A Air Force da Al-Qaeda permanece em prontidão
Não há sinal algum de que o governo Obama esteja
preparado, sequer, para reconsiderar a “doutrina Obama” ioiô para o
Oriente Médio
11/9/2013
Pepe Escobar,
Foi
há exatos doze anos. Os historiadores registrarão que, segundo a
narrativa oficial, 19 árabes armados com abridores de latas, facas de
cozinha e com mínima capacidade para pilotar aviões, a serviço de uma
corporação Terror Inc., converteram grandes aviões em mísseis e atacaram
a pátria estadunidense, derrotando assim o mais elaborado sistema de
defesa sobre a Terra.
Rodem a fita adiante, até
2013. Eis versão em 15 segundos do discurso do presidente dos EUA (PEUA)
sobre a Síria, exatamente um dia antes do 12º aniversário do 11 de
setembro:
“Nossos ideais e princípios, além
de nossa segurança nacional estão em jogo. Os EUA são “a âncora da
segurança global”. Os militares dos EUA “não dão cutucadinhas”, mas
carregamos o peso do dever de punir regimes que desrespeitem convenções
vigentes há muito tempo e que banem o uso de armas biológicas, químicas e
nucleares”.
Eis a razão pela qual decidir providenciar ataque militar limitado, de alvo definido, contra Washington DC.
Para
incontáveis cidadãos globais, essa versão alternativa já soa como
perfeita narrativa da versão oficial do que aconteceu há 12 anos. A
neblina da guerra obscurece tudo, pelos meios mais misteriosos. Mas
permanece o fato de que o atual Imperador (farsante), “relutante”,
insiste em apostar a própria “credibilidade” – e a de seu país – numa
operação “limitada”, “cinética” para reforçar uma linha vermelha que ele
mesmo inventou contra armas químicas.
Obama quebrou a cara. Viajemos.
Na
teoria, o plano russo para que Damasco entregue seu arsenal de armas
químicas funciona bem por causa da sabedoria chinesa que carrega
embutida: ninguém quebra a cara – nem Obama e o Congresso dos EUA, nem a
União Europeia, nem a ONU nem a ainda mais farsesca Liga Árabe que não
passa, essencialmente, de colônia da Arábia Saudita.
Apesar de Obama estar em plena guerra midiática total para roubar para ele o crédito pela iniciativa, Asia Times Online
já confirmou que o plano foi construído por Damasco, Teerã e Moscou,
semana passada – durante visita do presidente da Comissão de Segurança
Nacional do Parlamento do Irã, Alaeddin Boroujerdi, a Damasco. A já
famosa gafe do Secretário de Estado John Kerry criou a abertura.
Em
resumo, eis o “eixo” – Damasco, Teerã, Moscou – que está ajudando Obama
a safar-se do fundo do poço no qual mergulhou por iniciativa sua.
Desnecessário dizer, é assunto absolutamente inadmissível e intolerável
para os plutocratas encarregados de despejar sobre a Síria a sua nova
produção (letal). Campanha novinha em folha de propaganda-mídia para
gerar uma nova histeria deve ser ativada para justificar a guerra.
Nisso, precisamente, o eixo anglo-francês-estadunidense trabalha nesse
momento.
Não surpreende a proposta francesa para
uma nova deliberação no Conselho de Segurança da ONU, já tenha citado o
Capítulo 7 – que explicitamente permite ataque militar a Damasco no caso
de não cumprir o acordo. No pé em que está, essa resolução será
inevitavelmente vetada por Rússia e China. E aí estará o novo pretexto
para guerra. O imperador (farsante) pode facilmente invocar dúvida
razoável, destacar que envidou “todos os esforços” para evitar o
conflito militar e, afinal, convencer os céticos no Congresso dos EUA de
que só resta o caminho da guerra.
E pensar que
há desenvolvimento perfeitamente sólido e lógico para que prossiga o
plano Damasco-Teerã-Moscou. As armas químicas da Síria podem ser postas
sob supervisão russa – ou europeia. A Síria integra-se à Organização
para a Proibição de Armas Químicas e ratifica a Convenção das Armas
Químicas. Inspetores da OPAQ começam a trabalhar em coordenação com a
ONU. Todos os especialistas sabem que esse processo exigirá anos.
Damasco
já declarou que está pronta para integrar-se à OPAQ e para assinar a
Convenção. Não há nenhuma necessidade de resolução do Conselho de
Segurança da ONU para forçar Damasco a fazer o que já disse que quer
fazer. E qualquer resolução da ONU sobre armas químicas no Oriente Médio
terá necessariamente de incluir Israel. Observe-se que ninguém,
absolutamente ninguém, fala sobre os vastos arsenais químicos de Israel,
para nem falar das armas nucleares.
Mas não se
seguirá o bom caminho – porque Washington e seus poodles ladrantes,
afogados em sonhos molhados com Sykes-Picot, Londres e Paris, já o estão
bloqueando.
Fly me to the (guerra) moon
Não
há sinal algum de que o governo Obama esteja preparado, sequer, para
reconsiderar a “doutrina Obama” ioiô para o Oriente Médio. Implicaria
fritar o eixo sauditas-Israel e empenhar-se em esforço concentrado pelo
sucesso da Conferência Genebra 2, a única saída diplomática possível
para a tragédia síria.
Já argumentei noutro
artigo que o imperador (farsante) não passa de um amanuense – empregado
subalterno e obediente. Os que estão pagando a próxima produção letal,
como a Casa de Saud, ou festejando nas coxias, como o lobby israelense, simplesmente não desistirão.
A Casa de Saud quer mudança de regime já. O lobby
de Israel/AIPAC e seus patrões em Tel Aviv querem que a guerra síria
respingue massivamente e inunde o Líbano, para envolver o Hezbollah. E
os Patrões Financeiros do Mundo, setores significativos do complexo
industrial-militar de segurança orwelliano/Panóptico, além do ocidente
governado pelas petromonarquias, querem a república árabe secular
integrada subalternamente ao monopólio deles, gerando lucros.
O
problema é que a tal de coisa “cinética” pode ser “limitada” demais e
não satisfazer o eixo saudita-Israel nem, e sobretudo, os Patrões do
Universo. Ao mesmo tempo que pode ser suficientemente ilegal para
caracterizar crime de guerra.
Mas, afinal, já há um contrapoder. Asia Times Online
já confirmou que acontecerá reunião sumamente importante, ainda nessa
semana, no Quirguistão, durante a reunião anual da Organização de
Cooperação de Xangai. Imaginem: o presidente Xi Jinping, da China, o
presidente Vladimir Putin, da Rússia, e o recém eleito novo presidente
do Irã, Hassan Rouhani, juntos, na mesma sala, construindo a posição
comum dos três sobre a Síria. O Irã ainda é observador na Organização de
Cooperação de Xangai – e em breve pode ser admitido como membro pleno. É
o que o eixo anglo-franco-estadunidense dedica-se a tentar impedir que
aconteça.
E isso nos leva de volta a 12 anos
atrás – e ao mito de que jatos de alumínio conseguiriam penetrar as
paredes das Torres Gêmeas, e de que bastaria querosene para derreter
instantaneamente paredes de aço e revestimento de aço e converter tudo
em poeira fofa. Assistam a esse vídeo e extraiam as necessárias conclusões.
Quanto
àquele “mal”, a transnacional Terror Inc., nem tinha nome ainda, quando
a empresa Jihad International tentava começar a recrutar, no início dos
anos 1980, através de várias instituições islamistas de caridade; em
seguida os recrutados foram treinados e pagos pela CIA e pela Arábia
Saudita. Até que, um dia, a coisa foi batizada – pelos EUA. – Passou a
chamar “al-Qaeda”. Ou, mais corretamente, “al-CIAeda”. E foram elevados à
categoria de Mal Absoluto. Essa gente fez o 11 de setembro. E
reproduziram-se como coelhos, do Mali à Indonésia. Hoje a CIA trabalha
com eles, lado a lado – como fizeram na Líbia. E ansiosamente esperam
que a Força Aérea dos EUA abra o caminho para eles até Damasco. Ora, é
só business (da guerra). Allahu Akbar [Deus é maior].
Publicado originalmente no Asia Times Online.
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu.
Fonte: BRASIL DE FATO
Mais uma vez Pepe Escobar apresenta uma análise realista da situação na Síria.
Na charge abaixo do texto, Latuff reproduz uma cena do filme ' O Grande Ditador ', uma obra prima de Charles Chaplin.
No filme, o personagem Carlitos interpretava Hitler dançando e brincando com um globo terrestre, em sua obsessão em dominar o mundo.
O xerife do planeta, ou aquele que se acha como tal, ficou perfeito na charge.
Interessante ver a Al-Qaeda como aliada dos EUA na guerra civil da Síria, a mesma Al-Qaeda que surgiu com financiamento e treinamento dos EUA para combater a União Soviética no Afeganistão e que no 11 de setembro foi rotulada como o demônio do mundo.
Para isso toda a imprensa engajada no discurso americano repetiu ad nauseun a necessidade de uma guerra sem fim contra o eixo do mal que ousou atacar o país mantenedor da ordem mundial.
E imaginar que pessoas vivendo em cavernas seriam os mentores e autores de um ataque que , para ser bem sucedido como foi necessitaria de um alta complexidade tecnológica e de logística, algo impensável para um pequeno grupo.
Passados doze anos, a imprensa engajada na guerra sem fim, continua reproduzindo a narrativa da história oficial, narrativa essa que com o distanciamento no tempo, fica cada vez mais inverrosímel e até mesmo fantasiosa.
Ver e ouvir Obama repetindo o mesmo discurso e comportamento de Bush II por ocasião da invasão do Afeganistão e Iraque, não é novidade no país das mentiras sinceras.
Já a imprensa engajada na guerra sem fim faz um papelão reproduzindo mentiras surradas sem nenhuma análise crítica.
O poder mundial criando e reproduzindo factóides e narrativas para justificar seus negócios, a imprensa engajada acompanhando as narrativas e um númro cada vez maior de pessoas pelo mundo sabendo que tudo não passa de uma farsa.
Um outro mundo é necessário.
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