O IMPACTO DA CIÊNCIA SOBRE A VISÃO DO MUNDO
Verônica Rapp de Eston -Professora associada aposentada da Faculdade de Medicina e co-fundadora do Centro de Medicina Nuclear da Universidade de São Paulo
Artigo publicado na Revista THOT, edição n° 53, de 1990
Em
vários momentos da história da humanidade, o desenvolvimento científico
teve um impacto decisivo sobre a visão de mundo. Na Mesopotâmia, por
volta de 4500 a.C., a partir da observação do movimento dos astros,
surgiram a astrologia, a física e a matemática e, em decorrência disso,
uma classe de sacerdotes cuja influência foi predominante durante
muitos séculos. As descobertas científicas do século XVI levaram ao
que, posteriormente, foi chamado de "revolução copernicana". Graças as
observações celestes propiciadas pelo desenvolvimento do telescópio (
Nicolau Copérnico, 1473-1543), Galileu Galilei concluiu que o universo
não era geocêntrico, isto é, não girava em torno da Terra; esta, sim,
girava em torno do Sol. Ao afirmá-lo ele contradizia frontalmente os
ensinamentos da Igreja, tendo sido, por isso, obrigado a abjurar, para
não ser queimado por ordem da Inquisição.
Em consequência de tais o observações realizadas pelo homem, houve um tremenda aceleração nas ciências físicas e um decĺínio da força política da Igreja. Grande parte das questões relativas à posição do planeta Terra no universo e à natureza e significação dos corpos celestes deixou de ser da alçada da teologia e da filosofia e passou para o campo da pesquisa empírica; problemas que antes eram submetidos à apreciação das autoridades eclesiásticas ou de eruditos passaram a ser o objeto de observações sistemáticas e experiências.
Essa transferência de
autoridade propiciou um novo conhecimento do homem e de seu universo,
permitindo a "explosão da ciência", que desde então tem exercido uma
poderosa influência sobre a imagem e a concepção de humanidade.
Entretanto, a ciência está novamente no limiar de uma série de
transformações, cujas consequências podem ter um alcance ainda maior do
que aquelas que emergiram das revoluções de Copérnico, Newton, Darwin e
Freud.
Questões relativas à consciência e à percepção,
experiências subjetivas e transpessoais, as raízes dos postulados de
valores fundamentais e assuntos correlatos constituem hoje um grupo de
preocupações que, tal e qual aquelas relativas ao universo físico,
começam a se deslocar da esfera das investigações teológicas e
filosóficas para o domínio da pesquisa empírica.
O espírito da
ciência clássica é de indagação aberta e sem preconceitos a respeito de
tudo aquilo que interesse ao pesquisador. Segundo Conant ( 1951), a
ciência clássica assenta sobre os seguintes axiomas:
- a razão é o instrumento supremo da humanidade;
- o universo é basicamente físico e ordenado;
- essa ordem pode ser descoberta pela ciência e definida o objetivamente;
-
a observação e a experimentação são os únicos meios válidos para
descoberta da verdade científica, que é sempre independente do
observador;
- os conhecimentos adquiridos pelo uso da razão libertarão a humanidade da ignorância e conduzi-la-ão a um futuro melhor.
Tais axiomas, no entanto, frente aos recentes progressos em diversas fronteiras da indagação científica, tornaram-se menos seguros.
Paradigmas em transformação
Existe uma relação recíproca entre a pesquisa científica e a sociedade em que ela emerge. Os conhecimentos científicos geram aplicações tecnológicas que, por sua vez, modificam o ambiente cultural.
A lenda grega de
Prometeu ilustra magistralmente esse aspecto da ciência. O audacioso
Prometeu roubou o fogo dos deuses e, dessa maneira, deu ao homem o
controle sobre seu próprio destino. Epimeteu, seu irmão, deleitava-se em
brincar com aquelas descobertas, inconsciente das suas consequências.
Irados com o roubo, os deuses vingaram-se; enviaram a Epimeteu uma
esposa, Pandora; ela possuía uma caixa que, uma vez aberta, derramava
sobre a humanidade doenças e aflições; somente a Esperança permanecia na
caixa, a fim de preservar o equilíbrio mental do homem diante de seu
novo infortúnio.
A respeito disso , De Ropp ( 1972) assim se
expressa: " Nossa época, a idade dos novos Prometeus, ilustra, como
nenhuma outra, a profundidade do mito de Prometeu. Jamais os Prometeus
foram tão ousados ou os Epimeteus, tão imprudentes, e nunca a caixa de
Pandora esteve tão abarrotada de ameaças".
Os mitos e as imagens
de uma determinada cultura, por seu lado, influenciam de maneira
marcante aquilo que parece ser possível e tudo o que é aceito
cientificamente ou de outra maneira. As observações não são
independentes do observador, como ressalta o físico nuclear Martin
Deutsch (1959):" No meu próprio trabalho fiquei perplexo pela maneira
como uma idéia preconcebida do pesquisador pode influir sobre os
resultados das suas observações. Thomas Kuhn (1970) usou a expressão
"paradigma científico" para descrever o modelo geral segundo o qual o
homem percebe, conceitua, e valoriza os dados da realidade de acordo com
uma determinada imagem dela que prevalece na ciência, ou em certos
ramos da ciência, em dada éṕoca. Considera-se "ciência normal " o
conjunto desses paradigmas aceitos num contexto definido. Quando há um
acúmulo de dados discrepantes ou anômalos em relação aos paradigmas
"normais" acontecem os períodos de crise na ciência, para que então se
retomem certos temas rejeitados e tidos como tabus durante anos. É como
dizia Bernard Shaw: " Todas as grandes verdade começam como blasfêmias
". Eis apenas alguns exemplos bastante conhecidos: as críticas feitas
por Galileu e outros ao geocentrismo, que por pouco não os levaram à
fogueira; as descobertas de Mendel, em 1865, relativas aos genes, que
permaneceram ignoradas por 35 anos; o estudo da anatomia, durante anos
considerado uma violação do "templo do corpo"; as teorias de Darwin
sobre a evolução das espécies, ridicularizadas e rejeitadas durante
praticamente toda a sua vida, e que ainda hoje se chocam com conceitos
religiosos mais estreitos sobre a " criação do homem".
No século
XVIII houve uma grande contovérsia quanto aos meteoritos , pois não se
aceitava que aquelas rochas pudessem ter caído do céu; assim , os museus
os jogavam fora por não serem "reais". Hoje, os cientistas se
consideram mais esclarecidos e abertos a novas descobertas; no entanto,
subsiste uma série de preconceitos: não há explicação para os OVNIs, mas
eles podem ser observados; nota-se uma resistência às pesquisas ligadas
ao cérebro e à mente; os fenômenos de percepção extra-sensorial são
analisados com descrença pela ciência oficial.
Verificamos , assim
que uma determinada visão de mundo - seja da população em geral, seja
dos meios científicos - pode vir a se constituir um obstáculo para o
desenvolvimento de conhecimentos importantes e, muitas vezes,
fundamentais para o homem.
As limitações do processo científico em si
A atividade humana em que ciência se baseia é a observação e o seu registro, o que representa limites impostos pelo próprio processo de descrição. A esse respeito, Margenau (1963) assim se expressa: " A ciência não mais contém verdades absolutas. Começamos a duvidar de proposições fundamentais, tais como o princípio de conservação da energia, o princípio de causalidade e muitas outras que pareciam firmes e inabaláveis no passado".
Outra limitação importante é a
orientação, mais ou menos exclusiva, pra uma maneira analítico-racional
de resolver os problemas, embora muitas das descobertas fundamentais da
ciência- desde Arquimedes, passando por Newton e Einstein - tenham
decorrido de um lampejo de revelação conhecido como "intuição" e só, a
posteriori, sido comprovadas experimentalmente. A ciência ocidental tem
encontrado dificuldades em definir a intuição. Segundo pesquisas
recentes, constatou-se que a capacidade de expressão lingüística e o
raciocínio analítico estão associados ao lado esquerdo do cérebro,
enquanto o lado direito lida com a percepção sintética, global. Ao se
levar em conta somente as funções da porção esquerda do cérebro,
deixa-se de admitir a intuição.
A terceira limitação do processo
científico é a especialização ou fragmentação da pesquisa científica, um
subproduto da complexidade crescente da ciência. Apesar dos avanços que
proporcionou, a especialização tem levado à perda da visão de conjunto a
à dificuldade na interpretação global dos fenômenos.
Em
decorrência disso surgiu o método reducionista, assim descrito por
Ashby (1973): " Na presença de um sistema, o cientista responde,
automaticamente, desmanchando-o em pedaços. Os animais foram reduzidos a
órgãos e, estes, estudados microscopicamente como células; as células
foram estudadas como coleção de moléculas e, estas, decompostas em
átomos. Os reducionistas afirmavam como dogma que toda ciência deveria
necessariamente avançar dessa maneira." Conheça as propriedades de cada
parte e, ao juntar todas as partes, conhecerá o conjunto'. Esse método,
levado ao absurdo, conduz à afirmação de que 'a vida nada mais é que
física e química'. Szent-Gyorgi(1961) chega a declarar que 'a biologia
depende do critério do físico'." No século passado houve grande
progresso ao se utilizar tal método, pois eram estudados sistemas em que
havia pouca ou nenhuma interação entre as partes ( nesse caso, o todo
seria a soma das partes). Contudo, nos sistemas que envolvem múltiplas
interações entre as partes componentes - como os biológicos ou os
ecológicos - a teoria reducionista não consegue explicar o funcionamento
do todo.
Por fim, está sendo questionada também uma idéia
clássica da ciência, a de que o mundo objetivo explorado pelos vários
métodos científicos é independente da experiência subjetiva do
pesquisador. Na física das partículas, a perturbação do sistema objetivo
pelo ato da observação passou a ser conhecida como "princípio da
incerteza de Heisenberg". Mas é na área das pesquisas psíquicas que ela
pode ser detectada com maior nitidez, pois os fenômenos psíquicos só
terão uma realidade em si se mente do observador for parte integrante do
experimento.
Assim , a atual visão de mundo foi grandemente
influenciada pelo conhecimento do mundo físico, o que contribui para a
ênfase materialista da cultura como um todo. O desenvolvimento da
ciência contemporânea desafia os velhos paradigmas científicos,
influindo decisivamente sobre a formação da imagem do homem. Um não é a
causa do outro, mas ambos devem se mover conjuntamente.
Fronteiras cruciais na pesquisa científica
Contestações aos paradigmas passados tem surgido em fronteiras avançadas das pesquisas. Isso se dá em campos os mais diversos - a física, a biologia, a psicologia, a parapsicologia, etc. - como mostraremos a seguir.
Física moderna e cosmologia
Idéias novas e revolucionárias começam a se desenvolver a partir de 1870, quando Clifford sugere que uma partícula de matéria não passa de uma espécie de montículo no espaço geométrico. Pesquisas posteriores, de Maxwell, Planck e Einstein, culminaram na afirmação de Bohr: a luz tanto poderia ser onda como partícula. Einstein reuniu as noções de tempo e espaço na sua Teoria da Relatividade Geral e, sugeriu não somente que matéria e energia dividem a mesma equação, mas que a gravidade também pode ser incluída numa teoria de campo unificado. Repentinamente, o universo se transformava em pura geometria. Nas palavras de Margenau ( 1963): " O átomo sólido e duro transformou-se , quase que completamente, em espaço vazio. Os elétrons podem ser pontos, singularidades matemáticas, perseguindo o espaço".
Na realidade tudo parece estar
recuando. Como a relatividade Geral predisse, o universo está em
contínua expansão. Ultrapassamos a limitada visão copernicana do astro
solar com seus planetas e descortinamos uma imensa galáxia em forma de
disco com 100 mil anos luz de diâmetro, povoada de 100 bilhões de
estrelas, expandindo-se a uma velocidade de 35 quilômetros por segundo. E
essa é apenas uma das muitas galáxias existentes num universo cujo
limite conhecido está a bilhões de anos luz de distância e repleto de
milagres estranhos, como quasares, pulsares e buracos -negros. Em meio a
isso, levantam-se postulados mais estranhos ainda, como antimatéria, o
tempo retrocedendo, massa negativa e partículas que viajam a velocidades
maiores que a luz.
Além disso, como dizia Jeans (1973), " o
universo começa a se assemelhar mais a um grande pensamento do que a uma
grande máquina ". A física moderna e a cosmologia colocaram a
humanidade em um universo imensamente mais rico e extraordinário do que a
visão copernicana poderia imaginar. Segundo LeShan (1969), a imagem do
homem cósmico, na física moderna, é muito semelhante à do "homem no
universo " das filosofias orientais: nestas, a realidade é
aparente,dinâmica e habitada tanto pela harmonia quanto pela
singularidade (estranheza). Antes, a interpretação histórica do tempo
era subordinada à busca de poder, simbolizada pela mecânica newtoniana,
que tratava os corpos que se movem no espaço como recipientes inertes,
desprovidos de energia. A idéia do espaço-tempo de Riemann, mostra já um
forte toque chinês: " Campos de força compõem e extensão do universo,
que apresenta uma infinidade curvilínea".
Outras ciências físicas e biológicas
Em duas áreas das ciências físicas houve um impacto fortíssimo sobre a imagem do homem. Uma delas diz respeito a entropia², cujo conceito emergiu do estudo da termodinâmica³. De acordo com a Segunda Lei da Termodinâmica, os sistemas isolados tendem naturalmente para um estado de desordem máxima e o universo será fatalmente invadido pelo caos. Sendo essa uma lei da natureza, nada pode ser feito para evitá-lo; o ser humano e a vida passam a ser vistos como insignificantes, não existe um processo possível de evolução, pois o universo está em decadência. Todavia, Huxley(1963) e outros contrapuseram o argumento de que os sistemas vivos esto sujeitos a condições diferentes. Assim , a entropia deve ficar restrita ao tratamento de sistemas fechados, em estado de equilíbrio e sem intercâmbio com o meio ambiente. Os sistemas vivos, ao contrário, são abetos e estão em constante troca com o seu meio ambiente; portanto, o resultado final será diferente. A situação atual da física, onde não é mais possível a certeza absoluta, nos adverte de que os paradigmas científicos são falíveis.
De maneira
semelhante, a visão mecanicista da cibernética de que " o cérebro é
simplesmente uma máquina de carne" se transformou no conceito de que o
computador é uma extensão do sistema nervosos humano. Porém, segundo
McLuhan, os computadores poderão somente aumentar o intelecto humano,
jamais terão consciência de si mesmos, como o homem. A consciência
humana parece ter propriedades que nunca poderão ser criadas
artificialmente.
O ser humano como espécie
Os estudos da dinâmica de crescimento da população humana demonstram que a humanidade apresenta características de crescimento semelhantes às de outras espécies vivas. No início, deve ser garantida a sobrevivência do indivíduo através da competição e da permanência do mais apto. Mais tarde, o que importa é o comportamento global da espécie, isto é, a cooperação e a permanência do mais sábio. Essas pesquisas revelam que o homem precisa evoluir apoiado numa imagem de seu ser que leve em conta a sobrevivência de toda a espécie.
Intimamente relacionados a estes
conceitos estão os estudos da ecologia, que modificaram totalmente a
imagem do homem. Ele deixou de ser o conquistador da natureza e passou a
cooperar com ela, pois se deu conta de que há uma interdependência
entre a existência humana, a de outras espécies e o meio ambiente como
um todo.
Por outro lado, a teoria da evolução se ampliou, passando
do nível das espécies para o nível molecular-atômico. Darwin (1859) foi
o primeiro a considerar a inter-relação de todas as espécies, como um
todo em evolução. A revelação da existência dos genes, por Mendel,
evidenciou o mecanismo da hereditariedade, e a descoberta levada a cabo
por Watson, em 1953, de que o DNA(4) é o veículo da informação
genética, levou os conhecimentos ao domínio molecular.
Essas
descobertas desencadearam um acirrado debate sobre a importância do
acaso ou do determinismo no processo de evolução. Monod (1971) afirma
que "somente o acaso é a fonte de todas as inovações, de toda a criação
na biosfera". Dessa maneira, a espécie humana seria puramente um
resultado do acaso. Entretanto, outros pesquisadores, como Waddington e
Weiss (1969), declaram que o gene sofre influência do meio molecular e
orgânico. Os sistemas que se desenvolvem pela evolução seriam, assim, os
cadinhos de um processo criativo ( Dobzhansky, 1971), e a evolução
tenderia a sistemas cada vez mais complexos e sofisticados. Em nossa
espécie, a cultura é um fator de influência devido ao cérebro, órgão
cuja evolução é favorecida por sua capacidade de permuta de experiências
e pensamentos ( Foerster, 1971). Teilhard de Chardin já havia
observado, em 1961, que " a evolução é uma ascensão em direção à
consciência". Em função disso , o homem estaria na vanguarda desse
processo cósmico de evolução ( Huxley, 1963).
Biologia molecular e genética
Os atuais desdobramentos das ciências
biológicas revelam que a unidade básica da vida é a célula e que suas
informações são armazenadas nas moléculas de DNA dos genes. Essa
descrição totalmente física dos sistemas vivos ameaçou as filosofias
"vitalistas", que defendiam o ponto de vista da existência de um
componente especial, não físico, nas entidades vivas. Segundo Hayes
(1971), essa visão do homem como um produto final complexo e mesmo
previsível de uma evolução macromolecular terá, certamente, um efeito
profundo sobre as nossas atitudes sociais , éticas e políticas.
Atualmente predomina o conceito de
que o homem é o resultado final de sua constituição genética, que lhe
fornece o potencial sobre o qual atuam as experiências adquiridas,
principalmente, na primeira infância; os genes dariam ao homem o
potencial a ser modelado pelo meio ambiente. Entretanto, o conceito de
carma das doutrinas do Oriente sugere que, no futuro, outras influências
poderão ser incluídas.
As noções mais recentes de engenharia genética e de clone(5)
aventam a possibilidade de manipulações genéticas por parte do próprio
homem, quando a natureza humana estaria sujeita à sua escolha, o que
poderia reavivar processos de eugenia(6).
Exobiologia e origem da vida
As pesquisas de Miller (1963) e Fox
(1971) demonstraram que os aminoácidos podem se formar espontaneamente a
partir de seus componentes químicos elementares e dar origem a formas
mais complexas de proteínas, principal componente dos organismos vivos.
Por outro lado, descobriu-se que, desde a formação do nosso planeta
até o aparecimento das formas de vida mais simples, meteoros trouxeram
do espaço milhões de toneladas desses mesmos aminoácidos para a Terra.
Oistraker (1973) assim se expressa: " Os átomos do seu corpo já passaram
por vários astros , eles já foram ejetados, muitas vezes, como gases de
estrelas em explosão ". Tais noções fomentam a procura de outras formas
de vida nos planetas de nossa galáxia e conduzem à "biologia
cosmológica ", conforme definida por Bernal ( 1965): " Uma biologia
verdadeira, em seu pleno sentido, seria o estudo da natureza e
atividade de todos os objetos organizados onde quer que sejam
encontrados nesse planeta, em outros do sistema solar, ou em outras
galáxias, em todos os tempos, no passado ou no futuro".
Sem dúvida alguma, o aumento dos
conhecimentos nessa área é de primordial importância para as mais
profundas e antigas questões biológicas e filosóficas e terão um impacto
decisivo sobre os nossos sistemas religiosos, filosóficos e políticos
(Handler, 1970).
Pesquisas do cérebro
Na medicina, uma das fronteiras que
mais avançam é a da pesquisa das funções cerebrais. Os primeiros estudos
do cérebro já demonstravam, no final do século XVIII, que ele pode ser
exitado eletricamente. Do fim do século passado a meados deste, as
pesquisas permitiram o mapeamento minucioso das áreas do cérebro por
meio de eletrodos finíssimos introduzidos em inúmeros
pontos, com estimulação elétrica posterior. Segundo Delgado (1969), " o
estímulo elétrico de estruturas cerebrais específicas pode provocar,
manter, modificar ou inibir funções autônomas e somáticas, o
comportamento individual e social e as reações emocionais e mentais
tanto no homem como em animais. O controle físico de inúmeras funções
cerebrais é um fato demonstrado, porém as possibilidades e limites desse
controle ainda são desconhecidos".
De igual importância são os
resultados de pesquisas mais recentes sobre a química das funções
cerebrais, de acordo com os quais a desnutrição pode produzir sérios
danos para o cérebro em desenvolvimento. Outras teorias sugerem o
envolvimento de processos químicos no cérebro relacionados com a
aprendizagem e a memória; por meio de experiências realizadas em
camundongos de linhagem altamente purificada, detectaram-se diferenças
genéticas naqueles processos. Foram descobertas também muitas
substâncias químicas cujos efeitos vão desde a alucinação até a
tranqüilização e o transe.
Baseando-se nessas pesquisas, Delgado
propôs uma sociedade psicocivilizada, que seria manipulada por
processos elétricos, semelhante às sociedades controladas descritas por
Huxley ( Admirável mundo novo) e Orwell ( 1984).
Outros estudos focalizam a divisão do
cérebro em duas metades, sendo a esquerda a que fala, raciocina, lê
esta página, por exemplo, e a direita a responsável pela orientação no
espaço, a imagem corporal, o reconhecimento de faces, etc. Esta parte
processa a informação de maneira mais difusa e integra informações com
maior rapidez; a esquerda é analítica e reducionista, a direita
holística(7) e interativa.
Sperry (1967) observa que essa assimetria funcional do cérebro parece
ser exclusiva dos mamíferos superiores e está mais desenvolvida no
homem. Nos indivíduos normais, ambas as partes estão conectadas e há um
intercâmbio de informações. O estudo das complexas inter-relações de
ambas apenas se inicia e ainda esbarra em dificuldades quando se trata
das funções mentais mais elevadas e de especificar quais os centros que
governam as diferentes atividades.
As técnicas de feedback (8)
mais recentes trouxeram uma grande contribuição nessa área. No
Ocidente, fazia-se uma distinção entre o sistema nervosos voluntário (
autônomo) e o involuntário ( vegetativo ). No Oriente, por outro lado,
há milênios se afirma que qualquer função do corpo pode ser modificada
conscientemente, o que tem sido confirmado pelas últimas pesquisas -
pode-se controlar as funções orgânicas mediante um treinamento
adequado. Afastamo-nos, assim, da imagem "robotomórfica" criada pelas
pesquisas dos controles elétricos e químicos do cérebro.
De acordo com Anokhin (1971), é
verdadeiramente astronômico o número possível de estados do cérebro, e,
para alguns, ele se assemelha cada vez mais a um enorme holograma (9)
( Pribram, 1971). Eis o comentário de Weisskopf (1972): " Quanto mais
penetramos na complexidade dos organismos vivos, na estrutura da matéria
ou nas vastas expansões do universo, mais nos aproximamos dos problemas
fundamentais da filosofia natural. De que maneira um organismo em
crescimento desenvolve suas estruturas complexas ? Qual é significado
das partículas e subpartículas que compõem a matéria ? Quais são a
estrutura e a história do universo ?"
Ritmos biológicos e campos bioelétricos
A biologia moderna pesquisou
sobretudo os aspectos químicos dos seres vivos. Em décadas recentes,
porém, outros fatores foram verificados, como o efeito das radiações
eletromagnéticas e das flutuações geomagnéticas sobre os parâmetros da
funcionalidade humana ( tempo de reação, humor, e a velocidade dos
processos biológicos ). Relacionou-se, por exemplo, a maior procura
hospitais psiquiátricos com a ocorrência de flutuações geomagnéticas. Só
recentemente a "poluição eletromagnética" vem sendo investigada (
Healer, 1970).
Muitos dos fenômenos ambientais são
de natureza rítmica, podendo-se dizer o mesmo em relação ao homem.
Ressurgiu, então, o interesse pelos ritmos biológicos, a sua
significação para o ser humano, da forma de pesquisas que lembram as dos
antigos astrólogos pela ênfase dada à relação entre ambiente cósmico e
acontecimentos humanos.
Em escala mais ampla, os padrões
rítmicos de muitos fenômenos sociais, tais como guerras e conflitos,
evocam a imagem aristotélica do universo como um organismo - o conceito
cosmobiológico da natureza. Consideradas globalmente,
as pesquisas científicas vêm
corroborar a concepção oriental de indivíduo, concebido como parte
essencial de um processo evolucionário cósmico.
Pesquisas sobre consciência
A ciência ocidental tem estado
preocupada exclusivamente com o conhecimento objetivo, com a relação das
coisas entre si, sem levar em consideração a consciência do
observador. Entre este e a realidade levantou-se uma barreira de
instrumentos. Nos anos mais recentes, porém, os estados de
consciência em si têm despertado grande interesse. Estudam-se os
fenômenos do sono, dos sonhos, a meditação, o controle das ondas
cerebrais, ioga, hipnose, etc. O eletroencefalógrafo e a monitoração
dos movimentos dos olhos durante o sono estão trazendo contribuições
valiosas para as pesquisas. Verifica-se que muitos estados alterados de
consciência podem ser estudados através de métodos científicos, deixando
de ser fenômenos puramente religiosos ou místicos. Na realidade, a
consciência "normal" é apenas uma parte das potencialidades humanas
totais, da mesma forma que a luz visível não passa de uma fração mínima
de todo o espectro eletromagnético.
Hipnose
Ela pode ser definida como um estado
mental geralmente induzido por outra pessoa, em que, por sugestão, há um
controle sobre estados habitualmente fora do domínio do hipnotizado.
Nesse estado, pode-se controlar a dor e os processos físicos (o fluxo
sanguíneo), tratar de diversas moléstias e aumentar as habilidades
mentais, a memória e a criatividade. Esses fenômenos são produzidos
também por auto-hipnose e auto-sugestão. Tem sido amplamente empregados
na medicina através do "treinamento autógeno", introduzido por Schultz
(1950) e Luthe (1963), visando relaxamento, tranqüilização e aumento do
fluxo sanguíneo para mãos e pés. A lista de usos potenciais da hipnose é
extensa, e a maior parte das pessoas está apta a aprender técnicas da
auto-hipnose. Entretanto, a preferência por processos físicos-químicos e
cirúrgicos é tão grande na medicina ocidental, que mesmo processos
psicológicos são tratados com drogas e psicocirurgia ao invés dos
métodos psicológicos.
Biofeedback (10)
Essa técnica dá à pessoa uma
indicação precisa e imediata sobre determinado processo físico no
momento em que ele ocorre. As pesquisas mais conhecidas sobre o controle
das ondas cerebrais foram feitas por Kamiya (1969), que recorreu ao
eletroencefalograma¹¹. Quando surgem as ondas alfa, soa uma campanhia e o
sujeito deve registrar de que maneira está pensando naquele momento,
tentando manter esse estado de consciência. Com esse método, consegue-se
aumentar a proporção de ondas alfas após um treinamento de algumas
horas e se aprender a controlar estados internos, como pressão
sanguínea, frequência cardíaca, temperatura do corpo e da pele e até a
atividade elétrica de células da medula espinhal. Esse método
demonstrou, com técnicas ocidentais, aquilo que métodos orientais como a
ioga e a meditação já haviam alcançado há milênios - a possibilidade de
um controle psicossomático sobre muitas das funções neurovegetativas.
Além do mais, a pessoa treinada nessa técnica se torna mais sensível às
modificações do meio ambiente, como mudanças magnéticas ou
eletromagnéticas.
Os sonhos
São os estados alterados de
consciência mais comumente vivenciados pelas pessoas. Desde tempos
imemoriais tenta-se interpretar os sonhos, do que se valeram também os
psicoterapeutas, como Freud (1950), Jung (1953) e outros. Na década de
50, Aserinsky e Kleitman (1955) descobriram um método muito simples de
se estudar os sonhos: o indivíduo adormecido passa por vários ciclos de
sono e de sonhos, que são acompanhados de movimentos rápidos dos olhos (
REM¹²); estes vão sendo registrados e, em dado momento, a pessoa é
acordada, quando deve se recordar do que estava sonhando. Esse método
demonstrou que as pessoas tem uma vivência extensa e importante durante
os sonhos, que contribui para sua saúde psicológica, emocional e física.
Eis as principais conclusões a que se chegou até o momento: o ato de
sonhar é essencial para a saúde mental, e sua privação tem efeitos
psicológicos nocivos; os sonhos podem indicar soluções para problemas
pessoais de ordem prática; eles também favorecem as criações
literárias e artísticas; eles podem apontar conflitos e necessidades
emocionais, como também mensagens de percepção extra-sensorial , ou PES
( telepatia, precognição e outras).
Meditação
Embora seja prática comum no Oriente
há milênios, só recentemente a ciência ocidental tem procurado
esclarecer esse fenômeno através de técnicas científicas. Existem dois
tipos básicos de meditação: no primeiro, o indivíduo se concentra em um
objeto, pensamento, som ou qualquer outra sensação interna ou externa,
com o qual tenta se fundir; no outro, ele procura esvaziar a mente de
pensamentos , idéias e sensações. As pesquisas demonstram que durante a
meditação há uma diminuição das taxas de metabolismo basal, respiração,
fluxo sanguíneo e consumo de oxigênio, além de um aumento das ondas alfa
no cérebro e maior relaxamento (Wallace, 1970). Os efeitos psicológicos
relatados são múltiplos: recordação de experiências, capacidade de
abstração, modificação na cor e forma dos objetos e, sobretudo, uma
sensação de relaxamento e paz ( Deikman, 1963, e Tart, 1969 ). Segundo
estudos realizados por meio de encefalograma, na técnica zen de
meditação a percepção do mundo exterior é mantida ( Kasamatsu e Hirai,
1966), enquanto na ioga os estímulos externos são ignorados ( Anand,
Chhina e Singh, 1961). Para que a meditação surta efeito, às vezes são
necessários muitos anos de aprendizagem e prática. Os que conseguem
atingir a meditação profunda relatam uma experiência psicológica que
Bucke (1901) chamou de "consciência cósmica". Em 1960, ele assim a
descreveu: "A característica fundamental da consciência cósmica é, como
seu nome indica, a consciência do cosmo, isto é, da vida e da ordem do
universo. Ela vem acompanhada de esclarecimento intelectual ou
iluminação que, por si só colocaria o indivíduo num novo plano de
existência - torná-lo-ia quase o membro de uma nova espécie. A isso
acrescentam-se um estado de exaltação moral, uma sensação indescritível
de elevação, exultação e felicidade, e uma excitação do sentimento
moral, que é inteiramente admirável e mais importante para o indivíduo e
para a humanidade do que o tão enaltecido poder intelectual. Ao lado
disso, surge o que se poderia chamar de 'senso de imortalidade', uma
consciência de vida eterna - não a convicção de que ele deverá tê-la,
mas a consciência de que ele já a possui".
Essa forma de transfiguração já foi
relatada inúmeras vezes por místicos de diferentes épocas e religiões
(Deikman, 1963) e indica que a meditação permite insights¹³ de partes
mais profundas da consciência (14).
Drogas psicodélicas
Nos últimos decênios, tem-se
pesquisado uma variedade de substâncias químicas que alteram a qualidade
e as características da consciência, como o ácido lisérgico, a
mescalina, a psilocibina e outras, genericamente conhecidas como drogas
alucinógenas, psicodélicas ou psicoativas. Segundo Masters e
Houston (1966), essas drogas aparentemente são capazes de estimular as
percepções e sensações, pois dão acesso a lembranças e experiências
passadas, facilitam a atividade mental e produzem alterações no nível de
consciência, incluindo-se aí as experiências transcendentais de
natureza religiosa, mística e cósmica. Se usadas indevidamente, porém,
tais drogas podem causar uma série de perturbações mentais e atitudes
anti-sociais, o que levou à restrição de seu uso, mesmo em condições
experimentais perfeitamente controladas.
Processos inconscientes e estímulos subliminais
A teoria segundo a qual parte dos
nossos pensamentos e processos mentais está fora de nossa percepção ou
consciência normal está sendo plenamente aceita hoje em dia. Essa parte
foi inicialmente chamada de "eu subliminal" por Myers (1903), e
tornou-se mais conhecida como "inconsciente" após os estudos de Freud
(1950). A princípio, a sugestão de processos inconscientes entrou em
conflito coma imagem do homem racional, totalmente consciente dos seus
pensamentos e do seu comportamento. Hoje, porém, já se admite que nossa
consciência não chega a englobar todos os processos mentais do homem,
muito embora eles influam sobre nossas ações, pensamentos e sentimentos.
A noção de que os sentidos podem receber informações situadas abaixo
dos níveis normais de percepção - a chamada estimulação subliminal - é
também motivo de controvérsias. Ao reexaminar recentemente tal fenômeno
através de métodos de pesquisa, Dixon (1972) concluiu que ele realmente
existe. Em nossos dias, os estudos voltam-se para o super-consciente,
para as qualidades mais positivas da mente, e, enfatizam-se os seus
aspectos criativos, intuitivos e inspiradores (Assagioli, 1965;
Aurobindo, 1972; Teilhard de Chardin, 1961). Essas atividades
superconscientes são expressas em sonhos, pressentimentos, sensações e
"conhecimento intuitivo". O novo conceito, que está sendo estudado por
filósofos, psicólogos e outros pesquisadores, poderá causar um impacto
sobre as noções de psicologia semelhante ao da teoria freudiana.
Com vistas a uma ciência da consciência
Vários autores têm buscado explicações para a consciência e suas alterações, como Lily, Muses, Tart (1972) e outros, o
que indica que tal pesquisa é cientificamente possível. Até o momento,
identificou-se um grande número de diferentes estados de consciência. De
acordo com Tart ( 1972, 1973), esses estudos poderão ter consequências
profundas, não somente para a ciência - presa, ainda, à idéia de que o
estado normal ou racional da consciência é o melhor para a sobrevivência
neste planeta e para a compreensão do universo -, como também para a
visão do mundo e da humanidade. A idéia que emerge dessas pesquisas,
quando tomadas em seu conjunto, é basicamente a mesma da teoria
evolucionária, na qual a evolução tende para uma complexidade crescente
no plano físico e maior percepção na área da consciência.
Parapsicologia e pesquisas psíquicas
Os fenômenos paranormais ainda não tem explicação dentro das leis conhecidas do universo. Por esse motivo foram, até há pouco, rejeitados pela ciência ocidental. São eles a telepatia, a clarividência, a precognição, e a psicocinese ou telecinese. Os três primeiros são conhecidos genericamente como fenômenos psi (15) ou percepções extra- sensoriais ( PES ou ESP ). A psicocinese é rotulada, às vezes, de fenômeno psicoenergético. Na telepatia dá-se a percepção das atividades mentais de outra pessoa sem o emprego dos sentidos usuais e comunicação. A clarividência consiste na habilidade de se obter informações ou perceber eventos que ocorrem em locais distantes de maneira direta, não utilizando os meios normais de comunicação. Pela precognição pode-se prever acontecimentos que vão ocorrer no futuro, sem a intervenção dos dados usuais da dedução. Na psicocinese, o indivíduo consegue movimentar objetos por meios não físicos ou por influência mental direta.
Até anos recentes, as únicas provas
da ocorrência de tais fenômenos eram as estatísticas sobre indivíduos
que apresentavam essas faculdades (Rhine, 1961). Entretanto, vários
psicólogos e outros pesquisadores vêm demonstrando, através de métodos
ocidentais, que, em condições especiais, esses fenômenos podem realmente
ocorrer. As pesquisas modernas concentram-se na busca dessas condições
necessárias para que se intensifiquem os fenômenos da psique, num
procedimento análogo ao da química, em que se obtém um produto a partir
de vertas condições de temperatura, pressão e concentração de reagentes.
A telepatia e outras informações psi
são em geral recebidas subliminarmente e tornam-se acessíveis à mente
consciente de pressentimentos, sonhos, intuições e sensações (Rhine,
1961). É possível treinar habilidades psíquicas por meio de técnicas de
feedeback imediato para incrementar o processo de aprendizagem.
Estados alterados de consciência,
como o relaxamento profundo, facilitam a recepção de informações PES;
isso foi verificado nos sonhos (Ullman e Krippner, 1970), no relaxamento
profundo (Brand e Brand, 1973), nos estados que induzem às ondas
cerebrais alfa (Honorton, 1969) e nas sugestões hipnóticas ( Krippner,
1967).
Certos aspectos da física que
pareciam afastar, pela lógica, maioria dos fenômenos psi não são mais
mantidos de maneira tão rígida. É o que está ocorrendo, por exemplo, na
física quântica em relação às descrições clássicas de causalidade e
conservação de energia ( Margenau, 1966). Surgem teorias baseadas na
mecânica quântica e na física para explicar esses fenômenos ( Walker,
1973; Muses, 1972; Kozyrev, 1968; Koestler, 1972 ).
A mecânica quântica está fornecendo
contribuições importantes para a compreensão do funcionamento do
cérebro, e é uma das áreas científicas de crescimento vital.
Dixon (1972) demonstrou que os
estímulos subliminais podem afetar os sonhos, a memória, a percepção
consciente, as respostas emocionais, etc. Nesse sentido, a experiência
de Puthoff e Targ (1974) tornou-se clássica. Eles verificaram que
quando uma luz estroboscópica (16)
com cerca de quinze lampejos por segundo atinge os olhos de um
indivíduo, uma onda alfa característica aparece em seu
eletroencefalograma (EEG). Outro indivíduo, colocado à distância e
perfeitamente isolado, serve de receptor da informação, devendo advinhar
quando a luz está sendo lançada nos olhos do primeiro sujeito. Em
geral, o segundo advinha, na base do acaso, quando a luz está acesa ou
não. No seu EEG, no entanto, aparece a onda alfa reveladora. Pode-se
tirar daí uma importante conclusão: inconscientemente, de maneira
extra-sensorial, o segundo sujeito sabe quando a luz está acesa, mesmo
negando esse fato à sua mente consciente. Assim, a capacidade telepática
seria comum a todos, estando reprimida na maioria das pessoas. Se isso
for verdade, o mesmo pode ocorrer com todos os outros fenômenos psi.
Fica evidente, então, que as potencialidades humanas e os processos
inconscientes são muito mais amplos do que se supunha segundo os antigos
paradigmas.
O impacto de todas essas teorias
sobre a cultura moderna pode ser profundo. O paradigma científico
ocidental, presentemente aceito, da "realidade" tende a ser físico,
causal, mecanicista e objetivo. Os dados das pesquisas psíquicas, por
outro lado sugerem que a realidade inclui efeitos parafísicos, que os
estados mentais não materiais existem e interagem com os sistemas
físicos e que a consciência transcende a natureza física do homem.
A teoria geral dos sistemas e a cibernética
Na década de 20 ou 30, pesquisadores eminentes do ramo de biologia, como Cannon, Bernard e outros, já começavam a questionar a visão reducionista nos sistemas biológicos, à procura de uma descrição mais global. Mas essas idèias só foram mais largamente reconhecidas após a Segunda Guerra Mundial; nesse período foi possível agregar conclusões de vários cientistas surgidos independentemente em diferentes centros, tanto da Europa como dos Estados Unidos. O conjunto dessas idéias é conhecido como cibernética, teoria da comunicação, teoria da informação ou teoria dos sistemas.
A teoria geral dos sistemas é, em essência, uma tentativa de integrar, em termos racionais, os diferentes conhecimentos obtidos nos vários ramos de pesquisa. Ela procura ser, ao mesmo tempo holística e empírica. Sua proposição básica é que as leis e os princípios que governam os sistemas relacionados com uma área do conhecimento provavelmente são também importantes para outra área do conhecimento.
Weiner (1954) observou, por exemplo, que o funcionamento dos sistemas modernos de computação é muito semelhante àquele dos organismos vivos; em ambos existem processos semelhantes para coletar informações do mundo exterior, transformá-las em esquemas mais convenientes, basear a ação na informação transformada e comunicar as consequências de volta ao aparelho interno de regulação. Dessa forma, o desequilíbrio causado no sistema por um agente externo é contrabalançado pelo uso de feedback para se voltar ao equilíbrio anterior(17).
A expressão "teoria geral dos sistemas" foi criada simultaneamente em 1954, por Von Bertalanffy(1967), biólogo teórico, Boulding (1961), economista, Gerard (1954), neurofisiologista e Rapoport (1954), matemático. Eles rejeitam especificamente a tese de que uma pessoa é apenas um conglomerado das partes que a constituem, idéia por muito divulgada pelos reducionistas ( Buckley, 1968). Segundo Weiss (1969), o número de afirmações necessárias para se descrever o todo é mais do que o necessário para se descrever as partes. O termo "mais" não significa o acréscimo de alguma quantidade mensurável do sistema, mas a necessidade de se descrever o comportamento conjunto das partes quando elas se apresentam num grupo organizado.
Essa visão holística tem uma importância imediata para o estudo de muitos aspectos do ambiente humano. Nas palavras de Bateson (1972), "a sabedoria está em reconhecer uma orientação pelo conhecimento do sistema total da criatura. A falta dessa sabedoria sistêmica é sempre punida. Os sistemas biológicos, o indivíduo, a cultura e a ecologia (...) são castigados quando não levam em consideração a sua ecologia. Se se quiser, poder-se-á dar a essas forças sitêmicas o nome de "Deus".
Interação entre ciência e sociedade
A ciência, atualmente, influencia cada vez mais a sociedade, tanto pelo impacto tecnológico, como pelo número de pessoas ligadas às suas atividades.
Durante os últimos cem anos, a ciência desempenhou, entre os povos mais evoluídos, o mesmo papel antes atribuído à religião. Todos os fenômenos naturais tinham de ser explicados em termos científicos para que fossem aceitos. Dessa maneira, muitas experiências subjetivas ou fatos ainda sem explicação "científica" foram rejeitados, por serem considerados apenas ilusões. É o caso dos fenômenos psíquicos, OVNIs, experiências religiosas e mesmo alguns dos tabus anteriormente aqui descritos. Em anos mais recentes, esses fatos relatados há milênios estão sendo analisados por inúmeras instituições, que os submetem a métodos aceitos pela ciência ocidental.
Concomitantemente a essa mudança na visão científica, ocorre o desencanto da sociedade com a ciência, pelos efeitos muitas vezes desastrosos da aplicação de tecnologias desenvolvidas, como a crise ecológica e o abuso da ciência para fins de tecnologia militar (foguetes, bombas atômicas, etc.)
Assim como analisamos de que maneira a ciência e, sobretudo, suas aplicações tecnológicas transformaram a sociedade, temos agora que nos deter no oposto, isto é, indagar como os valores da sociedade afetaram as atividades científicas. Os gregos haviam descoberto e testado a maioria dos elementos essenciais do método científico; entretanto, não os transformaram em aplicações tecnológicas, pois a sociedade grega não o exigia por se basear no trabalho escravo (Edelstein, 1957; Farrington, 1953). Além disso, segundo a concepção dos gregos, " o mundo existe para nele se viver e não para ser transformado". É que, na busca do conhecimento, sua abordagem era puramente estética, filosófica.
Opondo-se a essa visão dos gregos, a ideologia judaico-cristã vê o homem separado da natureza, como seu dono - ela teria sido feita para servi-lo. Durante a Idade Média, as restrições da Igreja retardaram o desenvolvimento de uma paradigma científico adequado, mas, no Renascimento, com a redescoberta dos conhecimentos gregos, houve um desenvolvimento acelerado dos métodos científicos e da idéia de que a natureza é governada por leis e princípios que podem ser detectados. Campbell (1959) denomina-a "epistemologia do outro"
Atualmente, os cientistas estão percebendo as limitações do método objetivo e reducionista de pesquisa, que visava o mundo exterior, e estão se voltando para um estudo crítico do mundo interior, isto é, para a "epistemologia do eu". Nas culturas orientais, sempre predominou essa cultura do eu; só agora a pesquisa ocidental se volta para a análise dos fenômenos descritos, por milênios, pelos mestres orientais. O estágio seguinte no avanço evolucionário do homem está numa síntese de ambas as visões, isto é, da epistemologia do outro com a epistemologia do eu. Ao lado de uma ciência objetiva e de tecnologias físicas, será necessário desenvolver uma ciência e uma economia éticas, voltadas para o bem-estar ecológico, que dê ênfase à pesquisa e à aplicação de tecnologias sociais e psicológicas.
O novo paradigma científico deverá ser holístico, tanto do ponto de vista metodológico, como do ponto de vista dos fenômenos a serem estudados. Deverá se basear numa visão global e não fragmentada do que atualmente é definido como ciências exatas e ciências sociais, procurando o princípio de complementaridade ou reconciliação de opostos, tais como livre-arbítrio e determinismo, materialismo e transcedentalismo, ciência e religião.
NOTAS
1 - Segunda parte do artigo " A visão do mundo através dos tempos" resumo do livro de Markley, O, W, e Harmam, W, W, (eds, 1982) Changing images of man ( Pergamon Press, Nova York), Primeira parte publicada na revista THOT n° 52, 1988, pp.9-17),
2 - Funçao termodinâmica de estado dos corpos, peculiar a cada substância, que tende para o máximo em um sistema fechado como o universo,
3 - Parte da física que investiga os processos de transformação de energia e o comportamento dos sistemas nesses processos,
4 - O DNA ou ADN ( ácido desoxirribonucleico) é o transportador das informações genéticas em todos os organismos vivos. É uma molécula com estrutura helicoidal dupla e extremamente longa, um polímero compostos de subunidades semelhantes ou idênticas - os monômeros ou nucleotídeos. Estes são formados por uma parte de fosfato, uma de açúcar (desoxirribose) e uma base orgânica nitrogenada. Estas bases pertencem tão somente a quatro tipos que nos animais são: a a denina (A), a guanina (G), a timina (T) e a citosina (C). O arranjo e a sequência desses nucleotídeos fornecem as características do DNA.
5 - Conjunto de indivíduos originários de outro por multiplicação assexuada. Todos os membros de um clone tem o mesmo patrimônio genético,
6 - Ciência que estuda as condições propícias à reprodução e ao melhoramento da raça humana,
7 - Do grego holos, inteiro, completo, que abrange o todo,
8 - Termo inicialmente empregado na eletrônica, hoje usado em outras disciplinas. Significa realimentação, retroalimentação, regeneração,
9 - Do gregoholos holos, inteiro, completo, e grama ou gramato, letra, escrito, peso; holosholosfotogrholosafia que se obtém mediante a utilização de raios laser,
10 - Ver nota 8,
11- Registro gráfico das ondas elétricas emitidas pelas células nervosas do cérebro. Existem quatro ritmos cerebrais, convencionalmente indicados como ritmo alfa ( 10 ciclos/seg.), ritmo beta (18 ciclos/seg.), ritmo teta (5 ciclos/seg.) e ritmo delta (3 ciclos/seg.) O ritmo alfa é encontrado nos indivíduos que estão com os olhos fechados, em estado de relaxamento e meditação; o ritmo beta, na vigília e atenção, os ritmos teta e delta são encontrados em casos de patologias cerebrais,
12 - Abreviatura do inglês rapide eye movement,
13 - Compreensão repentina, em geral intuitiva, que a pessoa tem de suas próprias atitudes e comportamentos, de um problema, de uma situação,
14 - O mesmo fenômeno é descrito por Pierre Weil em A consciência cósmica - Introdução a psicologia transpessoal, Ed. Vozes, Petrópolis, 1979, 2ª edição,
15 - Letra grega usada para designar, tanto na física teórica como na parapsicologia, fenômenos desconhecidos,
16 - A luz intermitente e rápida de um objeto em movimento,
17 - Em biologia, esse fenômeno é conhecido por "homeostase", termo criado por Cannon (1939) na década de 20.
Nenhum comentário:
Postar um comentário