sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Dona Lindalva e a Novela do Mensalão


 Dona Lindalva e a Novela do Mensalão





Devemos respeitar as decisões dos tribunais ? Sim. Mas isso não significa que devemos concordar ou ficar calados com tais decisões. Quando não concordamos, devemos botar a boca no trombone. O caso da ação penal 470, que o globo de hoje se refere aos condenados como mensaleiros, tem gerado um grande debate. Nunca dantes na História desse país vi a suprema corte tão empenhada em um julgamento, por outro lado, que também pode ser o mesmo, nunca vi a imprensa disponibilizar tanto assunto sobre um julgamento. Considerando que a condenação dos réus envolveu uma tese, com poucas provas concretas, cuidadosamente construída pelo STF com apoio da mídia, coloco dúvidas quanto a lisura deste processo. Isso não é afronta, Sr. ministro, trata-se de domínio dos fatos como eles se apresentam para o povo. Também me questiono e coloco a questão se os demais julgamentos envolvendo políticos e empresários do país terão a mesma visibilidade nos grandes meios de comunicação e o mesmo empenho do STF. Até mesmo para os inocentes do Leblon, fica claro que um forte viés político comanda o julgamento. Dona Lindalva, dedicada dona de casa que mora em Copacabana e que também assiste diariamente todas as novelas da tv globo, com execeção de malhação pois , segundo a anciã, tem muita saliência e indecência com meninos e meninas adolescentes, também torceu o nariz com a enxurrada de notícias sobre o julgamento da ação penal 470.
- tem coisa estranha aí, meu velho, disse a anciã para Jovelino, o marido. Nunca vi tanto barulho e tanta notícia por causa de corrupção. Tem bandido de gravata que não acaba mais, e a gente sabe deles e nunca vi nenhum ser preso.
- é coisa política, mulé, disse Jovelino segurando seu cachimbo. O que está em jogo não é acabar com os crimes de corrupção. O que a globo quer é atacar o governo e os amigos do nosso Lula
- ihhhhh ! se mexer com Lula vai ter que mexer comigo também, disse Lindalva.
O povo, que de uma forma ou de outra, acompanha as notícias sobre o julgamento, sabe que se trata de uma armação política assim como sabe que os grandes corruptos e ladrões estão livres e raramente são indiciados em ações e quando isso acontece a grande imprensa trata de protegê-los, pois todos são cúmplices e responsáveis pelo verdadeiro custo Brasil, ou como dizia nosso saudoso Brizola , das perdas internacionais. Pedir o passaporte dos condenados no julgamento da ação penal 470, pode ser entendido como um factóide político, ou uma intelecção emocional, no caso por uma raiva racionalizada togada, ou ambos , com o objetivo de atingir o adversário político em questão. Um populismo jurídico, depois de tanta visibilidade, também pode ser considerado como mais um ingridiente da receita política. Teremos algemas ?

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

E Agora, Obama ?

E Agora, Obama ?




E agora, Obama ?
Você ganhou mais quatro anos que podem significar , para você, prêmio ou castigo. A escolha é sua
E agora, Obama ?
Vais continuar fazendo mais do mesmo? Você, ao final desses quatro anos, poderá ser lembrado como,  alguém da importância, estatura, respeito e admiração de pessoas como Ghandi, Bolívar ou Mandela, ou poderá ser lembrado como apenas mais um marionete que ocupou a principal cadeira do mobiliário da Casa Branca. A escolha é sua.
E agora, Obama ?
Como vais explicar e resolver o desemprego que assola os EUA. Desemprego que é bem maior do que aquele apresentado pelos índices oficiais, pois pessoas que trabalham oito horas por semana, em serviços temporários, sem nenhum direito trabalhista, são considerados como empregados ?
E agora, Obama ?
Como vais explicar o sonho americano que leva a cada dia mais e mais pessoas para viverem em traillers, barracas de lona ou mesmo nas ruas da América livre, democrática e repleta de oportunidades ?
E agora , Obama ?
Como vais explicar que a América livre, democrática e repleta de oportunidades valoriza e incentiva o darwinismo social, uma disputa que valoriza a força e  que classifica as pessoas em vencedores e perdedores ? Vale lembrar, meu caro Obama, que a evolução das espécies apresentada por Darwin não considera que as espécies que sobrevivem são as mais fortes, e sim as mais aptas. E aptidão, subentende-se, além de alguma força, principalmente criatividade e inteligência., dois aspectos  que habitam hemisférios diferentes de nossos cérebros e que , quando em harmonia viabilizam a produção do que temos de melhor. O darwinismo social é incompatível com a própria compreensão da ciência e da natureza e, a pobreza e a miséria  não podem ser resumidas como resultados de uma disputa irracional, mas sim como derivadas de ausências de políticas públicas que criem condiçoes e oportunidades de desenvolvimento para todos o humanos. Vale ainda lembrar que nos EUA , em muitos estados, Darwin é rejeitado no aspecto referente a origem da raça humana, seja por convicções religiosas ou mesmo por oportunismo. Uma significativa parte da cultura americana ignora o fato do homem ter evoluído de primatas, porém aceita e incentiva o darwinismo social, que é um comportamento menos evoluído que o comportamento daqueles primatas que teriam sido a origem a raça humana. Curioso, não Obama ?
E agora, Obama ?
Qual será o próximo inimigo que os EUA vão inventar para poder invadir, seja por motivos estratégicos de geografia, ou simplesmente para saquear recursos naturais como vocês fizeram no Iraque. Aliás, como vão os negócios da Hallibourton no Iraque ? De vento em popa ? Vale lembrar que suas mentiras tem amplo respaldo dos meios de comunicação de longo alcance populacional em todo o mundo, que as reproduzem sem nenhuma análise critica. Devido a isso, uma grande parcela da população americana ainda acredita que existam armas de destruição em massa no Iraque. A desinformação sistemática, o terrorismo informativo, levam a população a sofrer de dissonância cognitiva, acreditando em realidades inexistentes. O seguro de saúde dos americanos cobre esse tipo de patologia, meu caro Obama ?
E agora, Obama ?
Certamente o próximo "inimigo" dos EUA será um país fraco militarmente e um palco de operações adequado para o lançamento de novos armamentos e materiais bélicos, tudo isso, claro, com um grande espetáculo de pirotecnia com cidades explodindo pelos ares. Cuidado, meu caro Obama, pois mesmos os teoricamnete mais fracos podem impor para vocês derrotas vexatórias e humilhantes como a que ocorreu no Vietnnan.
E agora, Obama ?
Como a maioria da população dos EUA acredita em uma realidade que não existe, uma pequena parcela da população desse país, por ser lúcida, não tem voz nos grandes meios de comunicação, restando-lhes mídias de alcance limitado e , principalmente, os espaços públicos, agora tomados pelo privado, para que possam fazer suas manifestações e chamar a atenção das pessoas. Estranhamente, na América livre e democrática, as manifestações tem sido reprimidas com extrema violência. Opinião passou a ser crime nos EUA, meu caro Obama ?
E agora, Obama ?
Como vais explicar que os EUA tem, proporcionalmente, a maior população carcerária do planeta ? Não acredito que o povo americano tenha o crime gravado em sua proteína mais famosa , logo para explicar tamanha população atrás das grades a privatização dos presídios talvez seja o melhor caminho. Presídio é um bom negócio, meu caro Obama ? Tavez por isso uma multidão de pobres, afrodescendentes, latinos, asiáticos, indígenas e outros sejam os principais inqulinos das penitenciárias. Qualquer pequeno delito tem uma correspondente pena rigorosa.  Já os ladrões e patifes de wall street que produziram crimes que escandalizaram o mundo, estão livres e ainda receberam ajuda do seu governo. Será por que são "vencedores" ?
E agora, Obama ?
Como vais explicar a promessa não cumprida, para o primeiro mandato, de fechar a prisão de Guantánamo ? Vocês inclusive já divulgaram que a maioria dos presos de lá e inocente e mesmo assim ainda sofrem torturas diárias. Que vergonha, meu caro Obama
E agora, Obama ?
Vais continuar posando em lanchonetes fast food para incentivar um tipo de alimentação que vem causando doenças em todo o mundo ? Logo você que optou pelo estilo vegam , saudável  e de saúde ? Ou será que o incentivo a alimentação de de refrigerantres e sanduíches tem uma correspondência com o aumento dos lucros dos laboratórios farmaceuticos e a indústria médica ?
E agora, Obama ?
O povo está nas ruas protestanto, em todo o mundo contra um modelo econômico e de produção e também contra medidas que trucidam as conquistas de outras épocas.  A pobreza, a miséria, o desemprego crescem em todo o mundo , por outro lado as massas monetárias são gigantescas .Se não bastasse essa vertente do darwinismo social, o planeta passa por alterações climáticas, em grande parte produzidas pela atividade humana, que podem alterar significativamente a vida na Terra. Caso isso aconteça, e os problemas socias que já existem, além do crescimento de epidemias , das guerras que vocês fabricam, do incentivo a violência proporcionado pela indústria do entretenimento, fico autorizado a pensar que teremos uma diminuição drástica da população mundial. Também me inclino a pensar que essa seja a verdadeira agenda em curso, tendo em vista a negligência e a banalização como esses temas são tratados mundialmente por governos .Com isso teríamos um planeta com 2, 5 bilhões de pessoas, coincidentemente o número de pessoas que em 2025 terão acesso a água doce.  Será essa a verdadeira agenda para então, com a limpeza social edificar uma nova humanidade majoritariamente cristã e  uma nova economia e meios de produção sustentáveis para que os escolhidos possam usufruir da Terra prometida ?
E agora, Obama ?
Vais continuar com essa farsa de guerra ao terror que na prática trata-se apenas  da velha prática de colonização com um nova roupagem e que ainda acaba espalhando o terror e aviolência pelo mundo ?
E agora , Obama ?
No pais do estado mínimo o estado americano , com a indústria da guerra, vai continuar sendo o prpincipal motor da economia ?
E agora, Obama ?
No estágio em que a humanidade se encontra, no tocante ao conhecimento científico disponível, não é hora, ou já teria passado a hora, de repensar o Saber ?
E agora, Obama ?

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A Imprensa Que Impede o Processo Civilizatório


A Imprensa que Impede o Processo Civilizatório




Existem caminhos em que não se pode voltar. A democratização dos meios de comunicação é um deles. A história da imprensa na América Latina, em sua maioria, sempre esteve ao lado, no colo, a reboque, em defesa dos interesses dos endinheirados dos países do continente. Essa imprensa , sempre se posicionou, claramente, no campo ideológico da direita, sendo que alguns veículos de mídia, e não são poucos, apoiavam, e ainda apoiam, ideias daquilo que se convencionou chamar de extrema direita. Isso é fato, histórico, e corresponde a realidade atual. A democracia  nos países do continente sofreu um duro golpe, um assassinato, nos anos das décadas de 1960 e 1970.  A utopia libertária e democrática daqueles anos foi interrompida em vários países. Foram os golpes militares, as quarteladas de generais empolgados com a possibilidade de terem , também, cartões de crédito do mundo capitalista, mesmo que para isso derrubassem , com a força, governos democráticos e legítimos. Claro que tudo isso foi patrocinado pelos EUA e sua patética agência de inteligência.  A maioria das mídias da América Latina apoiou os golpes de estado. Isso também é fato. Com os governos dos militares dos óculos escuros, talvez não tivessem colírio,
o assustador fantasma do comunismo não teria espaço na América Latina. " Dias gloriosos e democracia teremos pela frente" escreveu Roberto Marinho no editorial do O Globo de 01/04/64 logo após o golpe. O estrago dos golpes de estado se fizeram sentir até os dias atuais, causando um grande retrocesso. Com o esgotamento dos regimes militares na região com suas baixas popularidades, se fazia necessário uma transição para democracia, que por sua vez deveria estar sempre controlada para evitar "excessos" de liberdade democrática para o povo. Assim começavam a surgir , já na década de 1980, os primeiros presidentes eleitos pelo voto direto na região. Quase todos alinhados com o ideário capitalista e responsáveis por reintorduzir nos países da região a democracia segura. Com estes presidentes, e com essa "nova democracia", estavam os meios de comunicação e a imprensa, alardeando a democracia e a "liberdade". Não havia mais espaço para golpes de estado com generais e armas de guerra. A democracia e civilidade não mais permitiriam violências explícitas. Por baixo das panos a violência continuava a mesma, assim como o assalto a democracia. Reintroduzida a "festa da democracia", o voto livre e direto , o período de transição terminou e chegou a "salvação ideológica" também conhecida como neoliberalismo. Ao lado desse pensamento, que hoje sabemos que é delirante, estava a imprensa da região , apoiando todos aqueles que defendiam um modelo onde o povo ficava a margem de qualquer desenvovimento. Uma intensa propaganda foi colocada em prática no início e durante a década dos anos de 1990. ficando as esquerdas da região com pouco espaço  e voz. Era o Consenso de Washington, um acordo de submissão ao regime neoliberal. Ou, a democracia segura, sem riscos, para os poucos de sempre. Passados os anos da década de 1990, o neoliberalismo, que já fazia muita água, começou a afundar na região, com países quebrados , aumento da miséria , pobreza e desemprego galopante. Para desespero daqueles que criaram  a estratégia de conter a democracia, incluindo aí a imprensa, surgiam os primeros governos de esquerda, já no final da  década de 1990, mais precisamente com Hugo Chavez na Venezuela.  A reação foi imediata. Como nos velhos tempos, de dias gloriosas  como escreveu Roberto Marinho, uma tentativa de golpe ao estilo anos 60  aconteceu na Venezuela. A novidade foi a ampla e escancarada participação da imprensa daquele país,e também do continente, para consolidar o  golpe que, felizmente para a verdadeira democracia, fracassou. A partir da década de 2000, a maioria dos países da região passou a ser governada por governos de esquerda, o que desagradou a imprensa sulamericana, pois a "democracia ideal" estava saindo do controle. Sem generais e armas de fogo, novos atores entrariam em cena para uma nova modalidade de golpe de estado. Com as urnas falando para  esquerda, os generais no quartel, surgem, , na década de 2000 e 2010, a imprensa e o judiciário, como poderes de validação dos novos velhos golpes. Atentos ao perigoso movimento em curso na região, os governos verdadeiramente democráticos identificaram o problema e constataram que a legislação sobre os meios de comunicação nos países da região era uma das mais atrasadas do mundo democrático e favorecia a concentração de pequenos grupos que controlovam a informação na maioria dos países. Esse controle, vem tentando derrubar , ou inviabilizar os governos de esquerda na região. Democraticamente os governos vem aprovando novas leis para os meios de comunicação, em  que a pluralidade, a diversidade de visões sejam preservados e garantidas, para aqueles verdadeiramente democráticos.  Esse é o motivo da gritaria de Clarín, Globo e outros , escondidos em uma SIP, na tentativa de preservar , e ainda conter, qualquer avanço  civilizatório e democrático na região. Assim entendo, que a regulamentação dos meios de comunicação, aqui no Brasil é uma questão de tempo, pouco tempo, pois é um caminho sem volta, o caminho da democracia  que ainda estamos restaurando desde as violências cometidas na década de 1960.  Em paralelo, algo, de urgente, deve ser feito para civilizar o Judiciário.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Investigar a Imprensa

Investigar a Imprensa


Cinco dias depois do segundo turno das eleições, quando a direita e a grande imprensa foram derrotados pela vontade popular, essa mesma imprensa, em bloco atônito, anti-democrático, com claro viès golpista, ignora a opção de escolha do eleitor e ainda tenta tumultuar o ambiente político com declarações desprovidas de contato com a realidade ameaçando os vitoriosos. O trabalho, cuidadosamente elaborado por essa imprensa para que  o julgamento do mensalão tivesse influência na escolha do eleitor, fracassou e revelou quem , de fato, no caso o povo, detem o domínio da verdade, dos fatos. Não satisfeitos , e em bloco, tentam agora "condenar" o grande vitorioso das eleições, o ex-presidente Lula. Para isso contam com a boa receptividade política de togas políticas, sempre prontas para tentar criar os fatos e apresentar aqueles que dominam as práticas criminosas sugeridas por colunistas desejosos  e saudosos de tempos nada democráticos, onde os fatos , sempre ocultos, produziram rios de sangue .  Se faz necessário, agora bem mais do que ontem, investigar o jornalismo, suas novas práticas e seus verdadeiros sócios e parceiros. Na elegância das letras, o que conduz e inclina o leitor para uma suposta imparcialidade, as entrelinhas e o histórico das organizações escancaram outras motivações nada elegantes, menos ainda democráticas e, principalmente, amalgamadas com indeléveis interesses estranhos a vontade popular. O processo em curso, obsessivo e violento, apesar das aparências, deve ser detido. Para tal, se faz necessário e urgente, que o governo central, os vitoriosos e principalmnete o povo, através dos movimentos sociais, façam valer as suas escolhas e defendam o país de um grupo de criminosos que diariamente tentam edificar o passado tenebroso. As mídias Globo, Veja, Folha de SP, Estado de SP e outras menores mais também importantes, atualmente se constituem na principál quadrilha criminosa em atuação no país, e a luz do estado de direito, devem explicações para a sociedade. O golpe legal, ou golpe jurídico, amparado pelo domínio das leis, é o drone jurídico sempre pronto para trucidar adversários. Aproveitando a aridez do discurso jurídico, onde a maioria da população não acompanha os fatos, dominados pelas togas, a imprensa recorta os temas desejados e produz suas conclusões apresentando-as com todos os recursos midáticos , onde a espetacularização e o sensacionalismo escondem as verdadeiras intenções e fatos. A repercussão dos factóides criados  pelas reportagens, apesar dos inúmeros e potentes auto falantes, assim como as próprias reportagens, não conseguem mais criar novos círculos concêntricos no lago do laboratório golpista, entretanto, tais práticas jornalísticas em nehum momento, em nenhuma sociedade democrática, podem ser consideradas ou justificadas como exercício da  liberdade de expressão.  Necessário e urgente uma profunda investigação nos grandes meios de comunicação.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

O Cientista e o Feiticeiro

O Cientista e o Feiticeiro




E assim aconteceu mais uma eleição. Mais uma vez, como sempre ocorre em todas as vezes, candidatos se expandem em retóricas e sentimentalismos pela sedução do eleitor. A grande imprensa, através de seus especialistas, quase sempre os mesmos de outros anos produzindo as mesmas análises nitidamente liquefeitas em escolhas políticas pessoais,  solidifica tendências que na maioria dos casos se evaporam com os resultados das urnas. Os institutos de pesquisa de opinião, marcados por resultados de opiniões nada confiáveis em outras eleições, retiram sedimentos de opção política de suas análises em uma estratégia de sobrevivência. O cidadão tão desejado pelos truques voláteis dos publicitários nas propagandas políticas, caminha em um vai e vem pelas ruas das cidades produzindo um tráfico de veículos e pessoas específico, único, do dia do voto. Para alguns jornalistas é a festa da democracia, declaração sempre proferida por aqueles que viram seus candidatos serem derrotados. E assim aconteceu mais uma eleição. Como em toda eleição alguém perde e alguém ganha, e se espera que isso aconteça entre os partidos políticos e os candidatos aos cargos, afinal são, ou deveriam ser, os principais atores do espetáculo da democracia. Na prática a realidade é um pouco, ou até muito , diferente.  Na eleição de ontem, independente dos briosos candidatos, alguns translúcidos outros opacos, outros viscosos alguns fluidos, alguns mais concentrados outros tantos diluídos,  dois projetos estavam em disputa. Um representado pelo Partido dos Trabalhadores - PT - e sua base aliada e o outro representado pelos fragilizados partidos de oposição e sua base aliada, a grande imprensa. Na guerra violenta em que as eleições vem se transformando, em sintonia com outros aspectos da vida brasileira - relações interpessoais,  campeonatos de futebol, concorrência entre empresas, religiões, etc.. - o vale tudo é entendido como estratégia política e , até mesmo assassinatos são validados como táticas. Nesta eleição, como tem ocorrido nas anteriores, o processo não foi diferente , continuando a barbárie em uma curva ascendente, de braços dados com a falta de civilidade, por um lado, e com a violação do processo democrático, por outro. Em uma eleição onde o eleitor, tão desejado por tantos em um curto período de tempo e tão esquecido  pelos mesmos tantos por longos períodos de tempo, deveria discutir, debater, ou pelo menos ouvir, aspectos de sua cidade, seu bairro e de suas necessidades mais próximas, recebeu uma enxurrada de assuntos desprovidos de quaisquer conteúdos relevantes para decidir sobre os seus candidatos. Se não bastasse a aberração dos temas colocados na pauta da eleição, a grande imprensa, assumidamente como partido político de oposição, mentiu, manipulou, distorceu e omitiu fatos relevantes e necessários para um entendimento sadio da vida brasileira. Na guerra de 2012 o arsenal utilizado pela oposição, lançou sobre o Partido dos Trabalhadores e sua base aliada cruzes medievais, togas deslumbradas, bíblias aladas, fetos humanos, éticas de ocasião  e, principalmente, sem ser mais ou menos importante que os anteriores, uma retórica ácida e altamente tóxica com o intuito de confundir e conduzir o eleitor. Independente, mas nem tanto, dos candidatos vitoriosos na eleição, dois projetos estavam em disputa e tinham como principais representantes o ex-presidente Lula  e a grande imprensa. O primeiro o cientista, o segundo o feiticeiro. Condutor de um projeto vitorioso que há dez anos vem transformando positivamente o país e a vida dos brasileiros, Lula mais uma vez, com base nos fatos, no conhecimento do povo e em cenários reais, locais , nacionais e regionais  bem construídos acertou nas escolhas e mais uma vez foi o vencedor. Do outro lado, a grande imprensa, encastelada na casa grande e saudosista das quarteladas, apostou em poções mágicas, cuidadosamente elaboradas mas nem por isso eficientes, extraídas das entranhas mais conservadoras e retrógradas da sociedade brasileira como sendo o elixir do golpe, do retrocesso , do atraso, que proporcionaria a vitória de um projeto que atualmente agoniza pelo mundo. A ciência política venceu a fantasia medieval, a verdade derrotou a mentira, o conhecimento derrotou a ignorância.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Diários de Botequim - 3 Comunicação. Atenção! Atenção !

Diários de Botequim - 3   Comunicação.    Atenção !  Atenção !   Atenção !




Era apenas mais um dia, somente um dia. Uma tarde noite de sexta-feira, não diferente de outras tantas naquele lugar, com aquelas pessoas. No bar referência lá estavam Miltão, Ciro, Cardoso, Jadir, Nelsinho e Eu. Início de verão, calor e muta gente pelas ruas em um clima típico de Rio de Janeiro. Embalados pela energia típica daquela hora do dia discutíamos, ou pensávamos que discutíamos, de tudo, sobre tudo, até mesmo sobre o impossivel silêncio para um momento daqueles. Foi quando, de repente, mas como de costume, Miltão disparou contra Nelsinho:
- você tem uma tremenda dificuldade de entender o que as pessoas falam. Isso irrita. Só faz pergunta idiota.
Ciro, tentando aliviar o pobre Nelsinho, que apenas ria, acabou entregando ainda mais o rapaz:
- esse cara é um terror, disse Ciro sobre Nelsinho. Continuou. Semana passada a gente encostou em duas meninas aqui no bar e puxamos uma conversa. Quando o papo começou a engrenar, Nelsinho deu um tremendo corte em uma delas. A menina disse que a capital da Turquia era Istambul e ele, querendo aparecer, acabou fazendo merda. Corrigiu a garota em cima do lance, fazendo com que ela ficasse sem graça e com isso inibiu a conversa e esfriou o clima.
- isso é uma anta, disse Jadir.
Ciro continuou. Mas o pior aconteceu ontem. Mais uma vez fomos naquele baile lá da Tijuca. De repente, Nelsinho veio ansioso em minha direção dizendo ter visto duas mulheres sozinhas em uma mesa. Fui conferir, claro. De fato elas estavam sós. Nos posicionamos perto, esperando a orquestra voltar a tocar prá poder tirar prá dançar. Logo que a osquestra iniciou tiramos as mulheres que aceitaram na boa. De repente, mais ou menos três ou cinco minutos depois, no final da primeira música, vejo Nelsinho em pé, sozinho e a mulher dançando com outro. Continuei dançando por mais de meia hora, engatei um bom parpo e ainda troquei telefone. Depois fui perguntar pro Nelsinho o que aconteceu, por que ele parou tão rápido.  Então ele me disse que resolveu puxar uma conversa mas deu confusão. Ele, de cara sabe o que perguntou para a mulher ?
Você tem nome ? A mulher se espantou e disparou prá cima dele dizendo que óbvio que tinha. Já começa errado, criando estresse. Enquanto Ciro falava, Nelsinho apenas ria. Por causa disso ela descartou ele no final da primeira música.
- isso é uma anta, disse Jadir
- eu acho que ele fica nervoso, ansioso e acaba falando besteira, disse Miltão. O assunto então mudou e entrou na esfera da comunicação, exatamente no momento em que Tadeu se aproxima da mesa. Tadeu é o rico da turma. Executivo de Recursos Humanos em uma multinacional, bom de conversa e extremamente irônico. Certo dia, por causa de sua ironia quase chegou as vias de fato com Miltão. Ambos tem personalidade forte e vivem se estranhando. Jadir e Cardoso, sempre se colocam ao lado de Miltão, fazendo com que também tenham diferênças com Tadeu. Tadeu chegou, com sua pasta de trabalho, e sentou-se ao meu lado, mas na cabeceira da mesa no lado oposto de Miltão. Inicialmente prestava atenção na conversa, até que entrou no debate.
- isso é muto comum. Nelsinho não é o único. Ele pode extrapolar, por vezes, mas a comunicação eficaz não é algo tão simples. Hoje mesmo, ministrei, aqui mesmo em um hotel do bairro, um seminário, de seis horas, como os vinte maiores e mais importantes executivos da empresa. E o assunto foi  exatamente comunicação. E olha que são pessoas que trabalham com informações e tomam decisões importantes. Aliás, eu tenho aqui um dos exercícios que fizemos. Vocês topam fazer ? É coisa simples, um pequeno texto que vocẽs vão ter de dizer o que entenderam sobre o texto e, caso queiram, arriscar o personagem da história, disse enquanto retirava as folha e distribuia para todos na mesa.
- já que é um texto pequeno , tudo bem, disse Miltão, no que foi seguido por todos.
 - OK. Aí vai, uma cópia prá cada um.


                                                    Minha  História
Hoje, mais uma vez como de outras vezes, vou conversar com vocês sobre um assunto bem interessante. Certamente, e é normal que seja assim, vocês devem estar se perguntando sobre o tema do dia. Enquanto vou alinhavando essas palavras iniciais, me pergunto, e até mesmo sugiro se me permitem, se vocês estão bem relaxados e confortáveis. Hoje, como em quase todas as ocasiões em que me dirijo a vocês, vou conversar com vocês sobre vivências, experiências, aventuras. Ahhhh! e como são interessantes as aventuras. Elas começam bem cedo, para tudo e todos e, obviamente, para mim não foi diferente. E que aventuras tenho para contar para vocês. No início, e como são belos os inícios, tudo era ainda muito discreto, ocupava poucos espaços e merecia cuidados especiais. Não imaginava, assim como vocês podem imaginar a medida que avanço na história, que poderia atingir um estágio de fama, lendas e histórias, a ponto de impactar profundamnete toda a civilização. As mãos delicadas, cuidadosas, proporcionaram  para mim meus primeiros momentos de presença, de graça. Hoje, em mais um início que se estende até o fim dos inícios, despertei agitado, rebelde para logo depois, pouco tempo depois, encontrar meu equilíbrio, minha forma e minha graça. Alcancei um estágio de minha existência em que poucos, bem poucos, poderiam interferir na minha maneira de ser. E como é bom ser assim, devem vocês estar pensando. Como é bom poder escolher meus caminhos, ocupar os espaços, definir as cores. Vocês, a medida que aprofundo no tema, sobre experiências, aventuras e vivências, certamente vão encontrando seus próprios caminhos , suas realidades, suas cores, suas vivências. Tenho plena convicção que me tornei uma lenda e, para algumas pessoas represento a alegria, a vida, a beleza enquanto que para outros posso ser comparado como uma grande frustração. Alguns me adoram, cuidam bem de mim, me admiram, enquanto outros me detestam a ponto de me expulsar de suas vidas para sempre. É o prêço da lenda, devem vocês estar pensando, com certeza. Nessa longa história, de experiências, vivências e aventuras  já fiz muito e alcancei grande destaque. E como é bom fazer, ver os resultados concretos, atingir suas metas e objetivos. Vocês, certamente, também já produziram excelentes resultados e a medida que continuo minha história , vocês podem , até mesmo agora, ou em outra ocasião se assim desejarem, pensar sobre os grandes feitos e ainda sobre aqueles que podem alcançar. Quero dizer para vocês, já que se trata de uma longa história, que para relatar todos os grandes eventos seriam necessarias muitas e muitas conversas, assim sendo procurarei citar, de forma geral,meus momentos mais impactantes. Afirmo, sem medo de errar e com a coragem de acertar, que já fui responsável por um dos momentos mais belos do amor. Ahhh! e como o amor é belo. Digo, também, que vivi um momento em que mudei o mundo, transformei as pessoas, assustei os defensores do atraso. Em outra ocasião fui a força do guerreiro, a força que vocês tem para alcançar suas metas e objetivos. Hoje, já bem conhecido , posso afirmar que tenho todas as cores, todas as formas e , sem de receio ou medo de ser ousado, e como é bom ser ousado podem vocês estar pensando, também possso afirmar que sou arte, pura arte, diversas formas de arte em todas as formas possíveis. Minha existência é a minha história, e como sou eterno, pois mitos e lendas são eternos e também sou lendas e mitos , faço por criar todas as emoções nas pessoas, as mais variadas possíveis e imagináveis. Ahhh ! como as mulheres gostam de mim, que carinho e cuidado eles tem por mim. Isso não signifca dizer que os homens não gostem, aliás eles se revelam , em relação a mim,de forma mais discreta, silenciosa. Essa história , que vocês certamente leem com toda atenção, e que é a minha história, também tem um final, ou vários finais. Em todo o final, e estamos bem próximo dele, de um deles, talvez, é necessário e importante saber que um mito não tem fim. Muitos, e são de fato muitos homenes e mulheres, também lucram , e lucram muito, através de mim ou comigo mesmo. Isso não significa o fim, significa , apenas, o lucro, ou a necessidade. O final pode chegar bem cedo ou ,em muitos casos, talvez na maioria deles,  coincida com o final inexorável. E já que estamos falando de uma história de vivências, aventuras e experiências e próximos do fim, desejo que todos vocês recolham os mais variados ensinamentos, de maneira que possam ser utilizados no desenvolvimento de novas habilidades e competências em cada um, antes do final e bem antes do processo do fim. Essa história, rica em elementos , é a minha história, escrita com a minha autorização. 


Todos terminaram a leitura, foram colocando a folha de lado mas ninguém iniciava uma resposta. Tadeu se dirigiu para Ciro e perguntou.
- o que você achou ?
- não sei. pode ser muita coisa. Parece que é alguém importante, mas não vou arriscar.
- e você ? Disse Tadeu se dirigindo para mim.
- vou acompanhar o Ciro, disse.
- e você, Nelsinho, o que achou ?
- eu acho que é a história de Jesus Cristo . Tem tudo a ver, disse Nelsinho.
- para de falar asneira, disparou Miltão e continuou. Que Jesus Cristo, cara, parece que não sabe ler. Está claro para mim que o texto fala de alguém importante, pode ser um artista no que acredito que seja, mas o mais importante é que diz respeito de alguém que se revela, saindo do armário . Essa história de Ahhh, o amor é belo é coisa de viado. Isso é texto de um boiola, esse negócio de todas as cores . Prá mim tá escancarado.
Jadir e Cardoso endossaram o comentário de Miltão.  Tadeu então tomou a iniciativa.
- esse texto eu apresentei hoje para os vinte maiores executivos da empresa e apenas dez, 50%, apresentaram a resposta certa. E eu estou falando de pessoas que trabalham com informações e tomam decisões com base em análises e relátórios. Descobrir o personagem da história não é o mais importante, mesmo porque o texto não é conclusivo a esse respeito. Muitas pessoas podem ter uma história como essa, ou parte de uma história dessas. Tive respostas de Jesus, assim como Nelsinho, Che Guevara, John Lennon, Madona e até Santos Dumont. Mas isso não é o importante. Claro que o autor, ao elabrar o texto pensou em alguém, ou em algo , para a elaboração. O personagem do texto é o cabelo. Vejam só: " no início tudo era muito disceto, ocupava pucos espaços e recebia cuidados especias"  tudo mundo nasce com pouco cabelo e os pais tem mimos e cuidados. " alcançar um estágio de fama " são inúmeras as lendas e histórias sobre cabelo. " as mãos delicadas cuidadosas proporcinaram para mim meus primeiros momentos de graça "  o cuidado dos pais nos penteados das crianças. " hoje, em mais um início, despertei agitado, rebelde, para logo depois encontrar o equilíbrio " todos os dias pela manhã, e os dias são inícios, os cabelos amanhecem agitados desalinhados para depois serem penteados, o equilíbrio. "para muitas pessoas represento a alegria , a vida a beleza para outros sou a frustração" mutas pessoas adoram seus cabelos , já outras são frustradoas com o cabelo que tem. " já fui responsável por um dos momentos mais belos do amor " é uma referência a história das tranças de Rapunsel " mudei o mundo, transformei as pessoas , assustei os defensores do atraso " é uma referência as transformações sociais da década de 1960, quando passamos a usar cabelos longos e assustar os conservadores. " hoje tem todas as cores todas as formas e sou arte " pessoas usam cabelos de todas as cores e desenhos artísticos " em outra ocasião fui a força do guerreiro"  uma referência a história de Sansão. Entenderam, perguntou Tadeu e continuou. Não vou especificar até  final do texto, mas todo ele é sobre o cabelo, não fala de nehuma pessoa. Isso mostra o efeito da comunicação· No nosso caso, apenas Ciro e ele, disse apontando para mim, se aproximaram da resposta certa, que é a seguinte:
 O texto não permite afirmar de quem se trata. São informações generalistas. E 50% dos maiores executivos de uma transnacional não perceberam isso.  Quem usa muto essa característica de comunicação é a imprensa, quando deseja induzir ou manipular informações. Outro aspecto também diz respeito ao nosso idioma, o portugues. Por ser um idioma muito rico, ao contrário do inglês, permite elaborações e construções que podem condenar um inocente ou absolver um culpado, em rígida concordância com as normas de expressão e atendimento as leis. Existe ainda uma tese, apenas uma tese, que estabelece relação entre o  desenvolvimento de países com o idioma. Segundo essa tese os países de língua inglesa se desenvolveram mais rápido por causa do idioma e do investimento em educação. Então, não apenas vocês aqui que não acertaram como também os executivos lá empresa, responderam aquilo que vocês desejaram, aquilo que estava na cabeça de vocês, ou seja, relataram suas próprias experiências de vida através de suas respostas. 
Nesse momento , Miltão colocou as duas mãos apoiando sobre a mesa, em uma posição de alguém que iria se levantar e disparou contra Tadeu:
- escuta aqui, o cara. Você está querendo curtir com a cara da gente ? Tá pensando que eu sou babaca ? Tá dizendo que eu sou viado ?
- eu não disse nada, você que disse. Tá surdo ? Tá maluco ? falou Tadeu.
 O clima esquentou. Miltão se levantou da mesa apontando o dedo para Tadeu. O estresse foi total. Jadir e Cardoso, como de costume seguiram Miltão que já estava com o rosto vermelho de raiva e ainda disse;

- seu repertório esgotou, vou te encher de porrada.
Ciro se colocou na frente de Miltão tentanto segurar a fera, enquanto as pessoas das mesas mais pŕoximas se levantaram com receio de um quebra- quebra. Jadir e Cardoso também queriam acertar Tadeu. Ciro e Nelsinho, com muita dificuldade impediam que os três partissem para cima de Tadeu e,  ao mesmo tempo, Ciro pedia para que eu levasse Tadeu embora dali Foi o que fiz. Puxei Tadeu e fomos caminhado pelas ruas do bairro até sua casa. Durante o caminho ainda tentamos trocar algumas palavras, mas não foi possível. Não conseguíamos parar de rir.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Diários de Botequim - 2 Uma Nova Democracia

Diários de Botequim - 2   Uma Nova Democracia






Em meio a muita gozação devido a decisão de um título estadual com um gol de barriga, as discussões ferviam naquele ano de 1995 no bar referência. Uma semana após a conquista do Fluminense, naquele inesquecível Fla-Flu, o assunto ainda rendia pelas esquinas, praias e mesas de bar. Em um agradável final de tarde de uma sexta-feira encontro Miltão, Nelsinho e Jadir sentados  a mesa do bar. Ao me aproximar Miltão sugere com um aceno de mão para se juntar aos três. Olho aos lados para encontrar uma cadeira, mas Miltão toma a iniciativa e grita com Olsen para providenciar um lugar para mim. Olsen, o garçon, é um pretinho da cor de carvão, simpático e atencioso, que é assim carinhosamente chamado com um nome escandinavo pelos frequentadores do lugar. Imediatamente Olsen organiza o local e encaixa uma cadeira na mesa. Uma mesa com a presença de Miltão, sempre tem seu comando. Advogado aposentado, experiente e bem humorado,  Miltão comanda as conversas no bar. Nelsinho, como de costume, todo arrumadinho na esperança de ser bem sucedido em alguma paquera, o que já vem causando um desespero no rapaz. Jadir, funcionário público, meia idade, voltava do trabalho e parou, ainda com gravata e tudo mais, para poder relaxar e  encarar o final de semana com a patroa, como ele mesmo dizia. Fui me acomodando na mesa e Miltão, tricolor como eu, infernizava o coitado do Nelsinho, que não estava interessado no assunto, olhando para todos os lados procurando não sabia o quê, talvez ele mesmo. Sobre a mesa duas garrafas de cerveja dentro de um isopor. De repente, Miltão muda o tom , assustando todos em volta, e dá um esculacho em Olsen.
- já avisei prá você não completar o copo enquanto eu não terminar de beber. Será que eu vou ter que falar mais vezes, disse olhando para o assustado Olsen que apenas balançava a cabeça dizendo já ter compreendido. Enquanto Olsen fugia de Miltão, Jadir saiu com essa:
- o copo sempre cheio é aflitivo , não é ? perguntou para Miltão.
- claro, respondeu abrindo os braços e evidenciando a enorme barriga. Continuou. Quando o copo está cheio, todo mundo sabe, a gente tem que dar aquele gole, colocar o copo sobre a mesa, continuar a conversa, olhando vez por outra para o copo, sabe como é que é, administrando o tempo e a bebida. Se o Olsen a todo momento preenche o copo, a gente tem que beber porque ele não pode ficar cheio e isso cria uma aflição, uma angústia podendo até mesmo desencadear um descontrole com a bebida.
- é psicológico, comentou Nelsinho.
- psicológico o cacete, rebateu Miltão e continuou. Para de falar besteira, o assunto é sério. Rapidamente percebeu alguém entrando no bar e comentou com todos mudando o assunto.
- aquele cara alí não é ator de novela, perguntou falando baixo e ao mesmo tempo dando um esporro em Nelsinho para que fosse mais discreto no olhar.
- é da globo, falou Nelsinho
- tá com um mulherão, hein, rebateu Jadir.
- enquanto o casal se ajeitava em uma mesa Miltão disparou:
- aquela só tá com ele por causa da fama do cara. É ou não é ? Aquele cara não tem estatura prá ter um mulherão daquele. Ela encostou nele prá ver se consegue alguma coisa, não é ?
- claro, disse Jadir. Quem sabe ela não consegue uma vaguinha na emissora, um programa infantil, ou outra coisa prá subir.
- programa infantil só se o cara fizer mil gols, disse Miltão e largou uma gargalhada indecente coçando a genitália. Aquela alí pode levar uma figuração em programa humorístico e olhe lá. Rapidamente mudou de assunto e segurou o braço de Olsen que passava ao lado e disse:
- pega aquela mesa e coloca mais para o lado. Já é a segunda vez que você esbarra em mim quando passa por aqui. Coloque a mesa mais para o fundo para aumentar a passagem e assim evitar problemas futuros. Entendeu, pergutou com firmeza . Olsen imediatamente fez o que Miltão determinou. Impressionava o domínio de Miltão na mesa do bar. Alí ele comandava todos e todas as ações, prestando atenção em tudo que acontecia ao redor. Prá variar disparou pra cime de Nelsinho:
- pára de olhar prá mulher do cara, porra, disse para o atônito Nelsinho que a cada esporro dava mais um gole de cerveja. Foi quando entrava no bar um casal conhecido de Miltão. O homem, de boa aparência ,devia ter não mais de trinta e cinco anos enquanto a mulher, também muito bonita e bem vestida tinha próximo dos cinquenta. Miltão levantou-se, abraçou os dois falou alguma coisa  rápida com ambos e voltou para a mesa. Nelsinho, curioso foi logo peguntando:
- você conhece os dois ?
- claro, porra, não viu que nos abraçamos e conversamos. Aliás a história desse  cara é curiosoa. Vou contar prá vocês, mas não fica olhando prá eles  não, viu Nelsinho. Ele eu conheço desde menino, é filho de um amigão meu que já morreu. Certo dia , quando ele tinha uns vinte  e sete anos ,foi bater na minha casa pedindo ajuda. Ele tremia e mal conseguia falar e se explicar. Eu já sabia que ele tinha problemas de insegurança, medo e era um rapaz muito frágil. No dia seguinte levei a um médico que deu uma licença prá tratamento psiquiátrico e logo depois do tratamento ele teve outra crise e que culminou com uma aposentadoria precoce.  Ele não é agressivo, pelo contrário é  retraído porém extramamente inseguro. Logo depois ele conheceu essa mulher, que é a mulher dele, e ela se ligou no rapaz.
- porra, se ligou em maluco, perguntou Jadir.
- pega leve, ele tem problemas mas não rasga dinheiro e , como você pode ver é uma pessoa de boa aparência. Essa mulher é milionária,fazendeira gostou dele e estão vivendo em um tremenda fazenda no interior de Minas.
- mas ela é bem mais velha, retrucou Jadir.
- é verdade, mais  é gente boa, cuida bem dele e ele tem e comparece  com o que ela precisa, entendeu ,perguntou fazendo um gesto abrindo os braços com as palmas das duas mãos para cima como se estivesse falando dele mesmo.
- e eu não dou uma sorte dessas, disse Nelsinho.
- porquê você não é maluco, é burro, disse Jadir  para gargalhada de Miltão.
Miltão, gritou por Olsen que veio de imediato.
- presta atenção, disse e continuou. Vou querer uma porção de carne seca  e outra de cebola . Separadas, entendeu ? A cebola é passada na frigeira, no azeite português. Entendeu ? Já a carne seca deve ser bem desfiada. Da outra vez você trouxe uma porção que tinha pedaços grandes de carne, tem que ser toda desfiada, entendeu ? Manda também umas torradinhas para acompanhar. Agora, as torradas devem ser crocantes nas bordas e macias por dentro, nada de torrada toda dura, entendeu ?  Traga também aquela lata de azeite português que tem um furo maior, sabe qual é , não é ? Entendeu tudo ?
Olsen balançou a cabeça afirmativamente e foi providenciar o pedido de Miltão.
- que negócio é esse de lata com furo maior, perguntou Jadir.
- sabe como é Seu Manoel. As latas de azeite tem um furo que prá sair uma gota leva um tempão. Aí eu conversei com ele, disse que entendia a preocupação dele em economizar o azeite e coisa e tal, mas que para os fregueses especiais ele deveria ter uma lata com um furo maior. Ele concordou e o Olsen já está informado.
- bom saber disso, disse Jadir com um sorriso.
Enquanto isso Zé Maria, um outro amigo, jornalista autônomo, se aproxima da mesa.
- ihhh! tá uma gracinha com essa bermuda e essa camisa cheia de florzinha, disse Miltão.
- hoje ele está mais para Mariazinha do que para Zé, completou Jadir
- Olsen ! Olsen ! Arruma um lugar alí, naquele canto, para o nosso amigo, disse Miltão. Imediatamente Olsen seguiu as instruções e encaixou mais uma cadeira na mesa.
- aproveita e limpa a mesa que está molhada. Mas toma cuidado prá não respingar em mim.
- você anda sumido, O que houve, anda devendo dinheiro prá alguém , perguntou Miltão.
- nada disso, estava trabalhando. Aliás, falando em dinheiro, quando vinha prá cá, encontrei aquele teu amigo, o Cardoso. Ele tentou por todas as maneiras me vender uns produtos de limpeza, insistiu tanto que quase comprei.
- Eu que arrumei prá ele vender esses produtos, disse Miltão e continuou. O Cardoso é aposentado e a aposentadoria dele é pequena e ele torra tudo em vinte dias e depois ficava atrás de todo mundo pedindo um qualquer. Uma vez ele me ligou dois dias depois  que eu recebi meu salário. Ele , assim como eu, sabe o dia que a gente recebe e me ligou cheio de alegria para conversar no bar e coisa e tal. Não demorou e me pediu dinheiro. Eu emprestei e no mês seguinte ele fez a mesma coisa , mas eu saquei , fui ao encontro mas não dei dinheiro prá ele. Disse que iria arrumar um negócio prá ele ganhar um dinheirinho e ele topou. Falei com um amigo meu e passei esses produtos prá ele vender. Comprei prá ajudar, aliás os produtos são uma merda. Nunca vi produto de limpeza que fede, mas tudo bem. E o Cardoso é bom de conversa, ele conseguiu empurrar até pro Seu Manuel, e olha que vender alguma coisa pro português não é fácil. Pelo menos agora ele não pede dinheiro, mas se encontrar com ele vai ser difícil não comprar os produtos.
- ele estava com o Toninho. O Toninho também tem uma aposentadoria baixa, não tem, perguntou Zé Maria.
- a aposentadoria do Toninho é igual a do Cardoso, mas a mãe do Toninho tem uma pensão muito boa do marido, milico, e o Toninho ajuda a gastar o dinheiro da velha.  Mas e aí, por onde você andou ?
- estive quase um mês no México, disse Zé maria.
- Ahhh! agora entendi a camisa de florzinha. Estava tirando onda em Acapulco, perguntou Jadir.
- nada disso, estava do lado oposto, no estado de Chiapas.
- Chiapas ???  Foi fazer alguma matéria sobre os zapatistas, perguntou Miltão.
- exatamente
- então conta aí, o que você descobriu por lá, disse jadir
- bem, eu fui  para o município de San Cristóbal de las Casas, reduto do movimento. Tudo começou com um grupo urbano , de orientação marxista, que foi para aquele estado com o intuito de conscientizar a população para uma revolução. Acontece que no contato com a população local, de maioria indígena Maia, os marxistas se surpreenderam com a cultura e valores daquele povo. Parece que a conscientização foi de mão dupla, e os  marxistas tiveram que assimilar grande parte da cultura indígena. O movimento se organizou mas não não tem um chefe, um líder, tudo é decidido em conselhos da comunidade. Tanto que   aquele que a imprensa chama de chefe tem o título de sub comandante, algo como um representante, primeiro ministro da população. Quando eles se fizeram conhecer, no início do ano passado, logo depois toda a esquerda mundial  foi para San Cristóbal, afinal , depois da queda do muro foi o primeiro grande movimento de contestatção ao sistema capitalista e ainda no dia em que o México assinava o acordo de livre comércio com os EUA e o Canadá. Muitos representantes da esquerda mundial, que lá estiveram, não conseguiram entender com muita profundidade o movimento, talvez por conta da riqueza e complexidade da cultura dos povos indígenas da região. Esperavam por um movimento revolucionário tradicionalmente marxista, mas  não é bem assim. Existem muitos e importantes elementos da cultura indígena na filosofia dos Zapatistas. Interessante, que no contato que tive com algumas lideranças indígenas, que eles sempre usavam palavras e expressões como proteger, cooperar, participar, bem viver, partilhar, preservar e outros nessa linha. Neste aspecto eles estão em perfeita sintonia com os movimentos ambientalistas, e nos aspectos de governança não abrem mão da participação popular e democrática. Outro aspecto que me chamou a atenção foram as referências aos ciclos da natureza, quase sempre presentes em muitas considerações. Disseram, inclusive, que alí se estava iniciando um novo ciclo, que iria se consolidar nos próximos trinta anos, onde o protagonismo dos  povos indígenas de todas as Américas seria cada vez mais forte, tanto no comando de governos quanto influenciando novos líderes das Américas. Disseram ainda que a América seria a referência para o mundo de uma nova democracia, com novas formas de produção e bem viver. Citaram a profecia de etnias indígenas americanas sobre a chegada dos guerreiros do arco-íris, aqueles que iriam lutar para salvar o mundo da devastação e destruição das formas de vida, Ainda falaram sobre sobre a profecia do líder boliviano, Tupac Katari, que ao morrer executado pelos espanhóis disse voltaria em milhões. A cultura daquele povo é riquíssima, profunda e complexa, tanto que me interessei em conhecer mais sobre eles.
- boas falas. Nesse marasmo de idiotice do tempo em que vivemos, saber que novas concepções de esquerda, novas idéias são bem-vindas, disse Miltão.
- é verdade e também é interessante que eles não rejeitam tecnologia, desde que não destrua a vida. Acredito que a tese deles é poderosa, conceitualmente e é bom não duvidar da força da cultura dos povos indígenas das Américas, disse Zé Maria .
- muito bom, disse Jadir e continuou. Vamos aproveitar e mandar o Nelsinho para o Xingú, quem sabe ele não vira cacique por lá e se ajeita.
Prá variar a conversa já descambava para gozação em Nelsinho, com Jadir e Miltão mirando no rapaz e fazendo uma bola de neve com cada vez mais bobagens. Zé Maria e eu nos desligamos da gozação e mantivemos uma conversa paralela, quando Zé me avisou que no dia seguinte iria a um ciclo de palestras , sobre os Maias, em uma loja de um sociedade secreta. Me convidou e no dia seguinte tivemos um dia fantástico. Começa, também para mim, um novo ciclo.