quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O Mundo dos Nadas

O mundo irreal criado pelas manchetes

 O oportunismo dos jornais de abrir espaço a qualquer asneira acabou com o mínimo de racionalidade nas discussões políticas e econômicas.

Luis Nassif - Jornal GGN

Há duas tendências se firmando na economia.

A primeira, a constatação do refluxo das tentativas de impeachment.

O grande trunfo de Dilma Rousseff é uma oposição extraordinariamente medíocre, que se move disputando espaço nas manchetes da mídia.

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De repente, há espaço para a radicalização, e lá se vão os Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves, José Serra, Carlos Sampaio, Mendonça Filho com a disposição dos jovens carbonários, disputando quem range mais os dentes. Aí Marina Silva percebe que o contraponto é acenar com o bom senso. E acena.

De repente, o impeachment reflui. Toca então esse brilho fugaz de nome Carlos Sampaio a entrar com o pedido de extinção do PT. Só isso! E FHC é ouvido para contrapor que a vitória deve ser nas urnas, não no tapetão. E a multidão de áulicos olha reverencialmente para esse conselheiro Acácio dos tempos modernos.


Aí Marina se dá conta de que poucos continuam falando do impeachment. Então o contraponto para ganhar manchetes é radicalizar novamente. E tome Marina, Cristóvão, Marta.

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É inacreditável como o mundo politico e jornalístico despregou-se totalmente do mundo real. Parecem vaqueiros bêbados e armados em saloons do Velho Oeste, atirando em qualquer sombra que passe pela porta. É tão grande o vácuo de ideias, que a institucionalidade se rege, agora, pelas manchetes de jornais. E as alianças se consolidam pelo recurso à lisonja.


É o caso do prêmio de O Globo para as pessoas que fazem a diferença... para as Organizações Globo. A contemplada foi a futura presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Carmen Lúcia, cuja obra de maior repercussão em 2015 foi uma frase tão grandiloquente quanto inútil: “O crime não vencerá a Justiça”, no voto que confirmou a decisão de Teori Zavaski, de manter presos o senador Delcídio do Amaral e o banqueiro André Esteves. Quando Teori concedeu o habeas corpus a Esteves, significa então que o crime venceu?

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Esse jogo demagógico, a busca do aplauso fácil, da consagração em torno de frases fáceis, tornou-se uma constante que não perdoa sequer Ministros do Supremo. E o oportunismo dos jornais, de abrir espaço para qualquer asneira, praticamente matou os filtros que poderiam permitir um mínimo de racionalidade nas discussões políticas e econômicas.

O que tem de procuradores, delegados, dizendo o que os jornais querem, para fazer jus a uma manchete ou a uma premiação futura, e posar para a foto com os prêmios, que colocarão em suas salas de visitas, tornou a discussão institucional brasileira um pregão de feira livre, com donas de casa alvoroçadas disputando a xepa.

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Do seu lado, a presidente só se pronuncia quando julga que alguma crítica ou decisão atinge sua augusta autoridade pessoal. Não se vê como poder institucional, como responsável pela condução do país.

País de provincianos, sem um mínimo de noção de bem público. Quando se compara com a qualidade dos homens públicos dos anos 50, dá um desânimo enorme.

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A segunda tendência se firmando é que há espaço para que o governo Dilma apresente uma proposta minimamente viável de condução do país.

Nas próximas semanas se saberá se esse vácuo aberto pela oposição será preenchido com um mínimo de protagonismo do governo

Fonte: CARTA MAIOR
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Flávio Gomes: São Paulo conta vários mortos como um só. Folha celebra queda de homicídios na manchete e esconde o essencial no texto

publicado em 27 de janeiro de 2016 às 13:56
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por Flávio Gomes, no Facebook
A manchete da “Folha” hoje grita, em corpo (tamanho de letra) usado somente em casos muito especiais (atentados terroristas, acidentes aéreos, grandes tragédias): “SP registra menor taxa de homicídios em 20 anos”.
Faltou colocar um ponto de exclamação, e tenho certeza que alguém lá quase fez isso. Os métodos do governo Alckmin são exaltados e o tom das matérias é de comemoração. Me senti vivendo em Genebra, ou numa pequena vila do interior austríaco.
Aí, perdido no texto, explica-se que na esquisita — esse “esquisita” é por minha conta — metodologia usada pela Secretaria de Segurança do Estado uma chacina, por exemplo, é considerada UMA morte para efeitos estatísticos, ainda que ela mate cinco, oito, dez pessoas.
Por esse método, oito mortos se transformam em… UM!
A taxa também é calculada sem considerar casos de latrocínio (não são homicídios, incrível…) e assassinatos cometidos pela PM (igualmente tratados como… como o quê, mesmo?).
Graças a essa metodologia, digamos, muito peculiar — em que latrocínios e assassinatos cometidos pela PM não são considerados “homicídios dolosos” –, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes caiu para 8,73 no nosso simpático e pacífico Estado.
Fossem levados em conta os números estranhamente ignorados — de novo: latrocínios e assassinatos cometidos pela PM –, essa taxa subiria para 11,7 para cada 100 mil habitantes. Acima de 10, a taxa é considerada “epidêmica” por organismos internacionais, como a ONU.
Mas em São Paulo, oito vira um, PM não mata e roubo seguido de morte não conta.
E vira manchete.


Fonte: VIOMUNDO
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Ir ver imóvel é “alto grau de suspeita” de crime? Lula, arranjo um apê melhor aqui…

ridiculo
Fica-se sabendo, pelo Estadão, que o “alto grau de suspeita” sobre o apartamento do Guarujá pertencer a Lula e ter sido objeto de transações espúrias se deveria ao fato – se é que houve – de sua mulher, Marisa Letícia, ter visitado  o imóvel e “elogiado a vista” (que, aliás, pelo vídeo mostrado pelo jornal, é só o que presta no tal triplex, de resto bem mixuruca).
Que tenha visitado, e daí? Que tenha pedido para Lula ir ver, e daí?
Ir olhar um apartamento é “prova”?
Mesmo que pretendesse comprar, um apartamento de R$ 1 milhão ou R$ 1,5 milhão (dizer que vale, aliás, é fácil, díficil é vender) não está ao alcance de quem recebeu, por oito anos, vencimentos de mais de R$ 33 mil, em valores de hoje, como presidente da República?
Joaquim Barbosa, ter comprado um apartamento através de uma empresa de fantasia, por US$ 480 mil (R4 2 milhões, ao cambio de hoje) num condomínio de novo-rico em Miami.  é “honestíssimo”, e nunca despertou os furores do MP ou da Polícia Federal. Nem mesmo para ver como ele remeteu este dinheiro ao exterior.
A única coisa questionável em ter ido ver apartamento no Guarujá,nisso é, perdoem-me os paulistas, o bom gosto de cogitar em comprar um troço daqueles.
Se Lula quiser arranjo muito melhor e bem mais barato aqui onde moro, e a apenas 34 km do Rio, pertinho da praia de Camboinhas, de areia branca e sem poluição.  Dá pra levar o isopor no ombro, presidente, numa boa, porque a cerveja no quiosque é cara: R$ 4  a latinha.
Ainda assim, publico, em homenagem ao ridículo dos tempos em que vivemos,  a nota do Instituto Lula com os fatos.
Que, como se sabe, no Brasil do fascismo midiático, policial e judicial, não vêm ao caso.

Lula repudia tentativa de envolvimento em Lava Jato

O  ex-presidente Lula não foi sequer citado na decisão do juiz Sérgio Moro e repudia qualquer tentativa de envolver seu nome em atos ilícitos investigados na chamada Operação Lava Jato.
Nos últimos 40 anos, nenhum líder brasileiro teve a vida particular e partidária tão vasculhada quanto Lula, e jamais encontraram acusação válida contra ele.
Lula foi preso, sim, mas pela ditadura, porque lutava pela democracia no Brasil e pelos direitos dos trabalhadores. Não será investigando um apartamento – que nem mesmo lhe pertence – que vão encontrar uma nódoa em sua vida.
Lula nunca escondeu que sua família comprou, a prestações, uma cota da Bancoop, para ter um apartamento onde hoje é o edifício Solaris. Isso foi declarado ao Fisco e é público desde 2006. Ou seja: pagou dinheiro, não recebeu dinheiro pelo imóvel.
Para ter o apartamento, de fato e de direito, seria necessário pagar a diferença entre o valor da cota e o valor do imóvel, com as modificações e acréscimos ao projeto original. A família do ex-presidente não exerceu esse direito.
Portanto, Lula não ocultou patrimônio, não recebeu favores, não fez nada ilegal. E continuará lutando em defesa do Brasil, do estado de direito e da Democracia.


Fonte: TIJOLAÇO
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Mosquito Aedes Aegypti é amigo de Lula.

Talvez seja a próxima manchete nos jornais e revistas da velha mídia.

Hoje, Estado de SP, Folha de SP e O Globo apresentaram como manchetes o "caso" do triplex  bombado no Guarujá que é do Lula mesmo não pertencendo ao Lula.

Se de fato pertencer ao  Lula, nada de errado , já que o ex-presidente fatura alto com suas palestras pelo mundo, como fazem todos os ex-presidentes, como FHC, Bill Clinton, apenas como exemplos.

No entanto, Lula, um operário que veio de baixo, ter um apartamento triplex na praia da paulistada chique é uma ofensa inaceitável.

Esse é um lado, o preconceito de classe.

O outro lado é a fixação obsessiva da Operação Lava Jato Midiática em conseguir alguma prova que incrimine o ex-presidente em casos de corrupção.

E aí vale tudo, como até mesmo uma visita ao apartamento pode ser um indício poderoso de algo gravíssimo, envolvendo milhões de reais.

Nos jornais parceiros da Lava Jato especula-se que não apenas o apartamento de Lula que não pertence ao Lula, como todo o  condomínio pode ser fruto de uma grande armação de corrupção que viabilizou a construção do prédio, talvez com desvios de recursos da ...Petrobrás.

Por onde Lula passa , algo de suspeito deve existir, segundo a velha mídia e seu parceiro inquisidor Lava Jato.

Enquanto Lula arrumou um triplex na praia, a realidade continua.

As vezes de forma estranha, como do caso da conta esquisita da Folha de SP, que não gosta de ser chama de Falha,  que celebrou em manchete com letras escandalosas uma redução da taxa de  homicídios em São Paulo através de uma matemática  própria, original, vanguardista, paradigmática, onde oito é igual a um
( 8 =1).

Até um cão rejeita a velha mídia.
Charge de Raimundo Rucke ficou em segundo lugar em prêmio da ONU
Charge de Raimundo Rucke
Esse universo paralelo da velha mídia tem produzido manchetes, conteúdos e personagens nunca dantes vistos na história desse país, como no caso da novo colunista da Folha de SP que aparece na foto com um arma em punho.

No universo paralelo midiático, onde o mundo do espetáculo é mais importante do que a realidade, Aparecer É Ser ( Mario Vargas Llosa), e assim, nadas passam a ser alguma coisa que na realidade nada são, produzindo realidades e conteúdos de fazer inveja a qualquer romance de ficção.

E os nadas estão invadindo o mundo, tal qual uma invasão alienígena, ocupando todos os espaços midiáticos, até mesmo no Brasil, ao som do céu à jato e à luz do mar do Guarujá profundo.

Amparados por uma mídia blindada em esplêndido berço , os nadas, hoje, em procissão com fé encontram no triplex do Guarujá a esperança do terço.

Enquanto isso, um mosquito voa à jato, triplicando epidemias em um mundo em crise e revelando a realidade de um progresso nada encantador, nada próspero, nada civilizado, nada, nada, como o mundo dos que acham que alguma coisa são.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Informação omitida


Quarenta anos de procrastinação interesseira

160125-Procrastinação
Como as grandes petroleiras transnacionais souberam, desde 1977, dos efeitos dramáticos da queima de CO² — e vêm lutando desde então para escondê-los das sociedades

Por Neela Banerjee, Lisa Song e David Hasemyer, no InsideClimate News | Tradução: Gilberto Schittini


Em uma reunião na sede da Exxon Corporation, um cientista sênior chamado James F. Black dirigiu-se a um grupo de poderosos homens do petróleo. Falando sem texto enquanto passava por slides detalhados, Black transmitiu uma séria mensagem: o dióxido de carbono oriundo do uso mundial de combustíveis fósseis iria aquecer o planeta e poderia eventualmente colocar a humanidade em perigo.
“Em primeiro lugar, existe um consenso científico geral de que a maneira mais provável pela qual a humanidade estaria influenciando o clima global seria pelo dióxido de carbono liberado na queima de combustíveis fósseis”, Black disse ao Comitê Gerencial da Exxon, segundo uma versão escrita que ele registrou mais tarde.
Era julho de 1977 quando os líderes da Exxon receberam essa avaliação contundente, bem antes de o resto do mundo ouvir falar sobre a crise climática iminente.
Um ano depois, Black, um especialista técnico do topo da divisão de Pesquisa e Engenharia da Exxon, levou uma versão atualizada da sua apresentação para uma audiência maior. Ele alertou os cientistas e gerentes da Exxon de que pesquisadores independentes haviam estimado que uma duplicação da concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera elevaria a temperatura média global em 2 a 3 graus Celsius (4 a 5 graus Fahrenheit), e poderia chegar a 10 graus Celsius (18 graus Fahrenheit) nos polos. As chuvas ficariam mais fortes em algumas regiões, e outros lugares se tornariam desertos.
“Alguns países se beneficiariam, mas outros teriam sua produtividade agrícola reduzida ou destruída”, Black disse, conforme o resumo escrito de sua apresentação de 1978.
Essas apresentações refletiam a incerteza que permeava os meios científicos sobre os detalhes das mudanças climáticas, como, por exemplo, o papel desempenhado pelos oceanos na absorção de emissões. Ainda assim, Black previu que ações rápidas eram necessárias. “De acordo com o conhecimento atual”, ele escreveu no resumo de 1978, “estima-se que o homem tenha uma janela de cinco a dez anos antes que a necessidade de que decisões duras sobre mudanças nas estratégias energéticas se tornem críticas”
A Exxon respondeu rapidamente. Em meses a companhia lançou sua própria pesquisa extraordinária sobre o dióxido de carbono dos combustíveis fósseis e seu impacto na Terra. O programa ambicioso da Exxon incluía tanto amostragem empírica de CO2 quanto modelagem climática rigorosa. Ela reuniu um grupo de especialistas que iria dedicar mais de uma década aprofundando o conhecimento da companhia sobre esse problema ambiental que oferecia um risco de vida ao ramo do petróleo.
Então, ao final da década de 1980, a Exxon reduziu sua pesquisa sobre o dióxido de carbono. Ao invés disso, nas décadas que se seguiram, a Exxon trabalhou na linha de frente da negação climática (climate denial). A empresa dedicou a sua musculatura para sustentar esforços na produção de dúvidas sobre a realidade do aquecimento global que seus próprios cientistas um dia constataram. Ela articulou politicamente esforços para bloquear ações federais e internacionais de controle de emissões de gases de efeito estufa. Ela ajudou a construir um vasto edifício de desinformação que se mantém de pé até o dia de hoje.
Esse capítulo não contado da história da Exxon, o dia em que uma das maiores companhias energéticas do mundo se dedicou ativamente para entender os danos causados pelos combustíveis fósseis, emergiu de uma investigação de oito meses de duração feita pela InsideClimate News. Os jornalistas da ICN entrevistaram antigos empregados da Exxon, cientistas, agentes federais, e consultaram centenas de páginas de documentos internos da Exxon, muitos deles escritos entre 1977 e 1986, durante o auge do inovador programa de pesquisa sobre clima da empresa. A ICN passou um pente fino em milhares de documentos de arquivos incluindo aqueles tombados na Universidade de Texas-Austin, no Instituto de Tecnologia de Massachussets-MIT e na Associação Americana para o Avanço da Ciência.
Os documentos registraram pedidos de orçamento, prioridades de pesquisa, e debates sobre as descobertas, e revelaram o arco das atitudes internas da Exxon, seu trabalho sobre clima e quanta atenção os resultados receberam.
Teve significância particular um projeto lançado em agosto de 1979, quando a companhia equipou um superpetroleiro com instrumentos customizados. A missão desse projeto foi de coletar amostras de dióxido de carbono na atmosfera e nos oceanos ao longo de uma rota que partiu do Golfo do México até o Golfo Pérsico.
Em 1980, a Exxon reuniu um time de especialistas em modelagem climática que investigou questões fundamentais sobre a sensibilidade do clima ao aumento da concentração de dióxido de carbono no ar. Trabalhando em conjunto com cientistas da universidade e com o Departamento de Energia dos Estados Unidos, a Exxon lutou para estar na ponta das investigações sobre o que então era conhecido como efeito estufa.
A determinação inicial da Exxon em entender os níveis crescentes de dióxido de carbono surgiu de uma cultura corporativa com visão de longo prazo, disseram antigos empregados. Eles descreveram uma companhia que continuamente examinava riscos até o final da linha, inclusive os fatores ambientais. Nos anos 1970s, a Exxon espelhou sua divisão de pesquisa nos Laboratórios Bell, contratando cientistas e engenheiros altamente qualificados.
Em uma resposta escrita a questões sobre a história de suas pesquisas, o porta-voz da ExxonMobil Richard D. Keil disse que “desde o tempo em que as mudanças climáticas surgiram pela primeira vez como tópico para estudos e análises científicas, no final dos anos 1970s, a ExxonMobil se comprometeu com a análise científica, baseada em fatos sobre esse importante tema”.
“Sempre”, ele disse, “as opiniões e conclusões dos nossos cientistas e pesquisadores nesse assunto estiveram solidamente inseridas nos consenso geral da opinião científica do período e nosso trabalho tem sido guiado pelo princípio fundamental de seguir para onde a ciência nos levar. O risco de mudança climática é real e exige ação”.
No início das suas investigações climáticas, há quase quatro décadas atrás, muitos executivos da Exxon, gerentes e cientistas se imbuíram de um senso de urgência e de missão.
Um gerente do setor de pesquisa da Exxon, Harold N. Weinberg, compartilhou seus “pensamentos grandiosos” sobre o papel potencial da Exxon na pesquisa climática em um memorando interno da companhia, em março de 1978, onde se lia: “Esse pode ser o tipo de oportunidade que nós estávamos esperando para colocar os recursos de tecnologia, gestão e liderança da Exxon no contexto de um projeto que visa o bem da humanidade”.
Seus sentimentos ganharam eco em Henry Shaw, o cientista que liderou o nascente esforço de da companhia na pesquisa sobre dióxido de carbono.
“A Exxon precisa desenvolver um time científico de credibilidade que possa avaliar criticamente as informações geradas sobre o tema e que seja capaz de dar más notícias, se houver, para a corporação”, Shaw escreveu para seu chefe Edward E. David, o presidente setor de Engenharia e Pesquisa da Exxon em 1978. “Este time precisa ser reconhecido por sua excelência pela comunidade científica, pelo governo e internamente pela administração da Exxon”.

Irreversível e Catastrófico
A Exxon destinou mais de 1 milhão de dólares em três anos para o projeto do petroleiro para medição de quão rápido os oceanos estavam absorvendo CO2. Isso era apenas uma pequena fração do orçamento anual de 300 milhões de dólares da Exxon Pesquisas, mas a questão que os cientistas abordaram era uma das maiores incertezas na ciência do clima: quão rápido poderiam as profundezas oceânicas absorver o CO2 atmosférico? Se a Exxon pudesse encontrar a resposta, a empresa poderia saber quanto tempo ainda demoraria até que a acumulação de CO2 na atmosfera exigisse uma transição no sentido de abandonar o uso dos combustíveis fósseis.
A Exxon também contratou cientistas e matemáticos para desenvolver modelos climáticos melhores e publicar os resultados de pesquisa em jornais acadêmicos. Até 1982, os cientistas da própria companhia, colaborando com pesquisadores de fora, criaram modelos climáticos rigorosos – programas de computador que simulam o funcionamento do clima para avaliar o impacto de emissões na temperatura global. Eles confirmaram o consenso científico emergente: que o aquecimento poderia ser até pior do que Black havia alertado cinco anos antes.
A pesquisa da Exxon estabeleceu as bases para uma cartilha corporativa de 1982 sobre dióxido de carbono e mudança climática preparada por seu escritório de assuntos ambientais. Marcada com “não deve ser distribuída externamente”, a cartilha continha informações que “tiveram grande circulação na administração da Exxon”. Nela a companhia reconhecia que, apesar dos aspectos desconhecidos persistentes, para se prevenir o aquecimento global “seriam necessárias reduções massivas na queima de combustíveis fósseis”.
Caso isso não ocorresse, “há eventos catastróficos em potencial que precisam ser considerados”, seguiu a cartilha, citando especialistas independentes. “Quando os efeitos se tornarem mensuráveis, poderão não mais ser reversíveis”.

A Certeza da Incerteza
Assim como outros na comunidade científica, os pesquisadores da Exxon reconheceram as incertezas em torno de muitos aspectos da ciência do clima, especialmente na área de modelagem preditiva.
“Modelos são controversos”, escreveram Roger Cohen, chefe de ciências teóricas dos Laboratórios Corporativos de Pesquisa da Exxon, e seu colega, Richard Werthamer, conselheiro sênior de tecnologia na Corporação Exxon, num relatório em maio de 1980 sobre o estado do programa de Exxon de modelagem climática. “Portanto, existem oportunidades de pesquisa para nós”.
Quando pesquisadores da Exxon confirmavam informações que a companhia poderia achar perturbadoras, eles não as escondiam debaixo do tapete.
“Ao longo dos últimos anos um nítido consenso científico emergiu”, Cohen escreveu em setembro de 1982, relatando sobre as análises da própria Exxon sobre os modelos climáticos. A duplicação da concentração de dióxido de carbono na atmosfera produziria um aquecimento médio global de 3 graus Celsius, mais ou menos 1,5 grau C (igual a 5 graus Fahrenheit mais ou menos 1,7 grau F).
“Há uma unanimidade na comunidade científica de que um aumento na temperatura dessa magnitude produziria mudanças significativas no clima da Terra”, ele escreveu, “inclusive sobre a distribuição das chuvas e com alterações da biosfera”.
Ele alertou que a publicação dessas conclusões da companhia iria atrair atenção da mídia, por causa da “conexão entre o principal negócio da Exxon e o papel da queima de combustíveis fósseis na contribuição para o aumento no CO2 atmosférico”.
Mesmo assim, ele recomendou a publicação.
“Nossa responsabilidade ética é de permitiu a publicação de nossa pesquisa na literatura científica”, Cohen escreveu. “De fato, fazer o contrário seria uma ruptura com o posicionamento público da Exxon e sua crença ética na honestidade e na integridade”.
A Exxon seguiu seu conselho. Entre 1983 e 1984 seus pesquisadores publicaram seus resultados em ao menos três artigos científicos nas revistas Journal of the Atmosferic Sciences e American Geophysical Union Monograph.
David, chefe de pesquisa da Exxon, disse em uma conferência sobre aquecimento global financiada pela Exxon em 1982 que “poucas pessoas tem dúvidas de que o mundo tenha entrado numa transição enérgica que se afasta da dependência de combustíveis fósseis e avança para uma combinação de recursos renováveis que não vai gerar problemas de acumulação de CO2”. A única dúvida, ele disse, era quão rápido isso aconteceria.
Mas o desafio não o atemorizava. “Eu geralmente sou otimista sobre as chances de sairmos bem desse que é o mais aventureiro dentre todos os experimentos humanos com o ecossistema”, David disse.
A Exxon se considerava única entre as corporações devido às suas pesquisas sobre dióxido de carbono e clima. A companhia ostentou em um relatório de janeiro de 1981, “Estudo Abrangente sobre CO2”, que nenhuma outra companhia aparentava estar conduzindo pesquisas domésticas similares sobre o dióxido de carbono, e ela rapidamente ganhou reputação entre pessoas externas como tendo uma expertise genuína no assunto.
“Nós estamos muito satisfeitos com as intenções de pesquisa da Exxon sobre a questão do CO2. Isso representa uma ação muito responsável, que esperamos servir como modelo para outras contribuições do setor corporativo a pesquisas”, disse David Slade, gerente do programa de pesquisa sobre dióxido de carbono do Departamento de Energia do governo federal, em uma carta a Shaw em maio de 1979. “Isso é realmente um serviço nacional e internacional”.

Imperativos dos negócios
No início dos anos 1980s pesquisadores da Exxon costumavam repetir que sua ciência não-enviesada daria à empresa legitimidade para ajudar e dar forma a leis relacionadas ao clima que afetariam sua lucratividade.
Ainda assim, executivos corporativos permaneceram cautelosos ao falar com acionistas da Exxon sobre o aquecimento global e a influência desempenhada pelo petróleo na sua causa, segundo mostra uma revisão de arquivos federais.
Também não há menção nesses arquivos de que a preocupação com o CO2 estivesse começando a influenciar as decisões de negócios que a empresa estava tomando.
Ao longo dos anos 1980s, a companhia esteve preocupada com o desenvolvimento de um enorme campo de gás na costa da Indonesia, por causa da grande quantidade de CO2 que esse reservatório incomum iria liberar.
A Exxon também estava preocupada com relatórios que apontavam que óleo sintético feito à base de carvão, areia betuminosa e gás de xisto poderiam impulsionar significativamente as emissões de CO2. A companhia estava investindo em combustíveis sintéticos para atender ao crescimento futuro da demanda, num mundo no qual ela acreditava que estava ficando sem óleo convencional.
No meio dos anos 1980s, após um inesperado excesso de óleo que fez os preços colapsar, a Exxon fez cortes severos no seu pessoal para economizar dinheiro, incluindo muitas pessoas que estavam trabalhando com o clima. Mas o problema da mudança climática persistiu, e estava se tornando uma parte mais proeminente do cenário político.
“O Aquecimento Global Começou, Especialistas Dizem ao Senado”, declarou uma manchete de junho de 1988 de um artigo do New York Times que descreveu o depoimento ao Congresso de James Hansen da Nasa, um eminente especialista em clima. As declarações de Hansen compeliram o Senador Tim Wirth (Democrata, Colorado) a declarar durante a oitiva que “o Congresso precisar começar a considerar como nós iremos reduzir ou interromper esse padrão de aquecimento”.
Com as sirenes de alarme repentinamente tocando, a Exxon começou a financiar esforços para amplificar as dúvidas acerca do estado da ciência do clima.
A Exxon ajudou a fundar e liderar a Coalizão Climática Global, uma aliança entre algumas das maiores companhias do mundo que buscava deter os esforços governamentais de redução das emissões oriundas de combustíveis fósseis. A Exxon usou o American Petroleum Institute, um think tank de direita, contribuições de campanha e seu próprio lobby para impor uma narrativa de que a ciência climática era incerta demais para que se exigissem reduções em emissões de combustíveis fósseis.
Enquanto a comunidade internacional se movimentava em 1997 para dar o primeiro passo na redução de emissões via Protocolo de Kyoto, o presidente e CEO da Exxon, Lee Raymond, defendeu a sua interrupção.
“Concordemos que há muito que nós ainda não sabemos realmente sobre como o clima irá mudar no século XXI e além”, Raymond disse em seu discurso à frete do Congresso Mundial de Petróleo em Pequim, em outubro de 1997.
“Nós precisamos entender melhor essa questão e, felizmente, nós temos tempo”, ele disse. “É altamente improvável que a temperatura no meio do próximo século seja significativamente alterada se as políticas forem adotadas agora ou daqui a 20 anos”.
Ao longo dos anos, vários cientistas da Exxon que haviam confirmado o consenso climático durante as pesquisas iniciais, incluindo Cohen e David, foram para o lado de Raymond, disseminando visões que andavam na contramão do mainstream científico.

Pagando o Preço
A meia-volta da Exxon sobre a mudança climática rendeu o desprezo da comunidade científica que ela antes havia cortejado.
Em 2006, a Royal Society, a academia de ciências do Reino Unido, enviou uma dura carta à Exxon acusando-a de ser “imprecisa e enganadora” na questão sobre incerteza climática. Bob Ward, o gerente sênior da Academia para comunicação sobre políticas públicas, exigiu que a Exxon interrompesse o repasse de dinheiro para dúzias de organizações que ele disse que estavam ativamente distorcendo a ciência.
Em 2008, sob uma pressão crescente de acionistas ativistas, a companhia anunciou que iria encerrar o apoio a alguns grupos proeminentes como aqueles que Ward tinha identificado.
Ainda assim, os milhões de dólares que a Exxon gastou desde os anos 1990s em negacionistas da mudança climática há muito ultrapassou o que ela uma vez investiu na pesquisa de ponta a bordo do Esso Atlantic.
“Eles gastaram tanto dinheiro e eles eram a única companhia que fez esse tipo de pesquisa, até onde eu sei” Edward Garvey, que foi um pesquisador chave no projeto do petroleiro da Exxon, disse em uma entrevista recente ao InsideClimate News e Frontline. “Aquela foi uma oportunidade não apenas para garantir um lugar à mesa, mas para liderar, em muitos aspectos, um pouco da discussão. E o fato de que eles escolheram não fazer isso no futuro é um tanto triste”.
Michael Mann, diretor do Centro de Ciências do Sistema da Terra da Universidade Estadual da Pensilvânia, que tem sido um alvo frequente de negacionistas climáticos, disse que inação, assim como ação, tem consequências. Quando ele falou ao InsideClimate News, ele ainda não sabia desse capítulo da história da Exxon.
“Tudo o que um eminente CEO de combustíveis fósseis precisava saber era que isso é mais importante do que lucros de acionistas, se trata do nosso legado”, ele disse. “Mas agora, por causa do custo da inação – o que eu chamo “penalidade da procrastinação” – nós enfrentamos uma batalha muito mais dura”.

No sítio do InsideClimate News há elos para a Parte II da reportagem, com o registro das pesquisas iniciais da Exxon sobre clima; Parte III, uma revisão dos esforços da Exxon em modelagem climática; Parte IV, um mergulho no projeto da Exxon sobre o campo de gás Natuna; Parte V, uma visão sobre os esforços da Exxon na promoção de combustíveis sintéticos; Parte VI, um registro das ênfases da Exxon nas incertezas da ciência sobre clima.
Também participaram dessa reportagem os membros da equipe do ICN Zahra Hirji, Paul Horn, Naveena Sadasivam, Sabrina Shankman e Alexander Wood.


Fonte: OUTRAS PALAVRAS
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Globo na vanguarda do crime

José Carlos de Assis vê conluio de O Globo com procurador para beneficiar empresas de construção estrangeiras

publicado em 26 de janeiro de 2016 às 12:43
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A lei de repatriação e a MP da leniência representam um risco para a Lava-Jato? Sim. Sempre soubemos que, a longo prazo, as elites vão se compor de maneira a reduzir prejuízos que tiveram nessas operações. É o caso das legislações que vêm a posteriori. A MP 703 (que permitiu à CGU fazer acordo de leniência) e a lei da repatriação (que permite trazer recursos para o Brasil mediante pagamento de multa) são exemplo disso. A repatriação vem sendo falada desde o caso Banestado. É uma medida para socorrer as elites. Procurador Santos Lima, em entrevista a O Globo.
O desafio impertinente do Procurador à Presidenta

por José Carlos de Assis, no GNN
TER, 26/01/2016 – 09:12
Está sendo articulada no Rio uma audiência dos mais representativos dirigentes sindicais e empresariais do Brasil ao Ministro José Eduardo Cardozo, da Justiça, com o fim de apresentar ao Governo um desagravo da cidadania contra a crítica impertinente de um dos procuradores da Lava Jato, em Curitiba, Carlos Fernando dos Santos Lima, à expedição da medida provisória que regula os acordos de leniência.
Recorde-se que a sugestão da MP (que tomou o número 703) partiu justamente daqueles dirigentes numa reunião com a Presidenta Dilma Roussef no início de dezembro.
Em declarações anteriores, a própria Presidenta explicou o sentido da MP como sendo essencial para separar empresas de empresários eventualmente envolvidos com a Lava Jato, de forma a punir empresários que venham a ser condenados por corrupção mas mantendo as empresas em funcionamento, inclusive como contratadas do setor público, de forma a preservar empregos.
A crítica do procurador, estimulada por O Globo, e não se sabe a soldo de quem, vai no sentido de quebrar as empresas de construção, levando ao desemprego e à ruína centenas de milhares de trabalhadores delas e de suas cadeias produtivas.
Já é estranho um procurador da República, abusando da liberdade de opinião, atacar abertamente a Presidenta da República e a seu Governo por atos absolutamente legais praticados dentro da institucionalidade e com base em suas prerrogativas.
Ainda mais estranho é a cobertura que suas falácias obtiveram de O Globo, refletindo posição editorial do próprio Globo semanas atrás.
Para quem conhece, como eu, o funcionamento desse jornal – trabalhei nele –, não se trata de uma declaração espontânea. O Globo não transmite notícias. Fabrica-as. Ele foi buscar no Paraná o papagaio vaidoso que devia vocalizá-las.
Em relação aos propósitos ocultos do jornal, esta é mais uma evidência da determinação dele de quebrar as grandes empresas brasileiras de engenharia a fim de abrir espaço para as internacionais e enfraquecer nossa capacidade de manter grandes empresas de construção e desenvolver um setor de defesa genuinamente nacional.
A aliança Globo-procurador da República é uma agressão à nacionalidade e, do  ponto de vista concreto, um instrumento de multiplicação do desemprego e de generalização da miséria, o que se revela nos ataques reiterados ao Estado nacional.
Espera-se que o Ministro da Justiça saia da letargia e reaja ao ataque violento do procurador. Do contrário, perderá totalmente a autoridade já debilitada pelos desmandos da Lava Jato. Infelizmente, esse tipo de impertinência não  é por acaso. Em má hora, por excesso de boa fé na conduta futura de procuradores, a Constituinte conferiu um leque absurdo de poderes ao Ministério Público.
Era uma espécie de compensação dialética pela ausência absoluta de seu poder sob a ditadura. A prática se revelou desastrosa. Os procuradores mandam  mais que qualquer autoridade eleita. E não prestam contas sequer a si mesmos.
Esse erro terá de ser reparado numa futura Constituinte que venha a tratar da reforma do Estado, e não apenas da reforma política. Nas discussões que temos tido na Aliança pelo Brasil esse é um ponto vital.
Temos que acabar com o caráter corporativo do Estado, pelo qual procuradores, promotores, juízes, tribunais se colocam abertamente acima da lei. É um absurdo, por exemplo, que o chefe do Ministério Público Federal seja nomeado automaticamente como o primeiro de uma lista tríplice votada por sua corporação. Isso não é democracia. É um mandarinato. E um convite claro à anarquia.

J. Carlos de Assis — Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, autor de “Os sete mandamentos do jornalismo investigativo”, Ed. Textonovo, SP, 2015. 

Fonte: VIOMUNDO
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Socialismo em alta

25 anos após o fim da guerra fria, EUA vivem “love affair” com o socialismo


(Punho erguido no comício de Bernie Sanders no Colorado. Foto: Nat Stein)

Enquanto no Brasil a direita segue repetindo platitudes sobre o socialismo (assim como faz a direita norte-americana mais apatetada), o termo está em alta no país-símbolo do capitalismo. Tudo se deve ao senador Bernie Sanders, o pré-candidato democrata à presidência que conseguiu roubar os holofotes da rival Hillary Clinton. Auto-denominado “socialista democrático”, Sanders, ao contrário de muita gente que se diz de esquerda por aqui, não economiza no uso da palavra. E faz bem, porque pesquisas recentes mostram que boa parte do eleitorado democrata hoje se define como socialista. Não é incrível?

“Socialism” foi escolhida “a palavra do ano” em 2015 pelo dicionário online Merriam-Webster. É atualmente a 7ª palavra mais buscada em todos os tempos no dicionário e a pesquisa por seu significado aumentou 169% no ano passado. “O fato de um candidato à presidência de um partido majoritário abraçar o socialismo mostra que o termo superou as definições do tempo da guerra fria”, publicou o Merriam-Webster em seu site. O verbete que o dicionário norte-americano dedica ao socialismo também se modernizou: o conceito aparece mais identificado com a social-democracia europeia, com a regulação da economia pelo Estado e as políticas sociais aplicados em países como a Suécia e a Dinamarca do que com (como repetem sem parar os bolsomitômanos) o totalitarismo da finada União Soviética ou da Coreia do Norte.

Desde que Bernie começou a ameaçar Hillary, pipocam por toda parte artigos perguntando se “a América estará finalmente pronta para o socialismo”.



Ora, a História mostra que foi preciso muito sangue derramado para conter os ímpetos socialistas na terra do tio Sam. Existiu um socialismo cristão por lá desde o século 19, anterior portanto à revolução russa. Nos primeiros anos do século 20, um forte movimento sindical de cunho socialista e anarquista foi reprimido com tortura, prisões, pena de morte e deportações (leia mais aqui e aqui). Durante o macartismo, a partir da década de 1950, comunistas passaram a ser acusados de “espionagem” em favor da URSS e executados na cadeira elétrica. Mas, nos anos 1960, ativistas dos direitos civis como os Panteras Negras continuavam a se identificar como comunistas ou socialistas.



(Cartaz dos Panteras Negras por Emory Douglas, 1969)

Se o socialismo, mesmo perseguido, nunca morreu inteiramente nos EUA, pode-se dizer que nos últimos meses resolveu sair do armário. Já há inclusive quem fale que a América vive um novo love affair com o socialismo… Um facilitador para esta redescoberta é que agora não existe um inimigo da pátria que “represente” o socialismo. Ou seja, o socialismo voltou a ser o que é em sua essência, uma forma de ver o mundo. E o socialista deixou de ser o “traidor da pátria”. Não existe mais razão para perseguir pessoas que pensem desta maneira, ainda mais em um país onde a liberdade de pensamento é o artigo número um da Constituição.

Uma pesquisa do instituto Gallup de junho de 2015 revelou, de forma surpreendente, que 47% dos norte-americanos disseram que poderiam votar num candidato que se intitula “socialista”. Entre os democratas, o número dos que votariam em um socialista para a presidência sobe para 59%. O mais impressionante é que até entre os republicanos há gente que não veria problema em votar em alguém que se denominasse assim: 26% deles disseram que também poderiam votar num político dito socialista.

Outra pesquisa, feita entre os eleitores democratas no estado do Iowa neste mês, mostra que 43% deles usariam a palavra “socialista” para se descrever a si mesmos. Um número maior do que os que disseram ser “capitalistas”: 38%. Uma terceira sondagem, patrocinada pelo jornal The New York Times em conjunto com a cadeia de TV CBS em novembro de 2015, revelou que também os apoiadores de Hillary Clinton possuem uma imagem positiva do socialismo. 56% dos eleitores aptos a votar nas primárias do partido Democrata disseram ver de forma positiva um governo identificado com o socialismo, contra 29% que têm uma visão negativa. O número é ainda maior entre os jovens (63%) e afro-descendentes (70%). O interesse no socialismo tem tudo a ver com a crescente desigualdade no país: 88% dos eleitores democratas ouvidos pela pesquisa disseram que o abismo entre pobres e ricos é um assunto urgente a ser enfrentado.



Apesar de não se furtar de falar de socialismo ou de posar para fotos com o punho erguido, célebre símbolo comunista, Bernie Sanders tem se mostrado disposto a esclarecer que o mundo de hoje é diferente e que a esquerda evoluiu. “Da próxima vez que me atacarem como socialista, lembrem-se que eu não defendo que o governo deva confiscar a mercearia da esquina ou deter os meios de produção”, disse ele. “O que eu acredito é que a classe média e os trabalhadores deste país, que produzem a riqueza, merecem um padrão de vida decente e seus ganhos devem subir, não baixar.” Não à toa, enquanto Hillary conta com o suporte financeiro de bancos e emissoras de TV, os principais doadores de Bernie são sindicatos e entidades ligadas aos trabalhadores.





(Doadores de Bernie Sanders…)





(…e doadores de Hillary Clinton)

Nesta entrevista ao humorista Seth Mayers, Bernie explica por que o socialismo não é um palavrão. Ele cita países como a Noruega, em que a saúde é um direito de todas as pessoas, como aliás quase toda a Europa, diferentemente do que acontece nos EUA, onde quem não tem dinheiro para custear um plano de saúde privado morre na rua (assista ao documentário Sicko, de Michael Moore, sobre o tema). Ou países em que a educação é pública e gratuita e todo jovem pode ir à universidade, não apenas quem pode pagá-la, ao contrário dos EUA. E em que os governos trabalham para as classes menos favorecidas e não para os bilionários.

“Para mim, socialismo democrático significa que nós podemos criar uma economia que funcione para todos, não apenas para os muito ricos. Socialismo democrático significa que nós podemos reformar um sistema político que hoje não é só absolutamente injusto como é, em muitos aspectos, corrupto”, disse Bernie em um discurso na Universidade de Georgetown em novembro, desmontando a falácia da “terra das oportunidades iguais para todos” e da “meritocracia”. Aonde quer que ele vá, arrasta multidões. Esta semana, milhares de simpatizantes de sua candidatura marcharam em 35 cidades dos EUA. Aqui, na terra de Obama:

E pensar que diziam que o socialismo estava na pior, hein? Mesmo que Bernie Sanders não saia candidato à presidência, a sementinha está plantada. Sempre que os EUA enfrentarem crises econômicas, que o fosso entre os pobres e ricos aumentar e que mais gente estiver morando nas ruas, uma palavra vibrará nos ouvidos dos norte-americanos: por que não tentamos o socialismo?

Fonte: SOCIALISTA MORENA
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Apagão na informação da velha mídia



Situação dos Principais Reservatórios do Brasil - 25/01/2016

REGIÃO SUDESTE / CENTRO-OESTE (situação atual 41.77%)
Principais Bacias
Principais Reservatórios
Situação Atual

Rio Parnaíba
38,71% da região Serra do Facão (3,23% da região) 34.56%

Emborcação (10,65% da região) 39.07%

Nova Ponte (11,21% da região) 25.79%

Itumbiara (7,76% da região) 31.1%

São Simão (2,50% da região) 89.2%


Rio Grande
25,38% da região Furnas (17,18% da região) 46.26%

Mascarenhas de Moraes (2,15% da região) 57.82%

Marimbondo (2,68% da região) 88.82%

Água Vermelha (2,19% da região) 95.9%


Rio Paraná
3,03% da região Ilha/3 Irmãos (3,03% da região) 57.59%


Rio Paranapanema
5,77% da região Jurumirim (1,99% da região) 92.99%

Chavantes (1,62% da região) 80.6%

Capivara (1,94% da região) 83.43%

Outras
(31,87% da região)


REGIÃO SUL (situação atual 93.6%)
Principais Bacias
Principais Reservatórios
Situação Atual

Rio Iguaçu
50,93% da região S. Santiago (16,30% da região) 99.54%

G. B. Munhoz (30,39% da região) 99.86%

Segredo (2,29% da região) 98.97%

Rio Jucuí
16,08% da região Passo Real (15,02% da região) 88.01%

Rio Uruguai
29,77% da região Passo Fundo (8,72% da região) 97.77%

Barra Grande (15,21% da região) 86.9%

Outras
(3,22% da região)


REGIÃO NORDESTE (situação atual 12.83%)
Principais Bacias
Principais Reservatórios
Situação Atual

Rio São Francisco
96,86% da região Sobradinho (58,20% da região) 5.41%

Três Marias (31,02% da região) 18.29%

Itaparica (6,62% da região) 36.57%

Outras
(3,14% da região)


REGIÃO NORTE (situação atual 23.21%)
Principais Bacias
Principais Reservatórios
Situação Atual

Rio Tocantins
96,17% da região Serra da Mesa (43,68% da região) 16.08%

Tucuruí (51,53% da região) 26.42%

Outras
(3,83% da região)

RegiãoCapacidade Máxima de Armazenamento MW.mês

SUDESTE / CENTO-OESTE 205.002
SUL 19.873
NORDESTE 51.859
NORTE


Fonte: OPERADOR NACIONAL DO SISIEMA ELÉTRICO
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Todos os anos , nos meses de janeiro, a velha mídia entoa o mantra do apagão.

Tem sido assim desde o primeiro governo do PT, em 2003.

Um possível apagão pela falta de energia elétrica, com uma tonalidade de pânico ao fundo, é apresentado à população pelos veículos da velha mídia.

Curiosamente , o único apagão que de fato aconteceu, se deu no governo de Fernando Henrique Cardoso, quando a população conviveu com racionamento de energia.

Este ano, com a chuvarada de janeiro a velha mídia ainda, disse ainda, não entrou firme na possibilidade do país ficar às escuras, e também nada informou sobre a situação dos reservatórios das cinco regiões do país.


Se é justo alertar a população quando os reservatórios estão em níveis baixos, também é justo informar quando os reservatórios estão com reservas razoáveis.


No entanto, na velha mídia a manipulação é tanta que a informação gera desinformação, como no exemplo:

" comprei um pedaço de carne para fazer um churrasco, porém a carne é boa"

Assim sendo, o PAPIRO, disponibiliza a situação atual do reservatórios em 25.01.16




segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Onda de Calor no Ártico

Alarme climático: Polo Norte 30ºC acima da média

As temperaturas no Polo Norte estiveram acima do ponto de fusão do gelo, devido à onda de calor que atingiu a região na tempestade Frank.



esquerda.net
  Allan Hopkins/Flickr
As temperaturas no Polo Norte atingiram em dezembro os 0.7º C, ou seja, estiveram acima da temperatura de fusão do gelo. Os valores chegaram a atingir mais 30º C do que a média para esta altura do ano, o valor mais alto desde que os registos começaram, em 1900. Desde 1948, só há três registos de momentos em que a temperatura terá ultrapassado os 0º C no Ártico, mas não há, até agora, nenhum registo nos meses de janeiro, fevereiro ou março. 2015 foi o ano mais quente na região desde 1900, e 2016, sendo um ano de El Niño, provavelmente não lhe ficará atrás. A temperatura subiu tanto devido à passagem da tempestade Frank, uma das cinco tempestades mais fortes de que há registo no Ártico e que também provocou mau tempo e cheias no Reino Unido, Islândia e Estados Unidos.

Nível médio da água do mar pode aumentar mais rápido que previsto

O aumento da temperatura no Polo Norte ganha contornos ainda mais alarmantes com um novo estudo, publicado recentemente na revista “Nature Climate Change” e citado no jornal Público. Os autores estudaram 26 locais na região Oeste da Gronelândia entre 2009 e 2015, e pesquisavam o impacto numa camada de gelo poroso dos Verões quentes, particularmente os de 2010 e 2012, que causaram um grande derretimento.

Os cientistas descrevem que esta camada de gelo poroso, que atinge os 80 m de profundidade, estava a capturar e a acumular nos seus interstícios parte da água derretida, mas deixou de o conseguir fazer. Os investigadores estimavam que esta camada estivesse a reter 30 e 40% do gelo derretido. A água que não é retida escorre para o mar, o que pode aumentar o nível médio da água de forma mais grave e célere do que o previsto.

Por ouro lado, este escoamento da água do gelo derretido pode reforçar mecanismos de reforço positivo, estimulando um derretimento ainda maior. Isto porque a água ao escorrer esculpe a superfície do gelo, criando zonas lamacentas e, logo, mais escuras. Esta alteração da cor da superfície reduz o seu albedo, isto é, a capacidade de reflexão da luz solar, que é máxima no gelo puro, aumentando a absorção de luz. Por sua vez, a absorção de luz pelo gelo aumentará a temperatura à superfície, acelerando o derretimento.

As alterações nesta camada sensível de gelo poroso são praticamente irreversíveis. Mesmo que houvesse a criação de uma nova camada durante os próximos Invernos, o processo demorará décadas e não acontecerá seguramente num clima cada vez mais quente.

Os autores do estudo, citados pelo Público, estimam que se tenham perdido mais de nove milhões de milhões (ou seja, nove biliões) de toneladas de gelo no último século. Quando todo o gelo da Gronelândia derreter, o nível médio do mar subirá sete metros, com efeitos devastadores.

Fonte: CARTA MAIOR
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sábado, 23 de janeiro de 2016

A Ascensão do Mediocre

Programas policialescos não podem ter carta branca para violar direitos


Charge: Junião
O Ministério Público Federal em São Paulo ajuizou ação civil pública contra a Record e a União em decorrência de violações de direitos no programa “Cidade Alerta”. Estudo aponta que programas policialescos violam cotidianamente 12 leis brasileiras e 7 tratados multilaterais.
22/01/2016 
Por Helena Martins (*), especial para a Ponte Jornalismo
 
“Atira, meu filho; é bandido”. Essa foi uma das frases proferidas por Marcelo Rezende, do programa Cidade Alerta, da Rede Record, ao transmitir, ao vivo, uma perseguição policial a dois homens que seriam suspeitos de roubo. A ação culminou com um tiro disparado à queima roupa pelo integrante da Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas (Rocam) da Polícia Militar de São Paulo contra aqueles que, repetidas vezes, foram chamados de “bandidos”, “marginais” e “criminosos” pelo apresentador.
 
 
 Charge: Junião
A cobertura, feita em junho do ano passado, foi objeto de representação elaborada pelo Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação e pela ANDI – Comunicação e Direitos ao Ministério Público Federal em São Paulo. As organizações apontaram que houve desrespeito à presunção de inocência e incitação à desobediência às leis ou decisões judiciais. No texto, foram descritas as cenas e também as leis desrespeitadas pelo canal, em especial a Constituição Federal, que veda a veiculação de conteúdos que violem direitos humanos e façam apologia à violência, e o Código Brasileiro de Telecomunicações, que determina que “os serviços de informação, divertimento, propaganda e publicidade das empresas de radiodifusão estão subordinados às finalidades educativas e culturais inerentes à radiodifusão” (Art.38, d).
 
Agora, o Ministério Público Federal ajuizou ação civil pública contra a Rede Record e a União. O órgão pede que a emissora transmita uma retratação, por dois dias úteis, mostrando não compactuar com o comportamento hostil e com a incitação à violência perpetrada por Marcelo Rezende. Em caso de descumprimento, o grupo deverá pagar multa de R$ 97 mil por dia. O MPF requer ainda que a União cumpra com o seu dever e fiscalize o programa.
 
As medidas são importantes para enfrentar a perversidade praticada todos os dias pelos chamados programas policialescos. Não é mais possível calar diante de conteúdos midiáticos que se valem de uma concessão pública para ir ao ar e, então, violar direitos de forma sistemática, como comprova pesquisa realizada pela ANDI em colaboração com o Intervozes, a Artigo 19 e o Ministério Público Federal. O estudo (**) aponta que pelo menos 12 leis brasileiras e 7 tratados multilaterais são desrespeitados cotidianamente por esses programas, entre eles a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
 
A análise de 28 programas veiculados por emissoras de rádio e televisão em dez estados diferentes, ao longo de 30 dias, constatou que 1.936 narrativas possuíam violações. Entre elas: 1.709 casos de exposição indevida de pessoa; 1.583 de desrespeito à presunção de inocência; 605 de violação do direito ao silêncio; 151 ocorrências de incitação à desobediência ou desrespeito às leis; 127 de incitação ao crime e à violência; 56 casos de identificação de adolescentes em conflito com a lei; 24 registros de discurso de ódio e preconceito; 18 ocorrências de tortura psicológica e degradante, entre outros crimes.
 
Os números servem para comprovar práticas que podem ser observadas praticamente sempre que ligamos o rádio e a TV, especialmente no período do almoço ou no turno da tarde, já que, por serem considerados jornalísticos, os tais policialescos não são submetidos à classificação indicativa – permanecendo, assim, facilmente acessíveis às crianças e aos adolescentes. Poucas são as emissoras que não aderiram à fórmula que combina exploração de sensações (a começar pela dor de quem passa por situações violentas), merchandising e populismo. A estética (e, portanto, a ética) deles penetra também os tradicionais programas jornalísticos, inclusive porque estes passaram, na última década, a buscar responder ao crescimento da audiência daqueles.
 
Como consequência, temos veículos que levam a praticamente todos os lares brasileiros discursos que criminalizam, sobretudo, setores cujos direitos são historicamente negados, como os jovens negros suspeitos de atos infracionais. Discursos que criam estereótipos sobre comunidades ou populações inteiras, que tratam a violência de forma superficial e que apresentam como resposta aos problemas a redução da idade penal e outras expressões do Estado penal.
 
Ao passo que este vem se tornando cada vez mais necessário para regular a vida em sociedade com base na força, na vigilância, na produção do medo e na exclusão, também cresce o papel dos meios de comunicação na produção do que Eugenio Raúl Zaffaroni chama de “criminologia midiática”. Esta constrói uma imagem do real na qual estão, em lados absolutamente opostos, as pessoas boas, vulneráveis, e a massa criminosa. Isso é feito, claro, por meio da fabricação do estereótipo do criminoso, de campanhas de ‘lei e ordem’, de ideias rígidas, como a suposta impunidade dos adolescentes que entram em conflito com a lei, entre outros artifícios.
 
A justificativa para a seletividade penal necessária à manutenção deste sistema excludente e opressor é, assim, construída e reforçada todos os dias. A retórica de que “bandido bom é bandido morto” é exemplo disso. Ademais, ao praticar populismo penal, apresentando, por exemplo, a privação de liberdade em um sistema penal falido como resposta à demanda de segurança, tais programas – e as emissoras responsáveis por eles – privam a sociedade de ter acesso a uma informação plural, contextualizada e completa. Ignoram, por exemplo, o fato de o Brasil ocupar hoje o patamar de terceiro País com a maior população carcerária – posição que galgou, sobretudo, nos últimos dez anos, quanto também vimos o crescimento da violência, o que deixa claro que a saída proposta é absolutamente equivocada.
 
A figura carismática, o tom apelativo, a apresentação de respostas fáceis e a tentativa de ocupar o papel do Estado como mediador de conflitos e detentor da possibilidade de aplicação do direito abrem caminhos para a eleição de parlamentares – e, em breve, possivelmente de mandatários de cargos no Executivo. Alçados à posição de representantes da sociedade, esses apresentadores muitas vezes passam a integrar a chamada “bancada da bala” e a adotar agendas conservadoras, em especial em relação à segurança pública e aos direitos humanos, contra os quais também rotineiramente são proferidos discursos inflamados no rádio e na TV.
 
Para enfrentar essa lógica, é necessária, de imediato, uma mudança de postura dos órgãos responsáveis pela fiscalização dos conteúdos veiculados pelas emissoras de rádio e televisão, em especial o Ministério das Comunicações (MiniCom). Hoje, o Ministério tem recuado de seu poder fiscalizador e sancionador. Além de não monitorar os programas, atua apenas diante de denúncias ou de casos com grande repercussão pública. Além disso, pesquisa mostra que, em diversos casos, houve omissão ou restrição da ação do órgão ao considerar apenas dois dispositivos legais do Código Brasileiro de Telecomunicações para analisar conteúdos, embora haja muitos outros relacionados à questão.
 
A postura omissa do MiniCom resulta em uma carta branca para práticas criminosas. Entre 2013 e 2014, apenas duas emissoras de TV foram multadas por violações cometidas por programas policialescos: a TV Band Bahia, multada em R$ 12.794,08, e a TV Cidade de Fortaleza, que pagou R$23.029,34. No primeiro caso, a apresentadora Mirella Cunha humilhou um suspeito negro por oito minutos. No segundo, dois programas da emissora veicularam o estupro de uma menina de nove anos de idade. Nas duas situações, a ação do Ministério ocorreu após denúncia e pressão por parte da sociedade civil.
 
No caso que envolve o apresentador Marcelo Rezende, essa permissividade mais uma vez ficou clara. Assim como o MPF, o MiniCom recebeu do Intervozes denúncia sobre a ocorrência de desrespeito à presunção de inocência e incitação à desobediência às leis ou decisões judiciais. Não obstante, em resposta encaminhada pelo Departamento de Acompanhamento e Avaliação de Serviços de Comunicação Eletrônica, o órgão disse que segue analisando denúncia, mas que o Poder Judiciário deveria ser procurado em busca de reparação. Segundo o comunicado, “só depois de ocorrer a condenação do culpado, é que o Ministério das Comunicações poderá, com a sentença condenatória transitada em julgado, instaurar processo administrativo contra a entidade detentora da outorga para executar o serviço de radiodifusão, ‘por abuso no exercício da liberdade de radiodifusão por ter sido este meio utilizado para prática de crime’.”.
 
Além do longo prazo para a sociedade ter retorno de algo que, pelas características da mensagem televisiva, tem forte impacto imediato, em geral as multas são irrisórias e não há uma campanha pública que mostre a ocorrência da sanção nem o problema cometido pela emissora. Assim, essas medidas acabam sendo insuficientes para desestimular práticas equivocadas. Essa situação torna ainda mais urgente a atuação crítica da sociedade e de órgãos com posicionamentos contundentes, como tem sido o Ministério Público Federal, em relação aos grupos midiáticos.
 
Nunca é demais lembrar que a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa devem conviver harmonicamente com os demais direitos e podem, inclusive, ser fundamentais para a promoção deles, caso sejam utilizadas com esse fim. Diante de tudo isso e tendo em vista a complexa conjuntura vivenciada no Brasil, sobretudo no campo dos direitos humanos, defendemos algo que pode ser feito desde já, como ocorre em democracias consolidadas ao redor do mundo: não aceitar violações. Se não enfrentarmos coletivamente essa agenda, estaremos fadados a viver em uma sociedade paralisada pelo medo e sujeita à reprodução de discursos que ampliam desigualdades sociais e legitimam a exclusão de grupos populacionais por meio da criminalização, do encarceramento ou do extermínio.
 
(*) Helena Martins é jornalista e representante do Intervozes no Conselho Nacional de Direitos Humanos.
 
(**) Ainda inédito, o estudo faz parte de um amplo programa de monitoramento de violações de direitos humanos em veículos de comunicação brasileiros. Como parte do projeto, já foram lançados dois guias que apresentam mais informações sobre os programas policialescos; conheça o volume 1 e o volume 2.

Fonte: BRASIL DE FATO
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Programas policialescos nas emissoras de TV aberta, e são muitos, estão seguindo a mesma estética das redes sociais.

Aliás, não apenas os programas policialescos, os conteúdos das TV's, principalmente as TV's abertas, estão se alinhando, de alguma forma, com a estética de linguagem e comentários das redes sociais na internete.

É uma estratégia, desesperada, de minimizar a queda nas audiências.

O mesmo acontecerá em breve com jornalões e revistas impressas, que atualmente em versão digital, permitem uma aproximação com os conteúdos das redes sociais.

Isso significa que com o surgimento da internete e das redes sociais, o jornalismo da velha e grande mídia se rebaixou aos padrões da rede, vulgarizou-se, fazendo da informação, seu principal e nobre produto, algo precário, rasteiro e, paradoxalmente, desprovido de informação.

A nova estética de comunicação e linguagem que emerge por conta desse alinhamento, alimenta e se alimenta da polarização na política, repercutindo nas redes sociais e na velha mídia uma disputa que se alastra por toda a sociedade.

Assim sendo, apresentadores de praticamente todos os telejornais, como Raquel Sheherazade do SBT, por exemplo, reproduzem o senso comum, rasteiro e desprovido de conteúdo, que no entanto acaba por ser , de alguma forma, bem recebido por parcela da população e de outras empresas de mídia.

Cresce o número de novos colunistas medíocres na velha mídia.

O mesmo se aplica aos programas policialescos, que em um passado próximo não tinham o discurso corrosivo e violento do presente mantendo até mesmo algum respeito com o telespectador.

Esse fenômeno, que classifico com A Ascensão do Medíocre, deve-se em grande parte seu crescimento a inoperância do Estado e de seus órgãos de fiscalização.

Ignorando a atuação histórica nefasta dos meios de comunicação da velha mídia e também a necessidade de novas regras para civilizar e domesticar o setor, os Governos do PT permitiram que - por desconhecimento, falta de foco, ou ambos - a situação chegasse ao estágio atual de barbárie, onde apresentadores de programas de TV incitam assassinatos ao vivo, para delírio e prazer da audiência, que de certa forma aprova os atos de violência.

Esse fenômeno também se desloca para o esporte, onde modalidades de lutas supostamente esportivas levam os telespectadores ao delírio com cenas de pessoas ensanguentadas, violência extrema nos golpes e até mesmo membros partidos, tudo isso com uma audiência considerável.

O mesmo se dá nas telenovelas, onde a violência, e a trapaça são enaltecidas e roubam a cena.

Os anseios, desejos e instintos mais primitivos das pessoas, que na internete puderam se manifestar devido ao anonimato propiciado pela rede mundial de computadores, ao que parece emergem de forma avassaladora no mundo real em uma regressão social que, por motivos políticos e ideológicos, tem sido amplamente apoiada e incentivada pela velha mídia, do Brasil e do mundo.

Os casos de estupro e de violência contra mulheres cresce em números assustadores.

O novo jornalismo e também o novo Judiciário estão perfeitamente alinhados com a nova realidade.

Esse retrato da sociedade atual não é apenas brasileiro, mas mundial, sendo que em cada país determinadas especificidades prevalecem sobre outras, mas que na totalidade refletem o estágio atual do capitalismo dominante, violento, selvagem, antidemocrático e com um viés de organização criminosa.

A situação no Brasil é preocupante e exige uma ação imediata do poder público, pois, caso contrário, as disputas passarão a acontecer nos espaços públicos, como alguns acontecimentos recentes já evidenciaram.

O sangue que escorre , hoje, é um produto altamente valorizado nos meios de comunicação e o novo protagonista emergente, o medíocre, se alinha perfeitamente com tais conteúdos.