O Código de Ética da Associação Nacional de Jornais garante: “Apurar e publicar a verdade dos fatos de interesse público, não admitindo que sobre eles prevaleçam quaisquer interesses” (da ANJ são sócios muitos jornais, entre eles O Globo, O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Diário Catarinense e Zero Hora). O código de Ética da Associação Nacional de Editores de Revistas determina: “Assegurar ao leitor as diferentes versões de um fato e as diversas tendências de opinião da sociedade sobre esse fato” (da ANER são sócias, entre muitas, a revista Veja). A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão subscreve a Declaração de Chapultepec, que assegura: “A credibilidade da imprensa está ligada ao compromisso com a verdade, à busca de precisão, imparcialidade e equidade e à clara diferenciação entre as mensagens jornalísticas e as comerciais.” (da Abert são sócias, entre muitas, a TV Globo e a Rede Brasil Sul de Comunicações, esta última essencialmente representada pela RBS TV tanto de Santa Catarina como do Rio Grande do Sul).
O silêncio em relação à Operação Zelotes, com fraudes e sonegação que envolvem 19 bilhões de reais junto à Receita Federal, dos quais 672 milhões de reais dizem respeito à sonegação do grupo de comunicações RBS (Rede Brasil Sul) , não é resultado apenas de restrições jurídicas, mas sobretudo do interesse particular e do cinismo que envolve praticamente todos os grandes veículos, seja de mídia impressa, de radiodifusão ou de suas versões na internet – hoje sócios de empresas de telefonia, de bancos e até mesmo do setor armamentista. No caso da Operação Zelotes, o Banco Santander é o maior sonegador, com mais de 3 bilhões de reais. O Grupo RBS, o sétimo na lista, além da sonegação, teria pago propina que chega a 15 milhões de reais para “abonar” outros 150 milhões. Um lucro e tanto no suborno. A distância entre intenção e gesto, entre discurso e prática, é enorme. E aproxima a falsa intenção do gesto; aproxima o discurso moral do cinismo e da hipocrisia.
Se nos últimos 300 anos os pilares do Jornalismo foram a legitimidade social que granjeou e a credibilidade em que presumivelmente se assentava, os rumos da atividade profissional – menos por vontade de seus jornalistas e mais por imposição dos aspectos mercadológicos e ideológicos sobre o processo de produção jornalística – apontam a perda da crença de que a imprensa, como instituição da modernidade, tem algo ainda a ver com o esclarecimento público.
Exceções à regra
Os “dois pesos e duas medidas” na comparação Operação Lava Jato e Operação Zelotes atestam que, se havia ainda alguma vergonha em defender interesses pessoais, em defender o bolso dos empresários da comunicação, ela foi pelo ralo. Junto está indo o patrimônio moral de vários profissionais. Obviamente, não é possível generalizar, mas parte dos repórteres, colunistas, comentaristas e apresentadores incorporaram de tal forma a defesa de seu emprego e de seu patrão que é cada vez mais ilustrativa a charge de Henfil, publicada em 1989 na capa do livro Jornalistas pra quê? Os profissionais diante da ética, produzido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro. A imagem representava Cristo sendo crucificado e o soldado que o pregava na cruz se desculpando: “Eu tenho que sobreviver, entende?”
Pode-se sobreviver, mas o respeito vai se reduzindo a pó; pode-se defender o bolso do patrão, mas a legitimidade da atividade profissional se reduz à medida em que cresce a desconfiança com uma forma de fazer jornalismo em que fatos são o que menos importam, já que o lucro vem da audiência, da venda de outros produtos conexos e do valor de mercado informativo baseado na especulação e na escolha cirúrgica de determinadas fontes.
Se o mesmo critério jornalístico de cobertura da Operação Lava Jato fosse aplicado na Operação Zelotes, a repercussão seria outra e mostraria os danos da sonegação à saúde, à educação e à vida dos cidadãos, destacando o assalto aos cofres públicos e o sangramento do Estado a partir do lucro particular desonesto. Se o critério jornalístico, policial e jurídico fosse o mesmo, dirigentes do Banco Santander e do Grupo RBS estariam provavelmente na cadeia.
Ao analisar a mídia, o pesquisador holandês Teun Adrianus van Dijk já tinha constatado uma velha estratégia que se aplica ao cenário de cobertura jornalística atual a partir dos centros de decisão das empresas de mídia, pelo menos na Política e na Economia: “1) as virtudes dos amigos nós maximizamos; 2) as virtudes dos inimigos nós minimizamos; 3) os defeitos dos amigos nós minimizamos; 4) os defeitos dos inimigos nós maximizamos”.
A síntese de Teun van Dijk cabe tranquilamente em uma cobertura tendenciosa, de uma moral particular, de um cinismo exacerbado. Exceções, como a de Janio de Freitas, da Folha de S. Paulo, com sua honestidade e correção, confirmam a regra. Conta-se nos dedos, na grande mídia hegemônica (grandes empresas com rádio, tevê, jornal, revista e internet) os jornalistas que ainda apuram e informam com os requisitos éticos, técnicos e estéticos pelos quais a profissão obteve certo reconhecimento social.
Sem resposta
O cinismo, transformado em valor habitual, amplia a hipocrisia como valor universal. E ajuda a disseminar a má informação, a confusão informativa, a ideia de que jornalistas não servem senão para fazer propaganda travestida de jornalismo, e que, a despeito dos fatos, a angulação e a narrativa final são dadas pelos centros do poder econômico, pelas fontes beneficiárias de tal poder, pelos acionistas e pelos anunciantes. Há, com tal perspectiva, claros prejuízos ao esclarecimento público; aumentam os preconceitos e os estereótipos. E preconceitos e estereótipos são o suporte valorativo que dão margem ao linchamento moral generalizado e eventualmente físico.
O jornalismo como esclarecimento precisa se reinventar com novas fontes, novas abordagens, novos atores e novas narrativas. Ele parece passar à margem da grande mídia. E é aí que entra o Estado como protetor da Democracia. E, até agora, o Estado não consegue apostar no surgimento de novas mídias; não consegue investir em meios públicos e alternativos qualificados e em mídias menores mas mais honestas, ao invés de descarregar muito dinheiro em publicidade na grande mídia e despejar dinheiro público para socorrer poderosas mídias endividadas. O Estado, representado pelo governo eleito, não consegue responder aos ataques do jornalismo que tem a hipocrisia como critério de noticiabilidade e o cinismo como valor universal.
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Francisco José Castilhos Karam é professor da Universidade Federal de Santa Catarina e pesquisador do objETHOS
Fonte: OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA
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Conforme já vínhamos alertando aqui no PAPIRO, a desinformação é a regra na velha mídia.
A informação nas emissoras de TV privadas é tratada como um espetáculo , assim como todos os demais programas das grades das emissoras.
Valoriza-se a forma em detrimento do conteúdo.
É o mundo do espetáculo.
Isso não seria um problema , caso o conteúdo fosse verdadeiro, fidedigno.
No entanto a mentira , a manipulação e a omissão reinam nos conteúdos jornalísticos da velha mídia.
No tocante a corrupção, o gráfico acima apresenta de forma clara dados que evidenciam que o combate a corrupção se intensificou a partir dos governos do PT.
Com o combate e investigações, é natural que esquemas sejam descobertos, porém, a velha mídia "informa" , na forma de espetáculo, que a corrupção é um problema dos governos do PT, quando na realidade, a corrupção jamais foi combatida por outros governos como tem sido nos governos do PT.
Assim sendo, somente tem visibilidade na velha mídia, os casos de corrupção que envolvem órgãos do governo e políticos, sempre com foco nos políticos do partido do governo.
A operação Zelotes, da Polícia Federal, que flagrou esquemas milionários de corrupção de empresas privadas, como a RBS, afiliada do grupo Globo, é desconhecida da maioria da população.
Quanto mais a Polícia Federal investiga e descobre esquemas de crimes na administração pública, maior ainda é o espetáculo midiático, "informando" seletivamente sobre os políticos e empresas públicas envolvidos em tais esquemas, desde que, tais políticos e empresas sejam ou estejam ligados ao partido do governo.
Na lógica de desinformação em curso, a culpa pelos crimes, deve recair só, e somente só, sobre o PT, a presidenta da republica e empresas do governo.
Os aliados políticos da velha mídia envolvidos em crimes são cuidadosamente preservados no noticiário do espetáculo, de maneira que não sejam percebidos pela população como membros de esquemas criminosos, isso vale para políticos e empresas.
A perseguição sistemática contra a presidenta da república, contra os políticos dos partidos do governo e contra empresas públicas, faz parte do papel assumido pela velha mídia, de partido de oposição, no entanto, o acirramento dessa perseguição, como se vê nos dias atuais, revela muito mais do que uma oposição política e sim , uma tentativa de intimidar o governo federal com o intuito de reverter os processos de investigação conduzidos pela Polícia Federal, uma vez, que não apenas empresas da velha mídia, como empresas de outros segmentos estão envolvidas em crimes de corrupção , sonegação de impostos e lavagem de dinheiro.
Com isso, o espetáculo midiático escandaloso diário sobre denúncias de corrupção no governo e envolvendo políticos do PT, nada mais é do que uma maneira de tentar intimidar o governo para que não avance nas investigações, de maneira que a própria mídia e seus aliados nos meios político e empresarial , não sejam denunciados e julgados.
Já para a parcela da população de incautos a realidade é outra, e a corrupção desse governo está um pobrema ( isso mesmo,pobrema, já que são incautos) sério, inaceitável, insuportável, e tudo por culpa dos governos do PT, daí a necessidade de dar uma basta, um chega, um cansei, exigindo o impítimam da presidenta, a destituição e fechamento do congresso nacional e um governo de pulso forte, fortíssimo, para acabar com toda essa roubalheira, essa pouca vergonha, essa indecência e ainda colocar ordem na casa.
Devidamente imbuídos desse sentimento , e ainda incentivados e aplaudidos pela velha mídia por ser uma demonstração da pólis , o exercício da cidadania, grupos de alucinados destroçados cognitivamente, voltaram às ruas , em nome de Bolsonaro, Sheherazade, Bonner, Aécio, FHC, Reinaldo Azevedo e Lobão, para mais um show da democracia e da cidadania.
No dia seguinte ao espetáculo da democracia e da participação cidadã, na segunda -feira, a presidenta Dilma, em declaração, disse em alto e bom som;
" O governo continuará a investigar, combater e punir os casos de crimes de corrupção, sonegação e outros"
Se não bastasse o claro recado dado por Dilma, o governo do PT foi elogiado pela pré-candidata do Partido Democrata dos EUA, Hillary Clinton, sobre o combate democrático e transparente da corrupção no país e também sobre o programa Bolsa Família, que segundo Hillary, é uma referência.
Hillary Clinton quer Bolsa Família nos EUA.
'Vou apoiar programas que dão às famílias poder para construírem seus próprios futuros, como o Bolsa Família do Brasil. Essas idéias de combate à pobreza podem ser colocadas em prática aqui, na nossa casa', disse a presidenciável em campanha.
Fonte: CARTA MAIOR