Agora é rua
'Se quiserem me derrotar não vai ser na mídia; vão ter que me enfrentar na rua
Lula, no ato de sábado, dos 36 anos do PT, realizado no cais do porto do Rio, fez um discurso divisor.
'Acabou o Lulinha paz e amor', avisou depois de manifestar a indignação com o desmonte do qual é vítima e que agora avança para o assalto final.
'(recebi um aviso) vão quebrar meu sigilo bancário e fiscal, o meu, o da Marisa, o do meu neto...' , ironizou para fuzilar em seguida:
'Esse país não tem um grande partido de oposição. (mas) tem o partido da Globo, o partido da Veja...'
'Pois bem, quero avisar a eles: 'Se quiserem me derrotar não vai ser na mídia; vão ter que me enfrentar na rua'
O desabafo na verdade foi quase uma recomendação cifrada à militância e aos democratas brasileiros.
O ex-presidente falou cercado de rumores e 'avisos' vazados do submundo do golpe.
Um, explícito, neste domingo, segreda que os milicianos da República de Curitiba,'vestiram o uniforme e calçaram as chuteiras para buscar a sua prisão'.
Melhor seria dizer 'os coturnos'.
A informação de 'cocheira' não deve ser subestimada.
Ela vem de quem sempre frequentou ambientes onde iniciativas desse tipo são tomadas.
O 'salve geral' ao agrupamemto conservador foi estampado na coluna de Elio Gaspari, na Folha deste domingo.
O colunista entende de recados.
Sempre teve trânsito fácil nos estábulos onde os coices institucionais da direita são ensaiados. Desde a ditadura cumpre esse papel de depositário de informações privilegiadas.
Se o balão de ensaio for confirmado -- o discurso de Lula, sábado, pode abalar o ímpeto dos centuriões-- a crise política ingressará em uma nova fase.
Tirar Lula da cédula de 2018 não significa apenas lubrificar 'à paraguaia' a vitória conservadora --tenha ela o rosto de Aécio ou Serra. Tanto faz.
Arrancar violentamente da vida política aquele que é considerado o melhor presidente da história por 37% dos brasileiros --Datafolha deste domingo, após meses e meses de cerco diuturno à imagem de Lula-- significa na verdade arrancar da liberdade de escolha dos brasileiros uma opção de desenvolvimento.
Aquela que --mal ou bem, com todos as limitações sabidas e discutidas em Carta Maior-- retirou 40 milhões de pessoas da miséria,acabou com a fome no país, ergueu um cordão de soberania na política externa e sacudiu --ainda que de forma inconclusa-- os interditos aos despossuídos no acesso a direitos universais.
O sinal do que se pretende erguer, depois da terra arrasada, foi dado por Serra agora, na votação da última semana no Senado, quando cumpriu a promessa feita em 2014 à Chevron: entregar a operação do pre-sal às petroleiras internacionais.
O conjunto dos acontecimentos das últimas horas tem um nome e um lugar na história.
Chama-se golpe. E se destina a impor a restauração violenta do neoliberalismo na maior economia da América Latina e principal referencia da luta progressista pelo desenvolvimento no mundo.
O golpe deve ser respondido à altura pelas forças progressistas,democráticas e nacionalistas da nação.
Se no início deste ciclo, ora sob bombardeiro cerrado da direita, dizia-se 'Agora é Lula', hoje uma nova síntese se impõe:
'Agora somos nós'.
Agora é rua.
Fonte: CARTA MAIOR
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