quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Jornalismo Declaratório Infringente Continuado

IBGE: desemprego em julho cai para 5,6%, uma das menores taxas do mundo e a 2ª menor da história do Brasil. 
País já criou 907 mil empregos no ano e 41 mil em julho, mês afetado por protestos que reduziram oferta de vagas no comércio, sobretudo das capitais
Esses são os fatos e essa é a manchete garrafal da 'Folha', desta 5ª feira: 
'Capitais fecham vagas pela 1ª vez em uma década'
Fonte: CARTA MAIOR
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Desemprego recua para 5,6% em julho, diz IBGE

Rio de Janeiro - A taxa de desemprego fechou julho em 5,6%. O índice é superior aos 5,4% de julho de 2012, mas inferior aos 6% de junho deste ano. O dado foi divulgado hoje (22) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na Pesquisa Mensal de Emprego (PME).O número de pessoas desocupadas ficou em 1,4 milhão em julho, mantendo-se estável em relação a junho deste ano e a julho de 2012. A população ocupada chegou a 23,1 milhões, ficando estável em relação a junho e 1,5% maior que julho do ano passado.
Os trabalhadores com carteira assinada no setor privado chegaram a 11,6 milhões, estável em relação a junho e 3,5% a mais que em julho de 2012. O rendimento real atual ficou em R$ 1.848,40, ou seja, 0,9% inferior a junho (que havia sido de R$ 1.864,39), mas 1,5% superior a julho (R$ 1.821,04).
A Pesquisa Mensal de Emprego (PME) é feita nas regiões metropolitanas do Recife, de Salvador, de Belo Horizonte, do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Porto Alegre.
Fonte: JORNAL DO BRASIL 
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Os textos acima , de CARTA MAIOR e do JORNAL DO BRASIL, apresentam os resultados das pesquisas efetuadas pelo IBGE, sendo o segundo mais detalhado nas informações, natural pois trata-se da própria matéria do jornal enquanto o de CARTA MAIOR é apenas uma chamada.
Chamo atenção para o caro e atento leitor , sobre o conteúdo das informações fornecidas pelo IBGE. 
De uma maneira geral, a pesquisa apresentada pelo IBGE apresenta dados positivos para o país, no tocante a geração de empregos, taxa de desemprego e renda dos trabalhadores. Destaque  para o índice de desemprego de 5, 6%, uma das menores taxas do mundo e , segundo CARTA MAIOR, a segunda menor da história do Brasil.
Se o conjunto da pesquisa apresenta dados positivos, é de se esperar que qualquer manchete sobre o assunto, seja em impresso, rádio ou tv, siga o mesmo caminho, não é, caro leitor ?
Em um jornalismo saudável, sem necroses, as manchetes trariam o cenário positivo apresentado pelos dados, porém, não é o que acontece.
Vejamos duas manchetes na velha mídia, de hoje:
Folha de SP: ' Capitais Fecham Vagas, pela 1ª vez em uma Década'
O Globo online : ' Renda cai pelo 5ª mês consecutivo'
Nos dois exemplos acima  as notícias  são apresentadas em forma de um recorte negativo do país e do governo , mesmo sobre um conjunto de dados positivos.
Vamos imaginar o seguinte cenário:
Uma mullher é agredida pelo marido, em uma discussão em frente a uma padaria. Seguindo a lógica de folha e globo as manchetes seriam:
Folha: 'Padaria fica vazia em horário de movimento'
Globo: 'A Violência e o Pão Nosso de Cada Dia'
Nos dois casos a notícia, o que contempla mais dados e informações, foi a agressão de um homem sobre uma mulher, em horário de grande movimento de pessoas , na frente de uma movimentada e famosa padaria de um bairro da cidade. 
Folha focou o dinheiro que fugiu , momentaneamente, em função de uma conjuntura.
Globo foca na questão da violência urbana, algo que existe em todas as cidades em maior ou menor índice, apelando para um suposta solução divina. 
Nenhum dos dois se concentrou no fato bruto,no que de fato aconteceu, dando margem a diferentes interpretações, mesmo que através de manchetes sobre um evento. 
Assim tem sido o jornalismo da velha mídia ao longo dos anos dos governos populares, democráticos e bem sucedidos do Partido do s Trabalhadores.
Diariamente, os veículos da velha mídia procuram retratar para seus consumidores de informação um cenário de pessimismo, de incompetência do governo, de caos , de corrupção, de algo que está péssimo e ainda pode piorar.
A prioridade do noticiário da velha imprensa e de seu aparato midiático é procurar, sempre, um caminho para demonização do governo federal, mesmo que para isso absurdos noticiosos como o que assitimos hoje, sejam produzidos pelos contorcionistas dos fatos. O assunto apresentado pelo IBGE, no caso específico para o país, permite análises interessantes sobre cenário brasileiro em comparação como cenário mundial, visto que este último apresenta uma situação de crise prolongada, onde os índices de desemprego alcançam valores estratosféricos , ultrapassando a casa de 20%, em vários países. Mesmo no país referência para a velha imprensa e seu aparato midiático, os EUA, os índices de desemprego ( que por lá consideram um trabalhador que trabalhe 4 horas por semana sem nenhuma garantia trabalhista como empregado) andam pela casa de 8%. 
Lula, em certa ocasião, disse que daqui a algumas décadas  alguém fizesse uma pesquisa sobre o Brasil  durante os governos do PT, e para isso pesquisasse os maiores jornais e revistas da época, certamente chegaria a conclusão que foi um momento de terra arrasada para a nação, de profundas crises, pessimismo e desespero, além de numerosos e intermináveis escândalos de corrupçãono governo.
Com o retorno do julgamento do mensalão, que no momento analisa recursos solicitados pelos réus, a velha imprensa mergulha de cabeça e bico no assunto, arriscando-se a perder belas e numerosas penas em sua nova empreitada para demonizar o governo do PT. Cabe lembrar  que tal julgamento foi indecentemente divulgado pela velha mídia e em nada contribuiu para que o PT sofresse derrotas nas eleições municipais de 2012, ao contrário, o partido , Dilma e Lula, foram os principais vitoriosos das eleições. Agora, quando ocorre o julgamento dos recursos, em uma nova overdose de expressões prá lá de estranhas para a grande maioria da população, chega a ser cômico e mesmo ridículo assitir ao esforço das empresas globo de tv, transmitindo ao vivo em suas grades, momentos de debates entre os ministros do STF. Para a maioria do povo que foi fuzilada com a cobertura do julgamento no ano passado, o retorno das togas esvoaçantes, aparece como algo surrealista que tem merecido total indiferença da maioria da população, ainda mais em função das novas e escandalosas notícias sobre corrupção em ninhos   paulistas de belas aves e também sobre as gigantescas trapaças de globo em overseas com direito a sonegação de imposto pesado para os cofres públicos.
Enquanto isso o país começa a receber parte dos médicos cubanos que irão trabalhar em aŕeas onde a nossa medicina mercantilizada não atua. Diante do fato, o surrelista conselho federal de medicina, alerta, ao melhor estilo Bolsonaro's boy que a presença dos médicos cubanos no interior do Brasil pode fomentar uma revolução comunista, uma nova guerrilha do Araguaia, já que o perigo vermelho é especialista em conscientizar pessoas pobres e de pouca instrução. Isso não é brincadeira, caro leitor. Foi dito por um médico, que enquanto cidadão é a exṕressão do obtuso, o que preocupa com contaminações em sua atividade médica, uma vez que a anatomia humana e social são interdependentes. O homem é, também, produto do meio, e se o  meio de formação de nossos médicos contribui para a formação de cidadãos obtusos, é alarmante o momento da medicina no país. É provável que o médico em questão ao ser abordado por uma criança faminta que deseja dinheiro para comer um pão, na rua, por volta dez horas da manhã, diga o seguinte:
- meu filho, não vou dar dinheiro nem comida para vocẽ , pois se fizer vocẽ vai perder a fome e não vai almoçar direito.
Nesse país da imprensa surrealista, a prioridade, no momento, é o fato continuado que caracteriza a organização criminosa.
Aliás, tal prioridade pode muito bem se aplicar a velha imprensa, isso diante dos fatos aqui relatados. 
 

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Guerra ao Capital

Black Bloc: “Fazemos o que os outros não têm coragem de fazer”

Eles afirmam não temer o confronto com a polícia e defendem a destruição de “alvos capitalistas”. Conheça a história e a forma de luta que se popularizou com o movimento antiglobalização e ganha destaque no Brasil
Esta matéria faz parte da edição 125 da revista Fórum.Nas Bancas
Por Paulo Cezar Monteiro
“Os ativistas Black Bloc não são manifestantes, eles não estão lá para protestar. Eles estão lá para promover uma intervenção direta contra os mecanismos de opressão, suas ações são concebidas para causar danos às instituições opressivas.” É dessa forma que a estratégia de ação do grupo que vem ganhando notoriedade devido às manifestações no País é definida por um vídeo, divulgado pela página do Facebook “Black Bloc Brasil”, que explica parte das motivações e forma de pensar dos seus adeptos.
A ação, ou estratégia de luta, pode ser reconhecida em grupos de pessoas vestidas de preto, com máscaras ou faixas cobrindo os rostos. Durante os protestos, eles andam sempre juntos e, usualmente, atacam de maneira agressiva bancos, grandes corporações ou qualquer outro símbolo das instituições Eles afirmam não temer o confronto com a polícia e defendem a destruição de “alvos capitalistas”. Conheça a história e a forma de luta que se popularizou com o movimento antiglobalização e ganha destaque no Brasil “capitalistas e opressoras”, além de, caso julguem necessário, resistirem ou contra-atacarem intervenções policiais.
Devido ao atual ciclo de protestos de rua, o Black Bloc entrou no centro do debate político nacional. Parte das análises e opiniões classifica as suas ações como “vandalismo” ou “violência gratuita”, e também são recorrentes as críticas ao anonimato produzido pelas máscaras ou panos cobrindo a face dos adeptos. Mas o Black Bloc não é uma organização ou entidade. Leo Vinicius, autor do livro Urgência das ruas – Black Bloc, Reclaim the Streets e os Dias de Ação Global, da Conrad, (sob o pseudônimo Ned Ludd), a define o como uma forma de agir, orientada por procedimentos e táticas, que podem ser usados para defesa ou ataque em uma manifestação pública.

(Flickr.com/nofutureface)
Zuleide Silva (nome fictício), anarquista e adepta do Black Bloc no Ceará, frisa que eles têm como alvo as “instituições corporativas” e tentam defender os manifestantes fora do alcance das ações repressoras da polícia. “Fazemos o que os manifestantes não têm coragem de fazer. Botamos nossa cara a tapa por todo mundo”, afirma.
O jornalista e estudioso de movimentos anarquistas, Jairo Costa, no artigo “A tática Black Bloc”, publicado na Revista Mortal, lembra que o Black Bloc surgiu na Alemanha, na década de 1980, como uma forma utilizada por autonomistas e anarquistas para defenderem os squats (ocupações) e as universidades de ações da polícia e ataques de grupos nazistas e fascistas. “O Black Bloc foi resultado da busca emergencial por novas táticas de combate urbano contra as forças policiais e grupos nazifascistas. Diferentemente do que muitos pensam, o Black Bloc não é um tipo de organização anarquista, ONG libertária ou coisa parecida, é uma ação de guerrilha urbana”, contextualiza Costa.
De acordo com um dos “documentos informativos” disponíveis na página do Facebook, alguns dos elementos que os caracterizam são a horizontalidade interna, a ausência de lideranças, a autonomia para decidir onde e como agir, além da solidariedade entre os integrantes. Atualmente, há registros, por exemplo, de forças de ação Black Bloc nas recentes manifestações e levantes populares no Egito.

Manifestantes se reúnem em rua do Leblon, no Rio de Janeiro, próximos à casa do governador Sérgio Cabral (Foto: Mídia Ninja)
Black Bloc no Brasil
Para Leo Vinicius, é um “pouco surpreendente” que essa estratégia de manifestação urbana, bastante difundida ao redor do mundo, tenha demorado a chegar por aqui. “Essa forma de agir em protestos e manifestações ganhou muito destaque dentro dos movimentos antiglobalização, na virada da década de 1990 para 2000. Não é uma forma de ação política realmente nova”. No Brasil, existem páginas do movimento de quase todas as capitais e grandes cidades, a maior parte delas criadas durante o período de proliferação dos protestos. A maior é a Black Bloc Brasil, com quase 35 mil seguidores, seguida pela Black Bloc–RJ, com quase 20 mil membros.
A respeito da relação com o anarquismo, Vinicius faz uma ressalva. É preciso deixar claro que a noção de que “toda ação Black Bloc é feita por anarquistas e que todos anarquistas fazem Black Bloc” é falsa. “A história do Black Bloc tem uma ligação com o anarquismo, mas outras correntes como os autonomistas, comunistas e mesmo independentes também participavam. Nunca foi algo exclusivo do anarquismo. Na prática, o Black Bloc, por se tratar de uma estratégia de operação, pode ser utilizado até por movimentos da direita”, explica o escritor.
Para alguns ativistas, o processo de aceitação das manifestações de rua, feito pela grande mídia e por parte do público, de certa forma impôs que, para serem considerados legítimos, os protestos deveriam seguir um padrão: pacífico, organizado, com cartazes e faixas bem feitas e em perfeito acordo com as leis. Vinicius demonstra certa preocupação com a possibilidade do fortalecimento da ideia de que essa forma “pacífica” seja vista como o único meio possível ou legítimo de protestar. Ele afirma que não entende como violenta a ação Black Bloc de quebrar uma vidraça ou se defender de uma ação policial excessiva. “A violência é um conceito bastante subjetivo. Por isso, não dá pra taxar qualquer ato como violento, é preciso contextualizá-lo, entender as motivações por trás de cada gesto”, avalia.
Para ele, a eficácia de uma manifestação está em saber articular bem formas de ação “pacíficas” e “não pacíficas”. Foi esse equilíbrio, analisa, que fez com que o Movimento Passe Livre – São Paulo (MPL-SP) barrasse o aumento da tarifa na capital paulista. “Só com faixas e cartazes a tarifa não teria caído”, atesta. “Quem tem o poder político nas mãos só cede a uma reivindicação pelo medo, por sentir que as coisas podem sair da rotina, de que ele pode perder o controle do Estado”, sentencia.
Por outro lado, Vinicius alerta que é preciso perceber os limites para evitar que as ações mais “radicais” façam com que o movimento seja criminalizado ou se isole da sociedade e, com isso, perca o potencial de realizar qualquer mudança. Em sua obra, faz a seguinte definição daqueles que adotam a estratégia Black Bloc: “Eles praticam uma desobediência civil ativa e ação direta, afastando assim a política do teatro virtual perfeitamente doméstico, dentro do qual [a manifestação política tradicional] permanece encerrada. Os BB não se contentam com simples desfiles contestatórios, certamente importantes pela sua carga simbólica, mas incapazes de verdadeiramente sacudir a ordem das coisas”, aponta.
Outra crítica recorrente é o fato de os BB usarem máscaras ou panos para cobrirem os rostos. Os adeptos da ação explicam que as máscaras são um meio de proteger suas identidades para “evitar a perseguição policial” e outras formas de criminalização, como também criar um “sentimento de unidade” e impedir o surgimento de um “líder carismático”.
Luta antiglobalização
Com o passar do tempo, segundo Jairo Costa, as táticas Black Bloc passaram a ser reconhecidas como um meio de expressar a ira anticapitalista. Ele explica que geralmente as ações são planejadas para acontecer durante grandes manifestações de movimentos de esquerda.
O estudioso destaca como um dos momentos mais significativos da história Black Bloc a chamada “Batalha de Seattle”, em 1999, contra uma rodada de negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC). Em 30 de novembro daquele ano, após uma tarde de confrontos com as forças policiais, uma frente móvel de black blockers conseguiu quebrar o isolamento criado entre os manifestantes e o centro comercial da cidade. Após vencer o cerco policial, os manifestantes promoveram a destruição de várias propriedades, limusines e viaturas policiais, e fizeram várias pichações com a mensagem “Zona Autônoma Temporária”. Estimativas apontam prejuízos de 10 milhões de dólares, além de centenas de feridos e 68 prisões.
Para Costa, um dos episódios mais impactantes – e duros – da história Black Bloc foi o assassinato de Carlo Giuliani, jovem anarquista de 23 anos, durante a realização simultânea do Fórum Social de Gênova e a reunião do G8 (Grupo dos oito países mais ricos), na Itália, em julho de 2001. Ele lembra que, após vários confrontos violentos – alguns deles vencidos pelos manifestantes, que chegaram a provocar a fuga dos policiais, que deixaram carros blindados para trás –, ocorreu o episódio que levou à morte de Giuliani.
“Ele partiu para cima de um carro de polícia tentando atirar nele um extintor de incêndio. Muitos fotógrafos estavam por lá e seus registros falam por si. Ao se aproximar do carro, Giuliani é atingido por dois tiros, um na cabeça. E, numa cena macabra, o carro da polícia dá marcha a ré e atropela-o várias vezes”, narra. Os assassinos de Carlo Giuliani não foram condenados. Dois anos após o fato, a Justiça italiana considerou que a ação policial se deu como “reação legítima” ao comportamento do militante.
Alvos capitalistas
Entre as formas de ação direta do Black Bloc destacam-se os ataques aos chamados “alvos simbólicos do capital”, que incluem joalherias, lanchonetes norte-americanas ou ainda a depredação de instituições oficiais e empresas multinacionais. Costa explica que essas ações “não têm como objetivo atingir pessoas, mas bens de capital”.
Zuleide justifica a destruição praticada contra multinacionais ou outros símbolos capitalistas, porque elas seriam mecanismo de “exploração e exclusão das pessoas”. “Queremos que esses meios que oprimem e desrespeitam um ser humano se explodam, vão embora, morram. Trabalhar dez horas por dia para não ganhar nada, isso é o que nos enfurece. Por isso, nossas ações diretas a eles, porque queremos causar prejuízos, para que percebam que há pessoas que rejeitam aquilo e que lutam pela população”, explica.
Ela reconhece que essas ações diretas podem deixá-los “mal vistos” na sociedade, já que há pessoas que pensam: “Droga, não vou poder mais comer no ***** porque destruíram tudo”. Porém, Zuleide afirma que o trabalhador, explorado por essas corporações, “adoraria fazer o que nós fazemos”, mas, por ter família para sustentar e contas a pagar, não faz. “Esse é mais um dos motivos que nos fazem do jeito que somos”, pontua.
Vinicius explica que, nas “ações diretas”, os black blockers atacam bens particulares por considerarem que “a propriedade privada – principalmente a propriedade privada corporativa – é em si própria muito mais violenta do que qualquer ação que possa ser tomada contra ela”. Quebrar vitrines de lojas, por exemplo, teria como função destruir “feitiços” criados pela ideologia capitalista. Esses “feitiços” seriam meios de “embalar o esquecimento” de todas as violências cometidas “em nome do direito de propriedade privada” e de “todo o potencial de uma sociedade sem ela [as vitrines]”.
Sem violência?
Em praticamente todas as manifestações, independentemente das causas e dos organizadores, tornou-se comum o grito: “Sem violência! Sem violência!”, que tinha como destinatários os policiais que, teoricamente, entenderiam o caráter “pacifista” do ato. Também seria uma tentativa de coibir a ação de “vândalos” ou “baderneiros”, que perceberiam não contar com o apoio do restante da massa.
Zuleide reconhece que, inicialmente, a ação Black Bloc era alvo desses gritos, mas, segundo ela, quando as pessoas entendem a forma como eles atuam, isso muda. “Os manifestantes perceberam que o Estado não iria nos deixar falar, nos deixar reivindicar algo, e começaram a nos reprimir. Quando há confronto [com a polícia], nós os ajudamos retardando a movimentação policial ou tirando eles de situações que ofereçam perigo, e alguns perceberam isso”, afirma.
Apesar de os confrontos com policiais não serem uma novidade durante as suas ações, os adeptos afirmam não ter como objetivo atacar policiais. Contudo, outro documento intitulado “Manifesto Black Bloc” deixa claro que, caso a polícia assuma um caráter “opressor ou repressor”, ela se torna, automaticamente, uma “inimiga”.
No “Manual de Ação Direta – Black Bloc”, também disponível na internet, a desobediência civil é definida como “a não aceitação” de uma regra, lei ou decisão imposta, “que não faça sentido e para não se curvar a quem a impõe. É este o princípio da desobediência civil, violenta ou não”. Entre as possibilidades de desobediência civil são citadas, por exemplo, a não aceitação da proibição da polícia que a manifestação siga por determinado caminho, a resistência à captura de algum manifestante ou, ainda, a tentativa de resgatar alguém detido pelos policiais.
Também são ensinadas táticas para resistir a gás lacrimogêneo, sprays de pimenta e outras formas de ação policial, além de dicas de primeiros socorros e direitos legais dos manifestantes. De acordo com o documento, as orientações desse manual tratam apenas da desobediência civil “não violenta”.
Outra orientação é que seja definido, antes da manifestação, se a desobediência civil será “violenta” ou “não violenta”. Caso se opte pela ação ‘não violenta’, essa decisão deve ser respeitada por todos, visto que não cumprir o combinado pode pôr “em risco” outros companheiros, além de ser um sinal de “desrespeito”.
Contudo, o mesmo manual deixa claro que o que “eles fazem conosco” todos os dias é uma violência, sendo assim, “a desobediência violenta é uma reação a isso e, portanto, não é gratuita, como eles tentam fazer parecer”.
Uma breve história
1980: O termo Black Bloc (Schwarzer Block) é usado pela primeira vez pela polícia alemã, como
forma de identificar grupos de esquerda na época denominados “autônomos, ou autonomistas”, que lutavam contra a repressão policial aos squats (ocupações).
1986: Fundada, em Hamburgo (Alemanha), a liga autonomista Black Bloc 1500, para defender o Hafenstrasse Squat.
1987: Anarquistas vestidos com roupas pretas protestam em Berlim Ocidental, por ocasião da presença de Ronald Reagan, então presidente dos EUA, na cidade.
1988: Em Berlim Ocidental, o Black Bloc confronta-se com a polícia durante uma manifestação
contra a reunião do Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
1992: Em São Francisco (EUA), na ocasião do 500º aniversário da descoberta da América por Cristóvão Colombo, o Black Bloc manifesta-se contra o genocídio de povos nativos das Américas.
1999: Seattle contra a Organização Mundial do Comércio (OMC). Estima-se em 500 o número de integrantes do Black Bloc que destruíram o centro econômico da cidade.
2000: Em Washington, durante reunião do FMI e Banco Mundial, cerca de mil black blockers anticapitalistas saíram às ruas e enfrentaram a polícia.
2000: Em Praga (República Tcheca), forma-se um dos maiores Black Blocs que se tem notícia, durante a reunião do FMI. Cerca de 3 mil anarquistas lutam contra a polícia tcheca.
2001: Quebec (Canadá). Membros do Black Bloc
são acusados de agredir um policial durante uma marcha pela paz nas ruas de Quebec. Após esse evento, a população local e vários manifestantes de esquerda distanciaram-se da tática Black Bloc e de seus métodos extremos.
2001: A cidade de Gênova (Itália), ao mesmo tempo, recebeu a cúpula do G8 e realizou o Fórum Social de Gênova, com um grande número de Black blockers, além de aproximadamente de 200 mil ativistas. A ação ficou marcada pela violenta morte do jovem Carlo Giuliani, de 23 anos.
2007: Em Heiligendamm (Alemanha), reunião do G8 foi alvo de uma ação com a participação de cerca de 5 mil blackblockers . Mobilização Black Bloc de cerca de 5.000 pessoas
2010: Toronto (Canadá), na reunião do G20. Neste confronto, mais de 500 manifestantes foram presos e dezenas de outros ativistas foram parar em hospitais com inúmeras fraturas.
2013: Cairo (Egito). O Black Bloc aparece com forte atuação nos protestos da Praça Tahir, no combate e resistência ao exército do então presidente Hosni Mubarak.
Fonte: Artigo “A Tática Black Bloc”, escrito por Jairo Costa, na Revista Mortal, 2010

Fonte: REVISTA FORUM


1 - a fabricação de roupas e mesmo de material esportivo utilizados por atletas, alguns bem badalados na velha mídia,  se dá em fábricas que se assemelham aos campos de concentração nazista da segunda guerra mundial. Os funcionários dessas fábricas chegam a trabalhar até 14 horas por dia, recebendo , as vezes, salários inferiores ao salário mínimo, além de sofrerem violência por parte de supervisores no local de trabalho. As roupas fabricadas são vendidas, a um prêço bem salgado, nas principais redes de lojas de departamentos do mundo.

2 - redes de lanchonetes fast food, com lojas em todo o mundo, são frequentemente acusadas de trabalho escravo e violência contra os funcionários. No Brasil são vários os casos.

3 - operadoras de cartão de crédito tem em suas ações de expansão enviar , pelo correiro, cartões de crédito e um boleto com a fatura dos serviços, sem que as pessoas solicitem tal serviço. Caso o receptor não queira o cartão e ignore aquilo que recebeu, seu nome irá parar na lista dos serviços de proteção ao crédito, já que para as operadoras de cartão de crédito, o simples envio de um cartão com a fatura caracteriza um contrato de adesão ao cartão, a revelia do receptor que nada solicitou. As operadoras de cartão chamam tal estratégia de marketing agressivo, com o objetivo de aumentar sua carteira de clientes.

4 - proprietários das empresas de transporte coletivo e de emissoras de tv são pessoas bilionárias. Tanto o transporte coletivo, como as emissoras de tv são concessões públicas que deveriam ter como objetivo principal o interesse público, oferecendo serviços de qualidade para a população.

5 - agricultura é um grande negócio, alimentos são comoditties onde se especula  ganhos futuros com variação de prêços, sementes são propriedades de poucas corporações que definem o que se planta, onde se planta e quem planta. Proprietários de redes de supermercados são pessoas bilionárias. 

6 - operadoras de telefonia definem locais para instalação de telefonia móvel em função da lucratividade da região, ignorando as necessidades das populações envolvidas.

7 - as cidades foram assaltadas pelas corporações que definem o valor do metro quadrado, quem pode morar, quem deve ser expulso da região. Os espaços urbanos são desenhados para que o transporte individual prevaleça.

8 - a cultura e o esporte foram tomadas de assalto pelas  corporações de mídia, indústria fonográfica, empresas anunciantes desses eventos na tv e grandes corporações. A cultura e o entretenimento passam a ser aquilo que as corporações entendem como lucrativo, e sua veiculação para o público deve seguir a mesma lógica da lucratividade , no tocante aos períodos, dias e horários dos eventos.

E então, meu caro leitor ?
Se o assunto é a violência o caro leitor não acha que todas as formas de violência e opressão deveriam ser amplamente analisadas e debatidas ?
Imagino que o leitor concorda. Entretanto, na pŕatica não é o que acontece.
O marketing agressivo,( ou violento ?) das operadoras de cartão de crédito sequer é questionado pelos grandes veículos de mídia, veículos de mídia que tem nas instituições financeiras seus grandes anunciantes.
O trabalho escravo nas redes de fast food e nas fábricas de roupas, muitas de grife, jamais aparece como denúncia nos grandes veículos de mídia. Veículos de mídia que tem nas redes de fast food e nas lojas de roupas e material esportivo, seus grandes anunciantes.
O transporte coletivo de qualidade, algo raro nas grandes cidades brasileiras, não merece a devida atenção dos grandes meios de comunicação privados , que tem nas montadoras de automóveis seus principais anunciantes.
Um programa de qualidade vida e saúde para a população não tem o devido destaque nos grandes veículos de mídia. Veículos de mídia que tem como principais anunciantes as redes de supermercados que priorizam os alimentos industrializados. Alimentos industrializados que são fabricados com produtos oriundos de agricultura controlada por grandes corporações, que por suas vez , também são grandes anunciantes das emissoras de mídia privada.
No conjunto das empresas privadas de mídia e de seus grandes anunciantes, a cultura e o entretenimento apresentados , sugerem um estilo de vida considerado o ideal e "civilizado", onde os hábitos de nutrição seguem os produtos apresentados, o vestuário um padrão global veiculado em filmes e novelas, o consumo de bens duráveis ou não como um valor de sucesso que confere respeito e credibilidade, e a habitação um padrão condominial , onde todos  iguais convivem isolados da periferia em locais assépticos e higiênicos, garantidos por forte aparato de segurança privada.
Ao final  chegamos ao controle da violência, que é segurança das pessoas por empresas de segurança privada e seus recursos tecnológicos. que visam garantir a segurança contra um bando de bárbaros, bando esse que nada mais é que a maioria da população. População que sofre toda essa violência citada acima, toda essa opressão e ainda é taxada de violenta quando se manifesta contra a verdadeira violência dos tempos atuais, que é a hegemonia e a profiferação do capital turbinado e todas as suas formas de expressão, por pessoas  por  serviços e por corporações.
A propósito, a violenta mídia privada brasileira pede, constantemente, que os manifestantes façam protestos de forma pacífica.

Grupo com cerca de cem manifestantes realiza ato na avenida Paulista, em São Paulo, contra o governo de Geraldo Alckmin, envolvido em escândalo de corrupção com as empresas estatais CPTM e Metrô. Uma edição da revista Veja, com os black blocs na capa, foi queimada, na noite desta terça-

Fonte: BOL

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Veja Chapada

A garota black bloc na capa da Veja responde à revista
“Emma” aponta os erros na matéria em que foi o personagem central
Por Mauro Donato, no Diário do Centro do Mundo

Emma (Reprodução)
“Emma, de 25 anos, integrante dos black blocs no Rio”, conforme legenda que identifica o rosto coberto por uma camiseta na capa da Veja, está indignada. E afirmou que irá redigir uma “Carta aberta à Veja”.
Na tarde de sábado, logo após a revista chegar às suas mãos, Emma, acampada no Ocupa Cabral, apoderou-se do celular que fazia transmissão ao vivo pelo TwitCasting e passou mais de uma hora vociferando contra a publicação (vídeo aqui).
Revoltada, demonstrava discordar de A a Z da matéria. Ainda na capa, ela aponta um erro que considera primário ao inseri-la como membro de um grupo. “Black bloc não é grupo e sim uma tática de manifestação. Não tenho como ser integrante de uma coisa que não existe.” A chamada (O bando dos caras tapadas) também desperta ira quanto ao trocadilho que ela diz ser “digno do Zorra Total” e que jornalistas deveriam se envergonhar de trabalhar numa revista como aquela.
Auxiliada por um mascarado que a ajuda a folhear a revista cujas páginas estão rebeldes por causa do vento da praia, Emma vai analisando e xingando trechos preconceituosos e moralistas. Sua revolta (e dos que estão ao redor) aumenta diante do relato sobre consumo de drogas e sexo promíscuo. “Entre um baseado e um gole de vodka, (…) vinho barato e cocaína ! Onde isso?”
Ela segue jogando molotovs na Veja até chegar ao quadro de fundo cinza, parte que considera ter sido feita especialmente para si. Abaixo de uma foto em que aparece lendo História da Riqueza do Homem, de Leo Huberman, o texto procura atingi-la de modo a reduzir suas insatisfações a desvarios adolescentes. Emma ridiculariza a tentativa da revista de expor intimidades e frases soltas apenas para diminuí-la.
O mascarado também faz seu desabafo: “Isso foi tudo inventado. A grande mídia faz assim, ela conta a história que ela quer. Essa matéria aqui é completamente mentirosa, não é nem falaciosa, é mentirosa mesmo. A intenção é manipular a opinião pública”, diz ele.
Emma aponta a câmera para as barracas: “Olha lá, todo mundo transando e se drogando.” Ela se enfurece com o golpe baixo ao ser chamada de namoradeira e suspeita que gente infiltrada a delatou na passagem em que “fica” com dois acampados num mesmo dia.
As fotos nas quais ela aparece (capa e miolo) são assunto polêmico. Ainda que através de uma elíptica fenda apenas se revelem os olhos azuis, sobrancelhas finas e um pouco do nariz, todos de traços sugestivamente médio-orientais e de ar misterioso, fica evidente que Emma mexe com a curiosidade. Enquanto conta que o fotógrafo se fez passar por membro de agência internacional, Emma recebe um elogio à sua beleza através do chat interativo. “Obrigada, mas a reportagem não mexeu com meu ego. Não adianta nada a foto estar bonita se o conteúdo é escroto”, disse. “Não vendi foto nenhuma, publicaram isso sem minha autorização”. Uma senhora que estava ao lado pergunta se ela pode processar a revista por uso indevido de imagem. “Sim”, responde Emma. Um outro espectador bem humorado diz ter sentido falta de um poster central na revista. “Poster o caralho, já falei para parar com a idolatria. Não vim aqui para mostrar a bunda, vim mostrar o que tenho no cérebro.”
Emma diz ter sido procurada no acampamento por uma repórter da Veja e também pelo Globo. Dá a entender que recusou ambos os convites por não concordar com a grande mídia. Afirmou ter dito à repórter da Veja que não conversaria com ela pois o editor manipularia tudo conforme seu interesse. Contudo, enquanto lia a reportagem, por diversas vezes declarou: “Eu não disse isso, desse jeito.”
Além dos equívocos denunciados por Emma, a matéria afirma que os blacks blocs são um grupo pequeno e não chegariam a duzentos miilitantes. Apenas na frente da Assembleia Legislativa de São Paulo, na semana passada, havia um grupo de aproximadamente cem indivíduos. Comunidades black blocs no Facebook são encontradas em São Paulo, Caxias do Sul, Minas, Ceará, Niterói, Rio de Janeiro. Só a do Rio possui mais de 23 mil “curtidores”.
Também não é verdade quando a revista afirma que black blocs haviam queimado uma catraca durante uma manifestação (o ato é simbólico e religiosamente proporcionado pelo MPL, não teve nada a ver com black blocs) ou quando alega que nenhum McDonald’s ou Starbucks escapem ilesos de protestos em que haja pelo menos um mascarado (na noite de sexta-feira, novamente na Assembleia, nenhuma guerra de spray ou gás ocorreu mesmo na presença de 60 ou 70 black blocs).
Criticando professores universitários admiradores do movimento, a Veja incita a polícia a enquadrar os “arruaceiros” pelo crime de formação de quadrilha, algo ainda não feito, obviamente, por não ser possível juridicamente (como foi dito por um membro dos Advogados Ativistas aqui no Diário).
Na Carta ao Leitor da mesma edição, lê-se que “VEJA sempre se pautou pela busca da informação correta em nome do interesse público.” Ao encerrar sua participação no Twitcasting, Emma diz para a Editora Abril: “A população está vendo o que vocês estão fazendo.”

Mais uma mentira violenta de velha imprensa. Para criminalizar , vale dizer que os manifestantes são usuários de drogas e bebidas alcoólicas, a mesma conversa fiada. 

Já que Veja tocou no assunto, vale a leitura, abaixo, de parte de uma postagem do PAPIRO, Diários de Botequim - 1 As Confissões de Lúcia.

- vamos procurar minha amiga. Marquei com ela .
Andando com dificuldades no meio daquela multidão, olhando nas mesas já todas ocupadas, Ciro encontrou sua amiga. Uma mulher loira, bem vestida, simpática  que estava acompanha de uma amiga. Depois das apresentações de praxe, fiquei sabendo que a amiga de Ciro era Telma e que sua amiga era Lúcia, uma morena, de estatura mediana, de meia idade e sorridente. Com dificuldade conseguimos mais três cadeiras e ocupamos a mesa com as duas mulheres. Como éramos três homens e duas mulheres, não perdi tempo em conversas e tirei Lúcia para dançar. De imediato rolou uma química na dança, o que facilitou nossa conversa. Enquanto dançávamos sem parar, para desespero do arrumadinho Nelsinho que ficou sozinho na mesa, trocávamos informações aprofundando o conhecimento sobre ambos. Ciro estava em êxtase com Telma, fazendo as mais variadas evoluções pelo salão.  Lúcia era jornalista, tinha quarenta e quatro anos e já era avó de dois meninos, que moravam com a filha única na cidade São Paulo.  Independente, bem sucedida na profissão, trabalhava como repórter há vinte anos em um grande grupo de comunicação do Rio de Janeiro, dedicando mais tempo a emissora de rádio do grupo, onde vivia pela cidade cobrindo a desgraça do Brizola, como ela costumava dizer. Nossa amizade foi imediata. Depois daquele baile, e dois outros mais em que nos encontramos no mesmo lugar, passamos a ter encontros frequentes em um bar do bairro de Botafogo, sempre pelo fim da tarde, que era reduto de profissionais da imprensa. Circulavam por lá jornalistas, repórteres de rua, motoristas, fotógrafos , cinegrafistas e outros profissionais de diferentes grupos de comunicação do Rio de Janeiro. Durante boa parte do ano de 1993 convivi com aquelas pessoas, até que em um dia, Lúcia me convidou para vivenciar um dia de trabalho seu. Conforme combinado, isso já pelo final daquele ano, entrei em um carro de reportagem do grupo.  O motorista, Lúcia e eu saímos em direção a zona norte da cidade. Logo de saída, o motorista tirou  um baseado do porta luvas do carro e acendeu sem a menor cerimônia compartilhando com Lúcia.
- mas já pela manhã, e no trabalho, peguntei.
- é todo dia, respondeu o motorista
- e vocês não tem medo de serem flagrados pela polícia, peguntei.
- a polícia não aborda veículos da imprensa, respondeu de imediato Lúcia.
- e por aqui prá onde a gente vai nós conhecemos todos eles, disse o motorista.
- muitos, inclusive , dão a informação correta onde se pode comprar coisa boa, ou até vendem prá gente. disse Lúcia.
- polícia boa, hein, comentei.
- existem várias polícias, disse Lúcia e continuou. Existem aqueles policiais que fazem o trabalho correto, não são corruptos. Existem aqueles, de um outro grupo, que são aliados do crime. E existe, ainda o terceiro grupo, daqueles que são concorrentes do crime. Esses últimos são os piores. Prá onde a gente está indo a polícia é aliada dos bandidos. Por lá a gente pode comprar tranquilo nossos cigarrinhos e até mesmo, servir de fornecedor para a classe média da cidade, principalmente na zona sul.
- vocês da imprensa, como fornecedores, perguntei.
- claro, disse o motorista. Ninguém pára carro da imprensa nas ruas e ainda dá prá melhorar o salário. A gente entrega em casa, só prá bacana de classe média alta e rica.
- quer dizer que imprensa e polícia por vezes são cúmplices , peguntei provocando Lúcia.
- a imprensa faz o jogo da polícia e a polícia faz o jogo da imprensa. As vezes, quando um caso tem grande repercussão, aí não dá para aliviar a polícia, mas na maioria das vezes quem paga é povo. Se alguém de uma comunidade carente tem um parente atingido e morto por uma bala perdida da polícia, o assunto pode até ser notícia, por um ou dois dias, mas depois o assunto cai propositalmente no esquecimento na imprensa, o policial não é punido e aquela conversa toda de análise de onde partiu o tiro é só enganação. Se for um caso de grande repercussão , os policias são até mesmo detidos, julgados, mas logo estão de volta. As pessoas pobres que se virem. Chega a dar pena. Elas pedem prá gente divulgar mas a gente sabe que se for pobre não tem espaço nas redações. Lúcia continuou. Agora mesmo nós vamos apurar uma denúncia que certamente servirá para atacar o governo do Brizola. Aliás, a gente não faz outra coisa. Notícia sobre o governo do Brizola , e isso é orientação do chefe, é para desgastar o governo. Coisa boa que o governo faz é proibido divulgar. Nem adianta tentar fazer uma matéria especial que não passa e ainda a gente corre o risco de perder o emprego.
- mas os fatos são os fatos. disse.
- isso é o que você pensa, disse em  meio a sorrisos dela e do motorista. A notícia não é o fato. A notícia , para a maioria da imprensa, é aquilo que ela, a imprensa, deseja que seja. E aí entram vários interesses, políticos , mercantis , religiosos e outros. O papel da maioria da imprensa, ou melhor o negócio da maioria da imprensa não é a informação e sim o exercício do  poder. A informação é a embalagem para o produto poder. Você passou a conviver conosco nesse meses, percebeu que frequentamos locais onde estão somente profissionais do setor. Por isso o corporativismo é forte, por que sabemos qual é a verdadeira realidade do jornalismo. Não existe pureza, honestidade, ética e muito menos credibilidade no trabalho da maioria da imprensa.
- mas existem profissionais honestos, não ?
- claro que existem, mas não podem sair da linha editorial da empresa, É uma honestidade com limites, com censura interna. Se sair da linha são mandados prá rua. Então, a gente prá não perder o emprego faz o jogo. Mas o interessante é que a maioria dos repórteres, pessoal de apoio, jornalistas de baixo são eleitores do Brizola ou do PT, ou seja , contrários aos interesses da alta direção.
- esquizofrênico, não ? perguntei
- bastante, mas é a realidade. Confesso que não tive coragem para jogar todo esse nojo pro alto. Você lembra das eleições municipais de 1992, perguntou Lúcia.
- claro, mas do que especificamente, perguntei.
- com o Brizola como governador veio uma orientação  de cima da empresa para atacar a candidata do PT. Prá eles era inaceitável que a cidade do Rio de Janeiro também ficasse nas mãos da esquerda. O Tonico sabe bem disse, disse olhando para o motorista. Naquela eleição foi montado um esquema, dez dias antes do primeiro turno, prá derrubar a Bené. Aquela onda de arrastões em prédios da zona sul da cidade foi organizada e colocada em prática por gente da imprensa. Pessoal que tem acesso as favelas  e incitou a violência, junto com os chefes do crime , pra espalhar pânico na classe média, dizendo que se a Bené vencesse as eleições, como iria vencer, ela como favelada iria favorecer os favelados, a cidade se tornaria um caos , etc... Em paralelo inflaram o Cesar Maia ,que só tinha  1% das intenções de voto, como o candidato bem preparado e culto, ideal para assumir a cidade. O resultado você sabe.
- mas isso é terrorismo, comentei.
- como eu disse prá você, o negócio da imprensa não é jornalismo, informação, esclarecimento. O negócio da imprensa é o exercício do poder.
Chegamos em local da zona norte, em uma comunidade carente, onde a polícia fazia uma operação.
- isso e só enganação, disse Lucia e continuou. É só prá aparecer que  estão trabalhando contra o crime. A matéria tem que seguir a linha de que o Brizola não deu,com o tempo, a devida atenção no combate ao crime. Já os fatos, que se danem.
- e a população , com é que fica ?
- não fica. Para a imprensa a população deve pensar e acreditar naquilo que imprensa deseja que a população acredite. Se você for espeto e bem informado, dá sobreviver, caso contrário será mais um que terá a consciência modelada.
O dia fora longo e surpreendente para mim. Ao chegar em casa liguei a TV para assistir as "notícias" e terminar o dia "bem informado".


E então , caro leitor ?
Veja a realidade da notícia e da não notícia.
Para a notícia , vale a mídia alternativa. Porém, caso o leitor deseja a não notíca , vale a veja

Globo e a Internete a Vapor

O linchamento da Midia Ninja

Por Luciano Martins Costa em 19/08/2013 na edição 759
Comentário para o programa radiofônico do Observatório da Imprensa, 19/8/2013
 
Algumas das mais prestigiadas cabeças da imprensa têm se empenhado, nos últimos dias, a uma articulada operação com o objetivo de desmoralizar o coletivo de produções culturais chamado Fora do Eixo e, como resultado indireto, demonizar o fenômeno de midiativismo conhecido como Mídia Ninja.
Não se pode dizer que esse movimento seja organizado, da mesma forma como se planeja uma pauta de jornal, mas são fortes as evidências de uma estratégia comum em suas iniciativas. Há uma urgência na ação de desconstrução da mídia alternativa que nasce em projetos culturais à margem da indústria de comunicação e entretenimento – e os agentes dessa estratégia têm motivos fortes para isso.
Interessante observar que essa operação-desmanche reúne desde os mais ferozes e ruidosos porta-vozes do reacionarismo político até pensadores identificados com correntes vanguardistas, o que compõe um mosaico de discursos que vão dos costumeiros rosnados de blogueiros raivosos até lucubrações mais ou menos sofisticadas de intelectuais sobre o ambiente comunicacional contemporâneo.
Entre as mais ferozes dessas manifestações, certamente ganha destaque a “reportagem” publicada pela Folha de S. Paulo no domingo (18/8), sob o título “Fora do Eixo deixou rastro de calotes na origem em Cuiabá” (ver aqui). O texto se refere a despesas, no total de R$ 60 mil, feitas pelos organizadores de um festival de música alternativa realizado em 2006 na capital de Mato Grosso, onde ocorreram os primeiros eventos do Fora do Eixo.
A reportagem é montada com depoimentos de comerciantes, que dizem estar tentando cobrar a dívida há três anos, e termina com o chamado “outro lado”: uma curta explicação da responsável pelas finanças do Fora do Eixo, reconhecendo o débito e afirmando que todos os credores serão pagos.
Ora, se a dívida é reconhecida e tem sido negociada, qual a justificativa para tamanho barulho?
Se usasse o mesmo critério para todos os casos semelhantes, o jornal deveria dar manchetes com a controvérsia sobre uma suposta dívida do grupo Globo junto à Receita Federal, e que é acompanhada de um escândalo sobre o sumiço do processo.
Com a mesma disposição, seria de se esperar que a imprensa acompanhasse o drama de centenas de jornalistas e outros profissionais que lutam há mais de década por seus direitos trabalhistas, apropriados por empresários do ramo das comunicações. Verdadeiros estelionatos foram cometidos contra esses trabalhadores, há evidências de chicanas na Justiça do Trabalho e denúncias até mesmo de desvio do patrimônio de fundos de pensão, sem que a imprensa se interesse por essa pauta.
Uma parceria impensável
O alvo central dos ataques é o principal articulador do Fora do Eixo, Pablo Capilé, que já foi chamado de “imperador de um submundo”, como se os coletivos de ação cultural fossem um universo clandestino e fora da lei. O bombardeio inclui denúncias de “trabalho escravo”, “exploração sexual”, “formação de seita” e outras alegações que não sobrevivem a uma análise superficial, como as referências deletérias aos editais onde algumas dessas iniciativas buscam recursos.
Ora, não consta que os ativistas que agora vão a público acusar Capilé tenham ficado algemados ao pé da mesa nas Casas Fora do Eixo, ou que alguém tenha sido abduzido para se integrar aos coletivos.
Os editais são resultado de uma inovação produzida pelo ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, que permitiu democratizar parte dos recursos oficiais de incentivo à produção de música, dança e artes visuais, com menos burocracia do que a exigida pela Lei Rouanet.
Aliás, há outra pauta mais interessante, que a imprensa ignora, sobre as fraudes no uso de recursos por grandes produtoras, como a prática de fazer seguidas captações financeiras com empresas de fachada. A cantora Claudia Leitte, por exemplo, é acusada de haver obtido perto de R$ 6 milhões em apoio oficial usando esse artifício.
Pode-se alinhar muitos exemplos da falta de proporcionalidade que a imprensa tem aplicado a erros ou desvios eventualmente cometidos por algumas das milhares de iniciativas do Fora do Eixo. Mas o mais interessante é a personalização das acusações, centradas na figura de Capilé – e que, por essa razão, apontam como alvo final a Mídia Ninja.
O processo de demonização desse fenômeno de comunicação produz até mesmo uma impensável convergência entre as revistas Veja e Carta Capital.
Carta Capital (ver aqui) contribui para deformar a imagem do Fora do Eixo e da Mídia Ninja ao afirmar que ex-integrantes do coletivo cultural têm medo de se manifestar contra o grupo, como se se tratasse de uma perigosa organização criminosa. A deixa é aproveitada pelo colunista mais virulento de Veja para uma de suas diatribes.
Quando os dois extremos do espectro ideológico se tocam, forma-se o círculo perfeito do conservadorismo que rejeita toda mudança.

Se setores da direita e da velha imprensa estão perseguindo as novas mídias, trata-se de um gigantesco recibo que o atraso está passando.
Mais do que um recibo para tentar inviabilizar novos conteúdos informativos, um processo está em curso, com data marcada, com todos os ingredientes de violência, golpe  e tudo mais que a velha imprensa, a grande mãe cafetina da anti-democracia, vem tentanto ao longo desses anos de avanços e sucessos dos governos democráticos e populares do PT. 
Vamos aos fatos:
A demonização da mídia NINJA ocorre logo após essa mídia produzir durantes os protestos de junho último conteúdos informativos que não apenas desmoralizaram  como ridicularizaram o jornalismo falso da velha imprensa. NINJA não agiu com esses objetivos e, apenas fez jornalismo, em tempo real, sem edições, sem cortes, sem restrições de crenças ou dogmas limitantes. Para isso soube maximizar as ferramentas tecnológicas disponíveis  e , com isso, abriu novas perspectivas para que a tradição  se mantivesse moderna, algo que a velha imprensa esqueceu propositalmente ao assumir seu papel de partido polítco. A velha imprensa, partidarizada até na vagina, acusa as novas mídias de orientação política em suas produções. Alguns jornalistas e políticos, destaque, claro que negativo, para o verde tucano Gabeira e o  trem tucano Aloysio Nunes, já emitiram declarações , respectivamente, de que NINJA pode ser algo similar aos grupos que apoiaram Mao Tse Tung e que o governo não pode financiar essas mídias. De fato, a pior direita é aquela que antes era esquerda e se converteu, como ocorreu como os dois citados e outros mais, como o palhaço da globo que atende pelo nome de madureira, uma ofensa ao charmoso bairro do subúrbio carioca, que em outras ocasiões já destilou sua ira sobre a esquerda do país,isso em reuniões no patético Instituto Milleniun. 
Esquerdas e direitas a parte, o que fica, mas que não é centro, é um escancarado processo para inviabilizar conteúdos que não estejam alinhados com a pauta da velha imprensa. Isto posto, assistimos a censura de volta sendo praticada por setores que em outras épocas foram vítimas da censura. A velha imprensa se auto censura internamente em seus veículos e , enquanto um oligopólio, ataca mídias digitais, principalmente,  com o propósito de inviabilizá-las. Tais práticas não deixam de guardar uma relação direta com o próprio exercío do poder mundial, dissimulado, oculto, nas sombras, sem jamais atuar nas linhas de frente, porém em pleno exercício do comando das ações. A informação não pode ser compartilhada, democratizada, ,mesmo que se manifeste em forma de opinião por parte de pessoas muito bem antenadas com a realidade que, de certa forma, contribuem para melhor compreensão dos fatos .
Muitos autores afirmam que estamos em um processo de mudança de ondas, pois viveu-se milênios na onda agrícola, séculos na onda industrial e agora estaríamos na onda informacional. Tais autores , ainda afirmam que o tempo de surgimento dessas ondas é cada vez menor, assim como tempo de duração, tanto que nas fronteiras da prospectiva já se afirma que a onda informacional já cede terreno a nova onda, que chamam da onda da  intuição, o que não deixa de guardar uma correlação com os avanços do conhecimento no campo da consciência e suas múltlipas aplicações. Independente do que se pense sobre o assunto, muito ainda deve acontecer no campo da informação e das trocas, tendo em vista  que o fenômeno das redes sociais e suas múltiplas aplicações ainda está muito longe do esgotamento. Nesse cenário de interseção de ondas, a velha imprensas, ao agir de forma organizada e violenta para criminalizar e mesmo inviabilizar com censura correntes do chamado midiativismo, situa-se, ainda, no arcabouço de idéias que caracterizou a segunda onda, ou seja, a revolução industrial. Mesmo que a violência em curso praticada pela velha imprensa tenha como objetivo a luta pelo  poder, suas práticas escancaram um setor deslocado da realidade, anacrônico e, sem esgotar o assunto, em acelerada rota de colisão com as tendências manifestadas pela população no tocante ao avanço do processo democrático no país.
Importante que se diga, em alto e bom som, que o desejo da velha imprensa é incompatível com o curso na História.
Impossível imaginar internete a vapor.
Impossível conter a democracia em tempos de trocas instantâneas pelo protagonismo das redes socias.
Impossível conter o avanço do conhecimento.
Impossível manter o confissionário depois de Freud.

sábado, 17 de agosto de 2013

O Povo Rejeita a TV

Pesquisa: Quase 70% da população diz que a TV não os representa



A televisão é assistida diariamente por 82% dos brasileiros, mas 43% da população não se reconhece na programação difundida pelo veículo e 25% se veem retratados negativamente. Apenas 32% se sentem representados positivamente. Os dados são da pesquisa de opinião pública Democratização da Mídia, lançada nesta sexta-feira (16) pela Fundação Perseu Abramo.


Para o estudo foram feitas 2,4 mil entrevistas domiciliares em zonas rurais e urbanas de 120 municípios, entre 20 de abril e 6 de maio deste ano.

Leia também:
FPA lança pesquisa sobre “Democratização da mídia” nesta sexta

Quase um terço dos entrevistados (29%) disse que nunca vê a defesa de seus interesses na televisão, enquanto que para 55% essa defesa ocorre de vez em quando. Em relação às mulheres, 17% acha que quase sempre são tratadas com desrespeito na programação, problema que ocorre eventualmente para 47% dos entrevistados.

O tratamento dos nordestinos também recebeu avaliação semelhante, sendo que foi considerado quase sempre desrespeitoso para 19% e só às vezes para 44%. Sobre a população negra os percentuais foram de 17% e 49%, respectivamente.

De acordo com o estudo, a maioria da população (61%) acha que a TV concede mais espaço para o ponto de vista dos empresários do que dos trabalhadores (18%). Para 35% dos brasileiros, os meios de comunicação, não só a televisão, defende principalmente os interesses dos próprios donos.

Na opinião de 32%, a versão que prevalece na mídia é a dos que têm mais dinheiro e para 21% é o interesse dos políticos que é mais defendido pelos meios. Apenas 8% avaliaram que os meios de comunicação estão prioritariamente ao lado da maioria da população.

A maioria dos entrevistados (71%) é favorável a que a programação televisiva tenha mais regras. Para 16%, as regras atuais são suficientes para disciplinar o conteúdo e 10% disse que é preciso reduzir o número de normas. Na opinião de 54%, não deveriam ser exibidos conteúdos de violência ou humilhação de homossexuais ou negros.

Para 40% da população, esse tipo de programação pode ser aceita sob determinadas regras. Percentual semelhante ao humor que ridicularizam pessoas, 50% são contra a exibição desse conteúdo e 43% admite desde que normatizado.
Fonte: VERMELHO
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Coluna “Mídia Comunidade” começa neste domingo

Jornal do Brasil inaugura um canal com as comunidades do Rio


 
 
O Jornal do Brasil lança neste domingo a coluna “Mídia Comunidade” que pretende ser um canal de comunicação com as comunidades do Rio de Janeiro. O novo espaço vai publicar opiniões e matérias feitas pelos próprios moradores desses locais, sobre o seu dia a dia, seus problemas e a busca de soluções. Será uma coluna voltada para aqueles que estão conquistando cada vez mais seu lugar de direito em nossa sociedade.
Para inaugurar a coluna, convidamos Davison Coutinho, 23 anos, morador da Rocinha desde o nascimento. Formando em desenho industrial pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade, funcionário da PUC-Rio.
Davison vem atuando nos últimos meses como representante eleito em assembleia na Rocinha perante o governador, prefeito e secretários para buscar melhorias nas condições de vida dos moradores do local. Participa ainda da coordenação de um projeto social de educação da PUC e na coordenação de um centro comunitário na Comunidade, além de autor do livro "Um olhar sobre a produção cultural na Rocinha".
Fonte: JORNAL DO BRASIL
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A pesquisa apresenta  algo que todos nós, em sintonia com as novas tecnologias da informação, já sabíamos, mesmo que intuitivamente.
A TV privada brasileira, e também os grandes jornais e revistas  são palanques para os interesses de seus grupos associados ideologicamente. Isso se aplica na política, nas relações interpessoais, nos hábitos para uma qualidade de vida, na cultura, no entretenimento, na nutrição, na saúde, na religião ...
Com uma profunda e arraigada visão classista, a velha mídia reproduz uma visão de mundo e sociedade, carregada de racismo, xenofobia e violência  com valorização de um estilo de vida deslocado da imensa maioria da população brasileira. Para os ricos, a tv se auto expressa, até mesmo quando tenta retratar a vida e a cultura das periferias das cidades e do campo., já que sua linguagem segue um padrão que não comporta  a incorporação da cultura viva, direta, crítica, com todas as suas formas de expressão. Lembro , que em um passado recente, mais ou menos dez anos atrás, foi ridículo e grotesco assistir ao programa Globo Repórter, por Sérgio Chapelein, abordando, em tom de descoberta o samba de raiz do saudoso compositor carioca Walter Alfaiate. Walter, foi descrito por Chapelein como exceção, já que o que norteava a descrição era a profissão de alfaiate. Para que o caro leitor tenha uma melhor compreensão, foi como escrever uma letra para o funk com todos os jargões do judiciário. Chapelein, naquele momento não se dirigia ao povo, ao samba de Walter, a cultura de Walter, mas sim aos seus iguais racistas e classistas, com sua forma própria de se expressar.  As tv's  privadas ignoram, propositalmente , as manifestações culturais autênticas do povo, porém quando tais manifestações atingem uma massa crítica considerável, a tv tenta cooptá-las para enquadrá-las em uma estética padronizada e de fácil assimilação pelo senso comum. Para isso , contam com profissionais que se expressam em sintonia, ou representam com perfeição ,tais manifestações culturais. O programa esquenta da tv globo, é um exemplo. A apresentadora Regina Casé dialoga, ou tenta, em sintonia com a cultura do samba, do funk e do hip hop, interagindo com artistas, músicos e cantores, que caso venham a se adequar nos padrões da indústria fonográfica e midiática, serão lapidados por essas indústrias e terão garantia de "sucesso" rápido. É o caso da funkeira Anitta, que ao que parece, foi engolfada pela velha mídia e tem sido apresentada como o funk "correto" que a sociedade "pode compartilhar e consumir". Para isso , Anitta vem mudando, inclusive, a cor da pele, ficando mais clara e, quem sabe, fique com os cabelos prateados e dourados, que segundo um jornal das organizações globo de hoje, sábado, é o padrão que todos devem seguir. Críticas a sociedade não aparecem no funk de Anitta Os funks e hip hipos de visão crítica e social, pois retratam a realidade de vida dos compositores, não tem espaço nas tv´s privadas como expressão cultural, sendo, na maioria das vezes, apresentados com expressão do crime. Nas periferias e cominidades  o papo é reto, o vocabulário é próprio, e a realidade não é aquela que aparece via antenas de tv.
A felicidade, por vezes, é uma arma de fogo disparada pela polícia contra um habitante, mas que não atingiu o seu alvo. No funk, hip hop e samba de raiz, o amor retratado nas letras, representa um momento de distração rápida na vida das comunidades, ou o simples fato de ter acordado vivo para mais um dia. Para o morador da periferia que leva porrada da polícia, dos transportes públicos, do preconceito, do racismo, a tv privada é uma fantasia , cuja obra tenta se apresentar como diferente e cheirosa.
Parabéns ao JORNAL DO BRASIL pela iniciativa de ceder um espaço para que  as pessoaas das comunidades e da periferia possam se expressar por elas mesmas, sem filtros ou esteriótipos racistas e elitistas, como cocorre com a velha mídia privada.
Quanto a pesquisa que afirma que 70% da população não se vê representada na mídia, principalmente nas tv's privadas, é um sinal que a maioria do povo brasileiro rejeita a bosta que a tv vomita diariamente na população.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Diários de Botequim - 4 Dr. Célio e Primavera Talibã

No final daquele mês de setembro o assunto não poderia ser outro. Em todos os cantos e centros da cidade uma nova palavra era incorporada no vocabulário do carioca. De sanduiches a calcinhas, tudo era talibã. Teses e mais teses proliferavam pela cidade na tentativa de compreender o atentado contra as torres gêmeas nos EUA. 
- acabou de sair uma calabresa acebolada que está talibã, vai ? peguntou Olsen para um freguês do bar.
No bar, a realidade não era diferente. Em todas as mesas, em que se podia ouvir , o assunto era o atentado e, principalmente, a ousadia desses novos personagens, os talibãs.
- não tira onda comigo não que eu sou talibã, disse um vendedor de rua para um guarda municipal que o perseguia nas imediações do boteco.
Na mesa estavam Miltão, Jadir ,Nelsinho e uma figura estranha, apresentada aos demais por Nelsinho como um tal de Dr. Célio. O tal Doutor era de fato muito estranho. De estatura mediana, e com uma aparência de meia idade consolidada, tinha uma face clara, com uma cor pálida e cadavérica, um bigode grisalho com marcas acentuadas de nicotina que também eram bem fortes nos dedos de suas mãos .Durante o período que alí esteve, e que não foi de muito tempo, fumava um cigarro quase que atrás do outro, além de demonstrar muita intimidade com o copo, já que consumiu algumas caipirinhas. Suas mãos eram trêmulas, porém quando se expressava era raro movimentar algum músculo da face. Por vezes lembrava um robô ou um andróide falando. Certamente não teve a empatia de Miltão e Jadir, que tão logo após a saída do Doutor do bar, interpelaram Nelsinho.
- porra, Nelsinho. Que cara esquisito esse conhecido seu, comentou Miltão.
- esquisito é pouco, disse jadir.
- como é que você conheceu esse cara, perguntou Miltão.
- ihhh rapaz, esse cara é prá lá de estranho e ainda dou o azar de encontrar com ele por aí.
- como assim, perguntou Jadir e continuou. Conta esse negócio direito, ô anta.
- vou contar, disse Nelsinho
- pera aí, gritou Miltão e ao mesmo tempo segurou o braço de Olsen que passava ao lado, ordenando-lhe que limpasse a mesa no lugar onde o doutor estava sentado, já que além de estranho o doutor deixou uma sujeira considerável no local.
- limpa aquela porra alí, disse Miltão para Olsen que de imediato deixou o lugar habitável. 
- vai o anta, conta aí, disse miltão para Nelsinho.
- lembra do acidente de carro em que me envolvi há mais ou menos três meses , peguntou Nelsinho
- aquele em que você fez uma merda danada e ainda bateu em dois carros
- não fiz merda nenhuma, a culpa não foi minha, disse Nelsinho demonstrando irritação
- Porra Jadir, pára de perturbar o cara e deixa ele contar, entrou de sola Miltão.
- então, depois do acidente eu fui parar na delegacia com os demais envolvidos, Quando cheguei na delegacia , aquilo estava a maior zona, tinha gente prá caralho lá dentro e demorei um tempo para que o meu caso fosse atendido. Um policial pediu para que nós esperássemos , pois o dia estava movimentado. Fiquei sentado, num banco, aguardando o momento de ser chamado e, ao meu lado estava o tal Doutor também esperando para ser atendido. Ele começou a puxar conversa comigo querendo saber o motivo de eu estar alí. Notei que ele estava bastante deprimido naquele momento e também perguntei o quê fazia alí. Tão logo eu perguntei, o  cara ficou ainda mais deprimido, abaixou a cabeça, os lábios ficaram trêmulos e falou que tinha enfiado a porrada na mulher dele, a ponto da mulher ir parar no hospital. Notei que o cara tinha ficado pior e fiquei com pena dizendo prá ele que casos de traição acontecem, imaginando que ele tivesse sido traído pela mulher. Foi aí que ele, já quase que chorando disse que não tinha sido traição. Logo em seguida ele coclocou a mão no meu ombro, começou a chorar e disse que bateu na mulher porque ela o chamou de feio.
- ihhhhhhhhhhh, interrompeu Jadir. Seu feioso, ai, ai. Isso parece coisa de viado.
- colocou a mão no teu ombro ou fez carinho na nuca, perguntou Jadir
Nelsinho riu e continuou. Então! O cara desabou e começou a chorar. Achei aquilo estranho mas depois disso ele ficou quieto e eu não dei mais conversa, até que fui chamado pelo delegado , resolvi o caso, e não vi mais o cara.
Aí, uma semana depois disso, eu fui ao Fórum para audiência do meu divórcio. Aquele foi um dia terrivel prá mim, porque pela manhã, antes de ir ao Fórum, passei  numa loja prá fazer um crediário e comprar uns eletrodomésticos lá pra casa e , prá minha surpresa , não pude abrir o crediário pos meu nome estava na lista do SPC e do SERASA.  Depois da pesquisa , fui informado que devia-se ao fato de não ter efetuado o pagamento de um cartão de crédito. De fato, como tenho muitos cartões, acabei me enrolando na papelada lá em casa e esqueci de efetuar o pagamento de um deles. Aquilo me deixou chateado naquele dia.
- isso é uma anta, disse Jadir. Esquece de pagar as contas.
_ então! Quando cheguei lá no Fórum, fiquei esperano prá ser chamado  quando prá minha surpresa, aparece na minha frente esse doutor, todo de branco, perguntando se tinha resolvido tudo lá na delegacia. Olhei pro cara e reconheci a figura, que naquele momento aparentava estar bem e seguro. Ele notou que eu estava chateado e perguntou o que fazia ali. Falei da audiência mas disse que o motivo de minha chateação era outro. Foi quando ele me pegou pelo braço, me levou para um lugar onde ninguém ouvia a nossa conversa e falou que caso eu desejasse ele poderia retirar meu nome do SPC e do SERASA naquele momento, por apenas 25 reais. Achei aquilo estranho e perguntei como ele fazia isso. Ele explicou que lá no Fórum tem um esquema de um pessoal que entra nos sites do SPC e SERASA, retira o nome da pessoa da lista suja para que ela possa fazer o crediário, mas que depois de uma semana o nome volta prá lista, quando a pessoa já efetuou o crediário e já recebeu os produtos em casa.
- ihhhh rapaz, além de estranho o cara é trambiqueiro, disse Jadir.
Você ainda não ouviu nada , disse Nelsinho e continuou. Falei com ele que não era necessário, pois o meu caso foi de esquecimento e que iria efetuar o pagamento naquele dia, logo apos a audiência. Depois disso fiquei sabendo que ele era médico, pois ele explicou que estava alí cuidando de um caso onde ele atuou como perito médico em um caso de assassinato. Ele contou que o juiz do caso estava ganhando propina para aliviar o assassino , mas que não estava distriubuindo para mais ninguém e, que por isso, ele elaborou um laudo só com termos médicos  que até médicos tem dificuldade de entender. Contou isso rindo.Disse ainda que o juiz quando recebeu o laudo saiu correndo atrás dele prá ele escrever um laudo sem aqueles termos e, foi aí que ele negociou com o Juiz a propina que ele iria receber. Depois disso me desliguei do cara e fui para audiência. Pro meu azar, quando saía do Fórum, encontro novamente com o cara na saía. Ele estava com um bafo de cana terrível, me segurou pelo braço e perguntou para onde eu estava indo. Pro meu azar ele ia pro mesmo lugar e ainda me oferceu carona no carro dele, Quando chegamos no estacionamento, levei um susto com o carro do cara. Uma BMW, último tipo do ano, isso para um médico funcionário público.
- o cara deve ser cheio de esquemas, disse Miltão já com o nariz vermelho.
Entrei no carro  e confesso que fiquei preocupado , pois o cara já estava bêbado. Quando colocamos os cintos de segurança , o cara puxou uma bolsa e disse que ia mostrar um negócio prá mim. Vocês nem podem imaginar o que aconteceu. O cara abriu a bolsa e puxou  pelos cabelos uma cabeça de homem, branco, de mais ou menos quarenta anos. Levei um susto filho da puta e cheguei mesmo a gritar ao ver uma cabeça, com os olhos arregalados e a boca aberta. Me deu vontade de vomitar até sair do carro , enquanto o cara ria. Peguntei o que ele ia fazer com aquilo e se ele não tinha medo de ser abordado pela polícia com uma cabeça numa bolsa. Ele disse que como médico sempre tem uma boa desculpa , caso os policias o abordem na rua. Se a desculpa médica não colar, ele disse que a propina rola. Explicou que estava levando   a cabeça para enviar pelo correio para a casa de um sujeito que estava perseguindo um amigo dele no trabalho , e que aquilo era tipo uma ameacinha para o cara que estava perseguindo o amigo dele.
- porra, Nelsinho. Esse cara é barra pesada, dise Miltão
-E tem muito mais, disse Nelsinho e continuou. Pedi prá guardar a cabeça enquanto ele explicava os motivos . Saimos dalí e fomos prá Copacabana, onde ambos tinham seus destinos. No percurso, o cara ainda me perguntou se eu tinha resolvido tudo certo no acidente em que me envolvi, pois caso meu carro tivesse sido muio avariado , e se eu tivesse seguro, ele tinha um esquema de desmanche prá carro. Disse que  como eu tinha dado entrada na delegacia o esquema não valia prá mim, Falou que em caso de acidente de carro, com perda quase que total do carro, o melhor é não registrar na delegacia, desmanchar o carro todo, e entrar no seguro como se o carro tivesse sido roubado, de preferência em um dia de jogo no Maracanã, onde estaria estacionado.
- porra ô anta, esse cara é bandido.
- bandido é pouco, o pior você vai ouvir agora, disse Nelsinho e continuou. Quando chegamos em Copacabana, o cara me agarrou e levou para uma bar. Como tinha tempo acabei aceitando. Começou a encher a cara pesado e me contou que na profissão dele, na justiça, ou mesmo no hospital público, ele faz o que bem entende. Ele disse que faz o diagnóstico que bem entender, caso esteja em jogo uma propina, Falou que as melhores propinas são de retiradas de rins, de pessoas saudáveis, ingênuas, de pouca instrução que usam o SUS. Se as pessoas não questionam, e a maioria é ingênua não questiona, ele dá o diagnóstico de um rim comprometido, diz que tem que operar e retira o rim para o negócio, enquanto a pessoa vai viver com apenas um rim, sem saber que foi parte de um esquema. Disse também que para aliviar o hospital, eles praticam eutanásia, por conta própria em muitos pacientes em estado terminal, isso para desocupar leitos , até mesmo em clínicas e hospitais particulares, dependendo do interesse envolvido. Contou, também, que estava fazendo hora alí, pois iria visitar uma paciente dele, de trinta anos, diagnosticada com um cancer que  dará a ela  mais três meses de vida. Disse que como a mulher é bonita e gostosa, iria aproveitar a fragilidade dela prá tentar dar uma trepada como ela naquele dia. E também falou que tem com hobby colecionar carrinhos de brinquedo. 
- porra! Isso não é só bandido , é um filho da puta, psicopata, uma cara perigoso. Com é que vocẽ põe uma porra dessa aqui na mesa, Nelsinho, perguntou Miltão 
- isso é uma anta, disse Jadir.
- eu não coloquei ninguém aqui.Vocês viram que le estava no bar e me reconheceu e foi sentando na mesa, disse Nelsinho.
- um bandidaço, que ainda por cima tem um mau hálito filho da puta. Olha que eu estva até um pouco distante dele aqui na mesa e mesmo assim senti um fedor do cacete quando ele falava, disse Jadir e continuou. Imagine a medicina. Isso é um perigo a gente sair por aí entregando a nossa saúde para que esses caras digam o que fazer.
- ppera ái, disse Miltão já não apenas com o nariz vermelho mas com todo o rosto vermelho. Esse cara não é a regra. Ele não representa a imensa maioria dos médicos, que são corretos e dedicados com os pacientes. Ele é bandido. E bandido tem em tudo que é lugar, até mesmo no Vaticano, onde Deus é citado todos os dias. Entretanto, com o crescimento dessa lógica de que tudo no mundo é mercadoria, concordo com o Jadir que a tendência é que figuras  e práticas como essa cresçam cada vez mais. Nessa lógica, seja na medicina, nas relações interpessoais, na segurança pública, ou seja, em todas as esferas da vida, o que vem ganhando espaço é a tirania e a barbárie. Isso é perigoso. Presta atenção sua anta, disse Miltão apontando o dedo para Nelsinho. Se essa porra sentar de novo aqui  na mesa eu vou expulsar esse cara daqui.
Depois das palavras de Miltão fez-se um silêncio na mesa. Todos demonstravam, ou tentavam demonstrar que estavam ocupados com alguma coisa, ora bebendo um gole da bebida da mesa, ora, verificando alguma coisa anos bolsos, ou mesmo olhando para os lados. O silêncio persistia, e junto com ele uma sensação de repulsa, até mesmo de nojo, por ter convivido , mesmo que por alguns instantes, com uma pessoa tão asquerosa. O hospital que existe em frente ao bar contribuia para um clima nada agradável, sempre que os olhos para ele se moviam. Olsen se aproximou  e informou sugerindo  que acabara de sair, fresquinha e quentinha, uma isca de fígado acebolada que estava talibã.
Os olhos de todos na mesa se cruzaram, certamente lembrando de rins e  
cabeças. Miltão agradeceu e rejeitou a sugestão.  Para piorar o silêncio, uma ambulância, em fente ao bar, pedia passagem com a sirene ligada. Já era demais. Foi o estopim para que me despedisse de todos , na primavera talibã.

É Hoje !!!


                             14.08.13.   É Hoje !!!!!