiotice da velha imprensa, ou a velha imprensa idiota, dá no mesmo, que viu na decisão do atleta um ato de anti patriotismo, uma traição a pátria, uma rejeição ante um chamado à luta de vida ou morte que será travada no próximo ano nos lindos verdes campos gramados da terra do cruzeiro. 
Brasiiiiiiiiiiiiiiiiilllll ! 
Gritam, ao som de elevados decibéis no espectro eletro acústico, os fanáticos adeptos da confraria de Galvão Bueno e outras coisas deploráveis que abundam e inundam o espaço informativo do esporte.
No mundo globalizado, como previu João Saldanha de forma brilhante lá pela final dos anos da década de 1980, as competições mais importantes do futebol serão aquelas entre clubes, e não entre seleções nacionais.
O conceito de seleção nacional vai se diluindo com  o tempo na medida em  que os jogadores sequer atuam em seus países de origem, isso principalmente em países que não tem ainda os recuros e organização das principais praças de futebol do planeta.
É claro  que em países com um povo de auto estima baixa, o sucesso de um atleta esportivo ou mesmo de uma equipe nacional, pode se transformar em ato de heroísmo com direito a momentos de intenso júbilo entre os nativos, com condecorações, festividades para toda a população e dias de imenso êxtase.
Não que tenhamos superado essa fase de vira-latas, mas o país, já por bom tempo,  ocupa um lugar de destaque no cenário mundial, e a população não precisa de heróis para se sentir valorizada. 
Deve, sim,  aprender a valorizar e cultuar seus compatriotas luminares, sem que se sinta ofendida pelo sucesso de outros. 
Isto posto, o jornalista do CQC engana-se quando afirma contaminado por inveja, que Diego Costa teria pensado apenas nele ao rejeitar o pedido de Felipão. 
Não, meu caro. 
Diego Costa pensou nele, pensou em seus familiares da distante  cidade de Lagarto  e certamente deve também ter pensado na idiotice da imprensa esportiva brasileira.  
Sua decisão é normal e não é a primeira. 
Muitos outros jogadores se recusaram a jogar pela seleção brasileira sem a questão da nacionalidade mutante. 
Engraçado que esta mesma imprensa, recentemente, mais precisamente há três anos atrás, pedia , insistentemente que o jogador argentino do Fluminense  , na época, Dario Conca, se naturalizasse brasileiro para jogar pela seleção.
Assim sendo, meu caro jornalista esportivo humorista, o que já é um pleonasmo, Diego Costa não pensou apenas nele . 
Você, sim, pensou apenas em você e com um agravante de ter pensado como vira-lata pouco evoluído.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Uma Escuridão Luminosa

Espelhos são inaugurados e cidade na Noruega vibra com luz solar no inverno

A estação ainda não começou no hemisfério norte, mas a população de Rjukan, cidade encravada nas montanhas, comemora a novidade.

Fonte: TERRA

Lá pela década de 1980 ou 1990, não me recordo exatamente, a Rússia fez um teste enviando  um gigantesco espelho ao espaço com o objetivo de  direcionar a luz solar para determinadas regiões do país no período de inverno.

A experiência foi bem sucedida mas recebeu uma enxurrada de críticas da comunidade científica.

Alterar os ciclos da natureza, com mais ou menos incidência de luz solar, significa alterar todo o equilíbrio das formas de vida nas regiões. A título de exemplo, um fenômeno natural como o eclipse do sol faz com que as aves de vida diurna se recolham no momento do eclipse acreditando que a noite chega.

A fauna e a flora sofreriam grandes mudanças, com  interferência na vida de animais e vegetais, alterando o período de reprodução e mesmo de migração de animais.  

Estranho que a Noruega, um país pioneiro nas questões ambientais comemore tal feito.

Cabe ainda lembrar que se grandes áreas próximas dos pólos tivessem seu equilíbrio modificado com mais ou menos luz solar, também o ciclo de águas poderia sofrer com as repentinas alterações.

O aprovietamento da luz solar no espaço, poderia ser útil para produzir energia elétrica e enviá-la, através de sinais, para determinadas regiões onde as fontes de produção de energia são mínimas.   

Enquanto a ciência avança para uma compreensão da realidade que compreenda a totalidade, iniciativas de cunho fragmentado ainda são comemoradas. 

 

 

 


terça-feira, 29 de outubro de 2013

A Campanha


 
 
E assim caminha a oposição, entre o profano e o sagrado.

Energia Limpa

Retirada de combustível do reator 4 de Fukushima ameaça criar cenário apocalíptico

Em novembro, a TEPCO começa a remover os bastões de combustível, que têm emissão de radiação equivalente a 14 mil bombas como as foram jogadas em Hiroshima


Por Andrea Germanos, para o Commom Dreams EBC
Uma operação com consequências potencialmente “apocalípticas” deve começar em cerca de duas semanas – “em torno de 8 de novembro” – no reator 4 de Fukushima, que está danificado e vazando. É aí que a operadora da usina, a TEPCO, vai tentar remover 1.300 bastões de combustível gastos de um depósito completamente estragado no andar superior da usina. Os bastões têm radiação equivalente a 14 mil bombas como as que foram jogadas em Hiroshima.

Apesar de o prédio do reator 4 em si não ter sofrido um colapso, ele passou por uma explosão de hidrogênio, e está indo de mal a pior, e a chance de aguentar mais um abalo sísmico é zero.

O Japan Times explicou:

“Para remover os bastões, a TEPCO colocou um guindaste de 273 toneladas por cima do prédio, que será operado remotamente, de uma sala separada. [...] os bastões gastos vão ser retirados das armações em que eles estão armazenados um a um e inseridos em uma pesada câmara de aço, com as peças ainda submersas debaixo da água. Quando essa câmara for retirada da água e depositada no chão, será transportada até outra piscina em um prédio intacto para armazenamento.

Em circunstâncias normais, uma operação como essa demoraria três meses. Mas a TEPCO esperar completar essa antes do início do ano fiscal de 2014.”

Um coro de vozes têm soado como um alarme contra o plano – nunca algo assim já foi feito – de remover manualmente 400 toneladas de combustível gasto da TEPCO, que tem sido responsabilizada por problema atrás de problema na danificada usina nuclear.

Arnie Gunderson, engenheiro nuclear veterano dos EUA e diretor da Fairewinds Energy Education, alertou, nesse verão, que “eles terão dificuldade na remoção de um número significativo dos bastões”, e disse que “daí se pular direto para a conclusão de que vai dar tudo certo é um belo salto no escuro”. Paul Gunter, diretor do Reactor Oversight Project, também deu o alarme, afirmando ao Commom Dreams que “dadas as incertezas sobre as condições objetivas e a disposição de centenas de toneladas de partes, vai ser como um perigosíssimo jogo de pega varetas radioativo”. Gunter fez a seguinte analogia sobre o perigoso processo de remover os bastões de combustível gastos:

“Se você pensar na armação nuclear como um maço de cigarros, se você puxar um cigarro direto, ele sai – mas essas armações sofreram danos. Agora, quando eles forem puxar o cigarro direto para cima, ele vai provavelmente quebrar e soltar Césio e outros gases, Xenônio e Criptônio, no ar. Suspeito que quando chegar novembro, dezembro, janeiro, vamos ouvir que o prédio foi evacuado, que eles quebraram um dos bastões, que os bastões estão liberando gases. [...]

Suspeito que vamos ter mais liberações no ar à medida que eles tiram o combustível. Se eles puxarem rápido demais, quebram o bastão. Acho que as armações foram retorcidas, o combustível superaqueceu – a piscina ferveu – e o efeito é que provavelmente, boa parte do combustível vai ficar lá por muito tempo.”

O Japan Times acrescentou:

“A remoção dos bastões costuma ser feita por computador, que sabe a localização de cada uma das peças com precisão milimétrica. O trabalho às cegas em um ambiente altamente radioativo faz com que haja um risco de o guindaste danificar um dos bastões – um acidente que deixaria ainda mais miserável a região de Tohoku.”

Como explicou Harvey Wasserman, ativista contra atividade nuclear de longa data:
“Os bastões gastos de combustível precisar ser mantidos resfriados o tempo todo. Se eles forem expostos ao ar, seu revestimento de liga de Zircônio vai pegar fogo, os bastões vão se queimar e grandes quantidades de radiação serão liberadas. Se os bastões encostarem um no outro, ou se eles se desfizerem numa pilha grande o suficiente, pode haver uma explosão.”

RT ainda acrescenta que, na pior das hipóteses: “a piscina pode desabar no chão, derrubando os bastões uns sobre os outros, o que poderia provocar uma explosão muitas vezes pior do que a que aconteceu em março de 2011.”

Wasserman diz que o plano é tão arriscado que merecia uma intervenção global, um pedido do qual Gunter compartilha, afirmando que “a perigosa tarefa não deveria ficar nas mãos da TEPCO, deveria envolver a supervisão e o gerenciamento de especialistas internacionais independentes”.

Wasserman disse ao Commom Dreams que:

“A retirada dos bastões de energia da unidade 4 de Fukushima pode bem ser a missão mais perigosa da engenharia até hoje. Tudo indica que a TEPCO é incapaz de fazer isso sozinha, ou de informar de maneira confiável à comunidade internacional o que está acontecendo. Não há razões para se acreditar que o governo japonês também faria isso. Esse é um trabalho para ser feito pelos melhores engenheiros e cientistas do mundo, com acesso a todos os recursos que poderiam ser necessários

A potencial liberação de radiação em um caso desses pode ser descrita como apocalíptica. Só o Césio equivale a 14 mil bombas como as que foram jogadas sobre Hiroshima. Se algo der errado, a radiação poderia forçar que todos os seres humanos no local sejam evacuados, e poderia provocar a falha dos equipamentos eletrônicos. A humanidade seria forçada a assistir sem poder fazer nada enquanto bilhões de curies de radiação mortal são jogadas no ar e no mar.”

Por mais ousado que possa parecer o alerta de Wasserman, ele encontra ressonância na pesquisadora de fallout de radiação Christina Consolo, que disse ao RT que na pior das hipóteses o cenário é de apocalipse. O alerta de Gunter também foi ousado.

“O tempo é curto enquanto nos preocupamos que outro terremoto pode danificar ainda mais o complexo do reator e o depósito do resíduos nucleares”, continuou ele. “Isso poderia literalmente reinflamar o acidente nuclear a céu aberto e incendiar até alcançar proporções hemisféricas”, disse Gunter.

Wasserman diz que, dada a gravidade da situação, os olhos do mundo deveriam estar voltados para Fukushima.

“Essa é uma questão que transcende ser antinuclear. O destino da Terra está em jogo aqui, e o mundo todo deve acompanhar cada movimento daquele local a partir de agora. Com 11 mil bastões de energia espalhados pelo local, e com um fluxo constante de água contaminada envenenando o oceano, é a nossa sobrevivência que está em jogo.”

Fonte: CARTA MAIOR

A probabilidade de algum bastão estar quebrado ou retorcido é alta, o que durante a retirada pode ocasionar o tal acidente apocalíptico.
Devido a complexidade da operação e a inexistência de algo similar anteriormente, um estudo mais profundo envolvendo toda comunidade científica deveria ocorrer, mesmo sabendo-se que o tempo corre contra Fukushima, já que um novo tremor de terra , tufão ou tsumani,teriam consequências ainda mais catastróficas.
Enquanto nada disso acontece e Fukushima coloca em risco potencial grandes áreas do planeta, os EUA continuam em sua obsessão contra  um programa nuclear do Irã que poderia causar danos irreversíveis à humanidade por conta de suposta  fabricação de armas nucleares de destruição em massa.
No racionalidade vigente, seletivos perigos potenciais e futuros  são amplamente debatidos enquanto os perigos reais e que estão acontecendo são ignorados.
A destruição em larga escala é real, a curtíssimo prazo, e está também alí, no Japão, mergulhada nas piscinas dos reatores que utilizam de forma pacífica a  energia nuclear para gerar racionalmente eletricidade.
No mundo racional e civilizado os grandes problemas são ignorados pela grande mídia, ou merecem um destaque humilde nos higiêncios e estéreis noticiários de tv e em seus pares impressos.
O mesmo se aplica as alterações climáticas, que na grande mídia, quando citado, aparece como algo controverso, até mesmo quando a realidade aliada  ao tempo expõe o fracasso da união Européia em atingir as metas de redução das emissões de CO2.
Fukushima continua contaminando áreas do Japão  e pode, a qualquer instante, se transformar em uma little boy às avessas, com um efeito ainda mais devastador, o que não deixa de ser uma trágica ironia.
Chernobyl, Goiania, Fukushima. Todas mataram e continuam produzindo vítimas, sem que um amplo debate sobre o uso da energia nuclear ocorra.





sábado, 26 de outubro de 2013

Tira a mão daí, globo.

Manifestantes protestam contra 'monopólio da Rede Globo'

 

Um grupo de aproximadamente 50 manifestantes protesta no início da noite desta sexta-feira em frente à sede da Rede Globo, no Jardim Botânico, zona sul do Rio de Janeiro.
Eles pedem o fim do que classificam como "monopólio da Globo" na área da comunicação e a "democratização da mídia".
Policiais militares protegem a portaria da emissora de uma possível tentativa de invasão.
O clima, por volta das 18h50, era tranquilo, e não há registro de distúrbios.
O trânsito nas ruas próximas segue sem alterações.
Há dezenas de policiais vigiando as vias no entorno da Globo.
Com palavras de ordem como "O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo", os manifestantes acusam a emissora de distorcer o noticiário a respeito dos protestos.

Fonte: Jornal do Brasil


Repórter da Globo xinga colega ao vivo no Jornal Nacional

José Roberto Burnier ficou irritado porque o colega colocou o braço na frente da câmera


O repórter José Roberto Burnier ficou nervoso com o braço do colega em frente à câmera; depois do xingamento feito ao vivo, todo mundo do telejornal fingiu que nada tinha acontecido de anormal durante a transmissãoReprodução
Os telespectadores que assistiram ao Jornal Nacional (Globo) nesta sexta (25) viram uma cena inusitada.

Assim que foi chamado pelos apresentadores Patrícia Poeta e Heraldo Pereira para contar como estavam as manifestações em São Paulo, do alto de um helicóptero, o repórter José Roberto Burnier surgiu na tela dividida brigando com um colega que estava com o braço em frente à câmera.

Irritado, o repórter bradou um xingamento ao vivo.

— Tira a mão daí, p...

Patrícia e Heraldo ficaram constrangidos, mas seguiram em frente com as perguntas para o repórter.

Ao perceber que já estava no ar, Burnier falou seu texto e também fingiu que nada tinha acontecido.

Fonte: R7

Em globo, tudo é teatro.
Pelo menos dessa vez não se pode dizer que a emissora mentiu, já que uma porra estava no ar.
E aconteceu nas alturas , durante a cobertura dos protestos, único lugar onde os repórteres de globo podem produzir suas notícias, já que nas ruas, ao lado dos mortais, já se tornou rotina serem varridos  dos lugares.
Pereira e Poeta, mesmo constrangidos com aquela porra toda, se mantiveram na elegância teatral constumeira da emissora.
Fingir que nada acontece é uma regra na globo.
Aliás, ambos estavam bem elegantes durante a jornalzão.
Patrícia na cor salmão e Pereira de paletó carvão.
Já Burnier, alucinado nas alturas, era uma porra na contramão.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O Consórcio da Barbárie

A imprensa que ajuda a matar

Por Cátia Guimarães em 22/10/2013 na edição 769
 
Tudo indica que estamos diante de um segundo caso Amarildo. Na madrugada do dia 17 de outubro, um jovem de 18 anos chamado Paulo Roberto morreu na favela de Manguinhos, no Rio de Janeiro. A mãe e outros jovens que testemunharam o ocorrido acusam os policiais da UPP de tê-lo espancado até a morte. Avisada, a mãe correu para o local e conseguiu ver os dois últimos suspiros do filho, que já chegou morto à Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Exatamente como no caso Amarildo, não só os policiais acusados, mas o comando da UPP e a Polícia Militar, institucionalmente, negam.
Amparada no laudo inicial do Instituto Médico Legal (IML), que diz que as lesões encontradas no corpo de Paulo Roberto não foram a causa da morte do jovem, a corporação soltou imediatamente os PMs que haviam sido postos em prisão administrativa. Também exatamente igual ao caso Amarildo, a grande imprensa já se esforça para deslegitimar a denúncia da família e a revolta da comunidade. Só que desta vez, com um grande trunfo a seu favor: diferente de Amarildo, Paulo Roberto tinha várias passagens pela polícia, estava solto pela justiça, mas, como se sabe, embora não exista pena de morte neste país, faz parte do senso comum confirmado pela grande mídia todos os dias que “bandido bom” é “bandido morto”. Quando digo que “tudo indica”, me referindo à situação de Manguinhos, quero dizer que, para a imprensa, essa é a condição suficiente para se dar início a uma pauta jornalística.
Com exceção honrosa do jornal O Dia – que, aliás, tem se destacado por um sério jornalismo também na cobertura das manifestações – e do programa de Ricardo Boechat na Band News, tudo que vi na grande imprensa sobre o caso do jovem de Manguinhos foram montagens editoriais – inclusive com as técnicas mais simplistas – para enfraquecer a denúncia. No telejornal da Globo, por exemplo, primeiro foi apresentada a fala da mãe, denunciando, depois a da polícia, respondendo. Nesse formato clássico de edição de matéria, que todo jornalista conhece, não há tréplica e a história se conclui na defesa. Mas, para encerrar com chave de ouro, na volta das imagens o âncora termina de fato a matéria informando que o jovem tinha várias passagens pela polícia. Você que não conhece Paulo Roberto nem sua família, que só conhece favela pelas imagens de televisão e aprendeu a respirar mais aliviado em saber que “aquela gente” está “pacificada”, não terá dúvidas sobre o que pensar.
Maquiagem sensacionalista
Os dias seguintes, na cobertura em geral, foram ainda piores. Imagens da revolta da comunidade contra os policiais, apedrejando a sede da UPP e carros de polícia, tomaram conta dos jornais e telejornais, destacando um “vandalismo” preto e pobre que aterroriza o senso comum, nubla o fato (a notícia) original e naturaliza a repressão violenta.
Destaco também a chamada do G1, portal da Rede Globo, no dia 17 de outubro: “Exame diz que agressão não causou morte de jovem em Manguinhos, Rio”. O subtítulo é ainda mais preciso: “Laudo do IML indica que socos não motivaram morte de Paulo Roberto. Família acusa PMs da UPP de Manguinhos de espancar e matar jovem”. A notícia é a (não) causa da morte; as lesões (agressão, socos) não viram pauta. Parece uma anedota conhecida nos cursos de jornalismo, sobre um repórter que foi cobrir a estreia de um espetáculo de circo e voltou de mãos vazias dizendo que não teve matéria porque o circo pegou fogo. É uma pena que agora não tenha graça nenhuma.
Prevenidos da experiência recente, identifica-se, aqui e ali, um esforço de maquiar esse discurso pronto de naturalização. Um exemplo é a matéria, do mesmo G1, que traz, no título, uma frase da mãe do jovem morto: “Não é o primeiro filho que se enterra em Manguinhos”. A concessão, no entanto, limita-se ao título, já que a matéria não traz nenhuma apuração, nenhum dado, nenhum questionamento da polícia sobre a grave denúncia que o título apresenta. Maquiagem sensacionalista, mais uma vez.
“Sai da frente”
É a história que se repete. Aliás, é bom que não se esqueça que o início da cobertura midiática sobre o caso Amarildo não tinha nada das denúncias que hoje ajudam a vender jornais. Em texto publicado neste Observatório, comento matéria do Globo em que o desaparecimento de Amarildo aparece como uma questão lateral, como o motivo alegado pelos moradores da Rocinha para fazerem uma passeata que causava transtornos no trânsito, esta, sim, a pauta do jornal. Muito diferente do apelo sensacionalista (e falsamente investigativo) das manchetes de hoje, a primeira frase da matéria daquela época, antes de o assassinato se tornar inegável pelos fatos, resumia a notícia que tinha importância: “Uma manifestação realizada ontem na autoestrada Lagoa-Barra por moradores da Rocinha parou o trânsito de bairros como Lagoa, Gávea e São Conrado, dificultando a volta para casa de quem mora na Barra da Tijuca e arredores”. Agora, com Paulo Roberto e Manguinhos, não é diferente.
No dia 19 de outubro, junto com cerca de 70 trabalhadores e estudantes da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), instituição de ensino e pesquisa localizada em Manguinhos, fomos em passeata até a favela no momento em que ocorria o velório do jovem morto. Mas você não viu isso no noticiário. Na véspera, o presidente da Fiocruz, numa comitiva com integrantes ainda do sindicato da instituição e outros pesquisadores e diretores, foi à favela conversar com o comandante da UPP sobre o clima de terror que se instalou na região após uma manifestação organizada pelos moradores em protesto pela morte do rapaz e na qual uma jovem foi ferida na perna – com bala de verdade. Mas você também não viu isso no noticiário.
Uma equipe de reportagem do SBT já estava em Manguinhos quando chegamos. Mas eles não se interessaram muito pelas denúncias que diversas pessoas da comunidade faziam não só sobre a morte do jovem como sobre a prática de violência que, segundo eles, caracterizaria a política da UPP. Localizado em frente à sede da UPP, o repórter, eufórico, orientou o cinegrafista a registrar o momento – que não durou mais de cinco minutos – em que alguns poucos moradores, revoltados, chutaram e jogaram pedras no container da UPP. Um manifestante – que ele talvez não soubesse que era pesquisador da Fiocruz – se postou em frente à câmera com o cartaz que segurava e perguntou por que ele não mostrava aquilo, por que não se interessava pela reivindicação, por que só queria filmar o breve momento em que a população reagiu. A resposta? “Sai da frente, filho da puta”, seguida da afirmação de que ele não precisava que ninguém lhe ensinasse o seu trabalho. Não precisava mesmo: seu trabalho é mostrar imagens chocantes, sensacionalistas, descontextualizadas, que sirvam a uma narrativa irreal, mas reafirmadora do senso comum conservador e violento que legitima a matança de pobre nesta cidade todos os dias (e neste estado, e neste país). Claro que ele tinha que filmar também a reação, que era parte da notícia, mas, na forma e na narrativa, essa parte tem virado o todo.
Modelo de jornalismo e concepção de notícia
Mas é preciso entender que esse não é um fato isolado. Tal como a morte de Amarildo – e, se se confirmar a versão da família e da comunidade, também a de Paulo Roberto –, não pode ser atribuída apenas a policiais isolados, agentes do mal em meio a uma bela política do bem, esse comportamento jornalístico não é específico de um repórter sem ética ou incompetente. Visto no que traz de generalidade, esse episódio tem muita semelhança, por exemplo, com as discussões sobre a cobertura das manifestações que têm tomado as ruas do país.
Quando os defensores de plantão da grande imprensa justificam que as manchetes dos jornais sempre destaquem o quebra-quebra e não o envolvimento da população com o protesto; quando colocam a culpa do noticiário nos “vândalos” que, ao produzirem uma manifestação não-pacífica, forçam uma abordagem negativa da mídia, estão naturalizando uma concepção de notícia que, no limite, legitima comportamentos desonestos como o desse repórter do SBT. Por esse argumento, a revolta da população de Manguinhos, que se traduziu na agressão física a coisas – um contêiner e um carro – por parte de meia dúzia de moradores, equivale, como notícia, à morte e ao espancamento de um menino.
Como já assinalado, merece destaque a séria postura do jornal O Dia que, no dia 19 de outubro, por exemplo, deu uma página sobre o tema, com o título “PMs soltos, jovem enterrado”. Destaca-se a foto de um menino apedrejando o carro da polícia, porque é claro que isso também é notícia e não tem que ser escondido, mas a legenda vincula os fatos: “Viatura tem vidros quebrados por pedras num acesso ao Complexo de Manguinhos, ontem de tarde: moradores revelaram detalhes da morte”. E o texto sobre aquilo que os outros jornais trataram como vandalismo aparece num box, reduzido ao espaço e lugar que esse fato merece no contexto mais geral da notícia. O título do box: “Revolta antes e depois do sepultamento”.
Para que não fiquemos apenas na superfície de um denuncismo que individualiza os atos, é preciso discutir o que de palpável existe nesse processo, além do cinismo que alguns jornalistas da grande imprensa desenvolveram e os óbvios interesses empresariais das corporações de mídia. Para isso, é urgente que todos os movimentos sociais que hoje se mobilizam nas ruas – e não apenas aqueles diretamente ligados à democratização da comunicação – discutam o modelo de jornalismo e a concepção de notícia que, de tão naturalizada, nos faz não estranhar que cada fato noticiado na mídia se esgote nele mesmo. Isolando o fato – objetivo, neutro, aquele que deve falar por si -, a compreensão profissional de notícia cria obstáculos para associações e contextualizações que remetam a um mínimo de totalidade.
Acomodados nesse modelo, muitos jornalistas da grande imprensa aceitam o jogo da fragmentação sensacionalista – que, literalmente, se limita a causar sensação. As grandes empresas jornalísticas, confortavelmente acomodadas no lugar privilegiado de quem controla os principais canais de informação da população brasileira, mantêm seus interesses particulares promovendo essa concepção de notícia e de jornalismo como se se tratasse de uma definição técnica e profissional. E nós, jornalistas e leitores, aceitamos isso.
O policial gente boa
Vivemos de tal modo presos num modelo fragmentado de notícia que não é nenhum constrangimento para esses veículos de comunicação ficarem no meio do caminho da informação. Eles podem, exemplo, informar que durante a tortura do pedreiro da Rocinha os policiais perguntavam sobre as armas do tráfico sem concluir – informativamente – que isso obviamente configura uma prática de “interrogatório” a serviço dos objetivos anunciados da UPP e da política que eles representam – e não a manifestação de um ódio pessoal de dez policiais. Como descolar isso da própria política de segurança pública do Rio de Janeiro e dos seus grandes coordenadores, José Mariano Beltrame e Sergio Cabral? Para o jornalismo atual, é fácil, e o pior é que já nos acostumamos com ele.
No caso específico de Amarildo, seria “injusto” dizer que a associação da violência policial com a política mais ampla de segurança não apareceu em momento algum. No dia 5 de outubro, por exemplo, o Globo publicou matéria com o título “Beltrame: caso Amarildo não arranha imagem das UPPs”. A matéria se referia a uma fala do secretário de segurança do Rio de Janeiro durante evento numa escola pública. Conforme registra o texto, entre outras coisas menos comprometedoras, Beltrame defendeu que “o que nós temos hoje lá [na Rocinha] é muito melhor do que havia no passado” e que “a polícia atuou lá como atua em qualquer lugar da cidade. A morte de uma pessoa é muito difícil, mas antes a gente não conseguia entregar uma intimação lá dentro”. Não sei se entendi bem, mas parece que o secretário de segurança acha que ser torturado pela polícia é melhor do que ser torturado pelo traficante. E que as pessoas deveriam ficar felizes porque agora, além de serem torturadas e mortas, elas podem receber nas suas casas intimação da própria polícia. É uma pena que o jornalista do Globo que fez a matéria não fosse dado a ironias.
Como o tema aparece num evento cujo protagonista é o secretário, e não como uma pauta que questione a política de pacificação (mais universal) a partir de um fato particular, o jornal não precisou ouvir o tão famoso “outro lado”. Até, porque, convenhamos, nesse caso, é fácil acreditar que não existe um outro lado. Tendo como pano de fundo a naturalização de que para favelado só existe a escolha entre a arma do traficante e a arma da polícia, a população residente dessas comunidades ‘pacificadas’ – o outro lado esquecido – não é mais ouvida sobre a política que deveria beneficiá-la. Essa mesma população foi destaque nas páginas dos jornais quando se anunciou a instalação das primeiras UPPs, e havia uma forte expectativa em relação aos seus benefícios.
Hoje, um balanço que apurasse as denúncias de morte e violência e ouvisse – de verdade – moradores de diversos segmentos, diferentes faixas etárias, inclusive aqueles ligados a movimentos sociais locais, feito com a autonomia que a apuração jornalística deve ter e não a partir da indicação da própria polícia, talvez apontasse avaliações menos otimistas do que as belas fotos do policial gente boa jogando bola com as crianças da favela. Pelo menos foi isso que eu e todos os outros que estavam comigo ouvimos dos moradores de Manguinhos.
O atributo do embrutecimento
É curioso, por fim, notar que essa fragmentação sensacionalista da notícia tem sempre um lado: o da ordem. Teria causado bastante sensação também a imagem do rosto machucado de Paulo Roberto no velório ou do círculo de crianças, pobres e pretas, que rodeavam o caixão numa tristeza muda, quem sabe vendo o seu próprio destino projetado ali. Não vi essas imagens no noticiário. E, para falar a verdade, também não vi pessoalmente. Não tive coragem de entrar na sala onde o corpo estava sendo velado. E o fato é que, como jornalista, eu deveria me envergonhar disso.
Com esse relato facilito a vida dos defensores de plantão da grande imprensa, que podem apontar a parcialidade da minha crítica, vítima de um envolvimento emocional que não condiz com a objetividade necessária da profissão. Dou-lhes razão e confesso outros crimes: chorei ouvindo o depoimento da mãe do jovem morto; quis fugir correndo deste mundo quando ouvi os gritos de revolta do irmão de Paulo Roberto, que quebrou o pouco protocolo que havia com a sua indignação sentida; quando cheguei em casa, quis que meu filho não dormisse aquela noite. De fato, não estou preparada para o profissionalismo que essa grande imprensa requer. E ainda bem.
Em situações de injustiça e opressão, essa objetividade travestida de uma falsa imparcialidade, esse cinismo justificado pelo profissionalismo, é sinônimo de desonestidade e conivência. Meu consolo, como militante de uma outra comunicação e um outro modo de se produzir notícia, é que esse não é um pré-requisito para ser jornalista; é apenas o atributo necessário do embrutecimento, construído dia-a-dia, por um tipo específico de imprensa: uma imprensa que não pega em armas, mas que, no Brasil, ajuda a matar.
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Cátia Guimarães é jornalista e doutoranda em Serviço Social

Fonte; OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA

O excelente texto acima reforça, em parte, a postagem de ontem do PAPIRO com o título, Onde está a Democracia ?
A velha imprensa comercial  e seus tentáculos midiáticos que controlam a comunicação no Brasil, com sua suposta imparcialidade jornalistica, não apenas é aliada do modêlo de polícia atual, como  faz campanha, através da maneira como veicula os fatos, para a consolidação de um estado policial que certamente irá  protegê-la e  criminalizará a população pobre. 
Talvez esse caminho mídia-segurança pública projete para o futuro a privatização do sistema prisional, algo já existente nos EUA e altamente lucrativo. 
Por lá, pobre e preto são em tese  uma fonte de lucros, desde que enjaulados em presídios,  e não é de se estranhar que a velha mídia brasileira, tão escancaradamente vira-latas, siga fielmente os valores , códigos, percepções e práticas da "América Livre e Democrática". 
Por enquanto, prolifera a lógica midiática de que bandido bom  é bandido morto, desde que o conceito  de bandido seja definido e aplicado pelo consórcio imprensa, polícia e judiciário.
Isto posto, consegue-se no Brasil assim como em muitos outros paises do mundo, consolidar práticas de um estado de exceção através do exercício da democacria. 
A polícia prende e  mata "os criminosos" ,a imprensa "noticia" os fatos  e o judiciário julga e sempre condena os " bandidos" que conseguiram sobreviver. 
Claro, todos pobres e na maioria pretos.
Em um exercício de futuro, uma vez exterminados os presos, os pobres, pretos, mulheres, LGBT, comunistas, defensores dos direitos humanos, ambientalistas, e outros, a próxima vítima será  a classe média. 
Qualquer semelhança com o projeto de Hittler não é coincidência.