sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Carne de Cavalo e a Renúncia do Papa. Tudo a ver

Carne de cavalo é encontrada em escolas e hospitais do Reino Unido

Fonte: Folha de SP
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Atualizado às 11h39.
Testes encontraram carne de cavalo em refeições escolares, comida de hospital e pratos de restaurantes no Reino Unido, acentuando o escândalo sobre produtos adulterados para além de produtos de supermercados.
Os resultados chegaram nesta sexta-feira, depois que autoridades de segurança sanitária obrigaram supermercados e fornecedores a testar refeições identificadas como contendo carne bovina para buscar traços de carne de cavalo.
Autoridades informaram que a carne estava presente em tortas entregues a 47 escolas no condado de Lancashire, no norte da Inglaterra.
Vários hospitais da Irlanda do Norte também receberam hambúrgueres bovinos que continham carne de cavalo, informou hoje o diretor da Organização de Serviços Comerciais (BSO, na sigla em inglês) do país, David Bingham.
O responsável pela instituição, que distribui a carne aos hospitais da Irlanda do Norte, confirmou hoje que os hambúrgueres provinham de uma empresa radicada na vizinha do sul.
"Atuamos imediatamente, assim que soubemos que poderia haver um problema de confiança retiramos o produto", assegurou Bingham.
Ao receber a notícia, a ministra da Agricultura do país, Michelle O'Neill, convocou uma reunião de emergência à qual deve comparecer o titular da pasta de Justiça e Interior, David Ford.
Fontes oficiais dão conta de que o encontro servirá para que a Agência de Padrões Alimentícios do Reino Unido (FSA, na sigla em inglês) informe sobre o estado das últimas investigações das autoridades sobre a questão.
Além disso, a Whitbread PLC, uma das maiores empresas de hotelaria e restaurantes do Reino Unido, informou que carne de cavalo foi encontrada em lasanhas e hambúrgueres servidos nos hotéis Premier Inn hotels e na rede de restaurantes Brewers Fayre.
PRISÕES
A polícia britânica deteve três pessoas nesta quinta-feira (14) na Inglaterra e no País de Gales por envolvimento com o escândalo da carne de cavalo encontrada em produtos etiquetados como bovinos.
Os três homens, com idades entre 42 e 63 anos, foram detidos em duas plantas de processamento industrial de carne nas localidades de Aberystwth, em Gales, e Todmoreden, no condado de West Yorkshire, ao norte da Inglaterra.
Os detidos, sob suspeita de ter cometido uma fraude, permanecem à espera de serem interrogados tanto pela polícia como pela FSA, que inspecionou ambas fábricas na terça-feira passada.
"Podemos confirmar que três pessoas suspeitas de ter violado a lei contra a fraude foram detidas", afirmou um porta-voz da polícia do condado galês de Powys, destacando que as detenções ocorreram no marco de uma "operação simultânea" com a polícia de West Yorkshire.
A FSA havia suspendido a atividade em ambas plantas depois da inspeção de terça-feira perante a suspeita que se estava utilizando carne equina para elaborar hambúrgueres etiquetados como bovinos.
O caso eclodiu após a descoberta, na semana passada, de lasanhas da marca Findus vendidas no Reino Unido contendo carne de cavalo em um produto que indicava carne bovina. O temor de que essa prática seja comum se espalhou pela Europa.

 Cavalo esperto

A partir da década de 1990 os órgãos governamentais de fiscalização, em diferentes países, vem ficando cada vez mais frágeis, ineficientes e sucateados.
Muitos , talvez a maioria, não tenham um número mínimo de funcionários para o desempenho de suas funções.
A fraude da carne de cavalo foi descoberta, mesmo assim, com organismos debilitados.
Imagine então, caro leitor, o que pode estar acontecendo com produtos de origem animal processados industrialmente.
Talvez essa descoberta seja apenas a ponta de um iceberg, onde barbaridades devem estar acontecendo sempre em nome do lucro fácil, da ganância e , principalmente, da necessidade de muitos consumidores em adquirir produtos alimentícios com preços baixos.
Com a crise civilizatória atual despejando milhares de pessoas no desemprego e até mesmo vivendo em barracas de camping e nas praças públicas, esses consumidores pouco questionam sobre a qualidade de um produto.
Vale o prêço e o peso tranquilizador proporcionado ao estômago.
Até mesmo produtos com data de validade vencida são consumidos.
Restaurantes, na linha do ganho fácil, fazem acordos com redes de supermercados para adquirir produtos industrializados com data de validade vencida . 
Bom para o restaurante que compra produtos bem baratos.
Bom para o supermercado que se livra , com lucro, de produtos vencidos.
Péssimo para o consumidor, que não sabe se aquele arroz, ou aquela massa, ou aquele cereal que faz parte de sua refeição estão no prazo de validade para consumo.
No prato do consumidor, no restaurante, os alimentos chegam decorados e convidativos.
Como não falam, e apenas a aparência é visível, não se ouvem relinches.
A cavalgada alimentícia pode ter proporções planetárias,muito além das fronteiras do velho e decadente mundo.
As terceirizações e práticas globalizadas de produção se espalham por onde for mais convidativo e lucrativo, de preferência em locais de pouca fiscalização e facilidade para explorar o trabalho escravo.
A proteção de muitos pés pelo mundo é assegurada com escravidão e sangue.
Não é diferente no segmento de produtos de origem animal processados industrialmente.
No futuro, comunidades de bairros e mesmo de pequenas cidades, criarão regras para avaliar e certificar os produtores e produtos adquiridos pelos  consumidores  dessas cidades.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Ô muié globofaia chegou....

Altamiro Borges: audiência da TV Globo está definhando



A jornalista Keila Jimenez, da coluna “Outro Canal” da Folha, publicou hoje mais uma notícia que confirma a queda de audiência da TV Globo. A emissora perdeu 20% do seu público matinal em dois anos.

Por Altamiro Borges*, em seu blog



O artigo deveria ser analisado com cuidado pela Secretaria de Comunicação (Secom) da presidenta Dilma, que continua garantindo milionários anúncios publicitários oficiais para a famiglia Marinho com base na chamada “mídia técnica”. A audiência definha, mas o governo ajuda a manter o faturamento das Organizações Globo.


Segundo Keila Jimenez, “em 2010, a média de audiência anual da TV Globo das 7h ao meio-dia foi de 8,2 pontos no Ibope. Cada ponto equivale a 62 mil domicílios na Grande SP. Em 2011, esse número caiu para 7,6 pontos. Em 2012, veio o tão esperado ‘Encontro com Fátima Bernardes’. Mas a grande aposta da emissora não estancou a queda de ibope pela manhã. A atração registrou menos audiência que os desenhos que a antecediam na faixa, e a Globo encerrou o ano com média de 6,6 pontos”.

Ainda segundo a jornalista, diante da persistente queda da audiência, a direção da Rede Globo pretende fazer novas mudanças na sua programação matinal – já que as implantadas em 2012 “não surtiram o efeito desejado. Pelo contrário, fizeram a rede perder público no horário”. Um em cada cinco telespectadores abandonou a programação matinal do canal. A nova reforma, porém, também pode dar zebra. Há uma acelerada queda de audiência da TV aberta no país, decorrente da sua péssima qualidade, do crescimento da tevê por assinatura e da chamada revolução da internet.

Outras emissoras também sentem os efeitos desta nova realidade, mas de forma menos dolorosa. Em 2010, por exemplo, a TV Record registrou uma média de 5,6 pontos no Ibope na faixa da manhã; em 2012, ela baixou para 5,4; já o SBT caiu de 4,5 para 4,3% pontos de média. Os telespectadores, principalmente os mais jovens, estão fugindo das telinhas. Segundo recente estudo do Ibope, o número de televisores ligados aos domingos na Grande São Paulo despencou de 46,3%, em 2002, para 41,5%, no ano passado.

No caso da TV Globo, a situação é ainda mais dramática. Ela perdeu quase metade da sua audiência aos domingos. “Em 2002, a média diária (das 7h à meia-noite) dos domingos na Globo foi de 20,3 pontos. Em 2011, esse índice caiu para 14,6 pontos. Em 2012, foi para 12,9 pontos”, relata Keila Jimenez em outra reportagem. Para o desespero da famiglia Marinho, a rival TV Record até que se saiu melhor. Em 2002, ela marcou 4,3 pontos aos domingos; subiu para 8,9 em 2009; e ficou em 7,3 pontos no ano passado.

*Altamiro Borges é jornalista, secretário nacional de Questão da Mídia do PCdoB e presidente do Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé.


É uma queda sem fim, lenta, dolorosa.

O conceito de entretenimento mudou e a informação está disponível  na internete.

A tv globo continua no passado
.
Sua grade é ultrapassada e seu jornalismo produz  ficções sobre a realidade.

Neste carnaval produziu mais uma de suas pérolas.

Defensora incondicional das escolas de samba- circo-espetáculo- ilusionismo, foi obrigada a seguir o público da passarela do samba Darcy Ribeiro que escolheu como melhor escola a Mangueira.

E o que fez a Mangueira no desfile ?
Desfilou com uma bateria com 500 ritmistas ( o normal são 250 ) e não seguiu a "tendência" dos espetáculos de ilusionismo e ginástica que invadem as escolas de samba.
Também não utilizou o modernoso conceito de lâmpadas lead nas alegorias e fantasias, que produzem baianas multicoloridas, iluminadas, que piscam o tempo todo como as decorações do período natalino, por exemplo.
A proposta da mangueira foi simples e direta:
Meu negócio é samba.
Com essa proposta, onde os integrantes da escola cantavam, sambavam ao som da bateria a Mangueira foi uma escola de samba, de fato, sem exibições de ginástica, ilusionismos e outras coisas que  não fazem parte do universo do samba, motivo das escolas.
O público foi ao delírio, enquanto a tv globo defende o movimento contrário.

A audiência continua caindo
.
É uma queda sem fim, lenta , dolorosa
.
Para o bem da cultura popular é necessário e urgente que a tv globo seja afastada das transmissões de desfiles de escolas de samba e,  nas transmissões de futebol, que no mínimo se tenha uma outra emissora transmitindo.

A queda continua, apesar de encontros bregas pelas manhãs
.
É uma queda sem fim, lenta, dolorosa
.
Talvez o que possa melhor definir o desespero da emissora da famiglia Marinho em sua queda, seja a campanha de ataques que vem promovendo contra blogueiros da internete.

Em sua queda sem fim. lenta e dolorosa, sutilmente já sugere o assassinato de blogueiros.

É o desespero.

Ps. o próximo encontro da tv globo será com malafaia.

Perigosa cagada de cavalo





Escândalo da carne de cavalo expõe falhas da segurança alimentar na Europa

O escândalo da contaminação por carne de cavalo nasceu no Reino Unido, mas já se disseminou por vários países da União Europeia. Além da retirada de toneladas de produtos das prateleiras, está exposta uma complexa cadeia de terceirização de comida processada que se estende do Reino Unido até a Romênia. A reportagem é de Marcelo Justo, de Londres


Em novembro passado, a Autoridade de Segurança Alimentar da Irlanda coletou uma amostra de 27 bifes de hambúrguer dos supermercados mais importantes do país. Em janeiro, os exames mostraram que dez continham traços de DNA equino e 23 de porco. Hoje o escândalo se disseminou por vários países da União Europeia, provocando massivas retiradas de produtos das prateleiras e expondo uma complexa cadeia de terceirização de comida processada que se estende do Reino Unido até a Romênia.

“A partir da recessão em 2008 houve uma tentativa de baratear custos ante um público que busca produtos cada vez mais econômicos. Isso fez crescer ainda mais uma cadeia de produção já muito globalizada que torna muito mais difícil o controle de qualidade”, disse ao Financial Times Louise Manning, especialista em produção de alimentos do Royal Agricultural College de Londres.

As autoridades irlandesas descobriram que os hambúrguer com DNA equino foram produzidos em três fábricas, duas na Irlanda e uma no Reino Unido. No caso das duas empresas irlandesas a carne importada vinha da Polônia. No da lasanha vendida pela gigante sueca Findus, a carne vinha de uma empresa do noroeste da França, Comigel, que participa na cadeia de produção de comida processada para 16 países. Comigel é, por sua vez, a porta de entrada para um dos tantos labirintos da produção globalizada.

O fornecedor da Comigel era a Spanguero, uma companhia francesa subsidiária de outra, Poujol, com sede no sudoeste do país. A Poujol adquiriu a carne congelada de um intermediário cipriota que, por sua vez, havia subcontratado o fornecimento com outro intermediário na Holanda. Os provedores deste são dois matadouros da Romênia, aparentemente o último elo da cadeia.

A repercussão foi tão internacional quanto este complexo de produção. As grandes cadeias de supermercados britânicos, irlandeses e franceses retiraram de suas prateleiras os produtos em questão, a empresa sueca Findus questionou a francesa Comigel, o chanceler da França, Laurent Fabius, apontou seus canhões para a Romênia, o presidente romeno, Traian Basescu, disse que o escândalo afeta a nação em seu conjunto e a máxima autoridade de Segurança Alimentar da Romênia, Constantin Savu, tentou lavar as mãos dizendo que os dois frigoríficos estavam autorizados pela própria União Europeia, mas que ninguém podia garantir o que ocorria com a carne depois que ela era exportada.

O problema não é tanto sanitário – a carne de cavalo é considerada uma iguaria em algumas culturas -, mas sim um fantasma de toda sociedade industrial: determinar que o produto seja o que diz a etiqueta e não qualquer outra coisa. O controle de qualidade necessário para este tipo de certificação, fundamental no caso dos alimentos por causa de seu impacto na saúde, ficou gravemente abalado em países como o Reino Unido por causa dos cortes orçamentários do governo.

Segundo o prestigiado Instituto de Estudos Fiscais do Reino Unido, o orçamento britânico para saúde ambiental foi reduzido em 32% enquanto que os sindicatos afirmam que dos 800 funcionários que tinha a Agência de Controle Alimentar durante a crise da chamada “vacam louca” nos 90, restou apenas a metade. “A adulteração de alimentos é um fato que sempre ocorreu. Com a atual situação, podemos antecipar que as autoridades ficarão muito ocupadas durante bastante tempo”, disse Louise Manning ao Financial Times. Cabe acrescentar que, a menos que se reverta a situação da contratação de pessoal, a reduzida equipe de inspetores que restou deverá trabalhar dia e noite.




Alimentação Sinistra

Nessa complexa cadeia de produção e terceirização de alimentos processados todo cuidado quanto a qualidade dos produtos ainda é pouco.

Com órgãos de fiscalização cada vez mais fragilizados, e a ganância dos fabricantes cada vez mais forte, qualquer coisa pode parar na mesa do cidadão, principalmente em se tratando de alimentos industrializados, como hambúrguers e embutidos de uma maneira geral
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Os hambúrguers e embutidos  ( salsichas, presuntos , mortadelas e similares) permitem que fabricantes inescrupulosos alterem  a qualidade do produto, adicionando outras carnes  na composição.
Em testes de qualidade de algumas marcas de salsichões já foram encontrados  no produto  asas de insetos, pedaços de papel e fragmentos de madeiras

Esses testes visavam apenas identifcar elementos que não fossem  carne animal, sem entrar no mérito se a carne era mesmo aquela indicada na etiqueta do produto.

No mundo neoliberal da ganância e do lucro , não seria de se admirar se encontrássemos, por exemplo, carne de pombo, ou de rolinha  em embutidos de frango. Ou quem sabe carne de rato ou de gato em embutidos de carne bovina.

Informações atualizadas indicam que recentemente sumiram 70 mil cavalos na Irlanda.
.
Se não bastassem essas aberrações testes de controle de qualidade já detectaram resíduos de pó de vidro em papel higiênico.

Além de ingerir uma carne esquisita, o cidadão ao defecar ainda corre o risco de desenvolver hemorróidas.   

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Semba de lá que eu sambo de cá

O carnaval “espetacular”

Meu coração socialista tem muitas saudades do futuro, mas os signos de metamorfose do carnaval ‘espetacular’ de Bruzundanga não podem ser ignorados

08/02/2013

Luiz Ricardo Leitão

Quem ainda se lembra do samba-enredo campeão do desfile de 2012 no Rio de Janeiro? Alguns foliões da Tijuca talvez o cantem na sua quadra – e mais ninguém logrará tal proeza. Contudo, a letra e a melodia de Bum bum paticumbum prugurundum seguem vivas em nossa memória musical, assim como outras joias do Império – basta lembrar a antológica Aquarela Brasileira, do genial Silas de Oliveira, que encantou a passarela em 1964.
Dos mais recentes, eu próprio só recordo a bela homenagem de Martinho da Vila a Noel Rosa, no centenário do Poeta, em 2010. Os leitores devem supor que este cronista padece de uma crise aguda de nostalgia, porém estão enganados. Meu coração socialista tem muitas saudades do futuro, mas os signos de metamorfose do carnaval ‘espetacular’ de Bruzundanga não podem ser ignorados.
Como já escrevi aqui nesta coluna, a conversão do desfile em um evento televisivo só fez realçar o peso dos elementos visuais na Sapucaí – e, de fato, a última escola a vencer impulsionada pelo samba foi o Salgueiro, em 1993 (!), com o seu Ita do Norte, cujo esfuziante refrão (Explode, coração, na maior felicidade...) até hoje agita as ruas do país.
A lógica irracional do mercado ditou, em grande parte, essa agonia do gênero. Por imposição das gravadoras, acelerou-se em muito a harmonia dos sambas, para que todos coubessem em um só disco. Com isso, a velha cadência de Mano Décio, Silas, Zé Katimba, Martinho & Cia. cedeu vez a uma batida frenética, de melodias padronizadas, em que raros refrões logram seduzir o público.
E quem se habituou a cantar os belos e alegres sambas da Ilha nos anos 70/80 (Domingo, O amanhã, O que será?, Bom, bonito e barato) só pode lamentar o que se ouve hoje, ‘colchas de retalho’ compostas por ‘firmas’ que concorrem em várias quadras – e de que logo se esquecerá em meio a tamanha pasteurização.E
A suposta “nostalgia”, pelo visto, não se restringe a este escriba. O sambista Zeca Pagodinho, de forma ainda mais clara e contundente, acaba de declarar, em entrevista, que não vai ao sambódromo em 2013: “Não tem Carnaval! Roubaram tudo. Acabaram com tudo o que é da cultura. Não sei que doideira deu nesse mundo aí.”
Mas a festa vai rolar em Xerém, no sítio de um amigo, com banda de música, decoração e as crianças todas enfeitadas, cantando Mamãe, eu quero, Índio quer apito e outros sucessos dos antigos carnavais. Assim como Zeca, o povo continua a fazer da festa sua forma de contestação. Cresce o número de foliões fantasiados, expressando seus sonhos, suas revoltas e, sobretudo, sua enorme criatividade.
Conforme escrevi em 2012, o carnaval volta a cumprir seu papel dentro de uma sociedade excludente e perversa, liberando as energias reprimidas pelo capital e desnudando a farsa do poder em Bruzundanga. É óbvio, também, que o “mercado” não subestima essa energia colossal e tenta cooptá-la por diversas vias – que o diga a Basf, empresa aliada do latifúndio, com os milhões investidos no desfile da Vila Isabel.
Certos tiros, porém, podem sair pela culatra – e a iniciativa da Campanha contra os Agrotóxicos de entregar uma carta à Vila foi mais que oportuna: “o agronegócio, que não “partilha, nem protege e muito menos abençoa a terra”, quer se apropriar da imagem dos camponeses e da agricultura familiar”.
Em realidade, o episódio só reitera o dilema das escolas em Bruzundanga: com as verbas do Estado e dos bicheiros, não logram mais fazer um carnaval espetacular. Por isso, a São Clemente exaltará as novelas da TV Globo, a Mocidade cantará o Rock in Rio (!) e a Beija-Flor, o Manga-larga Marchador... Quem dá mais, caro leitor? Só mesmo o sarcástico Noel para cantar a moral dessa história: “Quanto é que vai ganhar o leiloeiro / Que é também brasileiro / E em três lotes vendeu o Brasil inteiro?”

Luiz Ricardo Leitão é escritor e professor adjunto da UERJ. Doutor em Estudos Literários pela Universidade de La Habana, é autor de Noel Rosa – Poeta da Vila, Cronista do Brasil e de Lima Barreto – o rebelde imprescindível.

A gente vai se ver na globo. A gente quem, cara pálida ?


 E o carnaval chegou. 
Impossível não falar sobre os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro.
Penso que o desfile ganhou uma dimensão  tão grande que deveria ser algo  que não estivesse ligado diretamente ao carnaval. Poderia , inclusive, acontecer em outra época do ano.
O carnaval e os desfiles das escolas de samba são eventos distintos. São poucos, bem poucos os foliões que brincam o carnaval com as escolas de samba. Nesse aspecto a maioria apenas assiste o espetáculo proporcionado pelas escolas. E assiste pela tv.
Conversando com um antigo folião, do tempo que se brincava o carnaval nas Sociedades, disse que iria assistir ao desfile na Passarela do Samba Darcy Ribeiro.
- assistir não tem graça, bom é brincar,  respondeu  de bate pronto e continuou. O carnaval não foi feito para se assistir. Ou se brinca ou se vai fazer outra coisa.
A visão de um carnaval onde a festa era garantida por qualquer um em qualquer lugar vem mudando com o tempo apesar do resgate dos carnavais de rua em cidades como o Rio de janeiro. Desde que os foliões se submetam as normas e regras estabelecidas pela prefeitura da cidade brinca-se o carnaval em blocos de rua. A brincadeira  precisa de ordem. Hummmm...
O ponto alto do carnaval, sem dúvida, é o desfile das escolas de samba e aí concordo com o autor do texto que uma mesmice repetitiva acontece.
No tocante aos sambas de enredo, ninguém conseguer se lembrar dos sambas do ano anterior, salvo alguma exceção na qualidade. Isso se deve, em grande parte, pelas regras estabelecidas para a competição, que engessam a elaboração dos sambas deixando pouca margem para a poesia e a criatividade. Escolas como a Unidos da Tijuca, usam grande parte da melodia de um samba vitorioso para os sambas dos anos seguintes. A Beija-Flor também caminha nesse sentido. Os sambas desse ano, por exemplo, ficam parecidos, melodicamente , com os sambas de anos anteriores, não só nessas escolas , mas em muitas. 
No carnaval deste ano destaque para os sambas da Vila Isabel e da Portela, sem dúvida de qualidade muito acima dos demais, sendo que o samba da Vila Isabel é poético na letra e na melodia, apesar do ritmo sempre aacelerado.
Um outro aspecto que não pode ser ignorado é a influência de tv globo na escolha dos enredos das escolas. Este ano teremos enredos, como disse o autor sobre Fama ( Salgueiro), Rock in Rio ( Mocidade), Novelas ( São Clemente ) onde certamente os produtos a  artistas da tv globo serão lembrados e apresentados por essas escolas.
Cabe ainda ressaltar que a escola Grande Rio  é porto seguro dos artistas para desfilar na Passarela. A maioria dos artistas é da tv globo. Isso já vem acontecendo há alguns anos e , "curiosamente" a escola Grande Rio sempre desfila, todos os anos, mesmo com sorteio para indicar a ordem dos desfiles,  em um horário por volta de meia noite. Alguns críticos  afirmam que esse horário , com garantia de celebridades para os telespectadores, é fundamental para manter a audiência da emissora, pelo menos até a entrada da madrugada.
Outro detalhe , também analisado pela crítica, é a distribuição de celebridades ligadas a  tv globo, por todas as escolas que desfilam.
A tv globo, com a invasão de seus artistas nas escolas e influência na esolha dos enredos, transformou o desfile das escolas de samba em mais um  programa de sua grade.

Desde a vitória da Vila Isabel, em 2006, quando cantou a latinidade e a integração dos povos da América, que somente enredos caretas e comportados vencem o carnaval do Rio. Ate mesmo a crítica política e social, que sempre foram comuns nos enredos das escolas está  sumindo, que o diga a Unidos de São Clemente, que se caracetrizou por enredos de forte crítica e humor, esse ano embarca nas novelas.


Já escrevi em outra ocasião que a exclusividade para uma emissora de tv transmitir os desfiles de escolas de samba é algo nocivo para as escolas e a cultura do samba, principalmente se esta exclusividade é  da tv globo.
Infelizmente o universo das escolas de samba é habitado por patronos , com grande poder de decisão nas escolas, mas  que não tem muita margem de manobra para peitar e fazer exigências que possam alterar não só a exclusividade mas também a qualidade das transmissões dos desfiles pela tv.
Exclusividade com a tv globo em um espetáculo da cultura popular do povo do Rio de janeiro significa um potencial perigo para a própria cultura em questão, sabedores que somos todos nós dos interesses e papéis assumidios pelas organizações globo na vida política e cultural do país ao longo de anos.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Mijados com Garfo e Faca

Unidade do McDonald's vai servir sanduíches com pratos e talheres

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DE SÃO PAULO
Uma unidade do McDonald's no subúrbio de Sidney, na Austrália, vai servir os sanduíches em pratos de louça e com talheres de metal.
Segundo o site Huffington Post, o serviço de mesa será testado por uma semana.
Divulgação
O Bic Mac pode ser servido com talheres na Austrália
O Bic Mac pode ser servido em pratos de louça na Austrália
Clientes que pedirem sanduíches como o Grand Angus e o Big Mac entre 17h e 20hs terão a opção do serviço "mais formal".
Questionados sobre a decisão, os responsáveis pela franquia, Glenn e Katia Dwarte, explicaram que, ao servir familiares com talheres e pratos, acabaram recebendo pedidos semelhantes de outros clientes.
A ideia foi apresentada para a direção geral da rede na Austrália, que autorizou o teste.
Além desta inovação, a franquia também oferece um aplicativo para celular que permite o pedido e compra do lanche antes mesmo de o cliente chegar à loja.
Segundo Katia Dwarte, funcionários do McDonald's de todo o mundo vão até a loja para ver como o aplicativo funciona.

 Selvagens em evolução

Um sanduíche  gigantesco  para se comer sem talheres me parece algo selvagem, animal.
Haja boca.
Não é de hoje que os fast foods  vendem alimentos  que a crítica sugere que deveriam ser consumidos por monstros, andróides ou outras coisas não humanas.
Aliás o mac donald's é considerado o símbolo do capítalsimo. 
Tudo a ver.
A proposta do mac donald's sempre foi de consumir rápido o "alimento" para não perder tempo de ganhar a vida.
Que vida sinistra.
Muitas pessoas adeptas desse tipo de "alimentação" chegam ao ponto de comer os sanduíches de pé.
E para essas pessoas issso é o substituto de um almoço, por exemplo.
A doce vida italiana e o respeito aos ritmos da vida dos povos ibéricos, certamente ficam horrorizados
com essa forma violenta de viver as refeições diárias e ingerir os alimentos.
Para esses povos a alimentação, um almoço por exemplo,  começa bem antes do ato de ingerir o alimento e termina algumas horas depois de  esfregar o guardanapo  na boca e sair correndo pelas ruas.
Durante a ingestão , um ritual acontece.
Na cultura do american way of life o alimento é empurrado goela abaixo, sem nehuma identidade com o ato.
"homem primata, capitalismo selvagem"
A proposta de servir os gigantescos sanduíches em pratos de louça com talheres, imagino que em uma mesa com cadeiras , faz do sanduíche algo menos selvagem, assim como a prática de ingerí-lo.
Espero que os sanduíches não estejam mijados, ou seja , com aquele desagradável odor de hidróxido de amônio.
Seria também civilizado se a rede mac donald's tivesse sanduíches vegetarianos.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A imbecilização e Idiotização do Brasil


20
Em que tipo de arte você acredita? Ou: a imbecilização da arte
Por Cynara Menezes, no Socialista Morena
O provocativo artigo de Mino Carta na CartaCapital da semana, A Imbecilização do Brasil, me instigou a escrever um contraponto às palavras dele. Discordo de Mino e sei que, ao escrever o texto, sua principal intenção era justamente levantar o debate. Não, não acho que o Brasil tenha se imbecilizado. A questão, para mim, diz respeito ao que se considera arte. Só Portinari é arte? Existe arte “menor” e arte “maior”? Em que tipo de arte você acredita?
Não vejo “deserto cultural” algum no País. Nos últimos anos, uma nova cultura está surgindo, mas é preciso ter olhos para vê-la. É forte a cultura que vem da periferia e cada vez mais será. Não temos mais Portinaris? Temos grafite. O Brasil é hoje referência mundial em arte de rua. Temos grandes artistas como Os Gêmeos, Nina Pandolfo, Nunca. Estava matutando sobre estas coisas e acabei descobrindo outro fera, o baiano Toz, que acaba de pintar, ao lado de oito grafiteiros, um painel gigante na lateral de um prédio da zona portuária do Rio.
Ao olhar o incrível trabalho de Toz, me dei conta de que a “arte” de que muitos sentem saudade é na verdade uma arte que fica trancada nos museus, que tem de ir à Europa para conhecer. A arte dos grafiteiros está na rua, ao alcance dos olhos de quem passa, não precisa pagar ingresso para ver. Portinari, Di Cavalcanti, Volpi –é indiscutível sua qualidade artística. Mas ver de perto um quadro deles não é para todo mundo. O grafite é –e para mim tampouco é discutível seu valor. Detalhe: o grafite no muro, ao contrário do quadro pendurado no museu, faz qualquer um sentir que pode ser artista. Isso é inclusão.

detalhe do painel de Toz. Foto: Sergio Moraes/Reuters)
Guimarães Rosa, Gilberto Freyre… Entendo a provocação de Mino Carta, mas vários dos nomes que ele cita em seu artigo vieram da elite brasileira. E não é culpa do Brasil se a elite não cria mais. Se, em vez de ir para a Europa se ilustrar e voltar escrevendo ou pintando obras fantásticas, os filhos da elite agora preferem ir a Miami comprar bugigangas, não é culpa do povo. Quem se imbecilizou não foi o Brasil, foi a elite. Já escrevi aqui, em tom de galhofa, sobre os submergentes: a elite brasileira submergiu, emburreceu, se vulgarizou. Por que a imprensa, como diz Mino, está ruim? Porque a imprensa é o retrato dessa elite decadente e inculta.
Mas, prestem atenção: o que tem surgido de manifestação cultural vinda do povo é muito mais do que interessante. Representa o futuro, não o passado que ficou para trás. O mundo mudou, a arte também. “Ah, mas o povo gosta de axé, de sertanejo”. E acaso o axé e o sertanejo vieram do povo? Ou vieram do mainstream, da elite que controla a música, para pegar o dinheirinho do povo? Ivete Sangalo, que cobra 650 mil reais para tocar sua música ruim até em inauguração de hospital, não veio do povo. Luan Santana não veio do povo. Eles se impuseram ao povo por meio de mega-esquemas de divulgação. É completamente diferente.
O rap que vem da periferia de São Paulo vem do povo. “Ah, mas o rap não é brasileiro”. E o que é brasileiro? A bossa nova? Mas ela não veio do jazz norte-americano e ganhou elementos nossos? A mistura está em nosso sangue e em nossa tradição cultural: bossa com jazz, rap com samba, funk com maracatu. Isso é Brasil. Vejo, sim, grandes talentos do rap surgindo, fazendo ótima música e falando a linguagem do entorno onde vivem. Os rappers são os cronistas dos rincões mais longínquos e esquecidos do Brasil urbano. Assim como, gostando-se ou não dele, o funk carioca nasce no subúrbio, em estúdios de fundo de quintal. É original e vibrante. Não é “arte”? Voltamos ao começo: o que é arte, afinal?
Numa coisa Mino tem razão, a TV brasileira oferece muita coisa ruim. É verdade. Mas eu não sou tão pessimista. A Globo, principal emissora do país, de vez em quando brinda seus telespectadores com coisas bacanas, até mesmo em novelas, seu mais popular produto –Brasil é um exemplo recente. Ironia: as outras emissoras comerciais, que pretendem tirar a “supremacia” da Globo, não têm nenhuma exceção, só oferecem lixo. Mas vejam só, temos TV a cabo, com várias opções (eu gosto muito do Canal Brasil), e ainda tem a TV pública. Ninguém é obrigado a assistir porcaria, é só usar o controle remoto.
Hoje mesmo li o Zeca Pagodinho se queixando de que não toca samba no rádio. Pois eu ouço samba direto no rádio, sabem por quê? Porque só ouço rádio pública, todas com programação de alto nível e variada. Zeca, como tanta gente que reclama do que toca no rádio, devia simplesmente boicotar as emissoras comerciais.
Não vejo imbecilização alguma do Brasil. Temos uma significativa parcela de pessoas recém-incluídas que já estão produzindo cultura e, incentivadas, produzirão cada vez mais. É uma notícia excelente: não são mais só os 5% de brasileiros que tinham acesso à cultura que podem fazer música, pintura, literatura, cinema. Ainda não deu tempo de uma nova geração de intelectuais, oriunda das classes mais baixas da população, como é possível hoje, se formar. No futuro, tenho certeza, virão daí os novos Gilbertos Freyres, os novos Sergios Buarques de Holanda, escrevendo sobre o País, suas mazelas e seus desafios.
Com a diferença de que, para eles, não será só uma paixão intelectual. Sentiram na pele o que estão falando. Escreverão com as vísceras. E é essa, para mim, a melhor definição de arte, sempre: aquela que vem das vísceras


A  Dor da Ignorância



Que vivemos em um processo de imbecilização e idiotização da população da brasileira, isso me parece muito claro.

Vou mais além e afirmo que o processo não é exclusivo dos meios de produções artística e infornativa de nosso país, e que tem abrangência em muitos países do ocidente.
 
Isso significa dizer que a população brasileira é imbecil e não existe arte de qualidade sendo produzida ?

Não.

Existe muita coisa boa sendo produzida pelo país, entretanto a produção apenas não anda sozinha.

São necessários meios para divulgação daquilo que é produzido.

Uma praça pública é um meio de divulgação artística.

A internete também é um meio de divulgação.

No meu entender a questão está toda na filtragem e controle daquilo que deve ser divulgado e vendido  como arte.

Partindo dessa premissa é impossível não concordar com Mino Carta.

As forças que detem o poder de definir, escolher e divulgar o que é arte  despejam idotices de péssima qualidade para a população, principalmente pelas emissoras de tv ( abertas ou fechadas) e de rádio.

Os movimentos de periferia que produzem hip-hop, funk, grafite, poesia, samba e outras expressões artísticas são de extremo valor e produzem excelentes conteúdos, entretanto quando são divulgados pelas tv's comerciais normalmente aparecem em horários não muito nobres e ainda são formatados para que em futuro próximo sejam domesticados embalados e vendidos de acordo com as necessidades das forças de divulgação e comercialização artística.

Isso é fato.

Regina Casé, na tv globo, faz esse papel.

Para essa indústria vale o conceito de animação, no sentido de festa, alegria. A arte que alegra, anima, sai do chão.

E mais, que seja de assimilação imediata, descartável e que não provoque nenhuma análise crítica.

Isso é imbecilização, idiotização.

Afirmar que mesmo a tv aberta produz coisa boa, citando como exemplo a novela da tv globo Avenida Brasil, não me parece relevante e nem exclui a imbecilização em curso.

De fato a novela citada foi muito bem aceita pela crítica e pela população.

Cabe lembrar que a tv globo produz uma grande quantidade de novelas e de vez em quando, uma acerta. 

Não é mérito.

Dizer ainda que a arte boa é aquela que vem das víceras não serve como regra.

A dor não é essencial para a arte.

O preço que o artista paga é muito alto, quase sempre com a vida. VanGogh, Cássia Eller, Janis Joplin, Raul Seixas, Ellis Regina. Paul Gaugain são alguns exemplos.

O melhor é aquela arte que apresenta um equilíbrio entre as vísceras e as sinapses.

Catarse emocional nem sempre é arte, pode ser terapia. 

Nise da Silveira sabia disso.


Pode até ser aceito como um modismo artistico em determinados períodos da vida de uma sociedade., mas dái a chamar de arte há um abismo.

A dor não é essencial para a produção artística. Um engajamento é essencial.

Dizer ainda que caso um telespectador não gostar do que assiste que use então o controle remoto, é admitir uma diversidade e independência  de produções artísticas e informativas que não existe no universo midático brasileiro, controlado por poucas famílias e uniformizado na produção e divulgação de conteúdos.

É também repetir o argumento dos proprietários dos meios de comunicação quando questionados sobre a democratização dos meios de comunicação.

Também penso que a arte não pode ser elitista, somente para iniciados. como também não pode ser popularóide, para imbecis

Popular sem ser popularóide. Culta sem ser elitista.






terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A Tragédia da Imprensa

 

Mortos e feridos ainda terão muito a contar

Por Alberto Dines em 05/02/2013 na edição 732
Boate, do francês boîte, é caixa, ambiente fechado, casa noturna. Nas antigas boates, o escuro era aconchegante, quem se divertia eram os adultos, geralmente endinheirados. Similares modernos, muito escuros, negros, chamam-se discotecas, danceterias, frequentadas exclusivamente por jovens, com dinheiro contado. Para rentabilizar o investimento as boates precisam estar superlotadas. É a essência do negócio dessas caixas pretas.
Para Paulo Prado, em Retrato do Brasil, somos um povo triste. Tiranos, tiranetes e seus comissários nos querem alegres, saltitantes, festeiros – o culto ao prazer é uma forma de domesticação.
Resultado: não sabemos lidar com o luto. A última vez em que nos metemos numa guerra foi há cerca de setenta anos (1942), portanto há duas gerações. Estamos a salvo de terremotos, tsunamis e as catástrofes climáticas, além de recentes, ceifam majoritariamente os pobres e carentes. Por eles não se põe a bandeira a meio-mastro.
Os brasileiros acordaram na manhã de domingo (27/1) com os relatos dantescos do que acontecera durante a madrugada na boite Kiss, Rua dos Andradas, centro de Santa Maria, Rio Grande do Sul. Neste caso a comparação de desempenhos é secundária, prematuro teorizar sobre a cobertura da morte quando ela ainda está à espreita. Algumas percepções podem ser registradas à margem, nada que já não tenha sido apontado em outras circunstâncias (ver abaixo).
Importa que nos últimos dez dias, na temporada mais festeira e hedonista do ano, alternamos as três centenas de tragédias singulares, personalizadas, com uma tragédia plural, brutal, massiva, autêntica chacina – dolosa ou culposa – surda , anônima, intensa, institucional.
Não sabemos nos enlutar, o verbo é estranho, a sensação mais ainda. Condoer-se é inconfortável. O que sobrou da dor é justamente o seu antídoto – revolta e indignação.
Atenção, material inflamável.
Fatalidades só ocorrem em lugares ou situações onde não se imagina que possam ocorrer. Esta distração tem nome e castigo. Com os olhos ainda marejados e as almas machucadas, o estado de espírito que começou a aflorar depois de iniciado o inquérito policial tem ingredientes que soam familiares. Imprudência, negligência, incúria, irresponsabilidade, são palavras-delitos já incorporadas ao nosso cotidiano. Com elas vêm as imagens de propina, chantagem, corporativismo e corrupção.
O horror à imoralidade, e consequentemente à impunidade, não é uma abstração filosófica, é um dado concreto, apartidário ou suprapartidário, porque o brasileiro vem sendo agredido em grande parte dos seus direitos – como cidadão, consumidor, cliente, paciente e, sobretudo, como eleitor.
Em algum momento a dor converte-se em raiva e a solidariedade em reação. O que era difuso e confuso, por associação de ideias converte-se em cobrança, exigência, protesto.
Junto à imagem dos jovens heróis que salvaram tantas vidas começa a armar-se a necessidade de um zorro, o xerife, o vingador que levará os suspeitos à barra dos tribunais e depois ao cárcere.
Mesmo sepultados, os mortos de Santa Maria têm ainda muito a dizer.
Desempenhos
Os portais noticiosos na internet mostraram-se absolutamente inúteis e ineficazes, não serviram para notícias quentes nem para análises ou opiniões veementes. Distantes e insuficientes. Como se a catástrofe tivesse acontecido na Islândia ou no Mali.
Não confundir jornalismo pela internet – nota zero – com comunicação digital (nela compreendidas as redes sociais) – nota cem. Apesar das colossais deficiências da nossa telefonia digital, serviu para avisar, contatar, pedir e prestar socorro.
As emissoras de rádio, primeiras a despertar, desapareceram tão logo entraram em ação os canais noticiosos de TV com o seu formidável potencial informativo. Caso da GloboNews. A TV aberta, cada vez mais fatiada pelo entretenimento, esfriou. Já houve um tempo em que para saber o que acontecia na rua era indispensável ir para casa e sintonizar as redes de TV. Substituídos pelos canais fechados, all news.
Na esfera dos impressos: os três jornalões, partiram-se em dois grupos: os paulistas (Folha e Estado), forçando uma aparência nacional, despejaram o noticiário de Santa Maria nos cadernos ditos locais. Funcionou nos primeiros momentos da tragédia, mas à medida que as grandes cidades – sobretudo São Paulo, onde são editados e circulam – começaram a tomar drásticas medidas de fiscalização, o sofrimento pelo outro foi sendo varrido e substituído por um egocentrismo local.
O Globo fez bem em recusar a cadernização burocrática, absurda, e absorveu todo o noticiário no primeiro caderno. O jornal trepidou de emoção e indignação de ponta a ponta.
A segmentação é um cacoete que já deveria ter sido desativado. Inclusive em emissoras de rádio – em certos horários os(as) âncoras parecem viver em outro mundo.
As semanais Veja e Época anteciparam a chegada às bancas, perceberam que ainda há muito espaço para o jornalismo de qualidade.
Na avalanche de pensatas, uma entrevista do psicanalista Tales Ab’Sáber à repórter Mônica Manir (Estadão, domingo, 3/2, caderno “Aliás”, pp 4-5) terá que ser desenvolvida no momento apropriado. Com o título “A balada do nada”, Ab’Sáber constata: “Jovens festejam na noite o fato de não terem o que festejar”.


A cobertura da imprensa tradicional foi pífia, vulgar e com apelos sentimentalóides e sensacionalistas.

Uma lástima.

O que se viu nas emissoras de tv foi uma disputa  pelo melhor circo dos horrores.

Uma tragédia.

Enquanto familiares das vítimas, inconsoláveis com a dor, perambulavam pelos locais da cidade trágica, repórteres das emissoras de tv, em tentativas medíocres de furos impossíveis, os abordavam perguntando o que sentiam naquele momento.

Uma dor terrível.

A disputa por ancorar o telespectador  produziu repetições infinitas de cenas que sequer deveriam  aparecer ao menos por uma vez.

Uma ganância.

A tragédia da cidade gaúcha produziu um farto material para análise, investigação e discussão , que ainda não foi abordado e acredito que passará  pelas cercas dos conteúdos desejáveis. Envolvidos na tragédia está um setor . de casas noturnas e festas, obscuro, que sabidamente abriga contraventores e outros crminosos que se utilizam do negócio como fachada para lavagem de dinheiro e outra finalidades.

Uma sujeira.

Ainda coloca em cena a questão da corrupção dos órgãos de fiscalização, que viabilizam licenças em troca de generosos doces bem decorados. Inevitável não pensar no Sr. Aref, funcioário médio da prefeitura de SP que acumulou um patrimônio de quase 40 milhões de reais através de seu trabalho de licenciamento de obras .

Uma empreitada.

Os jovens, em todas as épocas, sempre tem motivos para festejar alguma coisa, até mesmo pelo fato de serem jovens, o que todos nós já fomos um dia, mas que alguns não percebem. Dizer que os jovens apenas estavam alí , sem saber o que festejar, é estar fora de seu tempo, ou pior, de sua história.

Um anacronismo .

A imprensa, digital, radiofônica, tv"s, impressos, pouco aprofundaram em um tema repleto de insumos e práticas que correm livremente pelos subterrâneos das cidades, ou navegam em águas perigosas.

Um bateau mouche.

As redes sociais, como tem ocorrido em situações semelhantes, cumpriram seu papel e , em alguns casos produziram os perseguidos furos de reportagem que a jurrásica imprensa tradicional  não mais pode fazer.
Os jornais digitais, tradicionais, abordaram a tragédia tangenciando as implicações para o acidente. Nada mais. As tv"s, seguindo a linha imbecilizante da tv brasileira , mais uma vez apelaram para o circo dos horrores.A imprensa escrita e investigativa ( ainda existe ?) tem um farto material para pesquisa e produção. Fez muito pouco.

Um cardápio de abobrinhas.
 
Ao afirmar que os portais da internte não produziram sequer opiniões contundentes, imagino que o nobre observador também esteja falando do seu observatório que atua na rede mundial de computadores, desde 1996.

Um vanguardista.