sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Frente Brasil Popular

Um passaporte para o futuro: Frente Brasil Popular

Calafetar a greta histórica é o salto ao qual se propõe a Frente Brasil Popular que precisa reunir a força necessária ao seu teste final: as urnas de 2018.

por: Saul Leblon

Paulo Pinto
A estreia da Frente Brasil Popular nas ruas do país neste sábado – com maior intensidade em São Paulo, onde oito mil pessoas atenderam ao chamado do novo comitê unificado do campo progressista brasileiro — merece atenção.

O que engatinha, ainda em fraldas, não é apenas a construção de um novo aparato mobilizador, mas sobretudo, a convergência de agendas que vão definir o programa único de lutas e reivindicações populares.

O desafio não é retórico.

Trata-se de sinalizar um futuro alternativo, e crível, ao assalto em curso da restauração neoliberal no país.

Fazê-lo a partir de lutas e intervenções firmes e consequentes, a ponto de conquistar a adesão e o consentimento da maioria da população é a linha de passagem capaz de levar o país até 2018, sem o golpe.

E de vencer os golpistas consagradoramente então.

Essa é a essência do jogo que começou a ser jogado.

A Frente Brasil Popular içou velas no turbulento oceano político que nos separa daquele momento, disposta a ser o casco e o leme da candidatura que enfrentará a direita unificada no escrutínio histórico que ocorrerá então.

Todo o esforço do conservadorismo hoje consiste em fraturar e obstruir essa travessia.

Inviabilizar o governo Dilma, engessando-o em um pântano de sabotagem econômica e constrangimento institucional é a tática da hora.

Outra, consiste em excluir o nome do ex-presidente, Luís Inácio Lula da Silva, da cédula eleitoral de 2018, como possível candidato da frente que ora se forma.

É compreensível o temor que o confronto inspira nas elites e na borra reacionária que as sustenta.

Sem financiamento empresarial de campanha, com interesses e antagonismos explicitados pela transição de ciclo de desenvolvimento, e uma ênfase em ideias, não em publicidade, o embate sucessório de 2018 caminha para ser o palco pedagógico das contradições que ora travam o passo seguinte do desenvolvimento brasileiro.

Mais ou menos o oposto do que se vê nesse momento.

O assalto em curso da restauração neoliberal avança com relativa facilidade graças ao vácuo de uma dissipação organizativa e ideológica sedimentada nos últimos doze anos.

A reforma ministerial promovida na última semana, correta nas circunstâncias, na medida em que cindiu o golpismo cooptando um pedaço dele, evidencia ao mesmo tempo o grau de fragilidade em que se encontra o campo progressista, paradoxalmente depois do seu mais longo e frutífero ciclo de governos no país.

A despolitização da agenda do desenvolvimento explica uma boa parte desse paradoxo.

Uma mistura equivocada de economicismo e busca de indulgência junto aos detentores da riqueza cimentou um pragmatismo cego que creditou às gôndolas dos supermercados a tarefa de promover a conscientização popular na defesa das conquistas -- inegáveis, diga-se, registradas desde 2003.

O PT e uma parte de seus dirigentes – mas também círculos de seu entorno intelectual — deixaram-se hipnotizar de algum modo pela miragem do boom de commodities, como se capitalismo fosse o consenso e não a tensão na história.

Durante um período longo demais, muitos dentro do governo e do PT acharam que essa era uma ‘não-questão’.

Que tudo se resolveria com avanços incrementais no consumo, que se propagariam das geladeiras abastecidas para a correlação de forças da sociedade, em uma espiral ascendente e virtuosa.

O absenteísmo em relação às bases, às ruas e à luta ideológica; a inexistência de canais de comunicação próprios com a sociedade, tudo parecia tangencial diante do persuasivo poder do tíquete médio de um crescimento contínuo em que, como se disse durante anos, todos ganhariam.

De fato, ganharam.

A eclosão da desordem neoliberal em 2008, porém,  sacudiu esse interregno de conforto expondo com virulência o reduzido grau de tolerância conservadora à construção de uma verdadeira democracia social no Brasil, quando isso implica dividir a riqueza existente, não apenas o fluxo, mas o estoque também.

Fez mais que isso.

Escancarou a frágil organização progressista em um cenário em que o crescimento do excedente já não acomodaria mais os compromissos e os conflitos da sociedade.

O deslocamento do jogo em que todos ganham, para o enfrentamento bruto entre arrocho ou tributação da riqueza financeira, passaria então a dar as cartas na mesa.

Que esse novo tempo tenha liberado o ódio latente ao PT e aos segmentos populares, é compreensível.

Que tenha empalmado inclusive setores incorporados ao mercado de massa nos últimos doze anos, escancara os limites do economicismo que orientou a construção da governabilidade progressista desde 2003.

A contradição atingiu dimensões suficientes para encorajar a direita e seu dispositivo midiático a empreender um mutirão determinado não apenas a derrotar o PT nas urnas, mas a destruí-lo e a seus dirigentes, banindo-os da vida política brasileira.

Não há certeza de que não serão bem sucedidos.

A beira do precipício histórico resgata uma discussão inscrita no DNA da esquerda em nosso tempo, mas abandonada no Brasil à medida em que a governabilidade parlamentar monopolizou as energias e desafios do exercício no poder.

Como ir além dos limites intrínsecos à construção da justiça social numa época cuja singularidade decorre de o Estado não deter mais o poder de comandar o mercado; e a democracia promete mais do que a livre mobilidade dos capitais está disposta a conceder?

Uma primeira pista é que não se pode atribuir à economia aquilo que compete à correlação de forças decidir. Por exemplo, decidir dar funcionalidade ao controle de capitais, subtraindo aos mercados a prerrogativa de desossar as urnas, chantagear partidos, acuar governantes e indiferenciar programas.

A repactuação de um novo ciclo de investimento com distribuição da riqueza é indissociável do avanço da democracia participativa. Inclua-se aí a democratização do sistema emissor de ideias, hoje detido pelo oligopólio das comunicações no país.

O resto é arrocho.

Entre os requisitos para que não o seja inclui-se refazer o caminho de volta às ruas.

Não em eventos esporádicos de uma estrutura esclerosada que desaprendeu a andar no asfalto e na lama das periferias.

Mas através de um novo protagonista coletivo.

Que impulsione as partes do todo de fora para dentro; que tenha estatura, capilaridade e força superior a todas elas, sendo capaz, assim, de fazer o que nenhum de seus componentes unilateralmente conseguiria: alterar a correlação de forças, superando na prática a ilusão de que é possível radicalizar direitos sociais negados pelos mercados, sem radicalizar a democracia.

Não será viável avançar nesse percurso à margem da organização e do discernimento crítico de seus principais interessados.

A nova classe trabalhadora surgida na última década, sugestivamente dissimulada em um eufemismo da sua verdadeira natureza histórica -- ‘nova classe média’—terá que assumir o protagonismo verdadeiro para não sucumbir à uma regressão devastadora.

O sujeito do processo não pode permanecer alheio às raízes do conflito que decidirá o seu destino, sob pena de condenar a sociedade a uma espiral descendente de incerteza e impasse insustentáveis.

Devolver-lhe a identidade política implica dotá-lo de organização e discernimento correspondente ao peso ordenador que passou a ter na economia e na correlação de forças de um período.

A despolitização do projeto de desenvolvimento nos últimos anos levou esse contingente a enxergar sua inserção no mundo como uma relação pessoal com a gôndola e com o limite do cartão de crédito.

Pesquisas nas mãos do PT mostram a desilusão brutal deflagrada pela crise nessa base terceirizada aos supermercados.

Decorre daí uma ruptura que não se sabe se ainda reversível.

A aderência anterior entre o que se convencionou chamar de lulismo e suas referências políticas, esfumou-se.

Esse, na verdade, é o ‘grande ajuste’ que desafia o Brasil progressista na caminhada rumo a 2018.

Trata-se de entender e superar uma clivagem entre o país que ascendeu ao consumo de massa, mas que não se tornou protagonista histórico do próprio destino.

E de fazê-lo em um momento em que as gôndolas já não entregam mais o que prometeram.

Não será fácil.

Mas tampouco a cooptação desse universo será um passeio para o conservadorismo.

Por razões objetivas, mesmo o lulismo desiludido continua a orbitar na lógica oposta a das elites.

Ao trazer 60 milhões de brasileiros ao mercado e à cidadania, o ciclo petista esburacou de maneira formidável a estrada na qual o conservadorismo costumava engatar a ré e acelerar o retrocesso político e econômico, sem nem consultar o espelho retrovisor.

Não é mais possível faze-lo assim.

Daí a hesitação do golpismo diante do pênalti  imposto ao campo progressista, mas que agora quer bater com a adicional garantia de que não haverá guarda-metas no gol.

Quando um melífluo FHC exige que Dilma faça o trabalho sujo do arrocho e depois renuncie -- ‘no prazo de um ano’, é porque desconfia que só um termidor repressivo devastador, de consequências imprevisíveis, permitiria reverter  o potencial econômico e político acumulado desde 2003.

Moro é isso: o golpe por etapas, assim graduado pela hesitação golpista.

A boa notícia na praça é que o campo progressista resolveu se unir para barrar esse risco nas ruas e se credenciar como sujeito dessa que avulta como uma das mais virulentas transições de ciclo de desenvolvimento já enfrentadas pelo país.

Basta lembrar de 32; 54; 64; 1985 e 2002 para se ter a dimensão da explosividade em curso.

A encruzilhada brasileira decorre em boa parte desse descompasso entre requisitos econômicos e regulatórios impostos pela transição de ciclo mundial e local, e a ausência de sua contrapartida no escopo da correlação de forças existente no país nesse momento.

Calafetar a greta histórica é o grande salto ao qual se propõe a Frente Brasil Popular.

Oxalá seja entendida assim pelo conjunto dos partidos, lideranças, movimentos sociais, centrais de trabalhadores e trincheiras intelectuais, como é o caso do Fórum 21.

Esse é o requisito para adquirir a força e o consentimento necessários ao seu teste final: as urnas de 2018.

Fonte: CARTA MAIOR
_______________________________________________________

O progressismo roda, roda, e volta pro PT/PCdoB


Recentemente, dois ex-candidatos presidenciais do PSOL, Heloísa Helena e Randolfe Rodrigues (que foi escolhido pelo PSOL para as eleições de 2014 e desistiu, abrindo espaço para Luciana Genro), ou seja, políticos bastante representativos do partido, deixaram o PSOL e foram para a Rede, partido liderado e inspirado por Marina Silva, a qual apoiou o candidato do conservadorismo no segundo turno das eleições presidenciais de 2014
PT-PCdoB
O Brasil passa por mudanças estruturais importantes em sua dinâmica política e partidária. Partidos são criados, frentes são lançadas, movimentos sociais surgem, se fortalecem e se lançam à disputa política. Entretanto, há uma estrutura por trás de tudo isso que norteia este processo: o espectro progressismo-conservadorismo. É neste espectro que o jogo de forças se prepara para o sistema de chegada ao poder atualmente em vigor: a democracia. Por mais que as unidades de poder de base não territorial tenham sua influência, a unidade de poder de base territorial (o Estado) ainda tem um poder extraordinário, e a forma de chegar ao poder no Estado brasileiro são as eleições de sufrágio universal, com um voto por cabeça e decisões por maioria. E quem disputa as eleições no Brasil, hoje, são os partidos políticos e seus candidatos, pois não são permitidas candidaturas sem partido.
Assim, por mais que meios de comunicação, movimentos sociais, empresariado e outras forças tenham influência, durante o processo eleitoral essa influência é canalizada para os partidos políticos e seus candidatos. Por isso, para compreender mais profundamente os movimentos políticos no Brasil, é preciso correlacionar a estrutura do espectro progressismo-conservadorismo com o quadro partidário brasileiro. Sem isso, não há como se orientar adequadamente no processo eleitoral e na disputa do poder no Estado. E quanto ao processo eleitoral, ele não acontece só no dia da eleição, a cada dois anos, ou mesmo durante a campanha eleitoral. O processo eleitoral é contínuo, na cabeça das pessoas, nos meios de comunicação, no interior dos partidos e em todos os lugares onde se discute política, seja no bar, seja no trabalho ou em qualquer lugar.
Quais seriam então os partidos mais progressistas do Brasil com um mínimo de representação popular? Nas primeiras décadas a partir da redemocratização, a resposta “PT e PCdoB”, como o claro núcleo do progressismo brasileiro, esteve na ponta da língua. De alguns anos pra cá, porém, outro partido, o PSOL, passou a se perfilar como mais um representante do progressismo mais avançado do país. Na verdade, a intenção do PSOL foi mais além, tentando retirar do núcleo do progressismo o PT e o PCdoB para substituí-los nessa região do espectro político. O tempo está mostrando que o PSOL não é adequado para isso. Primeiro, porque o maior erro político do PT e do PCdoB, que foi especialmente a partir da década de 2000 aceitar dinheiro de pessoas jurídicas para financiar suas campanhas, também foi cometido pelo PSOL. Segundo, porque o PSOL não mostrou consistência ideológica mais progressista que o PT e o PCdoB, e uma forte evidência disso é que dois de seus ex-candidatos presidenciais, Heloísa Helena e Randolfe Rodrigues (que foi escolhido pelo PSOL para as eleições de 2014 mas desistiu, abrindo espaço para Luciana Genro), ou seja, políticos bastante representativos do partido, acabaram de ir para a Rede, partido liderado e inspirado por Marina Silva, que apoiou o candidato do conservadorismo, Aécio Neves, nas eleições presidenciais de 2014.
Evidentemente, o PSOL é um partido com um forte componente progressista. Mas o ódio ao PT compromete continuamente este componente, ajudando a ocultar o componente conservador do PSOL, que cada vez mais vem à luz. Outros partidos do Brasil também têm um componente progressista, em maior ou menor medida, como o PDT, o PSB e a própria Rede. A rigor, todo partido tem um componente progressista, por menor que seja. Mas existem partidos que concentram as ideias progressistas, as quais têm clara predominância dentro desses partidos. Hoje em dia, os partidos com os quais o progressismo brasileiro pode contar são o PT e o PCdoB. O PSOL também seria um deles, se não odiasse virulentamente o PT, abrindo caminho em si mesmo para o conservadorismo oculto. Nos outros partidos, as ideias progressistas têm mais dificuldades de se fazer valer, em uns mais, em outros menos.
Por que o PT e o PCdoB mantêm através das décadas essa característica? O PT tem duas coisas que nenhum outro partido expressivo no Brasil tem: eleições internas diretas para seus dirigentes e candidatos, e o maior líder popular da história do Brasil, Lula. O PCdoB tem, para se proteger ideologicamente, a sua hierarquia, mas isso tem um custo para o partido, que é a restrição ao seu crescimento. Entretanto, é um preço que o PCdoB aceita pagar, e lhe permite ser um importante representante do progressismo brasileiro. Agora se abre uma nova fase na política brasileira, pois com a multiplicação de partidos, a formação de frentes é praticamente inevitável. PT e PCdoB já deram um importantíssimo passo nesse sentido, a formação da Frente Brasil Popular (FBP), que fará um ato nacional neste sábado (03/10) em todo o Brasil em defesa da democracia, dos direitos do povo brasileiro sobre o petróleo em seu território e por mudanças na política econômica. Essa frente, que também é integrada por uma série de movimentos sociais, como MST, CUT e UNE, na estrutura do espectro progressismo-conservadorismo, se coloca para ser uma força claramente progressista no panorama nacional, preparando-se para os processos políticos que virão nos próximos meses, anos e décadas. Porque os partidos vêm e vão, mas o progressismo e conservadorismo estão sempre aí, procurando os partidos políticos que os representem. E o progressismo, que já esteve firme com o PT e o PCdoB, começou a olhar para os lados na última década. Teve esperanças com o PSOL, mas este ainda não conseguiu superar o infantilismo (ou conservadorismo, dependendo do caso) do ódio ao PT e assim abriu caminho para o conservadorismo em seu interior e em sua prática, que agora está ameaçando o PSOL de fazê-lo perder sua identidade progressista. O progressismo olhou para o lado também para o PSB, de Miguel Arraes, que uma vez assumido por seu neto, Eduardo Campos, iniciou uma caminho gradual no espectro político rumo ao conservadorismo. Com a morte de Eduardo Campos, esse caminho se acelerou, e o partido apoiou o candidato do conservadorismo nas eleições presidenciais de 2014. Outro momento em que o progressismo olhou para o lado foi quando Marina Silva se candidatou a presidente em 2010, não apoiando ninguém no segundo turno e propondo o lançamento de um partido, a Rede. Infelizmente, em 2014, Marina assumiu uma candidatura presidencial que nem ela esperava, em vez de segurar a onda e deixar que uma pessoa tradicional do PSB assumisse a candidatura no lugar de Eduardo Campos, permanecendo ela como vice. Esse seu movimento conservador se confirmou no apoio ao candidato do conservadorismo, Aécio Neves, no segundo turno. Agora, Marina tenta retomar o antigo caminho do progressismo criando a sua Rede. Mas ela vai ter que chegar ao progressismo partindo do conservadorismo, e depois dos episódios de 2014, é difícil que chegue.
Eu gostaria muito que um partido político no Brasil fosse mais progressista que o PT e o PCdoB. Eu gostaria muito que, antes do Judiciário proibir as doações de pessoas jurídicas, um partido político minimamente influente tivesse tomado a iniciativa de não aceitá-las voluntariamente, o que o PT e o PCdoB não fizeram. Mas não houve nenhum partido que fez isso. Eu gostaria muito que um partido político tivesse instituído eleições prévias abertas a todas as pessoas para a escolha de seus candidatos, como PT e PCdoB não fizeram. Mas não houve nenhum partido que fez isso. Ou seja, eu gostaria muito que houvesse partidos mais progressistas no Brasil que PT e PCdoB. Mas a realidade mostra que não há. Portanto, PT e PCdoB e quem mais vier, vamos em frente com a Frente Brasil Popular, rumo ao futuro! 
Fonte: CULTURA POLÍTICA
_________________________________________________________

Nenhum comentário:

Postar um comentário