Vale a leitura do artigo publicado por VIOMUNDO.
As diversas teorias de conspiração, que circulam pela internete, afirmando que o governo dos EUA, e outros, colaboram para o tráfico e comércio de drogas se mostra verdadeira.Os programas de combate as drogas , na realidade, tem fins políticos e também incentivam comeŕcio das drogas.
Toda a grande mídia, a velha e decadente, dos EUA e do Brasil trazem diariamente "notícias" sobre o combate as drogas em diferentes cidades.
Sabendo que durante décadas os planos de combate ao narcotráfico não alcançaram os objetivos alardeados pelas autoridades, ao contrário aumentaram o consumo de drogas, a pergunta que se impõe, naturalmente, é sobre o papel da velha imprensa e da mídia nesse jogo sujo.
De que lado está a velha imprensa ao "noticiar" diariamente assuntos, na crônica policial de seus veículos, sobre as drogas ?
Estaria a velha imprensa fazendo propaganda subliminar e contribuindo para o crescimento do narcotráfico, já que é inadmissível que os veículos de imprensa apenas reproduzam o discurso de autoridades quando a realidade mostra o contrário ?
Neste caso , especificamente, estão as empresas de mídia do setor privado , uma vez que as empresas públicas não apresentam o mesmo destaque sobre o "combate as drogas" em seus jornais e em sua grade de programação.
No mundo dominado pelo crime organizado, as empresas de comunicação não ficam de fora. Assim sendo, na velha e decadente mídia privada tem-se o seguinte procedimento operacional:
- as notícias de combate as drogas visam incentivar o consumo e comércio das drogas;
- as declarações de autoridades aliadas políticamente são reproduzidas, na íntegra, sem nenhuma análise crítica;
-os assuntos que fogem ao evangelho do crime organizado são deliberadamente omitidos da população;
- a violência nas cidades são retratadas como algo a ser combatido , mas a mensagem oculta aponta para um comportamento cada vez mais violento nas relações interpessoais;
- as políticas públicas e programas governamentais que acenam com ações de civilidade são duramente criticados,
- a democracia e a liberdade de expressão são citadas com frequência pela velha imprensa como valores intocáveis, entretanto o evangelho do crime organizado contribui para a crescimento do facismo e do neo nazismo nas sociedades, onde a democacria e a liberdade são seletivas.
Uma boa leitura, caro leitor.
Espionagem nos EUA:
Agência antidrogas também é acusada nos EUA
Com medo de morrer, Michael Levine dispara: “CIA deu proteção aos grandes traficantes de drogas do mundo”
publicado em 5 de agosto de 2013 às 11:56
Arma mortal
por Heloisa Villela, de Nova York, especial para o Viomundo
A CIA deu proteção aos grandes traficantes de drogas do mundo.
A imprensa norte-americana, prostituída por acesso ao poder, promove a
guerra contra as drogas — que gasta bilhões de dólares sem resultados.
A solução para o problema do tráfico é dar poder às comunidades afetadas pelo comércio e consumo das drogas.
Estas são algumas conclusões de Michael Levine depois de 25 anos de
experiência como agente secreto da Agência de Combate às Drogas (DEA)
dos Estados Unidos. Norte-americano do Bronx, ele escreveu três livros
nos quais conta, em detalhes, todas as operações que poderiam destruir
grandes cartéis, mas que foram sabotadas pela CIA, a Central de
Inteligência.
Quando não aguentava mais a frustração, Michael Levine escreveu uma
longa carta sobre a participação da CIA no chamado “golpe da coca”, na
Bolívia, em 1980, que colocou o general Luis García Meza no poder.
Michael enviou a carta a dois jornalistas da revista
Newsweek. Um deles, Larry Rohter — que mais tarde se tornaria correspondente do
New York Times no Brasil e ficou famoso por publicar reportagem difamando o ex-presidente Lula, sugerindo que ele fosse um bêbado.
A carta, registrada, foi entregue. Ele guarda até hoje o recibo.
Michael passou duas semanas ao lado do telefone, esperando que os
jornalistas o procurassem em busca de mais informações. Nada. Na
terceira semana, finalmente, o telefone tocou. Era o Departamento de
Segurança Interna da DEA, avisando que ele estava sendo investigado.
Daí em diante, Michael se calou, completou os anos de trabalho que
faltavam cumprindo tarefas burocráticas e preparando os livros que
desnudam a hipocrisia da retórica moralista do governo norte-americano
em torno do combate às drogas.
Nos anos em que trabalhou como agente da DEA, Michael Levine gravou
conversas, registrou eventos e garante que não escreveu nada de memória.
“Não precisei inventar nenhum diálogo”. Nesta entrevista ao
Viomundo,
ele relembra alguns dos casos que acompanhou de perto. Elogia Mao
Tse-Tung e se diz entusiasmado com o nascimento de uma nova imprensa, na
internet.
Viomundo – Depois de 25 anos de trabalho na DEA, por que decidiu escrever livros sobre a organização e sobre o trabalho da CIA?
Levine — Quando alguém está jantando às suas custas, você tem que ao
menos tomar o café da manhã dele. Ou seja, quando alguém te fere, te
prejudica você tem de ferí-lo a qualquer custo. Eu tinha que revidar
contra a CIA e contra os burocratas dos EUA para os quais a guerra
contra as drogas era apenas uma ferramenta, um instrumento. Eu estava
basicamente furioso.
Viomundo — Eles atrapalharam sua vida pessoal um bocado, sem falar o que estavam causando ao país…
Levine — Eles mentem para o mundo. Agentes e policiais com os quais
trabalhei deram a vida acreditando no que esses burocratas e políticos
nos disseram — e era uma mentira. A guerra contra as drogas nunca foi
travada honestamente. Sempre foi um instrumento para outras coisas. Por
isso o Evo Morales usou uma cópia do “
The Big White Lie”, levantou o livro há coisa de um ano e disse: “É por isso que estou expulsando a DEA do meu país”.
Evo Morales com a tradução do livro de Michael Levine
Viomundo — O que aconteceu com você depois que publicou o livro? Sofreu retaliações?
Levine — Fui ameaçado. Eu escrevi dois livros, “
Deep Cover” e “
The Big White Lie”,
sobre casos de infiltração, quando você vai para outros países, assume
outra identidade e corre riscos reais. Pode acreditar, eu tinha medo o
tempo todo. Mas gravei tudo. Todos os diálogos que você vai encontrar
nos dois livros vêm de gravações. Não tive que inventar. Eu estava
equipado o tempo todo. O “
Deep Cover” foi publicado primeiro e se tornou um best-seller na lista do
New York Times. Eu fui a um importante programa de TV em NY, o
Donahue Show, e quando estava no bastidor, na chamada Sala Verde, esperando para ir ao ar, recebi um telefonema do quartel general da DEA.
Não sabia nem como eles tinham descoberto que eu ia aparecer no
programa porque tudo foi mantido em segredo até o último minuto. Mas
eles sabem… E um dos chefões me disse: “Enquanto estou conversando com
você Mike, dez advogados estão debruçados sobre o seu livro, analisando
página por página, para ver se podemos indiciar você por algum crime”.
Eu disse: se você está tentando me assustar, já conseguiu. Muito mais do
que imagina. Mas agora não vou voltar atrás. Foi então que ele disse as
palavras “lembre-se do sanduíche de pasta de amendoim com geleia”.
Ele estava falando do Sante Bario, um agente que trabalhou comigo.
Ele estava no México quando eu era o encarregado da Argentina, sediado
em Buenos Aires. De uma hora para outra, Sante Bario foi preso pelo
departamento de assuntos internos da DEA for tráfico de drogas com base
no depoimento de um informante. Ele ficou preso em uma pequena cadeia do
México, na fronteira dos EUA. Ele estava preso há duas ou três semanas
dizendo que tinha sido vítima de uma armadilha, que a acusação era uma
mentira, quando deram a ele um sanduíche de pasta de amendoim com
geleia. Ele comeu e caiu no chão com convulsões. Entrou em coma. O
primeiro exame de sangue indicou a presença de estricnina. Ele morreu um
mês depois.
A autópsia concluiu que ele morreu porque engasgou com o sanduíche. Isso é fato. Você encontra essa reportagem na revista
Time
com o título “O estranho caso de Sante Bario”. Sante Bario se tornou
uma ameaça para todos os agentes do DEA. Se você sair da linha pode
terminar com um sanduíche de pasta de amendoim com geleia. E ali estava
eu, logo após publicar o livro “
Deep Cover”, com um dos chefões do DEA me lembrando do sanduíche. Então a longa resposta à sua pergunta é: sim, eles me ameaçaram…
Viomundo — Ao mesmo tempo em que foi ameaçado, você teve apoio de pessoas com as quais trabalhou na DEA?
Levine — Algum apoio… Gradualmente, com o tempo, vários vieram me
dizer que eu tinha razão, que estava certo. Recebi e-mails deles, esse
tipo de coisa. Pouco depois de escrever “
Deep Cover”, meu filho era policial em NY e foi morto em uma troca de tiros na rua.
A direção da DEA em NY disse a todos os agentes que não fossem ao
enterro do meu filho. Para você ver como estavam furiosos comigo. Mas
alguns desobedeceram a ordem e foram ao enterro. Mas sempre tive apoio.
Mais tarde, botei isso no You Tube. O chefão do DEA olhou bem para a câmera do programa
60 Minutos,
o mesmo programa no qual eu apareci, e disse: “Não existe outra forma
de dizer isso. A CIA funciona como um bando de traficantes”.
Não tem prova melhor do que essa. Mas foram necessários vários anos
para ele vir a público dizer o que eu já havia dito nos meus dois
livros. Acho que você pode dizer que os cabeças da DEA eventualmente
concordaram com tudo que eu disse em meus dois livros.
Garcia Meza, “produto” da CIA na Bolívia
Viomundo — Você disse que a guerra contra as drogas era na
verdade uma ferramenta para outros objetivos nas mãos dos políticos. Que
objetivos?
Levine — Eu volto no tempo até a Guerra do Vietnã. Sou velho assim…
Fui para o Sudeste Asiático com outra identidade e consegui atingir,
ou seduzir, o maior traficante de heroína da região. Isso foi no começo
dos anos 70 e eles me convidaram para o Golden Triangle, área onde eles
tinham uma fábrica. Provavelmente a maior fábrica de produção de heroína
do mundo.
Antes da visita, o serviço de inteligência veio me dizer que eu não
ia. Anos depois eu fiquei sabendo o motivo. Essas pessoas no sudeste
asiático eram nossos aliados no Vietnã e a única maneira de dar apoio a
eles era vendendo heroína para o resto do mundo. A CIA tinha que
protegê-los para que pudessem ser nossos aliados no Vietnã. É uma
escolha política. O contribuinte americano não queria mais pagar por
aquela guerra.
Muitos anos depois, quando eu estava em Buenos Aires, me infiltrei na
organização do Roberto Suarez [na Bolívia] e cheguei a um ponto em que
poderia, literalmente, acabar com a organização. A máfia de Santa Cruz.
Eles eram responsáveis pela maior parte da cocaína do mundo. Novamente,
como escrevi no livro “
Big White Lie” e vou continuar a escrever sobre isso.
A CIA veio e ajudou Klaus Barbie [o nazista que recrutou mercenários
na Bolívia para ajudar a colocar no poder o general Luis Garcia Mesa,
quando a esquerda venceu as eleições com Siles Zuazo] e os direitistas a
derrubarem o governo da Bolívia que ajudou a DEA nessa operação. Então,
basicamente, a CIA traiu o povo da Bolívia e não a DEA, como o Evo
Morales disse. A CIA decidiu ajudar os traficantes de cocaína porque não
eram de esquerda, não eram comunistas. Eles não queriam o risco de ver a
Bolívia se tornar esquerdista.
Então, pegaram os traficantes e deram a eles o controle – foi o
infame golpe da coca, a primeira vez na história que traficantes de
droga tomaram conta de um país. E nessa época eles tinham um programa
chamado Operação Condor. Fiz muitos trabalhos no Brasil também nessa
época e a Operação Condor era um acordo entre os países do Cone Sul.
Minha investigação bateu bem nessa operação. Eles estavam matando as
pessoas que eu estava investigando por causa da alegação de que tinham
tendências esquerdistas. Era um jogo muito, muito sujo.
Aí você chega a uma operação que eu descrevi no “
Deep Cover”.
Eu fazia parte de uma equipe infiltrada na operação chamada Trisecta,
em três países. Eu fechei um negócio com uma organização chamada La
Corporacion, da Bolívia, que no fim dos anos 80 controlava toda a
cocaína. Arrumei o envio de 15 toneladas de cocaína através do México.
Fiz um negócio, gravado em vídeo, com o exército mexicano, para proteger
a droga e deixá-la entrar nos EUA.
Esse acordo está em vídeo, no You Tube, você pode ver. Foi
feito com a aprovação do presidente do México que ía ser empossado,
Carlos Salinas de Gortari. Gravado em vídeo! Imagine isso. Estamos
falando do envio de 15 toneladas de cocaína! Em uma casa luxuosa, de
frente para o Pacífico. Temos mapas espalhados sobre a mesa. Estou
conversando com o Coronel Jaime Carranza, neto do homem que escreveu a
Constituição mexicana, e ele aponta para o mapa, mostra o local onde
vamos pousar o avião com a primeira tonelada de cocaína e diz: é aqui
que estamos treinando os Contras para a CIA. Esse vídeo foi enviado,
naquela mesma noite, para o secretário da Justiça dos Estados Unidos, em
Washington e ele, imediatamente, revelou nossa identidade porque
telefonou para o ministro da Justiça do México para contar toda a nossa
operação. Botei tudo isso no livro.
Viomundo — O milagre é você ainda estar vivo para contar essa história…
Levine — Muitas vezes eu acordo e apenas toco na minha mulher, que
amo muito, e digo: Deus, que milagre ainda estar aqui! Quase tenho
vontade de chorar. Simplesmente contrariei todas as probabilidades
muitas vezes. Mas estou aqui, falando com você.
Viomundo — Você também escreveu sobre a conexão entre a CIA e a epidemia de crack nos EUA.
Levine — Mais uma vez… está tudo no You Tube. Eu era um agente
infiltrado e estava trabalhando com a Sonia Atala. Eu era bem jovem, e
me puseram com a mulher que o Pablo Escobar chamou de Rainha da Coroa de
Neve. A rainha da cocaína.
Mas me puseram com ela porque ela se tornou informante da DEA. E eu
tinha que me passar por amante dela. Estávamos viajando juntos e ela
começou a me contar sobre algo que havia Bolívia. Uma cocaína que se
podia fumar e que era violentamente viciante. Isso foi em 1983. Meu
primeiro pensamento foi: isso vai direto pros EUA. E com certeza, um ano
depois era o crack nos EUA.
Mas a história que não foi contada é que quem protegeu essa
organização, esse envio da droga, e impediu que essa organização fosse
desmantelada foi a CIA. Novamente. Esse era o papel deles. Não estavam
nem aí se era crack, heroína, cocaína, o que fosse. É o imposto Junky. O
congresso não vai pagar pela operação, então a CIA os ajuda a vender
drogas para os EUA e para o mundo. Dá apoio à operação. É uma escolha
muito simples. Eu fiquei furioso. Perdi um dos meus filhos. Ele foi
assassinado por um viciado em crack em uma troca de tiros quando ele
tentou impedir um assalto. E aqui temos uma agencia do governo
americano, financiada pelos impostos que eu estou pagando, e todo mundo
está pagando, e eles estão dando apoio a traficantes de drogas
responsáveis pela morte de milhares, se não de milhões de pessoas.
Viomundo – Como explica o que está acontecendo agora no
México com essa guerra contra as drogas que já matou mais de 50 mil
pessoas? Guerra que está se espalhando para toda a América Central?
Levine — Enquanto os norte-americanos continuarem comprando drogas,
enquanto houver um mercado gigantesco para as drogas, o dinheiro
continua chegando ao México e é esse dinheiro que provoca essa guerra. A
equação é muito simples. Eu escrevi um livro chamado “
Fight back”
que o Presidente Clinton recomendou que fosse lido por quem trabalha
com comunidades com problemas de drogas. Recomendou e deixou em cima da
mesa. Não fez nada.
Ele fala como comunidades e bairros podem se livrar das drogas sem
esperar pelo governo federal, pela polícia, sem usar balas e armas. É
questão de atacar o mercado. Esqueça isso de ir atrás dos traficantes.
Isso não funciona. Acho que foi o prefeito de Medellín, na Colômbia,
disse, há uns 20 anos, se você matar cada líder de cartel, existem
outros cem na fila esperando para pegar o lugar de cada um deles.
Ainda estamos gastando milhões para ir atrás da estrela individual do
momento. E hoje em dia eles têm esses nomes: Dr. Morte, Evil. A
imprensa tem essa competição para ver quem consegue revelar o pior barão
das drogas. É um jogo de tolos. Não é assim que se ganha o jogo. Você
pega uma comunidade que quer se livrar das drogas. Eles vão atrás dos
usuários da comunidade. Não precisa nem de prendê-los. Basta seguí-los
com câmeras. Colocar alguém na esquina com um alto-falante. Isso
funciona. São técnicas que funcionam. E o resultado é que os traficantes
perdem o mercado.
Viomundo — Então você acredita que é possível acabar com o problema da droga?
Levine — Sim! Leia o “
Fight back”. Funcionou para a
China, funcionou para o Japão em uma determinada época. A China usou um
método semelhante. Quando Mao Tse-Tung tomou o país, havia 70 milhões de
viciados em heroína e ópio. Em três anos não havia mais nenhum. As
pessoas dizem que ele executou todo mundo. Isso não é verdade. Houve 27
execuções nesse período. Se você comparar isso com os 60 mil mortos no
México…
O que realmente funciona é transferir responsabilidade para a
comunidade. A comunidade é que é responsável por seus viciados e cria
reabilitação e tratamento obrigatórios. É muito humano! Salva a vida dos
usuários e salva a comunidade. No livro “
Fight Back” eu detalho o que poderiam fazer se quisessem.
Escritórios da DEA no mundo
Viomundo – Você está trabalhando, escrevendo mais um livro?
Eu e minha mulher estamos trabalhando em um próximo livro. Já temos o
primeiro rascunho pronto. Mas quero escrever um livro sobre o Roberto
Suarez. Ele talvez tenha sido o maior e menos conhecido traficante de
drogas da história. Era da Bolívia.
Viomundo — Você também mencionou o papel da mídia. Contou o
que aconteceu quando mandou a carta para Rother e Strasser da Newsweek.
Esse Rother é o Larry Rother que depois se tornou correspondente do New
York Times no Brasil e chamou o presidente Lula de bêbado?
Levine — Esse mesmo. A única coisa que posso dizer com certeza é que
ele recebeu a carta porque mandei certificada. Recebi o recibo de volta.
A carta foi entrega na revista. Ele pode dizer que não leu. Mas
recebeu. Foi a história da Bolívia. Mandei a carta de Buenos Aires, onde
era attaché. Mandei em papel timbrado da embaixada. Me arrisquei um
bocado ao fazer isso. O resto é história…
Viomundo — Em sua opinião, o que acontece com a imprensa
norte-americana, eles só checam as informações com representantes do
governo? São obedientes?
Levine — Sabe, já participei de vários programas sobre isso. Eles
são, basicamente, putas. Se vendem por acesso. Se prostituem por acesso.
Querem acesso ao porta-voz da CIA e para conseguir isso não podem
escrever nada mais crítico sobre a CIA.
Caso contrário, o acesso é negado. Quer acesso ao DEA? Quer saber o
que estão fazendo? Quer escrever sua materinha incrementada sobre
tráfico de drogas? Melhor não escrever nada muito crítico. Eu escrevi um
artigo sobre a mídia. Ganhou todo tipo de prêmio. Meu artigo se chama “
Mainstream media, the drug war shills”. Ele faz parte do livro “
Into the Buzzsaw”,
de Kristina Borjesson. O livro foi muito elogiado pelas pessoas que
estudam a mídia. Acho que mostra muito bem como a mídia continua
vendendo uma guerra contra as drogas que mata milhões de pessoas, é
totalmente sem propósito e não resolve nada.
Viomundo — Como o Plano Colômbia que investiu milhões de dólares no país e no fim, a produção de cocaína dobrou…
Levine — O Plano Colômbia, a Operação Snow Cap… Meu Deus! O Plano Colômbia foi um desdobramento da Operação Snow Cap.
Ação contra as drogas com objetivos políticos
Viomundo — O que foi o Snow Cap?
Levine — Eram as operações paramilitares na Bolívia e no Peru.
Militares e agentes do DEA indo atrás dos traficantes na Bolívia e no
Peru. O Plano Colômbia foi apenas um desdobramento. Eu conheci
basicamente as pessoas mais graduadas do tráfico de cocaína do mundo nos
anos 80. Eles achavam que eu era um mafioso meio siciliano, meio
portorriquenho, e estavam me vendendo 50 toneladas de cocaína. Eu disse a
eles que tinha muito medo de ir para a Bolívia por causa da Operação
Snow Cap.
Com todas as tropas, com os militares ali, como vou fazer um negócio
desses na Bolívia com todos os militares norte-americanos lá? Meu
interlocutor riu! Riu e disse: eles não fazem nada. Andam pra cima e pra
baixo. Sabemos o que vão fazer antes deles fazerem. Te garanto que você
estará perfeitamente seguro Luis. Esse era meu nome. Ele me chamava de
Luis. Repeti essa conversa para os responsáveis pela operação Snow Cap
no QG da DEA e eles disseram o seguinte: “Nós sabemos que não funciona,
mas já vendemos ao longo do Potomac” [rio Potomac, nas margens do qual
fica o poder em Washington], o que significa dizer que a ideia já foi
vendida para o Congresso, então é o futuro da DEA que está na corda
bamba. Esquece a guerra contra as drogas. O Plano Colômbia é a mesma
coisa. É política.
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Viomundo — Eles vendem os planos, pegam o dinheiro e precisam fazer de conta que estão fazendo algo…
Levine — Exato. É sempre a mesma coisa. Tem que mostrar estatísticas
para provar que os bilhões que você está gastando estão sendo bem
gastos.
Viomundo — Você acredita que todos os presidentes que passaram pela Casa Branca nas últimas décadas sabem de tudo isso?
Levine — Eles sabem exatamente. Sabem que o que eu estou te dizendo é
fato. Eles também sabem que se virarem e disserem isso ao público
durante uma campanha presidencial serão derrubados da Casa Branca. Por
que? A grande mídia, os cachorrinhos da grande burocracia – CIA, DEA,
etc. – vai perseguir este político.
Viomundo — Como explica então que seus livros tenham sido tão
bem recebidos e que você tenha sido convidado para tantos programas de
televisão?
Levine — Porque na mídia existem grandes indivíduos que se destacam.
Mas a percentagem de jornalistas de verdade é cada vez menor, desde
Woodward e Bernstein [os jornalistas do
Washington Post
que revelaram o escândalo Watergate]. Não se pode comparar a mídia de
hoje com a daquela época. Mas você pode dizer que o motivo pelo qual
ainda estou fazendo isso tudo é porque continuo procurando pelos
Woodwards e Bersteins.
Viomundo — Você consegue conversar melhor com os jornalistas que migraram para a internet?
Levine — A internet está crescendo rapidamente e faz com que eu me
sinta realmente muito bem porque está se tornando um grande desafio para
essa “mídia de tribunal” que se proclama jornalismo. Basicamente, são
estenógrafos. É maravilhoso, para mim, ver esse crescimento da internet.
Viomundo — Você acha que o seu trabalho, seus livros e artigos, tiveram algum impacto, produziram alguma mudança?
Levine — Acho que talvez faça alguma diferença. Provavelmente depois
que eu tiver morrido. Eu não sei. A gente nunca sabe. E por isso é que
continua fazendo. Alguém como eu… eu cresci tendo que lutar por tudo que
conquistei. Sou inclinado a isso, a brigar, não importa a consequência.
E morrer brigando. É o que pretendo fazer.
Viomundo — Então nos conte um pouco dessa infância…
Levine — Cresci no South Bronx (em Nova York), em um bairro péssimo.
Meu irmão se viciou em heroína aos 15 anos. Nosso pai nos abandonou
quando nós éramos muito, muito pequenos. Praticamente, cresci nas ruas
do Bronx. Me alistei no exército para acertar a minha vida. E realmente
funcionou. Me tornei lutador de boxe, peso pesado, fiz artes marciais, o
que foi outra influência importante, que ajudou a manter o equilíbrio
na minha vida.
Aos 19 anos, no exército, eu me meti em uma briga com outro militar
por causa de um chapéu de 3 dólares. Ele explodiu, sacou a arma,
encostou na minha barriga e puxou o gatilho. A arma falhou. Talvez tenha
sido a melhor coisa que já me aconteceu porque aprendi a sabedoria de
um antigo ditado árabe que diz que qualquer momento é o momento certo
para morrer.
Levei isso comigo para sempre. Agora, não perco mais tempo. Vivo cada
momento até o limite, curto e saboreio. Logo depois disso decidi
usufruir de tudo que a vida poderia me oferecer antes que eu morresse o
que poderia acontecer a qualquer momento. E não havia melhor maneira
para um menino pobre do Bronx viver toda essa adrenalina e excitação do
que como um agente secreto infiltrado. Foi o que me propus a fazer e
fiz. De resto....
Fonte: VIOMUNDO