quarta-feira, 13 de maio de 2015

1990. E ainda dizem que foi por engano

 O  IMPACTO  DA CIÊNCIA  SOBRE  A VISÃO DO MUNDO

Artigo publicado na Revista THOT, edição n° 53, de 1990

Autor: Verônica Rapp de Eston -Professora associada aposentada da Faculdade de Medicina e co-fundadora do Centro de Medicina Nuclear da Universidade de São Paulo

Em vários momentos da história da humanidade, o desenvolvimento científico teve um impacto decisivo sobre a visão de mundo. Na Mesopotâmia, por volta de 4500 a.C., a partir da observação do movimento dos astros, surgiram a astrologia, a física e a matemática e, em decorrência disso, uma classe de sacerdotes cuja influência foi predominante durante muitos  séculos. As descobertas científicas do século XVI levaram ao que, posteriormente, foi chamado de "revolução copernicana". Graças as observações celestes propiciadas pelo desenvolvimento do telescópio ( Nicolau Copérnico, 1473-1543), Galileu Galilei concluiu que o universo não era geocêntrico, isto é, não girava em torno da Terra; esta, sim, girava em torno do Sol. Ao afirmá-lo ele contradizia frontalmente os ensinamentos da Igreja, tendo sido, por isso, obrigado a abjurar, para não ser queimado por ordem da Inquisição.


Em consequência de tais o observações realizadas pelo homem, houve um tremenda aceleração nas ciências físicas e um decĺínio da força política da Igreja. Grande parte das questões relativas à posição do planeta Terra no universo e à natureza e significação dos corpos celestes deixou de ser da alçada da teologia e da filosofia e passou para o campo da pesquisa empírica; problemas que antes  eram submetidos à  apreciação das autoridades eclesiásticas ou de eruditos passaram a ser o objeto de observações sistemáticas e experiências.

Essa transferência de autoridade propiciou um novo conhecimento do homem e de seu universo, permitindo  a "explosão da ciência", que desde então tem exercido uma poderosa influência sobre a imagem e a concepção  de humanidade. Entretanto, a ciência está novamente no limiar de uma série de transformações, cujas consequências podem ter um alcance ainda maior do que aquelas que emergiram das revoluções de Copérnico, Newton, Darwin e Freud.

Questões relativas à consciência e à percepção, experiências subjetivas  e transpessoais, as raízes dos postulados de valores fundamentais e assuntos correlatos constituem hoje um grupo de preocupações que, tal e qual aquelas relativas ao universo físico, começam a se deslocar da esfera das investigações teológicas e filosóficas para o domínio da pesquisa empírica.

O espírito da ciência clássica é de indagação aberta e sem preconceitos a respeito de tudo aquilo que interesse ao pesquisador. Segundo Conant ( 1951), a ciência clássica assenta sobre os seguintes axiomas:

- a razão é o instrumento supremo da humanidade;

- o universo é basicamente físico e ordenado;

- essa ordem pode ser descoberta pela ciência e definida o objetivamente;

- a observação e a experimentação são os únicos meios válidos para  descoberta da verdade científica, que é sempre independente do observador;

- os conhecimentos adquiridos pelo uso da razão libertarão a humanidade da ignorância e conduzi-la-ão a um futuro melhor.


Tais axiomas, no entanto, frente aos recentes progressos em diversas fronteiras da indagação científica, tornaram-se menos seguros.


Paradigmas em transformação


Existe uma relação recíproca entre a pesquisa científica e a sociedade em que ela emerge. Os conhecimentos científicos geram aplicações tecnológicas que, por sua vez, modificam o ambiente cultural.

A lenda grega de Prometeu ilustra magistralmente esse aspecto da ciência. O audacioso Prometeu roubou o fogo dos deuses e, dessa maneira, deu ao homem o controle sobre seu próprio destino. Epimeteu, seu irmão, deleitava-se em brincar com aquelas descobertas, inconsciente das suas consequências. Irados com o roubo, os deuses vingaram-se; enviaram a Epimeteu uma esposa, Pandora; ela possuía uma caixa que, uma vez aberta, derramava sobre a humanidade doenças e aflições; somente a Esperança permanecia na caixa, a fim de preservar o equilíbrio mental do homem diante de seu novo infortúnio.

A respeito disso , De Ropp ( 1972) assim se expressa: " Nossa  época, a idade dos novos Prometeus, ilustra, como nenhuma outra, a profundidade do mito de Prometeu. Jamais os Prometeus  foram tão ousados ou os Epimeteus, tão imprudentes, e nunca a caixa de Pandora esteve tão abarrotada de ameaças".

Os mitos e as imagens de uma determinada cultura, por seu lado, influenciam de maneira marcante aquilo que parece ser possível e tudo o que é aceito cientificamente ou de outra maneira.  As observações não são independentes do observador, como ressalta o físico nuclear Martin Deutsch (1959):" No meu próprio trabalho fiquei perplexo pela maneira como uma idéia preconcebida do pesquisador pode influir sobre os resultados das suas observações. Thomas Kuhn (1970) usou a expressão "paradigma científico" para descrever o modelo geral segundo o qual o homem percebe, conceitua, e valoriza os dados da realidade de acordo com uma determinada imagem dela que prevalece na ciência, ou em certos ramos da ciência, em dada éṕoca. Considera-se  "ciência normal " o conjunto desses paradigmas aceitos num contexto definido. Quando há um acúmulo de dados discrepantes ou anômalos em relação aos paradigmas "normais" acontecem os períodos de crise na ciência, para que então se retomem certos temas rejeitados e tidos como tabus durante anos. É como dizia Bernard Shaw: " Todas as grandes verdade começam como blasfêmias ". Eis apenas alguns exemplos bastante conhecidos: as críticas feitas por Galileu e outros ao geocentrismo, que por pouco não os levaram à fogueira; as descobertas de Mendel, em 1865, relativas aos genes, que permaneceram ignoradas por 35 anos; o estudo da anatomia, durante anos considerado uma violação do "templo do corpo"; as teorias de Darwin sobre a evolução das espécies, ridicularizadas e rejeitadas durante praticamente toda a sua vida, e que ainda hoje se chocam com conceitos religiosos mais estreitos sobre a " criação do homem".

No século XVIII houve uma grande contovérsia quanto aos meteoritos , pois não se aceitava que aquelas rochas pudessem ter caído do céu; assim , os museus os jogavam fora por não serem "reais". Hoje, os cientistas  se consideram mais esclarecidos e abertos a novas descobertas; no entanto, subsiste uma série de preconceitos: não há explicação para os OVNIs, mas eles podem ser observados; nota-se uma resistência às pesquisas ligadas ao cérebro e à mente; os fenômenos de percepção extra-sensorial são analisados com descrença pela ciência oficial.

Verificamos , assim que uma determinada visão de mundo - seja da população em geral, seja dos meios científicos - pode vir a se constituir um obstáculo para o desenvolvimento de conhecimentos importantes e, muitas vezes, fundamentais para o homem.


As limitações do processo científico em si


 A atividade humana em que  ciência se baseia  é a observação e o seu registro, o que representa limites impostos pelo próprio processo de descrição. A esse respeito, Margenau (1963) assim se expressa: " A ciência não mais contém verdades absolutas. Começamos a duvidar de proposições fundamentais, tais como o princípio de conservação da energia, o princípio de causalidade e muitas outras que pareciam firmes e inabaláveis no passado".

Outra limitação importante é a orientação, mais ou menos exclusiva, pra uma maneira analítico-racional de resolver os problemas, embora muitas das descobertas fundamentais da ciência- desde Arquimedes, passando por Newton e Einstein - tenham decorrido de um lampejo de revelação conhecido como "intuição" e só, a posteriori, sido comprovadas experimentalmente. A ciência ocidental tem encontrado dificuldades em definir a intuição. Segundo pesquisas recentes, constatou-se que a capacidade  de expressão lingüística e o raciocínio analítico estão associados ao lado esquerdo do cérebro, enquanto o lado direito lida com a percepção sintética, global. Ao se levar em conta somente as funções da porção esquerda do cérebro, deixa-se de admitir a intuição.

A terceira limitação do processo científico é a especialização ou fragmentação da pesquisa científica, um subproduto da complexidade crescente da ciência. Apesar dos avanços que proporcionou, a especialização tem levado à perda da visão de conjunto a à dificuldade na interpretação global dos fenômenos.

Em decorrência disso  surgiu o método reducionista, assim descrito por Ashby (1973): " Na presença de um sistema, o cientista responde, automaticamente, desmanchando-o em pedaços. Os animais foram reduzidos  a órgãos e, estes, estudados microscopicamente como células; as células foram estudadas como coleção de moléculas e, estas, decompostas em átomos. Os reducionistas afirmavam como dogma  que toda ciência deveria necessariamente avançar dessa maneira." Conheça as propriedades de cada parte e, ao juntar todas as partes, conhecerá o conjunto'. Esse método, levado ao absurdo,  conduz à afirmação de que 'a vida nada mais é que física e química'. Szent-Gyorgi(1961) chega a declarar que 'a biologia depende do critério do físico'." No século passado houve grande progresso ao se utilizar tal método, pois eram estudados sistemas em que havia pouca ou nenhuma  interação entre as partes ( nesse caso, o todo seria a soma das partes). Contudo, nos sistemas que envolvem múltiplas interações entre as partes componentes - como os biológicos ou os ecológicos - a teoria reducionista não consegue explicar o funcionamento do todo.

Por fim, está sendo questionada  também uma idéia clássica da ciência, a de que o mundo objetivo explorado pelos vários métodos científicos é independente da experiência subjetiva do pesquisador. Na física das partículas, a perturbação do sistema objetivo pelo ato da observação passou a ser conhecida  como "princípio da incerteza de Heisenberg". Mas é na área das pesquisas psíquicas que ela pode ser detectada com maior nitidez, pois os fenômenos psíquicos só terão uma realidade em si se mente do observador for parte integrante do experimento.

Assim , a atual visão de mundo foi grandemente influenciada pelo conhecimento do mundo físico, o que contribui para a ênfase materialista da cultura como um todo. O desenvolvimento da ciência contemporânea desafia os velhos paradigmas científicos, influindo decisivamente sobre a formação da imagem do homem. Um não é a causa do outro, mas ambos devem se mover conjuntamente.


Fronteiras cruciais na pesquisa científica


Contestações aos paradigmas  passados tem surgido em fronteiras avançadas das pesquisas. Isso se dá em campos os mais diversos - a física, a biologia, a psicologia, a parapsicologia, etc. - como mostraremos a seguir.


Física moderna e cosmologia


Idéias novas e revolucionárias começam a se desenvolver a partir de 1870, quando Clifford sugere que uma partícula de matéria não passa de uma espécie de montículo no espaço geométrico. Pesquisas posteriores, de Maxwell, Planck e Einstein, culminaram na afirmação de Bohr: a luz tanto poderia ser onda como partícula. Einstein reuniu as noções de tempo e espaço na sua Teoria da Relatividade Geral e, sugeriu não somente que matéria  e energia dividem a mesma equação, mas que a gravidade também pode ser incluída numa teoria de campo unificado. Repentinamente, o universo  se transformava em pura geometria. Nas palavras de Margenau ( 1963): " O átomo sólido e duro transformou-se , quase que completamente, em espaço vazio. Os elétrons podem ser pontos, singularidades matemáticas, perseguindo o espaço".

Na realidade tudo parece estar recuando.  Como a   relatividade Geral predisse, o universo está em contínua expansão. Ultrapassamos a limitada visão copernicana do astro solar com seus planetas e descortinamos uma imensa galáxia em forma de disco com 100 mil anos luz de diâmetro, povoada de 100 bilhões de estrelas, expandindo-se a uma velocidade de 35 quilômetros por segundo. E essa é apenas uma das muitas galáxias existentes num universo cujo limite conhecido está a bilhões de anos luz de distância e repleto de milagres estranhos, como quasares, pulsares e buracos -negros. Em meio  a isso, levantam-se postulados mais estranhos ainda, como antimatéria, o tempo retrocedendo, massa negativa e partículas que viajam a velocidades maiores que a luz.

Além disso, como dizia Jeans (1973), " o universo começa a se assemelhar mais a um grande pensamento do que a uma grande máquina ". A física moderna e a cosmologia colocaram a humanidade em um universo imensamente mais rico e extraordinário do que a visão copernicana poderia imaginar. Segundo LeShan (1969), a imagem do homem cósmico, na física moderna, é muito semelhante à do "homem no universo " das filosofias orientais: nestas, a realidade é aparente,dinâmica e habitada tanto pela harmonia quanto pela singularidade (estranheza). Antes, a interpretação histórica do tempo  era subordinada à busca de poder, simbolizada pela mecânica newtoniana, que tratava os corpos que se movem no espaço como recipientes inertes, desprovidos de energia. A idéia do espaço-tempo de Riemann, mostra já um forte toque chinês: " Campos de força compõem e extensão do universo, que apresenta uma infinidade curvilínea".


Outras ciências físicas e biológicas


Em duas áreas das ciências físicas houve um impacto fortíssimo sobre a imagem do homem. Uma delas diz respeito a entropia², cujo conceito emergiu do estudo da termodinâmica³. De acordo com a Segunda Lei da Termodinâmica, os sistemas isolados tendem naturalmente para um estado de desordem máxima e o universo será fatalmente invadido pelo caos. Sendo essa uma lei da natureza, nada pode ser feito para evitá-lo; o ser humano e a vida passam a ser vistos como insignificantes, não existe um processo possível de evolução, pois o universo está em decadência. Todavia, Huxley(1963) e outros contrapuseram o argumento de que os sistemas vivos esto sujeitos a condições diferentes. Assim , a entropia deve ficar restrita ao tratamento de sistemas fechados, em estado de equilíbrio e sem intercâmbio com o meio ambiente. Os sistemas vivos, ao contrário, são abetos e estão em constante troca com o seu meio ambiente; portanto, o resultado final será diferente. A situação atual da física, onde não é mais possível a certeza absoluta, nos adverte de que  os paradigmas científicos são falíveis.

De maneira semelhante, a visão mecanicista da cibernética de que " o cérebro é simplesmente uma máquina de carne" se transformou no conceito de que o computador é uma extensão do sistema nervosos humano. Porém, segundo McLuhan, os computadores  poderão somente aumentar o intelecto humano, jamais terão consciência de si mesmos, como o homem. A consciência humana parece ter propriedades que nunca poderão ser criadas artificialmente.


O ser humano como espécie


Os estudos da dinâmica de crescimento da população humana demonstram que a humanidade apresenta características de crescimento semelhantes às de outras espécies vivas. No início, deve ser garantida a sobrevivência do indivíduo através da competição e da permanência do mais apto. Mais tarde, o que importa é o comportamento global da espécie, isto é, a cooperação e a permanência do mais sábio. Essas pesquisas revelam que o homem precisa evoluir apoiado numa imagem de seu ser que leve em conta a sobrevivência de toda a espécie.

Intimamente relacionados a estes conceitos estão os estudos da ecologia, que modificaram totalmente a imagem do homem. Ele deixou de ser o conquistador da natureza e passou a cooperar com ela, pois se deu conta de que há  uma interdependência entre a existência humana, a de outras espécies e o meio ambiente como um todo.

Por outro lado, a teoria da evolução se ampliou, passando do nível das espécies para o nível molecular-atômico. Darwin (1859) foi o primeiro a considerar a inter-relação de todas as espécies, como um todo em evolução. A revelação da existência dos genes, por Mendel, evidenciou o mecanismo da hereditariedade, e a descoberta levada a cabo por Watson, em 1953,  de que o DNA(4) é o veículo da informação genética, levou os conhecimentos ao domínio molecular.

Essas descobertas desencadearam um acirrado debate sobre a importância do acaso ou do determinismo no processo de evolução. Monod (1971) afirma  que "somente o acaso é a fonte de todas as inovações, de toda a criação na biosfera". Dessa maneira, a espécie humana seria puramente um resultado do acaso. Entretanto, outros pesquisadores, como Waddington e Weiss (1969), declaram que o gene sofre influência do meio molecular e orgânico. Os sistemas que se desenvolvem pela evolução seriam, assim, os cadinhos de um processo criativo ( Dobzhansky, 1971), e a evolução tenderia a sistemas cada vez mais complexos e sofisticados. Em nossa espécie, a cultura é um fator de influência devido ao cérebro, órgão cuja evolução é favorecida por sua capacidade de permuta de experiências e pensamentos ( Foerster, 1971). Teilhard de Chardin já havia observado, em 1961,  que " a evolução é uma ascensão em direção à consciência". Em função disso , o homem estaria na vanguarda desse processo cósmico de evolução ( Huxley, 1963).


Biologia molecular e genética



Os atuais desdobramentos das ciências biológicas  revelam que a unidade básica da vida é a célula e que suas informações são armazenadas nas moléculas de DNA dos genes. Essa descrição totalmente física dos sistemas vivos ameaçou as filosofias "vitalistas", que defendiam o ponto de vista da existência de um componente especial, não físico, nas entidades vivas. Segundo Hayes (1971), essa visão do homem como um produto final complexo e mesmo previsível de uma evolução macromolecular terá, certamente, um efeito profundo sobre as nossas atitudes sociais , éticas e políticas.

Atualmente predomina o conceito de que o homem é o resultado final de sua constituição genética, que lhe fornece o potencial sobre o qual atuam as experiências adquiridas, principalmente, na primeira infância; os genes dariam ao homem o potencial a ser modelado pelo meio ambiente. Entretanto, o conceito de carma das doutrinas do Oriente sugere que, no futuro, outras influências poderão ser incluídas.

As noções mais recentes de engenharia genética e de clone(5) aventam a possibilidade de manipulações genéticas por parte do próprio homem, quando a natureza humana estaria sujeita à sua escolha, o que poderia reavivar processos de eugenia(6).


Exobiologia e origem da vida



As pesquisas de Miller (1963) e Fox (1971) demonstraram que os aminoácidos podem se formar espontaneamente a partir de seus componentes químicos elementares e dar origem a formas mais complexas de proteínas, principal componente dos organismos vivos.  Por outro lado, descobriu-se que,  desde a formação do nosso planeta até o aparecimento das formas de vida mais simples, meteoros trouxeram do espaço milhões de toneladas desses mesmos aminoácidos para a Terra.  Oistraker (1973) assim se expressa: " Os átomos do seu corpo já passaram por vários astros , eles já foram ejetados, muitas vezes, como gases de estrelas em explosão ". Tais noções fomentam a procura de outras formas de vida nos planetas de nossa galáxia e conduzem à "biologia cosmológica ", conforme definida por Bernal ( 1965): " Uma biologia verdadeira, em seu pleno sentido, seria o estudo da natureza  e atividade de todos os objetos organizados onde quer que sejam encontrados nesse planeta, em outros do sistema solar, ou em outras galáxias, em todos os tempos, no passado ou no futuro".

Sem dúvida alguma, o aumento dos conhecimentos nessa área é de primordial importância para as mais profundas e antigas questões biológicas e filosóficas e terão um impacto decisivo sobre os nossos sistemas religiosos, filosóficos e políticos (Handler, 1970).


Pesquisas do cérebro



Na medicina, uma das fronteiras que mais avançam é a da pesquisa das funções cerebrais. Os primeiros estudos do cérebro já demonstravam, no final do século XVIII, que ele pode ser exitado eletricamente. Do fim do século passado a meados deste, as pesquisas permitiram o mapeamento minucioso das áreas do cérebro por meio de eletrodos finíssimos introduzidos em inúmeros pontos, com estimulação elétrica posterior. Segundo Delgado (1969), " o estímulo elétrico de estruturas cerebrais específicas pode provocar, manter, modificar ou inibir funções autônomas e somáticas, o comportamento individual e social e as reações emocionais e mentais tanto no homem como em animais. O controle físico de inúmeras funções cerebrais é um fato demonstrado, porém as possibilidades e limites desse controle ainda são desconhecidos".

De igual importância são os resultados de pesquisas mais recentes sobre a química das funções cerebrais, de acordo com os quais a desnutrição pode produzir sérios danos para o cérebro em desenvolvimento. Outras teorias sugerem o envolvimento de processos químicos no cérebro relacionados com a aprendizagem e a memória; por meio de experiências realizadas em camundongos de linhagem altamente purificada, detectaram-se diferenças genéticas naqueles processos. Foram descobertas também muitas substâncias químicas cujos efeitos vão desde a alucinação até a tranqüilização e o transe.

Baseando-se nessas pesquisas, Delgado propôs uma sociedade psicocivilizada, que seria manipulada por processos elétricos, semelhante às sociedades controladas descritas por Huxley ( Admirável mundo novo) e Orwell ( 1984).

Outros estudos focalizam a divisão do cérebro em duas metades, sendo a esquerda a que fala, raciocina, lê esta página, por exemplo, e a direita a responsável  pela orientação no espaço, a imagem corporal, o reconhecimento de faces, etc. Esta parte processa a informação de maneira mais difusa e integra informações com maior rapidez; a esquerda é analítica e reducionista, a direita holística(7) e interativa. Sperry (1967) observa que essa assimetria funcional do cérebro parece ser exclusiva dos mamíferos superiores e está mais desenvolvida no homem. Nos indivíduos normais, ambas as partes estão conectadas e há um intercâmbio de informações. O estudo das complexas inter-relações de ambas apenas se inicia e ainda esbarra em dificuldades quando se trata das funções mentais mais elevadas e de especificar quais os centros que governam as diferentes atividades.

As técnicas de feedback (8) mais recentes trouxeram uma grande contribuição nessa área. No Ocidente, fazia-se uma distinção entre o sistema nervosos voluntário ( autônomo) e o involuntário ( vegetativo ). No Oriente, por outro lado, há milênios se afirma que qualquer função do corpo pode ser modificada conscientemente, o que tem sido confirmado pelas últimas pesquisas - pode-se  controlar as funções orgânicas mediante um treinamento adequado. Afastamo-nos, assim, da imagem "robotomórfica" criada pelas pesquisas dos controles elétricos e químicos do cérebro.

De acordo com Anokhin (1971), é verdadeiramente astronômico o número possível de estados do cérebro, e, para alguns,  ele se assemelha cada vez mais a um enorme holograma (9) ( Pribram, 1971). Eis o comentário de Weisskopf (1972): " Quanto mais penetramos na complexidade dos organismos vivos, na estrutura da matéria ou nas vastas expansões do universo, mais nos aproximamos dos problemas fundamentais da filosofia natural. De que maneira um organismo em crescimento desenvolve suas estruturas complexas ? Qual é significado das partículas e subpartículas que compõem a matéria ? Quais são a estrutura e a história do universo ?"



Ritmos biológicos e campos bioelétricos 



A  biologia moderna pesquisou sobretudo os aspectos químicos dos seres vivos. Em décadas recentes, porém, outros fatores foram verificados, como o efeito das radiações eletromagnéticas e das flutuações geomagnéticas sobre os parâmetros da funcionalidade humana ( tempo de reação, humor, e a velocidade dos processos biológicos ). Relacionou-se, por exemplo,  a maior procura hospitais psiquiátricos com a ocorrência de flutuações geomagnéticas. Só recentemente a "poluição eletromagnética" vem sendo investigada ( Healer, 1970).

Muitos dos fenômenos ambientais são de natureza rítmica, podendo-se dizer o  mesmo em relação ao homem. Ressurgiu, então, o interesse pelos ritmos biológicos, a sua significação para o ser humano, da forma de pesquisas que lembram as dos antigos astrólogos pela ênfase dada à relação entre ambiente cósmico e acontecimentos humanos.

Em escala mais ampla, os padrões rítmicos de muitos fenômenos sociais, tais como guerras e conflitos, evocam a imagem  aristotélica do universo como um organismo - o conceito cosmobiológico da natureza. Consideradas globalmente,

as pesquisas científicas vêm corroborar a concepção oriental de indivíduo, concebido como parte essencial de um processo evolucionário cósmico.


Pesquisas sobre consciência



A ciência ocidental tem estado preocupada exclusivamente com o conhecimento objetivo, com a relação das coisas entre si, sem levar em consideração  a consciência do observador. Entre este e a realidade levantou-se uma barreira de instrumentos. Nos anos mais recentes, porém, os estados de consciência em si têm despertado grande interesse. Estudam-se os fenômenos do sono, dos sonhos, a meditação, o controle das ondas cerebrais, ioga, hipnose, etc.  O eletroencefalógrafo e a monitoração dos movimentos dos olhos durante o sono estão trazendo contribuições valiosas para as pesquisas. Verifica-se que muitos estados alterados de consciência podem ser estudados através de métodos científicos, deixando de ser fenômenos puramente religiosos ou místicos. Na realidade, a consciência "normal" é apenas uma parte das potencialidades humanas totais, da mesma forma que a luz visível não passa de uma fração mínima de todo o espectro eletromagnético.



Hipnose



Ela pode ser definida como um estado mental geralmente induzido por outra pessoa, em que, por sugestão, há um controle sobre estados habitualmente fora do domínio do hipnotizado. Nesse estado, pode-se controlar a dor e os processos físicos  (o fluxo sanguíneo), tratar de diversas moléstias e aumentar as habilidades mentais, a memória e a criatividade. Esses fenômenos são produzidos também por auto-hipnose e auto-sugestão. Tem sido amplamente empregados na medicina através do "treinamento autógeno", introduzido por Schultz (1950) e Luthe (1963), visando relaxamento, tranqüilização e aumento do fluxo sanguíneo para mãos e pés. A lista de usos potenciais  da hipnose é extensa, e a maior parte das pessoas está apta a aprender técnicas da auto-hipnose. Entretanto, a preferência por processos físicos-químicos e cirúrgicos é tão grande na medicina ocidental, que mesmo processos psicológicos são tratados com drogas e psicocirurgia ao invés dos métodos psicológicos.




Biofeedback (10)



Essa técnica dá à pessoa uma indicação precisa e imediata sobre determinado processo  físico no momento em que ele ocorre. As pesquisas mais conhecidas sobre o controle das ondas cerebrais foram feitas por Kamiya (1969), que recorreu ao eletroencefalograma¹¹. Quando surgem as ondas alfa, soa uma campanhia e o sujeito deve registrar de que maneira está pensando naquele momento, tentando manter esse estado de consciência. Com esse método, consegue-se aumentar a proporção de ondas alfas após um treinamento de algumas horas e se aprender a controlar estados internos, como pressão sanguínea, frequência cardíaca, temperatura do corpo e da pele e até a atividade elétrica de células da medula espinhal. Esse método demonstrou, com técnicas ocidentais, aquilo que métodos orientais como a ioga e a meditação já haviam alcançado há milênios - a possibilidade de um controle psicossomático sobre muitas  das funções neurovegetativas. Além do mais, a pessoa treinada nessa técnica se torna mais sensível às modificações do meio ambiente, como mudanças magnéticas ou eletromagnéticas.



Os sonhos



São os estados alterados de consciência mais comumente vivenciados pelas pessoas. Desde tempos imemoriais tenta-se interpretar os sonhos, do que se valeram também os psicoterapeutas, como Freud (1950), Jung (1953) e outros. Na década de 50, Aserinsky e Kleitman (1955) descobriram um método muito simples de se estudar os sonhos: o indivíduo adormecido passa por vários ciclos de sono e de sonhos, que são acompanhados de movimentos rápidos dos olhos ( REM¹²); estes vão sendo registrados e, em dado momento, a pessoa é acordada, quando deve se recordar do que estava sonhando. Esse método demonstrou que as pessoas tem uma vivência extensa e importante durante os sonhos, que contribui para sua saúde psicológica, emocional e física. Eis as principais conclusões a que se chegou até o momento: o ato de sonhar é essencial para a saúde mental, e sua privação tem efeitos psicológicos nocivos; os sonhos podem indicar soluções para problemas pessoais de ordem prática; eles também favorecem as criações literárias e artísticas; eles podem apontar conflitos e necessidades emocionais, como também mensagens de percepção  extra-sensorial , ou PES ( telepatia, precognição e outras).



Meditação



Embora seja prática comum no Oriente há milênios, só recentemente a ciência ocidental tem procurado esclarecer esse fenômeno através de  técnicas científicas. Existem dois tipos básicos de meditação: no primeiro, o indivíduo se concentra em um objeto, pensamento, som ou qualquer outra sensação interna ou externa, com o qual tenta se fundir; no outro, ele procura esvaziar a mente de pensamentos , idéias e sensações. As pesquisas demonstram que durante a meditação há uma diminuição das taxas de metabolismo basal, respiração, fluxo sanguíneo e consumo de oxigênio, além de um aumento das ondas alfa no cérebro e maior relaxamento (Wallace, 1970). Os efeitos psicológicos relatados são múltiplos: recordação de experiências, capacidade de abstração, modificação na cor e forma dos objetos e, sobretudo, uma sensação de relaxamento e paz ( Deikman, 1963, e Tart, 1969 ). Segundo estudos realizados por meio de encefalograma, na técnica zen de meditação a percepção do mundo exterior é mantida ( Kasamatsu e Hirai, 1966), enquanto na ioga os estímulos externos são ignorados ( Anand, Chhina e Singh, 1961). Para que a meditação surta efeito, às vezes são necessários muitos anos de aprendizagem e prática. Os que conseguem atingir a meditação profunda relatam uma experiência psicológica que Bucke (1901) chamou de "consciência cósmica". Em 1960, ele assim a descreveu: "A característica fundamental da consciência cósmica é, como seu nome indica, a consciência do cosmo, isto é, da vida e da ordem do universo. Ela vem acompanhada de esclarecimento intelectual ou iluminação que, por si só colocaria o indivíduo  num novo plano de existência - torná-lo-ia quase o membro de uma nova espécie. A isso acrescentam-se um estado de exaltação moral, uma sensação indescritível de elevação, exultação e felicidade, e uma excitação do sentimento moral, que é inteiramente admirável e mais importante para o indivíduo e para a humanidade do que o tão enaltecido poder intelectual. Ao lado disso, surge o que se poderia chamar de 'senso de imortalidade', uma consciência de vida eterna - não a convicção de que ele deverá tê-la, mas a consciência de que ele já a possui".

Essa forma de transfiguração já foi relatada inúmeras vezes por místicos de diferentes épocas e religiões (Deikman, 1963) e indica que a meditação permite insights¹³ de partes mais profundas da consciência (14).



Drogas psicodélicas



Nos últimos decênios, tem-se pesquisado uma variedade de substâncias químicas que alteram a qualidade e as características da consciência, como o ácido lisérgico, a mescalina, a psilocibina e outras, genericamente conhecidas como drogas alucinógenas, psicodélicas ou psicoativas. Segundo Masters e Houston (1966), essas drogas aparentemente são capazes de estimular as percepções e sensações, pois dão acesso a lembranças e experiências passadas, facilitam a atividade mental e produzem alterações no nível de consciência, incluindo-se aí as experiências transcendentais de natureza religiosa, mística e cósmica. Se usadas indevidamente, porém, tais drogas podem causar uma série de perturbações mentais e atitudes anti-sociais, o que levou à  restrição de seu uso, mesmo em condições experimentais perfeitamente controladas.



Processos inconscientes e estímulos subliminais 



A teoria segundo a qual parte dos nossos pensamentos e processos mentais está fora de nossa percepção ou consciência normal está sendo plenamente aceita hoje em dia. Essa parte foi inicialmente chamada de "eu subliminal" por Myers (1903), e tornou-se mais conhecida como "inconsciente" após os estudos de Freud (1950). A princípio, a sugestão de processos inconscientes entrou em conflito coma imagem do homem racional, totalmente consciente dos seus pensamentos e do seu comportamento. Hoje, porém, já se admite que nossa consciência não chega a englobar todos os processos mentais do homem, muito embora eles influam sobre nossas ações, pensamentos e sentimentos. A noção de que os sentidos podem receber informações situadas abaixo dos níveis normais de percepção - a chamada estimulação subliminal - é também motivo de controvérsias. Ao reexaminar recentemente tal fenômeno através de métodos de pesquisa, Dixon (1972) concluiu que ele realmente existe. Em nossos dias, os estudos voltam-se para o super-consciente, para as qualidades mais positivas da mente, e,  enfatizam-se os seus aspectos criativos,  intuitivos e inspiradores (Assagioli, 1965; Aurobindo, 1972;  Teilhard de Chardin, 1961). Essas atividades superconscientes são expressas em sonhos, pressentimentos, sensações  e "conhecimento intuitivo". O novo conceito, que está sendo estudado por filósofos, psicólogos e outros pesquisadores, poderá causar um impacto sobre as noções  de psicologia semelhante ao da teoria freudiana.



Com vistas a uma ciência da consciência 



Vários autores têm buscado explicações para a consciência e suas alterações, como Lily, Muses, Tart (1972) e outros, o que indica que tal pesquisa é cientificamente possível. Até o momento, identificou-se um grande número de diferentes estados de consciência. De acordo com Tart ( 1972, 1973),  esses estudos poderão ter consequências profundas, não somente para a ciência - presa, ainda, à idéia de que o estado normal ou racional da consciência é o melhor para a sobrevivência neste  planeta e para a compreensão do universo -, como também para a visão do mundo e da humanidade. A idéia que emerge dessas pesquisas, quando tomadas em seu conjunto, é basicamente a mesma da teoria evolucionária, na qual a evolução tende para uma complexidade crescente no plano físico e maior percepção na área da consciência.


Parapsicologia e pesquisas psíquicas 


Os fenômenos paranormais ainda não tem explicação dentro das leis conhecidas do universo. Por esse motivo foram, até há pouco, rejeitados pela ciência ocidental. São eles a telepatia, a clarividência, a precognição, e a psicocinese ou telecinese. Os três primeiros são conhecidos genericamente como fenômenos  psi (15) ou percepções extra- sensoriais ( PES ou ESP ). A psicocinese é rotulada, às vezes, de fenômeno psicoenergético. Na telepatia dá-se a percepção das atividades mentais  de outra pessoa sem o emprego dos sentidos usuais e comunicação. A clarividência consiste na habilidade de se obter informações ou perceber eventos que ocorrem em locais distantes de maneira direta, não utilizando os meios normais de comunicação. Pela precognição pode-se prever acontecimentos que vão ocorrer no futuro, sem a intervenção dos dados usuais da dedução. Na psicocinese, o indivíduo consegue movimentar objetos por meios não físicos ou por influência mental direta.

Até anos recentes, as únicas provas da ocorrência  de tais fenômenos eram as  estatísticas sobre indivíduos que apresentavam essas faculdades (Rhine, 1961). Entretanto, vários psicólogos e outros pesquisadores vêm demonstrando, através de métodos ocidentais, que, em condições especiais, esses fenômenos podem realmente ocorrer. As pesquisas modernas concentram-se na busca dessas condições necessárias para que se intensifiquem os fenômenos da psique, num procedimento análogo ao da química, em que se obtém um produto a partir de vertas condições de temperatura, pressão e concentração de reagentes.

A telepatia e outras informações psi são em geral recebidas subliminarmente e tornam-se acessíveis à mente consciente de pressentimentos, sonhos, intuições  e sensações (Rhine, 1961). É possível treinar habilidades psíquicas por meio de técnicas de feedeback imediato para incrementar o processo de aprendizagem.

Estados alterados de consciência, como o relaxamento profundo, facilitam a recepção de informações PES;  isso foi verificado nos sonhos (Ullman e Krippner, 1970), no relaxamento profundo (Brand e Brand, 1973), nos estados que induzem às ondas cerebrais alfa (Honorton, 1969) e nas sugestões hipnóticas ( Krippner, 1967). 

Certos aspectos da física que pareciam  afastar, pela lógica, maioria dos fenômenos psi não são mais mantidos de maneira tão rígida. É o que está ocorrendo, por exemplo, na física quântica em relação às descrições clássicas de causalidade e conservação de energia ( Margenau, 1966). Surgem teorias baseadas na mecânica quântica e na física para explicar esses fenômenos ( Walker, 1973; Muses, 1972; Kozyrev, 1968; Koestler, 1972 ).

A mecânica quântica está fornecendo contribuições importantes para a compreensão do funcionamento do cérebro, e é  uma das áreas científicas de crescimento vital.

Dixon (1972) demonstrou que os estímulos subliminais podem afetar os sonhos, a memória, a percepção consciente, as respostas emocionais, etc. Nesse sentido, a experiência de Puthoff e Targ (1974) tornou-se clássica.  Eles verificaram que quando uma luz estroboscópica (16)  com cerca de quinze lampejos por segundo atinge os olhos de um indivíduo, uma onda alfa característica aparece em seu eletroencefalograma (EEG). Outro indivíduo, colocado à distância e perfeitamente isolado, serve de receptor da informação, devendo advinhar quando  a luz está sendo lançada nos olhos do primeiro sujeito. Em geral, o segundo advinha, na base do acaso, quando a luz está acesa ou não. No seu EEG, no entanto, aparece a onda alfa reveladora. Pode-se tirar daí uma importante conclusão: inconscientemente, de maneira extra-sensorial, o segundo sujeito sabe quando a luz está acesa, mesmo negando esse fato à sua mente consciente. Assim, a capacidade telepática seria comum a todos, estando reprimida na maioria das pessoas. Se isso for verdade, o mesmo pode ocorrer  com todos os outros fenômenos psi.  Fica evidente, então,  que as potencialidades humanas e os processos inconscientes são muito mais amplos do que se supunha segundo os antigos paradigmas.

O impacto de todas essas teorias sobre a cultura moderna pode ser profundo. O paradigma científico ocidental, presentemente aceito, da "realidade" tende a ser físico, causal, mecanicista e objetivo. Os dados das pesquisas psíquicas, por outro lado sugerem que a realidade inclui efeitos parafísicos, que os estados mentais não materiais existem e interagem com os sistemas físicos e que a consciência transcende a natureza física do homem.


A teoria geral dos sistemas e a cibernética 

Na década de 20 ou 30, pesquisadores eminentes do ramo de biologia, como Cannon, Bernard e outros, já começavam a questionar a visão reducionista nos sistemas biológicos, à procura de uma descrição mais global. Mas essas idèias só foram mais largamente reconhecidas após a  Segunda Guerra Mundial; nesse período foi possível agregar conclusões de vários cientistas surgidos independentemente em diferentes centros, tanto da Europa como dos Estados Unidos. O conjunto dessas idéias é conhecido como cibernética, teoria da comunicação, teoria da informação ou teoria dos sistemas.
A teoria geral dos sistemas é, em essência, uma tentativa de integrar, em termos racionais,  os diferentes conhecimentos obtidos nos vários ramos de pesquisa. Ela procura ser, ao mesmo tempo holística e empírica. Sua proposição básica é que as leis e os princípios que governam os sistemas relacionados com uma área do conhecimento provavelmente são também importantes para outra área do conhecimento.
Weiner (1954) observou, por exemplo, que o funcionamento dos sistemas modernos de computação é muito semelhante àquele dos organismos vivos; em ambos existem processos semelhantes para coletar informações do mundo exterior, transformá-las em esquemas mais convenientes, basear a ação na informação transformada e comunicar as consequências de volta ao aparelho interno de regulação. Dessa forma, o desequilíbrio causado  no sistema por um agente externo é contrabalançado pelo uso de feedback para se voltar ao equilíbrio  anterior(17).
A expressão "teoria geral dos sistemas" foi criada simultaneamente em 1954, por Von Bertalanffy(1967), biólogo teórico, Boulding (1961), economista, Gerard (1954), neurofisiologista e Rapoport (1954), matemático. Eles rejeitam especificamente a tese de que uma pessoa é apenas  um conglomerado das partes que a constituem, idéia por muito divulgada pelos reducionistas ( Buckley, 1968). Segundo Weiss (1969), o número de afirmações necessárias para se descrever o todo é mais do que o necessário para se descrever as partes. O termo "mais" não significa o acréscimo de alguma quantidade mensurável do sistema, mas a necessidade de se descrever o comportamento conjunto das partes quando elas se apresentam num grupo organizado.
Essa visão holística tem uma importância imediata para o estudo de muitos aspectos do ambiente humano. Nas palavras de Bateson (1972), "a sabedoria está em reconhecer uma orientação pelo conhecimento do sistema total da criatura. A falta dessa sabedoria sistêmica é sempre punida. Os sistemas biológicos, o indivíduo, a cultura e a ecologia (...) são castigados quando  não levam em consideração a sua ecologia. Se se quiser, poder-se-á dar a essas forças sitêmicas o nome de "Deus".

Interação entre ciência e sociedade 

A ciência, atualmente, influencia cada vez mais a sociedade, tanto pelo impacto tecnológico, como pelo número de pessoas ligadas às suas atividades.
Durantes os últimos cem anos, a ciência desempenhou, entre os povos mais evoluídos,  o mesmo papel antes atribuído à religião. Todos os fenômenos naturais tinham de ser explicados em termos científicos para que fossem aceitos. Dessa maneira, muitas experiências subjetivas ou fatos ainda sem explicação "científica" foram rejeitados, por serem considerados apenas ilusões. É o caso dos fenômenos psíquicos, OVNIs, experiências religiosas e mesmo alguns dos tabus anteriormente aqui descritos. Em anos mais recentes, esses fatos relatados há milênios estão sendo analisados por inúmeras instituições, que os submetem a métodos aceitos pela ciência ocidental.
Concomitantemente a essa mudança na visão científica, ocorre o desencanto da sociedade com a ciência, pelos efeitos muitas vezes desastrosos da aplicação de tecnologias  desenvolvidas, como a crise  ecológica e o abuso da ciência para fins de tecnologia militar (foguetes, bombas atômicas, etc.)
Assim como analisamos de que maneira a ciência e, sobretudo, suas aplicações tecnológicas transformaram  a sociedade, temos agora que nos deter no oposto, isto é, indagar como os valores da sociedade afetaram as atividades científicas. Os gregos haviam descoberto e testado a maioria dos elementos essenciais  do método científico; entretanto, não os transformaram em aplicações tecnológicas, pois a sociedade grega não o exigia por se basear no trabalho escravo (Edelstein, 1957; Farrington, 1953). Além disso, segundo a concepção dos gregos, " o mundo existe para nele se viver e não para ser transformado". É que, na busca do conhecimento, sua abordagem era puramente estética, filosófica.
Opondo-se a essa visão dos gregos, a ideologia judaico-cristã vê o homem separado da natureza, como seu dono - ela teria sido feita para servi-lo. Durante a  Idade Média, as restrições da Igreja retardaram o desenvolvimento de uma paradigma científico adequado, mas, no Renascimento, com a redescoberta dos conhecimentos gregos, houve um desenvolvimento acelerado dos métodos  científicos e da idéia de que a natureza é governada por leis e princípios que podem ser detectados. Campbell (1959) denomina-a "epistemologia do outro"
Atualmente, os cientistas estão percebendo as limitações do método objetivo e reducionista de pesquisa, que visava o mundo exterior, e estão  se voltando para um estudo crítico do mundo interior, isto é, para a "epistemologia do eu". Nas culturas orientais, sempre predominou essa cultura do eu; só agora a pesquisa ocidental se volta para a análise dos fenômenos descritos, por milênios, pelos mestres orientais. O estágio seguinte no avanço evolucionário do homem está numa síntese de ambas as visões, isto é, da epistemologia do outro com a epistemologia do eu.  Ao lado de uma ciência objetiva e de tecnologias físicas, será necessário desenvolver uma ciência e uma economia éticas, voltadas para o bem-estar ecológico, que dê ênfase à pesquisa e à aplicação de tecnologias sociais e psicológicas.
O novo paradigma científico deverá ser holístico, tanto do ponto de vista metodológico, como do ponto de vista dos fenômenos a serem estudados. Deverá se basear numa visão global e não fragmentada do que atualmente é definido como ciências exatas e ciências sociais, procurando o princípio de complementaridade ou reconciliação de opostos, tais como livre-arbítrio e determinismo, materialismo e transcedentalismo, ciência e religião. 

NOTAS

1 - Segunda parte do artigo " A visão do mundo através dos tempos" resumo do livro  de Markley, O, W, e Harmam, W, W, (eds, 1982) Changing images of man ( Pergamon  Press, Nova York), Primeira parte publicada na revista THOT n° 52, 1988, pp.9-17),
2 - Funçao termodinâmica de estado  dos corpos, peculiar a cada substância, que tende para o máximo em um sistema fechado como o universo,
3 - Parte da física que investiga os processos de transformação de energia e o comportamento dos sistemas nesses processos, 
4 - O DNA ou ADN ( ácido desoxirribonucleico) é o transportador das informações genéticas em todos os organismos vivos. É uma molécula com estrutura helicoidal dupla e extremamente longa, um polímero compostos de subunidades semelhantes ou idênticas - os monômeros ou nucleotídeos. Estes são formados por uma parte de fosfato, uma de açúcar (desoxirribose)  e uma base orgânica nitrogenada. Estas bases pertencem tão somente a quatro tipos que nos animais são: a a denina (A), a guanina (G), a timina (T) e a citosina (C). O arranjo e a sequência desses nucleotídeos fornecem as características do DNA.
5 - Conjunto de indivíduos originários de outro por multiplicação assexuada. Todos os membros de um clone tem o mesmo patrimônio genético,
6 - Ciência que estuda as condições propícias à reprodução e ao melhoramento da raça humana,
7 - Do grego holos, inteiro, completo, que abrange o todo, 
8 - Termo inicialmente empregado na eletrônica, hoje usado em outras disciplinas. Significa realimentação, retroalimentação, regeneração,
9 -  Do grego holos, inteiro, completo, e grama ou gramato, letra, escrito, peso; fotografia que se obtém mediante a utilização  de raios laser,
10 - Ver nota 8, 
11-  Registro gráfico das ondas elétricas emitidas pelas células nervosas do cérebro. Existem quatro ritmos cerebrais, convencionalmente indicados como ritmo alfa ( 10 ciclos/seg.), ritmo beta (18 ciclos/seg.), ritmo teta (5 ciclos/seg.) e ritmo delta (3 ciclos/seg.) O ritmo alfa é encontrado nos indivíduos que estão com os olhos fechados, em estado de relaxamento e meditação; o ritmo beta, na vigília e atenção,  os ritmos teta e  delta são encontrados em casos de patologias cerebrais,
12 - Abreviatura do inglês rapide eye movement, 
13 - Compreensão repentina, em geral intuitiva,  que a pessoa tem de suas próprias atitudes e comportamentos, de um problema, de uma situação,
14 - O mesmo fenômeno é descrito por Pierre Weil em A consciência cósmica - Introdução a psicologia transpessoal, Ed. Vozes, Petrópolis, 1979, 2ª edição,
15 - Letra grega usada para designar, tanto na física teórica como na parapsicologia, fenômenos desconhecidos,
16 - A luz intermitente e rápida de um objeto em movimento,
17 - Em biologia, esse fenômeno é conhecido por "homeostase", termo criado por Cannon (1939) na década de 20.

Mundo Animal


1 - Amor Animal Sem Teto

12.mai.2015 - Uma foto de um belo exemplo de amor animal - que está circulando nas redes sociais e causando comoção entre os internautas. Na imagem, um morador de rua aparece dormindo ao lado do companheiro de quatro patas, que dorme em em uma caminha improvisada com cobertor em uma calçada de Copacabana, no Rio de Janeiro
Fonte: BOL

 
                                            2 - Amor Animal em Zoológico

12.mai.2015 - Após observar o trabalho dos tratadores da Myrtle Beach Society, um santuário animal na Carolina do Sul, um orangotango macho decidiu dar mamadeira a três filhotes de tigre que também vivem no local. Ele observou como os tratadores alimentavam os tigrinhos e passou a copiá-los. O orangotango também costuma pentear os pelos com os dedos e lhes dá carinho.
Fonte: BOL 

           3 - O interrogatório Animal para Ministros do STF

13 de maio de 2015 | 12:02 Autor: Fernando Brito
interroga2

De Matheus Pichonelli, no Yahoo, sobre o dia tragicômico de ontem, que começou com o “eu acho” do bandido Alberto Youssef, com os enchimentos nadegais em notas de euro da sua ex-mulher, a também doleira Nelma Kodama, que ria sem parar, mostrando como os 11 anos de cadeia ou são brincadeirinha ou não abalaram seu humor e seguiu, por horas, com a insólita sabatina a Luiz Edson Fachin.
Fonte: TIJOLAÇO 
                           
                                                  4 - Traição Animal

Fonte: CONVERSA AFIADA



                                               5 - Loucura Animal


Fonte: CONVERSA AFIADA 


                                                        6 - Briga Animal


terça-feira, 12 de maio de 2015

Jornalismo de Invenção

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Veja inventa entrevista com Marcelo Nova

Olha só que gracinha.
A Veja acaba de oferecer nova contribuição ao jornalismo boimate.
Inventou uma entrevista com Marcelo Nova, vocalista da banda Camisa de Vênus.

CEw18jtWgAEE056
A dica é do coleguinha de twitter @jornalismowando.

Fonte:  O CAFEZINHO
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 Ciência Sem Fronteiras: Globo mente !!!
No Brasil, os jornalistas são piores que os patrões – Mino Carta.


Sugestão do amigo navegante Silva Marcos, no Facebook

 O Conversa Afiada reproduz mensagem postada pela estudante Amanda Oliveira no Facebook:

Na manhã de ontem (11/05) passou na Globo uma reportagem sobre o Ciência Sem Fronteiras onde eu apareço. Gostaria de dizer que tudo o que foi dito à meu respeito naquela reportagem é MENTIRA!

Primeiramente, eu NÃO voltei para o Brasil pela insegurança gerada pela falta do dinheiro. Até porque essa foi a ÚNICA parcela da bolsa que não caiu durante todo o meu intercâmbio. Eu voltei pelo simples motivo que minhas aulas na UFT começariam agora e eu julguei não valer a pena perder outro semestre (e isso foi dito INÚMERAS VEZES na minha entrevista. Mas a Globo achou mais interessante omitir isso e inventar um motivo mais atraente).

Segundo, eu NÃO abandonei o programa. A repórter da Globo fez o favor de enfatizar que voltar antes do prazo era quebra de contrato e que nesses casos todo o dinheiro deveria ser devolvido pela capes.

Mas a Globo, além de sensacionalista, ainda não é capaz de pesquisar as coisas direito antes de falar. Eu não voltei antes do prazo. Eu tinha a opção de retornar em maio e a opção de retornar em agosto. Eu optei pela primeira.

Por favor, se você viu a reportagem ou tem algum parente que viu e comentou com você mostre pra ela esse post.

A minha experiência com o Ciência Sem Fronteiras não poderia ter sido melhor. Teve esse pequeno problema no final, claro, mas nada que justifique o programa ser mal falado des
sa maneira.

Fonte: CONVERSA AFIADA


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A próxima "entrevista"de Veja será com Isaac Newton.

Curta PAPIRO - 12.05.2015

 

    Curtas

1 - Tudo Pela Privada

Nota de corte: Renan adverte  que se Fachin derrapar na defesa da propriedade privada será difícil evitar a sua reprovação. É de chorar.

Fonte: CARTA MAIOR


2 - Imelda Marcos na Cozinha

Na longuíssima tradição escravocrata da elite brasileira, a moda agora é importar filipinas. O professor Wagner Iglecias comenta a notícia da Folha, sobre a importação de filipinas para o trabalho doméstico no Brasil pela classe média alta brasileira.

Fonte: MARIA FRÔ 


 3 -  Capitalismo Anêmico

Sondagem sobre clima econômico projeta menor crescimento mundial

Fonte: JORNAL DO BRASIL


4 - Veja, Não, É, Sim, Quer Dizer, Não Fez

Veja' fez, quer dizer, não fez, uma entrevista com o músico Marcelo Nova, que, espantado, leu o que não falou neste altar da credibilidade

Fonte: CARTA MAIOR


5 -  Comida Enrustida

Tem transgênico aí? 'Se não há o que temer, por que negar que as pessoas saibam o que estão comendo?'

Fonte: CARTA MAIOR



6 - Defunto Caro

Túmulos para obesos em cemitério no Rio já têm interessados
Novos jazigos, disponíveis no Cemitério da Penitência, no Caju, na Zona Portuária da cidade, suportam pessoas de até 350 kg. E pelo conforto do cadáver, que antes era enterrado em cova rasa (de terra), o preço é salgado. Os túmulos de alvenaria e revestidos em granitos estão saindo a R$74.900. 

Fonte: O DIA

Só pra lembrar

Abujamra não merece isso, Jabor é cotado para substitui-lo na TV Cultura

Por Renato Rovai maio 11, 2015 20:13

jabor
O buxixo de que Arnaldo Jabor vai ganhar de presente um espaço para fazer um talk show na TV Cultura, no horário que foi ocupado por anos por Antônio Abujamra, ganha força.
Os tucanos costumam falar em aparelhamento de Estado, mas eles são craques nisso.
A TV Cultura que já foi um espaço de excelência no espectro televisivo é hoje quase tão somente um poleiro de aves bicudas.
E a TV cada vez mais se afunda em audiências medíocres, o que é uma demonstração clara de que esse povo não é só ruim de governo.
É ruim de muita coisa.
A Cultura, por exemplo. teve dias muito melhores e audiências bem maiores.
O Roda Viva que já foi um programa importante, hoje é apenas uma sucursal da Veja. E não dá nem traço.
O Jornal da Cultura com gente do nível e da finesse do Marco Antônio Villa, não dá nem hífen.
Abujamra deve estar se revirando  na tumba.

Fonte: Blog do Rovai
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É uma péssima notícia.
É uma boa notícia.
Se Jabor vai atuar na TV com um programa de entrevistas, é péssimo.
Mais uma reacionário na TV.
Se Jabor vai atuar na TV com um programa de entrevistas no lugar de Abujamra, é ótimo.
Deve morrer em pouco tempo.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Capitalismo e Primatas. Tudo a ver

INTERESSE PÚBLICO > DEMOCRATIZAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES

Uma conversa com Rousseau

Por Ana Paola Amorim em 05/05/2015 na edição 849
“O primeiro que, ao cercar um terreno, teve a audácia de dizer isto é meu e encontrou gente bastante simples para acreditar nele foi o verdadeiro fundador da sociedade civil.” Essa é a abertura da segunda parte do Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, escrito em 1754 por Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), indicando que a sociedade civil nasce sob o signo da desigualdade (e, portanto, da servidão), instituída e legitimada pela linguagem. É uma reflexão importante para compreender a relação entre comunicação e democracia, entre comunicação e política.
Seguindo o raciocínio do filósofo genebrino, a fundação da sociedade civil localiza-se, então, em um ato linguístico, evidenciando o campo político como o lugar da palavra que não se dissocia da ação. Na abertura da segunda parte do discurso, é a linguagem que reforça e incorpora a própria ação – no caso, de usurpação, que inaugura uma situação de desigualdade. Não basta o exercício do cercamento. É necessário legitimá-lo, reclamando para si, em público, a propriedade: “Isto é meu!”. Sem o necessário contradiscurso que denuncie a injustiça, o ato torna-se efetivo.
Segue Rousseau: “Quantos crimes, guerras e assassinatos […] teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas e cobrindo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: ‘Não escutem esse impostor! Estarão perdidos se esquecerem que os frutos são de todos e a terra é de ninguém”.
Mas como ele mesmo diz, as coisas talvez já tenham chegado a um ponto “de não poderem mais durar como eram”. O que se seguiu foi a palavra não dita, deixando o caminho livre para a palavra ardilosa carregada de violência dissimulada. Jean Starobinski, importante intérprete da obra de Rousseau, observa que esse trecho do Discurso mostra “a palavra empregada em sua função social, mas para instituir a má socialização, a sociedade da desigualdade”.
A desigualdade está diretamente associada a uma fala monológica, autoritária, que não encontra o contradiscurso no espaço público e, por consequência, incorpora a condenação da própria liberdade. Em um exercício de interpretação dessas observações, é possível extrair daqui um alerta ao risco de concentração da voz para fundação e para manutenção do corpo político. Se poucos têm voz, as condições são de desigualdade e servidão. Mas se todos e todas têm garantido o espaço para que sua fala seja ouvida, as condições são de igualdade e liberdade.
Não cabe cautela, mas rigor e atenção
Por isso, causa apreensão a declaração recente do ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, quando ele defende “cautela” em ações contra aluguel de programação por emissoras, que estão na Justiça Federal (ver aqui). No final de março, uma decisão inédita da Justiça Federal havia mandado suspender as transmissões da Rádio Vida, do interior de São Paulo, por alugar sua programação para uma igreja evangélica. A juíza federal Flávia Serizawa e Silva também determinou o bloqueio dos bens dono da emissora, e do pastor líder da Comunidade Cristã Paz e Vida, que arrendava a rádio. Ainda cabe recurso da decisão. Importante observar, como pontuou a reportagem da Folha de S.Paulo, que se trata da primeira decisão judicial em uma ofensiva movida pelo Ministério Público Federal contra o mercado de aluguel de emissoras, que sobrevive nas brechas e omissões da legislação. Mas o Ministério Público considera alienação de concessão pública.
As rádios e TVs abertas são operadas no Brasil como concessão pública, o que significa que pertencem ao conjunto da sociedade brasileira. Os donos das emissoras recebem direito de exploração, não são proprietários do canal outorgado. Na prática, esses empresários agem como se fossem proprietários do canal. Isso não seria usurpação? É fundamental que isso seja objeto de rigoroso debate público, que as ações que fogem ao que determina a lei sejam devidamente questionadas.
Os casos de aluguel – total ou parcial – da programação devem ser, então, tratados com critério e com o rigor que a coisa pública exige. Ao pedir cautela, o ministro Berzoini pede para enfraquecer o contradiscurso necessário para apontar as contradições que firmam o reino da desigualdade na sociedade civil e comprometem a liberdade. Afinal, é permitida a exploração de uma concessão por alguém que não se submeteu à licitação e às regras públicas? Pode a operação de uma concessão ser regulamentada por um contrato privado? São questionamentos que pedem respostas.
O Executivo já deu mostras de falta de força política e também de falta de empenho na condução do debate sobre a reformulação da legislação das comunicações. O ministro Berzoini disse, ao tomar posse, que há compromisso por parte do governo de instituir o debate, mas não indica a institucionalização do debate. A presidenta Dilma Rousseff já disse claramente, em entrevista a blogueiros, que não há condições políticas de tratar desse assunto. O pedido de cautela no caso de desrespeito aos princípios da lei soa muito mais do que falta de força política ou empenho. Soa a subserviência.
Essa postura é um tanto mais grave quando se considera o cenário (inconstitucional) de concentração da propriedade de mídia no Brasil, onde prevalece o oligopólio na exploração da TV e o sistema de oligopólio no rádio (sobre o assunto, ver, neste Observatório, “Monopólio ou oligopólio? Contribuição ao debate”, de Venício A. de Lima e Bráulio Santos Rabelo). Essa situação favorece a imposição dos interesses dos empresários de mídia sobre o interesse coletivo, impedindo a realização do debate. As vozes dos donos criam o paradoxal argumento de obstruir o debate em nome da “liberdade de expressão”, quando, na verdade, defendem o privilégio de continuar a disseminar a sua verdade, corromper a opinião pública e deixar os donos da voz a verem navios.
Proibido proibir
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), já disse, mas repetiu durante sessão solene em homenagem do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa: “Nesta casa não admitiremos nenhuma forma de regulação da mídia, seja de conteúdo, seja econômica. Somos frontalmente contrários”.
Cunha é contrário ao debate. Presidente da casa onde deve prevalecer o livre debate de ideias decreta justamente o contrário: a ausência da fala democrática e a imposição de um discurso autoritário que impede qualquer manifestação da liberdade.
Ele está defendendo a cerca. A omissão do Executivo protege a cerca. O debate é a condição necessária para que todos e todas possam emitir sua opinião, arrancar a estaca e cobrir o fosso. Só assim será possível combater a desigualdade e construir a liberdade.
O Fórum Nacional pela Democratização das Comunicações está em campanha para coletar assinaturas a um projeto de iniciativa popular que propõe nova legislação para a Comunicação Social Eletrônica (ver aqui). A entidade tem uma proposta para o debate. Precisa colher 1,3 milhão de assinaturas para que o projeto possa tramitar no Congresso Nacional, ampliando o debate. Quem assina o projeto concorda em discutir o assunto. Pode ser um bom caminho para principiar a conversa. Quem continuará defendendo a cerca?
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Ana Paola Amorim é professora do curso de Jornalismo da Universidade FUMEC, doutora em Ciência Política pela UFMG e pesquisadora do Grupo de Pesquisa CERBRAS (Centro de Estudos Republicanos Brasileiros), sediado no Departamento de Ciência Política da UFMG. É coautora, com Juarez Guimarães, de A corrupção da opinião pública – Uma defesa republicana da liberdade de expressão, Boitempo, 2013
Fonte: OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA
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Rubens Casara: 
Violação de direitos torna-se regra em desfavor de oprimidos e de quem incomoda as elites
publicado em 11 de maio de 2015 às 01:08
Estado-de-exceção-ou-regra-
Exceção ou regra?
O lugar que uma época ocupa no processo histórico, como percebeu Kracauer em O ornamento da massa, pode ser identificado a partir daquilo que foi desprezado (“O conteúdo fundamental de uma época e seus impulsos desprezados se iluminam reciprocamente”[1]). A verdade de uma época está inscrita em seus conteúdos rejeitados, naquilo que é desprezado ou se quer ocultar, nos efeitos dessa rejeição na realidade, nunca no dever-ser ou no discurso oficial.
Hoje, é a Constituição da República e, em especial, os direitos e garantias fundamentais que aparecem como o principal conteúdo rejeitado pelo sistema de justiça de nossa época. Os direitos fundamentais não são percebidos como trunfos contra a maioria ou como garantias contra a opressão do Estado. Ao contrário, de norte a sul do país, com amplo apoio dos meios de comunicação de massa, os direitos e garantias previstos no ordenamento jurídico integram o imaginário dos atores jurídicos como obstáculos à eficiência repressiva do Estado ou ao mercado.
A verdade de nossa época está inscrita no desrespeito à Constituição da República, no fato do discurso oficial reservar o afastamento de direitos e garantias para situações excepcionais enquanto a funcionalidade real do sistema de justiça revela que o que era para ser exceção transformou-se em regra, pelo menos para determinada parcela da sociedade. O sistema de justiça penal construído no plano discursivo a partir do mito da igualdade revela-se no dia-a-dia seletivo, voltado para os indesejáveis (e, aqui, as exceções servem apenas para confirmar essa regra), aqueles que, ao longo da história, forjaram o que Benjamin chamou de “tradição dos oprimidos”; mais do que proteger bens jurídicos, o sistema de justiça serve ao controle social e à manutenção das estruturas sociais (manutenção da forma Estado Capitalista).
A violação de direitos torna-se a regra em desfavor de determinadas pessoas. É assim para quem não interessa à sociedade de consumo (por não ser necessário ao processo de produção ou não dispor de capacidade econômica para consumir), para quem incomoda as elites (aqui entendidas como a parcela da sociedade que detém o poder político e/ou econômico) e para quem desequilibra em favor do oprimido a relação historicamente marcada pela vitória do opressor. Em todos esses casos, pode-se, com Benjamin, em sua tese VIII “Sobre o conceito de história”, afirmar que: o “estado de exceção” em que se vive é a regra; a violação da normatividade constitucional se torna a regra.
Em recente artigo, Tarso Genro revela preocupação com um “estado de exceção não declarado”, capaz de bloquear o direito de defesa, potencializar a corrupção sistêmica e comprometer a democracia. Nesse texto, o jurista gaúcho abandona concepção anterior, marcada por uma perspectiva otimista de evolução da sociedade em direção aos avanços civilizatórios e à democracia, para realçar os crescentes riscos de um grave retrocesso que pode resultar no fim da própria democracia brasileira.
A democracia, em sua concepção material, para além da participação popular na tomada das decisões políticas, exige limites ao exercício do poder e a concretização dos direitos fundamentais. Assentada essa premissa, o quadro e as perspectivas descritos por Tarso Genro são desoladores (por evidente, para aqueles que defendem o projeto constitucional de vida digna para todos).
Ganha corpo na sociedade brasileira, com grande força entre os atores jurídicos, uma concepção de atuação no mundo-da-vida avessa a limites (sempre em nome dos “interesses da nação”, do “combate à corrupção”, da “segurança pública”, dentre outros significantes que gozam de “anemia semântica”, para utilizar a expressão de Alexandre Morais da Rosa, mas são instrumentais aos novos “guardiães do direito”[2]) e que naturaliza a violação de direitos fundamentais.
Vários atores jurídicos passaram a defender abertamente (provavelmente, Gilberto Felisberto Vasconcellos está correto ao afirmar que, em breve, o golpe de 64 vai ser perdoado e aplaudido) a manutenção de prisões ilegais e desproporcionais, a produção e aceitação de provas ilícitas, a utilização da prisão cautelar como instrumento de coação à obtenção de confissões e/ou delações, a violação da dimensão probatória do princípio da presunção de inocência (contra a ordem constitucional, o imaginário autoritário atribui ao acusado o dever de provar sua inocência), dentre outras violações da dimensão de garantia que se extrai do texto constitucional.
Em que pese o acerto da análise em relação ao risco existente, Tarso Genro insiste em uma concepção otimista de que essas distorções apontam para um “Estado de Exceção”, na medida em que antes existia um quadro de normalidade democrática na seara do sistema de justiça criminal. Não há Estado de Exceção, ou em termo benjaminiamos, na tradição dos oprimidos, o Estado de Exceção é a regra.
Há uma tradição autoritária, uma historicidade, uma pré-compreensão que condiciona a atuação dos atores jurídicos e leva à naturalização do que deveria ser exceção, que não foi rompida com a Constituição da República de 1988 (um texto, um evento fundamental, que precisa ser levado em consideração, mas que, por si só, se revela incapaz de produzir normas adequadas ao projeto constitucional, isso porque a norma é sempre produto do intérprete, que, no caso brasileiro, está inserido em uma tradição incapaz de “compreender” – aqui compreender é aplicar, nos termos da lição gadameriana – o texto tendencialmente democrático).
Somada a essa tradição autoritária (que programas de redistribuição de renda são incapazes de romper), um complexo de fatores, com especial destaque para o empobrecimento do imaginário, com a consequente redução do pensamento ao modelo binário-bélico de ver o mundo (amigo versus inimigo, bem versus mal, etc.), e a transformação do simbólico (o enfraquecimento da função do limite), o sistema de justiça criminal, essa trama simbólico-imaginária, passou a se caracterizar, no campo do direito material, pela prevalência, ainda que inconsciente, de uma visão empobrecida da teoria do direito penal do inimigo (com uma ampliação – inimaginável para o neocontratualista Jacobs – do âmbito das pessoas etiquetadas de inimigo) e, no processo penal, pela espetacularização, na qual se dá o primado do enredo (dirigido pelo juiz e que, não raro, visa agradar a opinião pública ou o desejo das corporações midiáticas, as mesmas que constroem versões e fabricam heróis para a massa) sobre o fato, com a simplificação do caso penal posto à apreciação do Poder Judiciário, instituição que na busca de legitimidade democrática cede à tentação populista.
Enfim: a) saúdo o retorno do jurista Tarso Genro à produção crítica sobre o direito; b) registro posição no sentido de que a categoria Estado de Exceção se mostra insuficiente para dar conta das distorções hermenêuticas que ameaçam fazer da democracia brasileira um mero simulacro; e c) convido a todos para o debate.
Rubens Casara é Doutor em Direito, mestre em Ciência Penais, professor do IBMEC/RJ e membro da Associação Juízes para a Democracia e do Corpo Freudiano
Fonte: VIOMUNDO
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O Homem evoluiu muito através dos tempos,no entanto,em alguns aspectos o Homem moderno em nada difere do homem das cavernas , ou mesmo de seus ancestrais, como os primatas, por exemplo.

Muros e cercas estão associados ao conceito de território, prática comum na maioria dos animais que sempre entram em conflito quando um grupo invade o território do outro.  Em algumas espécies, além de preservar o território, os machos matam - ou tentam matar - alguns  filhotes com o intuito de impedir a competição.

No capitalismo atual, empresas tentam eliminar seus concorrentes.

Em algumas sociedades antigas, mesmo evoluídas , o conceito de território sempre existiu, sem necessariamente estar associado ao conceito de posse, prevalecendo  o conceito de usufruir de forma equilibrada e sustentável.

No mundo atual, a posse é a regra dominante, que delimita o tamanho do território, que deve estar sempre em expansão, mesmo que para isso a violência comande as ocupações.

Paradoxalmente, o que vivenciamos no mundo atual acontece justo com o chamado triunfo da democracia e da liberdade, quando o mundo vivencia mais uma etapa da globalização.

Era de se esperar, ou no mínimo imaginar, que os diferentes quintais flexibilizassem suas cercas, seus muros e suas bandeiras, em nome de um suposto processo evolutivo e civilizatório.

No entanto, o que se vê é o contrário, como o surgimento de mais muros e cercas, físicos e ideológicos. 

Nunca na história da humanidade se fez tanto xixi para demarcar novos territórios.

Neste aspecto, a mídia do capital tem um papel fundamental quando interdita todo tipo de debate  que proponha algo para além dos estreitos e limitados  territórios da ideologia dominante no mundo.

Emerge, desta forma, o estado de exceção como regra, paradoxalmente em nome da democracia e do estado de direito com o intuito de proteger o mundo civilizado de ideias ameaçadoras, como tem sido recorrente nos discursos das elites políticas econômicas ao longo do planeta.

A linguagem passa a ser uma arma poderosa com o Não como regra e o Não Sim  como ausência de negativa. 

Em meio a esses artifícios se constroem condenações de críticos indesejáveis , se forjam provas e incentiva-se todo tipo de comportamento binário na sociedade, onde o Não e o Não Sim prevalecem.

Por outro lado, essa corrida pelo binário, esse retrocesso civilizatório, pode indicar que as elites e seus centuriões do modelo político e econômico mundial reconhecem suas fragilidades e , assim sendo sendo, tentam interditar o debate de ideías, campo onde naturalmente o capitalismo em sua expressão atual não se sustentaria.

Isto posto, incomodar as elites políticas e econômicas através das ideías é um dever de todos os defensores da Democracia , da liberdade de expressão, e do estado de Direito e, para isso deve-se  sempre ocupar  os lugares onde as elites não estão, principalmente nos territórios  das idéias.