domingo, 11 de outubro de 2015

EUA. Um estado terrorista em um mundo ultrapassado

Há suspeitas de EUA fornecerem armas e       alimentos a  extremistas




No Twitter apareceu um vídeo que supostamente mostra caixas de abastecimento e pára-quedas que os EUA entregavam a militantes do Estado Islâmico (EI), enquanto estavam controlando a maior refinaria do petróleo do Iraque.

O vídeo causou agitação entre os iraquianos, alguns dos quais acreditam que Washington está apoiando o grupo terrorista.
A filmagem foi publicada por Hayder al-Khoei, membro associado do Programa de Oriente Médio e Norte da África da Chatham House, organização sem fins lucrativos que visa analisar as relações internacionais. O tweet intitulado "outro vídeo de que os EUA apoiam o EI.
A gravação, supostamente feita na refinaria de Baiji, mostra um homem não identificado falando em árabe. Ele pede a pessoa para filmar tudo o que vê à sua volta.
Apontando para o que parece ser um pára-quedas, ele diz que foi enviado pelos norte-americanos para o Estado Islâmico. O homem acrescenta que os americanos entreguem armas e comida para o campo de petróleo de Baiji depois de o campo ser capturado por extremistas.
A informação apresentada no vídeo não foi verificada de forma independente.
Um dos usuários do Twitter observou que fornecimento do abastecimento poderia ter sido suspenso quando as forças de segurança iraquianas estavam tentando repelir uma ofensiva do EI. Na área em torno de Baiji têm havido intensos combates entre as forças governamentais e os militantes desde dezembro de 2014.

Fonte: DIÁRIO DA RÚSSIA
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Só mudando o modelo neoliberal a Terra pode ser salva

Podemos aproveitar a crise das mudanças climáticas para transformar o nosso sistema econômico fracassado em algo radicalmente melhor.


Léa Maria Aarão Reis* reprodução















Há quinze anos a então jovem jornalista e escritora canadense Naomi Klein, de 30 anos, lançou um livro, Sem Logo – A tirania das marcas em um planeta vendido, que logo se transformou em manifesto do movimento ambientalista e pela antiglobalização. Dois anos depois ela publicou Cercas e Janelas, outro sucesso em toda parte, quando já escrevia para a mídia internacional, para a conceituada revista The Nation e para o inglês The Guardian.

Nesta época, Naomi se tornara uma das principais ativistas críticas do modelo econômico neoliberal, causa do empobrecimento das populações, o padrão perverso que enriquece cada vez mais uma pequena parcela de grupos de capitalistas inescrupulosos e que reprime, com violência, ao redor do mundo, com as forças policiais dos seus governos, os protestos de movimentos populares organizados que ousam confrontar políticas oportunistas que avançam, originadas da ambição sem medidas, desastres naturais, guerras e outros choques culturais.

Sobre a violência da repressão aos que não concordam com o paradigma, Klein lembra, em suas análises, do Chile do Pinochet, do Brasil da ditadura civil-militar, da Argentina das ditaduras militares e da China das repressões depois dos protestos da Praça da Paz Celestial. A Doutrina do Choque: a Ascensão do Capitalismo de Desastre foi esse outro título lançado com grande sucesso, em 2007.

Agora, o filme Isso muda tudo (This changes everything/ 2015), dirigido por seu marido, Avi Lewis, é a adaptação de um dos mais recentes livros da escritora canadense, best seller planetário com o mesmo título do documentário. Ele desembarca no Festival do Rio no rastro do seu sucesso em diversos países. Foi realizado durante quatro anos e filmado nos cinco continentes. Desafia e provoca o espectador a repensar as mudanças climáticas. Diz Naomi: “Podemos aproveitar a crise das mudanças climáticas para transformar o nosso sistema econômico fracassado em algo radicalmente melhor.”

Narradora, é a própria Naomi Klein quem conduz o espectador na apresentação de algumas situações dramáticas de comunidades que se encontram expostas, nas linhas da frente, em regiões que sofrem com alterações climáticas, e lutam para reverter a impressionante destruição que as empresas de conglomerados transnacionais promovem no ambiente, com o estímulo e a benção de governos que administram países como se eles fossem empresas privadas – suas e dos amigos, é claro.

Seus personagens são os índios cheyenne da bacia hidrográfica do rio Powder, no estado de Montana, nos Estados Unidos; os que vivem, desde tempos ancestrais, próximos das areias betuminosas de Alberta, no Canadá – e hoje precisam de passe (que o estado não lhes fornece) para entrar em territórios sagrados, cemitérios e vastas áreas que sempre foram de sua propriedade -; gregos das ilhas, alemães e moradores da costa sul da Índia e da cidade de Pequim.

Não se percebe a hora e meia de duração do filme mostrando assunto afinal nem tão ameno - a relação do carbono existente no ar que é colocado lá pelo próprio sistema econômico vigente; a intoxicação do ser humano causada pelo dinheiro (e pela ganância desmedida); a exploração enfurecida e irresponsável de óleo, de xisto, carvão ao redor do planeta. O ritmo dinâmico, mas preciso da montagem, não o do tic-tac dos vídeos clipes alucinados, prende o espectador do começo ao fim.

No estado de Montana, uma das chamadas “áreas de sacrifício” (cada vez elas são maiores), nomeadas assim por Barack Obama em um discurso mostrado no filme, no qual o presidente dos EUA quer dizer que há regiões, no mundo, que precisam ser devastadas em nome do... progresso (!) Lá, a Shell destrói as chamadas florestas dorsais. “Podemos fazer tudo,” diz um personagem, “em terras como essas, quase sem habitantes.”

Com certeza. Vizinho, “sem habitantes” está situado o fabuloso parque de Yellowstone.

A cidadezinha de Fort McMurray, em Montana, hoje, é conhecida como Fort McMoney: a rapaziada chega, permanece algum tempo trabalhando na rapina da terra, reúne seu milhão de dólares e volta para casa deixando para trás a região exaurida e arruinada.

Na província de Alberta, orgulho do governo canadense que se gaba de ser ela uma das maiores economias do país, o ‘progresso’ é resultado da incessante extração de gás e óleo que contaminam fazendas antes paradisíacas. Alberta é a terceira maior reserva mundial e petróleo do mundo. Pode-se imaginar (e assistir, no filme) o massacre da plácida região.

Obama também se envaidece – vê-se em Isso muda tudo, num discurso de três anos atrás - dos 23 estados americanos que trabalham, freneticamente, em oleodutos, perfurações e congêneres.

Na Grécia, escavam-se áreas lindíssimas, montanhosas, para explorar ouro e perfura-se o Mar Egeu. “Para pagarmos os nossos credores...” diz uma ativista. No Sul da Índia, na cidade de Sompeta, em Andhra Pradesh, as comunidades locais conseguiram bloquear a construção de novas usinas. E na China, Pequim, sufocada pelo crescimento, há “uma máquina devoradora”, comenta Naomi. Em 2013, apenas em 175 dias do ano as crianças puderam sair de dentro de casa. O número cresceu para 220 dias/ano logo depois.

Hoje, depois de muitos protestos e da pressão das ruas lideradas por movimentos ambientalistas bem organizados, algumas ações de estado, bem mais efetivas que as americanas, criaram importantes sistemas de aquecimento solar que fornecem água e energia aos moradores de 90 por cento de gigantescos edifícios residenciais. “Nosso objetivo,” diz a líder de uma dessas organizações, “é cuidar da Terra e cuidarmos uns dos outros.”

No entanto, vê-se, em uma reunião internacional dos céticos (por conveniência) do Hearthland Institute, EUA, um dos ninhos dos think tank do mercado desregulado, um dos membros reclamando: ”A China é uma ameaça à vida na Terra.” Para ele, a crise climática é “um cavalo de Troia do marxismo vermelho...”

Na Alemanha, onde os verdes são uma força efetiva e combativa, trinta por cento da energia já vem de fontes renováveis.

Estas histórias das lutas de ação direta desembocam na ideia central do filme – e do livro: podemos aproveitar a crise das alterações climáticas para transformar o sistema econômico num outro, radicalmente melhor. Para chegar lá, segundo Klein, os protestos populares precisam continuar cada vez mais fortes, frequentes e corajosos. O objetivo é fazer pressão para proporcionar mais igualdade, mais empregos e menos “zonas de sacrifício.”

O alerta de Naomi Klein é este: o aquecimento global pode ser a última chance que temos de mudar de modelo econômico para a espécie humana sobreviver.

Fonte: CARTA MAIOR
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O idiota útil que apoia Cunha é cúmplice de seus crimes e do risco à democracia. Por Kiko Nogueira

Postado em 13 out 2015
Morenazis
Morenazis

O governo do Brasil pode ser derrubado por um bando de pessoas acusadas de corrupção, liderado por um sujeito que mete a mão há décadas sem qualquer ser incomodado. Esse é o quadro que se pinta hoje.
Com um detalhe importante: a anuência e a militância de milhares de idiotas úteis de todas as formas, preços e tamanhos que acham que Eduardo Cunha é um herói que vai nos livrar da corja bolivariana.
Você deve conhecer um deles. Não só no Congresso. Toda família tem um boçal desse tipo. Em toda esquina, em toda rede social perto de você.
Marta Suplicy repetiu numa entrevista ao Correio Braziliense que foi para o PMDB por causa da “corrupção”: “A diferença é que no PT existe uma manutenção da estrutura partidária com recursos públicos. E no PMDB não vejo isso, vejo pessoas sendo investigadas, que eventualmente podem se tornar rés, ir para a cadeia. Até agora, não aconteceu isso nesse nível, não é?”
Não, não aconteceu nada. Revoltados On Line, colunistas hidrófobos e outros extremistas ainda se penduram no saco de Eduardo Cunha com perguntas retóricas do tipo “por que só ele?”
Ora, as contas na Suíça são dele, não suas, as autoridades de lá não são como as daqui, porque ele é um operador reconhecido, porque mentiu à CPI etc etc etc.
A tática estúpida e irresponsável do “inimigo do meu inimigo é meu amigo” é de curto prazo e não tem sentido quando o companheiro de ocasião pode ser preso amanhã.
A isso se dá o nome de cumplicidade. Aécio, Agripino, Caiado, Bolsonaro, Paulinho da Força, Carlos Sampaio — complete a lista — são cúmplices de um crime. Bem como o fanático que continua apoiando Cunha com sua panela seletiva.
Em Dresden, na Alemanha, um grupo de colombianos que portava bandeiras com uma suástica foi espancado por neonazis numa manifestação, confundidos com refugiados. Foi em setembro.
Um deles reclamou: “Nós também somos de raça pura. A questão é que o clima nos afetou mais do que aos alemães”. Os “morenazis”, como são chamados, voltaram para casa humilhados, subjugados, mas crentes de que ajudaram uma causa. Como na fábula, são ratos querendo se passar por gatos, que acreditam na autoilusão até ser devorados.
O Brasil está sendo vítima de ratos, gatos e sobretudo do idiota útil.

Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
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“As 80 pessoas mais ricas do mundo têm mais dinheiro do que 3,5 bilhões de pessoas”, diz pesquisadora


Em entrevista ao Brasil de Fato, Silvia Ribeiro mostra que, ao contrário do que se pensa, a riqueza mundial cresceu 68% nos últimos dez anos, mas apenas 1% da população acumulou 95% da riqueza gerada.
13/10/2015
Por Luiz Felipe Albuquerque,
De São Paulo (SP)

Nos últimos anos, notícias diárias retratam a grave crise econômica pela qual passa todo o mundo. Ao mesmo tempo, nos chegam notícias sobre recordes de lucratividade de alguns setores. O que explicaria algo que a princípio parece ser contraditório?
Para a pesquisadora Silvia Ribeiro, do Grupo ETC, não há nada paradoxal nesse processo. Ribeiro traz um cenário assustador ao demonstrar que nos últimos dez anos, apenas 1% da sociedade abocanharam 95% da riqueza gerada em todo o mundo.
Em entrevista ao Brasil de Fato, Silvia Ribeiro explica quem são estes 1%, e afirma que estes mesmos setores são os principais responsáveis por uma das mais graves crises mundial: a mudança climática. O campeão dessa crise climática? Toda a cadeia produtiva do agronegócio.
Confira:
Crédito: Reprodução/ETC
Brasil de Fato - Muitos falam que estamos vivendo uma enorme crise econômica mundial, mas ao mesmo tempo vemos lucros cada vez maiores de determinadas empresas. O que explicaria esse paradoxo?
Sílvia Ribeiro - Temos muitas crises. A crise econômica de 2008, a crise ambiental, social e climática. Em relação à crise financeira, alguns grandes grupos econômicos perderam e instituições desaparecem, mas outras se fizeram mais fortes e poderosas comprando estas e outras empresas.
O resgate bancário que se faz com a crise favorece enormemente os bancos muito poderosos, que recebem cifras bilionárias de dinheiro público. Vivemos na maior desigualdade que se conhece na história.
1% da população mais rica do mundo tem 50% da riqueza mundial. Por outro lado, e mais impactante, é que as 80 pessoas mais ricas do planeta tem a mesma quantidade de dinheiro que as 3,5 bilhões de pessoas mais pobres, ou seja, a metade do mundo. 80% de toda humanidade só tem 5,5% da riqueza.
A crise foi manejada pelos Estados para salvar os ricos. Além de dar dinheiro, as empresas tem tudo a seu favor para manipular e capitar novas formas de lucro que são geradas depois da crise.
Ao contrário do que as pessoas pensam, a riqueza mundial cresceu 68% nos últimos 10 anos, mas 95% da riqueza gerada foram apropriadas por apenas 1% da sociedade. O resto da população ficou mais pobre, com trabalho mais precarizado e desempregados. As “pessoas comuns” vivem a crise, mas paradoxalmente a crise foi uma oportunidade para os mais ricos se apropriarem de mais dinheiro e de mais recursos, eliminando concorrências.
E quem são estes 1% mais ricos?
Dados da Revista Fortune mostram que das 100 maiores economias do planeta, 40 são empresas e 60 são países. Ou seja, 40 empresas tem mais dinheiro do que a maioria dos países.
Quando vemos quais são as maiores empresas do mundo, percebemos que a maioria são empresas de energia, sobretudo as petroleiras, de transporte e algumas exceções, como poucas empresas de tecnologia e alguns bancos.
As 12 principais empresas coincidem exatamente com os dados que tem provocado o maior desequilíbrio ambiental global, que é a mudança climática. Trata-se do sistema agroalimentar industrial, da geração e extração de energia e transporte. Esses três setores são os principais causadores da mudança climática.
Porém, das 12 principais empresas, a maior de todas é o supermercado Walmart. Isso nunca havia acontecido. É a primeira vez que o Walmart está em primeiro lugar. É uma empresa de serviços e o maior empregador privado do mundo. E isso tem uma série de significados.
E quais seriam?
O capitalismo tende a concentrar, e um dos setores que mais tiveram concentração foram as empresas agroalimentar. Desapareceram as empresas de sementes, de processamento, e hoje em dia temos 20 empresas que controlam a maior parte do mercado de alimentos, desde a produção de sementes aos supermercados.
Desde 2009, o maior mercado do mundo é o agroalimentar industrial, passando o mercado de energia, que foi o maior durante todo o século 20.
Isso tem a ver com a industrialização da comida, o processo agro alimentar e a expulsão das pessoas do campo. Esse tipo de empreendimento só pode se concentrar em locais com grandes concentrações urbanas.
Além disso, o Walmart significa “Walmartização” do mercado de trabalho. O Walmart proibiu a sindicalização, e as pessoas que trabalham na empresa são sócias, e não empregadas. É uma das empresas que tem maior quantidade de demandas por motivos de discriminação trabalhista, físico, sexual, etc. Nos EUA, por exemplo, a empresa conseguiu baixar o salário de seus funcionários em quase 30%.
Porém, o Walmart tem a imagem do que se pretende o modelo capitalista de consumo, em que nada é fresco e tudo passa por um processamento, de embalagem, refrigeração, etc.
Entretanto, é muito significativo que o Walmart seja a primeira empresa do mundo, porque ele trabalha com algo de que não poderíamos abrir mão na nossa vida: a comida. Não é somente o maior mercado do mundo, mas é essencial por ser um mercado que não pode deixar de existir. Ele se apropria de um setor chave da sociedade, e está na ponta da cadeia agro alimentar.
Hoje em dia temos dois grandes paradigmas do modelo. Um é a Monsanto, e do outro lado está o Walmart. A Monsanto se apropria de todo o início da cadeia, como as sementes - e que agora está tentando comprar a Syngenta, a maior fabricante de agrotóxicos do mundo, o que daria a ela um controle quase total do início da cadeia -, e do outro está o Walmart, que é tão grande que pode colocar condições a todo o resto da cadeia.
Por ser um dos maiores setores do mundo, esse sistema agro alimentar também seria um dos maiores causadores dos problemas ambientais?
A mudança climática é um dos mais graves problemas ambientais do mundo. No último século, já aumentamos 1°C a temperatura média da terra, e a projeção é que aumente de 4°C a 5°C.
Isso é devastador do ponto de vista ambiental e dos impactos que terão sobre o ecossistema e na forma de subsistência da vida humana. Já há dezenas de milhares de migrantes climáticos no mundo, e a Organização Mundial da Migração já disse que a mudança climática será um dos fatores que fará crescer muito o número de migrantes.
A Terra levou bilhões de anos para equilibrar o clima para que existisse vida. Mas nosso sistema econômico e político desequilibrou o clima em apenas 100 anos, a um ponto difícil de controlar. E isso tem a ver, sobretudo, com a emissão de gases de efeito estufa.
Essas emissões são o ponto 1 para entender porque o clima é um paradigma tão importante. Conhece perfeitamente as causas das mudanças climáticas. O IPCC identifica três grandes setores que são os principais: 25% é a extração e produção de energia; o segundo, com 24%, é a agricultura industrial e toda a mudança do uso do solo e o desmatamento, e 14% o transporte.
Porém, a Via Campesina e Grupo ETC, fizemos um trabalho de analisar esses dados de outra maneira. Nos perguntamos: quem usa a energia, quem usa os transportes e porque se produz o desmatamento?
Quase 85% do desmatamento é para a expansão da fronteira agrícola. Ou seja, não se trata apenas de um problema de desmatamento, mas um problema que está vinculado à expansão da fronteira agrícola.
A maioria da emissão de metano, por exemplo, tem a ver com a comida agroindustrial. Na comida dos mercados locais não há embalagens como nos convencionais, ela não vai parar no lixo, mas num composto, se recicla, etc. 75% do corte de árvores no mundo se transforma em embalagens.
Quando começa a identificar quem usa os transportes, as embalagens, quem provoca a deflorestação, vemos que o que está por trás é o sistema alimentar agroindustrial. Da Monsanto ao Walmart. Este sistema provoca entre 44% a 57% dos gases de efeito estufa.
Mas ele não é essencial à vida humana?
O sistema alimentar agroindustrial alimenta apenas 30% da população mundial, mas se utiliza de 75% a 80% das terras agrícolas do mundo, de 70 a 80% da água e dos combustíveis de uso agrícola. Além disso, todas as sementes que se utilizam neste sistema são patenteadas e pertencem a uma empresa. Não há nenhum agrotóxico no planeta que não seja de uma empresa transnacional. As dez maiores empresas tem 95% de todo mercado mundial.
Do outro lado temos um dos melhores exemplos que são as redes de alimentação camponesa, que incluem pescadores, ribeirinhos, hortas urbanas, etc. Este sistema tem apenas 25% da terra agrícola no mundo e alimenta 70% da população mundial, com apenas 30% dos recursos hídricos e 20% dos combustíveis.
Ele não apenas oferece mais alimento, mas se tivesse mais terra - por isso a reforma agrária segue sendo um problema fundamental -, apoios mínimos, poderiam produzir muito mais, já que com as condições tão desfavoráveis, num processo quase de guerra contra os camponeses, se produz tanto.
E o que estas grandes corporações tem dito frente a estas questões?
A única propostas das grandes corporações para a saída da crise climática é o que chamamos de falsas soluções. São soluções tecnológicas muito negativas, como os transgênicos e os agrotóxicos, que eles chamam de “intensificação sustentável”.
São medidas tecnológicas extremamente perigosas e completamente falsas. Um exemplo é o mercado de carbono. Dizem que diminuirão as emissões, mas seguem aumentando o tempo todo. São apenas novos fatores especulativos, que permitem com que os capitalistas privatizem até mesmo o ar.
Ainda que pareça loucura, em lugar de ir às causas do problema, as empresas estão apresentando propostas sobre a manipulação do clima. O efeito estufa, por exemplo, é uma relação entre os gases que formam uma capa e não deixa os raios solares saírem. Para isso há a proposta de se criar nuvens vulcânicas artificiais para tapar os raios de sol para que não cheguem tanto no solo; fazer cultivos transgênicos brilhantes para que reflita o sol, ou branquear as nuvens para refletir o sol.
Se estas propostas forem efetivadas, mudaria os padrões de chuva e vento e a temperatura baixaria, mas as monções na Ásia, por exemplo, perderiam sua intensidade, e mudaria todo o sistema agrícola da região, e ao mudar a precipitação, mudaria os ventos na África.
Outra proposta é como sacar os gases que estão em excesso com meios tecnológicos. A indústria petroleira está propondo em retirar o dióxido de carbono e enterrá-lo a mais de 1.500 metros de profundidade em poços de petróleo e em minas esgotadas. Esse é um dos métodos que irão propor na Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP21), que irá acontecer em dezembro, em Paris.
Isso serve à indústria porque já é uma técnica petroleira. Os poços de petróleo têm 20% a 25% de reservas que não pode ser retirada por estarem tão profundas. Mas com o dióxido de carbono seria possível injetar e empurrar essa reserva para que ela saísse. Apenas não a usavam porque é muito cara.
Porém, poderiam vendê-la como uma solução para o clima. Isso significa que eles estão pedindo aos governos para que paguem as instalações. Os governos não só pagariam as instalações, como as empresas retirariam mais reservas de petróleo e cobrariam créditos de carbono para enterrarem os gases.
Isso levaria a uma nova onda de concentração de terra, e mesmo que fizessem isso em todos os poços do mundo, não seria suficiente para retirar os gases da atmosfera. Além disso, o dióxido de carbono teria que ficar ali para sempre, mas para a empresa não importa se ele sairá dentro de um, dez ou vinte anos. Isso é uma manobra para que eles tenham subsídios, retirem mais petróleo e depois diriam: com isso não foi possível, agora precisamos da Neo Engenharia, que é a manipulação do clima.
Diante desse quadro, quais seriam as alternativas?
Os movimentos sociais têm debatido soluções reais e possíveis a um dos problemas mais graves do planeta, que é a crise climática. Há dez anos a Via Campesina começou a dizer que os camponeses esfriam o planeta. Um dos maiores fatores de absorção do dióxido de carbono são os solos. Imediatamente, os empresários disseram: “vamos comprar solos para absorver o gás”.
Porém, para o que o solo absorva e retenha o dióxido de carbono é preciso que ele seja manejado, o que precisa de gente, e isso só os camponeses podem oferecer. Além do mais, são os camponeses que conhecem, literalmente, milhares variedades de sementes, espécies de plantas, árvores, etc, o que pode dar resposta às mudanças climáticas.
Os movimentos mais vivos da terra são os movimentos que tem a ver com a defesa da cultura, da comunidade, dos territórios e a luta pela terra. Não quero dizer sozinhos resolveriam tudo, claro que precisamos de uma articulação muito mais ampla.
A Via Campesina é o maior movimento da história do mundo, desde a quantidade de gente, números de países e que, ademais, tem um elemento fundamental: não tem apenas soluções, mas já a executam.
Um dos maiores desafios é derrubar mitos: o mito de que a agricultura industrial é quem nos alimenta, e que sem ela não seria possível alimentar o planeta. Não necessitamos de grandes desenvolvimentos industriais e fontes de energia para termos uma boa vida, inclusive a que temos agora, o problema é que não somos nós que estamos usando a maior parte dos recursos, mas sim uma minoria.
Fonte: BRASIL DE FATO
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Credit Suisse: 8% têm 85% da riqueza; 71% de miseráveis, só 3%

ricosepobres

O El País publica hoje que, pela primeira vez, o 1% mais rico da população do mundo concentra mais riqueza que todos os outros 99% dos habitantes do planeta.

Não é mais retórico, é estatístico e não vem de comunistas, mas do ortodoxo banco Credit Suisse.

Vou traduzir o gráfico aí de cima de um jeitinho que até aquele amigo do  Rodrigo Constantino poderia entender.

Temos 100 biscoitos para dividir entre 100 pessoas.

Oito pessoas vão ficar com 85 biscoitos.

Vinte e uma pessoas ficarão com 12 biscoitos.

E setenta e uma pessoas vão se digladiar pelas migalhas de três biscoitos.

Se este é o melhor sistema econômico que a humanidade pode alcançar, Alckmin pode relaxar, porque virá um novo dilúvio por aí, sem direito à arca de Noé.

Não se conhece nenhuma sociedade animal onde haja tamanha desigualdade.

É este o modelo que os “sábios” querem nos fazer seguir, dizendo que as bolachas vão ser maiores e aquelas três...hummm… vão nos dar migalhas melhores.

Fonte: TIJOLAÇO
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O que existe em comum com o terrorismo de estado dos EUA, a crise ambiental do planeta, a concentração de riqueza na mão de uma minoria e os idiotas  brasileiros que apoiam Cunha e a tentativa de impeachment da presidenta Dilma ?
Tudo, tudo a ver.
Todos esses aspectos, e outros tantos, podem e devem ser entendidos isoladamente, no entanto, uma compreensão perfeita só pode ser obtida entendendo-os como partes de um sistema, através de suas relações.
Um conjunto de valores e práticas se faz presente em todos os aspectos, por exemplo:
-  desprezo pela democracia;
 - desprezo pelos direitos humanos;
-  valorização da plutocracia  mundial;
-  desprezo pela diplomacia e pelo diálogo:
-  desprezo pelo Direito;
-  valorização de um individualismo  suicida;
- idolatria de uma expressão capitalista fracassada:
- apoio a diversas modalidades de tortura e de terrorismo;
- manipulação e omissão de conteúdos informativos;
- defesa de um conservadorismo retrógrado e reacionário;
- imbecilização e idiotização da sociedade;
- apoio a todas as formas de preconceito e a xenofobia;
- apoio as diversas formas de violência , tanto nas relações interpessoais quanto nas relações internacionais;
- apoio a acumulação de riqueza por quaisquer meios, lícitos ou ilícitos,
- etc...
Esse conjunto de valores e práticas, que foi se formando ao longo das últimas três décadas nas sociedades , está ancorado em um processo cognitivo superficial e  frágil, fruto de uma educação, incluindo a informação,  que em grande parte ignora os aspectos da crítica e da reflexão, favorecendo a formação de pessoas praticamente sem nenhum repertório analítico-crítico e, ao mesmo tempo, incentivando toda forma de consumo e acumulação  como símbolo do sucesso.
Assim sendo, os aspectos subjetivos da existência forma negligenciados, fazendo com que as pessoas se sintam cada vez mais desamparadas e , mesmo obtendo o  "sucesso" não consigam reverter suas angústias e sofrimentos. Em sua maioria, estão desamparados e perdidos, o que de certa forma reflete o estado da arte do mundo atual.
Cunha e os idiotas que o apoiam, são também as mudanças climáticas, o enriquecimento ilícito e as práticas de violência, claro, revestidos com uma aparência de civilidade.

sábado, 10 de outubro de 2015

Cunha e seus seguidores ganham o prêmio O mico do ano

Cadê a indignação com a corrupção de Cunha dos ‘milhões de Cunha’?

Cadê a indignação com a corrupção de Cunha dos ‘milhões de Cunha’?

Conceição Oliveira 
Por Conceição Oliveira outubro 10, 2015 12:27
  
CUNHA, DO PARLASHOPPING À PAPUDA
Por Lelê Teles
milhões de cunha
agora corta pra mim, aí eu te pergunto:

o que dirão Datena e Rezende sobre esse sujeito? Sheherazade pedirá seu linchamento até a morte em praça pública?

o que dirão Gilmar Mendes, Joaquim Barbosa, Gandra? todos tão urgentes quando a mídia quer achincalhar um corrupto.

surgirá o centenário Bicudo com um pedido de impedimento no bico?

o ultrajante Roger, o licantropo Lobão e o indefectível Fábio Júnior cantarão em homenagem a Cunha?

o que dirão mervais, jabores, azevedos?

e o nosso histriônico Aécio, porque até agora não pediu uma coletiva para exigir – ele e sua turma de aluísios, sampaios e agripinos – o impedimento do presidente da Câmara?

esses caras, dia e noite, estão na mídia a exigir a saída de uma presidenta sem uma única conta recheada com grana suja no exterior.

por que se calam?

até ontem, Cunha, esse meliante, era o heroi da mídia e dos midiotas.

havia centenas de cartazes com o nome dele nas raves cívicas; quantas vezes ouvimos os midiotas gritarem CUNHA GUERREIRO DO POVO BRASILEIRO?

enquanto isso sua esposa fazia aulas de tênis nos Esteites, pagas com grana suja. veja que coisa chique.

enquanto o cordão de midiotas marchava, nas raves cínicas, exaltando o nome de Cunha, sua filha fazia MBA na Inglaterra, tudo pago com grana surrupiada da Petrobrás.

essa é a família tradicional brasileira.

após depósitos suspeitos em sua conta, Cunha ia à Igreja e dava umas moedas como oferta, depois ia aos microfones pregar contra a corrupção e o gayzismo.

foi ao bom Cunha que o Pequeno Kim, e os retardados online, entregaram um pedido de impeachment fajuto; foi ao lado desse cabra que os retardados online tiraram fotos orgulhosos com o indicador em riste.

achacador-mor, Cunha se orgulhava de ter uma centena de deputados sob o seu capacho, todos comprados – é o que dizem pelos corredores – com a grana preta que pingava no colo de Cunha, oriunda de empresas privadas cheias de boas intenções e patriotismo; só que não.

pegos com a boca na botija, alguns bandidos disseram ter medo de denunciar Cunha, veja que coisa, e que estariam a sofrer ameaças por parte do nobre deputado.

tal é o calibre de sua delinquência.

Cunha, Nardes, Agripino e Aécio eram os maiores entusiastas do impedimento da presidenta; contra a qual, até o momento é bom que se diga, depois de incontáveis esmiuçamentos e escarafunches, nada foi encontrado.

mas os quatro cavaleiros do apocalixo estão todos enrolados, todos com provas documentais e testemunhais.

e todos soltos!

o Ministério Público suíço entregou documentos, incontestáveis, que comprovam a rapinagem do narigudo.

há assinaturas de Cunha comprovando o crime, o cabra usou até passaporte diplomático para abrir contas; o que mais falta pra esse sujeito ganhar uma tornozeleira eletrônica ou o xilindró?

até agora, nada de prisões preventivas.

fosse um petista, Cunha, sua esposa e sua filha, além de um cunhado, um vizinho o cachorro e o jardineiro, estariam todos na Papuda.

enquanto outros meliantes eram espremidos na deduração premiada, para enrolar ainda mais a família, o partido dele e seu mandato.

Cunha foi dedurado por cinco delatores, nada lhe aconteceu.

ele tem cinco inquéritos no STF; por suas estripulias nada republicanas, a PGR já pediu mais de cem anos de cana dura pra ele.

e ele continua livre, leve e solto.

nesse instante, Cunha poderá estar destruindo provas contra si mesmo, silenciando possíveis dedos-duros, ameaçando e achacando, como testemunharam que era sua praxe.

mas cadê a Polícia Federal pulando o muro da casa dele ao raiar da aurora?

quêde CPUs sendo retiradas de escritórios? onde estão as imagens da esposa dele levando um baculejo com as mãos à parede?

em que rede social alguém diz que a filha enriqueceu seu curriculum com grana surrupiada?

ao assistirem atônitos nossa inércia e o caradurismo do meliante engravatado, os suíços devem estar pensando:

mas com mil diabos.

palavra da salvação.
Fonte: MARIA FRÔ
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Frente Povo Sem Medo


Nasce a frente Povo Sem Medo



Por Renato Bazan, no site da CTB:

A noite desta quinta-feira (8) foi marcada pelo encontro de 27 diferentes movimentos sociais e sindicais em São Paulo, que em solenidade lançaram oficialmente a frente Povo Sem Medo. Idealizada pelo coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos, a iniciativa se apresentou como uma reação independente à ascensão do conservadorismo e à retirada de direitos que vêm acontecendo desde 2014.

Depois de uma homenagem aos 48 anos da morte de Che Guevara, assassinado pelo governo boliviano em 1967, o coletivo compôs uma mesa que contou, para além da presença de dezenas de líderes civis, com a subscrição de mais de uma centena de intelectuais e artistas brasileiros, entre eles Gregório Duvivier, Frei Betto, Juca Kfouri, Leonardo Sakamoto, Laerte e Tico Santa Cruz.

A CTB esteve presente na cerimônia, representada pelo presidente Adilson Araújo, que fez seu discurso em torno da necessidade de defender a ordem democrática. “Nesse momento de crise, o espectro do autoritarismo começa a rondar o nosso continente. É sob o olhar de Che Guevara que nós precisamos ter a sapiência de enxergar a guinada que esta sendo armada na Venezuela, na Argentina, no Chile, no Equador, e sobretudo no Brasil. Eu diria que um povo sem medo é aquele que sabe enxergar o valor da democracia, que faz o que for preciso em nome da própria soberania!”, exclamou Araújo, sob aplausos dos presentes.

Boulos, por outro lado, dedicou boa parte de sua fala para criticar a direção que o governo federal tem adotado na sua política econômica. "Esse ajuste fiscal imposto pelo ministro Levy e aceito pela presidente Dilma Rousseff coloca na costa dos trabalhadores e dos pobres a conta dessa crise, que foi criada pelos ricos", acusou. "Os cortes nos investimentos sociais e nos direitos dos trabalhadores, na educação pública, a suspensão dos concursos, tudo isso é parte da chamada 'Agenda Brasil'. Enquanto isso, cresce a riqueza dos 1% mais ricos, e seus patrimônios seguem sem nenhuma taxação. Somos nós que estamos pagando a conta!", concluiu. A presidente da UNE, Carina Vitral, fez críticas no mesmo sentido.

Todos os líderes disseram ver na criação do coletivo Povo Sem Medo uma ferramenta de diálogo e articulação das diferentes vertentes da sociedade civil organizada, que precisa estar de prontidão para denunciar e enfrentar as investidas reacionárias.

Ao final, ficou definido que a primeira mobilização de rua coletivo será realizada no dia 8 de novembro. Os detalhes da mobilização serão disponibilizados, conforme forem definidos, na página da Frente Povo Sem Medo e no perfil do MTST - Movimento dos Trabalhadores Sem Teto.

Fonte: Blog do Miro

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"O impeachment é uma saída à direita", afirma Guilherme Boulos em lançamento de nova frente
9 outubro, 2015 - 16:23 — Vivian Fernandes

Além do MTST, a frente Povo Sem Medo conta com diversos movimentos, entre eles a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a União Nacional dos Estudantes (UNE).09/10/2015

Por Bruno Pavan,

De São Paulo (SP)


Lançamento da Frente Povo Sem Medo | Foto: Roberto Parizotti/CUT

Movimentos populares lançaram nesta quinta-feira (8) a Frente Povo Sem Medo. Encabeçada pelo Movimentos dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), a articulação será mais uma voz contra a política de austeridade fiscal do governo federal.
“É possível tomar uma posição que enfrente a política de austeridade, que mantenha a independência defendendo a classe trabalhadora, ao mesmo tempo que ataque a ofensiva conservadora do país", afirmou o dirigente do MTST, Guilherme Boulos.

A frente conta com a presença de diversos movimentos, entre eles a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a União Nacional dos Estudantes (UNE), que também estão na Frente Brasil Popular.

"A diferença entra as duas frentes é que a Povo Sem Medo é composta exclusivamente por movimentos sociais, enquanto a Brasil Popular tem uma composição mais heterogênea com partidos e personalidades", explica Boulos.

Após o lançamento, a Frente Povo Sem Medo fará sua primeira manifestação de rua no dia 8 de novembro, em diversas capitais do país.

Crítica ao impeachment
 A ex-candidata à Presidência pelo PSOL, Luciana Genro, marcou presença no encontro e também fez críticas à política econômica do governo. Além disso, ela opinou sobre como o processo de tentativa de impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT) vem sendo conduzido.

“O presidente da Câmara, com suas contas na Suíça, e o ministro do TCU [Tribunal de Contas da União], com o nome envolvido na Operação Zelotes, não têm o direito de pregar contra a corrupção desse governo. A direita quer o impeachment para que eles próprios apliquem os mesmos ajustes nas costas do povo”, afirmou.

Após o julgamento do TCU, que recusou as contas do governo Dilma do ano de 2014, por conta das chamadas "pedaladas fiscais", analistas apontam que se abriu o caminho para o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, que agora irá passar por análise da Câmara e do Senado.

Fonte: BRASIL DE FATO

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Frente Brasil Popular

Um passaporte para o futuro: Frente Brasil Popular

Calafetar a greta histórica é o salto ao qual se propõe a Frente Brasil Popular que precisa reunir a força necessária ao seu teste final: as urnas de 2018.

por: Saul Leblon

Paulo Pinto
A estreia da Frente Brasil Popular nas ruas do país neste sábado – com maior intensidade em São Paulo, onde oito mil pessoas atenderam ao chamado do novo comitê unificado do campo progressista brasileiro — merece atenção.

O que engatinha, ainda em fraldas, não é apenas a construção de um novo aparato mobilizador, mas sobretudo, a convergência de agendas que vão definir o programa único de lutas e reivindicações populares.

O desafio não é retórico.

Trata-se de sinalizar um futuro alternativo, e crível, ao assalto em curso da restauração neoliberal no país.

Fazê-lo a partir de lutas e intervenções firmes e consequentes, a ponto de conquistar a adesão e o consentimento da maioria da população é a linha de passagem capaz de levar o país até 2018, sem o golpe.

E de vencer os golpistas consagradoramente então.

Essa é a essência do jogo que começou a ser jogado.

A Frente Brasil Popular içou velas no turbulento oceano político que nos separa daquele momento, disposta a ser o casco e o leme da candidatura que enfrentará a direita unificada no escrutínio histórico que ocorrerá então.

Todo o esforço do conservadorismo hoje consiste em fraturar e obstruir essa travessia.

Inviabilizar o governo Dilma, engessando-o em um pântano de sabotagem econômica e constrangimento institucional é a tática da hora.

Outra, consiste em excluir o nome do ex-presidente, Luís Inácio Lula da Silva, da cédula eleitoral de 2018, como possível candidato da frente que ora se forma.

É compreensível o temor que o confronto inspira nas elites e na borra reacionária que as sustenta.

Sem financiamento empresarial de campanha, com interesses e antagonismos explicitados pela transição de ciclo de desenvolvimento, e uma ênfase em ideias, não em publicidade, o embate sucessório de 2018 caminha para ser o palco pedagógico das contradições que ora travam o passo seguinte do desenvolvimento brasileiro.

Mais ou menos o oposto do que se vê nesse momento.

O assalto em curso da restauração neoliberal avança com relativa facilidade graças ao vácuo de uma dissipação organizativa e ideológica sedimentada nos últimos doze anos.

A reforma ministerial promovida na última semana, correta nas circunstâncias, na medida em que cindiu o golpismo cooptando um pedaço dele, evidencia ao mesmo tempo o grau de fragilidade em que se encontra o campo progressista, paradoxalmente depois do seu mais longo e frutífero ciclo de governos no país.

A despolitização da agenda do desenvolvimento explica uma boa parte desse paradoxo.

Uma mistura equivocada de economicismo e busca de indulgência junto aos detentores da riqueza cimentou um pragmatismo cego que creditou às gôndolas dos supermercados a tarefa de promover a conscientização popular na defesa das conquistas -- inegáveis, diga-se, registradas desde 2003.

O PT e uma parte de seus dirigentes – mas também círculos de seu entorno intelectual — deixaram-se hipnotizar de algum modo pela miragem do boom de commodities, como se capitalismo fosse o consenso e não a tensão na história.

Durante um período longo demais, muitos dentro do governo e do PT acharam que essa era uma ‘não-questão’.

Que tudo se resolveria com avanços incrementais no consumo, que se propagariam das geladeiras abastecidas para a correlação de forças da sociedade, em uma espiral ascendente e virtuosa.

O absenteísmo em relação às bases, às ruas e à luta ideológica; a inexistência de canais de comunicação próprios com a sociedade, tudo parecia tangencial diante do persuasivo poder do tíquete médio de um crescimento contínuo em que, como se disse durante anos, todos ganhariam.

De fato, ganharam.

A eclosão da desordem neoliberal em 2008, porém,  sacudiu esse interregno de conforto expondo com virulência o reduzido grau de tolerância conservadora à construção de uma verdadeira democracia social no Brasil, quando isso implica dividir a riqueza existente, não apenas o fluxo, mas o estoque também.

Fez mais que isso.

Escancarou a frágil organização progressista em um cenário em que o crescimento do excedente já não acomodaria mais os compromissos e os conflitos da sociedade.

O deslocamento do jogo em que todos ganham, para o enfrentamento bruto entre arrocho ou tributação da riqueza financeira, passaria então a dar as cartas na mesa.

Que esse novo tempo tenha liberado o ódio latente ao PT e aos segmentos populares, é compreensível.

Que tenha empalmado inclusive setores incorporados ao mercado de massa nos últimos doze anos, escancara os limites do economicismo que orientou a construção da governabilidade progressista desde 2003.

A contradição atingiu dimensões suficientes para encorajar a direita e seu dispositivo midiático a empreender um mutirão determinado não apenas a derrotar o PT nas urnas, mas a destruí-lo e a seus dirigentes, banindo-os da vida política brasileira.

Não há certeza de que não serão bem sucedidos.

A beira do precipício histórico resgata uma discussão inscrita no DNA da esquerda em nosso tempo, mas abandonada no Brasil à medida em que a governabilidade parlamentar monopolizou as energias e desafios do exercício no poder.

Como ir além dos limites intrínsecos à construção da justiça social numa época cuja singularidade decorre de o Estado não deter mais o poder de comandar o mercado; e a democracia promete mais do que a livre mobilidade dos capitais está disposta a conceder?

Uma primeira pista é que não se pode atribuir à economia aquilo que compete à correlação de forças decidir. Por exemplo, decidir dar funcionalidade ao controle de capitais, subtraindo aos mercados a prerrogativa de desossar as urnas, chantagear partidos, acuar governantes e indiferenciar programas.

A repactuação de um novo ciclo de investimento com distribuição da riqueza é indissociável do avanço da democracia participativa. Inclua-se aí a democratização do sistema emissor de ideias, hoje detido pelo oligopólio das comunicações no país.

O resto é arrocho.

Entre os requisitos para que não o seja inclui-se refazer o caminho de volta às ruas.

Não em eventos esporádicos de uma estrutura esclerosada que desaprendeu a andar no asfalto e na lama das periferias.

Mas através de um novo protagonista coletivo.

Que impulsione as partes do todo de fora para dentro; que tenha estatura, capilaridade e força superior a todas elas, sendo capaz, assim, de fazer o que nenhum de seus componentes unilateralmente conseguiria: alterar a correlação de forças, superando na prática a ilusão de que é possível radicalizar direitos sociais negados pelos mercados, sem radicalizar a democracia.

Não será viável avançar nesse percurso à margem da organização e do discernimento crítico de seus principais interessados.

A nova classe trabalhadora surgida na última década, sugestivamente dissimulada em um eufemismo da sua verdadeira natureza histórica -- ‘nova classe média’—terá que assumir o protagonismo verdadeiro para não sucumbir à uma regressão devastadora.

O sujeito do processo não pode permanecer alheio às raízes do conflito que decidirá o seu destino, sob pena de condenar a sociedade a uma espiral descendente de incerteza e impasse insustentáveis.

Devolver-lhe a identidade política implica dotá-lo de organização e discernimento correspondente ao peso ordenador que passou a ter na economia e na correlação de forças de um período.

A despolitização do projeto de desenvolvimento nos últimos anos levou esse contingente a enxergar sua inserção no mundo como uma relação pessoal com a gôndola e com o limite do cartão de crédito.

Pesquisas nas mãos do PT mostram a desilusão brutal deflagrada pela crise nessa base terceirizada aos supermercados.

Decorre daí uma ruptura que não se sabe se ainda reversível.

A aderência anterior entre o que se convencionou chamar de lulismo e suas referências políticas, esfumou-se.

Esse, na verdade, é o ‘grande ajuste’ que desafia o Brasil progressista na caminhada rumo a 2018.

Trata-se de entender e superar uma clivagem entre o país que ascendeu ao consumo de massa, mas que não se tornou protagonista histórico do próprio destino.

E de fazê-lo em um momento em que as gôndolas já não entregam mais o que prometeram.

Não será fácil.

Mas tampouco a cooptação desse universo será um passeio para o conservadorismo.

Por razões objetivas, mesmo o lulismo desiludido continua a orbitar na lógica oposta a das elites.

Ao trazer 60 milhões de brasileiros ao mercado e à cidadania, o ciclo petista esburacou de maneira formidável a estrada na qual o conservadorismo costumava engatar a ré e acelerar o retrocesso político e econômico, sem nem consultar o espelho retrovisor.

Não é mais possível faze-lo assim.

Daí a hesitação do golpismo diante do pênalti  imposto ao campo progressista, mas que agora quer bater com a adicional garantia de que não haverá guarda-metas no gol.

Quando um melífluo FHC exige que Dilma faça o trabalho sujo do arrocho e depois renuncie -- ‘no prazo de um ano’, é porque desconfia que só um termidor repressivo devastador, de consequências imprevisíveis, permitiria reverter  o potencial econômico e político acumulado desde 2003.

Moro é isso: o golpe por etapas, assim graduado pela hesitação golpista.

A boa notícia na praça é que o campo progressista resolveu se unir para barrar esse risco nas ruas e se credenciar como sujeito dessa que avulta como uma das mais virulentas transições de ciclo de desenvolvimento já enfrentadas pelo país.

Basta lembrar de 32; 54; 64; 1985 e 2002 para se ter a dimensão da explosividade em curso.

A encruzilhada brasileira decorre em boa parte desse descompasso entre requisitos econômicos e regulatórios impostos pela transição de ciclo mundial e local, e a ausência de sua contrapartida no escopo da correlação de forças existente no país nesse momento.

Calafetar a greta histórica é o grande salto ao qual se propõe a Frente Brasil Popular.

Oxalá seja entendida assim pelo conjunto dos partidos, lideranças, movimentos sociais, centrais de trabalhadores e trincheiras intelectuais, como é o caso do Fórum 21.

Esse é o requisito para adquirir a força e o consentimento necessários ao seu teste final: as urnas de 2018.

Fonte: CARTA MAIOR
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O progressismo roda, roda, e volta pro PT/PCdoB


Recentemente, dois ex-candidatos presidenciais do PSOL, Heloísa Helena e Randolfe Rodrigues (que foi escolhido pelo PSOL para as eleições de 2014 e desistiu, abrindo espaço para Luciana Genro), ou seja, políticos bastante representativos do partido, deixaram o PSOL e foram para a Rede, partido liderado e inspirado por Marina Silva, a qual apoiou o candidato do conservadorismo no segundo turno das eleições presidenciais de 2014
PT-PCdoB
O Brasil passa por mudanças estruturais importantes em sua dinâmica política e partidária. Partidos são criados, frentes são lançadas, movimentos sociais surgem, se fortalecem e se lançam à disputa política. Entretanto, há uma estrutura por trás de tudo isso que norteia este processo: o espectro progressismo-conservadorismo. É neste espectro que o jogo de forças se prepara para o sistema de chegada ao poder atualmente em vigor: a democracia. Por mais que as unidades de poder de base não territorial tenham sua influência, a unidade de poder de base territorial (o Estado) ainda tem um poder extraordinário, e a forma de chegar ao poder no Estado brasileiro são as eleições de sufrágio universal, com um voto por cabeça e decisões por maioria. E quem disputa as eleições no Brasil, hoje, são os partidos políticos e seus candidatos, pois não são permitidas candidaturas sem partido.
Assim, por mais que meios de comunicação, movimentos sociais, empresariado e outras forças tenham influência, durante o processo eleitoral essa influência é canalizada para os partidos políticos e seus candidatos. Por isso, para compreender mais profundamente os movimentos políticos no Brasil, é preciso correlacionar a estrutura do espectro progressismo-conservadorismo com o quadro partidário brasileiro. Sem isso, não há como se orientar adequadamente no processo eleitoral e na disputa do poder no Estado. E quanto ao processo eleitoral, ele não acontece só no dia da eleição, a cada dois anos, ou mesmo durante a campanha eleitoral. O processo eleitoral é contínuo, na cabeça das pessoas, nos meios de comunicação, no interior dos partidos e em todos os lugares onde se discute política, seja no bar, seja no trabalho ou em qualquer lugar.
Quais seriam então os partidos mais progressistas do Brasil com um mínimo de representação popular? Nas primeiras décadas a partir da redemocratização, a resposta “PT e PCdoB”, como o claro núcleo do progressismo brasileiro, esteve na ponta da língua. De alguns anos pra cá, porém, outro partido, o PSOL, passou a se perfilar como mais um representante do progressismo mais avançado do país. Na verdade, a intenção do PSOL foi mais além, tentando retirar do núcleo do progressismo o PT e o PCdoB para substituí-los nessa região do espectro político. O tempo está mostrando que o PSOL não é adequado para isso. Primeiro, porque o maior erro político do PT e do PCdoB, que foi especialmente a partir da década de 2000 aceitar dinheiro de pessoas jurídicas para financiar suas campanhas, também foi cometido pelo PSOL. Segundo, porque o PSOL não mostrou consistência ideológica mais progressista que o PT e o PCdoB, e uma forte evidência disso é que dois de seus ex-candidatos presidenciais, Heloísa Helena e Randolfe Rodrigues (que foi escolhido pelo PSOL para as eleições de 2014 mas desistiu, abrindo espaço para Luciana Genro), ou seja, políticos bastante representativos do partido, acabaram de ir para a Rede, partido liderado e inspirado por Marina Silva, que apoiou o candidato do conservadorismo, Aécio Neves, nas eleições presidenciais de 2014.
Evidentemente, o PSOL é um partido com um forte componente progressista. Mas o ódio ao PT compromete continuamente este componente, ajudando a ocultar o componente conservador do PSOL, que cada vez mais vem à luz. Outros partidos do Brasil também têm um componente progressista, em maior ou menor medida, como o PDT, o PSB e a própria Rede. A rigor, todo partido tem um componente progressista, por menor que seja. Mas existem partidos que concentram as ideias progressistas, as quais têm clara predominância dentro desses partidos. Hoje em dia, os partidos com os quais o progressismo brasileiro pode contar são o PT e o PCdoB. O PSOL também seria um deles, se não odiasse virulentamente o PT, abrindo caminho em si mesmo para o conservadorismo oculto. Nos outros partidos, as ideias progressistas têm mais dificuldades de se fazer valer, em uns mais, em outros menos.
Por que o PT e o PCdoB mantêm através das décadas essa característica? O PT tem duas coisas que nenhum outro partido expressivo no Brasil tem: eleições internas diretas para seus dirigentes e candidatos, e o maior líder popular da história do Brasil, Lula. O PCdoB tem, para se proteger ideologicamente, a sua hierarquia, mas isso tem um custo para o partido, que é a restrição ao seu crescimento. Entretanto, é um preço que o PCdoB aceita pagar, e lhe permite ser um importante representante do progressismo brasileiro. Agora se abre uma nova fase na política brasileira, pois com a multiplicação de partidos, a formação de frentes é praticamente inevitável. PT e PCdoB já deram um importantíssimo passo nesse sentido, a formação da Frente Brasil Popular (FBP), que fará um ato nacional neste sábado (03/10) em todo o Brasil em defesa da democracia, dos direitos do povo brasileiro sobre o petróleo em seu território e por mudanças na política econômica. Essa frente, que também é integrada por uma série de movimentos sociais, como MST, CUT e UNE, na estrutura do espectro progressismo-conservadorismo, se coloca para ser uma força claramente progressista no panorama nacional, preparando-se para os processos políticos que virão nos próximos meses, anos e décadas. Porque os partidos vêm e vão, mas o progressismo e conservadorismo estão sempre aí, procurando os partidos políticos que os representem. E o progressismo, que já esteve firme com o PT e o PCdoB, começou a olhar para os lados na última década. Teve esperanças com o PSOL, mas este ainda não conseguiu superar o infantilismo (ou conservadorismo, dependendo do caso) do ódio ao PT e assim abriu caminho para o conservadorismo em seu interior e em sua prática, que agora está ameaçando o PSOL de fazê-lo perder sua identidade progressista. O progressismo olhou para o lado também para o PSB, de Miguel Arraes, que uma vez assumido por seu neto, Eduardo Campos, iniciou uma caminho gradual no espectro político rumo ao conservadorismo. Com a morte de Eduardo Campos, esse caminho se acelerou, e o partido apoiou o candidato do conservadorismo nas eleições presidenciais de 2014. Outro momento em que o progressismo olhou para o lado foi quando Marina Silva se candidatou a presidente em 2010, não apoiando ninguém no segundo turno e propondo o lançamento de um partido, a Rede. Infelizmente, em 2014, Marina assumiu uma candidatura presidencial que nem ela esperava, em vez de segurar a onda e deixar que uma pessoa tradicional do PSB assumisse a candidatura no lugar de Eduardo Campos, permanecendo ela como vice. Esse seu movimento conservador se confirmou no apoio ao candidato do conservadorismo, Aécio Neves, no segundo turno. Agora, Marina tenta retomar o antigo caminho do progressismo criando a sua Rede. Mas ela vai ter que chegar ao progressismo partindo do conservadorismo, e depois dos episódios de 2014, é difícil que chegue.
Eu gostaria muito que um partido político no Brasil fosse mais progressista que o PT e o PCdoB. Eu gostaria muito que, antes do Judiciário proibir as doações de pessoas jurídicas, um partido político minimamente influente tivesse tomado a iniciativa de não aceitá-las voluntariamente, o que o PT e o PCdoB não fizeram. Mas não houve nenhum partido que fez isso. Eu gostaria muito que um partido político tivesse instituído eleições prévias abertas a todas as pessoas para a escolha de seus candidatos, como PT e PCdoB não fizeram. Mas não houve nenhum partido que fez isso. Ou seja, eu gostaria muito que houvesse partidos mais progressistas no Brasil que PT e PCdoB. Mas a realidade mostra que não há. Portanto, PT e PCdoB e quem mais vier, vamos em frente com a Frente Brasil Popular, rumo ao futuro! 
Fonte: CULTURA POLÍTICA
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quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Caretas e mídias caretas

Gregório Duvivier: “Muita gente morre por causa do conservadorismo”


Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, o ator e roteirista do canal de humor na internet Porta dos Fundos  declara que "o Brasil está virando um país mais careta, estamos na contramão do mundo".
07/10/2015
Por Fania Rodrigues,
Do Rio de Janeiro (RJ)
Crédito das imagens: Pablo Vergara
Conhecido pelos vídeos de um canal de humor da internet e por declarações sobre a política nacional, o ator, humorista e escritor Gregório Duvivier, em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, fala sobre mídia, conservadorismo e o cenário político atual.
“As pessoas acham que é mais seguro ser conservador. Mas, muita gente morre por causa do conservadorismo. Ele incentiva a homofobia, o machismo e uma série de coisas que são letais.
Duvivier afirmou acreditar na arte como um instrumento de transformação. “Um dos papéis mais importante do humor é puxar o tapete das certezas”. Nesse sentido, deixou clara sua posição em relação ao governo: “ódio ao PT é um ódio de classe. O que me incomoda não são essas pessoas estarem criticando o PT, mas sim o fato de estarem criticando pelas razões erradas”.
Confira a íntegra da entrevista.

Brasil de Fato – Qual é o papel do humor e da arte no debate político da sociedade?
Gregório Duvivier - O artista é parte da sociedade, mas também é um agente transformador. Um dos deveres do artista é contribuir para uma sociedade melhor. A arte é muito poderosa. Quando alguém escreve um livro está criando um mundo. Isso pode ser transformador. E um dos papéis mais importante do humor é puxar o tapete das certezas.

Você tem uma coluna na Folha de S. Paulo e faz trabalhos na Globo. Acha que é possível romper o discurso conservador da grande mídia?
É muito difícil. Em alguns meios mais que em outros. Na Globo é mais difícil que na Folha. Um programa na Globo passa por 12 pessoas [antes de ser aprovado], em geral todas de interesses conservadores. Todas as etapas são conservadoras dentro da Globo. A Folha, ainda que seja uma empresa conservadora, também abriga várias pessoas de esquerda lá dentro. Na Folha nunca fui censurado.

Em sua opinião, o conservadorismo está melhorando ou piorando?
Está piorando. No Congresso os conservadores têm uma bancada muito organizada. A sociedade sempre foi conservadora, mas antigamente não estava tão bem aparelhada. Hoje a gente tem a bancada dos BBBs: do boi, da bala e da Bíblia, que são os ruralistas, militaristas e evangélicos. Essas três bancadas estão unidas. Existe uma escalada do pensamento conservador e isso é muito perigoso.

Perigoso em que sentido?
As pessoas acham que é mais seguro ser conservador. Mas, muita gente morre por causa do conservadorismo. Ele incentiva a homofobia, o machismo e uma série de coisas que são letais. O Brasil é o país com o maior número de assassinatos do mundo. Uma das críticas que tenho ao PT é o incentivo à indústria bélica. Somos um dos maiores produtores de armas leves, como o revólver. A Primavera Árabe foi sufocada com armas brasileiras.

Você acha que a sociedade pode regredir ainda mais?
Esse perigo existe. O Brasil está virando um país mais careta. Estamos indo na contramão do mundo. Os Estados Unidos, um país que sempre foi moralmente conservador, aprovou o casamento gay e liberou o uso da maconha em alguns estados. E não tem mais gays ou maconheiros por causa disso. As coisas não deixam de existir porque são proibidas, como o aborto, que expõe a mulher ao risco de morte. Nesse caso, a mulher pobre.

Tem uma parte da classe média que odeia o PT. Qual é a razão desse ódio?
Acho que as críticas ao PT são fundadas, na maioria das vezes, na ignorância. O que me incomoda não são essas pessoas estarem criticando o PT, mas sim o fato de estarem criticando pelas razões erradas. Não estão batendo no PT por ele ser militarista, anti-ambientalista, anti-indígena. Isso a direita não diz. Vejo a direita dizendo que o Brasil vai virar Cuba. Definitivamente, se tem uma coisa que o governo Dilma não está fazendo é transformar o Brasil em Cuba. Qual é a principal crítica ao PT, é a corrupção? Até agora os maiores escândalos de corrupção não são do PT, são do Eduardo Cunha e do Renan Calheiros, os dois do PMDB, que também compôs o governo Fernando Henrique Cardoso.

E também tem a questão do ódio de classe.
O ódio ao PT é um ódio de classe. O pobre tem mais acesso a bens de consumo e a lugares que antes não tinha. Os pobres começaram a ocupar os lugares. Isso aí os ricos nunca vão tolerar, ter que conviver com pessoas pobres. Além disso, a Veja e a Globo não elegem mais o presidente da República. Olha o ódio que isso deve causar. A mídia estava acostumada a colocar e a tirar do poder quem ela quisesse. Hoje não é mais assim não.

Por que a sociedade tolera políticos como Eduardo Cunha?
As pessoas toleram aquilo que a mídia diz que é aceitável. Acabaram de descobrir uma conta do Eduardo Cunha de 5 milhões de dólares, na Suíça, e não foi capa de nenhuma revista ou jornal. Não foi capa da Veja, que está super indignada com a corrupção. Essa revelação é muito mais grave que qualquer outra coisa que já acusaram a Dilma. A indignação do povo é muito pautada pela mídia.

Fonte: BRASIL DE FATO
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A grande mídia brasileira é a Meca da caretice.

Nas emissoras de TV, emissoras de rádio, jornais e revistas a caretice dá o tom, apesar do véu de modernidade e até mesmo de uma suposta vanguarda.

O povo brasileiro é pautado por essa mídia, assim como mídias menores e mesmo mídias públicas.

Repete-se bovinamente, sem qualquer análise crítica, uma estética esgotada, ultrapassada.

A ousadia criativa inexiste, enquanto a cópia maquiada prolifera nas mídias.

A título de exemplo, até mesmo a TV Brasil, uma emissora pública  se deixa levar pela caretice e mergulha nos estereótipos.

A emissora, que diz estar em processo de mudança, estreou essa semana um programa informativo no horário nobre.

Com o título Fique Ligado, o programa aborda a informação em um clipping, ou mesmo uma leitura dinâmica dos acontecimentos.

O conceito agrada, mesmo já existindo em outras emissoras.

No entanto, para além da boa informação apresentada pela TV Brasil, a estética de apresentação segue a caretice dominante nas mídias privadas, o que prejudica o programa.

Na linha de cultuar os apresentadores, dando-lhes espaço de um show, o jornalismo, de uma maneira geral na grande mídia, fica em segundo plano.

O programa da TV Brasil repete esse erro, ou essa caretice que ninguém mais aguenta.

Com um apresentador que com frequência  chama colegas na redação,  os sorrisos e piadas, sempre sem graça,  proliferam na apresentação das notícias.

Ontem ao informar sobre o bombardeio russo na Síria, a jornalista  na redação não poupou generosos sorrisos para a notícia.

Não entendo como mísseis explodindo coisas e  matando pessoas seja motivo de sorrisos.

Um outro jornalista, que sempre entra para falar de esporte, demonstra estar acometido de uma síndrome de Thiago Leifert,  numerosas são as piadas sem graça sobre os assuntos abordados.

Isso acontece porque o show, careta  de uma maneira geral, compete com o conteúdo jornalístico, o que prejudica o programa.

É a sociedade do espetáculo, onde o jornalista é tão importante quanto a notícia. 

O ideal seriam duas vozes em off, se revezando na apresentação das notícias, já que as imagens estão sempre presentes nos assuntos abordados.

No entanto, a caretice do show é muito forte e está presente  em tudo nas mídias.

Já que o assunto é caretice não sei se é apenas coincidência, pois o programa em questão é apresentado pelo núcleo da TV Brasil em São Paulo.

Estamos ligados.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Aberrações da ordem mater

A atualidade brutal de Hannah Arendt


petista-morto
Por Carlos Eduardo, editor assistente do Cafezinho.

Os panfletos atirados nesta segunda-feira (5), durante velório do ex-presidente do PT, José Eduardo Dutra, revelam o nível em chegou o ódio político no país. Um nível preocupante. Quando nem mesmo a morte de um adversário político é mais respeitada por aqueles que fazem oposição, sinal de que a sociedade está doente.
Qualquer semelhança com o passado não é mera coincidência. A escalada do fascismo no século XX ocorreu de modo semelhante. 
Por isso, mais do que nunca, é importante revisitarmos a história, para não repetirmos os erros do passado. A direita saiu do armário e perdeu completamente os pudores. A oposição não tem mais vergonha de estimular a violência contra petitas, ou qualquer outro que julguem ser contra seus ideias, sejam eles ciclistas, feministas, homossexuais etc.
O momento político atual é propício para assistir ao filme Hannah Arendt - Ideias que Chocaram o Mundo. Como ensinou a filósofa alemã, de origem judaica, e perseguida pelo nazismo, todas as sociedades fascistas têm algo em comum: a banalização do mal.
Abaixo segue artigo do professor Ladislau Dowbor sobre o filme de Hannah Arendt e como suas ideias permanecem atuais.
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hannah-arendt

A atualidade brutal de Hannah Arendt

Por Ladislau Dowbor, no Justificando.

O filme causa impacto. Trata-se, tema central do pensamento de Hannah Arendt, de refletir sobre a natureza do mal. O pano de fundo é o nazismo, e o julgamento de um dos grandes mal-feitores da época, Adolf Eichmann. Hannah acompanhou o julgamento para o jornal New Yorker, esperando ver o monstro, a besta assassina. O que viu, e só ela viu, foi a banalidade do mal. Viu um burocrata preocupado em cumprir as ordens, para quem as ordens substituíam a reflexão, qualquer pensamento que não fosse o de bem cumprir as ordens. Pensamento técnico, descasado da ética, banalidade que tanto facilita a vida, a facilidade de cumprir ordens. A análise do julgamento, publicada pelo New Yorker, causou escândalo, em particular entre a comunidade judaica, como se ela estivesse absolvendo o réu, desculpando a monstruosidade.
A banalidade do mal, no entanto, é central. O meu pai foi torturado durante a II Guerra Mundial, no sul da França. Não era judeu. Aliás, de tanto falar em judeus no Holocausto, tragédia cuja dimensão trágica ninguém vai negar, esquece-se que esta guerra vitimou 60 milhões de pessoas, entre os quais 6 milhões de judeus. A perseguição atingiu as esquerdas em geral, sindicalistas ou ativistas de qualquer nacionalidade, além de ciganos, homossexuais e tudo que cheirasse a algo diferente. O fato é que a questão da tortura, da violência extrema contra outro ser humano, me marcou desde a infância, sem saber que eu mesmo a viria a sofrer. Eram monstros os que torturaram o meu pai? Poderia até haver um torturador particularmente pervertido, tirando prazer do sofrimento, mas no geral, eram homens como os outros, colocados em condições de violência generalizada, de banalização do sofrimento, dentro de um processo que abriu espaço para o pior que há em muitos de nós.
Por que é tão importante isto, e por que a mensagem do filme é autêntica e importante? Porque a monstruosidade não está na pessoa, está no sistema. Há sistemas que banalizam o mal. O que implica que as soluções realmente significativas, as que nos protegem do totalitarismo, do direito de um grupo no poder dispor da vida e do sofrimento dos outros, estão na construção de processos legais, de instituições e de uma cultura democrática que nos permita viver em paz. O perigo e o mal maior não estão na existência de doentes mentais que gozam com o sofrimento de outros – por exemplo uns skinheads que queimam um pobre que dorme na rua, gratuitamente, pela diversão – mas na violência sistemática que é exercida por pessoas banais.
Entre os que me interrogaram no DOPS de São Paulo encontrei um delegado que tinha estudado no Colégio Loyola de Belo Horizonte, onde eu tinha estudado nos anos 1950. Colégio de orientação jesuíta, onde se ensinava a nos amar uns aos outros. Encontrei um homem normal, que me explicava que arrancando mais informações seria promovido, me explicou os graus de promoções possíveis na época. Aparentemente queria progredir na vida. Outro que conheci, violento ex-jagunço do Nordeste, claramente considerava a tortura como coisa banal, coisa com a qual seguramente conviveu nas fazendas desde a sua infância. Monstros? Praticaram coisas monstruosas, mas o monstruoso mesmo era a naturalidade com a qual a violência se pratica.
Um torturador na OBAN me passou uma grande pasta A-Z onde estavam cópias dos depoimentos dos meus companheiros que tinham sido torturados antes. O pedido foi simples: por não querer se dar a demasiado trabalho, pediu que eu visse os depoimentos dos outros, e fizesse o meu confirmando a verdades, bobagens ou mentiras que estavam lá escritas. Explicou que eu escrevendo um depoimento que repetia o que já sabiam, deixaria satisfeitos os coronéis que ficavam lendo depoimentos no andar de cima (os coronéis evitavam sujar as mãos), pois veriam que tudo se confirmava, ainda que fossem histórias absurdas. Segundo ele, se houvesse discrepâncias, teriam de chamar os presos que já estavam no Tiradentes, voltar a interrogá-los, até que tudo batesse. Queria economizar trabalho. Não era alemão. Burocracia do sistema. Nos campos de concentração, era a IBM que fazia a gestão da triagem e classificação dos presos, na época com máquinas de cartões perfurados. No documentário A Corporação, a IBM esclarece que apenas prestava assistência técnica.
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Banalidade do mal: Panfleto atirado em frente ao velório do ex-senador José Eduardo Dutra, em Belo Horizonte, pede a morte de petistas 

O mal não está nos torturadores, e sim nos homens de mãos limpas que geram um sistema que permite que homens banais façam coisas como a tortura, numa pirâmide que vai desde o homem que suja as mãos com sangue até um Rumsfeld que dirige uma nota aos exército americano no Iraque, exigindo que os interrogatórios sejam harsher,ou seja, mais violentos. Hannah Arendt não estava desculpando torturadores, estava apontando a dimensão real do problema, muito mais grave.
A compreensão da dimensão sistêmica das deformações não tem nada a ver com passar a mão na cabeça dos criminosos que aceitaram fazer ou ordenar monstruosidades. Hannah Arendt aprovou plenamente e declaradamente o posterior enforcamento de Eichmann. Eu estou convencido de que os que ordenaram, organizaram, administraram e praticaram a tortura devem ser julgados e condenados.
O segundo argumento poderoso que surge no filme, vem das reações histéricas de judeus pelo fato de ela não considerar Eichmann um monstro. Aqui, a coisa é tão grave quanto a primeira. Ela estava privando as massas do imenso prazer compensador do ódio acumulado, da imensa catarse de ver o culpado enforcado. As pessoas tinham, e têm hoje, direito a este ódio. Não se trata aqui de deslegitimar a reação ao sofrimento imposto. Mas o fato é que ao tirar do algoz a característica de monstro, Hannah estava-se tirando o gosto do ódio, perturbando a dimensão de equilíbrio e de contrapeso que o ódio representa para quem sofreu. O sentimento é compreensível, mas perigoso. Inclusive, amplamente utilizado na política, com os piores resultados. O ódio, conforme os objetivos, pode representar um campo fértil para quem quer manipulá-lo.
Quando exilado na Argélia, durante a ditadura militar, conheci Ali Zamoum, um dos importantes combatentes pela independência do país. Torturado, condenado à morte pelos franceses, foi salvo pela independência. Amigos da segurança do novo regime localizaram um torturador seu, numa fazendo do interior. Levaram Ali até a fazenda, onde encontrou um idiota banal, apavorado num canto. Que iria ele fazer? Torturar um torturador? Largou ele ali para ser trancado e julgado. Decepção geral. Perguntei um dia ao Ali como enfrentavam os distúrbios mentais das vítimas de tortura. Na opinião dele, os que se equilibravam melhor, eram os que, depois da independência, continuaram a luta, já não contra os franceses mas pela reconstrução do país, pois a continuidade da luta não apagava, mas dava sentido e razão ao que tinham sofrido.
No 1984 do Orwell, os funcionários eram regularmente reunidos para uma sessão de ódio coletivo. Aparecia na tela a figura do homem a odiar, e todos se sentiam fisicamente transportados e transtornados pela figura do Goldstein. Catarse geral. E odiar coletivamente pega. Seremos cegos se não vermos o uso hoje dos mesmos procedimentos, em espetáculos midiáticos.
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Manifestantes protestam durante velório de ex-presidente do PT, em total desrespeito aos amigos e parentes

O texto de Hannah, apontando um mal pior, que são os sistemas que geram atividades monstruosas a partir de homens banais, simplesmente não foi entendido. Que homens cultos e inteligentes não consigam entender o argumento é em si muito significativo, e socialmente poderoso. Como diz Jonathan Haidt, para justificar atitudes irracionais, inventam-se argumentos racionais, ou racionalizadores. No caso, Hannah seria contra os judeus, teria traído o seu povo, tinha namorado um professor que se tornou nazista. Os argumentos não faltaram, conquanto o ódio fosse preservado, e com o ódio o sentimento agradável da sua legitimidade.
Este ponto precisa ser reforçado. Em vez de detestar e combater o sistema, o que exige uma compreensão racional, é emocionalmente muito mais satisfatório equilibrar a fragilização emocional que resulta do sofrimento, concentrando toda a carga emocional no ódio personalizado. E nas reações histéricas e na deformação flagrante, por parte de gente inteligente, do que Hannah escreveu, encontramos a busca do equilíbrio emocional. Não mexam no nosso ódio. Os grandes grupos econômicos que abriram caminho para Hitler, como a Krupp, ou empresas que fizeram a automação da gestão dos campos de concentração, como a IBM, agradecem.

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“Qualquer momento é momento de mandar um bandido embora. Até no enterro da minha mãe eu faria isso”, disse o aposentado de 60 anos com o cartaz na mão
 
O filme é um espelho que nos obriga a ver o presente pelo prisma do passado. Os americanos se sentem plenamente justificados em manter um amplo sistema de tortura – sempre fora do território americano pois geraria certos incômodos jurídicos -, Israel criou através do Mossad o centro mais sofisticado de tortura da atualidade, estão sendo pesquisados instrumentos eletrônicos de tortura que superam em dor infligida tudo o que se inventou até agora, o NSA criou um sistema de penetração em todos os computadores, mensagens pessoais e conteúdo de comunicações telefônicas do planeta. Jovens americanos no Iraque filmaram a tortura que praticavam nos seus celulares em Abu Ghraib, são jovens, moças e rapazes, saudáveis, bem formados nas escolas, que até acham divertido o que fazem. Nas entrevistas posteriores, a bem da verdade, numerosos foram os jovens que denunciaram a barbárie, ou até que se recusaram a praticá-la. Mas foram minoria.
O terceiro argumento do filme, e central na visão de Hannah, é a desumanização do objeto de violência. Torturar um semelhante choca os valores herdados, ou aprendidos. Portanto, é essencial que não se trate mais de um semelhante, pessoa que pensa, chora, ama, sofre. É um judeu, um comunista, ou ainda, no jargão moderno da polícia, um “elemento”. Na visão da KuKluxKlan, um negro. No plano internacional de hoje, o terrorista. Nos programas de televisão, um marginal. Até nos divertimos, vendo as perseguições. São seres humanos? O essencial, é que deixe de ser um ser humano, um indivíduo, uma pessoa, e se torne uma categoria. Sufocaram 111 presos nas celas? Ora, era preciso restabelecer a ordem.
Um belíssimo documentário, aliás, Repare Bem, que ganhou o prêmio internacional no festival de Gramado, e relata o que viveu Denise Crispim na ditadura, traz com toda força o paralelo entre o passado relatado no Hannah Arendt e o nosso cenário brasileiro. Outras escalas, outras realidades, mas a mesma persistente tragédia da violência e da covardia legalizadas e banalizadas.
Sebastian Haffner, estudante de direito na Alemanha em 1930, escreveu na época um livro – Defying Hitler: a memoir – manuscrito abandonado, resgatado recentemente por seu filho que o publicou com este título.3 O livro mostra como um estudante de família simples vai aderindo ao partido nazista, simplesmente por influência dos amigos, da mídia, do contexto, repetindo com as massas as mensagens. Na resenha do livro que fiz em 2002, escrevi que o que deve assustar no totalitarismo, no fanatismo ideológico, não é o torturador doentio, é como pessoas normais são puxadas para dentro de uma dinâmica social patológica, vendo-a como um caminho normal. Na Alemanha da época, 50% dos médicos aderiram ao partido nazista.
O próximo fanatismo político não usará bigode nem bota, nem gritará Heil como os idiotas dos “skinheads”. Usará terno, gravata e multimídia. E seguramente procurará impor o totalitarismo, mas em nome da democracia, ou até dos direitos humanos.

Ladislau Dowbor é professor de economia nas pós-graduações em economia e em administração da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e consultor de várias agências das Nações Unidas. Seus artigos estão disponíveis online em http://dowbor.org.

Fonte: O CAFEZINHO
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E tudo começou, ou recomeçou, com a  hegemonia da neoliberalismo a partir de 1990.

De lá pra cá, a irracionalidade cresce cada vez mais.

Qualquer pensamento, reflexão, ideia, que seja diferente do sistema dominante não é aceita como um exercício natural, mas sim como uma  ameaça ao sistema, e, assim sendo, deve ser prontamente rejeitada.

O resultado é um pensamento único, estreito, amplamente divulgado e incentivado  diariamente pelos meios de comunicação.
 
Como resultado desse processo não existem mais adversários e sim inimigos que  devem ser eliminados  por quaisquer meios.

A cultura do inimigo se espalha em todas as dimensões da vida social, da política a disputa por uma vaga para estacionar o carro.

O concorrente também passou a ser considerado um inimigo, seja na economia ou na disputa por uma vaga de emprego.

Enquanto inimigo, logo alguém que deseja subverter o  pensamento único -  a ordem mater - sua morte é vista com naturalidade, desejada e mesmo festejada.

Na esteira  desse  processo anti - civilizacional, minorias sociais , por serem minorias, também são percebidas como inimigos, seja pela opção religiosa, social, ou outras.

Cresce desta forma, e cada vez mais, a crença de que o mundo hegemônico deve ser compartilhado por iguais, somente iguais, pois as diferenças são vistas como distúrbios do suposto processo evolutivo em curso.

Torturar ou matar o diferente que ousa questionar o pensamento único passa a ser algo natural, civilizado e, assim sendo, tais práticas explodem em todas as dimensões da vida e em todas camadas sociais, seja na atuação da Polícia, ou em uma separação de casal, por exemplo.

Esse processo hegemônico, supostamente evolutivo, está longe de ser revertido, ao contrário, ganha cada vez mais adeptos, em todos os cantos do planeta.

O capitalismo, em sua expressão atual neoliberal, consegue a proeza de recriar um nazifascismo ainda mais brutal.

Talvez sejam indícios de seu  lento, agonizante e doloroso  fim.