terça-feira, 15 de dezembro de 2015

COP-21. Sucesso ou Fracasso ?


COP21: Sucesso histórico ou fracasso velado?

 Por Ana Carolina Amaral, de Paris, especial para a Envolverde –

Os detalhes do acordo que tentou salvar o mundo no fim de semana.
Sem definir compromissos claros ou assegurar uma meta que garanta um futuro seguro para o clima, o Acordo de Paris, adotado na noite do último sábado pelos 195 países membros da ONU, é um sucesso histórico pelo consenso conseguido entre todas as nações sobre a importância e a urgência de se agir contra as mudanças climáticas provocadas pelo homem. É a primeira vez que uma Conferência das Partes da ONU sobre o Clima não deixa espaço para os negacionistas das mudanças climáticas; contorna os dificultadores e acomoda interesses conflitantes em um único texto. Até nas suas fragilidades, como as metas voluntárias em vez de legalmente obrigatórias, o acordo faz História e pode iluminar novos rumos: para o clima e para a diplomacia.

Em entrevista exclusiva após a plenária final que adotou o acordo, o presidente da Conferência e ministro de relações exteriores da França, Laurent Fabius

Para as mudanças climáticas, o acordo só poderá ser julgado pelo seu sucesso em 2050, se alcançar a neutralização das emissões. Foto: Shutterstock
, revelou ter estudado o processo da COP-15, em Copenhague – considerada um fracasso, em 2009, por não ter conseguido consenso em torno de um documento, que começaria a valer agora em substituição ao protocolo de Quioto. “Nós procuramos identificar as razões pelas quais houve uma série de falhas em Copenhague. Foi daí que eu e o presidente da França decidimos fazer desse modo agora.”

Como eles conseguiram
Entre os pontos da condução francesa que viabilizaram o acordo, Fabius destaca a inversão de estratégia no convite aos líderes nacionais. “Nós decidimos trazer os Chefes de Estado e de governo primeiro para dar um impulso político. E foi muito importante, porque todos eles disseram: ‘você tem que entregar’. E isso deu um mandato para as pessoas [os negociadores]. Enquanto em Copenhague, os presidentes vieram no final e, infelizmente, não podiam fazer nada se as coisas não estavam prontas.”

Assim como a presença dos Chefes de Estado na estreia, em que todos afirmaram sua vontade de chegar a um acordo pelo clima, outra novidade que criou ambiente para as negociações foi o convite para que os países apresentassem, ao longo do ano, suas metas voluntárias para redução de emissões. Vista como um sinal de respeito às soberanias nacionais, a criação do INDC (Contribuições Pretendidas Nacionalmente Determinadas) encorajou a proatividade dos países e fez com que a Conferência começasse, em 30 de novembro, com meio caminho andado: 186 países já tinham apresentado suas contribuições, com resultados que representam, se implementados, 50% do esforço necessário para evitar uma elevação da temperatura em níveis destrutivos. O Brasil foi elogiado pelas metas de combate ao desmatamento ilegal e redução de 37% das emissões na próxima década. Estados Unidos e China, os dois maiores emissores do mundo, surpreenderam ao anunciar juntos seus cortes de emissões.

Ao final da primeira semana de negociação, o texto tinha reduzido suas indefinições pela metade. Para resolver o restante, Fabius formou quatro grupos de trabalho, cada um facilitado por uma dupla de ministros, para avançar nos principais nós do documento: implementação e financiamento, nível de ambição, diferenciação de responsabilidades e aceleração das ações entre 2015 e 2020. Se os grupos não tiraram da cartola respostas mágicas para acomodar interesses conflitantes entre os países envolvidos, ao menos encontraram saídas para viabilizar uma mensagem conjunta.

O documento
A meta do Acordo de Paris é o que torna o documento ambicioso e fraco ao mesmo tempo. Ambicioso, porque se compromete com um limite entre 2°C e 1,5°C no aumento da temperatura global. Fraco, porque não traz compromissos que reflitam a meta. Segundo Suzana Kahn, cientista brasileira que integra o o IPCC (painel científico da ONU para mudanças climáticas), “é extremamente improvável que fiquemos no cenário mais seguro, de 1,5°C, sendo que a humanidade já aqueceu 1°C desde o começo da era industrial. Até mesmo 2°C é ambicioso e vai exigir esforços tremendos.”

Um dia antes do acordo ser assinado, cientistas do IPCC reclamaram que o texto era incoerente, pois não mostrava um plano para alcançar essa meta ambiciosa de temperatura. Para contar com a assinatura de todos os países, o documento se manteve genérico: não cita prazos, nem metas comuns para que as emissões de gases-estufa comecem a cair. Isso deve acontecer apenas via contribuições nacionalmente determinadas e, segundo o texto, “o mais breve possível”.

Durante as negociações, organizações como o Observatório do Clima e a Avaaz cobraram um compromisso com a descarbonização da economia até 2050. Ou seja, para viabilizar o teto de aumento entre 2°C e 1,5°C, os investimentos deveriam migrar nas próximas décadas das fontes fósseis para as renováveis. Em vez de descarbonização, no entanto, o documento final estipula para 2050 a “neutralização das emissões”, o que valida a continuidade de emissões desde que elas sejam compensadas, com a estocagem de carbono.

Embora algumas ONGs, a exemplo da Biofuelwatch, tenham se preocupado com a abertura que essa linguagem pode representar para empresas do ramo dos combustíveis fósseis oferecerem tecnologias de captura e estocagem do carbono no subsolo (CCS) – caras, inseguras e questionadas pelos cientistas do clima; o documento aposta é na estocagem natural de carbono, através da restauração florestal.

Para isso, dois mecanismos defendidos pelo Brasil são descritos no texto: o REDD+, programa que remunera os países por reduzirem suas emissões evitando o desmatamento e a degradação florestal, e um novo mecanismo de mercado para comércio de carbono – a exemplo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo criado para o Protocolo de Quioto – que não estava proposto no primeiro rascunho de Paris e foi trazido à mesa pelo Brasil, em conjunto com a União Europeia, nessa última semana. Juntos, os dois mecanismos ajudam a implementar a meta de neutralização das emissões até a primeira metade do século, apoiando financeiramente países em desenvolvimento e detentores de grandes áreas florestais.

Os dois pontos em que os compromissos mais avançaram foram a revisão das metas nacionais a cada cinco anos e a transparência na prestação de contas da redução de emissões, através de um sistema único que garanta métricas equivalentes entre os diversos países. No entanto, a questão do financiamento, considerado o principal nó do acordo porque implica uma definição sobre as diferentes responsabilidades, ficou fragilizada.

Houve aceitação geral de que o investimento financeiro deve se dividir equilibradamente para apoiar ambos os processos de mitigação e de adaptação às mudanças climáticas nos países em desenvolvimento. Porém, sem o entendimento sobre o financiamento de longo prazo, decidiu-se postegar para até 2025 o aporte de 100 bilhões de dólares anuais com que os países desenvolvidos já tinham se comprometido na COP-15, em 2009, previsto na época para durar de 2015 a 2020. O problema é que o documento não sugere que esse valor seja aumentado no fim do período, nem esclarece o que acontecerá depois. E os diversos estudos sobre os impactos do aquecimento global apontam em uníssono que esse montante é insuficiente: o mundo precisaria se preparar para custos climáticos na ordem dos trilhões.

Para começar a resolver a disputa clássica das COPs do Clima sobre as diferenciação de responsabilidades, mais uma proposta brasileira foi contemplada: a progressão do nível de responsabilidades, respeitando as diferenças históricas e capacidades atuais dos países em desenvolvimento, mas caminhando para uma convergência nos níveis de comprometimento. Com isso, tende a aumentar a participação das economias emergentes, como o Brasil, no pagamento da conta do clima.

Por fim, os mais prejudicados são mesmo os países mais vulneráveis, especialmente as ilhas. Ameaçadas de ficarem submersas em um mundo que esquente mais de 1,5°C, elas pareciam ter conseguido que o documento “não deixe ninguém para trás”, com a citação de um esforço para chegar ao aumento máximo de 1,5°C – o que rendeu à COP-21 o título de sucesso em ambição, ainda que os cientistas tenham deixado claro a improbabilidade da meta. No entanto, a menção ao limite de 1,5°C saiu cara aos pequenos países. No parágrafo que cita os cuidados para evitar e reparar as perdas e danos causadas pelas mudanças climáticas, há a citação clara, no artigo 52, de que isso “não envolve nem fornece uma base para qualquer responsabilidade ou compensação”. Isso quer dizer que os países desenvolvidos, responsáveis historicamente pelas emissões que aquecem o planeta, eximem-se de financiar a recuperação dos países mais vulneráveis, que já estão sendo prejudicados por eventos climáticos extremos.

Reações na plenária final
A Nicarágua foi o único país que reclamou, entre as declarações que seguiram a adoção do acordo. Seu negociador-chefe, Paul Oquist, exigiu a eliminação do artigo 52, que exime as responsabilidades sobre perdas e danos. Ele lembrou que as metas nacionais apresentadas neste ano levam a um cenário de 3°C e, portanto, não são suficientes para cumprir o objetivo de limitar o aquecimento a 1,5°C. “Não podemos mandar nossos netos a um cenário de mais 3°C e eliminar, já em 2015, seu direito a pedir compensação pelas suas perdas”, arrematou.

Países como Arábia Saudita, Rússia e Venezuela, cujos discursos ainda causam apreensão pelas vezes em que já dificultaram o acordo, dessa vez seguiram a linha dos demais: comemoraram o resultado e elogiaram a condução do processo. Ainda na plenária final, mais três países anunciaram suas INDCs: Ilha de São Cristóvão, Venezuela e Palestina, que é hoje um país observador no sistema da ONU. “Repetimos muitas vezes nessa negociação que ninguém pode ser deixado para trás. E a Palestina não pode ser deixada para trás”, declarou, emocionado, o embaixador Riyad Mansour, quando a plenária final já passava da meia-noite.

“Esta foi a última vez que a Palestina fala por último apenas como um estado observador”, ele prometeu, comprometendo-se com os esforços pela paz e pelo clima. O negociador brasileiro Raphael Azeredo, satisfeito com um acordo que reflete as posições defendidas pelo Brasil, declarou que o país “continua pensando que o multilateralismo é a melhor forma de resolver nossos problemas comuns”.

Momentum
Anfitriões de revoluções históricas, os franceses sabem como criar um “momentum” – ou melhor, um clima. Isso foi visto ao longo do ano e nos 15 dias de COP-21. Aliás, “momentum for change” foi o nome de uma das agendas paralelas às negociações que buscou mostrar as iniciativas locais e intersetoriais que já sinalizam uma transição inevitável para uma economia de baixo carbono. Com tudo isso, criou-se um ambiente de proatividade, sob a mensagem de que a mudança já está em curso.

As metas são diversas, voluntárias e é factível que simplesmente não sejam implementadas. Mas aí não faltam lembretes de que o Protocolo de Quioto, mesmo sob força de lei, também não foi cumprido. Um acordo que não obriga ninguém a nada é uma prova de que os líderes globais são mesmo apenas aquilo que lhes delegamos: representantes.

Se não houvesse acordo, é provável que sairíamos de Paris falando que os anúncios voluntários de desinvestimento em fósseis já representam o fim da era do carbono. Não é o acordo, portanto, que significa essa mudança de era: é o momento em si. E ele se constrói pelos atores locais: prefeituras, governos, empresas, organizações da sociedade civil e, em especial, coalizões que combinam esses setores somando esforços locais a internacionais.

Não é à toa que até as organizações mais críticas reconheceram o documento como um sucesso: ele também mostra uma mudança de expectativa em relação ao papel dos líderes mundiais, que apenas representam em escala global o que o mundo dos representados localmente constrói. A sociedade global está se reinventando e não cabia mais na História um fracasso que ignorasse essa virada de rumo.

O Acordo de Paris, longe de ser o salvador do mundo, é o salvador da diplomacia. Ele inverteu processos, prioridades e o que era sua maior fraqueza para encontrar uma lei comum aos 195 países – dada a diversidade de condições e cenários -, gerou uma novidade: a aposta na proatividade das metas voluntárias, com respeito à soberania dos países e suas diferentes capacidades. É digno da qualificação de “sucesso histórico” em tempos de um multilateralismo ameaçado pela sua própria reputação.

Já para as mudanças climáticas, o acordo só poderá ser julgado pelo seu sucesso em 2050, se alcançar a neutralização das emissões. É histórico, simplesmente, por conta do consenso inédito. De resto, não traz compromissos suficientes, nem garantias. Mas traz, sim, o necessário reconhecimento global de que a Ciência estava certa e de que cabe a todos nós, representantes e representados, fazer valer essa transição. Sem detalhar a rota, o Acordo de Paris ilumina um rumo. (#Envolverde)

*Ana Carolina Amaral é jornalista formada pela Unesp, mestra em Ciências Holísticas pelo Schumacher College (UK) e moderadora da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental.

 
Fonte: ENVOLVERDE
 
 

O Telespectador Capim

Assim se prepara uma nova Guerra Mundial


Soldados das Forças Especiais norte-americanas desembarcam para intervir na Síria. “A situação geopolítica é hoje mais explosiva que em qualquer outro momento anterior, desde as vésperas da II Guerra Mundial”

França, Grã-Bretanha e Alemanha, além dos EUA, ampliam intervenção no Oriente Médio. Seu alvo principal não é o ISIS, mas a Rússia. Oposição popular ao conflito é solenemente ignorada

Por Joseph Kishore, do World Socialist Website | Tradução Vila Vudu

Os eventos da semana passada passarão à história como divisor de águas na constituição do imperialismo no século XXI. No período de poucos dias, EUA, Grã-Bretanha e Alemanha ampliaram o respectivo envolvimento militar na Síria, depois que a França intensificou sua campanha de bombardeio no mês passado.

O pretexto para essas operações são os ataques terroristas de 13 de novembro em Paris, seguido agora pelo horrendo ataque a tiros em San Bernardino, Califórnia, na 4ª-feira passada. As razões declaradas publicamente, contudo, pouco têm a ver com discussões estratégicas que estão acontecendo nos escalões superiores das forças militares e das agências de inteligência.

Por trágica que seja a matança de 130 pessoas em Paris e 14 em San Bernardino, não explicam a repentina convulsiva escalada militar das principais potências imperialistas, contra o Oriente Médio. Não é difícil ver semelhanças/diferenças em relação a 1915, quando os EUA recusaram-se a entrar na 1ª Guerra Mundial, mesmo depois do afundamento do RMS Lusitania, com perda de 1.198 vidas. Naquele momento, a classe capitalista norte-americana ainda estava dividida sobre se seria aconselhável intervir na então chamada “Grande Guerra” (que só passou a ser chamada “primeira guerra mundial”, depois que houve a segunda).

A força básica por trás da guerra na Síria é a mesma que motivou a formatação imperialista de todo o Oriente Médio: os interesses do capital financeiro internacional. As grandes potências imperialistas sabem que, se quiserem pôr a mão no butim, têm também de fazer sua parte da matança.

Esse movimento de guerra no Oriente Médio é altamente impopular, o que explica o frenesi para utilizar os ataques recentes na Europa, além da atmosfera de medo que a mídia-empresa cria e infla, para ativar as ações o mais rapidamente possível. Considerem-se os eventos da semana passada:

Na 3ª-feira, o governo Obama anunciou que estaria enviando novo contingente de Forças de Operações Especiais, oficialmente contra o Estado Islâmico no Iraque e Levante [ing. ISIL] e/ou Síria [ing. ISIS]. Em conferência de imprensa no mesmo dia, Obama repetiu que qualquer acordo na Síria terá de incluir a derrubada do presidente Assad da Síria, aliado chave da Rússia.

Na 4ª-feira, o parlamento britânico aprovou apoio a ação militar na Síria, depois de o líder do Partido Labour, Jeremy Corbyn, desimpediu qualquer caminho rumo à guerra, ao aceitar “livre votação” sobre o tema, para os deputados de seu partido. Aviões britânicos decolaram imediatamente para bombardear alguns alvos na Síria já na 4ª-feira à noite, com o primeiro-ministro Cameron declarando “simpatizante de terroristas” quem se opusesse à guerra.

Na 6ª-feira, o parlamento alemão correu a aprovar moção para que a Alemanha também se juntasse à guerra contra a Síria, praticamente sem nem discutir a questão. A aprovação parlamentar ao envolvimento da Alemanha na guerra veio depois da decisão do governo Merkel, no início da semana, de enviar 1.200 soldados, seis jatos Tornado e um navio de guerra para a região.

E então, durante o fim de semana, a mídia-empresa nos EUA e todos os políticos doestablishment dedicaram-se a explorar o tiroteio em San Bernardino, Califórnia, para pressionar a favor da expansão da guerra no Oriente Médio. Os candidatos Republicanos à presidência dispararam ‘declarações’ beligerantes insistindo em que os EUA estariam diante da “próxima guerra mundial” (governado de New Jersey, Chris Christie); que “o país precisa de presidente para tempos de guerra” (senador Ted Cruz, do Texas), e que “eles declararam guerra contra nós e nós temos de declarar guerra contra eles” (ex-governador da Flórida, Jeb Bush).

Em discurso no domingo à noite, Obama defendeu, contra os críticos Republicanos, a própria política na Síria; repetiu que se opõe ao envio massivo de soldados de solo para a área de Iraque e Síria, e que é a favor de acelerar os ataques aéreos; o financiamento para grupos dentro da Síria; e o uso de tropas de países vizinhos. Elogiou os movimentos de França, Alemanha e Reino Unido, e declarou: “Desde os ataques em Paris [dia 13/11], nossos mais próximos aliados (…) aceleraram a contribuição deles à nossa campanha militar, que nos ajudará a acelerar nossos esforços para destruir oISIL.”

Por mais que pressionem e pressionem a favor de mais guerra, nem Obama nem qualquer outro setor do establishment político nos EUA diz sequer uma palavra sobre as raízes reais do ISIS, que já serviu de pretexto para a “guerra ao terror” a partir do qual começou, e nunca mais se alterou, a política externa dos EUA para 15 anos.

No discurso de domingo, Obama fez uma referência oblíqua ao crescimento do ISIS “em pleno caos da guerra do Iraque e depois na Síria” – como se nada tivesse a ver com a própria política dos EUA. A verdade é que EUA e aliados é que ocuparam (ilegalmente) e devastaram (consequentemente) o Iraque, e na sequência criaram e ou inflaram grupos de islamistas fundamentalistas na Síria, a partir dos quais o ISIS emergiu como cabeça de ponte da guerra contra o presidente Bashar al-Assad da Síria.

Os terroristas do ISIS que executaram os atentados em Paris puderam viajar livremente, entrando e saindo da Síria, porque milhares de jovens como eles viajavam da Europa para a Síria, livremente, e com o apoio de autoridades, para que se unissem ao golpe e à guerra contra Assad.

Quanto ao ataque em San Bernardino, funcionários citaram a viagem dos dois atiradores à Arábia Saudita e seus contatos com indivíduos da Frente Al-Nusra, para poderem referir-se ao tiroteio como ataque terrorista. A Arábia Saudita, centro de financiamento e apoio para os grupos fundamentalistas islamistas em todo o Oriente Médio, é aliada chave dos EUA na região, e a Frente Al-Nusra, afiliada da Al-Qaeda, é aliada de factodos EUA na Síria.

Em vez de resposta contra os ataques recentes, as ações das potências imperialistas são a realização de planos já existentes e de ambições já conhecidas há muito tempo.

Na Grã-Bretanha, votação dessa semana reverteu a decisão de 2013, da Câmara de Comuns, segundo a qual o país não participaria de guerra planejada e liderada pelos EUA contra a presidência da Síria. A elite governante alemã não para de ‘exigir’ que o país participe mais ativamente do avanço militar na Síria, para afirmar a própria posição como potência dominante na Europa.

Nos EUA, antes dos ataques em San Bernardino, ouviam-se vozes insistentes doestablishment político e da mídia-empresa a favor do envio de tropas de solo e da imposição de uma zona aérea de exclusão sobre a Síria.

Com os EUA à frente, as potências imperialistas já se engajaram numa guerra infinita, centrada no Oriente Médio e Ásia Central, já há um quarto de século. Mais de um milhão de pessoas já foram mortas e outros muitos milhões foram convertidos em refugiados. Depois das guerras no Afeganistão e no Iraque durante o governo Bush, Obama supervisionou a guerra na Líbia e as campanhas conduzidas pela CIA para mudança de regime na Ucrânia e na Síria. As consequências desastrosas de cada operação prepararam o terreno para que o governo Obama expandisse e intensificasse a guerra.

O que se vê hoje é uma reformatação para recolonização do mundo. Todas as velhas potências levantam-se, exigindo a parte de cada uma no neobutim. Embora hoje centrado no Oriente Médio rico em petróleo, o conflito na Síria já se vai convertendo em ‘guerra por procuração’ contra a Rússia. Do outro lado da massa de terra eurasiana, os EUA dedicam-se a ações cada vez mais provocativas contra a China no Mar do Sul da China.

A situação geopolítica é hoje mais explosiva que em qualquer outro momento anterior, desde as vésperas da 2ª Guerra Mundial. Acossada por crise econômica e social para a qual a classe das elites governantes não tem resposta progressista a oferecer, aquela classe das sempre mesmas elites cada vez mais recorre à guerra e ao saque, como a única resposta que conhecem para quaisquer das suas dificuldades.

Fonte: OUTRAS PALAVRAS
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Logo após os atentados de 11 de setembro, os EUA, de George W. Bush, declaram guerra ao terror, guerra sem fim, e o primeiro alvo do espetáculo bélico - midiático foi o Afeganistão.

Segundo Bush, o Afeganistão abrigava os terroristas, logo deveria ser atacado.

E foi o que aconteceu, com o mundo assistindo pela telas de TV imagens de cavernas, em montanhas, sendo destruídas pelos mísseis norte americanos.

Em pleno século XXI, aviões comerciais, em um plano arquitetado por homens que supostamente viviam em cavernas, foram usados como mísseis contra a maior potência militar do planeta.

Toda essa narrativa é bem bizarra.

Antes dos ataques as cavernas do mal, Bush deu uma famosa declaração:

“quem não estiver do lado dos Estados Unidos estará contra e será combatido”.

Ora, pode-se não aceitar a opção de explodir cavernas como solução para o combate ao terrorismo, e isso não significa estar contra os EUA ou a favor do terrorismo.

Hoje, passados 14 anos das cavernas do mal, o primeiro ministro inglês, ao apoiar a participação da Inglaterra no combate ao grupo Estado Islâmico na Síria, em uma coalização que tem a participação dos EUA, França, Alemanha e Rússia, assim se manifestou na quarta -feira, dia 09 deste mês:

" será considerado simpatizante dos terrorista quem se opuser a guerra "

Mais uma vez, as decisões de combate ao terrorismo não podem ter nenhum tipo de questionamento por parte da sociedade civil, a ponto de tais questionamentos serem considerados como defesa dos terroristas.

Pode-se ser contra o combate ao Estado Islâmico da maneira como vem sendo feito, e isso não significa estar ao lado dos terroristas.

Essa limitação do debate, essa tentativa de impedir reflexões, esse estreitamento do raciocínio, é algo recorrente no mundo atual, em um crescente, e se manifesta de várias formas , em diferentes situações, tendo a mídia ocidental um papel relevante em apoio e divulgação.

A título de exemplo, em mais um exemplo, o jornal Valor Econômico, ontem, assim se manifestou quanto a situação política do país e a necessidade de se  ter uma  nova utopia:

" é necessária uma utopia, é necessário enxergar no afastamento do PT mais do que a oportunidade do advento de Michel Temer".

A necessidade de uma nova utopia , em um mundo caótico e em transição, não necessariamente passa por afastamento do PT, e, mesmo em se tratando apenas de Brasil, uma nova utopia não requer necessariamente o afastamento do PT.
E assim, caro leitor, um nova guerra vai sendo costurada, preparada para combater...

O capim um dia morrerá.
O  telespectador um dia morrerá.
O telespectador é capim.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

O Golpe dos Dependentes

Valor, ansioso: 
'é necessária uma utopia, é necessário enxergar no afastamento do PT mais do que a oportunidade do advento de Michel Temer'.

Fonte: CARTA MAIOR
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Um país aos cacos que é referência para o clima?

Na Conferência do Clima, em Paris, o Brasil deixou de ser a Geni do conservadorismo para se tornar a referência ambiental das nações em desenvolvimento.

por: Saul Leblon
Paulo de Araújo/MMA















A atuação brasileira na Conferência do Clima, em Paris --contribuindo de forma marcante para o desfecho superior ao esperado, num encontro decisivo para o planeta, desconcertou o jogral do Brasil aos cacos.

Foi preciso, porém, que o presidente dos EUA, Barack Obama, orientasse seu secretário de Estado, John Kerry, a ‘colar’ na mediação da brasileira Izabella Teixeira, ministra do meio ambiente, para que o noticioso local admitisse o que o conservadorismo nega, sonega e combate.

Ou seja, o novo degrau do Brasil na geopolítica mundial.

‘Ministra brasileira ganha destaque nos debates da COP-21. Izabella Teixeira é uma das autoridades mais assediadas do encontro’.

Foi o que estampou o site de O Globo no último sábado, quando o documento da CoP 21 era arrematado no joelho pelos negociadores (leia a íntegra do documento aqui, na versão em espanhol)

De onde o ‘insuspeito’ veículo dos notórios Marinhos tirou isso?

Do fato que o Brasil virou referência na CoP 21 graças a sua ousadia na definição de metas próprias  --única nação em desenvolvimento a se comprometer em cortar emissões em termos absolutos; à credibilidade lastreada em resultados superlativos  já alcançados pelo país e à qualificação técnica inquestionável da ministra de Estado, Izabella Teixeira.

Tudo isso soa a conversa de marciano para quem tem como referência exclusiva o noticioso das próprias Organizações Globo, na grande confluência formada internamente entre o golpismo e a vigarice nos dias que correm.

Do que se depreende dessa orquestração seria aceitável aleijar o Estado de Direito para derrubar um governo que dá pedaladas (fiscais) para cumprir programas sociais.

Pasmem.

O assalto assim justificado soa ridículo.

Os assaltantes garantem, no entanto, que é por aí que o país vai restaurar a confiança na economia e a moralidade na política.

Assinado: o sóbrio Aécio, o impoluto Cunha, o desprendido Serra e, acima de todos e de tudo, a pleonástica grandeza dessas iniciais, ‘FHC’.

O aquadrilhamento oculta, minimiza, desdenha e boicota qualquer resultado ou fato que desminta o plano inclinado da nação rumo ao abismo, diuturnamente reiterado pelos veículos associados.

Daí o parêntesis algo desconcertante aberto pelo noticiário da CoP, em dissonância com o esforço midiático para trazer a classe média de volta às ruas, e assim livrar-se da dependente simbiose entre o golpismo e a vigarice representada por Eduardo Cunha.

A desconexão espantosa do noticiário não decorre da realidade.

Mas da forma como ela tem sido filtrada pelo oligopólio midiático no país.

Aos fatos.

Quando a crise mundial gritava mais alto, em 2009, eram poucas as nações dispostas a conversar sobre restrições impostas pelo aquecimento global.

A CoP então, a conferência de Copenhague, acabou em fiasco.

O Brasil nadou na contracorrente.

Fez na esfera ambiental o que adotaria depois na economia,  com políticas keynesianas destinadas a afrontar o vagalhão global mundial, a contrapelo da maioria das nações, que dobraria a aposta desastrosa mergulhando no arrocho neoliberal.

Por conta própria, o governo Lula fixou então uma meta unilateral de redução de gases de efeito estufa, tendo como referência o ano de 2005.

O noticiário especializado carimbou: ‘retórica’.

Errou.

A redução alcançada até 2012 foi de 41%, graças sobretudo ao recuo de 79% no desmatamento na Amazônia legal entre 2004 e 2015.

Foi a bordo desses números que a ministra Izabella Teixeira desembarcou  em Paris  trazendo na bagagem outra meta igualmente desassombrada – anunciada anteriormente pela Presidenta Dilma Rousseff.

A de reduzir em 37%, até 2025, e em 43%, até 2030, as emissões de gases do efeito estufa do país

Para que  seja factível, o governo se impôs o compromisso de zerar o desmatamento na Amazônia Legal até 2030.

Nesse mesmo prazo, 12 milhões de hectares de florestas, o equivalente a uma Inglaterra inteira, terão que ser reflorestados.

Porém, não apenas isso.

Implícitos aí estão dois requisitos modeladores do futuro do desenvolvimento brasileiro.

Uma redução absoluta no volume das emissões no mesmo período e o girar a economia a partir de então com 1/3 (33%) de energia renovável (contra 28% hoje).

Essas, as credenciais do país que desempenhou um papel marcante no mais importante fórum da humanidade encerrado neste final de semana em Paris.

Uma pergunta é obrigatória.

Pode uma nação em ruína, como quer a emissão conservadora, servir ao mesmo tempo de referência da agenda angular para o destino dos povos em nosso tempo?

Qualquer grão de mostarda de honestidade intelectual responderia que não.

Somos levados a intuir, assim, que aquilo que a aliança do golpismo com a vigarice chama de ‘ruína lulopetista’ configura na realidade outra coisa.

Na verdade uma encruzilhada clássica na história das nações.

Não isenta de erros de seus protagonistas.

Mas acima de tudo enervada pela crispação dos dilemas que marcam  uma transição de ciclo do desenvolvimento.

Essa em que a disputa pela riqueza corrente se intensifica, a desigual distribuição do estoque torna-se mais ostensiva  e as prioridades,  direitos e condicionalidades sobre o fluxo futuro exacerbam os conflitos de classe em torno do passo seguinte da sociedade.

Os parâmetros levados pelo governo brasileiro a Paris incorporam a essa travessia, por si só difícil, a contrapartida do ingrediente climático incontornável.

O que fez do Brasil uma referência das nações em luta pelo desenvolvimento na CoP 21 foi ordenar esse conjunto com base em um princípio inegociável: considerar indissociável a economia sustentável, da nação socialmente sustentável.

A destinação social do desenvolvimento e o desfrute responsável e equitativo de seus recursos e riquezas conectam-se aí por laços e coerência estratégica e política.

Ou dito à moda brasileira, como tem acontecido em todos os fóruns internacionais: um futuro sustentável é incompatível com a fome, a miséria, o desabrigo, o arrocho, a insalubridade, as periferias conflagradas e os recursos sonegados às grandes maiorias.

Construir uma nação é um ato de ruptura.

Que se renova periodicamente em espirais de choques contra interesses dominantes internos e externos.

Delimitar um espaço, fincar estacas e declarar a soberania aí não é coisa que se faça impunemente em tempo algum e em qualquer latitude

Menos ainda quando se trata como é o caso brasileiro, de um dos maiores territórios do globo, dotado das maiores reservas de água, de minérios, petróleo,  terras férteis, potencial hidrelétrico e solar; ademais de florestas e biodiversidade, tudo isso arrematado por um gigantesco mercado de massa.

O que significa ser tudo isso em uma mudança de época em que a civilização terá que se apoiar nos recursos em declínio –que o Brasil ainda dispõe em abundância-- para construir as novas bases de sua sobrevivência?

Significa, em primeiro lugar, combinar o desprendimento cooperativo com a soberania intransigente, mas também e justamente por isso expor-se a uma rota de colisão permanente com  um mundo de capitais livres em rota de colisão com a urgência das nações .

Essas correntezas violentas agem sob a superfície da conjura esfomeada do golpismo com a vigarice no Brasil nesse momento.

Quem melhor encarna esse elo entre a superfície e as profundezas, entre a  cozinha e o cofre, entre o varejo  e o atacado da reordenação do poder local e global é o recém assumido chefe das operações  contra Dilma, o tucano Fernando Henrique Cardoso.

Diga-se a seu favor que não se trata de uma ruptura, mas de um desdobramento evolutivo.

Não por acaso é ele o personagem que ejacula vingança no flerte do golpismo com a regressividade social e institucional nos dias que correm.

No seu constrangedor modo de ver e agir estaríamos agora, a exemplo do que ocorreu em 1964, diante da confirmação histórica de sua tese basilar.

Aquele que ordenou o governo neoliberal privatista sob seu comando, nos anos 90, e que justificaria, ademais, o cerco golpista atual que lidera contra Dilma Rousseff.

Qual seja, a de que não há espaço para um povo comandar o seu destino no capitalismo do século 21.

E menos ainda para a teimosa insistência ‘lulopetista’ na construção de uma democracia social tardia no coração da América Latina.

Os acontecimentos referendariam sua célebre análise sociológica de 1967, ‘Dependência e desenvolvimento na América Latina’.

Escrita com Enzo Falletto, no Chile, quatro anos depois do golpe no Brasil, e publicado em 1973, ano da queda de Allende, ela teorizava sobre a inviabilidade de um modelo de desenvolvimento soberano na região.

A dependência é estrutural, dizia FH em 1967.

A dependência é virtuosa, adicionaria FH presidente nos anos 90.

A dependência é inexorável, diz agora o baluarte do golpe institucional, que prescreve a derrubada do governo resiliente em contrariar o enredo consagrado pelo acadêmico e líder conservador.

FH partiu de um diagnóstico correto, verdade seja dita.

Ele apontou o equívoco de boa parte da esquerda brasileira, que em 1964 via na burguesia nacional um aliado dos trabalhadores na luta pelo desenvolvimento.

Mas extraiu daí conclusões equivocadas.

Focado na realidade efetiva dos interesses que opunham o capital às massas populares na disputa pelo excedente econômico, ‘Dependência e Desenvolvimento na América Latina’, sinalizava um fato real: a complementariedade de propósitos entre o capital local e o estrangeiro.

Tal convergência, antes de levar à estagnação pela atrofia do mercado interno, em decorrência do arquivamento das reformas de base, permitiria um padrão de desenvolvimento associado e dependente, no qual o consumo da classe média forneceria o lubrificante de equilíbrio político e econômico.

Ao privilegiar os conflitos de interesse no interior da sociedade à margem de idealizações ideológicas, a reflexão sociológica representou um avanço.

Sem, todavia, definir um verdadeiro marco histórico.

Faltou abordar o essencial: a problematização dos conflitos inerentes  à associação entre o capital local e o internacional e o seu custo social.

A ausência desse olhar dialético magnificaria aquilo que FHC criticava na esquerda nos anos 60: a troca da materialidade da luta de classes por um fatalismo alheio às contradições transformadoras do processo histórico

A dinâmica interna estaria assim previamente dada; independente da prática política, o país orbitaria sempre como um sócio subalterno da engrenagem global.

Com a supremacia financeira, a partir dos anos 70/80, o enredo mecanicista ganharia a aparente robustez de um sujeito histórico hegemônico, dotado de mando e ubiquidade efetivas.

Foi essa aparente consagração da teoria que deu estofo ao  projeto político do sociólogo  na Presidência da República, que a exerceria entre 1995 a 2002 disposto a  personificar sua obra.

Assim o fez.

O surgimento do PT e a vitória desconcertante do líder operário em 2002 e 2006 –que fez  a sucessora em 2010, reeleita em 2014--  introduziu um ruído insuportável no escopo desse conformismo estratégico.

Para revalidar a teoria  –e os interesses aos quais ela consagra uma dominância irreversível, era preciso desqualificar a heresia de forma exemplar.

É essa vendeta que impele FHC agora.

A ponto de alinhar-se ao golpismo mais ostensivo, irmanado à vigarice explícita de um Cunha & associados..

É preciso provar que o conformismo de 1967  não esgotou o prazo de validade.

Após 13 anos de avanços sociais e geopolíticos, sob o comando de governos hereges, só restou ruína, garantem seus vocalizadores igualmente jogados de corpo inteiro no golpe.

Ou não será essa a sofreguidão embutida na manchete da Folha deste domingo de convocação da classe média para as ruas? ‘Após 13 anos de PT, 68% não veem melhora de vida’. E rebaixado em miúdas: ‘No período, renda dos mais pobres subiu 129%’. Dissonância logo rebatida na legenda da foto  abaixo: ‘crianças atendidas pelo Bolsa Família alimentam-se de arroz e feijão, sem carne’.

Não seria um risco alto demais reduzir-se uma transição de ciclo de desenvolvimento a essa composição de densidade colegial?

Não se o torniquete financeiro internacional  –ancorado nas agências de risco e no arrocho fiscal interno --  tanger a pasta  de dente de volta ao tubo com  chibatadas de  juros altos,  retração do investimento público, volta do desemprego  em massa e a reversão dos ganhos salariais.

É nisso que FHC arrisca sua autoestima póstuma.

Para tanto, o país precisa derreter.

Por dentro e por fora.

O que aconteceu na conferência de Paris neste fim de semana conflita com o enunciado conservador.

Nela, o Brasil deixou de ser a Geni do conservadorismo para se tornar a referência ambiental das nações em desenvolvimento.

Na frente interna, o baile é ainda mais agitado.

A disputa se dá sob dominância da rua.

Derrotar a sociologia da dependência, neste caso, requer um grau de ousadia ainda maior.

Trata-se de libertar a democracia da passividade a que foi condenada no modelo de governança de sucessivos governos nas últimas décadas.

Inclusive os do PT.

É uma corrida contra o tempo.

Em parte, para deixar de ser refém das próprias renúncias e omissões.

O sociólogo aposta seu prestígio póstumo nesse fracasso.

A ver

Fonte: CARTA MAIOR
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Uma economia centrada no bioregionalismo




Leonardo Boff*

Por todas as partes buscam-se alternativas ao modo de produção industrialista/mercantilista/ consumista, pois os efeitos sobre as sociedades e sobre a natureza estão se mostrando cada vez mais desastrosos. O caos climático, a erosão da biodiversidade, a escassez de água potável, a quimicalização dos alimentos e o aquecimento global são os sintomas mais reveladores. Este modo de produção é ainda dominante mas não sem críticas.




Em contrapartida, comparecem por todas as partes formas alternativas de produção de base ecológica como a agricultura orgânica, cooperativas de alimentos agro-ecológicos, agricultura familiar, ecovilas e outras afins. A visão de uma eco-economia da suficiência ou do “bem viver e conviver” dá corpo ao bioregionalismo, como temos já explanado aqui.

A economia bioregional se propõe satisfazer as necessidades humanas (em contraste com a satisfação dos desejos) e realizar o bem viver e conviver, respeitando o alcance e os limites de cada ecossistema local.

Previamente temos que nos questionar sobre o sentido da riqueza e de seu uso. Ao invés de centrarmos-nos na acumulação material para além do necessário e do decente,precisamos buscar outro tipo de riqueza, esta sim, verdadeiramente humana, como o tempo para a família e os filhos, para os amigos, para desenvolver a criatividade, para nos encantar com o esplendor da natureza, para nos dedicar à meditação e ao lazer. O sentido originário da economia não é a acumulação de capital mas a criação e re-criação da vida. Ela se ordena a satisfazer nossas necessidades materiais e criar as condições para a realização dos bens espirituais (não materiais) que não se encontram no mercado mas se derivam do coração e das corretas relações para com os outros e para com a natureza como a convivência pacífica, o sentido de justiça, de solidariedade, de compaixão, de amorização e de cuidado para com tudo o que vive.

Ao focarmos a produção bioregional, minimizamos as distâncias que os produtos têm que viajar, economizamos energia e diminuímos a poluição. O suprimento das necessidades pode ser atendido por indústrias de pequena escala e tecnologias sociais facilmente incorporadas pela comunidade. Os dejetos podem ser facilmente manejados ou transformados em bioenergia. O operários sentem-se ligados ao que a natureza local produz e por operarem em pequenas fábricas consideram seu trabalho mais significativo.

Aqui reside a singularidade da economia bioregional: ao invés de adaptar o meio ambiente às necessidades humanas, são estas que se adaptam e se harmonizam com a natureza e destarte asseguram o equilíbrio ecológico. A economia usa minimamente os recursos não renováveis e usa racionalmente os renováveis, dando-lhe tempo para repouso e regeneração. Os cidadãos acostumam-se a sentir-se parte da natureza e seus cuidadores. Daí nasce a verdadeira sustentabilidade.

No lugar de criar postos de trabalho, procura-se criar, como afirma a Carta daTerra “modos sustentáveis de vida” que sejam produtivos e deem satisfação às pessoas.

Os computadores e as modernas tecnologias de comunicação permitirão as pessoas de trabalharem em casa, com se fazia na era pré-industrial. A tecnologia serve não para aumentar a riqueza, mas para nos liberar e garantir mais tempo, como sempre enfatiza o líder indígena Ailton Krenak, para a convivência, para a recreação, para a restauração da natureza e a celebração das festas tribais.

A economia bioregional facilita a abolição da divisão do trabalho fundada no sexo. Homens e mulheres assumem juntos os trabalhos domésticos e a educação dos filhos e zelam pela beleza ambiental.

Esta renovação econômica propicia também uma renovação cultural. A cooperação e a solidariedade se tornam mais realizáveis e as pessoas se acostumam a agir corretamente entre elas e com a natureza porque fica mais claro que isso está em seu próprio interesse bem como da comunidade. A conexão com a Mãe Terra e seus ciclos suscita uma consciência de mútua pertença e de uma ética do cuidado.

O modelo bioregional, a partir da pequena cidade inglesa,Totnes, é assumido hoje por cerca de 8000 cidades, chamadas de Transition Towns:transição para o novo.Tais fatos geram esperança para o futuro.

Fonte: JORNAL DO BRASIL
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O jornal Valor Econômico, e o caro leitor sabe, é uma associação entre os Grupos Globo e Folha.

Conhecido como o PIG cheiroso, segundo o afiado blogueiro Paulo Henrique Amorim.

O Valor, ansioso segundo  CARTA MAIOR, sugere uma nova utopia, claro, relacionando o novo com o afastamento do PT e algo mais do que um  suposto governo Temer. 
 
Teriam sido os ventos da COP - 21 que fizeram o jornal Valor  a pensar na necessidade de uma nova utopia ?

Talvez, e se assim foi, o PIG cheiroso não erra ao constatar que algo novo é necessário, algo não baseado na dependência mecanicista, mas sim na interdependência ecológica.

Mesmo sugerindo uma nova utopia, não se sabe baseada em que, Valor não deixa de lado  seu lado obscuro ,retrógrado e vigarista, pois associa o novo  com a saída do PT e mesmo com algo para além Temer. 

Errou feio, pois o novo, independente do que seja, requer os conceitos de sustentabilidade e interdependência , e, de alguma forma vem sendo aplicado pelos governos do PT, mesmo que ainda esteja bem distante do ideal.

Por outro lado, o bloco golpista, e Valor está na comissão de frente, insiste no conceito da dependência, que como se sabe ao longo dos anos passados  e mesmo presente, produz um grande repertório  de resultados e práticas insustentáveis.

Quando os objetivos não são apresentados de forma clara, criam-se monstros, contradições escancaradas, e, pelos Curricula vitae dessa turma, a verdade emerge.

A dependência proposta por FHC existe, no presente, com elementos do futuro, já que se manifesta através de redes, porém, na cultura da sustentabilidade, tais redes que hoje tem o viés competitivo, seriam cooperativas.

Assim sendo, FHC defende  o que está morrendo, talvez fruto de sua  vaidade em ver, ainda em vida,  suas teses obsoletas prosperarem.

O mundo de FHC é um mundo em decadência, e,o  que está em jogo no país  é uma tentativa grosseira de um golpe de estado, contra um governo legítimo , que comete erros, ilícitos como todos os governos  anteriores cometeram, porém, foi o único governo que seguindo a tradição brasileira conseguiu roubar a cena em um evento internacional,  se apresentando como referência ao novo, ou seja, o caminho da sustentabilidade.

A mídia corporativa e os partidos de oposição se comportam como dinossauros, reais e virtuais.
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Dia 16, 4ª, é hora de levar p/ a rua o que é da rua: nem arrocho, nem golpe, democracia, direitos e desenvolvimento (em SP, 17 hs, no MASP)
Fonte: CARTA MAIOR 


 

sábado, 12 de dezembro de 2015

Globo e seus filhos



Nem vem, Globo. Cunha é teu filho. Assume!


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A Globo publica hoje editorial pedindo a saída de Eduardo Cunha da presidência da Câmara, e falseando os fatos para tentar se livrar dele sem afetar a marcha do golpe.
Nem vem que não tem!
Quem fez reuniãozinha a porta fechada com Eduardo Cunha pra acertar o golpe não foram os editores do Globo, conforme teve que admitir Merval Pereira após ser desmascarado pelo Cafezinho?
Quem escondeu os mal feitos de Cunha durante a sua campanha para presidência da Câmara? Não foi a Globo?
O editorial esconde quem foram os aliados de Cunha na marcha de insensatez que ele imprimiu à Câmara este ano, aprovando pautas bombas que tinham por único objetivo desestabilizar as contas públicas, e apostando em iniciativas ultra reacionárias, como a redução da maioridade penal e medidas contra as mulheres. Não foi o Psdb que se aliou, desde o início, a Eduardo Cunha?
O editorial do Globo apenas prova que o grupo é o núcleo do golpe. Cunha foi usado e agora se tenta descartá-lo como fósforo já riscado.
Nada disso!
Segura que o Cunha é teu, Globo!

Venceu o prazo de validade de Eduardo Cunha
Ultrapassou todos os limites a manipulação que o presidente da Câmara faz do regimento, com o uso de seu poder, para atrapalhar a apreciação de processo contra ele12/12/2015 
A Câmara dos Deputados, assim como o Senado, é uma instituição secular, fundada no Império, dirigida àquela época por condes e viscondes. Na República, sua Mesa foi frequentada por nomes que se encontram nos compêndios de História do Brasil: Flores da Cunha, Pedro Aleixo, Ulysses e outros.
Em tempos recentes, houve a bizarrice de Severino Cavalcanti, cassado por receber um “mensalinho” de R$ 10 mil de um concessionário de restaurante na Câmara. Ungido pela política fisiológica do PT de literalmente comprar apoio no Congresso, Severino queria controlar a diretoria da Petrobras que “fura poço”. Um parêntese: ele talvez não soubesse, mas o lulopetismo já havia dominado a direção da estatal e passara a saqueá-la.
No campo do exotismo — mas em outro sentido —, o atual presidente, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), escala índices de rejeição na opinião pública, ao manejar com frieza o poder do cargo e o conhecimento que tem das regras da Casa, para sabotar a tramitação no Conselho de Ética de um processo instaurado contra ele por falta de decoro.
Às favas com a objetividade dos fatos. Cunha, citado na Lava-Jato como beneficiário de propinas geradas na Petrobras, compareceu, por vontade própria, à última CPI da Petrobras e garantiu que não tinha contas escondidas em bancos suíços.
O MP suíço o desmentiu, ao enviar dados de contas suas e família à Procuradoria-Geral da República. Configurado o perjúrio, o PSOL e a Rede encaminharam denúncia ao Conselho de Ética. Aberto o processo, Cunha, aliados e tropa de choque fazem de tudo para impedir o funcionamento do Conselho, com a intenção de atrasar ao máximo os trabalhos e jogá-los para 2016.
Inviabilizado um acordo com o governo — mais por resistência de petistas que se recusaram a votar em favor dele —, para que o deputado escape da cassação, os embates no Conselho passaram a reproduzir cenas à altura de câmaras de vereadores do mais longínquo sertão. Tapas, gritaria, intervenções protelatórias de nível rasteiro.
Mesmo tucanos que estavam condescendentes com Eduardo Cunha, para que ele aceitasse o pedido de impeachment de Dilma — arma que o deputado usou para chantagear o Planalto —, o abandonaram. Ainda antes de ele instaurar o processo do impedimento — dentro das prerrogativas do presidente da Câmara, seja ele quem for.
Aberto o processo, passaram-se 38 dias e oito reuniões, até a de quinta-feira, sem que se conseguisse votar um relatório, diante de um atônito presidente do conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA). O primeiro relator, Fausto Pinato (PRB-SP), contestado pelo grupo de Cunha, por se declarar a favor do prosseguimento do processo, disse ter sido ameaçado, e terminou substituído por Marcos Rogério (PDT-RO). Este promete ler seu relatório, também contra Cunha, na terça-feira. Mas nada é certo.
O presidente da Câmara deveria renunciar ao cargo, para se dedicar à sua defesa, sem atrapalhar os trabalhos da Casa.
Seu tempo acabou.
(Foto: Cunha na Globo. Repare na alegria e intimidade.)
Fonte: O CAFEZINHO
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Cunha, como se sabe,  é mais um filho da Globo.

Assim como Severino Cavalcanti, ex-presidente da  Câmara dos Deputados citado no editorial de O Globo, foi eleito para o cargo com os votos do PSDB - protegido e aliado do Grupo Globo - com o intuito de desmoralizar  a Casa e impedir uma vitória do PT.

Globo ou tem memória curta, ou tenta reescrever os fatos, ou perdeu o juízo.

Cunha cresceu e engordou nos laboratórios de globo, no entanto, cada vez mais, sua rejeição cresce na sociedade, motivo pelo qual globo tenta tirar o corpo fora.

Se Cunha se transformou em lobisomem ,não foi por falta de apoio de globo.



Serafim e Seus Filhos
Ruy Maurity
  
São três machos e uma fêmea, por sinal Maria,
Que com todas se parecia.
Todos de olhar esperto, para ver bem perto,
Quem de muito longe é que vinha.
Filhos de dois juramentos, todos dois sangrentos,
Em noite clarinha, eia-ô,
O João Quebra-Toco, Mané-Quindim, Lourenço e Maria . . .

Noite alta de silêncio e Lua, Serafim,
O bom pastor de casa saía.
Dos quatro meninos, dois levavam rifle,
E os outros dois levavam fumo e farinha.
Bandoleros de los campos verdes, Don Quijotes,
De nuestro desierto, eia-ô,
Serafim bom de corte,
Mané, João, Lourenço e Maria . . .

Mas o tal Lourenço, dos quatro o mais novo,
Era quem dos quatro tudo sabia.
Resolveu deixar o bando e partir pra longe,
Onde ninguem lhe conhecia.
Serafim jurou vingança,
Filho meu não dança conforme a dança, eia-ô,
E mataram o Lourenço em noite alta de lua mansa . . .

Todo mundo dessas redondezas
Conta que o tal Lourenço não deu sossêgo.
Fêz cair na vida sua irmã Maria
E os outros dois matou, só de medo.
Serafim depois que viu o filho lobisomem,
Perdeu o juízo, eia-ô,
E morreu sete vezes,

Até abrir caminho pro paraíso . . .

O Acordo

COP-21 apresenta proposta final para acordo climático


O texto final para selar o Acordo de Paris na COP21 (conferência do clima da ONU), estabelece como teto de aquecimento bem menos de 2°C, na direção a 1,5°C. O documento indica que US$ 100 bilhões (R$ 378 bilhões) por ano é o piso da ajuda dos países ricos aos mais pobres até 2025 e determina ainda balanço global das metas nacionais a cada cinco anos.

O documento foi apresentado neste sábado (12) pelo presidente da COP, o chanceler francês, Laurent Fabius, e ainda depende da adoção consensual dos delegados de 195 países presentes ao encontro.

A expectativa dos líderes é que o acordo, o primeiro sobre clima desde o Protocolo de Kyoto (1997), seja aprovado, pondo fim às intensas negociações que tomaram conta da cúpula desde o dia 30 de novembro.

Com sua aprovação, o mundo ganhará pela primeira vez um compromisso de todos os países e não só dos mais desenvolvidos com a redução de emissões de carbono para combater o aquecimento global. O acordo valerá a partir de 2020.


Manifestantes vão às ruas de Paris mostrar 

desacordo com COP-21

Após o término das reuniões da cúpula do clima de Paris (COP-21), este sábado (12) amanheceu marcado por manifestações contrárias ao acordo firmado pelos líderes das nações envolvidas no encontro. Os atos foram convocados por ONGs que consideram os termos da decisão insuficientes para combater o aquecimento climático.

A principal manifestação foi convocada junto ao Arco do Triunfo, em Paris. Manifestantes traçaram uma linha vermelha no local para simbolizar limites que não devem ser superados e a fronteira entre as vítimas do aquecimento global e seus causadores.

Autoridades parisienses afirmaram que manifestações estão proibidas na capital, dado o estado de emergência, e reconheceram que apenas três delas seriam toleradas. Cerca de 2 mil agentes serão mobilizados para evitar atos violentos, como aqueles que marcaram a abertura da COP 21.

 
Fonte: JORNAL DO BRASIL
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COP 21: Dilma venceu

Blábláblá, chora no ombro da Urubóloga
publicado 12/12/2015
marina e miriam.jpg
Bláblá e Urubóloga

No Globo:

Acordo da Cúpula de Paris determina verba anual para países pobres

Texto final, apresentado este sábado, diz que nações ricas repassarão US$ 100 bilhões

LE BOURGET, França — Depois de duas semanas de uma maratona de negociações — grande parte delas feita madrugada adentro —, a Conferência do Clima de Paris (COP-21) concluiu, no início da manhã deste sábado, dia 12, um acordo global. O texto estabelece que a soma de US$ 100 bilhões por ano deve ser o mínimo repasse feito por países ricos a nações pobres, a partir de 2020, para impedir que a temperatura do planeta se eleve acima de 1,5 grau Celsius. Em moeda brasileira, esse montante equivale a cerca de R$ 385 bilhões.

O documento começou a ser apresentado às 12h na hora local (9h de Brasília), pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon; pelo presidente da França, François Hollande; e o presidente da reunião e ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius.

Segundo Fabius, o acordo "salva" o Caribe e garante o repasse de verbas para a África combater a mudança do clima.

— Tenho a convicção de que chegamos a um acordo ambicioso e equilibrado — afirmou, durante a apresentação do texto, Laurent Fabius. — Se adotado, esse texto marcará um ponto de virada histórico. Esse acordo do clima é fundamental para a paz mundial.

A previsão é de que o acordo seja ratificado e oficialmente adotado pelos 195 membros na tarde deste sábado. Por congregar tantas nações, como nunca foi alcançado nas cúpulas do clima anteriores, este acordo é considerado histórico.

Durante a apresentação do documento, o secretário-geral da ONU conclamou os negociadores a aprovarem o texto final.

— Vamos terminar o serviço. Bilhões de pessoas dependem de sabedoria de vocês — pontuou Ban Ki-moon. — As soluções para a mudança do clima estão à mesa, estão à nossa disposição agora.

No entanto, cientistas, ambientalistas e ativistas reclamam que o documento não contém metas e prazos para o planeta alcançar um aumento de temperatura de, no máximo, 1,5 grau Celsius.
(...)
Fonte: CONVERSA AFIADA
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Será que alguém em sã consciência acreditaria que a reunião da COP - 21 iria propor a mudança do sistema de valores que atualmente determina a economia global ?

Talvez, somente os midiotizados, porém os midiotizados, por assim serem, não são pessoas que desfrutam da plenitude do processo cognitivo.

Tanto é verdade que a questão principal, que acabou por empurrar um acordo para o dia de hoje girava em torno sobre como e quem pagaria , ou melhor , financiaria o processo para se conter o aumento da temperatura.

E essas medidas, derivadas do acordo firmado,  passam a valer a partir de 2020, ou seja, até lá , pode-se mudar , para pior, o que já não se sustenta mais.
A esse respeito , vale a leitura do texto abaixo - um excerto da contra capa do excelente livro, As Conexões Ocultas, de Fritoj Capra, lançado em 2002.

As últimas descobertas científicas mostram que todas as formas de vida - desde as células mais primitivas até as sociedades humanas, suas empresas e estados  nacionais, até mesmo sua economia global - organizam-se segundo o mesmo padrão e os mesmos princípios básicos: o padrão em rede.

Em As Conexões Ocultas, Fritjof Capra desenvolve uma compreensão sistêmica e unificada que integra as dimensões biológica, cognitiva e social da vida e demonstra claramente que a vida, em todos os seus níveis, é inextricavelmente interligada por redes complexas.


No decorrer deste novo século, dois fenômenos específicos  terão um efeito decisivo sobre o futuro da humanidade. Ambos se desenvolvem em rede e ambos estão ligados a uma tecnologia radicalmente nova.


O primeiro é ascensão do capitalismo global, composto de redes eletrônicas de fluxos  de finanças e de informação; o outro é a criação de comunidades sustentáveis baseadas na alfabetização ecológica e na prática do projeto ecológico, compostas de redes ecológicas de fluxos de energia e matéria. 

A meta da economia global é a de elevar ao máximo a riqueza e o poder de suas elites; a do projeto ecológico, a de elevar ao máximo a sustentabilidade da teia da vida.


Atualmente, esses dois movimentos  encontram-se em rota de colisão; ao passo que cada um dos elementos  de um sistema vivo contribui para a sustentabilidade do todo, o capitalismo global baseia-se no princípio  de que ganhar dinheiro deve ter precedência sobre todos os outros valores.


Com isso , criam-se grandes exércitos de excluídos e gera-se um ambiente econômico, social e cultural que não apoia a vida, mas a degrada, tanto no sentido social  quanto no sentido ecológico.

O grande desafio que se apresenta no século XXI é o de promover a mudança  do sistema de valores que atualmente determina a economia global e chegar-se a um sistema  compatível com as exigências  da dignidade humana e da sustentabilidade ecológica.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015