Mujica: "humanidade ocupou o templo com o deus mercado"
Destoando dos discursos feitos pelos seus pares durante a
68ª Assembleia Geral da ONU, o presidente uruguaio José Mujica criticou
veementemente o consumismo e defendeu que “enquanto o homem recorrer à
guerra quando fracassar a política, estaremos na pré-história. "É
através da ciência e não dos bancos que o planeta deve ser governado.
“Pensem que a vida humana é um milagre e nada vale mais que a vida. E
que nosso dever biológico é acima de todas as coisas, impulsionar e
multiplicar a vida. Deveríamos ter um governo para a humanidade que
supere o individualismo e crie cabeças políticas”.Fonte: CARTA MAIOR
A seguir o discurso, na íntegra, de Mujica.
Amigos, sou do sul, venho do sul. Esquina do Atlântico e do Prata,
meu país é uma planície suave, temperada, uma história de portos,
couros, charque, lãs e carne. Houve décadas púrpuras, de lanças e
cavalos, até que, por fim, no arrancar do século 20, passou a ser
vanguarda no social, no Estado, no Ensino. Diria que a social-democracia
foi inventada no Uruguai.
Durante quase 50 anos, o mundo nos viu
como uma espécie de Suíça. Na realidade, na economia, fomos bastardos
do império britânico e, quando ele sucumbiu, vivemos o amargo mel do fim
de intercâmbios funestos, e ficamos estancados, sentindo falta do
passado.
Quase 50 anos recordando o Maracanã, nossa façanha
esportiva. Hoje, ressurgimos no mundo globalizado, talvez aprendendo de
nossa dor. Minha história pessoal, a de um rapaz — por que, uma vez, fui
um rapaz — que, como outros, quis mudar seu tempo, seu mundo, o sonho
de uma sociedade libertária e sem classes. Meus erros são, em parte,
filhos de meu tempo. Obviamente, os assumo, mas há vezes que medito com
nostalgia.
Quem tivera a força de quando éramos capazes de
abrigar tanta utopia! No entanto, não olho para trás, porque o hoje real
nasceu das cinzas férteis do ontem. Pelo contrário, não vivo para
cobrar contas ou para reverberar memórias.
Me angustia, e como, o
amanhã que não verei, e pelo qual me comprometo. Sim, é possível um
mundo com uma humanidade melhor, mas talvez, hoje, a primeira tarefa
seja cuidar da vida.
Mas sou do sul e venho do sul, a esta
Assembleia, carrego inequivocamente os milhões de compatriotas pobres,
nas cidades, nos desertos, nas selvas, nos pampas, nas depressões da
América Latina pátria de todos que está se formando.
Carrego as
culturas originais esmagadas, com os restos de colonialismo nas
Malvinas, com bloqueios inúteis a este jacaré sob o sol do Caribe que se
chama Cuba. Carrego as consequências da vigilância eletrônica, que não
faz outra coisa que não despertar desconfiança. Desconfiança que nos
envenena inutilmente. Carrego uma gigantesca dívida social, com a
necessidade de defender a Amazônia, os mares, nossos grandes rios na
América.
Carrego o dever de lutar por pátria para todos.
Para
que a Colômbia possa encontrar o caminho da paz, e carrego o dever de
lutar por tolerância, a tolerância é necessária para com aqueles que são
diferentes, e com os que temos diferencas e discrepâncias. Não se
precisa de tolerância com aqueles com quem estamos de acordo.
A tolerância é o fundamento de poder conviver em paz, e entendendo que, no mundo, somos diferentes.
O
combate à economia suja, ao narcotráfico, ao roubo, à fraude e à
corrupção, pragas contemporâneas, procriadas por esse antivalor, esse
que sustenta que somos felizes se enriquecemos, seja como seja.
Sacrificamos os velhos deuses imateriais. Ocupamos o templo com o deus
mercado, que nos organiza a economia, a política, os hábitos, a vida e
até nos financia em parcelas e cartões a aparência de felicidade.
Parece
que nascemos apenas para consumir e consumir e, quando não podemos, nos
enchemos de frustração, pobreza e até autoexclusão.
O certo,
hoje, é que, para gastar e enterrar os detritos nisso que se chama pela
ciência de poeira de carbono, se aspirarmos nesta humanidade a consumir
como um americano médio, seriam imprescindíveis três planetas para poder
viver.
Nossa civilização montou um desafio mentiroso e, assim
como vamos, não é possível satisfazer esse sentido de esbanjamento que
se deu à vida. Isso se massifica como uma cultura de nossa época, sempre
dirigida pela acumulação e pelo mercado.
Prometemos uma vida de
esbanjamento, e, no fundo, constitui uma conta regressiva contra a
natureza, contra a humanidade no futuro. Civilização contra a
simplicidade, contra a sobriedade, contra todos os ciclos naturais.
O
pior: civilização contra a liberdade que supõe ter tempo para viver as
relações humanas, as únicas que transcendem: o amor, a amizade,
aventura, solidariedade, família.
Civilização contra tempo livre
que não é pago, que não se pode comprar, e que nos permite contemplar e
esquadrinhar o cenário da natureza.
Arrasamos a selva, as selvas
verdadeiras, e implantamos selvas anônimas de cimento. Enfrentamos o
sedentarismo com esteiras, a insônia com comprimidos, a solidão com
eletrônicos, porque somos felizes longe da convivência humana.
Cabe
se fazer esta pergunta, ouvimos da biologia que defende a vida pela
vida, como causa superior, e a suplantamos com o consumismo funcional à
acumulação.
A política, eterna mãe do acontecer humano, ficou
limitada à economia e ao mercado. De salto em salto, a política não pode
mais que se perpetuar, e, como tal, delegou o poder, e se entretém,
aturdida, lutando pelo governo. Debochada marcha de historieta humana,
comprando e vendendo tudo, e inovando para poder negociar de alguma
forma o que é inegociável. Há marketing para tudo, para os cemitérios,
os serviços fúnebres, as maternidades, para pais, para mães, passando
pelas secretárias, pelos automóveis e pelas férias. Tudo, tudo é
negócio.
Todavia, as campanhas de marketing caem deliberadamente
sobre as crianças, e sua psicologia para influir sobre os adultos e ter,
assim, um território assegurado no futuro. Sobram provas de essas
tecnologias bastante abomináveis que, por vezes, conduzem a frustrações e
mais.
O homenzinho médio de nossas grandes cidades perambula
entre os bancos e o tédio rotineiro dos escritórios, às vezes temperados
com ar condicionado. Sempre sonha com as férias e com a liberdade,
sempre sonha com pagar as contas, até que, um dia, o coração para, e
adeus. Haverá outro soldado abocanhado pelas presas do mercado,
assegurando a acumulação. A crise é a impotência, a impotência da
política, incapaz de entender que a humanidade não escapa nem escapará
do sentimento de nação. Sentimento que está quase incrustado em nosso
código genético.
Hoje é tempo de começar a talhar para preparar
um mundo sem fronteiras. A economia globalizada não tem mais condução
que o interesse privado, de muitos poucos, e cada Estado Nacional mira
sua estabilidade continuísta, e hoje a grande tarefa para nossos povos,
em minha humilde visão, é o todo.
Como se isto fosse pouco, o
capitalismo produtivo, francamente produtivo, está meio prisioneiro na
caixa dos grandes bancos. No fundo, são o vértice do poder mundial. Mais
claro, cremos que o mundo requer a gritos regras globais que respeitem
os avanços da ciência, que abunda. Mas não é a ciência que governa o
mundo. Se precisa, por exemplo, uma larga agenda de definições, quantas
horas de trabalho e toda a terra, como convergem as moedas, como se
financia a luta global pela água e contra os desertos.
Como se
recicla e se pressiona contra o aquecimento global. Quais são os limites
de cada grande questão humana. Seria imperioso conseguir consenso
planetário para desatar a solidariedade com os mais oprimidos, castigar
impositivamente o esbanjamento e a especulação. Mobilizar as grandes
economias não para criar descartáveis com obsolescência calculada, mas
bens úteis, sem fidelidade, para ajudar a levantar os pobres do mundo.
Bens úteis contra a pobreza mundial. Mil vezes mais rentável que fazer
guerras. Virar um neo-keynesianismo útil, de escala planetária, para
abolir as vergonhas mais flagrantes deste mundo.
Talvez nosso
mundo necessite menos de organismos mundiais, desses que organizam
fórums e conferências, que servem muito às cadeias hoteleiras e às
companhias aéreas e, no melhor dos casos, não reúne ninguém e transforma
em decisões…
Precisamos sim mascar muito o velho e o eterno da
vida humana junto da ciência, essa ciência que se empenha pela
humanidade não para enriquecer; com eles, com os homens de ciência da
mão, primeiros conselheiros da humanidade, estabelecer acordos para o
mundo inteiro. Nem os Estados nacionais grandes, nem as transnacionais e
muito menos o sistema financeiro deveriam governar o mundo humano. Sim,
a alta política entrelaçada com a sabedoria científica, ali está a
fonte. Essa ciência que não apetece o lucro, mas que mira o por vir e
nos diz coisas que não escutamos. Quantos anos faz que nos disseram
coisas que não entendemos? Creio que se deve convocar a inteligência ao
comando da nave acima da terra, coisas assim e coisas que não posso
desenvolver nos parecem impossíveis, mas requeririam que o determinante
fosse a vida, não a acumulação.
Obviamente, não somos tão
iludidos, nada disso acontecerá, nem coisas parecidas. Nos restam muitos
sacrifícios inúteis daqui para diante, muitos remendos de consciência
sem enfrentar as causas. Hoje, o mundo é incapaz de criar regras
planetárias para a globalização e isso é pela enfraquecimento da alta
política, isso que se ocupa de todo. Por último, vamos assistir ao
refúgio de acordos mais ou menos “reclamáveis”, que vão plantear um
comércio interno livre, mas que, no fundo, terminarão construindo
parapeitos protecionistas, supranacionais em algumas regiões do planeta.
A sua vez, crescerão ramos industriais importantes e serviços, todos
dedicados a salvar e a melhorar o meio ambiente. Assim vamos nos
consolar por um tempo, estaremos entretidos e, naturalmente, continuará a
parecer que a acumulação é boa, para a alegria do sistema financeiro.
Continuarão
as guerras e, portanto, os fanatismos, até que, talvez, a mesma
natureza faça um chamado à ordem e torne inviáveis nossas civilizações.
Talvez nossa visão seja demasiado crua, sem piedade, e vemos ao homem
como uma criatura única, a única que há acima da terra capaz de ir
contra sua própria espécie. Volto a repetir, porque alguns chamam a
crise ecológica do planeta de consequência do triunfo avassalador da
ambição humana. Esse é nosso triunfo e também nossa derrota, porque
temos impotência política de nos enquadrarmos em uma nova época. E temos
contribuído para sua construção sem nos dar conta.
Por que digo
isto? São dados, nada mais. O certo é que a população quadruplicou e o
PIB cresceu pelo menos vinte vezes no último século. Desde 1990,
aproximadamente a cada seis anos o comércio mundial duplica. Poderíamos
seguir anotando dados que estabelecem a marcha da globalização. O que
está acontecendo conosco? Entramos em outra época aceleradamente, mas
com políticos, enfeites culturais, partidos e jovens, todos velhos ante a
pavorosa acumulação de mudanças que nem sequer podemos registrar. Não
podemos manejar a globalização porque nosso pensamento não é global. Não
sabemos se é uma limitação cultural ou se estamos chegano a nossos
limites biológicos.
Nossa época é portentosamente revolucionária
como não conheceu a história da humanidade. Mas não tem condução
consciente, ou ao menos condução simplesmente instintiva. Muito menos,
todavia, condução política organizada, porque nem se quer tivemos
filosofia precursora ante a velocidade das mudanças que se acumularam.
A
cobiça, tão negativa e tão motor da história, essa que impulsionou o
progresso material técnico e científico, que fez o que é nossa época e
nosso tempo e um fenomenal avanço em muitas frentes, paradoxalmente,
essa mesma ferramenta, a cobiça que nos impulsionou a domesticar a
ciência e transformá-la em tecnologia nos precipita a um abismo
nebuloso. A uma história que não conhecemos, a uma época sem história, e
estamos ficando sem olhos nem inteligência coletiva para seguir
colonizando e para continuar nos transformando.
Porque se há uma característica deste bichinho humano é a de que é um conquistador antropológico.
Parece
que as coisas tomam autonomia e essas coisas subjugam os homens. De um
lado a outro, sobram ativos para vislumbrar tudo isso e para vislumbrar o
rombo. Mas é impossível para nós coletivizar decisões globais por esse
todo. A cobiça individual triunfou grandemente sobre a cobiça superior
da espécie. Aclaremos: o que é “tudo”, essa palavra simples, menos
opinável e mais evidente? Em nosso Ocidente, particularmente, porque
daqui viemos, embora tenhamos vindo do sul, as repúblicas que nasceram
para afirmas que os homens são iguais, que ninguém é mais que ninguém,
que os governos deveriam representar o bem comum, a justiça e a
igualdade. Muitas vezes, as repúblicas se deformam e caem no
esquecimento da gente que anda pelas ruas, do povo comum.
Não
foram as repúblicas criadas para vegetar, mas ao contrário, para serem
um grito na história, para fazer funcionais as vidas dos próprios povos
e, por tanto, as repúblicas que devem às maiorias e devem lutar pela
promoção das maiorias.
Seja o que for, por reminiscências feudais
que estão em nossa cultura, por classismo dominador, talvez pela
cultura consumista que rodeia a todos, as repúblicas frequentemente em
suas direções adotam um viver diário que exclui, que se distância do
homem da rua.
Esse homem da rua deveria ser a causa central da
luta política na vida das repúblicas. Os governos republicanos deveriam
se parecer cada vez mais com seus respectivos povos na forma de viver e
na forma de se comprometer com a vida.
A verdade é que cultivamos
arcaísmos feudais, cortesias consentidas, fazemos diferenciações
hierárquicas que, no fundo, amassam o que têm de melhor as repúblicas:
que ninguém é mais que ninguém. O jogo desse e de outros fatores nos
retém na pré-história. E, hoje, é impossível renunciar à guerra quando a
política fracassa. Assim, se estrangula a economia, esbanjamos
recursos.
Ouçam bem, queridos amigos: em cada minuto no mundo se
gastam US$ 2 milhões em ações militares nesta terra. Dois milhões de
dólares por minuto em inteligência militar!! Em investigação médica, de
todas as enfermidades que avançaram enormemente, cuja cura dá às pessoas
uns anos a mais de vida, a investigação cobre apenas a quinta parte da
investigação militar.
Este processo, do qual não podemos sair, é
cego. Assegura ódio e fanatismo, desconfiança, fonte de novas guerras e,
isso também, esbanjamento de fortunas. Eu sei que é muito fácil,
poeticamente, autocriticarmo-nos pessoalmente. E creio que seria uma
inocência neste mundo plantear que há recursos para economizar e gastar
em outras coisas úteis. Isso seria possível, novamente, se fôssemos
capazes de exercitar acordos mundiais e prevenções mundiais de políticas
planetárias que nos garantissem a paz e que a dessem para os mais
fracos, garantia que não temos. Aí haveria enormes recursos para
deslocar e solucionar as maiores vergonhas que pairam sobre a Terra. Mas
basta uma pergunta: nesta humanidade, hoje, onde se iria sem a
existência dessas garantias planetárias? Então cada qual esconde armas
de acordo com sua magnitude, e aqui estamos, porque não podemos
raciocinar como espécie, apenas como indivíduos.
As instituições
mundiais, particularmente hoje, vegetam à sombra consentida das
dissidências das grandes nações que, obviamente, querem reter sua cota
de poder.
Bloqueiam esta ONU que foi criada com uma esperança e
como um sonho de paz para a humanidade. Mas, pior ainda, desarraigam-na
da democracia no sentido planetário porque não somos iguais. Não podemos
ser iguais nesse mundo onde há mais fortes e mais fracos. Portanto, é
uma democracia ferida e está cerceando a história de um possível acordo
mundial de paz, militante, combativo e verdadeiramente existente. E,
então, remendamos doenças ali onde há eclosão, tudo como agrada a
algumas das grandes potências. Os demais olham de longe. Não existimos.
Amigos,
creio que é muito difícil inventar uma força pior que nacionalismo
chovinista das grandes potências. A força é que liberta os fracos. O
nacionalismo, tão pai dos processos de descolonização, formidável para
os fracos, se transforma em uma ferramenta opressora nas mãos dos fortes
e, nos últimos 200 anos, tivemos exemplos disso por toda a parte.
A
ONU, nossa ONU, enlanguece, se burocratiza por falta de poder e de
autonomia, de reconhecimento e, sobretudo, de democracia para o mundo
mais fraco que constitui a maioria esmagadora do planeta. Mostro um
pequeno exemplo, pequenino. Nosso pequeno país tem, em termos absolutos,
a maior quantidade de soldados em missões de paz em todos os países da
América Latina. E ali estamos, onde nos pedem que estejamos. Mas somos
pequenos, fracos. Onde se repartem os recursos e se tomam as decisões,
não entramos nem para servir o café. No mais profundo de nosso coração,
existe um enorme anseio de ajudar para que o homem saia da pré-história.
Eu defino que o homem, enquanto viver em clima de guerra, está na
pré-história, apesar dos muitos artefatos que possa construir.
Até
que o homem não saia dessa pré-história e arquive a guerra como recurso
quando a política fracassa, essa é a larga marcha e o desafio que temos
daqui adiante. E o dizemos com conhecimento de causa. Conhecemos a
solidão da guerra. No entanto, esses sonhos, esses desafios que estão no
horizonte implicam lutar por uma agenda de acordos mundiais que comecem
a governar nossa história e superar, passo a passo, as ameaças à vida. A
espécie como tal deveria ter um governo para a humanidade que superasse
o individualismo e primasse por recriar cabeças políticas que acudam ao
caminho da ciência, e não apenas aos interesses imediatos que nos
governam e nos afogam.
Paralelamente, devemos entender que os
indigentes do mundo não são da África ou da América Latina, mas da
humanidade toda, e esta deve, como tal, globalizada, empenhar-se em seu
desenvolvimento, para que possam viver com decência de maneira autônoma.
Os recursos necessários existem, estão neste depredador esbanjamento de
nossa civilização.
Há poucos dias, fizeram na Califórnia, em um
corpo de bombeiros, uma homenagem a uma lâmpada elétrica que está acesa
há cem anos. Cem anos que está acesa, amigo! Quantos milhões de dólares
nos tiraram dos bolsos fazendo deliberadamente porcarias para que as
pessoas comprem, comprem, comprem e comprem.
Mas esta
globalização de olhar para todo o planeta e para toda a vida significa
uma mudança cultural brutal. É o que nos requer a história. Toda a base
material mudou e cambaleou, e os homens, com nossa cultura, permanecem
como se não houvesse acontecido nada e, em vez de governarem a
civilização, deixam que ela nos governe. Há mais de 20 anos que
discutimos a humilde taxa Tobin. Impossível aplicá-la no tocante ao
planeta. Todos os bancos do poder financeiro se irrompem feridos em sua
propriedade privada e sei lá quantas coisas mais. Mas isso é paradoxal.
Mas, com talento, com trabalho coletivo, com ciência, o homem, passo a
passo, é capaz de transformar o deserto em verde.
O homem pode
levar a agricultura ao mar. O homem pode criar vegetais que vivam na
água salgada. A força da humanidade se concentra no essencial. É
incomensurável. Ali estão as mais portentosas fontes de energia. O que
sabemos da fotossíntese? Quase nada. A energia no mundo sobra, se
trabalharmos para usá-la bem. É possível arrancar tranquilamente toda a
indigência do planeta. É possível criar estabilidade e será possível
para as gerações vindouras, se conseguirem raciocinar como espécie e não
só como indivíduos, levar a vida à galáxia e seguir com esse sonho
conquistador que carregamos em nossa genética.
Mas, para que
todos esses sonhos sejam possíveis, precisamos governar a nos mesmos, ou
sucumbiremos porque não somos capazes de estar à altura da civilização
em que fomos desenvolvendo.
Este é nosso dilema. Não nos
entretenhamos apenas remendando consequências. Pensemos na causa
profundas, na civilização do esbanjamento, na civilização do usa-tira
que rouba tempo mal gasto de vida humana, esbanjando questões inúteis.
Pensem que a vida humana é um milagre. Que estamos vivos por um milagre e
nada vale mais que a vida. E que nosso dever biológico, acima de todas
as coisas, é respeitar a vida e impulsioná-la, cuidá-la, procriá-la e
entender que a espécie é nosso “nós”.
Desde a chegada de Hugo Chavez ao poder na Venezuela, em 1999, aos dias atuais, a América do Sul tem sido o local onde a maioria dos governantes ocupam lugar de destaque não apenas no continente mas em todo o mundo.
O discurso de Mujica na assembléia da insignificante e inoperante ONU, assim como o discurso de Dilma, reafirmam o compromisso do continente sulamericano com a civilidade e com democracia.
Com idéias e ações que destoam da irracionalidade do mundo atual, a América do Sul vem se transformando com processos politicamente avançados,com destaque para o Uruguay, Bolívia e Equador.
A declaração de Mujica de que o mundo , principalmente os grande países, ainda vive com conceitos e práticas da idade da pedra, principalmente quando recorre a guerras, foi precisa e exata.
E todos nós que pensávamos que a idade da pedra tinha terminado, não por falta de pedras mas pela evolução do homem, vemos nos dias atuais que as cavernas, os porretes e a irracionalidade reinam do Ártico ao Antartico, com grande concentração de irracionais no norte, americano e europeu.